a pequena sereia (hans christen andersen)

Upload: tatianna-raquel

Post on 03-Feb-2018

229 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    1/22

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    2/22

    Hans Christian Andersen

    A pequena sereia

    Traduo e edio:

    Tatianna Raquel

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    3/22

    Muito alm do oceano, onde a gua to azul como a flor do loio, e to clara como o cristal,

    era um lugar muito, muito profundo, to profundo, de fato, que nenhum cabo poderiaatravess-lo: muitos campanrios de igreja, amontoados uns sobre os outros, no

    conseguiriam alcan-lo do cho, abaixo da superfcie da gua at l em cima. L era o

    palcio do Rei dos Mares e de seus sditos. No podemos imaginar que exista algo no fundodo mar mas apenas a areia amarela.De fato, as flores e as plantas mais espetaculares crescem nessa regio, as folhas e suas hastes

    so to flexveis, que a menor turbulncia na gua faz com que elas se agitem como se

    tivessem vida. Peixes, grandes e pequenos, deslizam por entre os galhos, assim como os

    pssaros voam por entre as rvores aqui na terra. No lugar mais fundo de todos, fica o castelodo Rei dos Mares. Suas muralhas foram construdas com coral, e as janelas longas e no estilo

    gtico so do mais puro mbar. O teto coberto de conchas, que abrem e fecham a medida

    que as guas fluem sobre elas. A beleza resplandece aqui soberana, pois em cada uma delas

    h um prola cintilante, que ficaria perfeita no diadema de uma rainha.

    O Rei dos Mares estava vivo h muitos anos, e a sua me, j idosa, quem cuidava do

    palcio para ele. Ela era uma mulher muito sbia, e tinha muito orgulho de sua origem nobre,

    e por esse motivo ela usava doze ostras na cauda, ao passo que as outras, tambm comelevada hierarquia, era permitido usar somente seis. Todavia, ela era merecedora de muitos

    elogios, especialmente pelo cuidado que tinha com as pequenas princesas do mar, as suas

    netas. Elas eram seis crianas lindas, mas a caula era a mais bela de todas, sua pele era to

    clara e delicada como a ptala de uma rosa, e os seus olhos eram to azuis como o mar mais

    profundo, mas, como todas as outras, ela no tinha ps, e o seu corpo terminava numa caudade peixe.

    O dia todo elas brincavam nos grandes sales do castelo, correndo por entre flores vivas quecresciam ao redor da muralha. As imensas janelas de mbar eram abertas, e os peixes

    entravam, assim como as andorinhas voam para dentro de nossas casas quando abrimos as

    janelas, exceto que os peixes nadavam at as princesas, comiam em suas mos, e gostavam

    que fizessem carinho neles. Fora do castelo ficava um belo jardim, onde crescia floresvermelhas e brilhantes e outras azuis escuras, alm de inflorescncias que pareciam chamas

    de fogo, as frutas brilhavam que nem ouro, e as folhas e os caules moviam para l e para ccontinuamente. A terra era feito da areia mais delicada, porm, azul como a chama do

    enxofre incandescente.

    Acima de tudo brilhava uma extraordinria radiao azul, como se estivesse rodeada pelo ar

    l do alto, atravs da qual o cu azul brilhava, ao invs das sombrias profundezas do mar. Em

    tempos de calmaria o sol podia ser visto, parecendo uma flor prpura, com a luz fluindo doclice. Cada uma das jovens princesas tinha um pequeno pedao de terra dentro do jardim,

    onde elas podiam cavar e plantar o que quisessem. Uma fazia o seu canteiro de flores com o

    formato de uma baleia, uma outra achou melhor fazer o dela como a figura de uma pequenasereia, mas o canteiro da caulinha era redondo como sol, e era formado por flores to

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    4/22

    vermelhas como os raios do entardecer. Ela era uma criana especial, sossegada e pensativa, eenquanto suas irms se regozijavam com as coisas maravilhosas que conseguiam dos

    naufrgios dos navios, ela no se preocupava com nada, exceto com suas lindas flores

    vermelhas como o sol, e tambm de uma maravilhosa esttua de mrmore. Ela era a

    representao de um lindo garoto, esculpida numa pedra totalmente branca, que tinha cadono fundo do mar de algum naufrgio.

    Ela havia plantado perto da esttuta um p de choro de cor rsea. Ele crescia

    esplendidamente, e em pouco tempo j espalhava seus tenros galhos por cima da esttua,descendo at as areias azuis. A sombra tinha um tom violeta, e ela se movia para l e para c

    como os galhos, parecia como se a coroa da rvore e a raiz estivessem brincando, e tentassem

    beijar uma a outra. Nada lhe dava tanto prazer como ficar ouvindo sobre as coisas do mar l

    em cima. Ela fez com que sua v lhe contasse tudo o que ela sabia sobre os navios e as

    cidades, as pessoas e os animais. Para ela no exista coisa mais maravilhosa e mais linda doque saber que as flores da terra tinham perfumes, mas no aquelas que viviam abaixo no mar,

    e que as rvores das florestas eram verdes, e que os peixes flutuando entre as rvores

    cantavam com tanta doura, que era um prazer muito grande ficar ouvindo tudo isso. A suav chamava as aves de pequenos peixes, porque a pequenina no entenderia, pois ela nunca

    tinha visto um pssaro.

    "Quando voc chegar aos quinze anos," disse a av, "voc ter permisso para subir e sair domar, sentar entre os rochedos ao luar, enquanto os grandes navios ficam passando, e ento,

    voc ir conhecer tanto as florestas como as cidades."

    No ano seguinte, uma de suas irms completaria quinze anos: mas como cada uma delas eraum ano mais jovem que a outra, a mais jovem teria de esperar cinco anos antes de chegar a

    sua vez para subir at a superfcie, para observar a terra como fazemos. No entanto, cada uma

    prometia dizer s outras o que elas tinham visto na primeira visita, e o que elas tinham achado

    mais lindo, porque a av delas no conseguia contar tudo, havia tantas coisas sobre as quaiselas queriam ter informao. Nenhuma delas ansiava tanto pela sua vez de subir como a mais

    jovem, ela que tinha o mais longo tempo de espera, e que era to sossegada e pensativa.

    Muitas noites ela ficava perto da janela aberta, olhando atravs das guas azuis escuras, eadmirando os peixinhos chapinhando na gua com suas barbatanas e caudas.

    Ela conseguia ver as estrelas e a lua muito palidamente, mas atravs da gua elas pareciam

    maiores do que aos nossos olhos. Quando algo como uma nuvem negra passava entre ela e as

    estrelas, ela sabia que se tratava de alguma baleia nadando acima da sua cabea, ou um naviocheio de seres humanos, que jamais imaginariam que uma linda sereiazinha estava debaixo

    deles, acenando com suas mozinhas brancas para a quilha do navio.

