a fidelizaÇÃo dos clientes Às companhias aÉreas atravÉs de anÁlises de preferencia declarada

12
A FIDELIZAÇÃO DOS CLIENTES ÀS COMPANHIAS AÉREAS ATRAVÉS DE ANÁLISES DE PREFERENCIA DECLARADA Shanna Trichês Lucchesi Christine Tessele Nodari Ana Margarita Larrañaga Luis Afonso dos Santos Senna Engenharia de Produção e Transportes Universidade Federal do Rio Grande do Sul RESUMO Para o transporte aéreo, a existência de fidelização determina que os custos decorrentes da mudança de companhia são maiores do que o valor da tarifa. Através de uma pesquisa de preferência declarada avaliou-se essa fidelização e, identificou-se o percentual de acréscimo na tarifa aceito antes de dispensar os benfeitorias alcançadas devido às viagens já realizadas com a mesma empresa. Diversas estruturas de modelos de escolha discreta foram testadas para representar o comportamento de escolha: logit multinomial; logit misto de coeficientes aleatórios; logit multinomial incorporando variações sistemáticas das preferências; logit misto de componentes de erro; logit misto de componentes de erro incorporando variações sistemáticas das preferências. Os resultados mostraram que passageiros fidelizados tem maior probabilidade de escolher a companhia Tam. O custo de troca desses passageiros é equivalente a 15% do valor da tarifa. Estes também são menos sensíveis a aumentos e incorrem em maiores custos para não trocar de companhia. ABSTRACT For the air transport, the existence of loyalty determines that the costs resulting from disruptions of loyalty are larger than the rate. Through a stated preference survey, this paper evaluated the loyalty and identified the percentage of increase in the value of the fare that passengers are willing to pay before dispensing the improvements achieved during the trips already performed with same company (switching costs). Several structures of discrete choice models were tested to represent the choice behavior: multinomial logit, mixed logit random coefficients, multinomial logit incorporating systematic variations of preferences, mixed logit error component, mixed logit error component incorporating systematic variations of preferences. The results showed that loyal passengers are more likely to choose Tam. The switching costs of passengers loyal Tam, for this sample, is equivalent to 15% of the rate. They are less sensitive to variations in the rate and incur higher costs not to change company. 1. INTRODUÇÃO Em mercados de compras repetidas, os consumidores muitas vezes incorrem em diversos custos ao trocar de fornecedor. Estes custos econômicos e psicológicos que um consumidor pode enfrentar são chamados na literatura internacional de switching costs (Klemperer, 1987). No mercado aéreo, os switching costs que podem ser traduzidos como custos de troca, se referem às perdas de benefícios sofridas pelos passageiros por trocar de companhia aérea e podem representar uma parcela substancial dos custos incorridos pelos usuários. O principal efeito da existência de custos de troca é a possibilidade das empresas aumentarem seus preços, gerando uma demanda cativa. Embora grande parte destes custos possa ser atribuída a diferenças de qualidade percebida, os programas para passageiro frequente contribuem com uma parte não negligenciável. Desde seu surgimento, no início da década de 1980, os programas para passageiro frequente de companhias aéreas tem se convertido num dos programas de fidelidade de maior participação na economia. A indústria aeronáutica registra valores superiores aos 700.000 milhões de dólares, anualmente, por conceito de benefícios entregues aos usuários (Basso et al, 2012). Entretanto, apesar do seu tamanho e importância no mercado aéreo, estes custos têm sido relativamente pouco explorados. Alguns autores que tem analisado seus efeitos são Caminal e

Upload: willker-freitas

Post on 08-Nov-2015

5 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Para o transporte aéreo, a existência de fidelização determina que os custos decorrentes da mudança decompanhia são maiores do que o valor da tarifa. Através de uma pesquisa de preferência declarada avaliou-seessa fidelização e, identificou-se o percentual de acréscimo na tarifa aceito antes de dispensar os benfeitoriasalcançadas devido às viagens já realizadas com a mesma empresa. Diversas estruturas de modelos de escolhadiscreta foram testadas para representar o comportamento de escolha: logit multinomial; logit misto decoeficientes aleatórios; logit multinomial incorporando variações sistemáticas das preferências; logit misto decomponentes de erro; logit misto de componentes de erro incorporando variações sistemáticas das preferências.Os resultados mostraram que passageiros fidelizados tem maior probabilidade de escolher a companhia Tam. Ocusto de troca desses passageiros é equivalente a 15% do valor da tarifa. Estes também são menos sensíveis aaumentos e incorrem em maiores custos para não trocar de companhia.

TRANSCRIPT

  • A FIDELIZAO DOS CLIENTES S COMPANHIAS AREAS ATRAVS DE

    ANLISES DE PREFERENCIA DECLARADA

    Shanna Trichs Lucchesi

    Christine Tessele Nodari

    Ana Margarita Larraaga

    Luis Afonso dos Santos Senna

    Engenharia de Produo e Transportes

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    RESUMO

    Para o transporte areo, a existncia de fidelizao determina que os custos decorrentes da mudana de

    companhia so maiores do que o valor da tarifa. Atravs de uma pesquisa de preferncia declarada avaliou-se

    essa fidelizao e, identificou-se o percentual de acrscimo na tarifa aceito antes de dispensar os benfeitorias

    alcanadas devido s viagens j realizadas com a mesma empresa. Diversas estruturas de modelos de escolha

    discreta foram testadas para representar o comportamento de escolha: logit multinomial; logit misto de

    coeficientes aleatrios; logit multinomial incorporando variaes sistemticas das preferncias; logit misto de

    componentes de erro; logit misto de componentes de erro incorporando variaes sistemticas das preferncias.

    Os resultados mostraram que passageiros fidelizados tem maior probabilidade de escolher a companhia Tam. O

    custo de troca desses passageiros equivalente a 15% do valor da tarifa. Estes tambm so menos sensveis a

    aumentos e incorrem em maiores custos para no trocar de companhia.

    ABSTRACT

    For the air transport, the existence of loyalty determines that the costs resulting from disruptions of loyalty are

    larger than the rate. Through a stated preference survey, this paper evaluated the loyalty and identified the

    percentage of increase in the value of the fare that passengers are willing to pay before dispensing the

    improvements achieved during the trips already performed with same company (switching costs). Several

    structures of discrete choice models were tested to represent the choice behavior: multinomial logit, mixed logit

    random coefficients, multinomial logit incorporating systematic variations of preferences, mixed logit error

    component, mixed logit error component incorporating systematic variations of preferences. The results showed

    that loyal passengers are more likely to choose Tam. The switching costs of passengers loyal Tam, for this

    sample, is equivalent to 15% of the rate. They are less sensitive to variations in the rate and incur higher costs

    not to change company.

