psicomotricidade; educação física e dança

PSICOMOTRICIDADE

Pós-Graduação em Educação Física e Dança

ANDERSON DE OLIVEIRA PELEGRINIPROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

MESTRANDO EM EDUCAÇÃO – UNESPMEMBRO PESQUISADOR DO GEIPEE/UNESP

DOCENTE DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – UNIESP

Ementa da Disciplina

Psicomotricidade e Dança: Conceitos e interações. Dificuldades de aprendizagem relacionadas às habilidades motoras desenvolvidas nas aulas de dança.

Programa da Disciplina

1) Psicomotricidade e Habilidades Motoras Situar a história da Psicomotricidade na História da Ed.

Física no Brasil; Conceituar Psicomotricidade; Problematizar os principais aspectos e conceitos da

Psicomotricidade com vistas ao desenvolvimento motor; Situar estes conteúdos no contexto da dança. 2) Dança e Pessoas com Necessidades Educacionais

Especiais Conhecendo a Dança Educativa Moderna de Rudolf Laban; Discutir as relações entre Dança e Desenvolvimento

humano com vistas às possibilidades de intervenção junto a pessoas com Necessidades Educacionais Especiais

História da Educação Física no Brasil

Período Higienista de 1800 até 1930 (Fim do Império – Libertação dos Escravos – República)

Período Militarista de 1930 até 1945 (Era Vargas)

Influência Eugênica – Nazifacismo no Brasil

Período Pedagogicista de 1945 até 1964Pseudovalorização da Ed. Física Escolar

Período Tecnicista de 1964 até 1980 (Regime Militar)

Esportivismo-competitivista – Legitimação social através do Esporte – Guerra Fria

Período Popular a partir de 1980 (Redemocratização)

Diversificação da Área – Crítica social dos conteúdos – Crise da Educação Física

(CASTELLANI, 1994)

Surgimento da Psicomotricidade no Brasil

1º Encontro Nacional de Psicomotricidade - 1979;

Sociedade Brasileira de Psicomotricidade – 1980;

Definições de Psicomotricidade:

“É a ciência que tem como objeto de Estudo o homem através de seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas” (SBP, 1999);

“É uma neurociência que transforma o pensamento em ato motor harmônico. É a sintonia fina que coordena e organiza as ações gerenciadas pelo cérebro e as manifesta em conhecimento e aprendizado” (ISEP, 2007).

O Conceito:

O Seqüestro de Psyquê

Psicomotricidade

Psico (Gr) Psyquê = Mente ou Alma

Motricidade Movimento

William Bougereau

O Intuito

Superar a histórica dicotomia Corpo x Mente

Eu tenho um corpo ou eu sou um corpo?

Eu ensino meu corpo a fazer algo ou aprendo através do meu corpo a fazer algo?

A Proposta

Considerar o Indivíduo de forma global:

(LE BOULCH, 1988)

indivíduo

Cognitivo

(psico)

Afetivo

(psico)

Motor

Social

Os Problemas

Na busca de superar a dicotomia Corpo x Mente Fragmentou ainda mais o ser humano:

Afetivo x Cognitivo x Social x Motor

Afirma que são elementos relacionados, mas não se extraem todas as conseqüências de tal afirmação (WALLON);

Realiza estudos de modo fragmentado; Constroem-se novos jargões: “Formação Integral” “Ser global” “Cidadão crítico-

reflexivo” Enfase nos aspectos biológicos: Psicoafetivo – bioantropológico – psiconeurológico

(VIEIRA, 2007)

Os Problemas (continuando...)

Fragmenta Ed. Física x Psicomotricidade x Fisioterapia;

SBP busca regulamentar o profissional Psicomotricista;

Deixar de ser especialização e passar a ser profissão

Fragmentação precoce da formação profissional;

Finalidade adaptativa e não humanizadora; (FERRARI,

2011) Considera o desenvolvimento humano de forma

Espontânea.(Sugestão de Filmes: “A Maçã” ou “O Enigma de Kasper Hauser”)

Principais Conceitos do Desenvolvimento Psicomotor

1) Coordenação Global: Diz respeito à Atividades dos grandes músculos e se relaciona com

Coordenação dos Movimentos

Dissociação de movimentos

Equilíbrio

Postura

Eixo Corporal

Quanto maior o equilíbrio, menor dispêndio de energia para realizar a atividade.

