a danÇa no contexto das aulas de educaÇÃo fÍsica · assumindo a dança um conteúdo da cultura...

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GOVERNO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE A DANÇA NO CONTEXTO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: ALGUMAS POSSIBILIDADES CRISTIANE APARECIDA FREIRE FERREIRA 1 UEL - Londrina 2008 Secretaria de Estado da Educação do Paraná - Professora Especialista em Educação Física do Ensino Fundamental e Médio – Professora Efetiva do Estado. E-mail: [email protected]

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Page 1: A DANÇA NO CONTEXTO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA · Assumindo a Dança um conteúdo da cultura corporal, e um dos conteúdos estruturantes da Educação Física, como falar de

GOVERNO DO PARANÁSECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃOPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

A DANÇA NO CONTEXTO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: ALGUMAS POSSIBILIDADES

CRISTIANE APARECIDA FREIRE FERREIRA1

UEL - Londrina2008

Secretaria de Estado da Educação do Paraná - Professora Especialista em Educação Física do Ensino Fundamental e Médio – Professora Efetiva do Estado. E-mail: [email protected]

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A DANÇA NO CONTEXTO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA:

ALGUMAS POSSIBILIDADES

Cristiane Aparecida Freire FerreiraColégio Estadual Jerônimo Farias Martins - NRE de Cornélio Procópio

Ana Maria PereiraProfª. Dra. da Universidade Estadual de Londrina

Resumo

O presente artigo é a materialização de um Projeto de Trabalho, que faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional, ação política pública, do Governo de Estado do Paraná – Brasil. Os estudos do Projeto de Trabalho em convergência com o Programa de Estado referem-se questões de redimensionamento da práxis pedagógica por meio da Formação Continuada em serviço e da atuação profissional. O propósito específico é articular novas formas de intervenção para o ensino da Educação Física, mais especificamente, do conteúdo estruturante Dança, a partir do real escolar, do chão de nossa escola. Consideramos este estudo como possibilidade de discussão e de intervenção desse conteúdo e valorização do mesmo como área de conhecimento. O referido estudo concretiza trabalhos com a Dança, considerando a história do aluno trabalhador rural e a interação família-escola. Argumentamos em favor de um ensino do conteúdo estruturante Dança conectado com o mundo-vida do aluno, contribuindo para uma aprendizagem significativa, assim como, a utilização da Dança como elo de ligação entre família e escola.

Palavras–chave: Dança. Escola. Possibilidades.

Abstract

This article is the materialization of a Project Work, which

is part of the Program for Educational Development, action, public

policy, the Government of State of Parana - Brazil. Studies Project

Working in convergence with the State Program relate to issues of

resizing practice teaching through continuing education and in service

of professional practice. The specific purpose is articulate new forms of

intervention for the teaching of Physical Education, specifically the

content structuring Dance from the actual school, the floor o four

Page 3: A DANÇA NO CONTEXTO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA · Assumindo a Dança um conteúdo da cultura corporal, e um dos conteúdos estruturantes da Educação Física, como falar de

school. We consider this study as a possibility for discussion and

intervention of the content structuring and upgrading of Dance as a

field. This study complements work and family-school interaction. We

argue in favor of a teaching of content structuring Dance connected

with the world of student-life, contributing to a significant learning as

well as the use of dance as a link between family and school.

Key-words: Dance. School. possibilities.

1- O Programa de Desenvolvimento Educacional

A Secretaria de Estado da Educação, do Estado do Paraná, em

parceria com a Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino

Superior, instituiu o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.

Este programa faz parte de uma política educacional inovadora de

Formação Continuada em Serviço, dos professores e professoras da

Rede Pública Estadual.

O PDE se constitui numa política pública que estabelece o diálogo

entre os professores da Educação Superior e os da Educação Básica,

por meio de atividades teórico-práticas orientadas e tem com objetivo

a produção de conhecimento visando as mudanças qualitativas na

prática escolar da escola pública paranaense. O objetivo desse

Programa é propiciar aos professores da Rede Pública Estadual

subsídios teórico-metodológicos tendo em vista o aprimoramento de

ações educacionais sistematizadas, redimensionando a sua práxis

pedagógica.

Participam desse Programa professores e professoras que

exercem o magistério na Rede Estadual de Ensino, que foram

selecionados por meio de uma prova pública. Esses professores têm

garantido o direito a afastamento remunerado de 100% de sua carga

horária efetiva no primeiro ano de formação continuada (ano de 2007)

e de 25% no segundo ano do Programa (2008).

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O professores que estão em formação continuada deverão criar

as condições efetivas, no interior da escola com seu parceiros de

trabalho, para o debate e promoção de espaços de construção

compartilhada dos saberes e dos fazeres da práxis pedagógica da área

que estudam e pesquisam.

O Programa de Desenvolvimento Educacional está atento às reais

necessidades de enfrentamento de problemas ainda presentes na

diferentes modalidades da Educação Básica. O Programa contempla

vários conteúdos curriculares, sendo um deles a Educação Física. No

que se refere à organização do trabalho pedagógico em Educação

Física, de acordo com as diretrizes curriculares do Estado do Paraná, o

empenho foca-se na construção do projeto político pedagógico, no

reconhecimento social da disciplina, na unidade dialética entre teoria e

prática, com vistas à superação do trabalho fragmentado.

