a fala dos quartéis e as outras vozes (resumo livro)

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Trabalho apresentado à disciplina de Análise do Discurso PPGL-UCPel (mestrado/2009)

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Page 1: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)
Page 2: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Sobre a autora: Freda Indursky

• Local de Nascimento: Porto Alegre;

• Graduação em Letras na UFGRS (atualmente é professora no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas no Instituto de Letras);

• Mestrado em Besançon – França;

• Doutorado na Unicamp;

• Atualmente trabalha no programa de pós-graduação em Letras, onde ministra disciplinas relacionadas à Análise do Discurso, bem como orienta trabalhos vinculados à mesma área.

Page 3: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Sobre o livro

• O livro é resultado de uma pesquisa realizada no âmbito do Programa de Pós Graduação do Instituto de Estudos de Linguagem, na Unicamp, da qual resultou a tese de Freda Indursky, intitulada “A fala dos quartéis e as outras vozes: uma análise do discurso presidencial da Terceira República (196401984), apresentada e defendida em dezembro de 1992.

Page 4: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

O tema

Dentre as várias consequências do Golpe de Estado de 1964 destaca-se a suspensão das formas constitucionais de representatividade, substituídas no exercício do poder pelas Forças Armadas. Estas elaboraram a doutrina da segurança e do desenvolvimento militar que se perpetuou por vinte anos no poder, instaurando o autoritarismo no Brasil.

Neste contexto, o trabalho propõe-se a examinar o discurso presidencial da República Militar Brasileira à luz da Análise do Discurso (AD).

Page 5: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Reflexão sobre o objetivo

• “Espero contribuir para iluminar as práticas discursivas daquele período que não deve jamais ser esquecido. A esse propósito, vale lembrar que, no entendimento de Courtine, ‘memória e esquecimento são indissociáveis da enunciação do político’. Por isso, transcrevo aqui o poema de Maiakowski, que esclarece apropriadamente porque julguei que esse livro ultrapassa o limiar do interesse puramente acadêmico.” (Freda Insdursky)

Page 6: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Maikowski

Na primeira noiteeles se aproximame colhem uma florde nosso jardim e não dizemos nada

Na segunda noite, já não mais se escondem;pisam nas floresmatam o nosso cão e não dizemos nada

Até que um diao mais frágil delesentra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada já não podemos dizer nada.

“Lembrar, neste caso, é a condição do dizer” (Freda Indursky. Porto Alegre, agosto de 1994)

Page 7: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Questionamentos iniciais

• O discurso presidencial da República Militar Brasileira é único, uniforme e homogêneo, daí resultando um espaço hermeticamente fechado sobre si mesmo?

• O discurso presidencial da República Militar Brasileira é heterogêneo, não constituindo um espaço discursivo impermeável a outros discursos do campo político?

Page 8: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Metodologia

• Investigação do discurso autoritário e sua relação com o discurso da República Militar Brasileira;

• Exame do corpus discursivo;

• Relação dos discursos presidenciais da República Militar Brasileira com outros discursos;

• Exame do corpus de acordo com o discurso-outro.

Page 9: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Estrutura do trabalho

• Preparando a análise: questões teóricas e metodológicas que embasam o livro;

• O funcionamento do discurso presidencial: construção do sujeito presidencial, construção discursiva do outro e processo de interlocução discursiva que se instaura nesse espaço discursivo;

• A construção da homogeneidade imaginária e suas rupturas: análise das propriedades desse discurso.

Page 10: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Campo discursivo

O discurso como objeto de estudo (ORLANDI)

O objeto específico da AD é o discurso, e não a língua,e sua unidade de análise é o texto, e não o signo ou a frase. “Não em seu aspecto extensional, mas qualitativo, como unidade significativa da linguagem em uso, logo unidade de natureza pragmática” (Orlandi, 1986).

A partir dessa concepção, o campo discursivo decorre de três regiões do conhecimento científico: materialismo histórico, linguística e teoria do discurso.

Page 11: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

1. Materialismo histórico

• O discurso não reflete a ideologia como algo que lhe é exterior, mas a mostra, enquanto efeito de sentido, porque ela é constitutiva da prática discursiva. Vale dizer que o efeito de sentido funciona como indício da interioridade da ideologia.

• Pensar ideologia no âmbito da AD consiste em deslocar a relação imaginária com o mundo real para o interior dos processos de significação.