    Assim que a mais velha completou quinze anos, ela teve permisso para subir at a superfciedo oceano. Quando voltou, ela tinha centenas de coisas para contar, mas o mais lindo, dizia

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    5/22

    ela, era ficar sentada ao luar, sobre um banco de areia, no mar tranquilo, perto da costa, eficar olhando para uma cidade grande que fica ali perto, onde as luzes piscavam como

    centenas de estrelas, e ficar escutando o som das canes, o barulho das carruagens, e as

    vozes dos seres humanos, e depois ouvir os sinos tocando e balanando alegremente nos

    campanrios das igrejas, e como ela no podia se aproximar de todas aquelas coisasmaravilhosas, ela ficava imaginando como seria tudo aquilo de perto. Oh, e no que a irm

    mais jovem ouvia ansiosa todas essas histrias? e mais tarde, quando ela ficava com a janela

    aberta olhando atravs das guas azuis escuras, ela pensava na grande cidade, com todo o

    barulho e agitao, e at ficava imaginando que ela podia ouvir o som dos sinos tocando, lembaixo nas profundezas do mar.

    No outro ano a segunda irm recebeu permisso para subir at a superfcie da gua, e ficar

    nadando onde ela quisesse. Ela chegou superfcie assim que o sol estava se pondo, e isto,

    disse ela, era a coisa mais linda que ela j tinha visto. Todo o cu parecia dourado, enquantonuvens violetas e rseas, que ela no conseguia descrever, flutuavam acima dela, e, ainda

    mais rpido do que as nuvens, voava um enorme bando de cisnes selvagens em direo ao

    por do sol, parecendo com um longo vu branco atravessando o mar. Ela tambm nadou emdireo ao sol, mas ele mergulhou no meio das ondas, e as tintas rseas desapareceram das

    nuvens e do mar.

    A vez da terceira irm havia chegado, ela era a mais corajosa de todas, e ela nadou at um riomuito largo que desembocava no mar. Sentada na margem, ela avistou verdes colinas

    cobertas com lindos vinhedos, palcios e castelos ficavam espiando por entre as rvoresorgulhosas da floresta, ela ouviu os pssaros cantando, e os raios do sol eram to poderosos

    que ela muitas vezes era obrigada a mergulhar debaixo das guas para esfriar o rosto queardia. Numa enseada estreita ela avistou todo um grupo de pequenas crianas humanas,

    totalmente sem roupas, e que brincavam na gua, ela queria brincar com elas, mas elas

    fugiram muito assustadas, e ento, um pequeno animal negro se aproximou da gua, era um

    cachorro, mas ela no sabia disto, porque ela nunca tinha visto um antes. Este animal latiupara ela de modo to assustador que ela fugiu amedrontada, e correu de volta para o mar

    aberto. Mas ela disse que jamais se esquecer da bela floresta, das colinas verdes, e das lindas

    criancinhas que nadavam na gua, embora no tivessem rabo de peixe.

    A quarta irm era mais tmida, ela ficou no meio do oceano, mas disse que l era tudo to

    lindo como perto da terra. Ela podia ver h muitas distncias em torno dela, e o cu l em

    cima se parecia como um sino de vidro. Ela tinha visto os navios, mas a uma distncia to

    grande que eles pareciam como gaivotas. Os golfinhos brincavam com as ondas, e as grandesbaleias lanavam gua de suas narinas at que pareciam como se centenas de fontes

    estivessem brincando com gua em todas as direes.

    O aniversrio da quinta irm aconteceu no inverno, ento, tinha chegado a vez dela, ela viu oque as outras no tinham visto na primeira vez que haviam subido. O mar parecia totalmente

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    6/22

    verde, e imensos blocos de gelo flutuavam por todos os lados, cada um parecido com uma

    prola, disse ela, porm, maiores e mais majestosos do que as igrejas construdas pelos

    homens. Elas tinham os formatos mais singulares, e brilhavam como diamantes. Ela ento, se

    sentou sobre um dos maiores, e o vento brincava com seus cabelos longos, e ela notou que

    todos os navios passavam rapidamente, e iam para lugares to distantes quanto possvel dosblocos de gelo, parecia que tinham medo deles. Ao anoitecer, depois que o sol se ps, nuvens

    escuras cobriram o cu, os troves rolavam como pedra e os relmpagos reluziam, e a luz

    vermelhava brilhava sobre os blocos de gelo a medida que balanavam e agitavam o mar quesubia. Todas as velas dos navios encolhiam de medo e tremiam, enquanto ela se sentava

    calmamente sobre o iceberg que flutuava, admirando os relmpagos azuis, quando eles

    penetravam seus raios com mltiplos braos dentro do mar.

    Quando as irms tiveram permisso para subir superfcie pela primeira vez, todas elas

    ficaram felizes com as paisagens novas e belas que viram, mas agora, como as garotas jhaviam crescido, ela podiam ir para onde quisessem, e at ficaram indiferentes com isso. Elas

    desejavam voltar novamente para a gua, e depois que um ms tinha se passado elas diziamque tudo era muito mais lindo l embaixo, e que era muito mais agradvel ficar em casa. Mas

    ainda nas horas da noite, as cinco irms abraavam-se umas s outras, e subiam at a

    superfcie, em fileira.

    Elas tinham vozes muito mais lindas do que qualquer humano poderia ter, e antes que a

    tempestade se aproximasse, quando elas pensavam que um navio iria naufragar, elas nadavam

    diante do barco, e cantavam docemente as delcias que poderiam ser encontradas no fundo domar, e pediam aos marinheiros para que eles no tivessem medo caso naufragassem at ofundo. Mas os marinheiros no conseguiam entender a cano, e eles pensavam que eram os

    gritos da tempestade. E elas nunca gostavam de ver estas coisas, pois se o navio afundasse, os

    homens se afogariam, e apenas o corpo deles chegava ao palcio do Rei dos Mares.

    Quando as irms subiram, abraadas umas s outras pelas guas dessa maneira, a irm mais

    jovem delas gostava de ficar sozinha, preocupada com elas, pronta para gritar, o nico

    problema era que as sereias no possuam lgrimas, e por isso elas sofriam mais. "Oh, se eu j

    tivesse quinze anos," dizia ela: "Eu sei que eu amarei o mundo que fica l em cima, e todas aspessoas que moram nele."

    E finalmente ela completou quinze anos. "Bem, agora, voc j adulta," disse a velha viva,

    que era sua av, "ento, deixe-me enfeit-la como as suas outras irms," e a av colocou umacoroa de lrios brancos em seus cabelos, e cada ptala da flor era metade de uma prola.

    Ento, a boa senhora ordenou que oito grandes ostras fossem presas cauda da princesa a

    evidenciar sua alta nobreza.

    "Mas elas me machucam muito," disse a pequena sereia.

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    7/22

    "A nobreza deve suportar a dor," respondeu a boa senhora. Oh, com alegria ela teria sacudido

    toda aquela grandeza, e colocado de lado a pesada coroa! As flores vermelhas que cultivava

    em seu jardim lhe teriam sido muito mais apropriadas, mas de nada adiantava: ento, ela

    disse, "Adeus," e subiu to leve como uma bolha superfcie da gua. O sol j tinha ido

    dormir quando ela levantou a cabea acima das ondas, mas as nuvens estavam tingidas devermelho e dourado, e atravs do crepsculo cintilante a estrela da noite brilhava com todo

    seu esplendor.