Como atividades desse Programa o professor PDE1, sob a

orientação de seu professor-orientador da Instituição de Ensino

Superior, IES, realizou as seguintes ações:

a) Plano de Trabalho: constituiu-se de um documento escrito,

elaborado individualmente pelo Professor PDE, sob a orientação de seu

professor orientador, contendo revisão de literatura sobre o tema, bem

como possibilidades de resolução dos problemas levantados no

cotidiano escolar na disciplina de Educação Física.

b) Acompanhamento dos Grupos de Trabalho em Rede: O GTR2

constituiu-se numa atividade do Programa de Desenvolvimento

Educacional caracterizada pela interação virtual entre o Professor PDE

e os demais professores da rede pública estadual, e buscou efetivar o

processo de Formação Continuada. O Professor PDE foi denominado

Tutor de um Grupo de Trabalho em Rede, composto de até 37

professores do Quadro Próprio do Magistério, conforme sua disciplina

ou área de seleção no Programa.

1 Doravante,usaremos a expressão professor PDE para designar os professores selecionados por concurso para participarem do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná.2 Daqui para frente, usaremos a sigla GTR para designar os professores participantes dos Grupos de Trabalho em Rede.

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Nos Grupos de Trabalho em Rede, foram compartilhados e

socializados os conhecimentos adquiridos pelo professor PDE nos

Seminários e Cursos oferecidos pela Secretária de Educação do Estado

e pela Instituição de Ensino Superior. Conforme o PDE prevê, a carga

horária dos Grupos de Trabalho, foi de sessenta (60) horas, efetuada

em rede online, à distância, de modo virtual, com apoio da Plataforma

Moodle.

Moodle é uma plataforma de acompanhamento e integração em

rede, de modo informatizado, que esteve inserida no Portal Dia-a-dia

Educação do Governo Estadual do Paraná, no período de 10/09/2007 à

30/06/2008. Essa plataforma teve o objetivo de proporcionar a

integração entre os professores PDE e os professores do GTR, no

sentido de compartilhar conhecimentos e construir coletivamente uma

possibilidade de intervenção.

c) Produção Didático-pedagógica: caracterizada pela produção de

Material didático (Folhas) pertinente ao objeto de estudo, de acordo

com sua área/disciplina.O Folhas é um projeto de Formação Continuada

que favorece ao profissional da educação a reflexão sobre sua

concepção de ciência, conhecimento e disciplina, que influencia a

prática docente. O Folhas integra o projeto de formação continuada e

valorização dos profissionais da Educação da Rede Estadual do Paraná,

instituído pelo Plano Estadual de Desenvolvimento Educacional. O

Folhas, nesta dimensão formativa, é a produção colaborativa, pelos

profissionais da educação, de textos de conteúdos pedagógicos que

constituirão material didático para os alunos e apoio ao trabalho

docente.

d) Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na

Escola: visando principalmente enfrentar e contribuir para a superação

das fragilidades e problemas apontados pelo Professor PDE na escola

de atuação. Nossa intervenção ocorreu no Colégio Estadual Jerônimo

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Farias Martins - Ensino Fundamental e Médio do Município de Santa

Cecília do Pavão, Estado do Paraná.

A organização desse programa de formação continuada em

serviço favorece a comunicação do mundo vida do professor da

instituição de ensino superior articulado com o mundo vida do

professor da realidade da educação básica. Esse diálogo favorece a

construção de ações de intervenção de forma compartilhada e

consistente, de modo a diminuir a distância entre a ciência e o real

escolar.

2- A Dança no Contexto das Aulas de Educação Física: Algumas

possibilidades.

As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná apresentam a

Dança como conteúdo estruturante da Educação Física, sendo assim,

por que a mesma tem sido pouco desenvolvida no âmbito da escola?

Há que desconstruir e desfazer a representação social

equivocada, que persiste até hoje, de que a Dança é elitista, não

adequada às aulas de Educação Física, que a concepção de Dança está

associada à realização de gestos perfeitos e pré-estabelecidos.

É certo que se faz necessário desenvolver técnicas de Dança e

interpretação, porém a capacidade do aluno em expressar aquilo que

sente, ou seja, o movimento individual e expressivo deve também ser

levado em consideração.

Por meio da Dança pode-se favorecer o desenvolvimento da

educação e da formação humana? Será que a Dança quando

trabalhada nas aulas de Educação Física está preparando o aluno para

opinar, refletir, discutir e propor mudanças significativas, permitindo a

ele, construir e abordar conhecimentos que possibilitem sua formação

sob dimensões mais amplas?

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Qual o real significado da Dança nas aulas de Educação Física?

Será que ela tem ocupado seu espaço uma vez que é manifestação da

cultura corporal?

Em busca de poder responder a estas e outras argumentações é

que nos propusemos a estudar e defender a importância da Dança nas

aulas de Educação Física.