• A ideologia consiste na representação da relação imaginária com o mundo real no interior dos processos discursivos. O analista, ao debruçar-se sobre o discurso, depara-se com a materialidade discursiva que é concomitantemente linguística e ideológica.

Page 12: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

... Materialismo Histórico

• A ideologia não promove “ocultação” ou “engano”, mas produz o “desconhecimento de sentidos” através de processos discursivos cuja materialidade linguística podemos discernir.

Podemos compreender a ideologia como o fato de que os sentidos são fixados historicamente em uma direção determinada. (Orlandi, 1990).

Tais sentidos resultam da produção de um certo imaginário, ou seja, de uma interpretação que aparece como necessária e que destina sentidos fixos para as palavras num certo contexto sócio-histórico. E a produção desse imaginário resulta das “relações entre poder e sentidos”

Page 13: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

2. Linguística

• A linguística é entendida como o estudo dos mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação;

• Fenômenos linguísticos de dimensão superior à frase podem efetivamente ser concebidos como um funcionamento, desde que se tenha a clareza e que tal funcionamento não é integralmente linguistico. Pêcheux

• O discurso não deve ser visto como veículo de transmissão de informação, mas como efeito de sentidos entre interlocutores, enquanto parte do funcionamento social geral. Orlandi

Page 14: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

... Linguística

A ENUNCIAÇÃO se preocupa com quatro aspectos:• locutor: quem é o sujeito da enunciação• Interlocutor: pra quem o discurso é produzido• situação em que a enunciação é produzida: marcas espaço-

temporais de produção do discurso• referente do discurso: sobre o que o discurso trata

• “O enunciado tem por característica colocar o dito consequentemente rejeitar o não dito. Essa concepção estabelece fronteiras entre o que é selecionado e precisado pouco a pouco e o que dele é rejeitado”. Pêcheux & Fuchs

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3. Teoria do Discurso

• Teoria da determinação histórica dos processos semânticos;

• A teoria do discurso é o que irá produzir o corpo teórico necessário para que a AD possa instaurar e operar sobre esse objeto heterogêneo que é o discurso.

• “A construção de meios de análise linguística e discursiva supõe uma reflexão sobre aquilo que opera na e sob a gramática, na margem discursiva da língua”. Pêcheux

Page 16: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Quadro teórico de referência

Formação Discursiva (FD):

• Um enunciado pertence a uma FD, como uma frase pertence a um texto. A regularidade de uma frase é definida pelas leis de uma língua, enquanto a regularidade dos enunciados é definida pela formação discursiva que estabelece, para os enunciados, uma lei de coexistência. Foucault

• O sujeito é essencialmente é essencialmente representação, dependendo das formas de linguagem que ele enuncia e que de fato o enunciam.

• Uma palavra ou uma expressão ou mesmo uma proposição não têm sentido próprio, literal. Seu sentido decorre das relações que tais elementos pertencentes à mesma FD. Pêcheux

• Preconstruido: a FD é constitutivamente invadida por elementos que vêm de outro lugar (isto é, de outras FD) e se repetem nela. Pêcheux

Page 17: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Quadro teórico de referência

• O sujeito de um enunciado é um lugar determinado e vazio que pode efetivamente ser ocupado por indivíduos diferentes. Foucault

• O sujeito do discurso decorre da relação que se estabelece entre o discurso, a língua e a ideologia sendo, ao mesmo tempo, o sujeito ideológico. Courtine

• Nos discursos autoritários “a relação com a referência é exclusivamente determinada pelo locutor: a verdade é imposta”. Orlandi

• Em toda fala, sempre, sob nossas palavras, outras palavras se dizem. O discurso é constitutivamente atravessado pelo discurso do outro. Authier

• A memória discursiva aqui é a memória social inscrita no seio das práticas discursivas.Ela decorre de uma relação entre a repetição de um enunciado discursivo e a regularização de seu sentido. Achard

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Segunda Parte: O funcionamento do discurso presidencial

1. A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO PRESIDENCIAL

1.1. O imaginário do sujeito presidencial

De acordo com Pêucheux (1969), o discurso produzido por um sujeito (A) sempre pressupões um destinatário (B) que se encontra em determinado lugar na estrutura social. Este lugar está representado nos processos discursivos a partir de uma série de formações imaginárias que designam o lugar que A e B se atribuem mutuamente, ou seja, a imagem que fazem do seu próprio lugar e do lugar do outro.

