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0 0 UNIFLU – CENTRO UNIVERSITÁRIO FLUMINENSE FACULDADE DE DIREITO DE CAMPOS PROGRAMA DE MESTRADO ÂNGELO DA COSTA CAMPOS A COMPOSIÇÃO DOS CONFLITOS INDIVIDUAIS TRABALHISTAS: UMA PERSPECTIVA TUTELAR Campos dos Goytacazes - RJ 2006

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UNIFLU – CENTRO UNIVERSITÁRIO FLUMINENSE

FACULDADE DE DIREITO DE CAMPOS

PROGRAMA DE MESTRADO

ÂNGELO DA COSTA CAMPOS

A COMPOSIÇÃO DOS CONFLITOS INDIVIDUAIS

TRABALHISTAS:

UMA PERSPECTIVA TUTELAR

Campos dos Goytacazes - RJ

2006

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ÂNGELO DA COSTA CAMPOS

A COMPOSIÇÃO DOS CONFLITOS INDIVIDUAIS

TRABALHISTAS:

UMA PERSPECTIVA TUTELAR

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação da Faculdade de Direito

de Campos, como requisito parcial à

obtenção do Grau de Mestre em Direito,

na área de concentração em Políticas

Públicas e Processo.

Orientadora : Profª. Drª. Zoraide Amaral

de Souza.

Campos dos Goytacazes - RJ

2006

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ÂNGELO DA COSTA CAMPOS

A COMPOSIÇÃO DOS CONFLITOS INDIVIDUAIS

TRABALHISTAS:

UMA PERSPECTIVA TUTELAR

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Direito

de Campos, como requisito parcial à obtenção do Grau de Mestre em Direito, na

área de concentração em Políticas Públicas e Processo.

Aprovado em 20 de outubro de 2006

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________

Prof.ª Drª. Zoraide Amaral de Souza

Uniflu - Faculdade de Direito de Campos

orientadora.

________________________________

Prof. Dr. Auner Pereira Carneiro.

Uniflu - Faculdade de Direito de Campos

________________________________

Profª. Dra. Maria Lúcia Freire Roboredo

Universidade Federal Fluminense

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A todos os professores do curso de Mestrado e

em especial a minha orientadora, Doutora

Zoraide Amaral de Souza e ao coordenador

Doutor Leonardo Greco, os quais pela

dedicação e arte de ensinar, aperfeiçoei o

conhecido, conheci o desconhecido e espero

tudo transmitir aos que estão descobrindo.

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AGRADECIMENTO

A Deus por toda luz e proteção neste longo caminhar.

Aos meus queridos pais, exemplo de vida a perfilhar

sempre.

Ao meu sobrinho Altair Vinícius P. Campos, mestrando e

companheiro em toda jornada e nas longas viagens de

Manhuaçu-MG à Campos-RJ, encurtando a distância

com sua alegria de viver e estudar.

A minha querida esposa Deise, amor companheiro, pelo

incentivo em todos os momentos.

As minhas amadas filhas Débora e Luisa, com a candura

de crianças fortaleceram-me na busca deste ideal.

A minha primogênita Ângela, com a alegria dos meus

netos Brenda e Daniel, resumem a vida em um só

instante de fé.

A todos trabalhadores, em especial aos que já patrocinei

defesas, inspiração na escolha do tema, e ao lado dos

quais sempre estarei na luta pelo acesso à justiça e na

construção de uma Nação mais justa.

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RESUMO

Considera a propalada crise do poder judiciário brasileiro, sobretudo no

aspecto da morosidade e qualidade da prestação jurisdicional, cujo contexto, também, se insere, acentuadamente, a justiça do trabalho. Considera que a crise se agravará em decorrência da Emenda Constitucional de nº 45/2004, que deu nova redação ao art. 114 da Constituição Federal de 1988, ampliando a competência da justiça do trabalho, onde adverte que ocorrerá uma inundação de novas ações. Descreve e analisa a arbitragem, a conciliação, a mediação, as comissões de conciliação prévia, as mesas de entendimento e os termos de ajustamento de conduta como principais métodos de solução dos conflitos trabalhistas na atualidade. Faz um estudo com o direito comparado e enfrenta as divergências doutrinárias em relação aos métodos alternativos e demonstra a importância dos mesmos como meio de assegurar o direito de acesso à justiça dentro sua acepção mais moderna, dentro de uma perspectiva de preservação dos princípios tutelares do direito do trabalho.

