a educaÇÃo fÍsica no Último ano do ensino fundamental

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM REDE NACIONAL ANA PAULA OLIVEIRA FREITAS A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ÚLTIMO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: Construindo saberes significativos CUIABÁ - MT 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM REDE NACIONAL

ANA PAULA OLIVEIRA FREITAS

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ÚLTIMO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: Construindo saberes significativos

CUIABÁ - MT 2020

ANA PAULA OLIVEIRA FREITAS

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ÚLTIMO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: Construindo saberes significativos

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – ProEF da Universidade Federal de Mato Grosso e ao Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” ― NEAD/UNESP, como requisito para obtenção do título de Mestra em Educação Física Escolar.

Orientador: Prof. Dr. José Tarcísio Grunennvaldt

CUIABÁ - MT

2020

Dedico este trabalho aos alunos que participaram da pesquisa e a todos aqueles que foram meus alunos ao longo dos anos.

AGRADECIMENTOS

Ao Centro Municipal de Ensino Fundamental e Creche Dona Delice Farias

dos Santos, que abriu as portas para que a pesquisa se realizasse.

À Escola Estadual Senador Filinto Muller, na qual me dedico à docência.

Ao Programa de Mestrado Profissional em Educação Física – UNESP, pela

realização desse mestrado.

À Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso,

pela realização desse mestrado.

Aos professores Ana, Márcia, Cleomar pelos ensinamentos e dedicação. Ao

professor e coordenador Evando, pelos ensinamentos e competência em conduzir o

mestrado.

Ao professor e orientador dessa pesquisa, Tarcísio, pelo carinho com que

exerce à docência, sabedoria e paciência com que me orientou sempre.

Aos colegas do mestrado, pessoas incríveis que tive o prazer em conhecer.

À Capes/PROEB – Programa de Educação Básica pelo oferecimento do

Programa de Pós-Graduação em Educação Física em Rede Nacional – ProEF.

À minha família, minha base e fortaleza.

FREITAS, Ana Paula Oliveira. A Educação Física no último ano do ensino fundamental: Construindo saberes significativos / Ana Paula Oliveira Freitas. 2020. 89 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Educação Física, Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Cuiabá, 2020.

RESUMO

A investigação tem como tema “A Educação Física no último ano do Ensino Fundamental: Construindo saberes significativos”, e seu objetivo principal é entender como os alunos vêm construindo seus saberes na disciplina de Educação Física, bem como quais os significados atribuídos a esses saberes. A pesquisa levou em consideração a trajetória percorrida durante o mestrado, bem como a trajetória profissional da pesquisadora como professora. A pesquisa-ação aconteceu em um Centro Municipal de Educação Básica, em um bairro periférico, na cidade de Barra do Garças – MT, na turma do nono ano A. A partir do planejamento com o professor da turma, a professora pesquisadora desenvolveu diferentes atividades pedagógicas com os alunos, utilizando alguns instrumentos de pesquisa, como o questionário, a roda de conversa gravada e o diário de campo. A análise dos dados coletados demonstra que os alunos vêm construindo saberes e atribuindo significados sobre a Educação Física, mas que, nem sempre esses saberes aprendidos são fáceis de serem identificados, precisando uma análise mais profunda, pois se evidenciou que quanto mais expresso pelo corpo o saber, mais difícil sua expressão verbal ou escrita. A Educação Física é entendida pela maioria como uma disciplina curricular e não só como um momento de lazer. Mesmo assim, consegue ainda envolver os alunos, que participam na maioria pelo gosto e não só pela obrigatoriedade. A Educação Física é vista como momento de aprender diferentes práticas corporais, bem como momento de conhecimento de diferentes saberes sobre o corpo e sua relação com o outro e com o mundo que o cerca. O estudo aponta que a prática da Educação Física está atrelada ao gosto, fazem porque gostam. Uma evidência de que o ensino está voltado ao protagonismo, no qual os alunos tenham mais liberdade e autonomia, bem como a partir de temas de seus cotidianos.

Palavras-chave: Educação Física. Pesquisa-ação. Saberes significativos.

FREITAS, Ana Paula Oliveira. A Educação Física no último ano do ensino fundamental: Construindo saberes significativos / Ana Paula Oliveira Freitas. 2020. 89 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Educação Física, Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Cuiabá, 2020.

ABSTRACT

Its theme is "Physical Education in the last year of Elementary School: Building meaningful knowledge", and its main objective is to understand how students have been building their knowledge in the subject of Physical Education, as well as the meanings attributed to this knowledge. The action research took place in a Municipal Basic Education Center, in a peripheral neighborhood, in the city of Barra do Garças - MT, in the class of the ninth grade A. Based on the planning with the class teacher, the research teacher developed different activities with the students, using some research instruments, such as the questionnaire, the recorded conversation wheel and the field diary. The analysis of the data collected shows that students have been building knowledge and assigning meanings about Physical Education, but that these learned knowledge are not always easy to be identified, requiring a deeper analysis, as it seems to us that the more expressed by the body the know, the more difficult its verbal or written expression Physical Education is understood by the majority as a curricular discipline and not only as a leisure moment. Even so, it still manages to involve the students, who participate in the majority for the pleasure and not only for the obligation. The students of the ninth grade of elementary school at the researched school, have recognized the construction of knowledge in Physical Education classes. Understanding it beyond knowing how to do. Physical Education is seen as a time to learn different body practices, as well as a time to learn different knowledge about the body and its relationship with the other and the world around it. The study points out that the practice of Physical Education is linked to taste, they do it because they like it. Evidence that teaching is focused on protagonism, in which students have more freedom and autonomy, as well as from themes of their daily lives.

Keywords: Physical Education. Action research. Significant knowledge.

SUMÁRIO

..........INTRODUÇÃO .................................................................................................. 9

1. ......O CAMINHO ATÉ O MESTRADO PROFISSIONAL ....................................... 11

1.1 .....TRAJETÓRIA NA PÓS-GRADUAÇÃO .......................................................... 14

1.2 ....IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS CURSADAS PARA A REALIZAÇÃO DA ..........PÓS-GRADUAÇÃO ......................................................................................... 15

1.3 ...OUTRAS ATIVIDADES REALIZADAS ............................................................. 21

1.4 ...AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA VIVIDA NA PÓS-GRADUAÇÃO ................... 21

2. .....DESENVOLVIMENTO DO ENSAIO REFLEXIVO: ........................................... 23

2.1 ...JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 23

2.2 ...OBJETIVO GERAL........................................................................................... 29

2.3 ...OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................ 29

2.4 ...REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................ 29

2.4.1 Marco teórico .................................................................................................... 29

2.4.2 As dimensões dos conteúdos ........................................................................... 32

2.4.3 A relação dos alunos com o saber na Educação Física ................................... 33

3 ......PERCURSO INVESTIGATIVO ......................................................................... 36

3.1 ...UNIVERSO DA PESQUISA ............................................................................. 38

3.2 ...PARTICIPANTES ............................................................................................. 42

3.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS ......... 42

4 ......EDUCAÇÃO FÍSICA NO NONO ANO – ANÁLISE A PARTIR DOS SABERES .........DOS ALUNOS .................................................................................................. 44

4.1 ...EXPERIÊNCIA DOS PRIMEIROS MOMENTOS EM CAMPO ......................... 44

4.2 ...IMPRESSÕES SOBRE O QUESTIONÁRIO INICIAL ...................................... 45

4.3 ...DIÁRIOS DE CAMPO - IMPRESSÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DO SABER .........DOS ALUNOS .................................................................................................. 55

4.4 ...CONSIDERAÇÕES SOBRE O QUESTIONÁRIO FINAL ................................. 57

4.5 ...SENTIDOS ATRIBUÍDOS À EDUCAÇÃO FÍSICA PELOS ALUNOS .............. 66

4.6 ...DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS .............................................. 67

4.7 ...RELATO E DEBATE DA RODA DE CONVERSA ............................................ 67

4.8 ...O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NOS MOMENTOS DE .........AUTORREGULAÇÃO DIRIGIDOS – APONTAMENTOS E ANÁLISES ........... 70

5 ......IMPRESSÕES FINAIS DA PESQUISA-AÇÃO ................................................. 75

.........REFERÊNCIAS ................................................................................................ 76

.........APÊNDICES ..................................................................................................... 78

.........APÊNDICE A - Questionário diagnóstico de pesquisa: .................................... 79

........APÊNDICE B - Plano de aula ............................................................................ 81

........APÊNDICE C - Diário de campo ....................................................................... 83

........APÊNDICE D - Questionário final de pesquisa ................................................. 85

........APÊNDICE E - Roteiro de entrevista para o aluno ............................................ 87

........APÊNDICE F - Roteiro para roda de conversa no final da aula ........................ 88

........APÊNDICE G - Questionário para o professor da turma ................................... 89

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema “A Educação Física no último ano do

Ensino Fundamental: Construindo saberes significativos”, e tem como objetivo

entender como os alunos vêm construindo seus saberes na disciplina de Educação

Física no último ano do ensino fundamental, bem como os significados atribuídos a

esses saberes pelos alunos, a partir do olhar da professora pesquisadora.

Primeiro, é apresentado os caminhos percorridos pela pesquisadora até sua

formação em Educação Física, e, depois, como profissional, até seu ingresso no

mestrado profissional e sua trajetória nesse período. A professora pesquisadora

identifica as dificuldades presentes em sua prática, elucidando sua realidade e

buscando possíveis soluções para os problemas apresentados.

Para atingir seus objetivos, faz uso da pesquisa-ação, realizada em uma

turma do nono ano do ensino fundamental, utilizando-se de diversos instrumentos de

pesquisa, como o diário de campo, questionários e entrevistas. As aulas foram

planejadas em parceria entre professor da turma e professora pesquisadora.

Interessou-nos o caminho que percorremos no trato com os conteúdos e com

ênfase nos alunos. Pois, para nós, enquanto professores, parece clara a

necessidade do trabalho para além do saber fazer, porém, o que podemos observar

a grosso modo, é que para os alunos as aulas nesse sentido acabam por se tornar

desinteressantes. É nesse universo que pretendemos entrar, buscando conciliar os

objetivos da Educação Física com os anseios dos alunos, sempre numa perspectiva

maior da educação como ferramenta de transformação social.

Desenvolvemos a pesquisa analisando as aulas de Educação Física para

além dos aspectos procedimentais, ou do saber fazer, a partir do recorte de um

bimestre com os alunos do nono ano. Levamos em consideração as concepções dos

alunos, suas ideias e críticas. Acreditamos que, dessa maneira, agregaremos mais

valores às aulas por parte dos alunos.

Assim, algumas questões nortearam nossa pesquisa: o crescente

desinteresse dos alunos do nono ano pode estar relacionado a determinadas

metodologias de ensino adotadas no decorrer do desenvolvimento das aulas e da

repetição de conteúdos, sem sistematização no decorrer dos anos escolares? Como

os alunos do nono ano da escola pesquisada vêm construindo seus saberes na

disciplina de Educação Física? Quais os sentidos atribuídos a esses saberes pelos

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alunos? Como vêm se dando as aulas de Educação Física no nono ano em um

Centro Municipal de Educação Básica de Barra do Garças- MT? Os conteúdos são

tratados para além do saber fazer? Quais os significados atribuídos às aulas pelos

alunos? Quais princípios são levados em conta no tratamento dos

conteúdos/conhecimentos quando esses são abordados e construídos nas aulas de

Educação Física? Com quais conceitos ou categorias se operam quando em uma

aula de Educação Física os conteúdos/conhecimentos são transmitidos ou

reconstruídos de modo a se reposicionar criticamente?

Todas essas questões nortearam nossa pesquisa, porém, nem todas foram

respondidas, mas nos permitiu refletir nossas práticas pedagógicas e nos deram

suporte para um trabalho investigativo e construtivo de pesquisa-ação junto aos

alunos.

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1 O CAMINHO ATÉ O MESTRADO PROFISSIONAL

Este texto é fruto da história de vida, experiências acadêmicas e

amadurecimento profissional no campo escolar, especificamente na segunda fase

do ensino fundamental. De maneira que todas as impressões, compreensões,

entendimentos e conclusões foram construídos em um longo trajeto, de escolhas,

ações, pausas, reflexões, avanços e recuos.

Como me tornei professora de Educação Física? Muitos têm uma resposta

certeira e clara sobre a escolha profissional, no meu caso, posso afirmar que a

inspiração veio de minha mãe, professora por vinte e cinco anos, trabalhando no

Estado e município de Caçu - GO, ela possui o magistério, mas seu saber e

dedicação para com seus alunos e a escola sempre foram grandes.

Em relação ao tipo de Educação Física escolar ao qual tive acesso enquanto

aluna, posso afirmar que foi uma Educação Física nos moldes esportivista, porém,

na primeira fase do ensino fundamental, tive uma Educação Física recreacionista,

com várias brincadeiras, já na segunda fase do ensino fundamental e ensino médio,

foi esportivista. Os esportes com bola eram priorizados, de maneira que tínhamos

divisão por gênero, meninos jogavam futsal e as meninas jogavam handebol. Existia

muita exclusão dos alunos menos habilidosos.

Participava pouco da minha Educação Física. Os momentos eram poucos,

alguns deles com muitas turmas ao mesmo tempo, dificultando ainda mais a

participação. Lembro-me bem que a minha pouca participação não se dava por não

gostar de esportes ou de qualquer outra prática corporal, mas sim pela maneira que

a disciplina era apresentada. Isso exposto, não tenho a intenção de culpar os

moldes da Educação Física da época ou o trabalho do professor, que, aliás, não

tinha formação em Educação Física, mas pretendo mostrar uma realidade que

antecedeu e influenciou minha tomada de posição como professora tempos depois.

Já no Ensino Médio, conheci a capoeira, prática corporal que me agradou

muito naquela época. Iniciei também a prática da musculação. Ambas influenciadas

por amigos. Dessa maneira, comecei a entender melhor o leque profissional que a

Educação Física atendia. Tendo uma visão um pouco mais relacionada à saúde e

bem estar físico, comecei a vislumbrar uma profissão. Dentre as opções às quais

tinha acesso, a Educação Física me pareceu a mais agradável na época.

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Tendo estudado toda a Educação Básica na rede pública de ensino, no

terceiro ano do ensino médio prestei vestibulares para Educação Física, na

Universidade Estadual de Goiás, Campus de Quirinópolis e na Universidade Federal

de Goiás, Campus Jataí. Passando em ambas, fiz a escolha pela UFG-Jataí. Na

ocasião, mudei para Jataí para estudar aos dezessete anos.

Assim que entrei na faculdade, no ano de 2005, percebi de imediato que a

Educação Física tratava de tantos saberes, não imaginava que era um campo tão

vasto e complexo. Fomos a primeira turma semestral, além da nova grade curricular,

que condensou várias disciplinas no curso e acrescentou outras, como por exemplo

o acréscimo das disciplinas de Educação Física Adaptada, Metodologia de Ensino e

Pesquisa em Lutas, além das Núcleos Livres de Esportes de Aventura, Gênero e

Educação e Sociologia da Cultura Brasileira.

Foram quatro anos de muito aprendizado e desafios. Pude participar

ativamente nos Projetos de Extensão “Mexa-se e viva melhor”, para diabéticos, e

“Viva em ação para o controle da hipertensão”, voltado para hipertensos, ambos por

três anos, além da participação como monitora no “Projeto Recrutinha”, voltado para

crianças carentes, durante um ano. Os estágios também foram momentos de

destaque, pois atuamos desde a Educação Infantil até o Ensino Médio e produzimos

relatórios e projetos.

O curso exigia a produção e apresentação da monografia, a minha teve o

título “A interação do curso de Educação Física – UFG com a sociedade jataiense”.

O objetivo era averiguar como o curso de Educação Física – UFG se relacionava

com a sociedade jataiense. Concluindo-se que a extensão universitária é a forma

mais explícita de relação universidade-sociedade apontada pelos sujeitos

pesquisados. Outras formas de interação também aparecem: projetos de pesquisa,

estágio e torneios. Porém, muitos ainda veem essa interação universidade-

sociedade via projetos de extensão de forma assistencialista, e não como uma via

de mão dupla, na qual a universidade colhe os dados da realidade para debates

acadêmicos, bem como para a manutenção dos temas a serem estudados, o que

ajudaria a faculdade a não ficar obsoleta.

Assim que foi apresentada a monografia, aconteceu a volta para a cidade

natal, e o imediato contrato como professora do Ensino Médio de uma rede

particular. Paralelo a isso, continuo com os estudos na especialização na mesma

universidade, no curso “Avaliação e Prescrição de Exercícios Físicos para

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Populações Especiais”, voltado para atender a pessoas com problemas

osteomusculares, com diabetes, hipertensão, obesos, idosos e crianças. Concluo a

especialização com a apresentação do artigo “Nível de atividade física habitual e

qualidade de vida dos professores de Educação Física da rede municipal de Jataí –

GO”. Tendo como objetivo avaliar a correlação entre o nível de atividade física

habitual e a qualidade de vida de professores de Educação Física. Concluiu-se que

os professores possuem um baixo nível de atividade física, mas mesmo nestas

condições, as atividades esportivas parecem ter uma relação direta com as

dimensões de vitalidade e de saúde mental.

Após quase dois anos de trabalho na rede particular, veio a aprovação nos

concursos para professora. Aprovada no concurso público municipal de Aparecida

de Goiânia-GO, no concurso público municipal de Cassilândia – MS e no concurso

público Estadual de MT para a cidade de Barra do Garças. Sendo esse último, o

local de minha escolha. O fato de ser um emprego público estadual pesou na

escolha em relação aos outros dois concursos municipais, pois, a meu ver na época,

as condições de trabalho, plano de carreira e qualidade de vida eram melhores.

Tomando posse em Barra do Garças, em fevereiro de 2011, estando ainda

hoje lotada na mesma escola, assumi as turmas de sexto ao nono ano, no turno

matutino. Várias foram as dificuldades encontradas no decorrer desse trajeto. Minha

falta de conhecimento em relação ao sistema de ensino Ciclado, bem como a

necessidade de adaptação a nova cidade, escola, colegas, alunos, enfim, a uma

nova realidade.

O fato de ser formada na área e estar concursada, me permitiu uma maior

autonomia. Porém, o que pareceu à primeira vista foi que a escola carecia de

professor de Educação Física, pois até então atuaram nesse espaço professores ora

que não era da área, ora que era formado na área, porém, não era efetivo, quando

efetivo, não atuava com dedicação exclusiva na escola. Sendo assim, esse primeiro

problema havia sido solucionado. Tratei então de estudar o Projeto Político

Pedagógico da escola, entender o sistema de ensino ciclado, bem como a realidade

e necessidade dos alunos.

Como ponto positivo, após anos de trabalho, posso pontuar minha

experiência, que me permite transitar com maior segurança no ensino e

aprendizagem dos conteúdos, e para os alunos, penso que consegui propor e seguir

uma sequência de ensino, baseada nas características, habilidades, necessidades e

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curiosidades dos alunos. Enfim, sempre tentando levar seus anseios em

consideração, pautados em uma Educação Física que trate dos diversos conteúdos

da cultura corporal, em seus diferentes aspectos, na qual a inclusão de todos os

alunos, independentemente do nível de habilidade, é incentivada e valorizada.

Percebendo minhas limitações frente às diferentes dificuldades educacionais

a que sou exposta, surgiu a vontade de melhorar minha prática pedagógica. A

vontade de fazer um mestrado sempre esteve presente, e, diante da necessidade de

capacitação, se tornou ainda mais necessário.

As dificuldades para fazer um mestrado eram muitas, dentre elas, a questão

do local, já que haveria necessidade de deslocamento, também a questão da prova

de proficiência em língua estrangeira, pedido como pré-requisito na maioria dos

mestrados, além, é claro, do pré-projeto e da prova escrita.