Para examinar essas formações imaginadas, Pêcheux propõe quatro questões que lhe subjazem. Duas referentes a imagem de A e duas refentes a imagem de B.

Page 19: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Exames da imagem de A (sujeito do discurso presidencial - D1)

IA(A) (imagem do lugar de A para o sujeito situado em A): « Quem sou eu para lhe falar assim? »IA(B) (imagem do lugar de B para o sujeito situado em A): « Quem é ele para que eu lhe fale assim? »

As duas formações imaginárias presidem o funcionamento discursivo do corpus. A primeira sustenta a construção discursiva dos diferentes lugares enunciativos que representam lugares institucionais a partir dos quais o sujeito do discurso presidencial (D1) realiza sua prática discursiva, enquanto a segunda, consequência da primeira, decorre da construção discursiva das diferentes representações do destinário, presentes em D1.O exame de IA(A) permitiu identificar quatro diferentes imagens, a partir da auto-representação em primeira pessoa do singular:

1.) IA(A)1 - o presidente democrata.2.) IA(A)2 - o presidente militar.3.) IA (A) - o presidente autoritário.4.) IA (A)4 – o presidente injustiçado.

Page 20: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

IA(A)1 – A imagem do presidente democrata

Esta imagem está presente nos cinco domínios discursivos em análise. O que pode ser observado nos recortes das sequências discursivas seguintes:

CB1 – Espero (...) possa entregar, ao iniciar-se o ano de 1966, ao meu sucessor legitimamente eleito pelo povo, em eleições livres, uma nação coesa (...). (CB1 – 11/04/64 – após ser eleito pelo Congresso).CS1 – Meus intuitos democráticos e minha preocupação com o ordem constitucional não podem ser postos em dúvida. (CS2 – 03/10/66 – Congresso Nacional, após eleição).M1 – Neste momento, eu sou a oferta e a aceitação. Não sou a promessa. Quero ser verdade e confiança, ser coragem, a humildade, a união. A oferta de meu compromisso ao povo perante o congresso de seus representantes, quero-a um ato de reverdecimento democrático. (M1 – 30/10/69 – Discurso de posse).G1 – Que Deus me dê forças a mim, e clarividência e energia, para levar avante esse legado superior de consciência cívica e de pragmatismo criado para o bem de nossa pátria e bem-estar de nosso povo. (G1 – 15/3/74 – Palácio do Planalto, posse).

Page 21: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

IA(A)1 – A imagem do presidente democrata

F1 – (...) Mas tenho também diante de mim um compromisso, que assumi antes mesmo de tomar posse a presidência da República. E, mais que compromisso um juramento que fiz após assumir a presidência da República: disse por mais de uma vez que iria transformar este país numa democracia. (F2 – 04/10/79 – MG/Itajubá - improviso).O exame do recorte discursivo revela que no discurso presidencial da República Militar Brasileira, de um modo geral, é construída a imagem de um presidente democrata que acredita no jogo democrático e em suas instituições. Esta imagem demonstra o desejo de ir ao encontro do imaginário da opinião pública para qual o presidente deve ser um democrata. Tal procedimento mostra a busca de autenticidade para o regime.Essa auto-representação consiste na construção de um simulacro a partir da imagem que o sujeito de D1 supõe ser a imagem que a opinião pública constrói de presidente.Nesse sentido a questão formulada por Pêcheux – “Quem sou eu para lhe falar?” – deve ser reformulada no dircurso político para: “Qual a imagem de presidente desejada pelos brasileiros democratas?”.

Page 22: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

IA(A)1 – A imagem do presidente democrata

É a partir daí que o simulacro do presidente democrata se constrói. Isso quer dizer: a imagem analisada anteriormente é construída sobre a suposta imagem que os brasileiros possuem de um presidente democrata.Já em M1 e F1, percebe-se nos recortes discursivos o desejo de instaurar a democracia. Desejo esse que mostra que a imagem de democrata repousa sobre uma cópia destituída de semelhança, ou seja, sobre seu simulacro.