    O mar estava calmo, e a atmosfera estava leve e fresca. Um grande navio, com trs mastros,

    se estendia tranquilo sobre as guas, com apenas uma vela levantada, porque no havia

    nenhuma brisa, e os marinheiros estavam ociosos no convs enquanto outros retesavam as

    cordas. Havia canes e musicalidade a bordo, e a medida que a noite se aproximava,centenas de laternas eram acesas, como se as bandeiras de todas as naes tremulassem no ar.

    A pequena sereia nadou at perto das janelas das cabines, e de vez em quando, quando asondas a levantavam, ela podia olhar dentro atravs das janelas transparentes como o vidro, e

    via dentro um monte de pessoas bem vestidas. Entre elas estava um jovem prncipe, o maislindo de todos, com olhos negros e arredondados, ele tinha apenas dezesseis anos de idade, e

    eles estavam comemorando o aniversrio dele com muita alegria.

    Os marinheiros estavam danando no convs, mas quando o prncipe saiu para fora da cabine,mais de centenas de foguetes subiram no ar, clareando tudo como se fosse dia. A pequena

    sereia ficou to assustada que ela mergulhou para debaixo das guas, e quando ela colocou a

    cabea para fora novamente, parecia como se todas as estrelas do cu estivessem caindo aolado dela, ela nunca tinha visto fogos de artifcios como aqueles antes. Sis imensoslanavam fogo por toda parte, esplndidos vagalumes voavam no cu azul, e tudo era

    refletido no mar calmo l embaixo. O prprio navio estava to iluminado que todas as

    pessoas, e at mesmo a corda mais diminuta, poderia ser vista distinta e claramente. E o

    jovem prncipe lhe pareceu muito belo, quando ele apertava a mo de todos os presentes esorria para eles, enquanto a msica ecoava atravs da noite clara.

    J era muito tarde, todavia, a pequena sereia no conseguia tirar os olhos do navio, nem do

    belo prncipe. As lanternas coloridas haviam se apagado, foguetes no subiam mais para o ar,e o canho havia cessado de atirar, mas o mar ficou inquieto, e um gemido, um som de

    algum resmungando podia ser ouvido debaixo das ondas: era uma pequena sereia que havia

    ficado perto da janeda da cabine, balanando para cima e para baixo sobre a gua, o que

    permitia que ela olhasse dentro. Depois de algum tempo, as velas foram rapidamentedesfraldadas, e o navio real prosseguiu a sua viagem, mas logo as ondas subiram mais altas,

    nuvens pesadas escureciam o cu, e um relmpago brilhou na distncia. Uma tempestade

    assustadora estava se aproximando, mais uma vez as velas foram enrizadas, e o grande navio

    prosseguiu em sua rota de viagem sobre o mar furioso.

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    8/22

    As ondas tinham as alturas das montanhas, e subiam mais altas que o mastro, mas o navio

    mergulhava como se fosse um cisne entre elas, e depois voltava a subir criando majestosas

    cristas de espumas. Para a pequena sereia tudo era uma grande alegria, mas no para os

    marinheiros. De repente o navio rangeu e comeou a gemer, as pranchas espessas abriam

    caminho sob o chicoteamento do mar que estourava em cima do convs, o mastro principalfoi reduzido a destroos como se fosse um junco, o navio comeou a pender de lado, e a gua

    invadia tudo. A pequena sereia agora percebia que a tripulao corria perigo, at ela mesmo

    tinha que ter cuidado para evitar as vigas e as tbuas do naufrgio que se espalhavam pelasuperfcie.

    Em determinados momentos a escurido era tanta que ela no conseguia enxergar um nico

    objeto, mas o claro de um relmpago mostrava toda a paisagem, ela podia ver todos queestavam a bordo com exceo do prncipe, quando o navio se rompeu, ela tinha visto quando

    ele naufragou nas ondas profundas, e ela ficou feliz, porque pensou que ele agora estaria emsua companhia, e ento, ela se lembrou que os seres humanos no podiam viver dentro da

    gua, de modo que quando ele descesse at o palcio de seu pai ele j estaria morto.

    Mas ele no deveria morrer. Ento, ela nadou no meio das vigas e das tbuas que estavam

    espalhadas pela superfcie do mar, esquecendo-se de que elas poderiam esmag-la em

    pedacinhos. Ento, ela mergulhou profundamente sob as guas escuras, subindo e descendocom o movimento das ondas, at que finalmente ela conseguiu alcanar o jovem prncipe, que

    rapidamente perdia a fora de nadar naquele mar tempestuoso. Seus braos e pernas j no

    aguentavam mais, seus lindos olhos estavam fechados, e ele teria morrido se a pequena sereiano tivesse vindo ajud-lo. Ela manteve a cabea dele fora da gua, permitindo que as ondaso levassem para onde quisessem.

    Pela manh a tempestade j havia passado, mas do navio nem um nico fragmento podia ser

    visto. O sol subia vermelho e reluzente da gua, e seus raios traziam de volta os tons devitalidade no rosto do prncipe, mas seus olhos permaneciam fechados. A pequena sereia

    beijou-lhe a testa alta e macia, e ajeitou os seus cabelos midos, para ela, ele parecia a esttua

    de mrmore que ela tinha em seu pequeno jardim, e tornou a beij-lo, e desejava que ele

    estivesse vivo. De repente a paisagem terrestre se desenhou diante dela, ela via as montanhasazuis e majestosas, sobre as quais a neve branca descansava como se um bando de cisnes

    tivesse pousado sobre elas. Perto do litoral havia lindas florestas verdes, e nas proximidades

    ficava um construo alta, porm, ela no conseguia dizer se era uma igreja ou um convento.

    Ps de laranja e de limo cresciam no jardim, e na frente das portas estendiam-se majestosas

    palmeiras. O mar nesse ponto formava uma pequena baa, onde a gua era muito calma,

    porm, muito profunda, ento, ela nadou com o belo prncipe at a praia, que era coberta por

    uma areia fina e branca, e ali ela o depositou sob o calor do sol, tomando o cuidado de

    levantar a cabea dele mais alto que o corpo. Os sinos tocavam naquele edifcio imenso ebranco, e um grupo de garotas vieram at o jardim. A pequena sereia nadou um pouco mais

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    9/22

    alm da praia e ficou sentada entre algumas pedras altas que se elevavam da gua, ento, ela

    cobriu a cabea e o pescoo com a espuma do mar de modo que o seu pequeno rostinho no

    podia ser visto, e ficou observando para saber o que tinha acontecido com o pobre doprncipe.

    Ela no precisou esperar muito at que viu uma garota se aproximar do lugar onde ele havia

    ficado. A princpio, ela pareceu assustada, mas apenas por alguns momentos, depois foibuscar algumas pessoas, e a pequena sereia viu quando o prncipe voltou vida novamente, e

    sorria para aqueles que estavam em volta dele. Mas para ela ele no enviou nenhum sorriso,

    ele no sabia que ela havia salvo sua vida. Isso fez com que ela ficasse muito triste, e quando

    ele foi conduzido de volta para o grande edifcio, ela mergulhou tristemente para dentro dagua, e voltou para o castelo de seu pai. Ela sempre tinha sido silenciosa e meditativa, e agora

    mais do que nunca. As suas irms lhe perguntaram o que ela tinha visto durante a sua

    primeira visita superfcie da gua, mas ela no queria lhes contar nada. Muitas noites emuitas manhs ela visitou o lugar onde havia deixado o prncipe.