A partir da experiência vivida ao longo de 19 anos no exercício do

magistério, e ainda, por meio de diálogos sobre a prática pedagógica

com os professores que atuam com a Educação Física do Núcleo

Regional de Educação de Cornélio Procópio, mais especificamente na

cidade de Santa Cecília do Pavão, infere-se que quando se propõem

trabalhar o conteúdo Dança no contexto das aulas, percebemos de

imediato as reações desfavoráveis por parte dos alunos, sejam por

questões que envolvem a sexualidade (machismo), por questões de

preconceito, por vergonha, inibição e até mesmo devido à excessiva

prática da esportivização o que faz com que estes alunos entendam a

aula de Educação Física como sinônimo de Esporte.

Neste sentido, é que propomos o desenvolvimento deste estudo

junto ao PDE, destacando o trabalho da Dança folclórica e suas

possibilidades de contribuir com reflexões sobre a diversidade cultural

permitindo que os alunos vivenciem as diferenças desse campo de

conhecimento.

Alinhados ao pensamento Freireano que nos aponta a

importância de significar o conhecimento, o que fazer para

significarmos o caminho da Dança? Estamos apenas lendo o caminho

da Dança ou interpretando-o?

É de suma importância dar um novo significado as aulas de

Dança no cotidiano da escola, para que a mesma transcenda o senso

comum e rompa com formas arraigadas e equivocadas em relação à

sua prática.

Desde a Pré-História o homem dançava. A Dança surge como

fruto da necessidade de expressão do homem, pois sempre esteve

presente nos momentos solenes da humanidade (...) “das cavernas à

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era dos computadores, a Dança fez e continua fazendo história”.

(SBORQUIA e GALLARDO. 2006).

FARO (1983 p.13) nos aponta que assim como a arquitetura veio

da necessidade de constituir uma moradia fixa, segura para o homem

e sua família, a Dança veio da necessidade deste mesmo homem poder

se expressar exprimindo assim seus sentimentos.

Garaudy (1980 p. 27), na sua obra Dançar a Vida, afirma que:

A vida quotidiano pode ser expressa pela linguagem,

mas não os acontecimentos que a transcendem. A dança

exprime estas transcendências. O homem dança para

falar sobre o que ele honra ou sobre o que o emociona.

Assumindo a Dança um conteúdo da cultura corporal, e um dos

conteúdos estruturantes da Educação Física, como falar de Dança nos

dias de hoje e consolidar a sua presença no cotidiano da práxis

pedagógica do profissional desta área de conhecimento?

A Dança é um conteúdo estruturante da Educação Física tão

importante como os demais, ao descartá-lo prejudicamos a formação

do aluno, o ensino de Dança nas escolas reclama mudanças. O agir e

refletir muitas vezes não se faz presente na Dança escolar e como

vemos em MOREIRA (2004) a prática da Dança nas aulas de Educação

Física deve propiciar o construir de uma cultura reflexiva. O movimento

pelo movimento precisa ser banido, a aula de Dança deve ser um

espaço para a transformação dos alunos. Seguindo este mesmo

pensamento VIANNA (1990) nos diz que a técnica todo mundo pode

aprender, mas a técnica não é nada sem a reflexão.

É necessário nas aulas de Educação Física fazer da Dança um

conteúdo essencial para a formação do aluno como um todo, sendo a

intervenção desses para além das simples reprodução de elementos

coreográficos. Não basta desenvolver habilidades, mas também

atitudes, ou seja, o trabalho de Dança deve deixar de ser apenas a

construção de uma coreografia idealizada pelo professor e repetida

pelo aluno, para ser a manifestação de um fenômeno coletivo, criada e

transformada por todos os atores do contexto onde a aula acontece.

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A área de Dança é uma área privilegiada, podemos trabalhar,

discutir e problematizar a pluralidade cultural levando o aluno a

conhecer outras formas de pensar, agir, reagir e perceber um contexto

de significações da nossa cultura corporal de movimento. O ensino de

Dança deve contemplar a enorme riqueza das manifestações corporais

produzidas socialmente pelos diferentes grupos humanos (DCE – PR,

p.20).

Para Merleau-Ponty (1999, p. 203):

O corpo é nosso meio geral de Ter um mundo. Ora ele

se limita aos gestos necessários à conservação da vida

e, correlativamente, põe em torno de nós um mundo

biológico; ora, brincando com seus primeiros gestos e

passando de seu sentido próprio a um sentido figurado,

ele manifesta através deles um novo núcleo de

significação: é o caso dos hábitos motores como a

dança. Ora, enfim a significação visada não pode ser

alcançada pelos meios naturais do corpo; é preciso

então que ele se construa um instrumento, e ele projeta

em torno de si um mundo cultural.

A Dança deve abrir espaço para a criação e formação de

identidades culturais, produzindo inúmeras possibilidades entre a arte,

ensino, aluno e sociedade, ou seja, o conteúdo Dança deve ser inserido

num contexto cultural. Os alunos têm diferentes experiências,

conhecimentos, valores, religiões, raízes culturais, classes sociais e

essa heterogeneidade pode oferecer ao trabalho pedagógico uma

grande fertilidade.