Assim que surgiu a oportunidade em fazer o mestrado profissional em

Educação Física, percebi que seria uma chance sem igual, haja vista que o mesmo

não necessitava de um pré-projeto e nem proficiência em língua estrangeira como

pré-requisito para entrar. Tivemos apenas uma avaliação escrita. Os demais itens

foram pedidos no decorrer do mestrado. Esse foi um ponto facilitador e positivo.

Com a aprovação, tivemos que aguardar mais de um ano para iniciarmos as

aulas. Houve muitas dificuldades para o início devido sermos a primeira turma. Mas,

enfim, iniciamos a jornada.

1.1 TRAJETÓRIA NA PÓS-GRADUAÇÃO

Várias foram às disciplinas cursadas durante o Mestrado Profissional em

Educação Física, todas elas trataram de temas relevantes para nossa área

profissional. Tivemos disciplinas semipresenciais, as quais tínhamos acesso pelo

AVA, com textos acadêmicos, atividades complexas para serem postadas, além dos

fóruns de integração com os colegas e professores de outros polos, ambiente virtual

no qual debatíamos os assuntos de cada disciplina.

Essas mesmas disciplinas semipresenciais tiveram seus momentos

presenciais nos polos da Universidade Federal de Mato Grosso – Cuiabá, com

professores do próprio polo. Nesses encontros, houve momentos nos quais

debatíamos os textos do ambiente virtual, mas também outros textos, os quais os

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professores do polo indicavam com a finalidade de aprofundar nas temáticas

estudadas. Esses momentos contaram com debates, leituras, seminários, trabalhos

escritos e muitas trocas de experiências entre nós.

Tivemos algumas disciplinas presenciais no polo da Universidade Federal de

Mato Grosso – Cuiabá, as quais foram ministradas também pelos professores do

próprio polo, que nos possibilitou maior integração com o grupo, trocas de

experiências e aprofundamentos nas temáticas.

As disciplinas semipresenciais obrigatórias foram as seguintes: Problemáticas

da Educação Física; Seminários de Pesquisa Científica em Educação Física; Escola,

Educação Física e Planejamento; e Metodologia da Educação Física. As eletivas

semipresenciais dentro das linhas de pesquisa/atuação foram: Educação Física na

Educação Infantil; Educação Física no Ensino Fundamental e Educação Física no

Ensino Médio. As eletivas presenciais foram: Ensino das Ginásticas; Ensino dos

Jogos; e Pesquisa e Intervenção Pedagógica. Além da eletiva semipresencial:

Escola, Educação Física e Inclusão.

1.2 IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS CURSADAS PARA A REALIZAÇÃO DA

PÓS-GRADUAÇÃO

A primeira disciplina que cursamos foi a semipresencial “Problemáticas da

Educação Física”. Foi uma disciplina desafiadora pelo fato de ter muitas atividades e

um alto grau de complexidade das mesmas, em um momento de conhecimento do

uso do ambiente virtual. Navegar no AVA, inicialmente, gerou certa apreensão, pois

era algo novo e precisávamos aprender rapidamente, pois disso dependia a

execução das atividades com períodos para postagem estabelecidos. Os textos aos

quais tivemos acesso nessa disciplina foram bem escolhidos pelos organizadores,

pois trataram de temas relevantes e que foram ao encontro de minha realidade

profissional, de modo que pude me enxergar, em vários momentos nos textos.

Anteriormente, ora trabalhando sem material ou apoio no início de minha

profissão, ou quando tratava dos alunos indisciplinados e com falta de interesse, e

também quando aprofundaram sobre a busca de identidade da Educação Física, o

contato com textos específicos contribuiu muito para eu me situar como uma

profissional que está inserida nesse contexto, e entender que posso contribuir para

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melhoria de minha prática e dessa maneira para a Educação Física de maneira

geral. Posso dizer hoje, que sou uma profissional mais atenta às problemáticas da

Educação Física, conseguindo perceber os “porquês” dos problemas, o que ajuda

muito na busca de soluções.

Essa disciplina em especial tem muita relação com minha pesquisa de

mestrado, pois consegui pela leitura, análise, tarefas e debates dos textos,

desenvolver mais meu pensamento e delimitar meu objeto de estudo. Os textos

“Educação Física Escolar: entre o "rola bola" e a renovação pedagógica”, “Relação

entre ensinar a fazer e ensinar sobre o fazer na educação física escolar”, “Educação

Física como componente curricular da Educação Básica: aspectos legais”, “O

afastamento e a indisciplina dos alunos nas aulas de Educação Física escolar”,

“Inquietações no tratamento do esporte na Educação Física escolar, “Educação

Física escolar e a questão de gênero”, foram um marco na minha profissão, e

ajudam a nortear e compor meu trabalho acadêmico e minha prática profissional.

Creio que não teria lido tais textos tão cedo, não fosse o mestrado, pois,

infelizmente, no calor do dia a dia na escola, acabamos por focar muito nos

conteúdos e metodologias, as questões mais amplas e complexas da profissão não

tomamos conhecimento. Digo que passamos pelos problemas identificados, mas

não conseguimos às vezes entendê-los e por vezes nos culpávamos.

Todas as atividades foram muito importantes para que eu pudesse aprofundar

minhas reflexões e externar isso nas produções teóricas. Pois muitas vezes

conseguimos compreender o que lemos, mas existe dificuldade na produção escrita.

A cada produção que terminava me sentia mais preparada como profissional. Uma

atividade em especial teve maior significado para mim, tanto pelo seu alto grau de

dificuldade, quanto pelo seu resultado final que me agradou muito. Foi a construção

do “Mapa Conceitual”. Foi a atividade final da disciplina, na qual demandei muito

tempo e energia, pois a falta de familiaridade com o programa necessário para

construção do Mapa, a necessidade de encaixar todos os textos e relacioná-los e

tudo isso sendo gravado usando minha voz. Foi desafiador e me senti muito

produtiva quando consegui.

Outro momento desafiador foi a primeira avaliação nacional. Por falta de

experiência, tive dificuldade em começar a atividade e tive, assim, menos tempo

para fazê-la. Porém as questões foram bem elaboradas. Com o passar do tempo,

nas outras avaliações, percebi que aumentaram o tempo e esse era marcado a partir

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do momento que iniciava a prova. Penso que o contato via Fórum e os e-mails

contribuíram para que houvessem essas mudanças, pois nós pudemos conversar

entre nós e opinar em todos os momentos.

Os encontros presenciais dessa disciplina também tiveram relevante

contribuição para minha formação acadêmica e profissional. O professor da

disciplina abordou as temáticas do AVA e foi além, aprofundando ainda mais nos

problemas da Educação Física. Tivemos várias produções de textos realizadas

nessas aulas, além de um seminário, em duplas e trios, nos quais abordamos os

textos já citados, momento riquíssimo em que a troca de conhecimento e

experiência estiveram presentes.

A segunda disciplina semipresencial foi “Seminários de Pesquisa Científica

em Educação Física”. Essa disciplina foi dividida em três partes não consecutivas,

alternadas por outras disciplinas. O que ajudou no amadurecimento do nosso

pensamento crítico e científico. Tratou de conceitos básicos da Metodologia da

Pesquisa Científica. Conseguimos diferenciar a pesquisa científica do senso comum

e identificar problemas em nossas práticas, delimitando assim nosso objeto de

estudo.

A partir dos estudos dos textos propostos, elaboramos nosso Pré-Projeto de

Pesquisa e apresentamos para os colegas e professores no encontro presencial,

momento ímpar, no qual os colegas puderam apreciar e opinar sobre nossos

trabalhos, e a professora da disciplina deu excelentes contribuições para todos, além

de sua postagem no AVA. Temas como o plágio em pesquisas científicas, a

importância das Normas da ABNT, as maneiras de citar os autores no texto, bem

como a maneira de referenciá-los, os tipos de pesquisa, os diferentes instrumentos

para coleta dos dados, foram tratados ao longo dessas três partes da disciplina.

A terceira disciplina obrigatória semipresencial foi “Escola, Educação Física e

Planejamento”, tratando da função social da escola na especificidade da disciplina

Educação Física, bem como da importância do planejamento para as aulas.

Vários foram os textos abordados na disciplina, destaco “A Escola e a

Educação Física em Sociedades Democráticas e Republicanas”, “Educação Física:

Planejando o trabalho docente”, “Educação física na escola”, “Afazeres da Educação

Física na escola: planejar, ensinar, partilhar” e “O quê e como ensinar educação

física na escola”. Tais textos permitiram refletir sobre nossas concepções de mundo,

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de sociedade, de escola, em como não somos neutros em nossas decisões, e em

como isso influencia nossos planejamentos.

No que diz respeito às atividades no AVA, postamos nossos planejamentos e

tivemos acesso aos planos dos colegas, podendo assim analisar um plano escolhido

por nós e opinar sobre ele. Assim, pudemos comparar nossos planos, identificando

semelhanças e diferenças, e concluindo sobre a necessidade de um plano bem

elaborado, com conteúdos e objetivos bem traçados, que visem um modelo de

escola baseada em uma sociedade republicana e democrática. Nos encontros

presenciais, o professor aprofundou na temática e nos apresentou outros textos e

autores, além de atividades escritas e debates. As partes do planejamento:

Conteúdo, Objetivos, Metodologias, também foram bem abordadas. A disciplina

contou com a Avaliação Final, feita no ambiente virtual, no molde da avaliação da

disciplina 01.

A quarta disciplina semipresencial obrigatória foi “Metodologia do Ensino da

Educação Física”. Tendo como objetivo a contextualização sociocultural das

atividades, a análise de diferentes metodologias e o processo de interação aluno-

conteúdo-professor. Vários foram os textos que subsidiaram os estudos sobre tais

temáticas, dentre eles podemos citar: “Didática e trabalho docente: a mediação do

professor nas aulas”, “Os conteúdos da Educação Física na escola”, “Para ensinar

educação física: possibilidade de intervenção na escola”, “Práticas Corporais e a

organização do conhecimento” e “Pedagogia do desporto”.

A leitura desses e outros textos nos possibilitou a discussão sobre a didática e

o trabalho docente e as categorias da didática. Produzimos uma resenha crítica,

refletimos sobre nossa prática, fizemos leitura e reflexão sobre um Estudo de Caso,

várias discussões no ambiente virtual, e finalizamos com Atividade Avaliativa no

AVA.

Os encontros presenciais foram dirigidos pela professora do polo da

Universidade Federal de Mato Grosso, que explorou ainda mais os temas, nos

passando vários outros materiais, como livros e artigos em PDF, para posterior

análise, além de discussões sobre os tipos de professor e de ensino, tratamos

também sobre teoria do currículo e os diferentes saberes da Educação Física.

No que se refere às disciplinas eletivas dentro da linha de pesquisa/atuação,

que são elas “Educação Física na Educação Infantil”, “Educação Física no Ensino

Fundamental” e “Educação Física no Ensino Médio”, houve a necessidade de

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escolha de uma delas, o que foi feito levando-se em consideração a área de atuação

de cada um. No meu caso a escolha foi por “Educação Física no Ensino

Fundamental”. A disciplina teve como objetivo estudar as manifestações da cultura

corporal, e as formas de ensino mais adequadas para trabalhar com alunos desta

etapa.

Dentre os textos trabalhados, destaco: “Pensar a Educação Física na escola:

para uma formação cultural da infância e da juventude”, as “Diretrizes Curriculares

Nacionais Gerais da Educação Básica”, “Incoerências e inconsistências da BNCC de

Educação Física”, “A versão final da Base Nacional Comum Curricular da Educação

Física (Ensino Fundamental): menos virtudes, os mesmos defeitos”, “Cultura escolar,

reconhecimento e educação física”.

Tais textos serviram de base para a produção de diferentes atividades no

ambiente virtual. Produzimos um texto sobre como cada docente vem produzindo

respostas para o desafio de organizar e sistematizar o processo de ensino nessa

etapa de da Educação Básica, identificamos os documentos curriculares elaborados

em nossos respectivos estados e município, elaboramos o registro do processo de

construção curricular desenvolvido no ano de 2018, apresentamos um relato de

experiência de um tema da Cultura Corporal de Movimento, discutimos e

problematizamos os diferentes desafios colocados ao processo de Legitimação da

Educação Física no ensino Fundamental, além de conhecer e analisar relatos de

experiências de ensino de diferentes práticas corporais na Educação Física no

ensino fundamental.

Aprofundando os conhecimentos nos encontros presenciais, os textos foram

bem complexos, e com muitas produções, o que nos permitiu avançar em

conhecimento e em trocas de experiências, fortalecendo nossas certezas sobre a

necessidade de melhorar nossas práticas a partir dos estudos.

As eletivas presenciais foram cursadas integralmente no Polo da

Universidade Federal de Mato Grosso – Cuiabá, com os professores do respectivo

polo. Foram elas: Ensino das Ginásticas e Ensino dos Jogos. Nas aulas de Ensino

das Ginásticas, fizemos a leitura e análise de vários artigos científicos, sempre

tentando relacionar com nossas práticas como professores de Educação Física.

Dentre eles, cito “Linguagens do corpo: dimensões expressivas e

possiblidades educativas da ginástica e da dança”, “Ginástica na escola: Por onde

anda o professor”, “A Ginástica vai à escola”. Tais debates nos possibilitaram

20

reflexões sobre a importância de oportunizar aos nossos alunos, novas experiências

de sentir, relacionar com o corpo, e de discutir sobre o corpo na contemporaneidade.

E, por fim, da necessidade em criar novas possibilidades de educação do corpo, que

valorize o corpo e suas linguagens desvinculados dos interesses do mercado, por

meio do estímulo a criatividade, a confecção e exploração de materiais e da fusão

das linguagens artísticas e corporais.

A disciplina de Ensino dos Jogos, trouxe as implicações lúdicas no processo

de socialização de crianças a partir de sua escolarização. Conceituando e

problematizando o brincar, o brinquedo, a brincadeira, os jogos e a ludicidade, a

partir de diferentes autores. Autores como Caillois com o livro “Os jogos e os

homens” e Huizinga com “Homo Ludens”, foram abordados. Tivemos momentos de

debates, e construção de planejamentos com o conteúdo de Jogos, e

posteriormente, a execução da aula com todos. Momento de experiência corporal no

qual todos participaram. Penso que tal disciplina me fez refletir novamente sobre os

objetivos de tal conteúdo, muitas vezes visto como um meio e não como um fim em

si mesmo, porém agora, percebo que posso usá-lo tranquilamente como uma

ferramenta para atingir algum objetivo, mas muito mais do que isso, para nós da

Educação Física ele é o próprio fim. Não jogamos apenas para desenvolver nossas

habilidades cognitivas e motoras, mas porque gostamos, é prazeroso, além de ser

um momento de valorização e criação da cultura corporal.

Tivemos também a disciplina de “Pesquisa e Intervenção Pedagógica”,

disciplina presencial cursada no polo da Universidade Federal de Mato Grosso, na

qual discutimos vários textos, dentre eles cito “O significado do esporte na sociedade

contemporânea” de Pierre Parlebas, além do livro “Metodologia da pesquisa-ação”,

de Thiollent. A partir desse estudo pude me decidir pelo tipo de pesquisa que faria, a

pesquisa-ação, pesquisando junto aos alunos, indo a campo, para colher dados

reais e significativos da realidade, para a partir daí, fazer o confronto da realidade

com diferentes autores, na busca de entender melhor minha realidade e melhorar

minha prática.

A disciplina “Escola, Educação Física e Inclusão”, realizada via AVA, com

todo o suporte de nossa professora do polo, posso dizer que foram várias leituras

interessantes, análise de um filme “Vermelho como o céu”, e várias produções, além

de uma tarefa na qual fizemos uma investigação com um aluno incluso de nossa

escola. Temas como LDB, LDB para deficientes, Declaração de Salamanca,

21

Declaração de Jontien, diferenciação entre Escola Inclusiva e Escola Tradicional,

além de vários artigos científicos, nortearam nossa aprendizagem.

1.3 OUTRAS ATIVIDADES REALIZADAS

No decorrer do processo de minha formação, enquanto aluna do mestrado,

participei do IX Seminário de Socialização de Práticas de Estágio da Faculdade de

Educação Física da UFMT, realizado entre 03 e 05 de dezembro de 2018. Momento

no qual pude apreciar diversas apresentações dos alunos da graduação, além de

palestras significativas. Nesse evento tive a oportunidade de participar com uma

comunicação oral em forma de um relato de experiência sobre o conteúdo Lutas, o

que foi de grande valor para minha formação.

Com a familiarização com o ambiente virtual de aprendizagem, me interessei

em um curso de aperfeiçoamento online, e paralelamente ao mestrado, cursei o

curso de aperfeiçoamento em “Atendimento Educacional Especializado – AEE”, com

duração de 240 horas. A inclusão sempre foi tema que levo em consideração nas

aulas, e com a disciplina “Escola, Educação Física e Inclusão” e esse curso, me

sinto mais capacitada a trabalhar com alunos inclusos, com mais cuidado, atenção e

curiosidade em buscar soluções para que aprendam.

Fazendo parte das atividades extracurriculares, participei também do Semear,

Seminário de Educação do Araguaia, no qual houve vários diálogos e reflexões

sobre práticas educativas e pesquisas acadêmicas na Educação Básica.

Contribuindo também para meu amadurecimento acadêmico e profissional.

1.4 AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA VIVIDA NA PÓS-GRADUAÇÃO

Todos esses momentos, tanto no ambiente virtual, com as leituras, atividades,

avaliações e troca de experiências nos fóruns, quanto os momentos presenciais,

com leituras, seminários, troca de conhecimento e experiências, além dos momentos

extracurriculares, foram importantes no meu caminhar enquanto aluna e profissional,

bem como para a construção de meu projeto de pesquisa.

A experiência vivida na pós-graduação é bastante positiva, pois a vivência em

sala de aula eu já tinha, já que sou professora de Educação Física desde 2009, são

22

dez anos de profissão, esse tempo me fez amadurecer como pessoa e profissional.

E o fato de ter demorado dez anos para fazer o mestrado não foi negativo, pois a

vontade sempre existiu, faltava oportunidade, e percebo que hoje pela minha

experiência na área, ele foi mais proveitoso do que se eu tivesse entrado assim que

saísse da graduação, já que posso comparar e refletir sobre diversos momentos e

ações pedagógicas vivenciadas.

23

2 DESENVOLVIMENTO DO ENSAIO REFLEXIVO:

2.1 JUSTIFICATIVA

É um desafio acadêmico escrever esse texto, penso que além de ser um

modo de contribuir, mesmo que de maneira pequena, para a área da Educação

Física Escolar e de cumprir os trâmites legais para a obtenção do título de mestre, é

algo relevante para minha prática como professora, algo que coloca em cheque

minhas experiências pedagógicas, me fazendo pensar no novo.

Não que eu estivesse estagnada no tempo, sempre busco inovar nas

metodologias e estar inteirada das necessidades pedagógicas dos meus alunos,

porém, esse é um momento que essa ação – reflexão se faz de maneira mais

notória e significativa, pois o ato de pesquisar a prática aprofunda nossos

conhecimentos, e nos faz questionar nossas certezas. Além de envolver toda a

comunidade escolar de maneira sistemática, ao chamá-la para o debate, ao analisar

documentos como o Projeto Político Pedagógico, tudo isso contribui para a

legitimação da minha prática pedagógica como professora de Educação Física.

Nosso cenário geral, é uma Educação Física que já não tem os mesmos

objetivos de anos atrás, passamos por um momento de busca pelo novo, pela

legitimação da área, não somos mais o que éramos há vinte, trinta anos. É o que

González e Fensterseifer (2009), relatam como um momento entre o “não mais” e

“ainda não” na Educação Física. Sabemos bem o que não fazer, o que é

desaprovado entre os estudiosos e professores de nossa área, porém, ainda há um

caminho a percorrer. Isso faz parte da evolução dentro de nossa área, seguimos

rumo a uma mudança maior, de paradigma.