    Ela viu quando as frutas do jardim amadureceram at serem colhidas, a neve nos topos das

    montanhas se derreteram, mas ela nunca voltou a ver o prncipe, e ento, ela voltou para casa,

    cada vez mais triste do que antes. Seu nico consolo era ficar sentada em seu pequeno jardim,e colocar seus braos em torno da linda esttua de mrmore que se parecia com o prncipe,

    mas ela deixou de cuidar das flores, e elas cresciam em completa confuso pelos caminhos,

    entrelaando suas longas folhas e caules em torno dos galhos das rvores, de modo que o

    lugar ficou todo escuro e sombrio. At que ela no aguentou esperar mais, e contou para umade suas irms tudo o que tinha acontecido. Ento, as outras ficaram sabendo do segredo, e

    logo uma amiga da pequena sereia tambm ficou sabendo e suas amigas ntimas por acaso

    sabiam quem era o prncipe. Ela tambm tinha participado da festa no convs do navio, e

    contou para elas de onde o prncipe era, e onde ficava o seu palcio.

    "Venha, minha irmzinha," disseram as outras princesas, ento, elas deram-se os braos e

    subiram fazendo uma grande fileira at a superfcie da gua, perto do lugar onde elas sabiam

    que ficava o palcio do prncipe. Esse lugar era construdo com pedras brilhantes amarelas,

    com longos lances de degraus de mrmore, um dos quais descia at o mar. Esplndidascpolas douradas subiam acima do telhado, e entre as colunas que cercavam o edifcio todo

    havia esttuas de mrmore que pareciam ter vida. Atravs dos cristais transparentes das

    majestosas janelas podiam-se ver os aposentos reais, com cortinas de seda carssimas etapetes feitos de tapearia, ao passo que as paredes estavam cobertas por pinturas belssimas

    proporcionando uma viso muito agradvel.

    No centro do salo mais amplo uma fonte lanava seus jatos de gua cintilantes bem alto ata cpola de vidro do telhado, atravs do qual o sol espalhava seus reflexos na gua e sobre as

    lindas plantas que cresciam em torno da base da fonte. Agora que ela sabia onde ele morava,ela passava muitas tardes e muitas noites nas guas perto daquele palcio. Ela gostava de

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    10/22

    nadar bem perto da praia mais do que as outras se atreviam a fazer isso, e de fato, um dia ela

    chegou quase perto do canal estreito sob a varanda de mrmore, que estendia uma sombra

    enorme sobre a gua. Aqui ela gostava de ficar sentada e olhava o jovem prncipe, que estavatotalmente sozinho sob o claro do luar.

    Muitas vezes ele ficava observando quando ele saa para velejar noite num delicioso barco,

    com msicas tocando e bandeiras balanando. Ela ficava espiando por entre os juncosverdejantes, e se o vento abraava seu longo vu branco-prateado, aqueles que observassem

    de longe acreditariam que ela era um cisne, espraiando suas asas. Durante muitas noites,

    tambm, quando os pescadores, com suas tochas, saam para o mar, ela os ouvia contando

    tantas coisas bonitas sobre as aventuras do jovem prncipe, que ela ficava feliz por ter salvo avida dele quando ele foi sacudido quase sem vida no meio das ondas. E ela se lembrava de

    que a cabea dele estava deitada em seu peito, e que ela o havia beijado com o corao, mas

    ele no sabia nada a esse respeito, e no poderia jamais sonhar com ela.

    Cada vez mais ela gostava dos seres humanos, e desejava cada vez mais poder passear com

    aqueles cujo mundo parecia ser muito maior que o dela. Eles podiam viajar pelo mar em

    navios, e subir as altas colinas que ficavam acima das nuvens, e as terras que eles possuam,

    suas florestas e seus campos, se estendiam na distncia muito alm do alcance dos seus olhos.Havia tanto que ela gostaria de conhecer, e as suas irms no conseguiam responder a todas

    as perguntas que ela fazia. Ento, ela procurou a sua av, que sabia tudo sobre o mundo l em

    cima, e que ela, com muita propriedade chamava de terra acima do mar.

    "Se os seres humanos no se afogarem," perguntou a pequena sereia , "eles podem viver para

    sempre? eles nunca morrem como ns morremos aqui no mar?"

    "Sim," respondeu a gentil senhora, "eles tambm devem morrer, e o tempo de vida deles mais curto que o nosso. Ns s vezes podemos viver at trezentos anos, mas quando ns

    deixamos de existir aqui ns viramos apenas espuma na superfcie da gua, e ns nem sequer

    temos uma sepultura aqui embaixo daqueles a quem amamos. No somos almas imortais,

    jamais viveremos novamente, mas, assim como as algas verdes, uma vez que tenhamos sido

    cortados, nunca iremos florir novamente. Os seres humanos, pelo contrrio, tm uma almaque vive para sempre, sobrevive ao corpo quando este retorna para o p. Ela ascende atravs

    do ar puro e cristalino para alm das estrelas reluzentes. Quando ns samos fora da gua, e

    contemplamos toda a terra do planeta, eles tambm sobem at regies desconhecidas egloriosas que ns jamais veremos."

    "Porque ns no temos uma alma imortal?" perguntou a pequena sereia com tristeza, " Eu

    daria com alegria todas as centenas de anos que eu tenho para viver, para ser um ser humanoapenas por um dia, e para ter a esperana de conhecer a felicidade desse mundo glorioso alm

    das estrelas."

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    11/22

    "Voc no deve pensar assim," disse a boa senhora, "ns sentimos que somos muito mais

    felizes e muito melhores que os seres humanos."

    "Ento, eu morrerei," disse a pequena sereia , "e me desfarei como a espuma do mar para

    nunca mais ouvir a msica das ondas, nem admirar as flores maravilhosas nem o solvermelho. H algo que possa fazer para conquistar uma alma imortal?"

    "No," disse a gentil senhora, "a no ser que um homem te ame tanto a ponto de voc

    significar mais para ele do que seu pai ou sua me, e se todos os pensamentos dele e todo o

    seu amor forem dedicados a voc, e o padre colocar a mo direita dele sobre a sua, e ele

    prometa fidelidade a voc daqui para sempre, ento, a alma dele fluir para o teu corpo e vocpoder participar da felicidade futura da humanidade. Ele dar uma alma a voc muito

    embora conservasse a prpria, mas isto jamais poder acontecer. O seu rabo de peixe, que

    para ns de beleza singular, na terra considerado deselegante, eles no conhecem nadamelhor, e eles acham que necessrio dois suportes robustos, a que chamam de pernas, paraserem considerados belos."

    Ento, a pequena sereia suspirou, e olhou com tristeza para o seu rabo de peixe. "Sejamos

    felizes," disse a boa senhora, "vamos danar e pular durante os trezentos anos que temos deviver, isso j muito tempo, depois disso poderemos descansar para sempre.