Palavras-chave: Acesso à justiça; Arbitragem; Conciliação; Mediação;

Justiça do Trabalho.

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ABSTRACT

It considers the divulged crisis of the Brazilian judiciary power, over all in the aspect of the morosidade and quality of the judgement, whose context, also, if inserts, accentuated, the justice of the work. It considers that the crisis will be aggravated in result of the Constitutional Emendation of nº 45/2004, that gave new writing art. 114 of the Federal Constitution of 1988, extending ability of the justice of the work, where it warns that flooding of new actions will occur. It describes and it analyzes the arbitration, the conciliation, the mediation, the commissions of previous conciliation, the tables of agreement and the terms of behavior adjustment as main methods of solution of the working conflicts in the present time. It makes a study with the comparative jurisprudence and faces the doctrinal divergences in relation to the alternative methods and demonstrates the importance of the same ones as half to assure the right of access to justice inside its more modern meaning, inside of a perspective of preservation of the principles to tutor of the right of the work. key Word: Access to justice; Arbitration; Conciliation; Mediation; Justice of the Work.

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................................... 5

ABSTRACT...................................................................................................... 6

INTRODUÇÃO................................................................................................ 8

INTERESSE...................................................................................................... 11

1. ORIGEM DOS CONFLITOS DE INTERESSES E SUA COMPOSIÇÃO 13

2. UM ESTUDO NO DIREITO COMPARADO............................................ 43

3. A MODERNA IDÉIA DE JUSTIÇA........................................................... 67

4. PRINCIPAIS MÉTODOS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS TRABA-

5. LHISTAS NA ATUALIDADE...................................................................... 80

6. A JUDICIALIZAÇÃO DO CONFLITO DE INTERESSE TRABA-...........

LHISTA........................................................................................................... 125

7. CONCLUSÃO.................................................................................................. 143

8. REFERENCIAS................................................................................................. 147

9. ANEXO A......................................................................................................... 155

10. ANEXO B......................................................................................................... 156

11. ANEXO C......................................................................................................... 158

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INTRODUÇÃO

É consabido que o Estado moderno não mais adota o pensamento liberal,

segundo o qual deve agir como mediador de conflitos individuais e sociais.

Prevalecem, hoje, as idéias do Estado Social, que tem como objeto o bem comum,

intervindo, quando necessário, na ordem social e na ordem econômica.

Neste sentido, o Brasil é um Estado Democrático de Direito (art. 1º,

Constituição da República Federativa do Brasil), social (CF/88, arts. 1º, 3º, 5º, 7º, 8º,

193 etc.), voltado à realização do bem-comum ou dos anseios sociais.

A pacificação com justiça é o escopo magno a ser perseguido na composição

dos conflitos de interesses, sobretudo, em matéria trabalhista, quase sempre revestida

de natureza alimentar, que se insere no princípio da dignidade da pessoa humana,

elemento marcante e tipificador deste conflito social. Entretanto, a realidade impõe

verdades que devem ser reconhecidas e debatidas. O formalismo processual já não

mais acompanha a evolução e as alterações céleres do comportamento social, da

tecnologia de toda gama, das relações sociais e jurídicas multifacetárias. A construção

doutrinária acerca da jurisdição monopolítica do Estado para solução dos conflitos de

interesses envelheceu. Fustigada pela realidade das relações humanas, do comércio

jurídico ou das relações jurídicas originadas da criação do gênio humano, exige

constante renovação e agilização, visando soluções céleres e justas aos constantes

conflitos trabalhistas exsurgentes.

A intensa judicialização dos conflitos trabalhistas tornou impensável o

acesso à Justiça tal como se vêem modelados o processo e o procedimento, ambos

dotados de burocracia dispendiosa, desnecessária e morosa, por conta de excessos ou

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rigorismos formais, ou sob o pálio do embuço da proteção recursal revisional,

exacerbada, porém, na sua teleologia. O monopólio do Estado-juiz já não mais atende

aos anseios dos jurisdicionados, razão por que outras formas jurídico-processuais ou

procedimentais devem ser postas em prática, pena de colapso na prestação e na entrega

da prestação jurisdicional, e pena de tornarem ínvias as atividades de juízes,

advogados e servidores do Judiciário.