    1. INTRODUO

    Em mercados de compras repetidas, os consumidores muitas vezes incorrem em diversos

    custos ao trocar de fornecedor. Estes custos econmicos e psicolgicos que um consumidor

    pode enfrentar so chamados na literatura internacional de switching costs (Klemperer, 1987).

    No mercado areo, os switching costs que podem ser traduzidos como custos de troca, se

    referem s perdas de benefcios sofridas pelos passageiros por trocar de companhia area e

    podem representar uma parcela substancial dos custos incorridos pelos usurios. O principal

    efeito da existncia de custos de troca a possibilidade das empresas aumentarem seus

    preos, gerando uma demanda cativa.

    Embora grande parte destes custos possa ser atribuda a diferenas de qualidade percebida, os

    programas para passageiro frequente contribuem com uma parte no negligencivel. Desde

    seu surgimento, no incio da dcada de 1980, os programas para passageiro frequente de

    companhias areas tem se convertido num dos programas de fidelidade de maior participao

    na economia. A indstria aeronutica registra valores superiores aos 700.000 milhes de

    dlares, anualmente, por conceito de benefcios entregues aos usurios (Basso et al, 2012).

    Entretanto, apesar do seu tamanho e importncia no mercado areo, estes custos tm sido

    relativamente pouco explorados. Alguns autores que tem analisado seus efeitos so Caminal e

  • Claici (2007), Hartman e Viard (2008) e Lederman (2007), quem se focaram nos potenciais

    custos de troca que os programas de passageiro frequente trariam. Uma anlise alternativa foi

    realizada por Basso et al. (2009), destacando que em uma grande quantidade dos casos no

    o passageiro quem paga a tarifa, mas existe um terceiro pagante, como o caso dos

    passageiros a negcios. Os autores consideram que um usurio nem sempre buscar o mnimo

    preo, mas a maior utilidade pessoal, e onde os programas de passageiro frequente tem um

    papel fundamental. A retribuio econmica de acumular milhas pode ser entendida como um

    incentivo ou prmio que as companhias areas pagam para os usurios que optarem por tarifas

    de maior preo.

    Neste contexto se insere o presente trabalho. Os objetivos so avaliar a fidelizao dos

    clientes s companhias areas e, estimar os custos de troca para as companhias estudadas.

    Para atingir este objetivo foram coletadas as preferncias declaradas (PD) dos passageiros que

    viajam com origem em Porto Alegre e destino Grande So Paulo (aeroportos de Guarulhos,

    Congonhas ou Viracopos). A contribuio deste trabalho baseada principalmente em dois

    aspectos:

    (i) na abordagem desagregada utilizada. Os estudos mencionados anteriormente determinam os custos de troca baseados numa metodologia proposta por Shy (2002) na qual

    os nicos dados necessrios so preos e participao de mercado. No presente trabalho,

    modelos de escolha discreta a partir de dados PD foram estimados. Diferentes estruturas

    foram testadas, as quais permitiram incluir heterogeneidade nas preferncias dos indivduos

    (aleatria e com variaes sistemticas) e correlao entre os indivduos amostrados.

    (ii) na incluso de variveis que caracterizam a fidelizao do passageiro com a companhia e a existncia de um terceiro pagador. Desta forma, foi possvel identificar os

    segmentos de clientes e analisar a heterogeneidade dos impactos dos custos de troca nos

    diferentes segmentos.

    Este artigo est estruturado em 7 seces. A seco 2 apresenta a evoluo do transporte

    areo no Brasil. O procedimento de coleta de dados e estimao dos modelos so

    apresentados nas seces 3 e 4. A caracterizao da amostra e resultados obtidos so

    apresentados nos itens 5 e 6, seguido da participao do mercado. A seo 7 apresenta as

    consideraes finais.

    2. EVOLUO DO TRANSPORTE AEREO NO BRASIL

    Os ltimos 10 anos foram marcados por fortes alteraes no sistema regulatrio e nas prprias

    estratgias das companhias. No incio dos anos 90, as empresas apresentavam dificuldades em

    suas finanas, que, somadas a estagnao econmica do pas, estava levando o setor ao

    colapso, e o estado tornou-se incapaz de superar a crise (Bielschowsky e Custdio, 2011). No

    ano de 1996, j haviam sido implantadas medidas da chamada desregulao gradual. Entre

    elas destacam-se o fim das restries territoriais, as empresas no eram mais divididas em

    regionais e nacionais; criao do conceito de bandas tarifrias; e estmulo a novos entrantes

    no mercado nacional (Helms, 2010). Os anos seguintes foram marcados pelo aumento dos

    limites tarifrios, em 1997, at sua extino, em 2001. O ano de 2001 tambm baliza o incio

    das operaes da empresa VRG Gol Linhas Areas e o fim das operaes da empresa

    Transbrasil S.A. Linhas Areas.

    A desregulao total culminou nos chamados excesso de capacidade e competio ruinosa, o que obrigou o governo, novamente, a exercer seu poder para interferir economicamente, mas, desta vez, sem influncia sobre as tarifas (Sena, 2010). Em 2005 e

    2006 aconteceram a criao da ANAC (Agncia Nacional de Aviao Civil), cuja funo

  • seria de fiscalizar e regular tcnica e economicamente as companhias; e a falncia da Viao

    Area So Paulo (VASP).

    No fim de 2006 e incio de 2007 o setor areo impactado pelos dois maiores acidentes areo

    registrados no Brasil: um com a empresa Gol e outro com a empresa Tam. Os dois incidentes,

    que geraram protestos e greves dos controladores de voos, associados com a venda da

    VARIG, a incapacidade das empresas operantes de absorver a demanda, alm da falta de

    investimentos em infraestrutura, culminou no apago areo nacional (Sena, 2010). Em 2008

    surge a Azul Linhas reas Brasileiras, como uma nova proposta de estruturao, apoiada nos

    contratos de suporte com a Embraer, empresa brasileira fabricante de aeronaves.

    3. CENRIO DE ESTUDO E OBTENO DE DADOS

    Este estudo foi desenvolvido tomando por base a opinio de clientes da rota entre So Paulo e

    Porto Alegre. Em um dia de semana tpico, 52 voos so disponibilizados entre estas duas

    cidades, dos quais 39 so voos diretos e 13 com escala e/ou conexo. Esse trecho operado

    por cinco diferentes companhias: (i) Tam; (ii) Gol; (iii) Azul; (iv) Avianca; e, (v) Pantanal.