    Esta noite vamos ter um baile na corte. um acontecimento fantstico que jamais veremos

    na terra. As paredes e o teto do imenso salo de baile eram feitos de um cristal espesso,porm, transparente. Centenas de conchas colossais, vestidas de vermelho carmim, e outras

    verdes como a relva, ficavam enfileiradas uma de cada lado, com uma chama azul interior,

    iluminando todo o salo, e cujo brilho atravessa as paredes, de modo que o mar fica todo

    iluminado. Inmeros peixes, grandes e pequenos, atravessam nadando pelas paredes decristais, em alguns deles as escamas reluzem com um brilho prpura, e em outros so

    cintilantes como a prata e o ouro. Pelos corredores flua um largo riacho, e nele

    homens-peixes e sereias danavam ao som de suas prprias canes.

    Ningum na terra tinha vozes to lindas como as deles. A pequena sereia cantava, mais doque todos, da maneira mais doce. Toda a corte a aplaudia com suas mos e suas caudas, e por

    alguns momentos seu corao pulava de alegria, pois ela sabia que ela tinha a voz mais

    adorvel que qualquer um da terra ou do mar. Mas ela logo voltou a pensar no mundo queficava acima dela, pois no conseguia esquecer o prncipe encantador, nem a tristeza por no

    ter uma alma imortal como a dele, ento, ela saiu furtiva e silenciosamente do palcio de seu

    pai, e enquanto tudo l dentro era alegria e musicalidade, ela se sentou em seu pequeno

    jardim triste e solitria. Ento, ela ouviu o som de uma corneta atravs da gua, e pensou "Certamente ele deve estar velejando l em cima, aquele a quem meus sonhos pertencem, e

    em cujas mos eu gostaria de depositar a felicidade da minha vida. Eu arriscaria tudo por ele,e para conquistar uma alma imortal, enquanto as minhas irms esto danando no palcio do

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    12/22

    meu pai, irei at a bruxa do mar, de quem sempre tive tanto medo, mas ela poder me dar

    conselhos e ajudar."

    E ento, a pequena sereia saiu de seu jardim, e tomou o caminho at os remoinhos de espuma,

    onde atrs deles vivia a feiticeira. Ela jamais havia percorrido aqueles caminhos antes: nemflores nem relva cresciam ali, nada alm de um terreno estril, cinzento e arenoso se estendiaat o remoinho, onde a gua, como rodas de moinho espumejantes, girava em torno de tudo

    que ela conseguia prender, lanando tudo dentro de um abismo insondvel. Pelo meio destes

    remoinhos destruidores a pequena sereia era obrigada a atravessar, para chegar aos domnios

    da bruxa do mar, e assim por uma longa distncia ela teve de fazer um grande percurso sobreum brejo quente e borbulhante chamado pela bruxa de seu pntano de relvas.

    Alm destas paragens ficava a casa dela, no meio de uma estranha floresta, na qual todas as

    rvores e flores eram plipos, metade animais, metade plantas, elas se pareciam comoserpentes com centenas de cabeas se esticando para fora do solo. Os galhos eram longos

    braos viscosos, com dedos parecidos com vermes flexveis, movendo um brao aps o outro

    da raiz at o topo. Tudo o que eles conseguiam alcanar no mar eles agarravam, e seguravam

    com fora, de modo que jamais algum conseguia escapar de suas garras. A pequena sereiaficou to assustada com o que viu, que ela ficou paralizada, e seu corao batia acelerado, e

    ela j estava quase pensando em voltar, mas ela se lembrou do prncipe, e na alma humana

    por quem ela sonhava tanto, e voltou a ter coragem. Ela prendeu seus cabelos longos e lisos

    em torno da cabea, para que os plipos no conseguissem prend-lo.

    Ela juntou as duas mos sobre o peito, e depois, avanou apressadamente assim como os

    peixes fazem atravs da gua, entre os braos e dedos flexveis dos assustadores plidos, que

    esticavam seus tentculos de ambos os lados. Ela percebeu que cada um deles tinha em suasgarras algo que eles haviam apreendido com seus numerosos bracinhos, fortes como frreas

    articulaes. Os esqueletos brancos de seres humanos que haviam perecido no mar, e que

    haviam naufragado em guas profundas, esqueletos de animais terrestres, remos, lemes e

    bas de navios estavam ali firmemente presos pelos seus tentculos pegajosos, at mesmouma pequena sereia, que eles haviam capturado e estrangulado, e esta era a cena mais

    chocante de todas para a pequena princesa.

    Ela agora havia chegado a um espao de terreno pantanoso da floresta, onde serpentes dguagrandes e redondas rolavam na lama, mostrando seus corpos horrendos e assustadores. No

    meio desse lugar havia uma casa, construda com a ossada dos seres humanos naufragados.

    Ali ficava a bruxa do mar, que estava brincando com um sapo que comia diretamente de sua

    boca, assim como as pessoas costumam alimentar um canrio com um pouco de acar. Elachamava suas horrendas cobras dgua de queridas galinhas, e deixava que elas ficassem

    passeando por cima do seu corpo.

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    13/22

    "Eu sei o que voc quer," disse a bruxa do mar, " uma tolice muito grande da sua parte, mas

    voc ter o que deseja, e isso lhe trar muitas aflies, minha linda princesa. Voc quer selibertar de sua cauda de peixe, e substitu-la por dois suportes, como os seres humanos da

    terra, para que o jovem prncipe possa se apaixonar por voc, e para que voc tenha uma alma

    imortal." E nesse momento a bruxa gargalhou to alto e de forma desagradvel, que o sapo eas cobras acabaram caindo no cho, e ali permaneceram se contorcendo. "Voc conseguirmas no tempo certo," disse a bruxa, "pois a partir do por do sol de amanh eu no poderei te

    ajudar at que um ano tenha passado. Eu vou te preparar uma poo, com a qual voc dever

    ir nadando at a terra amanh antes do por do sol, sentar-se na praia e ali dever beb-la.

    A sua cauda ento, ir desaparecer, e encolher at aquilo que os homens chamam de pernas,

    voc sentir muita dor, como se estivesse sendo atravessada por uma espada. Mas todos os

    que a olharem, diro que voc a mais linda criaturinha humana que eles j viram. Voc

    manter ainda a mesma delicadeza de seus movimentos de flutuao, e nenhuma danarinapoder caminhar com tanta leveza, mas a cada passo teu voc sentir como se estivesse

    pisando em facas afiadas, e que o sangue precisa fluir. Se voc conseguir suportar tudo isto,

    eu poderei te ajudar."

    "Sim, vou conseguir," disse a pequena princesa com a voz trmula, enquanto ela pensava no

    prncipe e na alma imortal.

    "Mas pense direito," disse a bruxa, " pois quando o seu corpo assumir a forma de um ser

    humano, voc no poder mais ser a pequena sereia. Voc jamais retornar atravs da guapara junto de suas irms, nem para o palcio de teu pai novamente, e se voc no conquistar o

    amor do prncipe, de tal modo que ele esteja disposto a esquecer pai e me por tua causa, te

    amar com toda sua alma, e deixar que o padre junte suas mos para que vocs se tornemmarido e mulher, ento, voc nunca ter uma alma imortal. Na primeira manh depois que ele

    desposar outra mulher o teu corao ir romper, e voc se tornar espuma na crista das

    ondas."