Treinamento - Repetição

“Observando um atleta realizar até parece fácil”(OLIVEIRA, 2002)


2) Coordenação Motora Fina:Diz respeito à habilidade e destreza.

Constitui um aspecto particular da Coordenação Geral.

Desenvolvimento da técnica da escrita

Precisão

Destreza

Mais treinamento

Mais repetição

Especialização

Profissionalização


3) Esquema Corporal:Percepção e consciência do próprio corpo, de suas partes, funções e dos objetos que o cercam

Experiências

Sensações

Utilização do corpo

Domínio do corpo

“Dançando eu descubro músculos que eu nem sabia que existia”

Espelhamento

Mímica

(OLIVEIRA, 2002)


Etapas do Desenvolvimento do Esquema Corporal: Primeira Etapa: ”Corpo Vivido” de 0 a 3 anos

Segunda Etapa: “Corpo Percebido ou Descoberto” de 3 a 7 anos

Terceira Etapa: “Corpo Representado” de 7 a 12 anos

O corpo passa a ser o principal ponto de referencia para localização

no tempo e no espaço.

Correlações com as fases do desenvolvimento infantil de Piaget

Na Dança: Músicas “...Cabeça, Ombro, Joelho e pé, Joelho e pé...”


Esquema e Totalidade Corporal: “O Afeto é o Alfa e o Omega do Psiquismo”

Vigotski (1989)

Consciência dos Sentidos: Tato Olfato Paladar Visão Audição

Consciência dos Sentimentos: Felicidade Tristeza Amor

Agitação Depressão Raiva

A liberdade e a consciência de si próprio passa necessariamente pelo autoconhecimento.

O conhecimento e a consciência inexistem fora de um sistema de significação das experiências sensórias.

A consciência depende da mediação dos significados sociohistóricamente construídos . (Pensamento e Linguagem)


Perturbações do Esquema Corporal:

Crianças que não tem consciência de seu próprio corpo podem apresentar dificuldades de

Equilíbrio;

Dificuldades Respiratórias;

Falhas de coordenação;

Dificuldades de localização no tempo e no espaço;

Lentidão e descontrole dos gestos.

Como a Dança pode trabalhar estas habilidades e capacidades?

(OLIVEIRA, 2002)


4) Lateralidade:Diz respeito à propensão de utilização de um ou ambos os lado do corpo de forma dominante.

Estabelece relação com o Esquema Corporal e a Localização Espaço Temporal.

É possível ocorrer mudança de prevalência lateral.

Construção Histórica:

Idade da Pedra: Destros e Canhotos

Idade dos Metais: Predomínio Destro – (Instrumentos)

Antiguidade Guerreira: Destros – (Escudo e Espada)

(OLIVEIRA, 2002)


5) Estruturação Espacial:

É através espaço e das relações espaciais que nos situamos no meio em que vivemos, em que estabelecemos relações entre as coisas, em que fazemos observações, comparando-as, combinando-as, vendo as semelhanças e diferenças entre elas

Sem esta estruturação, nós nos perdemos ou distorcemos muitas dessas relações e nosso comportamento sofre por receber informações Inadequadas

A estruturação espacial não nasce com o indivíduo. Ela é uma elaboração e uma construção mental que se opera através de seus movimentos em relação aos objetos que estão em seu meio (OLIVEIRA, 2002)


Estruturação Espacial e desenvolvimento da linguagem:

A verbalização que auxiliará na designação dos objetos constitui um fator muito importante para a organização da vivência do espaço e, também, para um melhor conhecimento das diferentes partes do corpo e de suas posições.

Todo objeto, desde o momento em que ele é nomeado, faz o papel de organizador do espaço próximo circundante, permitindo construir o espaço que o rodeia.

A estruturação corporal necessita de um esquema corporal e de uma lateralidade bem desenvolvida, pois o corpo da criança é seu primeiro ponto de referencia no espaço.

