a construção da coerência

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A CONSTRUO DA COERNCIAO que mesmo coerncia textual? a possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto. Ou seja, a compatibilidade entre ideias e conceitos que permite ao leitor acompanhar a continuidade de um raciocnio em desenvolvimento. Quando encontramos enunciados contraditrios, que geram dificuldades a nossa compreenso, dizemos que houve incoerncia, como ocorre no exemplo abaixo:E1. No Brasil, no h preconceito; h apenas discriminao de cor e classe social. DIMENSES DA COERNCIA:a. Em algumas dissertaes argumentativas, ocorrem momentos de incoerncias locais, isto , incompatibilidades que acontecem em pontos especficos do texto, como os encontrados em enunciados localizados no interior de perodos e de pargrafos. b. A incoerncia global aquela em que o leitor no consegue relacionar os enunciados de um texto inteiro. Ela ocorre muito raramente, exceto em se tratando de autores com patologias psicolgicas graves. H casos em que estudantes trocam o tema proposto por outro qualquer ou desviam parcialmente a discusso para um aspecto inusitado, sem, no entanto, retornar ao tema. Veja, pelos ttulos, sobre quais temas alguns alunos escreveram, quando deveriam dissertar sobre:Preconceito- Minhas frias- As noitadas de sbado- Tardes de domingo- A violncia urbana.

Quando isso acontece, no podemos dizer que houve uma incoerncia global, mas uma recusa deliberada do aluno a no escrever sobre o tema proposto. Tambm pode acontecer de o aluno no ter lido a proposta de produo textual ou ter lido e no ter entendido ou ainda j ter trazido na memria um texto pronto, decorado, para ser simplesmente transcrito para a folha-padro. Com certeza, ele sofrer as consequncias dessa infeliz deciso. FATORES DE COERNCIAH um conjunto de fatores que colaboram para dar certa lgica ao desenvolvimento do raciocnio do autor. So eles:a. ELEMENTOS LINGUSTICOS as palavras usadas no texto, alm de acionar conhecimentos arquivados na memria do leitor, funcionam como pistas da lngua que ajudam o leitor a pescar o sentido pretendido pelo autor, a sua linha argumentativa e as concluses s quais gostaria que chegasse. Assim, artifcios lingusticos como: o uso de palavras do mesmo campo semntico e a posio delas no enunciado podem gerar interpretaes curiosas.

E2: tramita na cmara um projeto sobre preconceito da boa deputada (boa) Rita Camata. (mesmo campo semntico = tramita, cmara, projeto, deputada).

E3: O congresso brasileiro precisa de novos parlamentares (novos) que legislem honestamente. (mesmo campo semntico = congresso, parlamentares, legislem).

b. CONHECIMENTO DE MUNDO todas as experincias vividas so guardadas na nossa memria, de maneira que, quando lemos um texto, s conseguimos entend-lo inteiramente, se reconhecermos as informaes ali acionadas e estabelecermos uma relao com o que j sabemos sobre o tema. Em geral, difcil para um campons, por exemplo, entender um artigo cientfico de antropologia cuja temtica seja as razes da discriminao racial, social e sexual no Brasil colonial, por exemplo.

E4: O repdio aos brbaros bem como o escrnio aos mouros infiis so a gnese dos sentimentos que hoje explodem em skinheads...

Brbaros = no romanos, incivilizadosMouros = sem f cristSkinheads = grupo de neonazistas

Esses termos destacados devem fazer parte do conhecimento de mundo do leitor (mediamente escolarizado e/ou relativamente informado pelos meios de comunicao) ao qual se dirige uma dissertao argumentativa.

c. CONHECIMENTO PARTILHADO cada indivduo constri a sua prpria enciclopdia de conhecimentos ao longo da vida, mais ou menos igual daqueles que vivem em um mesmo ambiente social, poltico, econmico e cultural. Para que haja compreenso entre dois interlocutores, por meio de um texto, necessrio que ambos partilhem de alguns desses conhecimentos. importante o autor saber equilibrar as informaes partilhadas antigas com as informaes novas, a fim de evitar que o texto se torne repetitivo e circular ou at mesmo incompreensvel. As palavras destacadas em E4 no so explicadas pelo autor, logo ele pressupe j serem conhecidas ou partilhadas pelo seu suposto leitor por causa do tema, do contexto e do seu provvel nvel cultural. Contudo, se as mesmas palavras de E4 fossem dirigidas a crianas ou a camponeses que nunca frequentaram escola ou nunca tiveram acesso aos meios de comunicao, seria muito difcil entenderem o sentido do enunciado e do texto (3) inteiro, j que possuem outras preocupaes fundamentais na vida.