Deve-se favorecer por intermédio da Dança a percepção de que

“cada estudante traz em si um grande tesouro. Ninguém é tabula rasa.

Ninguém é vazio” (CHALITA, 2005).

Corroboramos a idéia de podermos, no transcorrer das aulas de

Educação Física, criar momentos em que a história pessoal de cada

aluno possa ser manifestada, suas experiências possam ser valorizadas

e seu conhecimento ressignificado. Mais especificamente, romper com

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uma prática de Dança já pré-estabelecida, e valorizar a construção do

novo tendo por referência a história de cada aluno.

Acreditamos que a Dança nas aulas de Educação Física deve

respeitar e valorizar a cultura do aluno, integrar essas diferenças no

contexto grupal, aproveitando todo movimento e expressão

apresentado pelo grupo, permitindo ao professor conhecer melhor seus

alunos, identificar suas diferenças, discutir suas experiências.

Para Isabel MARQUES (2006) a Dança na escola tem como

compromisso social ampliar a visão e as vivências corporais do aluno

em sociedade a ponto de torná-lo um sujeito criador, pensante, de

posse de uma linguagem artística transformadora. A prática da Dança

não deve existir só para propiciar prazer a quem a realiza, mas sim

deve permitir que se efetive o compromisso com a formação integral

do sujeito.

SBORQUIA e GALLARDO (2006) destacam que o aluno quando

Dança, fala e se expressa como resultado de um processo construtivo

que acontece no meio cultural.

Partimos do princípio de que a Dança na escola pode ser capaz

de provocar situações de debate que permite ao aluno compreender

criticar e transformar sua realidade. Conforme MARQUES (2001) a

educação através da Dança assume o papel no mundo de hoje, de não

estar apenas centrada no aluno e em suas experiências pessoais, mas

sim na sociedade e nas relações que podem ser estabelecidas entre a

dança e o aluno, encontrando assim diferentes maneiras de construir e

de reconstruir um modo de fazer Dança mais significativo para o

mesmo.

A complexidade e a unicidade humanas emergem também nas

atividades expressivas. A arte é uma expressão do ser humano,

embora haja expressão naquilo que não é arte. A arte é ação, ação

criadora traduzida na pintura, na música, na poesia, na literatura, na

escultura, na dança, no esporte e outras.

Na arte o humano é mais humano, para Fontanella (p. 127) “o ser

não é mais que o agir. Então, o ser se iguala perfeitamente o agir. O

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artista é todo ele agindo, sem corpo, sem alma; é todo sentimento,

todo ação, todo razão, todo homem sem distinção.”

Ana Maria Pereira (p. 92) afirma que na dança, o corpo e a razão

se confluem e fluem num embalo humano. Dançar é uma linguagem

corporal que não se separa da mental. É culturalmente ação encarnada

da motricidade humana, fruto da tradição construída coletivamente. Na

dança há um fluir e um deslizar do humano que traduz a sua inteireza.

A unidade está presente no convívio, na expressão da alegria, no som e

no ritmo contagiante. Ao dançar o homem está todo nele e está,

simultaneamente, com todos os outros. A dança pode ser um momento

de vivência unificada, no qual o ser humano se deixa levar para uma

realidade indissolúvel, bailando e agindo na totalidade.

Merleau-Ponty (p. 203) esclarece que o ser humano projeta

movimentos de expressão e significação e um destes núcleos

significativos é o caso dos hábitos motores como a Dança, pois há no

gesto um sentido que se projeta em torno de si um mundo cultural. A

Dança ao longo dos tempos manifestou uma forma de existência e de

essência. Suas raízes são cheias de significados.

PEREIRA (2006) elucida que dependendo do contexto e da

situação em que a Dança é vivida. É preciso superar os dualismos e

educar na perspectiva da unicidade. Sua vivência pode ser una ou dual

e que precisamos educar na perspectiva da unicidade superando os

dualismos. Concordamos com a autora, pois entendemos que a Dança

escolar necessita ser trabalhada de um modo que permita aos alunos

compreender o corpo uno e complexo sem fragmentá-lo em físico e

cognitivo.

Urge a necessidade de se trabalhar o ensino da Dança folclórica

de forma crítica e transformadora, buscando um diálogo entre o mundo

da Dança e o mundo vivido pelo aluno, utilizando-a como um meio para

ampliar a visão do aluno, para que o mesmo seja um agente

transformador da sociedade objetivando sua transcendência.

3- O percurso de uma práxis.

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Toda a nossa trajetória de formação continuada esteve alicerçada

numa abordagem qualitativa, por entender que expressou uma atitude

importante no campo da investigação educacional e da intervenção

didático-metodológica.