    Das companhias mencionadas, as trs primeiras operam mais de 80% dos voos do trecho em

    estudo e, possuem significativos percentuais de participao no mercado nacional. Segundo a

    ANAC (2010), no ano de 2010, a participao de cada uma delas era de 42%, 40% e 6%

    respectivamente. Assim, por deterem a maior parte do mercado do trecho analisado, neste

    estudo foram consideradas as companhias Tam, Gol e Azul.

    Os dados pesquisados correspondem a escolhas declaradas pelos clientes dos voos de ligao

    entre Porto Alegre e So Paulo. As entrevistas foram realizadas face-a-face no porto de

    embarque do Aeroporto Salgado Filho, na cidade de Porto Alegre, nos dias 7 e 21 de maio de

    2013, teras-feiras. Foi utilizada uma amostragem no probabilstica de clientes das 3

    empresas consideradas no estudo. Por julgamento do pesquisador foram selecionados

    membros da populao entre aqueles que aguardavam embarque ou estavam desembarcando.

    Uma amostra de 258 passageiros foi selecionada.

    3.1. Instrumento de coleta de dados

    A coleta de dados foi realizada atravs de tcnicas de preferncias declaradas (PD). Tcnicas

    PD vm sendo utilizada intensamente em diversos campos do conhecimento que buscam

    representar o comportamento humano, em especial, para representar o comportamento da

    demanda (Hensher, 1994; Lai e Wong, 2000; Louviere et al., 2000). As tcnicas PD utilizam

    projetos experimentais para construir alternativas hipotticas propostas aos entrevistados, isto

    as diferencia das tcnicas de preferncias reveladas (PR), que utilizam dados sobre situaes

    observadas (Ortzar e Willumsen, 2011).

    Enquanto modelos estimados com dados PR apresentam melhor aderncia s escolhas

    realizadas pelos indivduos, os modelos estimados com dados PD apresentam maior

    estabilidade no tempo e no espao e caracterizam os trade-offs enfrentados pelo indivduo.

    Uma particular vantagem das tcnicas PD a possibilidade de determinar a importncia de

    fatores de difcil mensurao ou quantificao, como o caso da fidelizao com uma

    companhia area. Elas ainda permitem estimar modelos que incorporem todas as variveis de

    interesse, mesmo aquelas que em situaes reais apresentem variabilidade insuficiente para a

    adequada estimao. Outras vantagens das tcnicas PD sobre as PR so em relao ao custo e

    tempo necessrio para as anlises. Enquanto as PR requerem informao adicional s

    pesquisas realizadas (por exemplo, mtodos indiretos para obter os valores de algumas

    variveis como tempo e custo de viagem) as PD so totalmente autnomas. Os cenrios de

  • escolha definem completamente as variveis necessrias para a modelagem, eliminando erros

    de medio dos dados. Amostras em pesquisas PD tendem a ser menores que em pesquisas

    PR, j que cada indivduo prov mltiplas respostas para cada cenrio de escolha (Kroes e

    Sheldon, 1988; Ortzar e Willumsen, 2011).

    A pesquisa foi baseada num desenho fatorial completo (Kocur et al., 1982), considerando o

    preo como o atributo na escolha da linha area, apresentado em 3 nveis. Os cenrios de

    escolha foram definidos de forma de evitar vieses nas respostas, criando situaes hipotticas

    mas realistas, elaborando conjunto de cenrios para diferentes valores de tarifa.

    A pesquisa foi composta por um total de 10 cenrios de escolha. Cada cenrio apresenta ao

    respondente diferentes valores de tarifa associado aos nomes das diferentes empresas que

    operam o trecho Porto Alegre So Paulo, assim como foi feito em Nodari (1996). Em cada carto, duas empresas apresentam um valor base enquanto o valor da terceira se diferencia.

    Buscando analisar a sensibilidade a variao do preo, foram confeccionados trs conjuntos

    de cartes com variaes baixas (b = R$10,00), variaes mdias (m = R$ 30,00) e

    variaes altas (a = R$ 70,00). Na Figura 1 esto apresentados os nveis de preo de cada carto.

    Carto 1 Carto 2 Carto 3 Carto 4 Carto 5 Carto 6 Carto 7 Carto 8 Carto 9 Carto 10

    Tam BASE BASE BASE BASE BASE BASE - 2 - 1 + 1 BASE

    Gol BASE BASE BASE - 2 - 1 + 1 BASE BASE BASE BASE

    Azul - 2 - 1 + 1 BASE BASE BASE BASE BASE BASE BASE

    Figura 1: Projeto dos nveis do atributo preo nos cartes de pesquisa

    Os valores bases foram definidos atravs de pesquisas nas tarifas praticadas ao usurio, sendo

    adotados os valores recorrentes para compras de passagem promocionais, com um ms de

    antecedncias e com 1 semana de antecedncia. Adicionalmente, foi aplicado um questionrio

    complementar com informaes sobre os indivduos pesquisados. Os entrevistados foram

    questionados sobre a frequncia de viagem, os motivos de viagem mais recorrentes, quem

    paga a passagem (o prprio passageiro ou terceiros) e a fidelizao companhia area. A

    Figura 2 apresenta um modelo dos cartes apresentados. Antes de iniciar a pesquisa, foi

    realizado um estudo piloto com 24 entrevistados, com o objetivo de verificar a clareza e

    objetivos das perguntas contidas nos questionrios e as variaes dos valores das tarifas

    apresentados nos cenrios de escolha. Este estudo permitiu correes durante a aplicao e

    explicao do instrumento utilizado. No foram identificadas alternativas dominantes e as

    variaes de tarifa consideradas foram validadas.

    Figura 2: Exemplos dos cartes aplicados

    Dentre os 258 indivduos pesquisados, 83 responderam o questionrio com variaes baixas

    entre as tarifas, 88 responderam os cartes com variaes mdias e 86 responderam o

    conjunto de cartes com variaes altas entre os valores apresentados. Estas 258 entrevistas

    produzem um total de 2580 respostas, considerando os 10 cenrios apresentados. Esta

    caracterstica das pesquisas de preferncia declarada, onde poucas entrevistas resultam em um

    farto conjunto de observao individuais, garante a representatividade da amostra. Segundo

  • Louviere et al. (2000) de 100 a 300 respondentes so suficientes para estimar parmetros

    consistentes.