d. Inferncias um processo de raciocnio atravs do qual se estabelece uma relao no explcita entre dois enunciados e deles se chega a uma concluso. um dos tipos de raciocnio mais utilizados no processo de interpretao, j que o texto, por ser um mecanismo de economia lingustica, no pode nem deve dizer tudo. Como disse o escritor Umberto Eco, o texto uma mquina preguiosa e, por isso, sempre h lacunas a serem preenchidas pelos leitores com seu conhecimento de mundo e sua capacidade de inferir. E5. Apesar das severas leis brasileiras contra manifestaes de preconceito, ele continua ocorrendo de forma velada.

INFERNCIAS:a. H preconceito no Brasil.b. H leis brasileiras que punem manifestaes de preconceito. c. As leis no so suficientes para acabar com o preconceito velado. d. Para eliminar totalmente com o preconceito, devem-se criar maneiras de punir tambm o preconceito velado, (inferncia possvel, mas no necessria). EXERCCIO1. Defina com suas palavras o que coerncia textual. 2. Quais os fatores que contribuem para estabelecer a coerncia em um texto?3. Identifique, no fragmento abaixo, o termo que esteja provocando uma incoerncia local e, em seguida, substitua-o por outro que resolva o problema. ... no de hoje que se convive com a discriminao, sem que, no entanto, medidas eficazes de implementao de tal poltica tenham sido encontradas. 4. Faa o mesmo com o seguinte enunciado: De um lado, o discurso disseminado da necessidade de ajuste ao preconceito, de outro, o comodismo, a conivncia diante das injustias sociais. 5. Sublinhe todos os termos (substantivos) que estejam ligados diretamente ao campo semntico do preconceito, no fragmento abaixo:O repdio aos brbaros, bem como o escrnio aos mouros infiis so a gnese dos sentimentos que hoje explodem em skinheads com promessas de morte a negros, judeus, homossexuais e outras minorias. Ademais, do mercantilismo ao capitalismo neoliberalista constitui-se a necessidade da pobreza para untar a frma que se criou para o lucro.

6. Explicite, com suas palavras, os termos sublinhados, imaginando a necessidade de explic-los a algum que no os conhea. Antes mesmo da expanso ultramarina, a qual empurraria o mundo para a lubrificao da mquina escravocrata, ora indgena, ora negra, j se podia encontrar discriminao nas entrelinhas da histria.7. Reescreva o fragmento abaixo, acrescentando as informaes que achar relevantes aos termos destacados, atravs de apostos, a fim de esclarecer um pouco mais os conhecimentos que foram pressupostos pelo autor. Da pregao da ausncia de alma dos negros pela igreja catlica eleio de Nelson Mandela para governar a frica do Sul, passando por polticas vergonhosas como o apartheid, institudo em 1948, a humanidade conheceu amadurecimento considervel. 8. Comparando o fragmento acima com a nova verso que voc produziu a partir dele, com os devidos apostos, responda: qual delas ficou mais concisa? Justifique. 9. Aponte, pelo menos, duas inferncias que podem ser feitas a partir dos contedos do fragmento abaixo:Da salvao que o Cristianismo supostamente representaria, impulsionando cruzadas e jesutas, liberdade de culto e , ao menos terica, demarcao de terras indgenas, esbouou-se a decncia..

10. Apresente duas inferncias que possam ser tiradas do seguinte trecho:Descobriu-se a importncia da diferena e ministrou-se a reduo dos degraus da injustia. Entretanto, no se sabe, ainda, viver sem tal escada.. 11. Um jornal era isso, o sobressalto da novidade e a garantia de que a nossa rotina continuava. Simultaneamente um espalhafato um espalha fatos e um repetidor das nossas confortveis banalidades municipais.L.F. Verssimo, O Estado de S. Paulo, 1810/98.

a. Interprete o jogo de palavras entre espalhafatos e espalha fatos, considerando-o no contexto do trecho acima. b. A qual dos termos se refere expresso confortveis banalidades municipais?