Coordenação Global

Coordenação Fina

Esquema Corporal

Lateralidade


Para o desenvolvimento da Estruturação Espacial são imprescindíveis as noções de propriedades e qualidades dos objetos:

Situações dentro – fora – no alto – abaixo – longe – perto...

Tamanho grosso – fino – grande – médio – pequeno - largo...

Posição em pé – deitado – sentado – abaixado – ajoelhado – inclinado...

Movimento Levantar – abaixar – empurrar – puxar – dobrar – girar...

Forma Círculo – quadrado – triangulo – retângulo – trapézio...

Qualidades cheio – vazio – pouco – muito – inteiro – metade...

Superfície Plano – inclinado – esburacado – áspero – liso...

PENSAMENTO – LINGUAGEM – SIGNIFICADO

Uma pessoa com estruturação espacial bem desenvolvida pode se orientar por referências externas a si (OLIVEIRA, 2002)


Possíveis causas das dificuldades na Estruturação Espacial:

Crianças tolhidas em suas experiências corporais e espaciais e que não têm oportunidades de manipular os objetos ao seu redor;

As que não desenvolveram a noção de esquema corporal, acarretando prejuízo na função de significação;

As que não conseguiram ainda estabelecer a dominância lateral e nem assimilaram as noções de direita e esquerda através da significação de seu eixo corporal

Insuficiência ou déficit da função simbólica. A criança é incapaz de associar termos abstratos como direita e esquerda, puramente convencionais, ao que sente ao nível proprioceptivo

Limitação de seu desenvolvimento mental e psicomotor


Conseqüências das dificuldades na Estruturação Espacial:

Confusão quando se exige uma noção de lugar, de orientação; Dificuldades de escrita e posicionamento das letras; Esquecimento ou confusão dos símbolos; Nos adultos: constantemente se chocando e esbarrando nos

objetos; Indecisões quando tem que se desviar de um obstáculo, não sabe

para que lado deve ir; Dificuldades de organização de objetos pessoais; Não consegue prever a trajetória de uma bola ou de um objeto

qualquer quando este é atirado em determinado alvo; Não respeita a direção horizontal do traçado, ocorrendo

movimentos descendentes; Dificuldades em respeitar a ordem e a sucessão das letras nas

palavras e das palavras nas frases;


Conseqüências das dificuldades na Estruturação Espacial:

Dificuldades em respeitar a ordem e a sucessão das letras nas palavras e das palavras nas frases;

Dificuldade ao locomover os olhos durante a leitura. Salta linhas; Na matemática, poderá apresentar dificuldades em organizar seus

números em fileiras e acaba misturando o que é dezena, centena e milhar;

Dificuldade em classificar e agrupar os elementos; Dificuldade para percebe o que muda de uma figura para outra

nas representações espaciais; Não percebe as relações como a simetria, inversão, transposição,

elementos adicionados ou subtraídos; A dificuldade para realizar progressões simples como tamanho,

quantidade, ritmos e cores impossibilita progressões mais complexas, como a variação de dois ou mais elementos numa ordem de sucessão e simultaneidade, ou mesmo compreensão das relações existente entre as diversas orientações juntas.

(OLIVEIRA, 2002)


E a Dança, Pode contribuir na Estruturação Espacial?

Corpo Linguagem Tempo-espaço


6) Estruturação TemporalAs noções de corpo, espaço e tempo têm que estar intimamente ligadas se quisermos entender o movimento humano.

O corpo coordena-se, movimenta-se continuamente dentro de um espaço determinado, em função do tempo, em relação a um sistema de referência.

ontem – hoje – amanha

Organização da fala e do pensamento

Pensamento – Linguagem

Significado – Raciocínio Lógico

É por esta razão que sempre nos referimos à orientação espaço-temporal de forma integrada. (OLIVEIRA, 2002)


Importância da Estruturação Temporal

Para aprender a ler, é necessário domínio do ritmo, sucessão de palavras no tempo, memorização e reconhecimento das palavras.

O ser humano é um ser histórico e, portanto, temporal.