Estamos entre uma prática docente na qual não se acredita mais e outra que

ainda se tem dificuldades de se pensar e se desenvolver, pois o que nos legitimava,

a aptidão física e esportiva, não mais nos legitima e ainda não temos delimitado qual

o projeto de Educação Física seguir rumo a uma escola republicana e democrática.

(GONZÁLEZ e FENSTERSEIFER, 2009). Sobre o momento de legitimação pela via

esportiva, os autores explicam que

Esse processo, que ficou conhecido como a esportivização da Educação Física escolar e que foi hegemônico durante várias décadas, passou a ser questionado no transcurso dos anos de 1980 a partir daquilo que ficou conhecido como movimento renovador da EF brasileira. Movimento este que impulsionou mudanças em

24

diversas dimensões de nossa área (GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER, 2009, p. 10).

Com o movimento renovador, questionou-se o paradigma de aptidão física e

esportiva, entendendo que “uma das ações necessárias para transformar a EF seria

“elevá-la” à condição de disciplina escolar, tirando-a da categoria de mera atividade”

(BRACHT; GONZÁLEZ, 2005, Apud GONZÁLEZ ; FENSTERSEIFER, 2009, p. 11)

Em outras palavras, é da mão do movimento renovador que se coloca, talvez, pela primeira vez, um conjunto de questões que não faziam parte das preocupações da tradição desta área, e que balizam as teorias pedagógicas quando buscam legitimar um componente curricular num projeto educacional (GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER, 2009, p. 11).

Questões como: “Por que esta disciplina deve compor o currículo da escola?”;

“Quais são seus objetivos?”; “Como são sistematizados os conteúdos ao longo dos

diferentes níveis de ensino?”; “Como esses conteúdos devem ser ensinados?”;

“Como avaliar seu ensino?”, estiveram no centro do debate.

Ao apontar a Educação Física como uma área que está em transformação,

pode ser que para alguns isso soe como uma fragilidade, como se não tivéssemos

uma tradição acadêmica e escolar. Mas, pelo contrário, estamos nessa

transformação/evolução justamente por já termos um vasto estudo na área. Temos

um campo de estudo consistente, bem como conteúdos, objetivos, metodologias,

formas de avaliação, tudo isso nos permitindo entrar pela porta da frente nas

escolas, como um componente curricular na Educação Básica, como aponta a LDB

de 1996.

Vários são os debates em relação a essas mudanças pelas quais vem

passando a Educação Física escolar, porém, esses debates estão se dando muito

mais em nível acadêmico do que no chão da escola. Por isso, a necessidade de

uma pesquisa-ação que se desenvolva no dia a dia das aulas, que pesquise de fato

o que há de mais importante nesses momentos, a prática pedagógica, o

aprendizado dos alunos, trazendo à tona problemas reais e buscando soluções

práticas para esses desafios cotidianos.

Ao chegarmos na escola para trabalhar, já existe entre nossos pares,

professores, coordenação pedagógica, direção, alunos e pais de alunos uma

expectativa em relação as nossas aulas, cada um constrói essas expectativas com

25

base em suas experiências de vida. Segundo González e Fensterseifer (2009, p.

10),

(...) a EF estabeleceu uma relação simbiôntica com o esporte, por meio da qual esse fenômeno, em sua forma institucionalizada, acabou sendo praticamente hegemônico nas aulas de EF. A tal ponto de, no senso comum, ser plenamente possível confundir EF escolar com prática esportiva.

Visto isso, é provável que os pais e até mesmo a coordenação, direção da

escola e demais colegas tenham participado enquanto alunos de uma Educação

Física Esportivista, na qual o conteúdo central era o Esporte, e dentro desse,

geralmente o chamado por nós de “Quarteto Fantástico”, contemplando o

Futebol/futsal, handebol, voleibol e basquetebol, quando não, apenas uma dessas

modalidades, além de serem trabalhadas de maneira não inclusiva, na qual os mais

habilidosos eram priorizados, muitas vezes não havia uma sequência pedagógica

desses conteúdos, voltados para saberes contextuais, ou podemos nos referir aqui,

a saberes conceituais, muito menos aos saberes atitudinais, o foco era apenas no

saber fazer.

Sendo assim, caso esses pais ou profissionais da educação não tenham tido

outras experiências além dessas, como formações continuadas que abordassem a

temática, para o caso dos profissionais da educação, provavelmente terão como

expectativas que o professor de Educação Física, para que seja considerado um

bom professor, seja na realidade um bom técnico esportivo.

Já os alunos, como crianças, são especialistas em brincar, geralmente

possuem uma visão mais otimista sobre a Educação Física, sendo para muitos um

momento de lazer. Sabemos que para uma atividade ser considerada lazer, ela é

realizada em um tempo livre, descomprometido e traz prazer aos praticantes. Ou

seja, mesmo que a Educação Física tenha momentos prazerosos, ela não acontece

em um tempo livre, não se caracterizando assim, como lazer.

Mas é importante citar que um dos objetivos da Educação Física é justamente

a formação para o lazer, ou seja, que o aluno consiga desenvolver as práticas

aprendidas e aprimoradas nas aulas no seu cotidiano, e mais, que ele consiga

pensar criticamente sobre essas práticas, os locais possíveis de se praticar, os

materiais, enfim, penso que não é ruim a identificação pelos alunos da Educação

Física como um lazer à primeira vista, pois significa que gostam, porém é preciso

deixar claro a sua obrigatoriedade como um componente curricular obrigatório.

26

Já o professor de Educação Física formado nos últimos dez anos, em geral,

tem na sua grade curricular disciplinas voltadas para além do esporte, claro que

temos o futsal/futebol, handebol, voleibol e basquetebol, mas temos também o

atletismo, a natação, a ginástica, a dança, as lutas, os jogos e brincadeiras, além de

disciplinas que abordam a didática, o estágio, às voltadas para a saúde, como a

fisiologia, a anatomia, a biomecânica, e as humanas, com filosofia, sociologia,

antropologia, também a psicologia, todas voltadas para a educação. Ou seja, ao nos

formarmos, temos conhecimento de que a Educação Física precisa ser muito mais

do que esperam de nós e, as vezes, é o contrário do que alguns esperam, pois, no

caso dos que querem treinadores esportivos, a Educação Física caminha hoje para

a contramão disso, hoje sabemos que precisamos incluir todos os alunos,

independente de gênero, classe, etnia, e grau de habilidade física, cognitiva e de

deficiência física ou deficiência motora.

Assim, nos parece que a Educação Física tem muito a contribuir, no campo

do saber, junto aos alunos. Com base na experiência docente, evidencia-se que em

vários momentos, existem descompassos entre o que queremos/precisamos ensinar

com o que os alunos têm interesse em aprender. Entendendo que partir do que o

aluno conhece, se interessa, tem curiosidade, é um facilitador para a aprendizagem,

pensamos que precisamos estar atentos para não cair no desinteresse dos

conteúdos por parte dos mesmos. É nesse cenário de expectativas e anseios, de

professores e alunos, do ensino e da aprendizagem, que pretendemos explorar o

saber compartilhado por essa disciplina.

De maneira nenhuma queremos colocar esse professor como vítima ao trazer

esse cenário atual, queremos justamente nos colocar como sujeitos de nossas

ações, sabedores do mundo real que nos cerca e das possibilidades que temos

como educadores, para assim, buscarmos ferramentas de mudanças que se

adequem às necessidades.

A Educação Física escolar vem passando por várias mudanças, instigadas

por desafios que lhe foram lançados nos últimos anos. Uma mudança tanto de

objetivos e conteúdos, quanto ao sentido dado a ela pelos professores (de

transcender de atividade tout court para a pretensão de ser componente curricular),

e alunos e suas expectativas em relação a essa disciplina curricular.

Mudanças decorrentes de movimento interno da Educação Física, que se

desenvolveu a partir dos ares renovadores da década de 1980 em que o país

27

retomou a sua democracia pelo processo de redemocrarização da política e que foi

se espraiando para as outras instituições. Em relação a essa redemocratização

política, Darido e Rangel (2005), relatam que vários aspectos influenciaram a

Educação Física nesse período, como a participação direta da população nas

eleições do Poder Executivo, principalmente para a Presidência da República, a

liberdade acadêmica para pesquisar em todas as áreas do conhecimento e o

fomento de debates entre os profissionais e acadêmicos. Ainda segundo os autores,

“todas essas mudanças contribuem para que seja rompida, ao menos no nível do

discurso, a valorização excessiva do desempenho como objetivo único na escola” (p.

05). Em consonância com os autores acima, González e Fensterseifer (2009),

relatam que nos anos 1980, “questionou-se o paradigma de aptidão física e

esportiva que sustentava de forma extensiva as práticas pedagógicas da EF nos

pátios escolares” (p. 11).

Está se passando por um movimento, ainda em configuração, de mera

atividade passou a ser uma disciplina curricular, de igual importância em relação às

outras disciplinas escolares, com isso, houve o seu comprometimento com o projeto

político pedagógico da escola, com a formação de cidadãos críticos, autônomos,

atuantes no sistema democrático em que estamos.

Mudanças que ocorreram também em relação aos seus conteúdos e a forma

de trabalhar com os mesmos. A Educação Física passou de atividade voltada para

práticas esportivas, com caráter mais prático e menos reflexivo, para a busca de

práticas mais significativas e contextualizadas.

Essa tendência que envolve uma mudança paradigmática, tem como foco a

cultura corporal de movimento, com os conteúdos: Dança, Ginástica, Lutas, Jogos e

Brincadeiras Populares, Esportes e Práticas Corporais de Aventura. Devendo esses

conteúdos serem tratados em seus aspectos conceituais, procedimentais e

atitudinais, para a promoção de um ensino reflexivo (DARIDO; RANGEL, 2005).

Dessa maneira, o professor também precisa ser mais crítico, comprometido

com o projeto maior da escola e do Estado, sendo necessário um diálogo constante

consigo mesmo, com vistas de novos posicionamentos, com os colegas e com os

alunos, a fim de nortear seu trabalho, tornando-o significante e o justificando na

escola.

Vários são os problemas encontrados pelo professor durante sua prática

pedagógica, dentre eles, podemos elencar; a necessidade de uma renovação

28

pedagógica que fuja de práticas “rola bola”, conseguir relacionar o ensino do fazer

com o ensino sobre o fazer, a falta de conhecimento dos aspectos legais da nossa

área, o afastamento e a indisciplina dos alunos, a relação de gênero e o tratamento

dado ao esporte na Educação Física escolar. Panorama evidenciado e apontado nos

textos tratados na primeira disciplina “Problemáticas da Educação Física”, uma das

que configuram o currículo do Proef.

Identificando esses problemas como comuns à maioria das práticas dos

professores de Educação Física, temos condições de pensar em como enfrentar

essas problemáticas e apontar possíveis saídas.

Entender como vem se dando a atuação do professor no interior de suas

práticas pedagógicas, e como os alunos respondem a essas práticas, se participam,

se atribuem significados a elas e se de fato há uma relevância na aprendizagem, ou

se ocorre aprendizagem significativa desses conteúdos pelos alunos, parece ser

ainda uma problemática passível de se envidar esforços, tendo em vista o seu não

esgotamento nos campos acadêmico e disciplinar da Educação Física.

Percebemos com o passar dos anos escolares o crescente desinteresse pela

Educação Física, atrelado à indisciplina, que atrapalha muito o trabalho do professor

e na maioria das vezes não se atingem os objetivos propostos em sua plenitude

(DARIDO et.al, 2018).

É necessário, quando da oportunização das práticas propostas aos alunos,

bem como na diversificação nos conteúdos, que os alunos atribuam

sentido/significado, além de uma sequência que permita ao aluno evoluir nos

aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais dentro de tais conteúdos no

decorrer nos anos escolares. É o que aponta Darido; González; Ginciene (2018),

para esses autores o interesse pelas aulas de Educação Física diminui à medida

que os alunos evoluem nos anos escolares, e isso se dá por vários fatores, sendo

necessário uma valorização dos conhecimentos do componente curricular, dando

oportunidades a todos por meio de um trabalho inclusivo, que apoie e estimule os

alunos, rompendo com o histórico excludente da Educação Física.

Assim, levantou-se algumas questões norteadoras: O crescente desinteresse

dos alunos do nono ano, pode estar relacionado a determinadas metodologias de

ensino adotadas no decorrer do desenvolvimento das aulas e da repetição de

conteúdos sem sistematização no decorrer dos anos escolares? Como os alunos do

29

nono ano da escola pesquisada vêm construindo seus saberes na disciplina de

Educação Física? Quais os sentidos atribuídos a esses saberes pelos alunos?

Tendo-se as seguintes problemáticas: Como vêm se dando as aulas de

Educação Física no nono ano em um Centro Municipal de Educação Básica de

Barra do Garças - MT? Os conteúdos são tratados para além do saber fazer? Quais

os significados atribuídos às aulas pelos alunos? Quais princípios são levados em

conta no tratamento dos conteúdos/conhecimentos quando esses são abordados e

construídos nas aulas da Educação Física? Com quais conceitos ou categorias se

operam quando em uma aula de Educação Física os conteúdos /conhecimentos são

transmitidos ou reconstruídos de modo a se reposicionar criticamente?

2.2 OBJETIVO GERAL

- Entender como os alunos do último ano do ensino fundamental vêm

construindo seus saberes na disciplina de Educação Física.

2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Desenvolver uma pesquisa-ação junto aos alunos do nono ano do ensino

fundamental;

- Captar os sentidos da Educação Física para os alunos no nono ano do

ensino fundamental;

- Compreender quais princípios são levados em conta no tratamento dos

conteúdos/conhecimentos quando esses são abordados e construídos nas aulas da

Educação Física.

2.4 REVISÃO DA LITERATURA

2.4.1 Marco teórico

Ao pensarmos a Educação Física no atual cenário educacional, precisamos

situá-la como uma disciplina curricular obrigatória da Educação Básica, de acordo

com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, que

juntamente com as demais disciplinas, compõe um rol de conhecimentos e

30

habilidades consideradas básicas aos alunos dessa etapa de ensino. E assim, como

as demais, caminha rumo a uma educação libertadora, visando o exercício da

criticidade, autonomia, condizente a uma sociedade republicana democrática.

E como defende o Coletivo de Autores (1992), que é baseado numa

pedagogia crítico-superadora, com características diagnóstica, judicativa e

teleológica, de modo que nenhuma disciplina se legitima no currículo de forma

isolada, cada matéria só tem sentido pedagógico quando o seu objeto de estudo se

articula com os objetos de estudo das outras matérias, levando os alunos a fazerem

uma leitura da realidade, a partir de uma ética que representa os interesses de quem

julga e buscando uma direção transformadora.

Como um componente curricular obrigatório, a Educação Física tem igual

importância em relação às outras disciplinas, porém, o que a legitima é justamente

sua peculiaridade em relação aos conhecimentos procedimentais. É necessário

deixar claro que, essa peculiaridade, longe de a tornar simplista, descomprometida

com os objetivos maiores da escola, e reducionista a um “fazer por fazer”, a torna

sim, complexa e merecedora de reflexão, pois, ao mesmo tempo que nos

justificamos pelos nossos conteúdos procedimentais, diga-se, práticos, esses

conteúdos não são soltos e sem relação com o universo conceitual e atitudinal que

nos circunda.

Segundo Darido (2018), a partir dos anos 1980, a Educação Física passou a

receber várias críticas pelo seu modelo tradicional, descomprometido e reduzido à

prática esportiva, com prioridade no saber fazer, o que fomentou várias mudanças,

passando a Educação Física a tratar da cultura corporal de movimento e se

caracterizando como um componente curricular obrigatório. A autora afirma também,

que há ainda uma falta de tradição na dimensão conceitual da Educação Física, que

os professores quase não trabalham a dimensão sobre o fazer nas aulas, mesmo

afirmando que um dos objetivos da disciplina é o de levar o aluno a ter autonomia,

que é facilitada quando ele entende os porquês dos conteúdos.

É interessante refletirmos sobre algumas indagações feitas por Fensterseifer

e González (2009), os autores indagam se haveria atividade física, se nos

exercitaríamos, se haveria lazer, saúde, esportes, ginástica, danças, lutas se não

tivesse Educação Física, e concluem que haveria tudo isso, mas que a/na Educação

Física é local de praticar, refletir, dar novos significados e transformar as práticas

corporais existentes.

31

Dessa maneira, entendemos que a disciplina Educação Física, transcende às

práticas corporais para além do saber fazer, indo ao encontro de um saber sobre o

fazer. É o que afirma Darido (2018), quando defende que devemos “relacionar a

experiência corporal, a vivência das práticas corporais com o conhecimento sobre

essas práticas corporais”. (DARIDO, 2018, p. 2,).

Para González; Fensterseifer (2009), muito tem se discutido no campo

acadêmico da Educação Física, mas pouco desses estudos, de fato, se relacionam

com a realidade da prática na escola. Para esses autores, a Educação Física

caminha entre o “não mais” e o “ainda não”, ou seja, sabemos bem as práticas que

não são mais aceitas na nossa disciplina, o que não queremos, mas ainda não

sabemos bem o que podemos, devemos fazer, caminhamos nesse sentido de

descoberta do novo.

O estudo em questão se situa no campo da Educação Física escolar,

entendendo a Educação Física como uma disciplina curricular obrigatória, com seus

conteúdos e objetivos específicos, estando esses atrelados aos objetivos maiores da

escola, com esses conteúdos sendo tratados em seus aspectos procedimentais,

indo além, para os atitudinais e conceituais, no intuito de destrinchar essa prática

pedagógica para além do saber fazer.

De modo que nos interessa o caminho que percorreremos no trato com os

conteúdos e com ênfase nos alunos. Pois, para nós professores, parece claro a

necessidade do trabalho para além do saber fazer, porém, o que podemos observar

grosso modo, é que para os alunos as aulas nesse sentido acabam por se tornar

desinteressantes. É nesse universo que pretendemos entrar, a fim de afinar os

objetivos da Educação Física com os anseios dos alunos, sempre numa perspectiva

maior da educação como ferramenta de transformação social.

Pretendemos desenvolver a pesquisa, analisando as aulas de Educação

Física para além dos aspectos procedimentais, ou do saber fazer, fazendo um

recorte de um bimestre com alunos do nono ano.

O intuito foi o planejamento e a aplicação de aulas que atendessem aos

aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais dos conteúdos, aliados à recolha

de dados no decorrer desse processo, com o diário de campo, questionários,

debates e produções de textos. Foram levadas em consideração as concepções dos

alunos, suas ideias e críticas. Acreditamos que dessa maneira, a possibilidade de se

32

fazer mais significativa à presença dos alunos nas aulas no intuito da atribuição de

valores aos conteúdos por parte dos alunos.

2.4.2 As dimensões dos conteúdos

Dentre os vários conceitos de conteúdo, temos o entendimento de que os

“conteúdos formam a base objetiva da instrução-conhecimento sistematizada e são

viabilizados pelos métodos de transmissão e assimilação” (DARIDO, 2005, p. 65).

Ainda, segundo a autora, quando nos referimos aos conteúdos,

Estamos englobando conceitos, ideias, fatos, processos, princípios, leis científicas, regras, habilidades cognoscitivas, modos de atividade, métodos de compreensão e aplicação, hábitos de estudos, de trabalho, de lazer e de convivência social, valores, convicções e atitudes (DARIDO, 2005, p. 65).

Assim, o termo conteúdo pode ser aplicado de maneira mais ampla, podendo

corresponder à dimensão conceitual, que se refere ao que se deve saber, à

dimensão procedimental, que se refere ao que se deve saber fazer e à dimensão

atitudinal, que diz respeito a como se deve ser (DARIDO, 2005). Dessa maneira, um

determinado conteúdo, seja ele o esporte, a dança, ou, qualquer que seja é tratado

de modo mais completo.