A presente Proposta de Intervenção, desenvolveu as seguintes

ações:

a) Redimencionamento da nossa concepção de Educação, à partir

dos Cursos, Encontros e Seminários, proporcionados pela Secretaria de

Estado da Educação.

b) Encontros de Orientação, junto aos professores das IES,

redimencinando a concepção/representação da área específica, no

caso a Educação Física;

c) Seleção do referencial teórico acerca do objeto de estudo: A

Dança no Contexto das Aulas de Educação Física: Verificando

Possibilidades, Educação, Educação Física e Intervenção Pedagógica.

d) Estudos do professor PDE, orientados por seu professor-

orientador.

e) Construção do Plano de Trabalho, com o objetivo de viabilizar

mudanças efetivas e concretas para a intervenção da Educação Física

no âmbito escolar.

f) Estudos em grupo, online, partilhando os conhecimentos

adquiridos pelo professor PDE com os professores da rede pertencentes

ao GTR, sobre o referencial teórico escolhido.

g) Elaboração de um Material Pedagógico Folhas, Elaboração e

implementação da proposta, através de planos de aula, com vistas à

intervenção do professor PDE na escola de atuação.

3.1 Elaboração do Plano de Trabalho

O Plano de Trabalho constituiu-se de um documento escrito,

elaborado individualmente pelo Professor PDE, sob a orientação de seu

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professor-orientador (IES), contendo revisão de literatura sobre o tema,

bem como possibilidades de resolução dos problemas levantados no

cotidiano escolar na disciplina de Educação Física com base nos

estudos realizados.

O Plano de Trabalho compreendeu também a elaboração do Projeto

de Intervenção Pedagógica e sua implementação na escola, e gerou

fundamentação teórica para a elaboração da Produção Didático-

Pedagógica, no caso específico um Folhas, disponibilizado aos

professores GTR e destinado ao aluno.

3.2 Orientação aos grupos de trabalho em rede

Os professores participantes deste programa de formação

continuada em serviço, os professores PDE, tiveram como

responsabilidade, para além de sua própria formação, a formação de

outros 37 (trinta e sete) colegas de profissão, considerando as suas

áreas curriculares específicas da atuação. Isso significa que os

professores PDE foram multiplicadores de um dado conhecimento, por

isso a denominação de Trabalho em Rede.

Os GTR, por sua vez, foram compostos à partir da inscrição dos

professores da Rede Estadual, realizada on line, e distribuídos através

de critérios da própria Secretaria, para serem tutoriados pelo professor

PDE.

No Grupo de Trabalho em Rede, foram compartilhados e

socializados os conhecimentos estudados profundamente por mim e

também os adquiridos nos Seminários e Cursos oferecidos pela

Secretária de Educação do Estado e pela Instituição de Ensino Superior.

Conforme o PDE prevê, a carga horária dos Grupos de Trabalho,

foi efetuada em rede on line, à distância, de modo virtual, com apoio

da Plataforma Moodle.

A proposta para os GTR teve como objetivo a construção

colaborativa do Material Didático-pedagógico, à partir da interação dos

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professores envolvidos, bem como sua aplicação pelos professores

GTR, em suas escolas de atuação.

3.3 Elaboração do Material Didático (Folhas)

A elaboração do material didático-pedagógico consistiu na

produção colaborativa, envolvendo o professor PDE, seu professor-

orientador (IES) e os professores do GTR, na construção de um Folhas é

um texto de conteúdo pedagógico, que propõe uma metodologia

específica, baseada nos fundamentos teórico-metodológicos apontados

pelas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná e

seus Conteúdos Estruturantes, servindo de material didático para

alunos e apoio ao trabalho docente.

Nosso Folhas, sob o título O conteúdo Dança na formação e

emancipação do aluno, propôs-se a abordar o conteúdo estruturante

Dança, fazendo relações com as disciplinas de História e Ciências,

direcionado à quinta série do Ensino Fundamental para uma faixa

etária de 11/12 anos, que teve como objetivo construir um

conhecimento por meio da Dança Folclórica Maçanico, levando o aluno

a ter um olhar plural sobre a Dança não se limitando apenas a

realização de uma coreografia.

A construção do material didático-pedagógico (Folhas),

forneceu subsídios para implementarmos a intervenção no chão da

escola.

3.4 A Implementação da Proposta

A intervenção escolar teve início com a partilha do Plano de

Trabalho e do Material Didático (Folhas), elaborado pelo professor PDE

sob a orientação do professor orientador da Instituição Superior de

Ensino, disponibilizado no site [email protected] e sugerido aos

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professores dos Grupos de Trabalho em Rede, como uma das possíveis

formas de intervenção.

Ao escolhermos a Dança, para este estudo pretendemos

apresentar para a Educação Física possibilidades, seja por meio da

participação dos pais, ou pelos costumes, movimentos do cotidiano de

nossa “gente”, nossa escola, ou seja, uma Dança que tivesse a “cara”

da sociedade econômica, nossa cultura a realidade de nossa região que

representasse o sentir, o pensar e agir de nossa comunidade.

Compartilho aqui o que se concretizou em nossa intervenção por

meio de experiências vividas do conteúdo Dança, foram duas ações na

escola. Primeiramente na 5ª série A do turno da manhã, depois num

segundo momento a intervenção se deu na 8ª série C do turno da tarde

do Colégio Estadual Jerônimo Farias Martins, na cidade de Santa Cecília

do Pavão, Estado do Paraná- Brasil.