    4. ESTIMAO DE MODELOS DE ESCOLHA DISCRETA

    Modelos de escolha discreta foram estimados para determinar o efeito da fidelizao dos

    clientes na escolha da companhia area. Os modelos de escolha discreta utilizados na

    modelagem da demanda de transportes esto construdos conforme a teoria da utilidade

    aleatria (McFadden, 1974). Baseiam-se no princpio da maximizao da utilidade, no qual o

    tomador de deciso modelado selecionando a alternativa de maior utilidade dentre aquelas

    disponveis no momento da escolha. O analista no possui informao completa sobre os

    elementos que cada indivduo considera ao realizar sua escolha. Portanto, as utilidades so

    tratadas pelo analista como variveis aleatrias (Ben Akiva e Lerman, 1995). Assim, a

    utilidade aleatria de uma alternativa expressa como a soma dos componentes observveis

    ou sistemticos (denotado como Viq) e componentes no observveis (denotado como iq) conforme equao 1 (Domencich e McFadden, 1972).

    (eq. 1)

    O componente aleatrio necessrio para capturar deficincias na especificao de atributos

    no observados, erros de medio, diferenas entre indivduos, percepes incorretas de

    atributos e aleatoriedade inerente natureza humana (Manski, 1977). Especificar o modelo

    requer a especificao do Vin e suposies sobre a distribuio conjunta da componente

    aleatria iq. Diferentes hipteses sobre a distribuio de probabilidade adotada para a componente aleatria iq leva a diversos modelos de escolha discreta (Ortzar e Willumsen, 2011; McFadden, 2000).

    O logit multinomial (multinomial logit - MNL) (McFadden, 1974) um dos modelos mais

    simples de escolha discreta e tambm o mais utilizado. Ele se baseia na hiptese que o termo

    aleatrio iq da funo utilidade identicamente e independentemente distribudo conforme uma distribuio de Gumbel (Valor Extremo tipo II). Este pressuposto para a distribuio dos

    resduos bastante simplista, uma vez que dependem da hiptese de independncia e

    homocedasticidade dos resduos (Ben-Akiva, Bierlaire, Walkers, 2003). Uma srie de

    modelos com estruturas mais flexveis tm sido propostos. Modelos logit hierrquicos, nested

    logit-NL (Williams, 1977; McFadden, 1978); e, modelos mais recentes como o logit

    hierrquico cruzado, cross nested logit- CNL (Vovsha,1997) permitem a estimao de

    modelos que apresentam correlao entre alternativas, e, no caso do CNL, permitem modelar

    estruturas de correlao cruzadas.

    A maneira tradicional de capturar heterogeneidade das preferncias em modelos de escolha

    discreta tem sido a incluso de variaes sistemticas das preferncias. A introduo de

    interaes entre os atributos das alternativas (tempo de viagem, custo, frequncia, etc) e

    caractersticas socioeconmicas dos indivduos permitem incorporar esta heterogeneidade

    (Train, 2009; Ortzar e Willumsen, 2011; Cherchi e Ortzar 2003). Entretanto, existem

    fatores que influenciam as preferncias que no so observveis ou de difcil mensurao.

    Nos ltimos anos, a utilizao de modelos logit mistos, mixed logit- ML (Ben Akiva e

    Bolduc, 1996; Brownstone e Train, 1999), cada vez maior, permitindo incorporar variaes

    das preferncias no observveis. Estes modelos supem um termo aleatrio identicamente e

    independentemente distribudo conforme uma distribuio de Gumbel, assim como o MNL,

    mas com um componente aleatrio adicional que quem permite trabalhar com maior

    flexibilidade. Dependendo dos pressupostos considerados sobre os diversos termos aleatrios

    possvel modelar correlao e heterocedasticidade (Brownstone e Train, 1999).

  • Visando caracterizar de forma mais precisa a heterogeneidade dos indivduos, Bhat (1998)

    props uma abordagem que permite considerar a existncia de heterogeneidade, tanto

    sistemtica quanto aleatria. Assim, modelos mistos com variaes sistemticas de

    preferncias comearam a ser estudados. Dependendo dos pressupostos considerados sobre os

    termos aleatrios no possvel modelar correlao e heterocedasticidade (Brownstone e

    Train, 1999).

    No presente trabalho, diversas estruturas de modelos de escolha discreta foram testadas,

    visando verificar variaes nos gostos dos indivduos que conformam a amostra, melhor

    aderncia do modelo aos dados coletados e buscando representar da forma mais adequada o

    comportamento de escolha. Em todas as estruturas foram utilizadas funes de utilidade

    lineares nos parmetros, prtica usual na modelagem de demanda de transporte (Ben Akiva e

    Lerman, 1995). As estruturas de modelos testadas que apresentaram melhor aderncia foram:

    (i) logit multinomial; (ii) logit misto no seu caso especial de coeficientes aleatrios; (iii) logit

    multinomial incorporando variaes sistemticas das preferncias; (iv) logit misto no seu caso

    de componentes de erro; (v) logit misto de componentes de erro incorporando variaes

    sistemticas das preferncias. Estes modelos so descritos a seguir.

    Inicialmente, estruturas mais simples foram testadas, estimando modelos MNL. O MNL

    considera os parmetros estimados para as diversas variveis fixos, sendo os mesmos para

    todos os indivduos. Variaes nos gostos ou preferncias dos indivduos podem influenciar a

    escolha da companhia area. Estas variaes foram representadas nos modelos de duas

    formas: (i) admitindo que as preferncias so distribudas de forma aleatria na populao, e

    (ii) incorporando variaes sistemticas das preferncias. No primeiro caso, modelos logit

    mistos de coeficientes aleatrios (RCL) foram estimados. Os RCL permitem que os

    coeficientes dos atributos das alternativas variem na populao seguindo alguma distribuio

    probabilstica. Supondo a distribuio conhecida (por exemplo, normal, lognormal, triangular)

    o modelo devolve os estimadores dos parmetros que definem esta distribuio, tais como

    mdia e varincia. Diversas distribuies foram testadas, mas no apresentaram superioridade

    estatstica em relao distribuio normal. Portanto, o resultado apresentado na Tabela 2

    (prxima seo) unicamente o resultado obtido considerando distribuio normal dos

    coeficientes aleatrios.

    Posteriormente, foram estimados modelos logit multinomial incorporando variaes

    sistemticas de acordo com caractersticas individuais do passageiro. As variaes

    sistemticas incorporadas foram em relao fidelizao do passageiro com a companhia

    area e ao pago da passagem pelo prprio passageiro ou por terceiros. A incluso destas

    variaes sistemticas permitiu estudar o efeito de variaes no valor da passagem nas

    diferentes categorias de passageiros definidas (fidelizados e no fidelizados; pagante o prprio

    passageiros ou terceiros). Estas variaes sistemticas forma incorporadas utilizando variveis

    binrias para categorizar indivduos na amostra.