    "Eu farei isso," disse a pequena sereia, e ela ficou plida como a morte.

    "Mas eu tambm preciso receber o meu pagamento," disse a bruxa, "e eu no vou lhe pedir

    pouco. Voc possui a mais bela voz de qualquer um que habite nas profundezas do mar, evoc acredita que com ela voc conseguir encantar o prncipe tambm, mas esta voz ser o

    teu pagamento, a melhor coisa que voc possui eu receberei como preo pela minha poo

    mgica. Meu prprio sangue deve estar misturado com ela, para que a poo possa ser forte

    como a espada de dois gumes."

    "Mas se voc tomar a minha voz," disse a pequena sereia , "o que vai sobrar para mim?"

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    14/22

    "A tua beleza, o teu andar gracioso e os teus olhos expressivos, certamente com estesencantos voc saber acorrentar o corao de um homem. E ento, voc perdeu a coragem?

    Coloque a tua lngua para fora para que eu possa cort-la como pagamento, e ento voc

    poder ter o poderoso elixir."

    "Assim ser," disse a pequena sereia .

    Ento, a bruxa colocou o seu caldeiro no fogo para preparar a poo mgica.

    "A higiene um bom hbito," disse ela, esfregando o caldeiro com as cobras, as quais ela

    havia amarrado juntas formando um grande n, em seguida, ela picou a si mesma no peito, e

    deixou que o sangue escuro escorresse para dentro do caldeiro. O vapor que se levantou

    transformava-se em figuras de horrvel aspecto que ningum conseguia olhar sem se assustar.

    A todo momento a bruxa jogava alguma coisa dentro do caldeiro, e quando ele comeou aferver, o rudo se parecia com o choro de um crocodilo. Quando finalmente a poo mgica

    ficou pronta, ela tinha o aspecto da mais pura gua.

    "Aqui est para voc," disse a bruxa. Em seguida, ela cortou a lngua da pequena sereia, e

    ento, ela ficou muda, e jamais poderia falar ou cantar. "Se os plipos tentarem te agarrar

    quando voc estiver voltando pela floresta," disse a bruxa, "atire sobre eles algumas gotas da

    poo, e os dedos deles se rasgaro em milhares de pedaos." Mas a pequena sereia nasprecisou usar deste artifcio, pois os plipos recuavam aterrorizados quando olhavam para a

    poo cintilante, que brilhava nas mos dela como estrelas radiantes.

    Ento, ela atravessou rapidamente a floresta e o pantanal, e depois por entre os remoinhos que

    avanavam. Ela viu que no palcio de seu pai as tochas do salo de baile j haviam sidoapagadas, e dentro todos dormiam, mas ela no se arriscou a ir at eles, porque ela agora

    estava muda e deveria deix-los para sempre, se sentia como se o seu corao fosse estourar.

    Ela fugiu sorrateiramente para o jardim, pegou uma flor no canteiro de flores de cada uma de

    suas irms, jogava com a mo milhares de beijos em direo ao palcio, e depois subiuatravessando as guas azuis escuras. O sol nao tinha nascido quando ela surgiu diante do

    palcio do prncipe, e se aproximou dos maravilhosos degraus de mrmore, mas a luabrilhava com muita intensidade.

    Ento, a pequena sereia tomou a poo mgica, e ela sentiu como se uma espada com dois

    gumes penetrasse o seu corpo delicado: ela sentiu que ia desmaiar, e pareceu que tinha

    morrido. Quando o sol surgiu e brilhava por todo o oceano, ela voltou a si, e sentiu uma dor

    aguda, ento, bem diante dela estava o belo e jovem prncipe. Ele fixou nela seus olhosnegros como carvo to ardentemente que ela baixou os seus prprios, e ento, ela percebeu

    que o seu rabo de peixe havia desaparecido, e que ela tinha um lindo par de pernas brancas e

    ps delicados como os de qualquer donzela, mas ela no tinha roupas, ento, ela se enrolouem seus cabels longos e espessos. O prncipe perguntou quem ela era, e de onde ela tinha

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    15/22

    vindo, e ela olhava para ele com ternura e tristeza com seus profundos olhos azuis, mas elano podia falar.

    Tudo o que acontecia com ela era exatamente como a bruxa havia dito que seria, ela sentia

    como se estivesse pisando em pontas de agulhas ou facas afiadas, mas ela suportava tudo comdignidade, e caminhava to levemente ao lado do prncipe como se fosse bolha de sabo, de

    modo que ele e todos que a viam ficavam admirados com seus movimentos graciosos e sutis.

    No demorou muito e logo ela estava usando roupas carssimas de seda e musselina[1], e ela

    era a mais linda criatura do palcio, mas era muda, e no podia falar nem cantar.

    Belas escravas, vestidas em seda e ouro, colocaram-se frente e cantavam diante do prncipe

    e dos pais reais: uma cantava melhor que todas as outras, e o prncipe batia palmas e sorria

    para ela. Esta era uma grande tristeza para a pequena sereia, ela sabia o quanto ela cantava

    com mais doura antes, e pensou, "Oh se eu soubesse! Perdi minha voz para sempre, paraestar ao lado dele."

    As escravas, a seguir, realizaram belos nmeros de dana que pareciam de fada, ao som deuma msica maravilhosa. Ento, a pequena sereia levantou seus braos encantadores, ficou na

    ponta dos ps, e deslizava pelo assoalho, e danava como ningum ainda havia sido capaz de

    danar. A todo momento a sua beleza se revelava cada vez mais, e seus olhos expressivos

    falavam mais diretamente ao corao do que as canes das escravas. Todos estavamembevecidos, especialmente o prncipe, que a chamava de sua pequena enjeitada, e ela

    danava com muita leveza, para agrad-lo, embora cada vez que seus ps tocavam o choparecia estar pisando em facas afiadas."

    O prncipe falou que ela deveria ficar com ele para sempre, e ela teve permisso para dormir

    junto da sua porta, numa almofada de veludo. Ele mandou fazer para ela uma roupa de

    escudeiro, para que ela pudesse acompanh-lo nas cavalgadas. Eles cavalgaram juntos pelas

    florestas docemente perfumadas, onde os galhos verdes tocavam-lhes os ombros, e ospequenos pssaros cantavam por entre as folhas verdejantes. Ela subiu com o principe at os

    topos das altas montanhas, e embora seus ps delicados sangrassem a ponto de lhe marcarem

    os passos, ela ria somente, e o acompanhava at que pudessem ver as nuvens abaixo delesque pareciam um bando de aves migrando para pases distantes. Enquanto isso, no palcio doprncipe, quando todos os criados j tinham ido dormir, ela ia e ficava sentada nos largos

    degraus de mrmore, pois isso aliviava os seus ps ardentes, banhando-os na fria gua do

    mar, e ento ela pensava em todos aqueles que moravam nas profundezas.

    Uma vez, durante a noite, suas irms apareceram de braos dados, cantando tristemente,

    enquanto flutuavam na gua. Ela acenou para as irms, e ento, elas a reconheceram, e disse

    para elas como ela as havia magoado. Depois disso, elas vinham para o mesmo lugar todas as

    noites, e uma vez ela viu de longe a sua querida av, que no vinha superfcie do mar havia

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    16/22

    muitos anos, e o velho Rei dos Mares, seu pai, com a coroa em sua cabea. Eles estenderamsuas mos para ela, mas no queriam se arriscar to perto da terra como suas irms faziam.