3.4.1 O conteúdo Dança como elo de ligação entre família e

escola

Essa primeira proposta foi operacionalizada com os alunos da

quinta série por meio do material didático de nossa autoria no caso um

folhas, ou seja, um texto que dialoga com o aluno sobre a Dança desde

à época das cavernas, tendo a intenção de trabalhar com o conteúdo

Dança na formação e emancipação do mesmo, oferecendo desafios aos

alunos, situações problemas a serem resolvidos de forma

contextualizada. Este material didático valoriza a cultura local e aponta

relações com as disciplinas de Ciências e História.

Nossa intenção foi estudar de forma rigorosa e construir por meio

da Dança uma outra possibilidade, em que haja uma interação família-

escola, viabilizando um elo maior de afeto entre pais e filhos.

Por entendermos a Dança como conteúdo/arte presente nas

diferentes culturas e a representação da forma de se pensar, agir e

reagir das diferentes pessoas de uma sociedade propomos também,

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para esta intervenção, a participação dos pais em alguns momentos do

desenvolvimento deste processo.

Esta série era composta de 24 alunos sendo que 13 pais

participaram dos encontros que foram realizados no período noturno,

para atingir um maior número de pais uma vez que todos trabalhavam

durante o dia.

Trabalhamos com a Dança que os pais já conheciam.

Observamos que, dançando e conversando em nossos encontros os

pais foram capazes de trazer para seus corpos memórias da juventude,

situações do seu cotidiano, questões de gênero na Dança.

Enviamos convites aos pais ou responsáveis pelos alunos da 5ª

série A, do período matutino para comparecerem no período noturno a

cinco encontros com duração de duas aulas de cinqüenta minutos

cada, pelo fato de maioria dos pais trabalharem durante o dia.

Em nosso primeiro encontro fizemos uma explanação do nosso

projeto, contamos com a participação do diretor da escola que

ressaltou a importância do nosso estudo. Compareceram 13 pessoas

sendo 04 pais, 08 mães e 01 avó, a referida turma possui 24 alunos.

Realizamos atividades de dinâmica de grupo com perguntas

relacionadas a vida familiar e escolar, observamos que alguns pais não

sabiam nem a série que seu filho estudava.

Em uma das atividades em que os pais falavam o nome dos

filhos ao mesmo tempo que teriam que criar movimentos com seus

corpos, a maioria apresentou muita timidez.

Em um outro momento assistimos à um D.V.D (Folclore em

Questão) no qual apresentava algumas danças folclóricas. Após a

exibição do filme, fez-se uma sondagem sobre quais danças folclóricas

os pais já conheciam. Apenas dois pais disseram conhecer algumas.

Optamos então por uma Dança folclórica do Rio Grande do Sul

chamada “Maçanico”, pois os pais gostaram mais dessa pelo fato dos

passos coreográficos serem mais fáceis e também já tínhamos

trabalhado esta Dança por meio da operacionalização de nosso folhas

com os educandos.

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Não poderíamos deixar de mencionar o efeito que isso causou

em nossa escola, pois os pais foram convidados para participarem com

seus filhos de uma apresentação na semana cultural, e alguns deles

encararam esse desafio abrilhantando assim esse evento.

Após a apresentação um dos professores sugeriu que colocasse

as fotos desta apresentação no blog da escola. Pediu-se também aos

pais que relatassem sua experiência de participar com o filho de uma

aula de dança.

Havia um painel na Feira Cultural ilustrando fotografias das

atividades realizadas durante nossos encontros.

O Diretor do Colégio Estadual Jerônimo Farias Martins escreveu

que: “este estudo promoveu a interação entre a família e a escola,por

meio do dançar. Acredito ser necessário termos mais encontros como

estes.”

No mesmo dia após o evento na escola pedimos aos pais que

escrevessem sobre esta experiência.

Vale ainda lembrar alguns depoimentos redigidos pela família.

“Eu Andréia Sampaio, vivi uma experiência única de estar participando

ao lado do meu filho. É maravilhoso e compensador ver a alegria e o sorriso

dele. Aconselho a todos os pais a participarem um pouco de cada momento

de seu filho: É muito prazeroso. Nunca imaginei que poderia um dia voltar a

apresentar no Colégio onde estudei. Obrigada pela oportunidade.” (Andréia).

“Foi uma experiência inesquecível porque eu jamais imaginava

participar de uma dança para tantas pessoas, mais o que a gente faz para os

filhos? Mas eu particularmente gostei muito, é uma emoção inesquecível”.

(Vanderley).

“Essa experiência foi muito importante, pois nunca havia dançado com

meus filhos e neste dia tive a oportunidade de dançar com meu neto, foi

enriquecedora esta experiência. Diverti-me muito com todos os participantes.

Foi muito bom ver a comunidade unida através da escola, principalmente se

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tratando de crianças. Sugiro que a escola sempre faça este tipo de atividade

incluindo as famílias.” (Irene).