    Correlaes entre atributos no observados das alternativas Gol e Azul poderiam existir.

    Ambas so linhas areas de baixo custo e mais novas no mercado do que a companhia TAM.

    Modelos logit hierrquicos foram estimados para representar esta correlao.

    Dados obtidos em pesquisas de preferncia declarada podem estar correlacionados. Quando

    uma pessoa responde uma pesquisa de preferncia declarada, submetida a vrios cenrios de

    escolha. razovel supor que as respostas de um mesmo indivduo podem estar

    correlacionadas, a isso d-se o nome de efeito painel. Os modelos MNL, RCL e NL no

    representam este efeito, sendo necessrio incluir um termo adicional que represente o efeito

  • painel. Assim, modelos logit mistos de componentes de erro (error components- EC) foram

    estimados para representar este efeito. O EC um modelo formalmente igual ao logit misto

    estimado anteriormente, de coeficientes aleatrios (RCL), mas ambos supem estruturas dos

    componentes aleatrios diferentes. O RCL considera a aleatoriedade nos coeficientes dos

    atributos, enquanto que nos modelos EC a aleatoriedade includa nos coeficientes

    especficos das alternativas. Os EC so chamados de componentes de erro porque o erro (a

    componente aleatria da utilidade) dividido em duas parcelas: uma parcela aleatria, que

    pode seguir qualquer distribuio, incluindo a normal, e uma parcela independente e

    identicamente distribuda conforme distribuio de Gumbel (a mesma que d origem aos

    modelos MNL).

    Variaes das preferncias dos indivduos foram adicionadas aos modelos EC. Na funo de

    utilidade foram includos termos para representar a correlao entre respostas de um mesmo

    individuo (efeito painel) e heterogeneidade entre os indivduos (variaes sistemticas das

    preferncias).

    5. ANLISE DAS CARACTERSTICAS DOS ENTREVISTADOS

    A Tabela 1 sintetiza a distribuio dos entrevistados por motivo, fidelizao e pagamento da

    passagem (passageiro ou terceiros).

    Tabela 1: Distribuio dos entrevistados por motivo, fidelizao e pagamento da passagem Motivo Pagamento Frequncia

    Fidelizao Turismo Trabalho Outro Prprio

    passag. Empresa Outro

    1 vez

    no ms

    1 a 3 vezes

    ms

    Mais de 3

    vezes ms

    Fidelizado 14% 9% 5% 19% 4% 4% 19% 5% 3%

    No fideliz. 33% 27% 13% 42% 22% 9% 52% 14% 7%

    Soma

    47% 36% 18% 61% 26% 13% 71% 19% 10%

    100% 100% 100%

    A tabela mostra que o motivo mais comum de viagem o turismo (47%) seguido de trabalho

    (35%). A maioria dos entrevistados (61%) paga sua prpria passagem. A maioria deles no

    viaja sempre pela mesma companhia (42%). No caso de passagens pagas pela empresa (26%

    dos entrevistados), tambm se observa o predomnio de passageiros no fidelizados (22%).

    Em relao frequncia de viagem, 71% viajam menos de uma vez por ms, enquanto 19%

    viajam de uma a 3 vezes no ms e 10% viajam mais de 3 vezes no ms.

    6. ANLISE DOS RESULTADOS

    A Tabela 2 sintetiza os resultados da estimao dos modelos de escolha da companhia area.

    Analisando os resultados dos primeiros quatro modelos apresentados na Tabela 2, MNL, RC,

    MNL (2) e MNL (3), possvel observar que os quatro apresentam ajuste similar (Pseudo-R2

    = 0,25). Entretanto, os estimadores de varincia que definem a distribuio no modelo RC no

    foram significativos, indicando homogeneidade nas preferncias dos indivduos amostrados.

    Os resultados dos modelos NL estimados no so apresentados no trabalho, pois a estimativa

    do valor do parmetro do ninho no foi significativamente diferente de 1, indicando a

    inexistncia de correlao entre atributos da companhia Azul e Gol.

  • Tabela 2: Resultados dos modelos de escolha da companhia area

    Conforme mostra a Tabela 2, o teste da razo de verossimilhana com 5% de significncia

    revela que a adio do componente de erro nos modelos mistos (efeito painel) ao modelo

    MNL tem um impacto significativo. Estes mostram melhor aderncia aos dados que os

    modelos anteriores (Pseudo-R2 = 0,49). As variaes sistemticas incorporadas em relao

    fidelizao do passageiro com a companhia area melhoraram o ajuste do modelo (Pseudo-R2

    = 0,495).

    Coeficientes especficos para as companhias Gol e Tam foram utilizados assumindo como

    hiptese que o efeito da fidelizao, da frequncia de viagem e quem paga a passagem pode

    afetar diferente todas as alternativas. Esta hiptese foi verificada em todos os modelos. Os

    parmetros estimados para estas variveis apresentaram diferena significativa entre as

    alternativas.

    6.1. Efeito da tarifa

    Os parmetros relativos tarifa tiveram o sinal negativo esperado em todos os modelos

    estimados, j que aumentos no valor da tarifa diminuem a probabilidade de escolha de

    determinada companhia. Os valores destes parmetros permitem afirmar que os passageiros

    amostrados so mais sensveis a variaes de preo das companhias Gol e Azul do que a

    variaes no preo da Tam. Aumentos no valor da passagem torna a companhia Gol menos

    atraente para os compradores, em comparao com as companhias Azul e Tam.

    6.2. Efeito da fidelizao com a companhia area

    Os modelos estimados mostram que os passageiros que viajam sempre pela mesma

    companhia tem maior probabilidade de escolha das linhas areas Tam e Gol do que a

    companhia Azul. Ainda, os coeficientes estimados par as variveis Fidel_Tam e Fidel_Gol

    permitem verificar tambm que a preferncia pela companhia Tam sensivelmente superior

    MNL (1) RC MNL (2) MNL (3) EC (1) EC (2) EC (3)

    Variveis Coef. Stat-t Coef. Stat-t Coef. Stat-t Coef. Stat-t Coef. Stat-t Coef. Stat-t Coef. Stat-t

