a filha do rei do pântano (contos de andersen)

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Page 1: A Filha do Rei do Pântano (Contos de Andersen)
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CONTOS DEANDERSEN

A FILHA DO REI DOPÂNTANO

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As cegonhas gostam de contarhistórias sobre pântanos e brejos. Oprimeiro casal de cegonhas a contaressa história testemunhou oacontecido. No verão, eles migravam

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para a casa de uma família viking, naDinamarca. Uma noite, papaicegonha voltou para casa muitopreocupado.– Trago notícias terríveis! –

exclamou ele.Mamãe cegonha estava sentada

sobre seus ovos.– Não me conte! – disse ela. – Você

sabe que vou ficar nervosa, e onervosismo vai passar para os ovos!– Você precisa saber! – respondeu

papai cegonha.

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– A princesa, filha do rei egípcio,veio para cá e agora desapareceu!Estava disfarçada num manto deplumas, junto com outras duasprincesas. As três vieram voando e

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aterrissaram no tronco de uma árvorecaída. Então a filha do rei tirou o mantoe pediu às outras que o segurassemenquanto ela mergulhava na águapara colher uma flor. Mas as duas, emvez disso, levantaram voo com omanto.– Mergulhe! – disseram elas. – Você

nunca mais poderá voltar.A princesa começou a chorar, e

suas lágrimas escorreram até aárvore caída. Esta começou a semover, e o que parecia um tronco deárvore era, na verdade, o próprio reido pântano! Ele agarrou a princesa e a

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levou para o fundo do seu reino.

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Muito tempo se passou, e, certamanhã, papai cegonha reparou queum caule despontava da água dopântano com um botão na ponta.Aos poucos, o botão foi se abrindo,

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e, bem no meio da flor, estava umabebezinha que se parecia com aprincesa do Egito. Papai cegonhachegou à conclusão de que a bebêdeveria ser da princesa com o rei dopântano.“Eu não posso deixá-la aí”, pensou

o papai cegonha. “Mas já sei o quefazer! Vou levar esta criança para amulher do chefe viking, pois eles nãotêm filhos.”

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Assim, papai cegonha voou até acasa dos vikings e deixou a criança aolado da mulher. Quando a mulheracordou, ficou maravilhada. Ela beijoue abraçou a bebê, mas a garotinha se

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debatia, chorando histericamente.Afinal, de tanto chorar, elaadormeceu. A mulher viking começoua limpar a casa para a volta do marido.Ao anoitecer, estava exausta e, assimque deitou, adormeceu.Na manhã seguinte, ela acordou e

procurou a bebê. Não estava lá!Contudo, ao pé da cama havia umsapo feio, enorme. Naquelemomento, os raios de sol entraram nacasa e chegaram até o sapo. Comisso, ele se transformou novamentena linda bebê.– Deve ter sido um pesadelo! – disse

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ela, enquanto abraçava a criança.Mas a garotinha a arranhou e sedebateu como uma gata selvagem.

Mais um dia e outra noite sepassaram até a mulher perceber quea criança estava enfeitiçada. De diaera linda como uma fada, mas tinhaum temperamento raivoso. À noiteela assumia a aparência de um sapo eficava quieta e chorosa.

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A mulher decidiu que não contarianada ao marido. Resolveu que ele sóveria a criança durante o dia.Certa manhã, o sino começou a

repicar, avisando que os vikings

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retornavam com ricos tesourossaqueados de terras distantes. O chefeficou satisfeito com a linda criança queaparecera em sua casa. Mais do quetudo, gostava de seu temperamentoselvagem, dizendo que ela seriacapaz de lutar nas mais terríveisbatalhas e enfrentar os piores perigossem piscar um olho.A úmida neblina de outono cobriu o

pântano. Os pardais assumiram osninhos das cegonhas. Mas aonde elasteriam ido? Agora estavam no Egito,onde o Sol no inverno é tão brilhante equente quanto nos mais belos dias de

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verão da Dinamarca.

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As cegonhas descansavam depois desua longa jornada. Dentro do palácio,o clima era ruim. O rei egípcio estavadeitado, rodeado por seus parentes eservos. Ele estava muito doente. A flor

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do pântano, que poderia salvar suavida (se fosse colhida pela pessoa quemais o amasse), nunca chegaria. Suajovem e linda filha jamais voltaria.– Ela morreu! – avisaram as duas

princesas que haviam viajado comela. E inventaram que a princesa foramorta por um caçador. Mas papaicegonha, que ouvira tudo, grasnoufurioso!– Vou roubar os mantos

emplumados dessas princesasmalvadas! – disse ele. – Nãoqueremos essas moças de novo nopântano. Vou para a Dinamarca

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guardar os mantos no meu ninho.Mas vamos saber primeiro o que o

papai cegonha ouvira no ano anterior,depois que o rei ficara doente. Ossábios e eruditos se reuniram paradiscutir como o rei poderia ser curadoe concluíram que a ajuda deveria virda princesa que amava seu pai comtodo o coração. Num sonho, aprincesa descobrira que deveria trazeruma flor de lótus de um pântano naDinamarca. Por isso ela voou para ládisfarçada num manto de plumas. Orei do pântano a tinha levado para

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baixo, nas águas lamacentas, e agorasua família acreditava que a princesaestava morta.