    A medida que os dias se passavam, ela amava o prncipe cada vez mais, e ele a amava como

    amava a um beb, mas jamais lhe vinha cabea fazer dela a sua esposa, porm, a menos queela se casasse com ele, ela no receberia uma alma imortal, e, na manh seguinte depois que o

    prncipe se casasse com outra mulher, ela iria desaparecer na espuma do mar.

    "Voc no ama a mim mais do que todas elas?" os olhos da pequena sereia pareciamperguntar, quando ele a tomou nos braos, e beijou sua linda testa.

    "Sim, voc muito querida para mim," disse o prncipe, "pois voc tem o melhor corao, e

    voc a mais dedicada a mim, voc como uma jovem donzela que eu conheci um dia, mas

    que eu jamais a verei de novo. Eu estava num navio que havia naufragado, e as ondas melevaram para a praia perto de um templo sagrado, onde vrias jovens donzelas executavam o

    servio. A mais jovem delas me encontrou na praia, e salvou a minha vida. Eu a vi apenas

    duas vezes, e ela a nica no mundo a quem devo amar, mas voc muito parecida com ela,e voc quase expulsou a imagem dela do meu pensamento. Ela pertence ao templo sagrado, e

    o meu destino enviou voc para mim ao invs dela, e jamais nos separaremos."

    "Ah, ele no sabe que fui eu quem salvou a vida dele," pensou a pequena sereia . "Eu o leveisobre o mar para a floresta onde fica o templo: fiquei sentada debaixo das espumas, e fiquei

    olhando at que os humanos vieram ajud-lo. Eu vi a linda jovem que ele ama mais do queama a mim," e a pequena sereia suspirou profundamente, mas ela no podia verter lgrimas.

    "Ele diz que a jovem pertence ao templo sagrado, portanto, ela jamais voltar para o mundo.Eles nunca mais se encontraro: ao passo que eu estou aqui ao lado dele, e o vejo todos os

    dias. Eu cuidarei dele, e o amarei, e renunciarei minha vida por causa dele."

    No demorou muito e houve um boato de que o prncipe deveria casar, e que a linda filha deum rei vizinho seria a sua esposa, e um lindo navio estava sendo preparado. Embora o

    prncipe declarasse que ele simplesmente pretendia fazer uma visita ao rei, era de

    conhecimento geral que ele realmente teria ido fazer uma visita filha do rei. Um grandesquito o acompanhava. A pequena sereia sorriu, e balanou a cabea. Ela conhecia ospensamentos do prncipe mais do que qualquer outra pessoa.

    "Preciso viajar," disse o prncipe a ela, "E preciso conhecer esta linda princesa, so os desejos

    de meus pais, mas eles nao podero me obrigar a traz-la para casa como noiva. No possoam-la, ela no se parece com a linda donzela do templo, com quem voc se parece. Se eu

    fosse forado a escolher uma noiva, eu teria escolhido voc, minha muda enjeitadinha, com

    olhos to expressivos." E ento, ele beijou sua boca rosada, brincou com os seus cabelos

    longos e ondulados, e colocou a cabea sobre sobre o corao dela, enquanto ela sonhavacom a felicidade humana e com uma alma imortal. "Voc no tem medo do mar, meu beb

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    17/22

    silencioso," disse ele, enquanto estavam no convs do navio real que deveria conduz-los at

    o pas do rei vizinho. E ento ele falou para ela sobre a tempestade e sobre a calmaria, sobre

    peixes estranhos nas profundezas abaixo de onde eles estavam, e que os mergulhadores

    tinham visto l, e ela sorria com as descries dele, pois ela conhecia mais do que ningum as

    maravilhas que haviam no fundo do mar.

    Ao luar, quando todos a bordo estavam dormindo, com exceo dos homens no comando,

    conduzindo o navio, ela se sentou no convs, e ficou olhando atravs das guas claras. Elapensou que poderia distinguir o castelo de seu pai, e dentro dele a sua av j idosa, com a

    coroa de prata na cabea, olhando a mar que avanava sob a quilha do navio. De repente, as

    suas irms surgiram no meio das ondas, e ficaram olhando para ela com tristeza, torcendo

    suas mos brancas. Ela acenou para suas irms, e sorriu, e quis dizer a elas como ela estavafeliz e com sade, mas o grumete se aproximou, e quando suas irms voltaram a mergulhar

    ele pensou ter visto apenas as espumas do mar.

    Na manh seguinte, o navio zarpou para o porto de uma linda cidade que pertencia ao rei aquem o prncipe estava indo visitar. Os sinos da igreja estavam tocando, e das torres

    majestosas ouvia-se o toque de trombetas, e os soldados, com bandeiras esvoaantes e

    baionetas cintilantes, desfilavam pelas rochas por onde passavam. Todo dia era uma festa,

    bailes e entretenimentos eram realizados um aps o outro.

    Mas a princesa ainda no havia aparecido. As pessoas diziam que ela cresceu e fora educada

    numa casa religiosa, onde ela estava aprendendo todas as virtudes reais. Finalmente elaapareceu. Ento, a pequena sereia, que estava muito ansiosa para ver se ela era realmentebela, foi constrangida a reconhecer que ela jamais tivera visto antes a mais perfeita imagem

    da beleza. A sua pele era delicadamente bela, e debaixo de suas pestanas longas e escuras

    brilhavam seus olhos sorridentes e azuis vestidos de sinceridade e pureza.

    "Foi voc," disse o prncipe, "que salvou a minha vida quando eu estava morto na praia," e

    ele tomou em seus braos a noiva corada. "Oh, eu sou to feliz," disse ele para a pequena

    sereia , "minhas mais gratas esperanas foram realizadas. Voc ir se regozijar com a minha

    felicidade, porque a sua dedicao a mim grande e sincera."

    A pequena sereia beijou-lhe a mo, e sentiu como se o seu corao j estivesse rompido. A

    manh do casamento dele traria a morte para ela, e ela se transformaria na espuma do mar.

    Todos os sinos da igreja tocaram, e os arautos corriam pela cidade anunciando o noivado.leos perfumados queimavam em carissimas lamparinas prateadas de todos os altares. Os

    sacerdotes balanavam os incensrios, enquanto o noivo e a noiva uniam suas mos e

    recebiam as benos do bispo. A pequena sereia, vestida com seda e ouro, segurava o vu da

    noiva, mas seus ouvidos nada ouviam das msicas festivas, e os seus olhos no viram nada da

    cerimnia sagrada, ela pensava na noite da morte que se aproximava, e em tudo o que elahavia perdido no mundo.