“Bom diante do nosso dia-dia, corrido e atarefado, dificilmente vamos

a escola ver nossos filhos, como está o ambiente de estudo, conversar com

seus professores e outras coisas. Com esta oficina de dança não só fui a

escola como participei com minha filha da dança, conversei com seus colegas

e professores e senti mais de perto o ambiente da escola e percebi que nós

“pais” temos que participar mais da vida de nossos filhos.” (Luis).

“Foi uma experiência muito boa. É muito bom participar com os nossos

filhos porque ele ficou muito feliz, e eu também. E nós temos que estar

sempre na escola, para ver as dificuldades que eles enfrentam. A experiência

foi ótima”. (Maria Leiza)

É verdade que os pais tiveram uma certa resistência à Dança no

primeiro encontro. Alguns confessaram que foram pela insistência de

seus filhos e acabaram gostando da experiência como nos revela os

relatos. Nesse sentido, a experiência vivida com o presente trabalho

pode ser considerada significativa, pois mostrou ser possível por meio

do conteúdo Dança trazer os pais para a escola.

3.4.2 O conteúdo Dança conectado com o mundo-vida do aluno

A aprendizagem somente será significativa para o aluno se

ela tiver sentido e significado, se partir daquilo que o aluno

vive,experimenta, da sua cultura motora pessoal e local, suas

brincadeiras, seus jogos, sua vivência, ou seja, do seu mundo-

vida.

Ana Maria

Pereira

Defendemos e operacionalizamos na escola o conteúdo Dança

que enfatiza e valoriza a História do aluno Trabalhador Rural, que tem

no seu cotidiano uma motricidade adquirida pelo trabalho na roça. Foi

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por meio da Dança que mostramos a grande riqueza do aluno

Trabalhador Rural.

Em nossa intervenção com os alunos da oitava série do período

vespertino construímos “temas” que envolvessem os costumes de

nossa cidade o cotidiano de nossa “gente”, ou seja, uma Dança que

tivesse a “cara” da nossa escola, e que representasse o sentir, o

pensar e agir de nossa comunidade.

Optou-se então por uma Dança que valoriza a história do aluno,

no caso trabalhadores rurais partindo do seu contexto real, a Dança no

“chão” da escola. Era preciso respeitar a cultura geral na assunção e

construção do conhecimento compartilhado “o que se aprende com o

professor” e aquilo que o aluno traz, buscando a coletividade.

Qual Dança é o chão da nossa escola? Uma vez que o perfil de

nossa escola é agrícola, fizemos uma pesquisa e descobrimos que o

cultivo agrícola mais eminente é o café. A partir deste contexto

realizaram-se visitas à um sítio, pesquisas, debates sobre condições

dos trabalhadores rurais e elaboração de coreografia partindo dos

movimentos realizados no processo de colheita do café.

Durante nossa intervenção na escola procuramos oferecer

desafios aos alunos, situações problemas a serem resolvidos, de forma

contextualizada.

No decorrer de nossas aulas procurávamos estratégias que

possibilitassem ao aluno refletir elaborar hipóteses e expressar o seu

pensamento por meio de perguntas investigativas como por exemplo:

É possível elaborar uma coreografia com os movimentos da

colheita de café?

Ao avaliarmos o processo de intervenção da Dança na escola,

avaliação essa realizada por meio de questionário, sentimo-nos

privilegiados com o comentário de um dos alunos que escreveu não

imaginar a existência de uma Dança da colheita do café apesar de

colher café há 03 anos. Isto muito nos encheu de alegria houve uma

mediação entre o saber popular e o saber erudito. Afinal, este aluno

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aprendeu um conhecimento fruto de uma cultura corporal e o conteúdo

estruturante Dança foi além do físico-tão-só.

Nossa intenção foi alcançada o aluno compreendeu que o

corpo que Dança também aprende. Acreditamos que nossos alunos

precisam entender que eles vêm para a aula de Educação Física para

aprender um dado conteúdo, seja via Jogos, Lutas, Ginástica, Danças,

etc.

Nos relatórios redigidos pelos alunos pedimos aos mesmos que

escrevessem não só o aspecto teórico, mas o que viveu enquanto

corporeidade nestas aulas de Dança. Gostaria de ressaltar o

comentário de alguns:

“Eu colhia café, mas não sabia que existia uma Dança da colheita do

café.” Fábio dos Santos Percino 8ªC

“Muitos colhem café e não sabem que existe a Dança” Lourival 8ªC

“Minha experiência foi muito boa, porque eu achava que a Dança era

só apenas uma diversão, mas na verdade ela fez parte do nosso dia-a-dia.”

Giovanna 8ªC

Pelo fato de estarmos no contexto da colheita de café, visitar

uma plantação sentissem e participassem desta Dança, isto facilitou a

compreensão da mesma como relata a aluna C., 14 anos.

“Não foi muito difícil porque vimos a colheita do café, por isso não foi

difícil”.

O objetivo destas aulas de Dança foi proporcionar aos alunos a

oportunidade de criar uma coreografia refletindo sua corporeidade no

seu mundo-vida.