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Enquanto isso, na casa dos vikings, agarotinha recebia o nome de Helga.Os anos se passavam rapidamente,ela ficava mais bonita a cada dia, aomesmo tempo que se tornava mais

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brutal e selvagem. Só havia uma coisaque conseguia amansar Helga: ocrepúsculo. Quando o Sol

desaparecia, ela se sentava emsilêncio num canto, com umaexpressão melancólica em seu feiorosto de sapo.No décimo sexto aniversário de

Helga, os vikings voltaram para casatrazendo tesouros saqueados eprisioneiros. Entre eles havia umjovem sacerdote cristão, daquelesque se opunham ao culto aos deusespagãos dinamarqueses. Essa nova féjá estava se disseminando, e Helga já

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ouvira falar sobre Cristo, que morrerapor amor à humanidade. O jovemprisioneiro foi amarrado e carregadopara o porão que havia embaixo dacasa do chefe. Ele seria sacrificado aosdeuses, pois os tinha negado eofendido.

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Naquela noite, a mãe adotiva deHelga conversou com o sapo, usandopalavras cheias de amor e aflição:– Grande é o meu amor por você,

mas nem uma vez esse amor

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penetrou na sua alma. Seu coração écomo um pântano frio e lamacento!Lágrimas rolaram dos olhos do

sapo. Então, levando uma tochaconsigo, ele desceu ao porão, acordouo prisioneiro e, cortando as cordas queo prendiam, fez sinal para que oacompanhasse. O sacerdote seguiu osapo e, montados num cavalo, foramembora.Enquanto cavalgavam, o sacerdote

rezava e cantava. O sapo, à suafrente, começou a tremer. Seria opoder das preces ou a manhã que seaproximava? Ele tentou pular do

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cavalo, mas o cristão o segurou econtinuou a cantar, ainda mais alto.

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Ao amanhecer, o sacerdote se viucom uma linda jovem em seus braços.Desconcertado, ele desceu do cavalo,e Helga o seguiu e atacou com umafaca. De repente, Helga tropeçou nas

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raízes de uma árvore e caiu perto deuma pequena fonte de água. Osacerdote borrifou água fresca nela ea batizou em nome de Cristo. Mas aágua de batismo não tem poderquando a fé não vem de dentro. Aindaassim, uma força maior que a humanaprevaleceu sobre ela.Fascinada, Helga se aconchegou

nos braços do sacerdote, que pegoudois galhinhos de árvore e osamarrou, formando uma cruz,dizendo:– A luz que vem do alto nos visitou

para brilhar sobre os que estão

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sentados na escuridão e guiar nossospés pelo caminho da paz.Juntos, cavalgaram pela floresta

em direção à cidade cristã de Hedeby.O coração de Helga estava cheio de fée de amor cristão.

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Os dois entraram cada vez mais nafloresta e então toparam com umbando de ladrões.– Onde você encontrou essa garota

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linda? – gritou um deles. Um outrosegurou o cavalo e começou a atacá-los com um machado.Quando o Sol se pôs, o sacerdote e o

cavalo estavam feridos mortalmente.Os ladrões pegaram Helga, mas elase transformou em sapo edesapareceu.Depois que os bandidos se foram, o

sapo voltou para junto do sacerdote edo cavalo. Estavam mortos. Durantetoda a noite Helga, como sapo,trabalhou para cobrir seus corpos comfolhas, galhos, pedras e musgo. Aoamanhecer, lágrimas rolaram de seu

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rosto de princesa pela primeira vez.As duas naturezas lutavam dentrodela.

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A noite chegou, e Helgatransformou-se em sapo novamente.Dessa vez, contudo, havia um raio dehumanidade em seus olhos. Aquelesolhos começaram a chorar lágrimasque vinham do coração. Ela ergueu a

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cruz de galhos que o sacerdote fizera ea colocou no túmulo dele. Então,desenhou na terra uma cruz. Ao fazê-lo, grossas camadas de pele de sapocaíram de suas mãos como luvaspesadas. Seus lábios começaram atremer, e ela gaguejou enquantodizia:– Jesus é o Cristo. – Com essas

palavras, seu formato de sapo sedesvaneceu, e ela voltou a ser umabela jovem.