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    18/22

    Na mesma noite, a noiva e o noivo subiram a bordo do navio, os canhes rufavam, bandeiras

    tremulavam, e no centro do navio uma tenda carssima de prpura e ouro foi erigida. Ela

    continha sofs elegantes para a recepo do casal de noivos durante a noite. O navio, com

    velas infladas e ventos favorveis, deslizavam com suavidade e leveza sobre o mar calmo.Quando escureceu, um grande nmero de lmpadas coloridas foram acesas, e os marinheiros

    danavam alegremente pelo convs. A pequena sereia no conseguia parar de pensar na

    primeira vez que ela subiu at a superfcie, e teve festas e alegrias semelhantes, e ela sejuntou dana, se equilibrou no ar como uma andorinha ao perseguir a sua presa, e todos os

    presentes maravilhados davam vivas. Ela nunca havia danado com tanta elegncia

    anteriormente.

    Seus ps delicados pareciam que eram cortados por facas afiadas, mas ela no se preocupava

    com isso, uma pontada mais dolorida havia perfurado o seu corao. Ela sabia que esta seria altima noite que veria o prncipe, por quem ela havia abandonado os parentes e a sua casa, ela

    havia perdido sua linda voz, e sofria diariamente dores inauditas por causa dele, enquanto eleno sabia nada disso. Esta era a ltima noite que ela iria respirar o mesmo ar com ele, ou

    olhar para o cu estrelado e o mar profundo, uma noite eterna, sem pensamentos nem sonhos,

    esperava por ela: ela no tinha uma alma e jamais poderia conseguir uma. Tudo era alegria e

    felicidade no convs do navio at bem depois da meia-noite, ela ria e danava com os demais,enquanto os pensamentos da morte varriam-lhe o corao.

    O prncipe beijou sua linda noiva, enquanto ela brincava com seus cabelos negros, at queentraram de braos dados para se deitarem na tenda esplndida. Ento, tudo era silncio bordo do navio, o timoneiro, sozinho e acordado, ficava no leme. A pequena sereia apoiou

    seus braos brancos na borda do navio, e olhou para o oriente em busca da primeira paisagem

    rubra da manh, porque o primeiro raio da aurora iria lhe trazer a morte. Ela viu suas irms

    subindo por entre as guas: elas estavam to plidas quanto ela prpria, mas seus cabeloslongos e belos no mais balanavam com o vento porque tinham sido cortados.

    "Ns demos o nosso cabelo para a bruxa," elas disseram, "para conseguir ajuda para voc,

    para que voc no possa morrer esta noite. Ela nos deu uma faca: aqui est ela, veja como bastante afiada. Antes do sol nascer voc deve mergulh-la no corao do prncipe, quando o

    sangue quente cair sobre os seus ps eles se uniro novamente, e se transformaro na cauda

    de peixe, e voc ser novamente a pequena sereia, e voltar para ns para viver os seus

    trezentos anos antes de voc morrer e se transformar na espuma do mar salgado. Apresse-se,ento, ele ou voc dever morrer antes do por do sol. A nossa velha av sofre muito por voc,

    que os cabelos brancos dela esto caindo de tanta tristeza, como os nossos foram cortados

    pela tesoura da bruxa. Mate o prncipe e retorne, vai depressa: voc no est vendo os

    primeiros clares vermelhos no cu? Em alguns minutos o sol vai nascer, e voc dever

    morrer." E ento elas suspiraram profunda e tristemente, e mergulharam debaixo das ondas.

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    19/22

    A pequena sereia afastou a cortina carmesim da tenda, e contemplou a bela noiva com a

    cabea deitada no peito do prncipe. Ela se inclinou e beijou sua sobrancelha, em seguida,

    olhou para o cu onde a aurora rsea ficava cada vez mais brilhante, ento, ela olhou para a

    faca afiada, e novamente fixou os olhos no prncipe, que suspirou o nome da sua noiva em

    seus sonhos. Ela estava em seus pensamentos, e a faca tremeu na mo da pequena sereia:ento ela jogou a faca longe no meio das ondas, e onde ela caiu, a gua ficou vermelha, e as

    gotas que jorravam para cima pareciam sangue.

    Ela lanou mais um olhar ansioso e meio-desfalecente para o prncipe, e ento, se atirou do

    navio para o mar, e achou que o seu corpo estava se transformando em espuma. O sol subia

    por cima das ondas, e seus raios quentes caam sobre a espuma fria da pequena sereia, que

    no se sentiu como se estivesse morrendo. Ela viu o sol brilhando, e por todos os ladospairavam centenas de seres belos e translcidos, ela podia ver atravs deles as velas brancas

    do navio, e as nuvens vermelhas do cu, eles falavam melodiosamente, mas era por demaisetreas para serem ouvidos por ouvidos mortais, porque tambm no poderiam ser vistos por

    olhos mortais. A pequena sereia percebeu ento, que o seu corpo era como o deles, e que elacontinuava a subir cada vez mais alto para longe das espumas. "Onde estou eu?" perguntou

    ela, e sua voz parecia sideral, como a voz daqueles que estavam com ela, nenhuma msica

    terreste conseguiria imit-la.

    "Entre suas irms do espao," respondeu uma delas. "A pequena sereia no possui uma alma

    imortal, nem pode conseguir uma, exceto se conquistar o amor de um ser humano. No poder

    de uma outra pessoa est o destino da eternidade. Mas as filhas do espao, embora nopossuam uma alma imortal, podem, com seus atos de bondade, conseguir uma para simesmas. Ns voamos at os pases quentes, e esfriamos o ar abafado que destri a

    humanidade com sua pestilncia. Ns levamos o perfume das flores para espalhar a sade e a

    renovao. Depois de lutarmos por trezentos anos com todo o bem ao nosso alcance, ns

    recebemos uma alma imortal e tomamos parte da felicidade do mundo. Voc, nossa pequenasereia, tentou de todo o corao fazer o que ns estamos fazendo, voc sofreu, suportou e se

    elevou para o mundo espiritual atravs das suas boas aes, e agora, lutando da mesma

    maneira durante trezentos anos, voc pode conseguir uma alma imortal.

    A pequena sereia elevou seus olhos agradecidos em direo ao sol, e sentiu, que pela primeira

    vez eles estavam cheios de lgrimas. No navio, onde ela havia deixado o prncipe, tudo era

    vida e burburinho, ela o viu com sua bela noiva e procuravam por ela, com tristeza eles

    olharam para a espuma perolada, como se eles soubessem que ela havia se atirado nas ondas.Invisvel, ela beijou a fronte da sua noiva, e abanou o prncipe, e ento subiu com as outras

    crianas do ar at uma nuvem rsea que flutuava atravs do ter.

    "Depois de trezentos anos, assim que nos locomovemos no reino dos cus," disse ela. "E

    ns podemos chegar at l mais rpido," murmurou uma de suas companheiras. "Podemosentrar nas casas das pessoas sem sermos vistas, onde haja crianas, e todos os dias quando

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    20/22

    encontramos uma boa criana, que a alegria de seus pais e merecedora do amor deles, o

    nosso tempo de provao ser diminudo. A criana no sabe, quando ns passamos voando

    pelo ambiente, que ns sorrimos de alegria com o seu bom comportamento, e podemoscalcular um ano a menos dos nossos trezentos anos. Mas quando ns observamos uma

    criana travessa ou mal comportada, ns derramamos lgrimas de tristeza, e para cadalgrima derramada um dia adicionado ao nosso tempo de provao!"

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    21/22

  • 7/21/2019 A Pequena Sereia (Hans Christen Andersen)

    22/22