Page 23: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

IA(A)2 – A imagem do presidente militar

Presente nos cinco domínios discursivos do corpus da autora.Esta segunda imagem mostra como os presidentes se vêem e desejam ser vistos: “soldados” convocados para cumprirem uma missão militar. Esta imagem aponta para o assujeitamento do soldado de decisões hierarquicamente superiores. As pistas para sua identificação decorrem da natureza do léxico empregado que remete para o campo semântico militar. Exemplos: cumprir a missão, desertar, acatar, encargo, imposição, etc.A imagem em questão busca representar a presidência como missão que não se postula, mas à qual é preciso sujeitar-se. Ela vem eivada de desprendimento, sacrifício, modéstia, buscando contrapor-se ao fausto que a imagem presidencial costuma evocar, retirando daí sua autoridade e respeitabilidade.É daí que se constrói a doutrina da salvação nacional e embasa-se a a relação idealizada que o governante pretende manter com seus governados. Os governantes comandam (por direito) nos moldes militares e os governados devem obedecer (por dever), tal quadro fundamenta a tomada do poder eo monopólio do governo por parte das castas militares.

Page 24: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

IA(A)3 – A imagem do presidente autoritário

Resultado do confronto entre as duas imagens anteriores.Do aparente conflito entre a imagem do presidente democrata e a imagem do presidente militar, instaura-se uma terceira imagem que mostra essa tensão. CB3 – Obrigado a usar dos poderes da legislação em vigor, que me autoriza a decretar o recesso do Congresso Nacional, cumpre-me dirigir-me à nação.(CB3 – 20/10/66 – RJ – À nação).F3 – Porque cumpro o que prometo, não prometo milagres... Sou homem da ponderação e da prudência. Mas não hesitarei em aplicar as leis existentes diante de situações que ameacem a tranquilidade da família brasileira ou possam conduzir à desordem social. (F2 – 01/5/79 – TV). A imagem do presidente autoritário mostra como o sujeito de D1 percebe-se e deseja ser percebido por seus interlocutores.Para analisar a fusão das duas primeiras imagens é preciso partir de sua característica comum: os deveres. Na primeira apresentam-se como deveres cívicos e, na segunda, como deveres militares. Na fusão dessas duas imagens, os deveres transformam-se em poderes. Essa terceira imagem assume a forma de um presidente civil, marca oriunda da primeira imagem, dotado de autoridade, força e desprendimento, características da segunda imagem.

Page 25: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

IA(A)4 – A imagem do presidente injustiçado

Esta imagem foi observada pela autora em: Figueiredo (ocorrência abundante), Castelo Branco (um único registro por ocasião se sua última reunião ministerial) e em Costa e Silva (também uma única ocorrência após a edição do AI-5).A análise em questão ateve-se às ocorrências singulares referentes aos dois últimos domínios supracitados, isso porque elas produzem um efeito de sentido diferente daquele produzido no discurso de Figueiredo. CB4 – Não quis nem usei o poder como instrumento de prepotência. Não quis nem usei o poder para a glória pessoal ou a vaidade dos falsos aplausos. Dele nunca me servi. Use,i sim, para salvar as instituições, defender o princípio da autoridade, extinguir os privilégios (...) E se não me foi permitido fazê-lo, pois jamais é penoso cumprirmos o nosso dever, a verdade é que nunca faltam os que insistem preferir sacrificar a segurança do futuro em troca de efêmeras vantagens do presente, bem como os que põem as ambições pessoais acima dos interesses da pátria. De uns e de outros desejo esquecer-me. Pois a única lembrança que conservarei para sempre é a do extraordinário povo (...). (CB4 – 14/3/67 – Palácio do Planalto - Ministério).

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IA(A)4 – A imagem do presidente injustiçado

CS4 – Valeram-se (...) todos os tipos de inimigos da democracia (...) cujas vozes se harmonizaram no coro formado para apresentá-los, inversamente, como defensores da liberdade e a nós, que de fato a defendíamos, como tiranos e usurpadores do poder (...) Derrubar a “ditadura”, que não existia, e “substituir o regime” eram palavras de ordem que circulavam celeremente, ganhando adeptos entre carreiristas, aventureiros, corruptos e subversivos de profissão que habilmente compensavam a falta de apoio popular pela estridência da propaganda e a ousadia da ação. (CS3 – 15/3/69 – Mensagem ao povo – TV – Segundo aniversário de governo).Ao contrário das imagens anteriores, que representam o modo como o sujeito de D1 deseja ser visto pelos interlocutores, esta quarta imagem reflete o modo como o sujeito de D1 sente-se em função do efeito de sentido que seu discurso produziu e das reações discursivas que provocou.Ou seja, pode-se dizer que, em certo sentido, que a quarta imagem é decorrente do efeito perlocutório que o sujeito de D1 provocou em seus interlocutores afetados por FD2. Trata-se de uma imagem que reflete a mágoa, o sentimento de injustiça que invade D1.