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Então o sacerdote lhe apareceu,envolto em uma luz.– Filha do pântano – disse ele –,

para quem está na Terra, as coisasparecem demorar muito. Na

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eternidade, porém, não existe otempo. Um dia, você também entraránesse reino eterno. Mas primeirodeverá atingir o objetivo de sua vida.O sacerdote colocou Helga sobre o

cavalo e montou à sua frente.Erguendo a cruz que estava sobre otúmulo, eles começaram a voar.Por fim, eles se aproximaram do

pântano. Cantaram um hino, e,imediatamente, o junco começou aflorir, e logo o pântano ficou cobertode lótus. Sobre ele jazia uma mulher.Helga pensou que fosse seu reflexona água, mas era sua mãe, a princesa

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egípcia, esposa do rei. A mulher foicarregada para a margem pelocavalo. Então, cavalo e sacerdotedesapareceram na neblina.Ao lado do pântano, mãe e filha se

abraçaram.– Minha filha, flor do meu coração,

meu lótus de águas profundas! –exclamou a princesa mãe.Ela contou sua história à filha. O

papai cegonha pegou os dois mantosemplumados que escondera e osjogou para as duas. Elas os vestiram elevantaram voo como cisnes brancos.

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– A flor de lótus que eu devia terlevado para casa está voando ao meulado! – disse a mãe. – Para casa! Paracasa!

Mas Helga não podia sair daDinamarca sem antes ver a mãeadotiva. Os dois cisnes voaram para acasa dos vikings, onde todos dormiam.

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Em seu sonho, a mulher vikingpegou o sapo e o sentou no colo. Osapo estremeceu e se aninhou ali,enquanto a mãe adotiva, protetora, o

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segurava. O ar era varado pelos sonsde flechas e pelo choque de espadas.Parecia que céu e terra explodiriam.Então a mulher viu o deus do amor,libertado do reino dos mortos. Elareconheceu o rosto. Era o dosacerdote cristão aprisionado.– Jesus Cristo! – gritou ela. E então

beijou com alegria o sapo.Naquele momento, a figura de sapo

se desfez, e Helga sentou-se ao ladoda mãe adotiva, beijou-a também,louvou-a pelo carinho que tinharecebido e lhe agradeceu pelospensamentos bons que semeara e

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cultivara em sua alma. Assim, Helgaelevou-se como um magnífico cisnebranco e foi embora voando.A mulher viking acordou com o som

do bater de asas. Ela acreditou setratar da migração anual dascegonhas, que se reuniam naquelacasa, e saiu para se despedir das aves.Mas, à sua frente, havia dois cisnes,que olhavam para ela.A mulher se lembrou do sonho e de

que vira Helga voar como um cisne.Ela estendeu os braços na direção doscisnes, enquanto sorria em meio às

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lágrimas.

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De repente, no Egito, dois cisnesbrancos entraram no palácio. Elestinham chegado junto com ascegonhas. Os cisnes tiraram seusmantos, e surgiram duas lindas

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mulheres. Helga curvou-se sobre ocorpo do avô. Ao fazer isso, o rei selevantou, como que acordando de umsono longo e pesado.Algum tempo depois, certa noite,

Helga observava as estrelasbrilhantes, quando viu o sacerdote seaproximando.– O esplendor e a glória do reino dos

céus superam o brilho de qualquercoisa na Terra! – disse ele.Helga implorou ao sacerdote que

lhe permitisse espiar o paraíso porapenas um instante para ver oSenhor. Então ele a levou ao paraíso.

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Palavras nunca poderiam descrever oque ela viu.– Precisamos voltar agora. Vão

sentir sua falta – disse o sacerdote.– Só mais um pouco, por favor... –

suplicou Helga.– Você tem de voltar – pediu o

sacerdote.– Só uma última espiada... – E

então Helga se viu novamente nopalácio.As luzes foram apagadas. O salão

estava vazio. Assustada, Helga correupelos corredores e quartos. Soldados

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estrangeiros dormiam neles. Ela abriua porta do seu próprio quarto e entrouem um jardim em que nunca tinhaestado.Ela estivera no céu por apenas

alguns instantes. Mas, na Terra, umageração inteira se passara.Helga compreendeu o que

acontecera e caiu de joelhos. O Sol

nasceu, lançando seus raios no jardimonde ela estava ajoelhada. Em outrostempos, isso transformava o horrível

sapo em linda donzela. Mas, naquelemomento, aquela luz transformouHelga num raio de sol mais puro que o

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próprio Sol. Ela se elevou ao céu paraencontrar Deus, e em seu lugar naTerra ficou uma flor de lótus murcha.

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EDIÇÃO REVISADA CONFORME O ACORDOORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

TRADUÇÃO: Antonio Carlos VilelaILUSTRAÇÕES: François CrozatPROJETO GRÁFICO DA CAPA E DIAGRAMAÇÃO: EstaçãoDesignCONVERSÃO EM EPUB: { kolekto} Publicado originalmente por:© 2001 Scandinavia Publishing House Direitos de publicação:© 2004, 2012 Editora Melhoramentos Ltda. 1.ª edição digital, setembro de 2014ISBN: 978-85-06-07617-0 (digital)ISBN: 978-85-06-00497-5 (impresso) Atendimento ao consumidor:Caixa Postal 11541 – CEP 05049-970São Paulo – SP – Brasil