Salvador Dalí O Relógio mole A persistência da memória Desintegração da memória


Aspectos da Estruturação TemporalSimultaneidade

Ordem e sequencia

Duração e intervalos

Ciclicidade Dias – Semanas – Meses – Anos – Estações – Fase da Lua

Ritmo Motor – Visual – Auditivo

Tempo da criança ≠ tempo do adulto

Relação entre Estado Afetivo e Percepção Temporal

“tudo que é bom dura pouco” “parece que este tempo não passa”

“Essa aula que não acaba...”

A Dança Educativa Moderna de Rudolf Laban

história

Rudolf Laban, como mais tarde ficou mundialmente conhecido, começou seu trabalho de pesquisa e criação na Europa, no início do século XX na Alemanha.

Em 1936, as propostas de Laban contra os treinamentos ginásticos e a padronização de corpos em prol da expressão individual do ser humano são consideradas adversas às do regime nazista, resultando no fechamento de suas escolas e na partida de Laban para a Inglaterra


Laban no Brasil

Em 1940, Maria Duschenes chega ao Brasil após estada na Inglaterra, onde tomou contato com os princípios de Laban, difundindo-o essencialmente nos meios educacionais que freqüentava.

Somente em 1990, com 42 anos de atraso em relação à Inglaterra, o público brasileiro pôde conhecer o educador Laban, com a publicação de Dança educativa moderna.


Questões acerca de Laban

Laban é só Educação?

Existe mesmo um “método Laban”?

Até que ponto os estudos de Laban são uma “técnica”?

O que é a Dança? Dança é Arte? O que é Arte? Catarse Estética!

As Idéias de Laban

Processo em detrimento do produto

É possível ensinar arte sem que se vislumbre o produto?

O conhecimento em arte é viável e significativo dando-se somente pela experimentação de processos?

As relações entre arte, indivíduo e sociedade são possíveis sem a realização do produto estético?


Questão Maior:

“estamos ensinando dança ou ensinando pessoas?”

Para Laban, “o papel da educação é ensinar pessoas, é ajudar o ser humano, por meio da dança, a achar uma relação corporal com a totalidade da existência”

Infere-se, portanto, que a compreensão corporal e intelectual da linguagem da dança é elemento crucial no processo de educação,


Método Laban?

Podemos falar de método (ou métodos) de ensino, de métodos de observação, métodos de análise e interpretação, mas, definitivamente, não podemos falar de “método Laban”.

Laban, inclusive, era avesso aos métodos e aos caminhos únicos pré-estabelecidos no que diz respeito ao ensino das diversas formas de manifestações artístico-culturais.

Para ele

“O professor deve encontrar sua própria maneira de estimular os movimentos e, posteriormente, a dança” (LABAN, 1990)

A Dança e as Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais

Conceituando:

Deficiente? Pessoa com Deficiência? Portador de Deficiência? Pessoa com Necessidades Especiais?


Experiências do GEIPEE-LAR

Dança para crianças com Síndrome de Down

Down: Duplicidade no cromossomo 23.• Sinapses Lentas

• Dificuldades de Memória – Problemas para decorar coreografia

• Dificuldades no Desenvolvimento Motor

• Dificuldades de comunicação – Pensamento e Linguagem

A Dança como Linguagem Corpo-Oral

Resultados: Execução da Coreografia; Melhoras na Memória Voluntária

(NASCIMENTO, 2011)

Referências Bibliográficas

CASTELLANI, F. L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. 4 Edição. – Campinas, SP: Papirus, 1994.

FONSECA, V. da. Manual de observação psicomotora: significações psiconeurológicas dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

LABAN, R. Dança educativa moderna. São Paulo: Ícone, 1990.

LE BOULCH. Educação psicomotora: a psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: Educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. Petrópolis: Vozes, 2002.

VIEIRA, L; BATISTA, M. I. B; LAPIERRE, A. Psicomotricidade Relacional: a teoria de uma prática. Curitiba : Filosofart/Ciar, 2005.

VIGOTSKII, L. S; LURIA, A. R; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ed. Ícone, 1989.

WALLON, H. A evolução psicológica da criança. Rio de Janeiro: Editorial E. Andes, 1971.

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