Page 27: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Considerações finais das formações imaginárias do sujeito de D1

QUADRO SÍNTESE 1Formações Imaginárias

I1 I2 I3 I4

CB + + + *

CS + + + *

M + + + -

G + + + -

F + + + +

(+) indica ocorrência da imagem;(-) assinala sua ausência;(*) aponta para as ocorrências únicas.

Page 28: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Considerações finais das formações imaginárias do sujeito de D1

Presidente Democrata:Modo como deseja ser

visto

SUJEITO DO DISCURSO PRESIDENCIAL

Está ancorado em três imagens

Presidente Militar:Mostra em que seu perfil democrático

distingue-se da concepção vulgar de presidente democrata

Presidente Autoritário:Resultante da tensão entre as outras duas

imagens – corresponde ao que de fato é. Vale dizer que que entre a

idealidade e o real interpõe-se o poder.

Page 29: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

A construção discursiva do outro

2. A construção discursiva do outro

Se a dispersão do sujeito funciona para opacificar sua figura solo, a dispersão do outro produz aí uma outra opacidade: enquanto o sujeito de D1 nega, em sua enunciação, a diferença de classe, seu discurso reinstaura, pelo viés da fragmentação do outro, tais diferenças que não são apenas de classe, mas que também o são.No corpus, quando o outro é costruído de modo consensual, é representado por diferentes itens lexicais genéricos como: brasileiros, povo e, muito raramente, cidadão. Enquanto cidadão, por ser dotado de conteúdo historicamente cristalizado, passou a representar um uso incômodo e, por isso, pouco frequente em D1. Pelo mesmo motivo e de forma diretamente proporcional, povo constituiu-se em um verdadeiro instrumento político, pois seu sentido, construído historicamente, foi ao encontro do jogo ilusório que a enunciação de tal discurso produz. Assim, cidadão foi discursivamente apagado e povo passou a ser expressivamente empregado como forma de representação do outro. É assim que as difentes confugurações do outro apontam para revolucionários, não-revolucionários, contra-revolucionários, classe trabalhadora, sociedade civil organizada, classes produtoras, dentre outros estratos da sociedade.

Page 30: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

A construção discursiva do outro

Quando o outro é costruído no dissenso, é representado por itens lexicais como: adversário da revolução (CB), contra-revolucionários (CS), inimigo do regime (M), subversivo e corrupto (G), agitador (CB), etc. Assim sendo, no discurso presidencial o outro só tem duas possibilidades extremas de representação: a primeira, com um outro que acata plenamente todas as decisões tomadas pela revolução (condição para ser enquadrado como cidadão); a segunda representando um outro desprovido de qulquer traço positivo de caráter, ou seja, o anticidadão, “subversivo”, “inimigo do regime”.

3. A interlocução discursiva

No corpus em questão, a terceira-pessoa discursiva representa o outro na qualidade de interlocutor indeterminado, o qual participa, a esse título, da interlocução discursiva.A interlocução discursiva não implica a presença do interlocutor, nem sua representação clara e objetiva. Mas, nem por isso, esse pólo da interlocução desaparece ou deixa de ser determinado para o sujeito do discurso. Sua indeterminação é um efeito que se constrói através do trabalho discursivo.

Page 31: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

A interlocução discursiva

Na interlocução discursiva o sujeito fragmenta-se, fica difuso e disperso. O mesmo ocorre com o outro , seu destinatário que, além de fragmentado, difuso e disperso, se constrói sobre o modo da indeterminação. O cenário discursivo do corpus, localizado na esfera pública, também é construído na modalidade da indeterminação, resultando daí que uma mesma sequência discursiva pode dirigir-se a vários destinatários, afetados por FD antagônicas, revestindo-se de um efeito de performatividade que articula promessa e ameaça a um só tempo, por exemplo.O discurso presidencial da República Militar Brasileira caracteriza-se pelo trabalho da prática discursiva que conduz da determinação à indeterminação.