Embora os meios alternativos de solução de conflitos venha sendo tema

recorrente, diante da Emenda Constitucional nº 45, de 08.12.2004, que ampliou

significativamente a competência material da justiça do trabalho, conforme nova

redação do art. 114 da Constituição Federal, sem, entretanto, ser precedida de

planejamento e preparação estrutural para suportar uma inundação de novas ações de

proporção gigantesca, torna-se relevante e atual o retorno do estudo dos métodos

alternativos de composição dos conflitos trabalhistas.

Neste sentido, este trabalho pretende analisar estes métodos em face a uma

concepção mais ampla e moderna de acesso a justiça, numa perspectiva tutelar do

trabalhador dentro do quadro sócio-econômico que se apresenta estruturado o Brasil.

Para delinear a abordagem temática, o trabalho foi segmentado em seis

capítulos, além da conclusão.

O primeiro capítulo parte da gênese conceitual de interesse que se define nas

relações humanas em sociedade, apreendendo-o como a posição de um homem

favorável à satisfação de uma necessidade, posição ou situação que se verifica sobre

um bem da vida, possibilitando, assim, situar melhor a compreensão do surgimento

dos conflitos de interesses e sua composição, desde da autotutela à jurisdição,

mediação, conciliação e arbitragem, que são analisados nos capítulo segundo.

A análise, minudente, do instituto da mediação, conciliação e arbitragem é

relevante porquanto, além de tratarem-se, também, de método específico de solução de

conflitos trabalhistas, seus princípios e fundamentos orientam os demais métodos de

composição - constatação que se revela no capítulo quinto.

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Dada a importância destes institutos, no capítulo terceiro desenvolve um

estudo com o direito comparado, dentro de uma análise, ainda que perfunctória, da

ocorrência destes métodos em diversos países, dando, assim, maior referencial para

aplicação mais aprofundada dos métodos alternativos em nosso Direito.

No capítulo quarto, aborda a moderna idéia de acesso a justiça, dentro de

uma coerência temática que é uma justiça célere e de qualidade a todos - ricos ou

pobres - justificando, assim, a importância dos métodos alternativos diante da crise do

judiciário.

Em seguida, no capítulo quinto, analisa a arbitragem, a conciliação, a

mediação, as comissões de conciliação prévia, as mesas de entendimento e os termos

de ajustamento de conduta, como principais métodos de solução dos conflitos

trabalhistas na atualidade. Neste capítulo desenvolve-se uma análise conceitual e

crítica dos referidos institutos, sobretudo no conflito individual trabalhista, ponto nodal

do presente trabalho, enfrentando, inclusive, as divergências da doutrina em relação a

arbitragem como método alternativo de composição de conflito individual trabalhista,

o qual antecipamos nosso pensamento favorável, desde que respeitados os princípios

tutelares do direito do trabalho.

No capítulo sexto aborda especificamente o problema da judicialização do

conflito de interesse trabalhista e a crise na justiça do trabalho que se agravará, sem

dúvidas, diante da Emenda Constitucional de nº 45, o que reforça a necessidade de

implementação dos métodos alternativos estudados no capítulo anterior.

A conclusão pugna pela necessidade de algumas alterações na Lei de

Arbitragem e nas Comissões de Conciliação Prévia e assinala que tanto nos métodos

judiciais e extrajudiciais, numa concepção moderna de acesso a justiça, os princípios

fundamentais e tutelares do Direito do Trabalho devem ser preservados e ressaltados,

para que, além da celeridade, se garanta efetivamente uma justiça.

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1. INTERESSE

Nas lições tradicionais de sociologia e filosofia, o homem é um ser gregário.

Deveras, o homem não simplesmente existe, mas coexiste. Sim, o homem meramente

não vive, mas convive!

Em que pese esta necessidade de coexistência, paradoxalmente, por

fidelidade à sua natureza animal, o homem é um ser egoísta, enroscado em si mesmo,

dedicado, prioritariamente, às necessidades de seu ego, concentrado, de maneira

visceral, em seus próprios interesses.