A autora sugere diversos exemplos de como trabalhar essas três dimensões

nos conteúdos da Educação Física. Na dimensão conceitual podemos conhecer as

mudanças pelas quais passaram os esportes, na dimensão procedimental podemos

vivenciar fundamentos básicos dos esportes e na dimensão atitudinal, criar valores

como respeito aos adversários (DARIDO, 2005).

Darido (2005) defende que é com os conteúdos que os alunos podem analisar

e abordar a realidade, construindo uma rede de significados. E que

Na Educação Física escolar, por conta de sua trajetória histórica e da sua tradição, a preocupação do docente centraliza-se no desenvolvimento de conteúdos de ordem procedimental. Entretanto, é preciso superar essa perspectiva fragmentada, envolvendo, também, as dimensões atitudinal e conceitual (DARIDO, 2005, p. 68).

Ao trazermos tais conceituações, podemos de certa maneira classificar os

saberes, tal classificação pode ser útil no sentido de valorizar os saberes, mostrando

assim que o saber procedimental é o que diferencia e torna a Educação Física

33

legítima, porém, a dimensão do saber conceitual e atitudinal também existem, sendo

importantes para os alunos. Assim, fica evidente a importância de tratar os

conteúdos para além do saber fazer, buscando-se a criticidade dos alunos sobre os

vários temas abordados.

2.4.3 A relação dos alunos com o saber na Educação Física

A partir do entendimento de que a Educação Física é uma disciplina

curricular, que trata da cultura corporal de movimento, com conteúdos construídos

historicamente, entendemos que tais conteúdos agregam significados para quem os

aprende. Para entendermos melhor, faremos uso dos estudos de Charlot (2000),

que trata de modo interessante como o aluno estabelece as relações com o saber.

Charlot (2000) aborda a questão do fracasso escolar na perspectiva da

relação com o saber e a escola. Para o autor, o termo “fracasso escolar”, não é

considerado um objeto de pesquisa preciso. Aborda também as diferenças entre

posições sociais, como causadoras de tal fracasso, o que é defendido pela

sociologia da reprodução. Apesar de expor tal perspectiva, o autor vai além dela em

sua análise, propondo uma sociologia do sujeito, entendendo que o fracasso escolar

precisa ser pensado a partir da relação com o saber e que as diferenças sociais

influenciam, mas não são determinantes nesse caso. Traz ainda as diversas figuras

do “aprender”:

A expressão “fracasso escolar” é uma certa maneira de verbalizar a experiência, a vivência e a prática; e, por essa razão, uma certa maneira de recortar, interpretar e categorizar o mundo social. Quanto mais ampla a categoria assim construída, mais polissêmica e ambígua ela é (CHARLOT, 2000, p. 13).

Sendo uma questão que remete para vários debates, como o aprendizado, a

eficácia dos docentes, o serviço público, a igualdade de oportunidades, modos de

vida, entre outras. Charlot (2000, p. 14) cita que esses objetos “mediáticos”,

“enquanto inscritas em relações sociais de natureza diversa, prestam-se muito bem

para um uso ideológico”. Correndo-se o risco de o pesquisador confundir objetos

“sociomediáticos” com os objetos de pesquisa. Não que os mediáticos não devam

ser estudados, mas o pesquisador deve procurar proteger-se contra as evidências, e

mesmo não sendo epistemologicamente e sociologicamente neutro, deve dar a

34

palavra aos envolvidos nas situações que está estudando, descrevendo, escutando

e teorizando.

Charlot (2000) defende que o “fracasso escolar” não existe, apesar dos

fenômenos designados sob essa denominação serem reais, o que existe são alunos

em situação de fracasso, histórias escolares que terminaram mal. Esses alunos é

que devem ser analisados.

Nessa perspectiva, os alunos devem ser analisados em suas relações com o

saber nas aulas de Educação Física. A falta de participação nas aulas, o

desinteresse, a indisciplina, a não aprendizagem, passam a ser entendidas como

objetos “sociomediáticos”, com causas genéricas se não forem analisados pela

relação do saber com os alunos.

“Nascer é ingressar em um mundo no qual estar-se-á submetido à obrigação

de aprender. Ninguém pode escapar dessa obrigação, pois o sujeito só pode ‘tornar-

se’ apropriando-se do mundo” (CHARLOT, 2000, p. 59). Aprender pode ser adquirir

um saber, como um conteúdo intelectual, dominar um objeto ou uma atividade. O

aprender é uma questão mais complexa do que o saber, pois ao mesmo tempo em

que se procura adquirir um tipo de saber, existem, também, outras relações com o

mundo. Ou seja, o saber deve ser estudado e entendido a partir da relação mais

ampla do sujeito com o mundo.

Para Charlot (2000), existem várias maneiras de o sujeito se relacionar com o

mundo, e o saber é uma delas:

Adquirir saber permite assegurar-se um certo domínio do mundo no qual se vive, comunicar-se com outros seres e partilhar o mundo com eles, viver certas experiências e, assim, tornar-se maior, mais seguro de si, mais independente (CHARLOT, 2000, p. 60).

Chartlot (2000) traz a luz vários autores como Marx, Freud, Nietsche,

Bourdieu e Foucault para fundamentar sua posição de que o homem, em sua

constituição, não corta todos os vínculos, como queria a filosofia clássica, em que a

essência do homem se constituía pela razão, pela mente. Essa concepção filosófica:

“Trata-se na verdade de cortar todos os vínculos do sujeito, para conservar apenas

um: a relação do sujeito enquanto Razão com o saber enquanto Ideia” (p. 60). Os

autores contemporâneos aos quais remete o leitor, advogam que a razão é uma

forma de se relacionar com o mundo, que pode se revestir de outras formas, que

35

não pertencem ao domínio da razão tout court, de modo que um sujeito de saber

carrega as mais variadas dimensões do sujeito.

36

3 PERCURSO INVESTIGATIVO

Com vistas à elucidação de uma dada realidade educacional e as

possibilidades de analisar e intervir na mesma, pode-se fazer uso de uma pesquisa

científica, sendo necessário traçar um método, uma metodologia, que permita fazer

um recorte temporal do nosso objeto de estudo. No nosso caso, pretendemos

elucidar o universo pedagógico do ensino e aprendizagem da disciplina Educação

Física junto aos alunos do nono ano de um Centro Municipal de Educação Básica de

Barra do Garças - MT, fazendo uso de um tipo de pesquisa comum na área das

humanas e, principalmente, da educação, a pesquisa-ação. Um tipo de pesquisa

que permite contato direto entre o pesquisador e seu objeto de estudo, e a partir daí,

colher dados, por meio de instrumentos selecionados, que permitam entender o

processo de ensino, bem como, a maneira que vem se dando a aprendizagem dos

alunos.

As pesquisas em ciências exatas, com técnicas específicas que buscam

resultados precisos, sempre tiveram certo prestígio no meio acadêmico, e por muito

tempo tentou-se fazer uso desse tipo de pesquisa na área da educação. Porém, a

educação é uma área bastante complexa, sendo um fenômeno situado dentro de um

contexto social e em uma realidade histórica que precisam ser levadas em

consideração quando se deseja entender e intervir para melhorar os sistemas

educacionais (ARAÚJO PENITENTE et. al 2012). Pois existem diferentes realidades,

e nem sempre um mesmo conhecimento ou técnica aplicadas em uma dada

realidade terá a mesma validade ou os mesmos resultados, principalmente no que

se refere à área da educação. Por isso, se faz relevante pesquisar nossa prática, e

sermos críticos em relação a ela.

Ao entrar na universidade, nos encontramos em um novo universo, o qual é

baseado em um tripé formado pelo ensino, pesquisa e extensão universitária. E,

assim, tendo acesso a textos científicos, artigos, monografias, dissertações, teses,

além da prática de estágio, construção de textos científicos, começamos a refletir

melhor nossa prática. Porém, ao iniciar como professores, ainda estamos longe de

sermos o profissional que almejamos, que nossos alunos e sociedade merecem. É

comum ouvir de colegas que já estão na labuta, há algum tempo, que a realidade é

muito diferente da teoria que estudamos, e que precisamos nos adaptar.

37

Entendo que de fato é necessário uma adaptação, porém isso não significa

que devemos abandonar o que aprendemos e fazer a prática como bem

entendemos ou como já havia sendo feito anteriormente, e sim, que precisamos

confrontar nossos conhecimentos adquiridos com a realidade da qual agora fazemos

parte. É interessante que esse confronto seja feito pela pesquisa científica, que

segundo Araújo Penitente et. al (2012), é um trabalho estruturado, com objetivos

claros e metodologias definidas. A pesquisa possui importância na formação dos

professores, se o professor não investiga sua prática, pode correr o risco de ser um

reprodutor do ensino, desconsiderando seu ponto de vista e sua realidade (ARAÚJO

PENITENTE et. al 2012).

Poucos são os professores que após o término da licenciatura, dão sequência

a seus estudos no mestrado. A dificuldade de conciliar os estudos com a jornada

intensa de trabalho, bem como a pouca oferta de vagas em um número reduzido de

universidades, além de vários requisitos, como avaliação escrita, prova de

proficiência, muitas vezes o projeto de pesquisa, e até entrevista, podem ser fatores

que levam os mestrados serem frequentados por um grupo menor.

O mestrado profissional em educação é ofertado especificamente para

professores, o que nos dá a dimensão da importância desse tipo de mestrado, pois,

os que ali estão, têm conhecimentos acadêmicos que já foram confrontados na

prática pedagógica diária, ou seja, possuem experiência, e podem aprofundar seus

conhecimentos, pesquisando sua prática. Para Araújo Penitente et. al (2012, p. 684):

“O professor que pesquisa é mais criativo e dinâmico, envolvendo o aluno em suas

aulas mediante novas atividades e ideias, modificando sua prática educativa”.

O Mestrado Profissional em Educação Física em Rede, promovido pela

Unesp em parceria com várias universidades públicas e comunitárias, é o primeiro

mestrado profissional na área da Educação Física, e vem atender uma grande

demanda de professores interessados a melhorar suas práticas pedagógicas.

Permitindo debater temas importantes e contemporâneos de nossa área, dialogar

com vários professores de localidades diferentes, identificando pontos comuns e

divergentes entre nós, bem como o contato com textos de autores que tratam de

temas relevantes via AVA, no qual foram desenvolvidas diferentes atividades

desafiadoras, nos possibilitando entender melhor a dimensão da educação e da

Educação Física no atual contexto, além dos encontros presenciais para troca de

experiência e conhecimento entre os pares e com os professores.

38

A pesquisa-ação nos parece ser um tipo de pesquisa pertinente para o

trabalho final desse tipo de mestrado, pois nos permite refletir e buscar respostas

para nossas dúvidas diárias do cotidiano escolar. Thiollent (2011, p. 20), a define

como:

Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2011, p. 20).

Assim, o professor-pesquisar pode identificar dificuldades presentes em sua

prática, elucidando sua realidade e buscando possíveis soluções para os problemas

apresentados. Esperamos que assim, possamos fazer a diferença na educação dos

alunos, contribuindo para a sua formação crítica e sua atuação ativa na sociedade.

Existe na pesquisa-ação muita interação entre o pesquisador e a situação

investigada, com objetivo de “resolver ou pelo menos, esclarecer os problemas da

situação observada” (THIOLLENT, 2011, p. 23).

3.1 UNIVERSO DA PESQUISA

De início, a pesquisa seria aplicada na Escola Estadual Senador Filinto

Müller, na cidade de Barra do Garças, na qual a professora pesquisadora é lotada.

Porém, no momento de começar o trabalho de campo, a rede estadual encontrava-

se em greve. A greve iniciou-se no dia 24 de maio de 2019 e terminou no dia 14 de

agosto de 2019, mantendo ainda em “estado de greve”, ou seja, a qualquer

momento, poderia voltar a greve, a depender das negociações entre o governo e a

categoria dos profissionais da educação. De acordo com o cronograma da pesquisa,

a etapa de coleta dos dados se faria no terceiro bimestre, início de agosto, portanto

encontramos uma barreira no andamento da pesquisa. Em conversa entre

professora pesquisadora e orientador, decidiu-se pela aplicação da pesquisa na rede

municipal de ensino na mesma cidade.

A pesquisa-ação aconteceu em Centro Municipal de Educação Básica, em um

bairro periférico, na cidade de Barra do Garças – MT, que atualmente “atende a

Educação Infantil: Creche III - período integral, Pré I e Pré II, perfazendo um total de

117 alunos. No Ensino Fundamental atende tanto os anos iniciais, quanto os anos

39

finais com um total de 530 alunos” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2019, p.

06). O Centro Municipal de Educação Básica, conta com 64 funcionários,

funcionando no turno matutino e vespertino, com 17 turmas de alunos no matutino e

outras 17 no vespertino. Conta com duas turmas de nono ano, A e B, ambas

funcionando no matutino e com 25 e 26 alunos, respectivamente (PROJETO

POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2019).

Houve a necessidade de escolha de um nono ano para ser objeto de nosso

estudo, visto que o objetivo não é comparar um grupo com o outro, e nem uma

pesquisa quantitativa, mas sim uma pesquisa-ação com uma única turma,

acompanhando o processo de planejamento, execução e resultados das aulas

propostas. Dessa maneira, a pesquisa faz-se no nono ano, turma “A”. No total foram

16 aulas, realizadas durante 8 encontros. Nos dias 08, 15, 22 e 29 de agosto e

05,12, 19 e 26 de setembro.

Segundo o PPP do Centro Municipal de Educação Básica pesquisado, 50%

dos alunos encontram-se em uma situação sócio econômica baixa, em situação de

vulnerabilidade e risco social (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2019). O

horário de aulas dos alunos do 9º ano é das 07:15h às 11:30h, com as aulas de

Educação Física acontecendo as quintas-feiras nas duas primeiras aulas, das

07:15h às 9:15h.

De acordo com o PPP do Centro Municipal de Educação Básica,

“culturalmente o bairro não oferecia estímulos, seja na cultura, no esporte, no lazer,

porém com o passar do tempo percebe-se um crescimento positivo na melhoria e

aquisição de conhecimentos acerca dos bens sociais, culturais, linguísticos”

(PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2019, p. 07).

A escola atribui o número considerável de transferências, ao desemprego e à

falta de moradia própria, “pois às famílias procuram empregos e isso faz com que

mudem constantemente de cidade e/ ou bairros o que gera rotatividade desses

alunos” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2019, p. 07).

Ao analisar o Projeto Político Pedagógico, podemos identificar como objetivos

do Centro Municipal de Educação Básica:

• Desenvolver no educando a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores;

40

• Compreender os direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, da família e do Estado, e dos demais grupos que compõem a comunidade;

• Compreender o respeito, a dignidade e as liberdades fundamentais do homem;

• Desenvolver de maneira integral a personalidade humana e sua participação na obra do bem comum;

• Preparar o educando para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhe permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades do meio

• Preparar o educando com necessidades especiais para o exercício da cidadania fornece-lhe meios para progredir no trabalho e estudos posteriores (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2019, p. 08).

Todo o trabalho pedagógico referenciado no Projeto Político Pedagógico da

escola, visa à formação integral do aluno, como cidadão crítico, reflexivo e atuante

em sua realidade.

São objetivos do Ensino Fundamental, de acordo com o PPP:

• O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

• A compreensão do ambiente natural e social do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

•O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidade, e a formação de atitudes e valores;

• O fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social;

• O desenvolvimento de uma postura crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;

• O conhecimento e a valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais;

• O desenvolvimento do sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para atingir com perseverança a busca de conhecimento e do exercício da cidadania.

41

• O Bloco Pedagógico de Alfabetização e Letramento terá também como objetivo a compreensão do funcionamento de escrita; o domínio das correspondências grafo fônicas, mesmo que dominem poucas convenções ortográficas irregulares e poucas regularidades que exijam conhecimentos morfológicos mais complexos; a fluência de leitura e o domínio de estratégias de compreensão e de produção de textos escritos;

• A Educação Especial terá também como objetivo a preparação do educando para o exercício da cidadania, fornecendo-lhe meios para progredir no trabalho e estudos posteriores (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2019, p. 09).

O desafio de atingir tantas metas traçadas em seu Projeto Político

Pedagógico, é dificultado por “muitos problemas e que parece não ter possibilidade

de resolução” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2019, p. 13). O PPP denuncia

o desinteresse pelas aulas, atraso dos alunos, negligências de todos os tipos,

chegando até à agressão física grave. “O que tem gerado muitas preocupações e

questionamentos sobre a conduta, a postura e os comportamentos desviantes dos

alunos. É preocupante a indisciplina, o desrespeito à autoridade e ao patrimônio

público” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2019, p. 16).

O objetivo geral da Educação Física para o Ensino Fundamental do Centro

Municipal de Educação é:

Contribuir para a formação integral e para a qualidade de vida dos educandos, possibilitando uma reflexão sobre suas potencialidades corporais, e por meio de sua autonomia desenvolver sua função integrante, dependente e agente de transformação social, sendo dessa forma considerados todos os aspectos: sociais, psicoafetivos, emocionais e corporais, de maneira interligada (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, p. 29, 2019).

E aprofundando nos objetivos da Educação Física, temos os objetivos do 9º

ano:

[Desenvolver] Fundamentos básicos, intermediários e avançados do futsal, voleibol, handebol e basquetebol; Ética; Valores morais; Noções de higiene e saúde; Distúrbios alimentares; Alimentação natural; Atividades rítmicas e expressivas (dança, música e teatro); Coordenação Motora; Jogos cooperativos (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, p. 41, 2019).

Há uma preocupação em relação à aprendizagem dos diferentes conteúdos

da Educação Física, bem como na busca de um ensino que promova a reflexão e a

criticidade dos alunos.

42

3.2 PARTICIPANTES

Foram sujeitos dessa pesquisa os alunos do nono ano “A”, de um Centro

Municipal de Educação Básica de Barra do Garças. São um total de 25 alunos,

desses, 13 são meninos e 12 são meninas. A idade varia entre 13 a 14 anos. Em

sua maioria reside em bairros próximos a escola e o nível sócio econômico da

maioria é de baixa renda.

3.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS

O tipo de pesquisa desenvolvida é a pesquisa-ação, na qual as aulas são

planejadas em parceria entre o professor de Educação Física da turma e a

professora pesquisadora.

Um dos principais objetivos dessas propostas consiste em dar aos pesquisadores e grupos participantes os meios de se tornarem capazes de responder com maior eficiência aos problemas da situação em que vivem, em particular sob forma de diretrizes de ação transformadora. Trata-se de facilitar a busca de soluções aos problemas reais para os quais os procedimentos convencionais têm pouco contribuído. Devido à urgência de tais problemas (educação, informação, práticas políticas etc.), os procedimentos a serem escolhidos devem obedecer a prioridades estabelecidas a partir de um diagnóstico da situação no qual os participantes tenham voz e vez (THIOLLENT, 2011, p. 14).

Dessa maneira, a pesquisa-ação na área da educação nos dá condições de

produzir informações e conhecimentos de uso mais efetivo a nível pedagógico. “Tal

orientação contribuiria para o esclarecimento das microssituações escolares e para

a definição de objetivos de ação pedagógica e de transformações mais abrangentes”

(THIOLLET, p.85, 2011). Promovendo assim, a participação dos envolvidos no

processo de aprendizagem na busca de soluções aos seus problemas.

Ainda segundo Thiollent (2011), existem várias técnicas para coletar dados

em uma pesquisa-ação, como entrevistas coletivas, entrevistas individuais aplicadas

de modo aprofundado, também cita os questionários convencionais, aplicados em

maior escala, além de técnicas antropológicas como os diários de campo e histórias

de vida.