    Tarifa

    Tarifa_Azul -

    0,038 -

    20,97 -

    0,038 -

    18,01 -

    0,039 -

    21,32 -

    0,038 -20,96 -0,092

    -19,40

    -0,094

    -20,11

    -0,093

    -20,37

    Tarifa_Gol -

    0,040 -

    21,34 -

    0,040 -

    14,50 -

    0,042 -

    21,97 -

    0,040 -21,32 -0,093

    -19,90

    -0,098

    -20,11

    -0,093

    -20,89

    Tarifa_ Tam -

    0,035 -

    19,50 -

    0,036 -

    18,17 -

    0,038 -

    20,73 -

    0,037 -19,66 -0,085

    -16,89

    -0,093

    -19,36

    -0,091

    -17,97

    Fidelizao linha area

    Fidel_Gol(1,0) 0,287 2,22 0,287 2,22 - - 0,287 2,21 0,796 1,65 - - 0,789 1,65 Fidel_Tam(1,0) 0,739 6,79 0,697 6,44 - - 0,734 6,75 1,980 3,25 - - 1,980 3,36

    Pagam. (terceiros ou passag.pagante)

    Pag. Tam (1,0) 0,451 4,47 0,462 4,52 0,435 4,30 - - 1,300 2,45 1,180 2,47 - - Freq. de viagem

    Freq. GOL(1,0) -

    0,480 -3,58

    -0,509

    -3,72 -0,486

    -3,59 -

    0,481 -3,57 -1,470 -2,49

    -1,720

    -2,87 -

    1,480 -2,50

    Freq. Tam (1,0) -

    0,392 -3,11

    -0,388

    -3,08 -0,387

    -3,04 -

    0,414 -3,34 -0,972 -1,60

    -1,300

    -2,01 -

    0,943 -1,40

    Interaes Fidel.Gol*Tarif.Gol - - - - 0,006 4,55 - - - - 0,021 4,66 - - FidelTam*Tarif.Tam - - - - 0,008 8,66 - - - - 0,028 6,17 - - Pag.Tam*Tarif.Tam - - - - - - 0,003 4,42 - - - - 0,010 2,63

    Constante Tam -

    0,276 -1,65

    -0,195

    -1,60 -0,085

    -1,56 0,010 1,6 -0,634 -1,60 - - - -

    Sigma panel - - - - - - - - 2,890 15,93 2,880 15,94 2,890 16,02

    Sigma.Tarif_Azul - - 0,001 1,70 - - - - - - - - - -

    Sigma.Tarif_Gol - - -

    0,002 -0,56 - - - - - - - - - -

    Sigma.Tarif_Tam - - 0,000 0,44 - - - - - - - - - -

    N Mx. Verossim. (log)=-2124,109 Pseudo-R2= 0,251

    N Mx. Verossim. (log)=-2124,13 Pseudo-R2= 0,251

    N Mx. Verossim. (log)=-2106,201 Pseudo-R2= 0,250

    N Mx. Verossim. (log)=-2124,509 Pseudo-R2= 0,250

    N Mx. Verossim. (log)=-1445,63 Pseudo-R2= 0,490

    N Mx. Verossim. (log)=-1430,70 Pseudo-R2= 0,495

    N Mx. Verossim. (log)=-1445,23 Pseudo-R2= 0,490

  • apresentada pela Gol. Este resultado pode ocorrer devido valorao superior dos atributos da

    companhia Tam em relao s outras companhias por parte do usurio. Fatores como

    percepo de qualidade, atendimento, servio, vantagens oferecidas pela companhia,

    programas de passageiros frequentes no foram includos de forma explcita na funo de

    utilidade representativa. Estes fatores podem influenciar a preferncia dos indivduos

    amostrados pela companhia Tam. Para estudar melhor este efeito, necessrio analisar o

    efeito de interao apresentado a seguir.

    A incluso de variaes sistemticas das preferncias em relao fidelizao, apresentadas

    nos modelos MNL (2) e EC (2), apresentou resultados interessantes. O modelo MNL (2)

    incorpora uma varivel binria que representa o viajante fidelizado com a companhia area

    interagindo com a varivel de tarifa. O modelo EC (2) incorpora esta interao e tambm o

    efeito painel. Em ambos os modelos, a interao destas variveis foi significativamente

    diferente de zero. O coeficiente positivo mostra que passageiros fidelizados com as

    companhias so menos sensveis a variaes da tarifa. Provavelmente, os planos de passageiro

    frequente tenham um efeito importante neste resultado. A retribuio econmica de acumular

    milhas na mesma companhia pode ser compensada com a diferena tarifria. O impacto maior

    desta interao observada na companhia Tam. Trabalhos realizados por Lederman (2007) e

    Hartaman e Viard (2008) analisaram o efeito dos planos de passageiros frequentes e a

    fidelizao dos usurios, verificando as perdas econmicas que os usurios teriam ao trocar de

    companhia.

    6.3. Efeito da existncia de um terceiro pagante da passagem

    Os resultados de todos os modelos mostram que passagem paga pelo prprio passageiro

    diminui a probabilidade de escolha da Tam em relao as companhias Azul e Gol. Este

    resultado pode ocorrer devido aos valores das passagens serem superiores, em geral, aos

    valores ofertados pelas outras companhias. A incluso de variaes sistemticas das

    preferncias em relao ao pagamento da passagem foi apresentada nos modelos MNL (3) e

    EC (3). O modelo MNL (3) incorpora uma varivel binria, que representa a passagem paga

    por terceiros (empresa quase na totalidade dos entrevistados) interagindo com a varivel de

    tarifa. A varivel Pagante_Tam representa o viajante a negcios, no qual a passagem

    geralmente paga pela empresa. O modelo EC (3) incorpora alm desta interao, o efeito

    painel. A interao destas variveis foi significativa em ambos os modelos, apresentando

    coeficiente positivo. Passageiros que pagam sua prpria passagem so mais sensveis a

    variaes da tarifa. Assim, possvel verificar o impacto de um terceiro pagante da passagem.

    Este resultado coincide com os encontrados em outros trabalhos. Diversos autores verificaram

    que viajantes a negcios tendem a valorizar menos a tarifa e mais o tempo de viagem (Alves e

    Strambi, 2011; Tsamboulas e Nikoleris , 2008.). Basso et al. (2009) observaram que os

    passageiros que no pagam a tarifa no buscam sempre o mnimo preo e sim aquela

    alternativa que promova maior utilidade individual.

    6.4. Efeito da frequncia de viagem

    Os parmetros relativos frequncia de viagem apresentaram sinal negativo em todos os

    modelos estimados. Passageiros frequentes tem maior probabilidade de escolha da companhia

    Azul do que as outras. Passageiros que voam com mais frequncia tem percepes diferentes

    sobre o servio ofertado. O resultado a favor da companhia Azul pode ser justificado, por

    exemplo, pelo maior espao entre assentos que os avies operados pela companhia possuem.