O interesse de que se fala é aquele traduzido pela necessidade que se tem de

determinado bem, isto é, interesse maior sobre certos bens, e menor, ou nenhum em

relação a outros.

Carnellutti acentua que:

“O conceito de interesse é fundamental, tanto para o estudo do processo como para o Direito.

Interesse não significa um juízo, senão uma posição do homem, ou mais exatamente: a posição favorável a satisfação de uma necessidade. A posse do alimento ou do dinheiro é antes de tudo, um interesse, porque quem possui um ou outro está em condições de satisfazer sua fome.

Os meios para a satisfação das necessiddes humanas são os bens. E se acabamos de dizer que interesse é a situação de um homem, favorável a satisfação de uma necessidade, essa situação se verifica, pois, com respeito a um bem: homem e bem são os termos da relação que denominamos interesse. Sujeito do interesse é o homem, o objeto daquele é o bem." 1

Em verdade, a noção de interesse não é, propriamente, de relação entre o

1 CARNELLUTTI, Francesco. Sistema de Derecho Procesal Civil. Trad. Niceto-Alcalá-Zamora y Castillo e Santiago Sentis Melendo, Buenos Aires: Uteha, 1944, vol. I, p.11.

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homem e o bem da vida, mas de posição entre aquele e este, até porque, quer do ponto

de vista jurídico, quer do sociológico, o conceito de relação deve ser ligado ao de

intersubjetividade.

Assim, por interesse deve-se compreender a posição de um homem favorável

à satisfação de uma necessidade, posição ou situação que se verifica sobre um bem da

vida. Entre o sujeito do interesse e o objeto deste, não há relação, mas posição ou

situação que se verifica sobre um bem da vida. Entre o sujeito do interesse e o objeto

deste, não há relação, mas posição ou situação.

Nas civilizações primitivas, as necessidades eram poucas, pois nossos

irmãos, conheciam os bens essenciais, como a alimentação, a moradia e o vestuário

que na época eram escassos.

Na maioria das vezes, a satisfação da necessidade não se podia mostrar de

forma individualizada, pois, se assim fosse, o homem não precisava viver em

sociedade. A vida em sociedade é muito mais complexa, devem os interesses, em sua

grande parte, atenderem aos anseios de muitos, ou de considerada quantidade de

pessoas, não satisfazendo, apenas a um interesse.

Com a evolução do homem, as necessidades foram aumentando e tornando-

se cada vez mais complexas, onde os interesses de um ou de determinados grupos se

contrapunham aos interesses de outros, dando origem as mais variadas formas de

conflitos, conforme analisa o capítulo seguinte.

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2. ORIGEM DOS CONFLITOS DE INTERESSES E SUA

COMPOSIÇÃO

Como visto no capítulo anterior, da coexistência social do homem em

sociedade brotam muitos interesses, os quais, via de regra, são conflitantes.

Ocorre que o anseio do homem é viver de maneira pacífica. Para isto, cria

sistemas de solução de seus conflitos.

O direito, neste aspecto, é, exatamente, um vetor social, que visa disciplinar

a sociedade e as relações intersubjetivas que dela emanam.

Os romanos já enxergavam o direito sob esta ótica, a ponto de afirmarem:

ubi societas, ibi jus. Sim, onde está a sociedade está o direito.

Neste desdobramento, entre as várias funções da ciência do direito, talvez a

de maior relevo seja exatamente a de ordenação e controle social. O direito busca

conciliar os muitos e cada vez mais crescentes e complexos interesses dos indivíduos.

O desejo de um concorre com o desejo de outrem. E esse conflito de

interesse faz nascer o que se usou chamar de “lide” ou “litígio”.

Esta lide, na clássica definição de Carnelutti, é:

"um conflito de interesses regulado ou posto pelo direito, ou um conflito de interesses qualificado por uma pretensão e por uma resistência a essa, enfim, um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida ou insatisfeita. Conflito de interesses na medida que são muitas as vontades dos envolvidos, todas elas em desarmonia. E a pretensão resistida significa dizer que a vontade de um encontra resistência na vontade do outro.” 2

As situações litigiosas podem ser as mais extremas, sendo que às vezes o

2 CARNELUTTI, Francesco. Op. cit. p. 40.

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direito não está preparado para enfrentá-las e solucioná-las adequadamente. Isto se dá

porque a sociedade evolui muito mais rapidamente que as leis.