Page 32: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Terceira Parte: A constituição da homogeneidade imaginária e suas rupturas

1. Da determinação a sobredeterminação

Objetivo: Examinar o trabalho discursivo de construção da determinação do discurso presidencial.O processo de determinação discursiva instaurado em D1 é descrito pela autora como o trabalho de construção discursiva da delimitação do que pode/deve ser dito, bem como do que pode, mas não convém ser dito em um discurso.Tal determinação é decorrente da relação que o sujeito do discurso estabelece com a FD que o afeta.A determinação discursiva trabalha com a individualização imaginária do espaço discursivo, produzindo o efeito de discurso único, homogêneo.

2. Sobre a heterogeneidade do discurso presidencial

Objetivo: estudar a heterogeneidade do discurso em análise e os efeitos por ela produzidos. Um discurso é heterogêneo porque sempre comporta constitutivamente em seu interior outros discursos.

Page 33: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Terceira Parte: A constituição da homogeneidade imaginária e suas rupturas

Parte-se da ideia de que o sujeito, ao construir seu discurso, incorpora enunciados preconstruídos que, uma vez inseridos no discurso provocam o esque cimento de sua incorporação e produzem o efeito de ali se originarem. Para isso, é preciso que o discurso esteja dotado do efeito de homogeneidade.

No corpus, Indursky, observa o discurso relatado, a negação e as incisas discursivas como funcionamentos para remontar ao exterior e escapar da ilusória homogeneidade.

Page 34: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

Terceira Parte: A constituição da homogeneidade imaginária e suas rupturas

QUADRO SÍNTESE 7Heterogeneidade

Domínio

Topologia da Heterogeneidade

Discurso Relatado

Negação

Incisas Discursivas

CB - + ++ + + +

-

CS - - ++ + +

- -

M - - -+ + +

- +

G + + ++ + +

- +

F - + ++ + + +

+

Page 35: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

CONCLUSÃO

Contribuições para o estudo linguístico:

- O trabalho propôs o exame de fatos linguísticos em seu duplo funcionamento, visando compreender a diferença entre o funcionamento linguístico e o funcionamento discursivo.- Procurou analisar como a língua em seu funcionamento concorre para que o sujeito do discurso possa representar a si e ao outro, examinando as relações que esse sujeito estabelece com o que enuncia e com aqueles a quem enuncia.- Considerando o conjunto das análises, Freda Indursky, entretanto, centra suas últimas considerações sobre os dois trabalhos discursivos que atravessam todo o corpus e que apontam para as modalidades de representação determinada e indeterminada.

1.Das definições

Os processos de enunciação constroem uma fronteira entre o dito e o não-dito, mas este dito não apenas sofre sucessivas determinações, mas tais determinações estão na base da construção discursiva da inderteminação.

Page 36: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

CONCLUSÃO

A determinação discursiva consiste no trabalho discursivo de determinação do que pode/deve ser dito, bem como do que pode, mas não convém ser dito e ainda do que não pode ser dito, devendo ser refutado pelo sujeito do discurso. Ou seja, a determinação discursiva decorre de sucessivas determinações que vão dede o nível linguístico, passam pelo fio do discurso, projetam-se no processo discursivo e afetam as propriedades do discurso. Sendo assim, constrói as fronteiras discursivas que fecham imaginariamente o espaço discursivo, promovendo sua ilusória individuação, responsável pelo efeito de homogeneidade de um discurso.

Já a indeterminação discursiva promove o trabalho discursivo de opacificação do indizível. É resultado de sucessivas operações de indeterminação que vão do nível linguístico, passam pelo fio do discurso, projetam-se no processo discursivo e afetam as propriedades do discurso. Sendo assim, constrói a opacificação do que não pode/não deve ser dito pelo sujeito, tornando-se a modalidade discursiva que promove a travessia do indizível pelas fronteiras imaginariamente fechadas do espaço discursivo, instaurando o imperceptível heterôgeneo em seu interior.

Page 37: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

CONCLUSÃO

“(...) Tanto a construção discursiva da determinação como a da indeterminação representam diferentes relações que o sujeito

do discurso político estabelece com o que enuncia e com aqueles para quem enuncia aquilo que enuncia”

(INDURSKY, 1997, p.254).