    Imperceptvel aos passageiros que realizam poucos voos no ms, mas desconfortvel quando

    existe a necessidade de enfrentar a situao regularmente.

  • 6.5. Participao no mercado e custos de troca (switching costs)

    A partir dos modelos de escolha discreta estimados possvel estimar a participao de

    mercado de cada companhia e determinar os custos de troca. Selecionado o modelo EC (2), o

    qual apresentou melhor aderncia aos dados, foram estimadas as participaes das trs

    companhias em diferentes cenrios de tarifas. Estas estimaes foram calculadas pelo mtodo

    de enumerao amostral, utilizando o software Biogeme (Bierlaire, 2008). A Figura 2

    apresenta as probabilidades de escolha ao variar-se a tarifa, para entrevistados fidelizados e

    no fidelizados companhia Tam.

    possvel observar que aumentos do preo da tarifa Tam, representada pela linha amarela na

    figura, decresce a probabilidade de escolha desta companhia. Passageiros fidelizados a Tam

    esto dispostos a incorrer em maiores custos para no trocar de companhia do que os

    passageiros no fidelizados. Os custos de troca para passageiros fidelizados atinge o valor de

    base de 15% do valor da passagem. A partir deste percentual os passageiros fidelizados

    trocam pela companhia Azul, mas s trocariam para a companhia Gol se o valor da tarifa

    sofresse um incremento de 21%.

    Figura 2: Probabilidade de escolha das companhias para variaes da tarifa Tam.

    Anlises similares foram realizadas para variaes da companhia Azul. Os resultados

    mostraram que passageiros fidelizados a companhia Azul no esto dispostos em incorrer em

    custos de troca para permanecer na companhia. Este resultado esperado ao observar a Figura

    2.a. possvel observar, que para passageiros fidelizados, a participao inicial no cenrio

    base maior da Gol (23%) do que a Azul (21%). Assim, de esperar que aumentos na tarifa

    da companhia Azul (mantendo as outras tarifas constantes), diminuam a probabilidade de

    escolha desta companhia mais ainda. Portanto, a probabilidade de escolha da companhia Azul

    para passageiros fidelizados permaneceria sempre menor s outras companhias, no existindo

    ponto de troca da Azul por outra companhia.

    7. CONSIDERAES FINAIS

    Este trabalho avaliou a fidelizao dos clientes companhias areas, estimando os custos de

    troca para as companhias Gol, Azul e Tam de passageiros que viajam entre Porto Alegre e

    Grande So Paulo. Diversas estruturas de modelos foram testadas, apresentando similaridade

    nos efeitos sobre as variveis explicativas. Dentre os estimados, o modelo logit misto de

    componentes de erro incorporando variaes sistemticas das preferncias, denominado EC

    (2), apresentou melhor aderncia aos dados. Este modelo incorpora a interao entre o

    viajante fidelizado com a companhia area e a varivel de tarifa, e tambm o efeito painel.

    Os modelos estimados mostram que os passageiros que viajam sempre pela mesma

    companhia tem maior probabilidade de escolha das linhas areas Tam e Gol do que a

    companhia Azul. A preferncia pela companhia Tam sensivelmente superior apresentada

    pela Gol. A incluso de variaes sistemticas das preferncias em relao fidelizao

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    base 2,5 5 7,5 8,5 12 15 18 21 50

    Pro

    bab

    ilid

    ade

    de

    esc

    olh

    a

    Fidelizados

    AZUL

    GOL

    TAM

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    base 2,5 5 7,5 8,5 12 15 18 21 50

    Pro

    bab

    ilid

    ade

    de

    esc

    olh

    aNo fidelizados

    AZUL

    GOL

    TAM

    2.a 2.b

  • mostrou que passageiros fidelizados com as companhias so menos sensveis a variaes da

    tarifa.

    Este ltimo resultado permanece ao variar a tarifa. Passageiros fidelizados a Tam esto

    dispostos a incorrer em maiores custos para no trocar de companhia do que os passageiros

    no fidelizados. Os custos de troca para passageiros fidelizados atinge o valor de base de 15%

    do valor da passagem. A partir deste percentual os passageiros fidelizados trocam pela

    companhia Azul, mas s trocariam para a companhia Gol se o valor da tarifa sofresse um

    incremento de 21%. Este resultado mostra que usurio nem sempre buscar o mnimo preo,

    mas a maior utilidade pessoal.

    Provavelmente, os programas de passageiro frequente tenham um efeito importante. A

    retribuio econmica de acumular milhas na mesma companhia pode ser compensada com a

    diferena tarifria. Ainda, a diferena entre os planos das companhias pode influenciar este

    resultado. O plano da Tam um plano mais flexvel, permitindo atender nova classe C.

    Pessoas que no conseguem milhas suficientes para trocar por passagens podem usufruir das

    vantagens do plano. A Tam oferece troca de milhas por uma grande variedade de produtos e

    servios (gasolina, eletrnicos, eletrodomsticos, hotis, compras coletivas, etc). Ainda o

    plano mais abrangente, com muitas linhas areas associadas. Por sua parte a Azul

    recentemente reformulou seu plano de passageiro frequente. Anteriormente, o plano consistia

    em descontos em dinheiro. Conforme relatou a companhia, muitos passageiros no entendiam

    esse plano, e agora esto utilizando sistema de pontos como as outras. Fatores como

    qualidade, atendimento e servio provavelmente influenciem tambm o resultado.

    Os resultados permitiram verificar o impacto de um terceiro pagante da passagem.

    Passageiros que pagam sua prpria passagem so mais sensveis a variaes da tarifa. Sugere-

    se para os rgos reguladores e as companhias interessadas, novos estudos mais abrangentes.

    A aplicao dessa proposta em diferentes rotas pode caracterizar os passageiros

    regionalmente, assinalando o comportamento e a influncia da fidelizao para diferentes

    pontos do pas. Recomenda-se a incluso de novas variveis explicativas que identifiquem a

    influncia dos lanches, dos atrasos, da apresentao da tripulao, da segurana, entre outros,

    na escolha da companhia. Essa tcnica pode ser utilizada para investigao de possveis

    dficits na prestao do servio que possam ser corrigidos, ocasionando migrao de usurio

    e, assim, elevar a fatia percentual da companhia no mercado.

    Agradecimentos

    Agradecemos as assessorias de imprensa das companhias areas Azul e Tam e do Centro de Memria da Gol por

    permitirem a utilizao de seus nomes nesta pesquisa.