A aplicação e o comando da aula fazem-se, inicialmente, pelo professor da

turma e da pesquisadora. Em um primeiro momento aplicamos um questionário

43

diagnóstico junto aos alunos, com perguntas abertas, a fim de identificar o que a

Educação Física representa para eles, o que já aprenderam, quais suas

expectativas e dificuldades em relação a essa disciplina. Posteriormente, foram

analisados o Projeto Político Pedagógico, bem como o plano anual do professor de

Educação Física, a fim de identificar os objetivos de aprendizagem dos alunos para

esse ano escolar. Fazendo assim, um confronto entre os resultados colhidos na

pesquisa dos questionários com as informações oferecidas pelos documentos

orientadores da área.

Em relação ao uso do questionário, Thiollent (p.75, 2011), descreve que “a

concepção do questionário é intimamente relacionada com o tema e os problemas

que forem levantados nas discussões iniciais e com as hipóteses ou diretrizes

correspondentes”. O autor explica, que no caso da pesquisa-ação o questionário não

é suficiente em si mesmo. Concordamos com essa afirmação, por isso fizemos uso

também do diário de campo.

Utilizou-se durante as aulas o instrumento Diário de Campo, de modo a obter

uma melhor representação da realidade investigada. Segundo Zabalza (2004), o

diário nos permite um distanciamento e recupera o controle sobre a situação

narrada, permitindo uma melhor análise das ações. No caso específico da pesquisa-

ação, o autor afirma que “é muito importante documentar o processo para se

conhecer as dificuldades que vai se enfrentando, as proposições utilizadas, as

reações que foram ocorrendo entre os diversos participantes, etc.” (ZABALZA,

p.142, 2004).

A metodologia e os instrumentos avaliativos foram discutidos entre o

professor de Educação Física e a professora pesquisadora. Ao final da sequência da

Unidade Didática implementada, foi aplicado o questionário final para identificar o

significado atribuído as aulas pelos alunos, de modo a perceber se houve

aprendizagem significativa e mudanças de atitude ao trabalhar para além do fazer.

44

4 EDUCAÇÃO FÍSICA NO NONO ANO – ANÁLISE A PARTIR DOS SABERES

DOS ALUNOS

4.1 EXPERIÊNCIA DOS PRIMEIROS MOMENTOS EM CAMPO

Devido à greve na rede estadual de ensino e com o prazo para a qualificação

no mestrado estabelecido, sendo esse um momento que haveria a necessidade de

apresentação parcial dos dados, houve a necessidade de migração da pesquisa da

rede estadual para a rede municipal de ensino. A coleta não havia sido iniciada,

então não houve problemas nesse sentido. Procurei inicialmente o CEFAPRO, que

me dirigiu para a Secretaria Municipal de Educação, lá fui instruída a procurar

determinada escola. Sendo assim, procurei primeiro o professor de Educação Física.

Com sua aprovação, procurei a diretora que acatou a proposta. Isso tudo se

deu no mesmo dia. Ficando na época, marcada a próxima semana para o início da

pesquisa. Realizamos, posteriormente, a esse primeiro momento, o primeiro

planejamento de aula. Pedi o PPP da escola para análise, bem como o plano anual

e bimestral da Educação Física. Os planos foram vistos no mesmo dia, o PPP após

alguns dias. O professor explicou que no terceiro bimestre, trabalharia dois

conteúdos: “Conhecimentos sobre o corpo: Saúde e qualidade de vida” e “Esporte –

Handebol”.

Para a aula dessa semana, iria revisar o conteúdo da última aula, na qual foi

aplicada uma avaliação escrita, pediria aos alunos que copiassem o conteúdo da

prova após a entrega das correções. E posteriormente, teriam um momento “livre”,

que havia combinado com os alunos. Ficamos acertados de seguir seu plano, de

acordo com a metodologia já traçada para a aula, acrescentando a minha

apresentação formal, bem como explicações sobre a pesquisa e entrega das

autorizações para os pais assinarem.

Houve um receio inicial de minha parte, em desenvolver a pesquisa em outra

escola, pois já havia planejado que seria na rede estadual. Deixei clara a questão do

anonimato, da seriedade da pesquisa, que eu estaria em campo, sendo uma

“pesquisa-ação”, e que daria uma devolutiva do estudo.

O professor foi aberto, conversando sobre suas aulas, concordou sem receio

em participar. Deixei claro para ele, que a intenção era seguir com o mesmo

conteúdo que ele havia planejado, porém planejaríamos juntos as metodologias,

45

trabalhando de maneira sistemática para entender nossa realidade, bem como

nossos alunos, e como esses estão respondendo ao nosso trabalho. Ao conversar

com o professor, pude comparar nossas realidades, e perceber que passamos por

situações parecidas, como a busca de identidade e legitimação de nossa área.

Identifiquei que o professor planejou dois conteúdos: o Esporte, mais

especificamente o handebol, e; Saúde e Qualidade de Vida, ênfase no exercício

físico para adolescentes, de maneira que pela sua fala fica claro que em sala

trabalharia a parte “teórica” com o tema Saúde e Qualidade de Vida” e em quadra,

na aula “prática” trabalharia o handebol. O professor me explicou que na próxima

aula, iriam refazer a prova que corrigiu, sobre “os benefícios do exercício físico” e

que depois iria ter “aula livre”, pois foi o que havia combinado com os alunos.

Dessa maneira, seguimos a proposta do professor. Apresentei-me à turma,

explicando a proposta da minha pesquisa, e falando como seria interessante para

eles serem sujeitos de uma pesquisa de mestrado, que o anonimato seria garantido,

e assim passei as autorizações para eles levarem para os responsáveis assinar.

O professor entregou as avaliações corrigidas, e passou no quadro as

respectivas respostas para os alunos copiarem. Após esse momento, aproveitei para

passar o Questionário Inicial da pesquisa. Após eles responderem, fomos todos para

a quadra, local onde os alunos desenvolveram a “aula livre”, que haviam combinado

com o professor.

4.2 IMPRESSÕES SOBRE O QUESTIONÁRIO INICIAL

Nesse dia, três alunos faltaram, ficamos com 22 alunos, desses um aluno se

recusou a responder o questionário.

Ao serem questionados sobre o entendimento a respeito da Educação Física,

responderam:

Aluno 01: É um meio de se comunicar com povos diferentes e trabalhar em equipe.

Aluno 02: Aulas de futebol.

Aluno 03: A educação física seria o movimento em forma de conhecimento e prática.

Aluno 04: Pra mim é uma aula tanto prática como na sala com conteúdo relacionado ao nosso corpo.

Aluno 05: É uma matéria que nos ensina mais sobre o esporte.

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Aluno 06: A aprendizagem do corpo humano.

Aluno 07: É uma aula para nos desenvolver em questão do esporte.

Aluno 08: Esportes.

Aluno 09: Educação Física é ter aulas prática e aula teórica.

Aluno 10: Educação Física é uma disciplina que estuda o corpo físico e os músculos. E tem jogos na quadra com futsal e vôlei.

Aluno11: Educação Física é uma aula que ensina várias coisas como gasto energético, primeiros socorros, e também te aula prática.

Aluno 12: Educação Física é estudar sobre os primeiros socorros, como se cuidar faz exercícios.

Aluno 13: Educação Física é uma matéria onde você pratica esportes.

Aluno 14: É uma disciplina que aprendemos mais que todas, mas também sobre nossa saúde.

Aluno 15: Ed. Física é uma matéria para praticarmos nosso esporte e fazer exercícios.

Aluno 16: É uma matéria de fazer exercícios, jogar bola.

Aluno 17: é uma matéria muito boa pra mim uma das melhores, mas por causa que mais joga bola mais enfim aprendo várias coisas que me ajuda muito.

Aluno 18: é uma matéria que aprendemos muitas coisas sobre competição e atletismo e jogos.

Aluno 19: É uma atividade física que pratica exercício e várias atividades.

Aluna 20: Educação física é tudo para mim porque eu emagreço.

Percebemos nas falas dos alunos que a maioria entende a Educação Física

como uma disciplina que trata dos esportes e da saúde/qualidade de vida. Os alunos

distinguem as aulas teóricas das práticas, de acordo com o conteúdo, no caso ao

citarem os esportes, o fazem apenas levando em consideração o caráter

procedimental, e quando falam em primeiros socorros e saúde o fazem levando em

consideração as aulas em sala, com um caráter mais conceitual.

Segundo Darido [et. al.] 2018,

[...] a Educação Física passou por diversos questionamentos quanto ao papel na escola, colocando em suspeição sua condição de área de conhecimento. Nesse escopo, o conjunto de abordagens que dominaram a cena de Educação Física ao longo dos anos 1980, conhecidas como Movimento Renovador, proporcionou encaminhamentos importantes para a área, colocando os objetivos da Educação Física escolar no centro dos debates. Uma das metas desse movimento foi atribuir maior significado à disciplina, transpondo visões reducionistas que a colocavam na condição de espaço de não aprendizagem (DARIDO et. al. p. 07, 2018).

47

Os autores explicam ainda que foi nesse cenário que o conceito de cultura

corporal de movimento ganhou força. Sendo um conceito usado para se referir ao

conjunto de práticas corporais que foram produzidas e transformadas com o

desenvolvimento da humanidade. Podemos destacar “os jogos e as brincadeiras, os

esportes, as danças, as lutas, as ginásticas e as práticas corporais de aventura”

(DARIDO et. al. p. 07, 2018). Tendo assim, função de integrar os alunos no universo

das diferentes práticas corporais, instrumentalizando-os para usufruírem desses

saberes de maneira contextualizada e autônoma.

Ao serem questionados se consideravam a Educação Física importante para

sua formação, obtivemos as seguintes respostas:

Aluno 01: Sim, porque ajuda na socialização e no trabalho em equipe.

Aluno 02: Sim, pois a Educação Física é uma aula para se distrair.

Aluno 03: Sim, porquê ajuda fisicamente, como amenizando a depressão e saúde.

Aluno 04: Sim, pelos alongamentos e o ensino que nos aprendemos nas aulas.

Aluno 05: Sim, para a qualidade de vida e para a profissão, mesmo não tendo uma em mente.

Aluno 06: Sim. Por que sem ele não sabemos sobre nosso corpo.

Aluno 07: Sim, pois nos dá um pouco de experiência com o esporte.

Aluno 08: Sim.

Aluno 09: Sim para fazer exercícios.

Aluno 10: Sim. Pois estou começando a crescer no esporte.

Aluno 11: Sim por que la na frente você vai precisar, ex: uma mulher sofreu um acidente e o carro ta pegando fogo e ela desmaia e corre risco de morrer e a ambulância ta longe você tive que reanima a pessoa.

Aluno 12: Sim, porque posso grandes coisas pra ajudar na vida se algo acontecer.

Aluno 13: Sim, porque tem muitas pessoas que precisam da educação física para realizar seus sonhos.

Aluno 14: Sim, traz varias coisas necessárias sobre as quais precisamos.

Aluno 15: Sim, pois aprendemos várias coisas sobre nosso corpo e exercícios.

Aluno 16: Sim, porque você faz exercícios.

Aluno 17: Sim por que o esporte ajuda muito a saúde

Aluno 18: Sim. Porque a gente aprende muita coisa sobre esporte

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Aluno 19: Sim porque através da Educação Física que nós aprendemos como devemos ajudar as pessoas

Aluno 20: Sim por que eu faço Educação física.

Sobre a importância da Educação Física no Ensino Fundamental, Darido et.al.

(2018), citam que

A Educação Física na escola deve proporcionar, por meio das práticas corporais, a igualdade de oportunidades, a reflexão crítica, a inclusão, o respeito às diferenças, sejam elas étnicas, religiosas, sociais ou de gênero, o conhecimento histórico e os saberes articulados com a promoção de diferentes significados relacionados com essas práticas, em especial os ligados à saúde e ao lazer (DARIDO et.al. p. 07, 2018).

Todos os alunos que responderam o questionário disseram acreditar que a

Educação Física é importante para sua formação. Ao justificarem citaram o

aprendizado acerca do corpo, da saúde, do exercício físico, dos primeiros socorros e

também alguns citaram os esportes.

Um saber só tem sentido e valor por referência às relações que supõe e produz com o mundo, consigo, com os outros. Os alunos para quem o saber tem, ao que parece, “um sentido e um valor com tal”, são os que conferem um sentido e um valor ao saber-objeto sob sua forma substancializada; o que supõe relações de um tipo particular com o mundo, consigo e com os outros (CHARLOT, 2000, p. 64).

Assim, os alunos possuem uma relação de saber com o mundo. Para

entender melhor essa relação de saber, traremos as figuras do aprender, na visão

de Charlot (2000), para o autor “todo ser humano aprende: se não aprendesse, não

se tornaria humano. Aprender, no entanto, não equivale a adquirir um saber,

entendido como conteúdo intelectual: a apropriação de um saber-objeto não é senão

uma das figuras do aprender” (CHARLOT, 2000, p. 65).

- objetos-saberes, isto é, objetos aos quais um saber está incorporado: livros, monumentos e obras de arte, programas de televisão “culturais...”;

- objetos cujo uso deve ser aprendido, desde os mais familiares (escova de dentes, cordões do sapato...) até os mais elaborados (máquina fotográfica, computador...);

- atividades a serem dominadas, de estatuto variado: ler, nadar, desmontar um motor;

- dispositivos relacionais nos quais há que entrar e formas relacionais das quais se devem apropriar, quer se trate de agradecer, quer de iniciar uma relação amorosa (CHARLOT, 2000, p. 66).

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Os saberes referidos nas respostas encontram-se na sua maioria nos saberes

de domínio, no esporte e na prática do exercício físico.

Quando questionados em relação a quais conteúdos já tiveram nas aulas de

Educação Física durante sua vida escolar, os mesmos responderam:

Aluno 01: Futebol, vôlei, basquete, brincadeiras, musculação, gasto energético entre outros.

Aluno 02: futebol e volei

Aluno 03: Esportes, saúde.

Aluno 04: Bom entre algumas as articulações do nosso[corpo]

Aluno 05: Futsal, vôlei, voleibol

Aluno 06: primeiros socorros, musculação, etc.

Aluno 07: Os que eu me lembro é sobre a testosterona, insulina, GH, catabolismo, cortisol, creatina, adrenalina e noradrenalina, a gordura triglicerídeos e ATP – CP.

Aluno 08: tudo

Aluno 09: Aulas práticas e teóricas

Aluno 10: Eu já estudei futsal, sobre a saúde, sobre condição física e mais

Aluno 11: Gasto energético, primeiros socorros etc e aula prática

Aluno 12: Tivemos sobre como é a queimaduras de grau e como cuidar do corpo quando algo acontece.

Aluno 13: das aulas práticas e outros que não lembro

Aluno 14: Qualidade de vida, musculação, gasto energético, primeiros socorros, etc.

Aluno 15: Qualidade de vida, musculação, gasto energético, primeiros socorros e entre outros.

Aluno 16: Aula prática e teórica

Aluno 17: Futsal, vôlei, basquete, handebol etc...

Aluno 18: Vários muitos destes sobre esporte

Aluno 19: IMC, perde massa, ganha massa potencializado a hipertrofia

Aluno 20: Potencializando a hipertrofia muscular

Podemos perceber que a maioria citou aulas relacionadas à saúde e

qualidade de vida, além dos esportes, principalmente, o futsal e o vôlei. Porém, isso

não significa que outros conteúdos não foram significativos, pois conforme Charlot

(2000), quanto mais os saberes estiverem inscritos no corpo, mais difíceis serão

suas expressões em forma de linguagem verbal ou escrita.

50

É notório também que alguns interpretam “conteúdo” como apenas as aulas

que tratam dos conteúdos em seus aspectos conceituais. É o caso, por exemplo, do

aluno 14, 15, 19 e 20.

Para Darido et. al. (2018), são competências da Educação Física,

Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual. Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo. Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais. Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde. Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo (DARIDO et.al. p.09, 2018).

Em nossas vidas, nem sempre nos envolvimentos, o que se faz, as atividades

laborativas, ou as crianças e jovens irem para a escola nem sempre isso é

totalmente agradável. Em relação aos conteúdos que mais gostaram, as respostas

foram as seguintes:

Aluno 01: musculação porque fala sobre o que você tem que fazer para melhorar sua musculação

Aluno 02: O conteúdo prático por que e melhor

Aluno 03: esportes.

Aluno 04: dos esportes exercícios práticos

Aluno 05: Futsal

Aluno 06: musculação, porque a gente interage mais

Aluno 07: achei bem interessante o conteúdo sobre a testosterona, e na aula prática, para mim, vôlei e futsal são os melhores.

Aluno 08: nenhuma

Aluno 09: Eu gostei do conteúdo gasto energético

Aluno 10: condição física. Porque eu sei qual treinamento e ideal pra mim

Aluno 11: gasto energético porque ele fala sobre gasto do corpo da pessoa

Aluno 12: gostei do conteúdo em que ensina como salvar vida quando não tiver perto de hospital

Aluno 13: dos conteúdos onde eu fiquei na sala de aula, porque eu não gosto de aula prática

Aluno 14: O de gasto energético, foi o que mais me chamou atenção

51

Aluno 15: primeiros socorros, porque aprendemos a nos virar quando acontece um simples acidente

Aluno 16: gasto energético e futebol

Aluno 17: futebol é vida

Aluno 18: eu gostei mais quando a matéria era sobre futsal

Aluno 19: IMC para saber nossa massa muscular e gosto de futebol.

Aluno 20: Futebol e o conteúdo que eu mais gosto musculação.

Apenas um aluno cita não gostar de nenhum conteúdo, outro aluno cita que

qualquer conteúdo desde que fique em sala, pois não gosta das aulas práticas. Os

demais todos variam entre musculação, e esportes, em especial o futsal. E, dois

ainda citam, os primeiros socorros. Todos esses são conteúdos que os alunos estão

trabalhando, ou que acabaram de ver a pouco tempo.

Na vida e nas relações humanas, de modo especial, nem sempre se pode

agradar a todos. A Escola, assim como a Educação Física, são instituições sociais e

como tais elas devem procurar imprimir a marca ou os códigos sociais e civilizatórios

nos indivíduos que configuram a sociedade. No entanto, isso é tarefa árdua, tendo

em vista que as pessoas passam por uma transformação psicofísica ao assimilarem

os códigos das instituições que amalgamam o processo civilizatório. De modo que

quando perguntados sobre os conteúdos que menos gostaram, os alunos

responderam:

Aluno 01: Basquete porque é um esporte que o assunto é profundo demais

Aluno 02: O conteúdo teórico por que e ruim

Aluno 03: Saúde.

Aluno 04: nenhum

Aluno 05: volei

Aluno 06: Nenhum

Aluno 07: Só as aulas de HandBoll

Aluno 08: -

Aluno 09: Eu não gosto de fazer exercícios

Aluno 10: gosto de todos

Aluno 11: primeiros socorros, o porque não quero falar, me desculpe

Aluno 12: A não tem nenhum que menos gosto eu gostei de todos

Aluno 13: Nas aulas práticas, porque não gosto de praticar nenhum esporte

Aluno 14: musculação, muito difícil

52

Aluno 15: Qualidade de vida, porque tem muitos tópicos e achei difícil.

Aluno 16: fazer cálculos.

Aluno 17: não gosto de nada, só do futsal

Aluno 18: gosto de todos

Aluno 19: alongamento no meio da quadra

Aluno 20: exercício e o que eu menos gosto.

“A perspectiva cultural propõe que os alunos sejam autônomos para refletir

diversos conteúdos considerando os conhecimentos compartilhados e construídos

nas aulas, extrapolando a reprodução de movimentos técnicos” (DARIDO, p. 07,

2018). Assim, os objetos de ensino da Educação Física são tratados como

produções corporais historicamente situadas.