2. O entrelaçamento interdiscursivo da determinação e da indeterminação

Determinações e indeterminações são as duas faces do mesmo trabalho discursivo de construção do discurso. De tal modo que quanto mais fortemente é rejeitado o indizível, mais ele reflui nas dobras da construção discursiva da indeterminação. De sorte que estas construções, aparentemente excludentes, são necessariamente complementares.

Algumas evidências do entrelaçamento promovido pelo trabalho

discursivo (observadas nas análises):

Page 38: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

CONCLUSÃO

2.1 Determinação e indeterminação no funcionamento discursivo A segunda parte do trabalho da autora (funcionamento do discurso

presidencial) apresenta-se claramente determinado no primeiro nível do processo de interlocução discursiva – a interlocução enunciativa. Nela sabe-se quem enuncia, para quem enuncia e o que enuncia. Ou seja, está no nível da determinação discursiva.

No entanto, sobre esta construção ancora-se um outro nível de interlocução – a interlocução discursiva – em que a determinação cede lugar a indeterminação. Para observá-la é preciso passar dispersão do sujeito do discurso que, ao representar-se como nós, simula o efeito da palavra comum que é estancada quando, esse mesmo sujeito, representa-se como se fosse o outro por meio da quarta-pessoa discursiva.

Tal processo culmina com o apagamento da estrutura dialógica: onde não há sujeito, não há interlocutor. É o domínio do monologismo, obtido pelo trabalho de indeterminação discursiva do sujeito e e da interlocução.

Também o outro da interlocução discursiva é, igualmente, indeterminado. O grau máximo que sua indeterminação é alcança é quando o outro é representado pela terceira pessoa discursiva: simulando referir-se ao outro, de fato, a ele se dirige. Onde não há interlocutor, não há diálogo.

Page 39: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

CONCLUSÃO

2.2 A indeterminação no processo de determinação discursiva

O processo de determinação discursiva, que trabalha para construir os limites e a extensão do dizível, acaba por instaurar uma zona de opacidade no interior do formulável: “os bons brasileiros”, “os brasileiros de responsabilidade” correspondem ao que pode ser dito. Já “os maus brasileiros” pode, mas não convém ser formulado.

Pelo recalcamento do que poderia ser dito, cria-se uma zona de indeterminação no interior do próprio processo discursivo. Ou seja, a indeterminação é fruto de um processo de determinação.

2.3 Determinação e indeterminação na negação discursiva

A negação instaura um processo de delimitação de dois espaços discursivos diversos. De modo que, mesmo que indiretamente, por seu viés acaba-se por determinar o dizível de um discurso.

Por outro lado, a negação do discurso do outro constrói o não-dito do discurso presidencial pelo viés do discurso transverso, o que quer dizer que o discurso-outro penetra no discurso presidencial como um implícito, caracterizando sua natureza indeterminada.

Page 40: A fala dos quartéis e as outras vozes (Resumo Livro)

CONCLUSÃO

2.4 Determinação e indeterminação nas incisas discursivas

Para que o discurso do outro possa instalar-se na formulação do sujeito do discurso, é preciso laborar discursivamente para que essa presença seja invisível. Esse trabalho de apagamento dos vestígios pode ser visto como a determinação do discurso do sujeito ou como a indeterminação do discurso do outro.

Por outro lado, a negação do discurso do outro constrói o não-dito do discurso presidencial pelo viés do discurso transverso, o que quer dizer que o discurso-outro penetra no discurso presidencial como um implícito, caracterizando sua natureza indeterminada.

Esse trabalho discursivo de naturalização do discurso-outro subentende sua determinação e incorporação. Ao mesmo tempo, pode-se entender o apagamento de vestígios e das condições de produção do discurso-outro como um trabalho discursivo de indeterminação do discurso do outro.

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SÍNTESE FINAL

3 Síntese final

Determinação e indeterminação não possuem limites excludentes, embora produzam efeitos opostos. São processos em inter-relação.

Não separação entre os dois processos em um discurso, um está

no outro. Os discursos interpenetram-se constantemente, instaurando espaços privilegiadamente heterogêneos.

O que existe são efeitos de homogeneidade ou de

heterogeneidade, produzidos em função do modo como a linguagem é mobilizada pelo sujeito do discurso em seu trabalho de construção da sua representação, da representação que faz do outro e da relação que estabelece com o discurso-outro.

Tais representações são determinadas e/ou indeterminadas em

função do imaginário do sujeito do discurso.

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Trabalho baseado no livro:

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