    REFERNCIAS

    Alves, B. e O. Strambi, (2011) Variao sistemtica da preferncia em modelos de escolha de modo no acesso

    terrestre a aeroportos considerando a confiabilidade do tempo de viagem. Transporte em Transformao XV,

    Ed. Positiva, Brasilia.

    Basso, L., M. Clements e T. Ross,(2009) Moral hazard and customer loyalty programs. American Economic

    Journal: Microeconomics. Vol. 1(1): 101-123.

    Basso, L e F. Feres, (2012) Programa de viajero frecuente bajo seleccin adversa y riesgo moral. XVII Congreso

    Panamericano de Ingeniera de Trnsito,Transporte y Logstica , Santiago de Chile.

    Bhat, C.R.,(1998a) Accomodating flexible subtitution patterns is multidimensional choice modeling: formulation

    and application to travel mode and departure tme choice. Transportation Research Part B 32, p. 344-466.

    Ben-akiva,M.E e D. Bolduc, (1996) Multinomial probit with a logit kernel and a general parametric specification

    of the covariance structure. Working Paper, Department dEconomique, Universit Laval, Qubec. Ben-akiva, M.; D. Bolduc, D. e J. Walker, (2003) Specification, Identification, and Estimation of the Logit

    Kernel (or Continous Mixed Logit) Model. Working Paper apresentado no 5th Invitational Choice

    Symposium, Asilomar, California.

  • Ben-akiva, M. e S. R. Lerman, (1985) Discrete choice analysis: Theory and applications to travel demand.

    Cambridge: MIT Press.

    Bierlaire, M. (2003) BIOGEME: A free package for the estimation of discrete choice models, Switzerland, 3rd

    Swiss Transportation Research Conference.

    Bielschowsky, P. e M. C. Custdio. (2011) A evoluo do Setor de Transporte Areo Brasileiro. Revista

    Eletrnica Novo Enfoque. v. 13, n. 13, p. 72-93, 2011. Disponvel em: <

    http://www.castelobranco.br/sistema/novoenfoque/files/13/artigos/7_Prof_Pablo_Marcos_Art4_VF.pdf:>

    Acesso em 22 fev. 2013.

    Brasil. (2010) Agncia Nacional de Aviao Civil. Anurio do Transporte Areo. 69 p. Disponvel em:

    . Acesso em: 22 fev. 2013.

    Brownstone, D.; K. E. Train, (1999) Forescating new product penetration with flexible substitution patterns.

    Journal of Econometrics 89, P. 109-129.

    Caminal, R. e Claici (2007) Are loyalty Rewarding, Pricing, Schemes, Anti Competitive? International Journal of Industrial Organization, Vol. 25(4): p. 657-74.

    Hartmann, W.; B. Viard, (2008) Do frequency reward programs create switching cost? A dynamic structural

    analysis of demand in a reward program. Quantitative Marketing and Economics, Vol. 6(2): 109 37. Helms, H. (2010) O panorama da aviao nacional de 1986 a 2006 e a quebra da Varig. 126 f. Dissertao do

    Programa de Ps Graduao em Histria, Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.

    Hensher, D. A. (1994) Stated preference analysis of travel choices: The state of practice. Transportation 21(2):

    107133. Kroes, E. P. e Sheldon, R. J. (2000) Stated Preference Methods. Journal of Transport Economics and Policy. v.

    22, n.1, p.11-25, 1988. Disponvel em:

    Acesso em: 18 mar. 2013.

    Lai, K.; Wong, W. (2000) SP approach toward driver comprehension of message formats on VMS. Journal of

    Transportation Engineering 126(3): 221227. Lederman, M. (2007) Do enhancements to loyalty programs affect demand? The impact of international

    frequent-flyes partnerdhip on domestic airline demand. RAND Journal of Economics. Vol. 38(4): 1134-58.

    Louviere, J. J., D. A. Hensher, e D. S. Joffre, Stated choice methods: Analysis and applications. United

    Kingdom: Cambridge University Press, 2000.

    Louviere, J. J., D. A. Hensher, e J. D. Swait (2000) Stated Choice Methods. United Kingdom: Cambridge

    University Press. 402 p.

    Klemperer, P. (1987) Markets with consumer switching costs, The quarterly journal of economics. Vol. 102 (2):

    p. 375-394.

    Kocur, G. T, T. Adler, W. Hyman e B. Aunet (1982). Guide to forecasting travel demand with direct utility

    assessment. Report UTA-NH-11-0001-82, Urban Mass Transprotation Administration, Washington DC.

    Manski, C. (1977) The structure of random utility models. Theory and Decision 8. P. 229-254.

    Mcfadden, D. (1974) Conditional logit analysis of qualitative choice behavior. P Zarembka (ed.), Frontiers in

    Econometrics. Academic Press, Nueva York.

    Mcfadden, D. (1978) Modelling the choice of residential location. A.Karlqvist, L.Lundqvist, F.Snickars

    J.Weibull (eds.), Spatial interaction theory and residential location, North-Holland, Amsterdam, p. 75-96.

    Mcfadden, D., T. Domenic (1972) A disaggregated Behavioral Modelo of Urban Travel Demand. Report N

    CRA-156-2, Charles River Associates, Inc. Cambridge, Massachusetts.

    NODARI, C. T. (1996) Influncia de preo e marca na demanda por transporte areo. 113 f. Dissertao (Mestre

    em Engenharia) Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo, UFRGS, Porto Alegre. Ortzar, J. D. e L. G. Willumsen. (2001) Modelling Transport. 3 ed. England: John Wiley & Sons. 549 p.

    Ortzar,J.D.e E Cherchi (2003). Alternative specific variables in non-linear utility functions: influence of

    correlation, homoscedasticity and taste variations.10th

    International Conference on Travel Behaviour

    Research,

    Sena, H. S. (2010) O setor de aviao civil no Brasil: impacto da crise 2006/2007 e criao da ANAC para

    gerao da inovao. 88 p. Monografia (Graduao em Administrao) Faculdade de Economia Administrao e Contabilidade, Universidade de Braslia. Braslia.

    Shy, O. (2002) A quick-and-easy method for estimating switching costs, International Journal of Industry

    Organization, Vol. 20, p. 71-87.

    Train, K. Discrete choive methods with simulation, 2 ed. Cambridge University Press, Cambridge.

    Vovsha, P. (1997) Cross nested logit model: an application to mode choice in the Tel-Aviv metropolitan area.

    Transportation Research Board, 76th Annual meeting, Washington D.C.

    Williams, H.C.W.L. (1997) On the formation of travel demand models and economic evaluation measures of

    user benefit. Environment and Planning 9A, 285-344.