Questionados também se eles consideravam importantes, as aulas de

Educação Física, tratar seus conteúdos para além dos momentos de

vivência/práticas, e pedi para que justificassem. Eis as respostas:

Aluno 01: Sim porque eu posso aprender coisas para ajudar pessoas

Aluno 02: Não sei

Aluno 03: Sim, por momentos imprevistos

Aluno 04: Sim

Aluno 05: Sim. Pois nos ajudará no futuro

Aluno 06: Sim. Por que as pessoas não ficam tão enjoadas

Aluno 07: Sim, pois a Educação Física nos fornece exercícios por pelo menos 1 aula por semana

Aluno 08: -

Aluno 09: Sim por que é muito importante

Aluno 10: Sim, pois é importante saber como reagir em algumas situações

Aluno 11: Sim a aula de educação física é importante ensina primeiros socorros, ensina sobre tudo

Aluno 12: sim muito importante caso algo aconteça né

Aluno 13: Sim, porque só ficar praticando esporte não é o suficiente.

Aluno 14: Sim, neles adquirimos conhecimentos mais.

Aluno 15: Sim, pois além disso a gente aprende a lidar com outras coisas

Aluno 16: É importante sim, porque além de jogar bola você aprende sobre o corpo

53

Aluno 17: eu acho importante, mas eu gostaria de só descer pra quadra

Aluno 18: Sim é muito importante ter os dois momentos por que aula prática a gente faz muitos movimentos e a aula teórica ajuda a entender a matéria

Aluno 19: Sim é importante porque se nós só jogamos não vamos ter entendimento pra que serve a educação física

Aluno 20: Sim, além disso faz bem para o corpo

É notório que os alunos consideram importante ter momentos diferenciados

nas aulas de Educação Física, além dos momentos práticos. É o que é apresentado

nas respostas dos alunos 15, 16, 18 e 19 descritos acima. Tais alunos conseguem

perceber uma Educação Física mais ampla. Para Darido (2018)

A Educação Física nas escolas de Educação Básica vive hoje um momento de renovação em suas práticas pedagógicas, começando a incorporar uma visão bem diferente daquela que prevaleceu há anos. No plano das concepções acadêmicas, podemos certamente afirmar que a Educação Física é outra. E as práticas pedagógicas já começam a apresentar sinais de mudanças. Essas mudanças, logicamente, estão situadas em meio a conflitos de interesses, gerando diferentes análises, tanto entre os estudiosos, quanto entre os professores (DARIDO, 2018, p.17).

Tais alunos já conseguem fazer relação entre o ensino sobre o saber fazer e

o fazer na Educação Física. “Não basta ensinar os alunos a técnica dos

movimentos, as habilidades básicas ou, mesmo, as capacidades físicas. É preciso ir

além e ensinar o contexto em que se apresentam as habilidades ensinadas,

integrando o aluno na esfera da cultura corporal de movimento” (DARIDO, 2018, p.

17). Espera-se com isso que o aluno tenha um conhecimento mais amplo sobre os

temas da cultura corporal. Vale salientar que a proposta não é que as aulas se

transformem num discurso sobre o movimento, e sim articular na Educação Física, o

ensinar a fazer e o ensinar sobre o fazer.

Finalizando as perguntas do primeiro questionário, questionei se eles

conseguiam identificar momentos nos quais as aulas foram além dos aspectos

procedimentais/ práticos, e pedi para citar os momentos. Tivemos como respostas:

Aluno 01: Sim como avaliação, trabalhos, entre outras atividades

Aluno 02: Não

Aluno 03: Não

Aluno 04: Sim quando o professor fez uma aula diferencial trazendo aquele aparelho para medir a pressão após alguns exercícios

Aluno 05: não

54

Aluno 06: não.

Aluno 07: Sim, além das aulas práticas temos as teóricas, e também nas aulas práticas, sempre conversamos.

Aluno 08: -

Aluno 09: momentos práticos e momentos teóricos

Aluno 10: Sim, na quadra quanto nós jogamos futsal

Aluno 11: Sim tem teórica e prática

Aluno 12: Teoria e prática.

Aluno 13: Sim, os momentos onde ficamos em sala de aula estudando

Aluno 14: Sim, explicações conteúdos além do plano de aula e jogos que o professor faz

Aluno 15: Sim. Tipo uma vez que aprendemos a medir nossa pressão

Aluno 16: Aula prática é bom, porque não só jogamos mas fazemos exercícios.

Aluno 17: teve muitos exercícios na quadra brincadeiras que ajudam tipo exercícios, correr na quadra um pouco.

Aluno 18: os dois

Aluno 19: ambos, nós já fazemos deste na educação física para medir nossa pressão por isso que aula prática é importante

Aluno 20: os dois que eu já fiz.

Quatro alunos não conseguem identificar momentos para além dos

procedimentais/práticos, durante as aulas. Um aluno deixou em branco. Três alunos

citaram o momento quando aprenderam a verificar a pressão arterial, aparentemente

foi um momento significativo para eles. O aluno 01 consegue identificar momentos

diferentes, como as avaliações e os trabalhos. Os alunos 07, 09, 11, 12, 18 e 20

consideram tiveram momentos teóricos e práticos, porém não especificam quais

momentos foram esses.

De maneira geral, o que percebemos com esse questionário, é que os alunos

têm acesso aos conteúdos da Educação Física, com foco mais nos esportes, e em

especial o futsal e nos exercícios físicos, saúde e musculação. Sendo que esse

primeiro conteúdo é apreciado praticamente apenas em momentos procedimentais e

o segundo com prevalência de momentos conceituais, exceto o momento de

verificação da pressão arterial, que parece ter sido abordado tanto no conceitual

quanto no procedimental, o que talvez por isso, tenha sido lembrado por alguns

alunos.

55

Demonstram em sua maioria interesse em participar das vivências e atenção

durante as explicações. Teremos momentos de roda de conversa posteriormente, e

também entrevistas e produções escritas.

Segundo Charlot (2000, p. 65), “todo ser humano aprende: se não aprende,

não se tornaria humano. Aprender, no entanto, não equivale a adquirir um saber,

entendido como conteúdo intelectual: a apropriação de um saber-objeto não é senão

uma das figuras do aprender”. O autor chama de “figuras do aprender”, sendo os

Saberes Objetos, saberes de uso, Fazer com, saberes de domínio e saberes

relacionais. Mesmo o aluno 08, que reiteradamente não diz nada, deve ser levado

em consideração os momentos de participação desse aluno, pois mesmo deixando

várias perguntas em branco, veio a participar das aulas em vários momentos.

4.3 DIÁRIOS DE CAMPO - IMPRESSÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DO SABER

DOS ALUNOS

Estando a fim de mergulhar no universo dos alunos, e entender os sentidos e

significados atribuídos a Educação Física por eles, realizamos a prática do Diário de

Campo, que segundo Zabalza (2004), permite uma visão do ambiente escolar, da

rotina de aula, de padrões e momentos que se repetem em relação às ações e falas

dos alunos, bem como nos permite ter impressões e fazer análises, identificando

ideias implícitas.

Dessa maneira, trarei algumas observações que após leitura de todos os

Diários, que foram momentos, falas que se repetiram, enfim, farei um apanhado dos

momentos observados que considero relevante para a pesquisa, e podem ajudar a

entender como os alunos do nono ano vêm construindo seus saberes na disciplina

de Educação Física. Acreditamos que as impressões colhidas nos diários,

juntamente com os questionários nos permitem um entendimento melhor e mais fiel

dessa realidade. De maneira que um complementa o outro.

Destaco a motivação dos alunos em participarem das aulas, principalmente

dos momentos nos quais o “fazer com” se sobrepõem ao “falar de”. Tivemos vários

momentos em sala de aula e em quadra, e os questionamentos em relação ao

momento de irmos para a quadra foi constante no decorrer das aulas. A maioria dos

56

alunos participa de todos os momentos, porém os momentos de vivências são

aguardados com ansiedade.

As impressões a seguir são de diferentes dias, e apontam para o que foi

exposto. “Os alunos reclamam que querem ir para a quadra logo”, “Demonstram

ansiedade em irem para a quadra, [...] ao irmos para a quadra há muita empolgação.

Alguns alunos chegam e já pegam uma bola e começam um jogo de futsal”, “logo ao

entrar, um aluno nos pergunta se hoje vai jogar bola, outros alunos também indagam

a mesma coisa e falam que querem jogar bola”, “uma aluna me questionou quando

voltariam a jogar bola, disse que antes de eu chegar eles jogavam mais bola e que

agora quase não jogam”.

Deixando claro que a preferência deles é pelos momentos nos quais eles

podem experimentar corporalmente, novamente aí temos a sobreposição do “fazer

com” ao “falar de”. E, além disso, para esses alunos o futsal é a prática preferida.

Também observamos que os alunos demostram maior interesse quando tem

maior liberdade durante as aulas, tanto no trato do conteúdo como na forma de

organização. Nos diários de campo temos as seguintes observações de dias

distintos: “Em quadra, rapidamente se organizam em um jogo de futsal [...], os

alunos parecem entrosados e bem habituados, parece ser um momento prazeroso.

Há intervenção do professor apenas para a troca de times. [...]. Os alunos puderam

ter várias experiências corporais, brincaram, fizeram suas adaptações nas regras.

Os alunos exerceram sua cidadania ali, respeitaram as regras, as diferenças entre

eles. Não creio que esse momento livre, seja negativo, e sim democrático.” A

impressão continua em outro dia, “A pedido dos alunos, os últimos quinze minutos

foram “livres”, ou seja, eles puderam escolher a atividade que iriam desenvolver,

escolheram o futsal”.

Ao oportunizarmos os alunos a desenvolverem as práticas corporais que lhes

despertam maior interesse, proporcionamos incentivo às práticas corporais de

maneira geral, a autonomia, a criatividade e a auto regulação. São momentos livres,

porém, sempre com a presença do professor, que aproveita tais momentos para

debates posteriores. Como foi o caso, do debate sobre gênero, que foi levantado por

uma aluna na roda de conversa. Ao serem questionados se gostaram da aula,

muitas meninas responderam que participaram pouco, e que os meninos não

passam a bola para elas.

57

4.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O QUESTIONÁRIO FINAL

No momento final de nossa pesquisa-ação, aplicamos um questionário final,

no qual procuramos coletar dados que nos auxiliassem a responder nossas

inquietações surgidas no decorrer da pesquisa, a fim de conseguirmos fazer um

paralelo entre os momentos vivenciados pelos alunos, relatados em nossos diários

de campo, e suas falas, agora no questionário final.

De vinte e um alunos que responderam o questionário final, oito deles relatam

que fazem Educação Física porque gostam. Ou seja, mesmo sendo uma disciplina

curricular de caráter obrigatório, esses alunos atribuem um sentido de prática

prazerosa, de gosto. Isso é importante, e vem demostrar que as aulas de Educação

Física têm suas características próprias, que a tornam peculiar em relação às

demais disciplinas, e que precisamos aproveitar esse “gostar” que os alunos

demostram, ao nosso favor. Os alunos que praticam, principalmente pelo gosto,

deixam claro, que esse gostar está atrelado às vivências práticas que a disciplina

proporciona.

Segundo Lovisolo (1995), as condutas das pessoas podem ocorrer por três

motivos: seguem uma norma, que pode ser uma lei, regra ou mesmo um costume,

ou pretendem alcançar algum objetivo/finalidade utilitária ou gostam, sentem prazer

naquilo que fazem.

Para o autor, a norma, a utilidade e o gosto

Podem associar-se ou contrapor-se de formas variadas no plano das ações, embora não exista incompatibilidade necessária ou predeterminada entre os três motivos da conduta. Portanto, os três valores ou motivos podem ser convergentes ou divergentes. Caso a caso determinamos a convergência ou divergência dos motivos da ação. A convergência entre os três motivos determinaria uma situação ideal na qual realizamos ações porque a norma assim ordena, porque gostamos e porque obtemos alguma utilidade. Entretanto, essa situação ideal é excepcional, pois torna-se difícil entender a vontade política de normatizarmos um tipo de ação que as pessoas gostam e consideram útil realizar espontaneamente (LOVISOLO, 1995, p. 213).

Assim, é necessário valorizar esses momentos proporcionados pela

Educação Física. A escola ainda hoje é, local de ordem e disciplina, nos moldes que

foi criada da pedagogia tradicional. E, a Educação Física, aponta para uma nova

direção. Não devemos desvalorizá-la pelo fato de estarmos mais pautados nas

vivências corporais, mais sim nos valermos disso para cativarmos e oportunizarmos

58

cada vez mais nossos alunos a terem experiências corporais significativas, que

muitas vezes não teriam não fosse a Educação Física, com seus momentos práticos

e reflexivos.

Apenas dois alunos desses oito que alegam fazer Educação Física porque

gostam, apontam o gostar como única causa de sua prática. Os outros trouxeram

diversos aspectos atrelados ao gosto, como saúde, obrigatoriedade, aprendizagem e

prática esportiva.

Em relação da prática relacionada à saúde, quatro alunos citaram esse tópico.

Dois deles, citados juntamente com o caráter do gosto citado anteriormente, os

outros dois relacionam ainda com a prática correta dos exercícios físicos e a prática

dos esportes.

Encontramos ainda o caráter de obrigatoriedade e norma, lembrada pelos

alunos que fazem Educação Física pela sua obrigatoriedade. Foram cinco alunos

que ao serem questionados do porque fazem Educação Física, relataram a

obrigatoriedade. Desses, dois alunos relatam que fazem apenas pela obrigação. Os

outros relacionam ainda com desenvolvimento de habilidades motoras,

aprendizagem dos esportes e gosto.

Lovisolo (1995), afirma que as normas por si só não instigam a educação

formal e, por vezes, obstaculizam a aprendizagem, e que isoladas não conseguem

estimular os alunos para a aprendizagem escolar. Vários alunos citaram a questão

da norma, ao se referirem que fazem Educação Física pela sua obrigatoriedade,

porém, a maioria desses, relacionou também ao gosto e/ou utilidade. Dos dois

alunos que relataram fazer apenas porque são obrigados, é possível que não

estejam atribuindo muito significado a sua prática e não tenham aprendizagens

significativas. Mesmo assim, não podemos afirmar de fato, pois mesmo dizendo que

a prática se dá apenas pela obrigatoriedade, pode ser que ao participarem estejam

adquirindo um saber de domínio ou relacionais, mais expresso pelo corpo do que

por palavras ou escritas. “As motivações para aprender estão dominantemente em

situação e processos que escapam ao poder da norma e que, espontaneamente,

relacionamos com a utilidade e com o gosto” (LOVISOLO, 1995, p. 217).

A aprendizagem e a prática esportiva foram lembradas por seis alunos. Sendo

que apenas dois desses citam a prática esportiva como única responsável pela

participação na Educação Física. Os demais relacionaram também com saúde,

melhora do físico e gosto.

59

A aprendizagem e prática de exercícios físicos foram lembradas por cinco

alunos. Sendo que dois desses alunos, a citam como única causa de sua

participação. Os demais relacionam também com o gosto, a saúde, a

obrigatoriedade e a prática esportiva.

Uma aluna relata que raramente participa, mas não especifica o motivo que a

leva a participar.

Dessa maneira, ao serem questionados do porque fazem Educação Física, os

alunos deram respostas variadas, mas que podemos classificar nas seguintes

categorias: Gosto, saúde, obrigação/norma, aprendizagem e prática esportiva,

aprendizagem e prática de exercícios físicos. Sendo que no geral os alunos não

citam apenas um motivo, a maioria relaciona outros fatores que o levam a

participarem.

Pelas respostas dos alunos, identificamos a prática da Educação Física pelos

três motivos citados por Lovisolo (1995), norma, gosto e utilidade. Ou seja, fazem

Educação Física porque é uma disciplina curricular, portanto uma norma, ou/também

porque gostam, sentem prazer, ou/e também, pelo seu caráter utilitário, como por

exemplo, os alunos que citaram a razão da prática pela saúde. Para o autor,

“habitualmente realizamos ações que implicam graus de intensidade variada de

divergência ou conflito entre os três motivos” (LOVISOLO, 1995, p. 214).

Em relação à realização de atividades corporais nas aulas de Educação

Física, Lovisolo (1995), relata que há um consenso entre os alunos sobre o gosto de

realizar tais atividades, diferentemente de outras disciplinas, como línguas e

matemática, vistas a partir de uma ótima mais utilitária.

Lovisolo (1995), explica que há uma crise da norma, da utilidade e do gosto,

na educação. E que a escola vem respondendo, ora reforçando os mecanismos de

autoridade, ora argumentando sobre o caráter utilitário dos conteúdos ensinados.

Porém, a norma e a utilidade não dão conta de motivar os alunos a aprenderem.

Não que a norma e a utilidade não sejam importantes, é interessante refletir sobre

as normas. Mas o gosto parece determinar mais o aprendizado dos alunos.

As crianças adoram brincar, contudo não brincam porque brincar é importante para o desenvolvimento psicomotor, da inteligência, da sociabilidade ou da afetividade. Elas ignoram esses fatos. Brincam porque gostam [...] (LOVISOLO, 1995, p. 228).

60

Percebemos, com isso, que os alunos fazem Educação Física por vários

motivos, e assim nos parece que atribuem diferentes sentidos a suas práticas. O

gosto é a característica mais citada. Os alunos fazem Educação Física, acima de

tudo porque gostam. Seguida da possibilidade de aprender e praticarem esportes e

exercícios físicos. O que demostra o gostar relacionado ao caráter prático da

disciplina. Fazem porque gostam, e gostam porque se envolvem corporalmente.

Seguida da obrigação/ norma, que mesmo aparecendo, apenas dois a tem como

única justificativa. E, por fim, uma aluna que cita raramente participar, mas não

relata o que a faz participar quando acontece.

Ao serem questionados em que a Educação Física contribui para sua vida

cotidiana, as falas variaram entre, a possibilidade de prática de exercícios físicos,

citado por oito alunos, saúde e bem estar, foram citados por cinco alunos, prática

esportiva, citada por três alunos e desenvolvimento físico, citado por três alunos.

Três alunos não veem contribuição, e um relata não saber.

Aqui também temos respostas variadas e diferentes significados atribuídos à

contribuição que a Educação Física traz para a vida cotidiana. O caráter prático

esteve presente nas respostas de dez alunos, já que oito citaram a prática de

exercícios e três a prática esportiva, visto que um desses três citou a prática de

exercícios também, e por isso tivemos a quantidade de dez alunos que acreditam

que a Educação Física contribui em suas vidas cotidianas, pois possibilita a prática

de exercícios e esportes. Porém, não ficou claro nas respostas, se essas práticas se

referem aos momentos da própria aula, que faz parte de seus cotidianos ou se estão

se referindo a prática fora desses momentos, se praticam tais práticas em outros

locais fora da escola. Não ficou claro. Porém, a contribuição da Educação Física

pelo seu caráter prático, ficou evidente.

Ao citarem o desenvolvimento físico (três alunos) e a saúde e bem estar

(cinco alunos), percebemos um caráter de utilidade identificado pelos alunos. Os

alunos percebem que a Educação Física promove um bem estar físico, mental,

social, e a contribuição dela no desenvolvimento físico, cognitivo e motor.

Assim, as respostas apontam para a Educação Física trazendo contribuição

para a vida cotidiana dos alunos, no sentido de promover a aprendizagem e a

prática de exercícios e esportes, e em decorrência disso promove o debate sobre

saúde e bem estar, relacionando com a temática social e cultural dos alunos.

61

Apesar de três alunos afirmarem que não há contribuição em suas vidas

cotidianas, podemos observar que um deles afirmou raramente participar das aulas,

o outro participa apenas quando é futsal. A não participação pode se dar por vários

motivos, como a falta de habilidade física atrelada a uma cultura de exclusão dos

alunos menos habilidosos. Porém, não sabemos a fundo o porquê de tal aluna

praticamente não participar das aulas, bem como o porquê de o outro aluno

participar apenas quando é o futsal. Porém, é uma minoria que precisa de atenção.