A coreografia foi elaborada a partir dos movimentos de colher,

peneirar, ensacar, rastelar, aumentando o grau de percepção do aluno,

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foi uma coreografia conectada com o mundo da criança/aluno onde

houve sentido e significado.

Favoreceu-se um conhecimento compartilhado, uma vez que

muitos alunos da referida turma já ajudavam seus familiares na

colheita do café, favorecendo assim a socialização com os demais

colegas.

“A dança como arte, porém, deve encontrar os

seus fundamentos na própria vida, concretizando-se

numa expressão dela”.

(Sborquia. Gallardo - 2006)

4- Considerações finais de um processo inacabado

Enquanto Educadora, atuar no Plano de Desenvolvimento

Educacional foi um desafio, já que o mesmo reconhecia-se como um

campo em construção e o novo nos assustava.

Em relação ao desenvolvimento do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE, do Estado do Paraná, na sua

versão 2007/2008, foi possível constatar que foi um importante

instrumento de qualificação profissional, pois possibilitou a

aproximação da Escola Pública com as Universidades onde, a troca de

experiências e o contato com as novas metodologias proporcionaram,

com certeza, mudanças positivas e significativas. Conhecer

profissionais de Educação Física e de outras áreas, voltar às cadeiras

de uma Universidade, efetivamente ajudou-me a repensar minha

práxis pedagógica e defender minhas idéias com mais propriedade.

Entretanto, tínhamos que voltar para o exercício do magistério, assumir

a sala de aula, ao mesmo tempo que teríamos que dar continuidade

nos estudos do PDE. O segundo ano foi árduo o que dificultou muito,

nossos estudos.

No que se refere ao Grupo de Trabalho em Rede tínhamos vinte e

seis professores, o qual finalizou com quinze professores, no período de

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setembro de 2007 até o mês julho do ano de 2008. Sugere-se que este

seja realizado em horário presencial para que se obtenha melhores

resultados. Apesar de mantermos um número considerado elevado de

professores comparado com os demais colegas professores do Plano de

Desenvolvimento Educacional observou-se muitas dificuldades por

parte dos professores no intercâmbio, inexperiência dos professores,

dificuldade de trabalhar com o conteúdo Dança e falta de participação

ativa na discussão da implementação e elaboração do material

didático-pedagógico.

Como educadora e principalmente por acreditar na importância

do conteúdo Dança na Educação Física, defendo a necessidade de

aumentar o número de pesquisas sobre Dança principalmente no

âmbito do Programa de Desenvolvimento Educacional (P.D.E.). Justifico

estas reflexões levando em consideração a ausência de produção de

material didático (folhas) no ensino fundamental do conteúdo

estruturante Dança e a negligência de muitos professores de Educação

Física baseado no grupo de trabalho em rede (GTR) do qual fomos

tutoras e nas angústias que os mesmos tinham em relação a este

conteúdo estruturante.

O conteúdo Dança na Escola pode ser avaliado durante as aulas

com os educandos e encontros com os pais por observações, relatórios

e discussões. Destaca-se a aqui a importância dos momentos de

reflexão sobre a ação executada, quando o educando, questionou,

refletiu os movimentos realizados. Apresentou-se aqui possibilidades

de se trabalhar com o conteúdo Dança.

Trabalhar o conteúdo Dança junto com os pais foi uma das

maneiras de fazer/construir o novo, abrir os portões da escola para a

família do aluno, fazendo das aulas de Educação Física também um

espaço comunitário que promove a articulação entre família e escola.

Apesar de nossa experiência limitar-se apenas em uma turma de

quinta série e participação de sessenta por cento dos pais. Fica aqui o

convite aos educadores para a construção de novos projetos que

envolvam a família na escola.

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Foi uma experiência inovadora, que com certeza ampliou nossos

horizontes, trabalhar com o conteúdo Dança como elo de ligação entre

pais e alunos, família e escola. Vivemos num mundo tão apressado em

que cada vez se tem menos tempo, oportunizar esse momento assim

como fazer com que os pais sentissem parte integrante da escola foi

uma oportunidade ímpar e muito gratificante.

No que diz respeito a nossa intervenção junto aos alunos

podemos dizer que as potencialidades da Dança se fizeram realmente

presente na práxis, construiu-se conhecimento por meio do conteúdo

estruturante Dança no caso “ Dança da Colheita do Café” já que esta

foi conectada com o mundo do aluno em que houve sentido e

significado.

Para os educandos o conteúdo Dança mostrou ser um contributo

mais relevante do que uns “passinhos” a mais na vida dos deles. Nessa

dimensão ao dançarmos podemos adquirir uma postura crítica diante

do mundo, somos seres feitos para transformar e não para nos

adaptar, pois, acima de tudo nosso compromisso é com a vida, a

cidadania, pois um dia o tempo da escola passa e a vida continua.

Sem a pretensão de colocar um ponto final na questão, pois

entendemos que esta discussão não se esgota aqui. Esperamos que o

presente texto tenha fornecido subsídios para uma nova práxis no

ensino de Dança e que a partir deste estudo surjam novas e mais

frutuosas pesquisas sobre o conteúdo estruturante Dança nas aulas de

Educação Física.

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