Em um estudo sobre a relação dos alunos com os saberes compartilhados

nas aulas de Educação Física, de Schneider e Bueno (2005), desenvolvido a partir

da pesquisa Diagnóstico da Educação Física no Estado do Espírito Santo,

questionaram os alunos em relação ao gosto pela disciplina, se gostam e por quê,

além de questionarem sobre o que eles fazem e aprendem nas aulas. Para isso,

fizeram uso das pesquisas de Charlot (2000 e 2001), em relação às figuras do

aprender, propondo um olhar diferenciado.

Dentre os aspectos abordados pelo Diagnóstico da Educação Física realizado

no Estado do Espírito Santo, temos a questão do imaginário social dos alunos. Na

pesquisa, foi aplicado um questionário com questões abertas a 632 alunos, da rede

pública de ensino. Constataram que os alunos possuíam um entendimento de

Educação Física mais alinhada ao aprendizado esportivo e ao desenvolvimento

físico-corporal. E, também, que as aulas de Educação Física não fizeram com que

esses alunos se apropriassem minimamente de um conhecimento que permitisse

uma compreensão que superasse o senso comum.

Ao retomarem algumas questões que consideraram ainda não trabalhadas

suficientemente no referido diagnóstico, Schneider e Bueno (2005), propuseram

verificar a relação que os alunos mantinham com a disciplina Educação Física e com

os saberes por ela distribuídos. Perceberam que todos os alunos entrevistados

tiveram acesso aos conteúdos da Educação Física, em menor ou maior grau.

Restando saber o que de fato esses alunos aprenderam do que foi ensinado.

Lendo as respostas dos alunos que responderam ao questionário, pode-se perceber a dificuldade que eles possuem em transformar o que sabem, o que aprenderam no seu processo de escolarização em relação à Educação Física, em linguagem escrita. Acredita-se que tal fato muito se deve ao tipo de figura do aprender que é mobilizado por meio dessa disciplina. Os saberes tematizados pela Educação Física são, em sua maioria, saberes que se projetam por meio do controle e uso do corpo e dos movimentos, em que não existe referência a um saber-objeto, pelo menos por parte dos alunos, mas à capacidade de

62

saber usar um objeto de forma pertinente. Então o caso não é indicar o que os alunos não conseguiram definir como suas aprendizagens em relação aos saberes compartilhados pela Educação Física, mas pedir que demonstrem o que sabem fazer com os objetos, ou quais atividades sabem realizar (SCHNEIDER; BUENO 2005, p. 40).

Uma possibilidade seria compreender o saber dos alunos não só pelo que

eles falam e sim pelo que eles fazem, é o que podemos constatar ao confrontar as

respostas dos alunos no questionário, com as observações dos diários de campo

feitos durante as aulas. Muitos dos alunos que não responderam várias questões, ou

foram insuficientes para um melhor entendimento da resposta, nos respondeu

corporalmente, pois participaram ativamente nos momentos observados. Dessa

maneira não há que fazer uma interpretação negativa, baseada apenas nas

respostas dos alunos, mas sim levar em consideração as figuras do aprender, de

Charlot (2000), já citadas no questionário inicial dos alunos, pois é possível que

existam diferentes formas de relação com o saber.

Sobre as atividades desenvolvidas durante o período da pesquisa e quais as

mais significativas para os alunos, tivemos várias respostas. Lembrando que

seguimos os conteúdos e objetivos planejados pelo professor e, construímos juntos,

a metodologia. Os conteúdos planejados pelo professor foram: Esportes de invasão

– handebol e Exercício Físico e qualidade de vida – Musculação para adolescentes.

Assim, sete alunos acreditam que as atividades mais significativas foram às

relacionadas ao handebol. Dois destes, relatam que nunca tinham jogado handebol,

um cita que “aprendeu coisas que não sabia no handebol”, outro cita que “é um jogo

bem mais legal que o futsal”. Sete alunos se referem à musculação para

adolescentes, como o conteúdo mais significativo.

Dois alunos citam os momentos nos quais jogaram o futsal. Vale ressaltar que

tais momentos, ocorreram em momentos nos quais eram propostas “livres”, a

escolha dos alunos, se dando pelo gosto. Momento nos quais os alunos tinham

autonomia para escolherem a atividade, bem como a maneira de desenvolvê-la. E,

pela forte cultura do futebol, praticamente todos os momentos chamados de “livres”

eram preenchidos pelo futsal.

Um aluno respondeu que todos os momentos foram significativos, mas não

justificou. Um aluno respondeu que nenhum momento foi significativo, também não

justificou. Um aluno deixou em branco, e um aluno disse não saber.

63

Ao serem questionados se alguma das atividades desenvolvidas nas aulas

não lhes interessou, e quais, oito alunos responderam que houve momentos que

não lhes interessou durante as aulas. Sendo que cinco destes não se interessaram

pelo handebol, um deles “não se interessou por nenhuma atividade passada na

quadra” e um diz que não teve interesse pela prova escrita. Nove alunos

responderam que não houve nenhuma atividade que não lhes interessara. Um

aluno deixou em branco, e um aluno provavelmente não entendeu a questão, pois

respondeu que “Sim, futsal”, ao ser questionado se “Algumas das atividades

desenvolvidas nas aulas não lhe interessaram? Quais?”, já que na resposta anterior

respondeu que a atividade mais significativa para o mesmo é o futsal. Dessa

maneira a maior parte dos alunos demonstrou ter interesse em todas as atividades

desenvolvidas, porém um número significativo citou desinteresse em determinados

momentos. Ainda é difícil para o professor manter o interesse de todos os alunos em

todos os momentos, haja vista que os alunos são indivíduos únicos, com gostos

peculiares. Por isso, a necessidade de trabalharmos uma variedade grande de

conteúdos e que sejam tratados de diferentes maneiras. Pois assim, um mesmo

conteúdo, ao ser trabalhado de maneiras diferentes, em momentos distintos, pode

despertar maior interesse dos alunos.

Ao serem abordados sobre o que aprenderam nas aulas de Educação Física

durante o terceiro bimestre (período referente à aplicação da pesquisa), doze alunos

citam o aprendizado do handebol, como “um novo jogo”, “jogar handebol”, “sobre o

handebol”, “sobre passe no handebol”, “fundamentos do handebol”. Oito alunos

citaram a aprendizagem sobre Exercícios Físicos e qualidade de vida – Musculação

para adolescentes. Dentre as falas, podemos citar “treinamento na academia”,

“sobre adolescentes praticarem musculação”, “anabolizantes”. É importante citar que

três desses alunos, lembraram de dois conteúdos citados acima. Um aluno se

lembrou da “Qualidade de vida”, um aluno respondeu “nada”, e dois alunos não

responderam essa questão.

De maneira geral, os alunos conseguem citar os conteúdos trabalhados, bem

como os pontos mais importantes. E mesmo quando deixam em branco, não

significa que não aprenderam nada, pode ser sim que não conseguem expressar

com a escrita, o que aprenderam, porém ao participarem da aula, experiências são

vivenciadas corporalmente, e essas são inegáveis, mesmo que ainda não

expressam por palavras.

64

Devido à prática de “momentos livres” acontecerem durante as aulas, sendo

uma constante desde antes da pesquisa, parece que estava funcionando como uma

maneira de controle dos alunos, uma espécie de recompensa pela participação no

que é proposto. De início, foi atribuído um caráter negativo a esse momento, pelo

fato de parecer não ser planejado pedagogicamente. Por isso levantamos essa

questão junto aos alunos. E percebemos que são momentos nos quais os alunos

tem maior autonomia, o professor não se distancia da turma e intervêm quando acha

que precisa. Esses momentos geralmente tem o predomínio do futsal, a participação

é livre, os alunos se revezam de maneira sistemática e parecem organizados entre

si.

Visto que, na escola, aparentemente, os alunos não dispõe de muitos

momentos livres, pois seguem muitas regras disciplinares, esses momentos

parecem ser por demais significativos para eles. E, por isso, importante e necessário

de serem entendidos.

Então, ao serem questionados se preferem quando a aula é “livre” ou quando

é dirigida pelo professor e por quê, a maioria respondeu que prefere “aula livre”

foram quatorze alunos, as justificativas foram “porque é melhor”, “porque eu posso

fazer mais coisas”, “porque tem mais liberdade naquilo que iremos fazer”, “porque

nós fazemos o que queremos”. Apenas dois alunos afirmaram que preferem quando

a aula é dirigida, sendo que um não justificou o porquê e o segundo justifica “porque

não fica aquela bagunça”. Quatro alunos responderam que os dois momentos são

bons, “ambas”, “porque ela se torna interessante”, “pois são muito importante”,

“porque deve haver explicação e aprender outros esportes”. A resposta desse último

aluno é reveladora sobre esse momento livre, pois ele entende que deve haver

momentos de explicações sobre o que estão praticando, além da possibilidade de

aprenderem esportes diferentes dos que já conhecem, e acrescento, outros

conteúdos também, para isso a atuação do professor é indispensável. Pois, o

mesmo pode agregar conhecimentos diferentes, sistematizados, além de variar nas

práticas corporais. Um aluno deixou em branco.

Portanto, ao que parece, os alunos encontraram uma forma de tornar a

Educação Física interessante, a partir dos momentos que eles se auto regulam,

quando têm maior autonomia. Seria então uma saída para tornar as aulas mais

interessantes, dar mais autonomia aos alunos? Sem tirar do professor o seu planejar

65

e sua ação pedagógica? Como seria isso? São questões surgidas no decorrer de

nossa pesquisa.

Mesmo não sendo nosso foco central, que é como os alunos vêm construindo

seus saberes na Educação Física, não deixa de fazer relação, já que os alunos

parecem aprender mais ao fazerem atividades prazerosas, e aparentemente, essas

o são quando são livres, quando têm maior autonomia. Os alunos vêm construindo

seus saberes corporais, com base nas experiências proporcionadas nas aulas, e

essas são mais valorizadas nos momentos com maior autonomia. Existe então a

necessidade de proporcionarmos essa maior autonomia sem deixar de lado o

trabalho pedagógico do professor. A partir do trabalho pedagógico do professor.

Em relação às práticas que os alunos preferem quando é “aula livre”, quinze

alunos citaram a preferência pelo “futebol”, “futsal”, “jogar bola”. O basquetebol foi

lembrado por três alunos, sendo que um deles o citou juntamente o futsal, sendo

portanto, um dos quinze citados anteriormente. Quatro alunos citaram o voleibol,

sendo que dois dentro desse grupo ainda citaram o “correr”, sendo que dois destes o

citaram junto com o futsal, um aluno respondeu que gosta de todas as atividades

quando é livre, e dois alunos gostam quando é “exercícios’ e alongamentos”

De fato, a prática corporal preferida dos alunos nos momentos livres é o

futsal. Ao que parece ainda há uma predominância do conteúdo esportes na

Educação Física, e mais particularmente do esporte futebol/ futsal. É do gosto da

maioria, que já o traz da cultura popular. Talvez partir do conhecimento do futsal seja

a melhor saída para tornar as aulas mais interessantes.

É interessante retomarmos os estudos de Lovisolo (1995), sobre norma,

utilidade e gosto. O autor faz importante contribuição sobre como a Educação Física

pode se legitimar na escola.

O ser da criança reside principalmente no prazer, no gosto de exercitar seu corpo, no movimento e nos sentidos. Um ser pleno de potência sensório-motora que se expressa nos jogos, nas brincadeiras, nos esportes. Há, assim, uma poderosa legitimação cultural para a educação física escolar, entendida como desenvolvimento do lúdico na criança (LOVISOLO, 1995, p. 231).

Na combinação de normas, interesses e gostos, que a Educação Física pode

realizar grande contribuição. Tendo o professor importante papel para tornar a

escola um lugar valorizado pelos alunos.

66

4.5 SENTIDOS ATRIBUÍDOS À EDUCAÇÃO FÍSICA PELOS ALUNOS

Tentamos elucidar a realidade dos sentidos atribuídos a Educação Física

pelos alunos, e como os mesmos vêm construindo saberes. Para Charlot, o saber é

relação, sendo construído em uma história coletiva, afirma ainda que “adquirir saber

permite assegurar-se com outros seres e partilhar o mundo com eles, viver certas

experiências e, assim, tornar-se maior, mais seguro de si, mais independente”

(CHARLOT, 2000, p. 60). Para isso tentamos levar em consideração todo o

processo de ensino e aprendizagem. De maneira que ao final da aplicação das aulas

planejadas fizemos os diários de campo, os quais foram feitos baseados em Zabalza

(2004), levando em consideração as ações rotineiras e as falas. Pois, era necessária

à vivência para além das respostas dos questionários, o movimento para além da

fala.

Como aponta Charlot (2000), a atividade inscrita no corpo, é mais difícil de ser

explicada com palavras. Então foi necessário, promover momentos de ensino e

aprendizagem, nos quais o movimentar-se ficou evidente, para que as respostas

corporais complementassem as escritas.

Ao serem questionados sobre o por que fazem Educação Física e como a

mesma contribui em suas vidas cotidianas, quatro alunos não conseguiram

identificar contribuição. Porém, o fato de os mesmos participarem de momentos

diversos nas aulas, havendo experimentação de práticas corporais diversas e

sensações que possivelmente não experimentariam em outros contextos, pelo

menos não da mesma maneira, demostra que mesmo que não consigam identificar,

há algo aí a ser percebido que não foi dito.

Os demais demonstram interesse, seja pelo gosto, pelo bem estar físico e

saúde, ou pelo aprendizado das práticas corporais. Os alunos entendem que a

Educação Física contribui em suas vidas cotidianas. Ficou evidente a visão de uma

Educação Física que coloca o corpo em evidência, o se movimentar para a

manutenção da saúde é de comum entendimento da maioria dos pesquisados.

Segundo Charlot (2000), o saber pode assumir forma de objeto,

principalmente pela linguagem escrita, ou se concretizar por meio do domínio de

uma atividade, ou na capacidade de utilizar um objeto, do não-domínio ao domínio.

Tal domínio se inscreve no corpo. Assim, a Educação Física lida bem menos que as

outras disciplinas com o suporte escrito (saberes-objetos), “A sistematização do

67

conhecimento então se realiza tanto pelo domínio de uma atividade, como pelo

domínio dos dispositivos objetivados em situações relacionais” (SCHNEIDER;

BUENO, 2005, p. 42)

4.6 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Ao final de nosso primeiro encontro, escolhi uma menina e um menino,

aleatoriamente, para que eles pudessem responder algumas questões. Ao serem

questionados se haviam gostado da aula, o que mais lhe agradou na aula, se houve

momento, situações que não gostaram e quais, tivemos as seguintes respostas:

Aluno: Sim, achei muito informativa, com informações bem legais que podemos usar para o futuro.

Gostei da correção da prova, pois como voltamos das férias, foram quinze dias, assim nós podemos lembrar

E na quadra o bom é que nos exercitamos, nós melhoramos tanto a nossa resistência quanto a velocidade.

O que menos gostei foi a parte da bola que pegou no teto e ficou presa lá né.

Aluna: Gostei.

Do futebol, da interação, da gente se divertindo.

Não gostei da bolada que eu levei

Ao serem questionados sobre os conteúdos e objetivos da aula,

responderam:

Aluno: O conteúdo foi revisão da segunda prova e a aula livre, bem legal, combinado com o professor.

O objetivo eu não consigo dizer. Mas aprendemos várias coisas importantes para o nosso dia a dia.

Aluna: Hoje nós refizemos a prova pra valer ponto e uma atividade física na qual a gente se desenvolveu. Uma aula livre.

Foi a gente se interagir, correr na quadra.

4.7 RELATO E DEBATE DA RODA DE CONVERSA

No final da aula, pedi que os alunos se sentassem em círculo no chão da

quadra. Expliquei que nosso diálogo seria gravado, e que eles podiam responder

com tranquilidade e de acordo com o entendimento deles, porém que respeitassem

quando o colega estivesse falando. Eis que se fez o seguindo diálogo:

68

Professora: Meninos, vocês conseguem me dizer qual foi o conteúdo que nós trabalhamos na aula de hoje?

Aluno: Passe e queimada

Professora: Isso mesmo. Alguém gostaria de falar o que achou da aula?

Aluno: Foi bom, interessante

Professora: Por que gostaram?

Aluno: Porque foi diferente

Professora: Em qual sentido?

Aluno: não é só futsal

Professora: Geralmente tem mais futsal?

Aluno: Isso aí!

Professora: Houve algum momento que vocês gostariam de citar, que não tenham gostado?

Aluno: Não

Professora: Todos gostaram?

Aluno: Sim

Professora: Quais foram os tipos de passes que nós trabalhamos?

Aluno: Quicar e passar, passe longo...também recepção

Professora: Qual jogo tivemos hoje?

Aluno: Queimada

Professora: Vocês acham q o jogo de queimada contribuiu de alguma forma para vocês enquanto alunos? Teve importância?

Aluno: Passe e recepção de bola

Aluno 2: Trabalho em equipe

Aluno 3: Comunicação, interação, participação

Professora: Durante as aulas alguns alunos não participaram. Porque vocês acreditam que isso aconteceu?

Aluno: Porque tem dificuldade

Aluno 2: Porque são mais acostumados com o futsal

Professora: Alguém gostaria de fazer alguma observação sobre a aula de hoje?

Alunos: Não.

Em uma outra aula, fizemos a roda de conversa novamente, e tivemos o

seguinte diálogo:

Professora: Vocês conseguem me dizer quais foram os objetivos da aula de hoje?

Aluno: Arremesso de longa distância.

Professora: Houve dificuldades durante o jogo? Se sim, quais?

69

Aluna: os meninos são machistas, eles não jogam para nós.

Aluna 02: Não passam as bolas.

Professora: Nós tivemos o jogo dos 10 passes. Vocês conseguem me dizer o objetivo desse jogo?

Aluno: Trabalho em equipe.

Aluno 02: Completar 10 passes.

Professora: Alguém mais gostaria de falar?

Aluno: Foi muito bom.

Ao fazermos um paralelo entre a pesquisa de Schneider e Bueno (2005),

baseada nos estudos de Charlot (2000), com nossa pesquisa, encontramos pontos

que se relacionam. As falas dos alunos, em um primeiro olhar, vêm nos parecer

rasas e com pouco significados, porém, se aprofundarmos nosso olhar, levando em

consideração os diferentes saberes, podemos seguir nos apoiando nas conclusões

de Schneider e Bueno (2005), quando perguntam sobre o que se faz e se aprende

nas aulas de Educação Física. Os autores revelam que os alunos conseguiram

definir saberes que não fazem parte do currículo formal e expresso na escola, e que

pareceu serem mais bem incorporados, os saberes de domínio e saberes

relacionais.

É o que podemos perceber também em nossa pesquisa, quando os alunos

relatam a aprendizagem dos saberes de domínio, que foram também observados

pela professora pesquisadora durante as aulas, quando citam e realizam as jogadas

no jogo de handebol e queimada, bem como os saberes relacionais, quando citam a

interação, a diversão, o trabalho em equipe, além da observação de uma menina

que depois foi apoiada pelas demais, ao citar que “os meninos são machistas, não

jogam para nós”.

Ainda levando em consideração a pesquisa de Schneider e Bueno (2005),

faz-se necessário esclarecer que os resultados de sua pesquisa foram diferentes

dos resultados apontados pela pesquisa Diagnostico da Educação Física no Estado

do Espírito Santo, abrindo uma nova possibilidade de análise. Para os autores, os

alunos conhecem os conteúdos que lhes foram ensinados, e demonstram funções

importantes da Educação Física em relação a outros saberes que não os de

saberes-objetos.

Os alunos do nono ano, que fizeram parte de nossa pesquisa, também

apontaram para tal entendimento, demonstrando que possuem um saber importante

70

acerca da Educação Física, que não pode ser desprezado, e precisa ser levado em

consideração.

4.8 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NOS MOMENTOS DE

AUTORREGULAÇÃO DIRIGIDOS – APONTAMENTOS E ANÁLISES

O termo “aula livre” foi usado no texto, a fim de se referir a maneira como o

professor e os alunos denominam os momentos nos quais existem um combinado

entre eles, no sentido de que em determinados momentos os alunos podem

escolher as práticas a serem desenvolvidas, bem como a maneira de desenvolvê-

las. Ficou evidenciada essa prática como comum no currículo vivo da aula de

Educação Física. Ou seja, a aula é livre no sentido de os alunos terem maior

autonomia em momentos combinados, em relação às práticas desenvolvidas, mas o

professor está presente observando se a aula acontece de acordo com os

combinados. Cabe colocar também, que mesmo o professor e os alunos fazendo

referência a esses momentos como “aula livre”, são momentos livres dentro da aula,

e não a aula toda como o termo dá a entender.

Algo que nos chamou atenção, e que se faz necessário ser entendido,

analisado e questionado. Como foram esses momentos? Quantos foram? Como

ocorreram? Como os alunos se organizaram, o que fizeram de fato? Como

negociaram as práticas? Há mesmo autonomia, cordialidade e autorregulação

nesses momentos? Está havendo aprendizado nesses momentos? São questões

que tentaremos debater a partir da análise dos diários de campo, dos planos de aula

e dos questionários. Faremos uso dos estudos de Certeau (1998), com sua teoria do

cotidiano, para repensar o cotidiano da escola, as práticas que se desenvolveram,

na tentativa de dar sentido aos momentos de autorregulação, pois acreditamos, que

são momentos nos quais existem aprendizagens significativas.

Em relação a quais foram esses momentos, podemos nos guiar pelos

planejamentos de aulas, bem como pelos diários de campo das referidas aulas. No

primeiro plano de aula, datado do dia 08/08/2019, retiramos a seguinte frase dos

procedimentos de ensino, “... Em um último momento, iremos para a quadra, e

teremos uma “aula livre”, que foi combinada com os alunos na aula anterior”. No

diário de campo referente a tal dia, temos as seguinte observações “...Em quadra,

71

rapidamente se organizam em um jogo de futsal só com os meninos, apenas uma

menina. Alguns alunos jogam vôlei na lateral da quadra.”, ainda temos as seguintes

impressões retiradas do mesmo diário em relação a tal momento, “...Os alunos

puderam ter várias experiências corporais, brincaram até certo ponto, livremente,

fizeram adaptações nas regras, foi um momento prazeroso, com trabalho em equipe.

Diálogos constantes. Os alunos exerceram sua cidadania ali, respeitaram as regras,

as diferenças. Não creio que esse momento livre, chamo aqui de democrático, seja

ruim”.

No encontro seguinte, que correspondeu ao dia 15/08/2019, tal prática não

aconteceu. Já no encontro da semana que se seguiu, no dia 22/08/2019, a prática

aconteceu novamente. Tínhamos como conteúdo os esportes de invasão, mas

especificamente o handebol, e como objetivos, conhecer o histórico, as principais

regras e fundamentos do handebol, além de vivenciar diferentes situações de jogo.

O termo “momento livre”, é observado nos procedimentos de ensino do plano de

aula, da seguinte maneira “...Como última atividade, teremos um “momento livre” no

qual os alunos poderão escolher o jogo. Finalizando com a roda de conversa”.

No diário de campo desse encontro, temos as impressões que se seguem:

“Os alunos vivenciaram diferentes situações de jogo que se assemelham a situações

do handebol: movimentação, agilidade, atenção marcação, passes, recepções e

recuperação de bola. Pareceu-me positiva a aula. Na roda de conversa puderam

expor em narrativas suas percepções sobre a aula. Uma preocupação que venho

tendo é em relação aos “momentos livres”. Percebo que nesses momentos nos

quais os alunos escolhem o jogo, definem as regras e se regulam, há muito

significado para eles. Parece ser momento democrático. Queria a mesma motivação

nas atividades propostas. Penso que venho conseguindo aos poucos, com atenção

durante a aula em relação as dificuldades dos alunos, como aconteceu no momento

da introdução de novas regras. Penso ser o caminho”.

Nas aulas do dia 29/08/2019, tal momento não aconteceu, pelo menos não

nos moldes que acontece quando planejados e desenvolvidos. No plano de aula não

estava presente, porém a aula que se seguiu não atendeu ao planejado por nós,

devido a um contratempo, a coordenação pedagógica pediu para que nós

ficássemos encarregados de mais uma turma, de responsabilidade de outro

professor que não pode ministrar a aula nesse dia. Trouxemos as impressões da

professora pesquisadora descritas no diário de campo desse dia: “Ao meu modo de

72

perceber, a aula de hoje não foi muito positiva, pois não foi planejada para duas

turmas diferentes. Não fizemos todo o planejado para o dia. Ficou a impressão que o

professor acabou sendo pressionado a ficar com mais uma turma. Penso que essa é

uma realidade constante. De fato, o professor relatou que não foi a primeira vez.

Achei por bem fazer um questionário para o professor, com o tema: Situações que

acontecem nas aulas que atrapalham o andamento normal. A intenção foi

justamente com o professor, identificar essas situações, entender o porquê elas

acontecem e se atrapalham a aula. Na tentativa de pensar possíveis soluções.

Traremos a seguir, as falas do professor diante das indagações feitas. O

questionário foi respondido no horário da hora-atividade do professor. Sabemos que

o foco de nossa pesquisa é os alunos e como esses vêm construindo significados

acerca dos conhecimentos em Educação Física, porém a maneira como a aula do

dia 29/08/2019 aconteceu me deixou curiosa.

Ao ser questionado se identificava situações que atrapalham o andamento

normal das aulas, o professor deu a seguinte resposta: “Ausência/falta de

professores que por algum motivo não vem e não mandam substituto, ficando as

turmas junto com as minhas, falta ou pouco material esportivo, brigas e bulling”.

Mesmo reconhecendo que a prática de “juntar turmas” acontece e atrapalha o

desenrolar das aulas, ainda não encontramos soluções práticas que possam dar

conta de resolver tal prática. O professor poderia se opor, mas iria contra o bom

relacionamento com os colegas, citado por ele, quando questionado como era seu

relacionamento profissional com os demais professores. A fala é a seguinte “Acho

tranquilo, todos são atenciosos uns com os outros. Tentamos encontrar a melhor

forma possível de atendimento aos alunos. Até mesmo os conselhos de classe estão

sendo feitos em horários diferentes para que todos nós possamos participar.

Essa prática de “juntar turmas” quando um professor falta, é uma constante

nas aulas de Educação Física há muito tempo. É necessário buscar soluções

diferentes para tal problema. Pois, resolve-se um problema estrutural em relação ao

quadro de horários das aulas, mas prejudica-se o lado pedagógico da disciplina. O

que queremos pontuar é que no cotidiano da escola, acontecem práticas que muitas

vezes não estamos preparados para tratar, que não foram planejadas, como esses

momentos que se “juntam as turmas” nas aulas de Educação Física como

alternativa quando faltam professores, e que ignorar tal situação, não faz com que

ela não aconteça.

73

Expor tal situação é um passo no sentido de resolver a problemática. Nas

aulas do dia 05/09 que se seguiram, a prática do momento livre não aconteceu. O

conteúdo foi “Esportes de invasão – handebol”, e o objetivo foi vivenciar diferentes

situações de jogo do handebol. Também não foi presente no dia 12/09/2019. Em tal

dia deu-se o passeio a academia de ginástica do bairro. No dia 19/09/2019 a prática

do momento livre também não aconteceu. Várias práticas interessantes e momentos

de aprendizagens significativas aconteceram em vários momentos.

No dia 26/09/2019, foi nosso último momento da pesquisa. Os alunos

responderam uma avaliação escrita sobre os conteúdos trabalhados durante o

bimestre, e também o questionário final de nossa pesquisa. Nesse dia, o momento

livre aconteceu novamente ao final da aula, após responderem a avaliação e o

questionário. Esse foi o único dia que esse momento não apareceu no plano de

aula, porém temos seu relato no diário de campo, feito pela professora pesquisadora

ao final da aula. Temos o seguinte relato: “Em quadra, os alunos brincam e jogam

livremente, dentro de regras estabelecidas implicitamente por eles, como ocupação

dos espaços, modalidades e tipos de jogos”. “Assim, oito meninos e duas meninas

jogaram futsal no espaço maior, uma menina e um menino ficaram brincando na

lateral com a bola de handebol, alguns com a bola de basquete, alguns sentados só

olhando o jogo e outras três meninas tirando dúvidas da prova com o professor”.

Dessa maneira, a chamada “aula livre” aconteceu em três encontros dos oito

encontros que tivemos. Sendo que cada encontro correspondeu a duas aulas, e tais

momentos se deram ao final das três aulas. Dois desses momentos foram relatados

nos planos de aula, ou seja, foram planejados, tiveram objetivos pedagógicos de

dialogar com os alunos, um planejamento participativo, interativo, no qual os gostos

e autonomia foram levados em consideração. Apenas um desses momentos, que

aconteceu no último encontro da pesquisa, não aparece no plano de aula, mas

encontramos seu relato nos diários. Além desses três momentos, tivemos ainda

uma aula na qual houve a necessidade de unir duas turmas, e que não foi bem

recebida pelos alunos da turma e nem pelo professor e professora pesquisadora.

Pois, não havíamos planejado e eram muitos alunos em quadra.

Na tentativa de tentar debater esses momentos das aulas, faremos uso dos

estudos do historiador Certeau (1998), que busca refletir sobre práticas cotidianas

realizadas pelos indivíduos nas interações sociais. O autor percebe a individualidade

como local no qual se organiza a pluralidade da vivência social, e entente que o

74

cotidiano diz mais de uma sociedade e de um indivíduo do que sua identidade.

Sendo o cotidiano o lugar da liberdade e da criatividade, elementos fundamentais da

sociedade. A partir da teoria do cotidiano de Certeau (1998), nos direciona ao

entendimento que nós, enquanto professores, precisamos estar atentos ao

cotidiano, ao que acontece na escola, as práticas que parecem não ter muita

serventia na formação do aluno, mas traz possibilidade de formação humana,

permitindo o protagonismo do aluno.

Certeau traz em seus estudos as categorias estratégias e táticas para analisar

as práticas de consumo cultural. “...a tática é determinada pela ausência de poder

assim como a estratégia é organizada pelo postulado de um poder” (CERTEAU,

p.101, 1998). Ao negociarem os momentos das aulas, há uma estratégia do

professor para que a aula pudesse ser realizada, sendo tais momentos, o resultado

dessa negociação, consumidos pelos alunos como cultura escolar. Tornando-se

assim, protagonistas do processo pedagógico. Assim, ao pensarmos na

autorregulação dos alunos nos momentos livres, a partir da teoria do cotidiano,

entendemos que os alunos podem ter mais consciência sobre sua civilidade, do

espaço da escola como produção de conhecimento, que nem sempre é

sistematizado. Mas os saberes produzidos são importantes.

75

5 IMPRESSÕES FINAIS DA PESQUISA-AÇÃO

Ao retornarmos as questões levantadas por González e Fensterseifer (2009),

em seu texto “Entre o “não mais” e o “ainda não”: Pensando saída do não-lugar da

EF na escola I”, levantadas a partir do movimento renovador da Educação Física, e

com base em nossa experiência de pesquisa-ação, a partir de nossos instrumentos

(questionários e diários de campo), podemos fazer algumas considerações.

A Educação Física deve compor o currículo escolar, pois ela é muito mais que

uma atividade, possui legalidade e “construindo” sua legitimidade, com um objeto de

estudo, a cultura corporal, suas transformações e implicações sócio históricas, com

metodologias próprias. Seus conteúdos são os jogos e as brincadeiras, as

ginásticas, as lutas, as danças, os esportes e demais manifestações da cultura

corporal. Tais conteúdos com amplitude que tratem de seus aspectos conceituais,

procedimentais e atitudinais, contribuindo para o aperfeiçoamento do pensamento e

ação crítica, e transformação social. Tais saberes podem ter sua complexidade

ampliada com o passar do curso escolar. Devendo-se levar em consideração o

conhecimento prévio dos alunos, seu interesse, bem como a relevância social, com

uma metodologia na qual todos os alunos são incluídos.

Os alunos do nono ano do ensino fundamental da escola pesquisada, vêm

construindo saberes nas aulas de Educação Física. Entendendo-a para além do

saber fazer. O saber de domínio de atividades e os saberes relacionais são os que

se evidenciaram. A Educação Física é vista como momento de aprender diferentes

práticas corporais, bem como momento de conhecimento de diferentes saberes

sobre o corpo e sua relação com o outro e com o mundo que o cerca. O estudo

aponta a prática da Educação Física atrelada ao gosto, pois fazem porque gostam.

E nos dá pista para um ensino voltado ao protagonismo, no qual os alunos tenham

mais liberdade e autonomia, bem como a partir de temas de seus interesses.

Vale lembrar que, devido à greve no período da coleta de dados, houve a

necessidade de mudança no locus da pesquisa, que inicialmente seria em uma

escola da rede estadual, sendo realizada por fim, em uma escola da rede municipal.

Mas de qualquer maneira, evidenciou-se que a Educação Física está mesmo na

fase do “ainda não”, sendo positivo, pois permite-nos fazer como processo de ação-

pesquisa-ação, como se tentou deixar explicitado com a realização dessa pesquisa.

76

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases. Lei nº 9.394/96, 20 de dezembro de 1996.

BUENO. J.G.S; SCHNEIDER, O. A relação dos alunos com saber compartilhado nas aulas de educação física. Movimento, V.11. N. 1, p.23-46. 2005.

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CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: Artes do fazer. 3 ed. – Petrópolis: Editora Vozes. 1998.

DARIDO. S. C.; GONZÁLEZ, F.; GINCIENE, G. O afastamento e a indisciplina dos alunos nas aulas de Educação Física Escolar. Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – PROEF. Disciplina Problemáticas da Educação Física. Disponível em: UNESP – Universidade Estadual Paulista I NEAD – Núcleo de Educação a Distância. Acesso em 30 jun. de 2018.

DARIDO. S. C. Relação entre ensinar a fazer e ensinar sobre o fazer na educação física. Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – PROEF. Disciplina Problemáticas da Educação Física. Disponível em: UNESP – Universidade Estadual Paulista I NEAD – Núcleo de Educação a Distância. Acesso em 30 jun. de 2018.

DARIDO. S. C.; RANGEL. I.C. A. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

DARIDO. S. C. [et al.]. Práticas corporais: Educação Física: 6º a 9º anos: manual do professor. - 1. ed. – São Paula: Moderna, 2018.

GONZÁLEZ. F. J; FENSTERSEIFER, P. E. A Escola e a Educação Física em sociedades democráticas e republicanas. Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – PROEF. Disciplina Escola, Educação Física e Planejamento. Disponível em: UNESP – Universidade Estadual Paulista I NEAD – Núcleo de Educação a Distância. Acesso em 20 set. de 2018.

GONZÁLEZ, F. J; FENSTERSEIFER, P. E. Entre o “não mais” e o “ainda não”: pensando saídas do não-lugar da EF escolar I. Cadernos de Formação RBCE, Curitiba, v. 1, p. 9-24, 2009.

LOVISOLO, H. Normas, utilidades e gostos na aprendizagem. Cultura, atividade corporal e esporte. Rio de Janeiro. Editora Central da Universidade Gama Filho, 1995.

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO BARRA DO GARÇAS. Projeto Político Pedagógico – PPP – Centro Municipal de Educação Básica Dona Delice Farias dos Santos, 2019.

SOARES. C. L. et al. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

77

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THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

ZABALZA, M. A. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.

78

APÊNDICES

79

APÊNDICE A - Questionário diagnóstico de pesquisa:

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ÚLTIMO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL:

CONSTRUÍNDO SABERES SIGNIFICATIVOS

Aluno(a):____________________________________________________________

Ano: _____ Idade: _______ Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

01. Descreva com suas palavras o que é Educação Física?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

02. Você considera o ensino da Educação Física importante para sua formação? Justifique.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

03. Quais conteúdos você já teve em suas aulas de Educação Física durante sua vida escolar?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

04. Quais conteúdos mais gostou? Por quê?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

05. Quais conteúdos menos gostou? Por quê?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

80

06. Você considera importante as aulas de Educação Física tratarem seus conteúdos para além dos momentos de vivência/práticas? Justifique.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

07. Em suas aulas de Educação Física você consegue identificar momentos nos quais as aulas foram além dos aspectos procedimentais/práticos? Cite-os.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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APÊNDICE B - Plano de aula

PLANO DE AULA

Data:___/___/______ Quantidade de aulas: ____ Idade: _____ Ano: _____

Objetivos: _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Conteúdo: _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Procedimentos de ensino:

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Avaliação:

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Recursos:

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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APÊNDICE C - Diário de campo

DIÁRIO DE CAMPO:

(Construído a partir dos estudos da obra: “Diários de aula”de Zabalza, 2004)

Data: ___/___/____ Aula nº:____ Quantidade de alunos: ____

Descrição da realidade observada: (Ambiente escolar, rotina da aula, padrões e momentos que se repetem em relação as ações e falas dos alunos e professores, relato da aula e seus momentos – objetivos, metodologias, conteúdos e métodos avaliativos)

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Análise/Impressões/Avaliações (positivas e negativas), identificação de ideias implícitas, identificação de dilemas profissionais e/ou pessoais (de quem escreve)

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____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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APÊNDICE D - Questionário final de pesquisa

QUESTIONÁRIO FINAL DE PESQUISA:

Aluno(a):____________________________________________________________

01. Por que você faz Educação Física? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

02. Em que a Educação Física contribui para sua vida cotidiana?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

03. Das atividades desenvolvidas durante as aulas do 3º bimestre, quais foram as mais significativas? E por quê?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

04. Algumas das atividades desenvolvidas nas aulas não lhe interessaram? Quais?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

05. O que você aprendeu nas aulas de Educação Física no 3º bimestre?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

06. Você prefere quando a aula é “livre” ou quando é dirigida pelo professor? Por quê?

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____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

07. Quais práticas corporais/atividades você gosta de realizar quando é aula livre?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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APÊNDICE E - Roteiro de entrevista para o aluno

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA O ALUNO:

01.Gostou da aula?

02.O que mais gostou?

03.O que menos gostou?

04.Qual foi o conteúdo da aula de hoje?

05.Você consegue dizer qual foi o objetivo da aula?

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APÊNDICE F - Roteiro para roda de conversa no final da aula:

01.Quem pode dizer qual foi o conteúdo da aula de hoje?

02.Em relação aos objetivos estabelecidos no início da aula, vocês acreditam que

foram alcançados?

03.Vocês consideram que esse conteúdo tem relevância para vocês? Por quê?

04.Houve dificuldades? Quais? Em quais momentos da aula?

05.Vocês tem sugestões para que a aula possa ser melhorada?

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APÊNDICE G - Questionário para o professor da turma

PESQUISA DE MESTRADO: A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NONO ANO: CONSTRUINDO SABERES SIGNIFICATIVOS

Questionário para o professor da turma: 1. Você identifica situações que atrapalham o andamento normal das aulas? Caso a resposta seja positiva, cite quais são esses momentos e o porquê acredita que eles atrapalham sua aula. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2.Como é o seu relacionamento profissional com os demais professores? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.Como é o seu relacionamento com os pais dos alunos? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.Você acredita que sua disciplina agrega valor aos alunos? Explique. _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________