Desde os primórdios, o homem tem o intuito de solucionar os conflitos de

interesses, e a mais rudimentar forma de fazê-lo é a autotutela.

Em apertada síntese, autotutela é fazer justiça pelas próprias mãos. Essa

modalidade de solução dos conflitos de interesses foi muito difundida no passado,

entre os povos incivilizados, que desconheciam um Estado organizado e onipresente.

A autotutela é marcada por dois traços principais. O primeiro é que as partes

envolvidas resolvem suas questões sem a presença de terceiros, como um árbitro, por

exemplo. A segunda é que sempre uma vontade se impõe, via de regra pela força, a

outra vontade.

Verifica-se, nos tempos modernos, que a autotutela é repelida, tendo em vista

a existência de um Estado forte, que chama para si a solução dos conflitos. No entanto,

nos contemporâneos ordenamentos jurídicos existem muitos resquícios da força pelas

próprias mãos. Entre nós, a própria Constituição Federal de 1988 a consagra, ao

permitir o direito de greve.

A legislação infraconstitucional também, por exemplo, o artigo 1.210, § 1º,

do Código Civil de 2002, dispõe que o possuidor turbado ou esbulhado poderá

manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo.

Neste desiderato, se alguém invadir um imóvel, o seu proprietário pode usar

de sua própria força para restituir sua posse. Este talvez seja o exemplo mais típico da

autotutela autorizada pela lei.

Na seara penal, o artigo 301 do Código de Processo Penal autoriza a

qualquer do povo a prender aqueles que estejam cometendo crimes em flagrante.

Na esfera trabalhista, encontramos na greve mecanismo de autotutela de

interesses3; de certo modo, é exercício direto das próprias razões, acolhido pela ordem

jurídica. Embora proibida nos primeiros tempos do sindicalismo e do Direito do

3 Martins, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 684.

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Trabalho, assim como nas distintas experiências autoritárias vivenciadas ao longo dos

últimos dois séculos, a greve afirmou-se nas sociedades democráticas como

inquestionável direito dos trabalhadores. Essa sua afirmação, em um quadro de

restrição geral à autotutela, justifica-se do ponto de vista histórico e lógico. É que se

trata de um dos principais mecanismos de pressão e convencimento possuído pelos

obreiros, coletivamente considerados, em seu eventual enfrentamento à força

empresarial, no contexto da negociação coletiva trabalhista. Destituir os trabalhadores

das potencialidades de tal instrumento é tornar falacioso o princípio juscoletivo da

equivalência entre os contratantes coletivos, em vista da magnitude dos instrumentos

de pressão naturalmente detidos pelos empregadores.4

Rosemiro Pereira Leal leciona que:

“É de manifesto equívoco dizer que a autotutela tenha abrigo atualmente na legislação brasileira, ainda mais quando se sabe que as Constituições Brasileiras, em sua maioria, notadamente a Constituição vigente, acolhem o princípio da reserva legal (...) No ordenamento jurídico brasileiro, não há recepção da figura histórica da autotutela, mas a criação do instituto legal da autodefesa na esfera de direitos da pessoa e do Estado.”5

Quer se chame de autotutela, quer de instituto legal da autodefesa na esfera

de direitos da pessoa, somente será permitida como medida excepcional. A lei tem de

autorizá-la expressamente, como o faz nos artigos acima citados. Fora isto, valer-se da

força para solucionar conflitos de interesses, ainda que estes conflitos sejam legítimos,

é ilegal, sendo considerado, inclusive, como crime, ex vi do artigo 345, do Código

Penal.

4 WOLFGANG DÄUBLER informa que na Alemanha, a partir de 1984, tornou-se cada vez mais raro o recurso à greve, em vista de ser uma realidade a parceria social exigida pela legislação e pela jurisprudência. Aponta que, nesse quadro, a forma predominante de paredismo é a “greve de advertência durante as negociações coletivas; ela dura, via de regra, umas poucas horas e fica restrita a diversas empresas”. Completa o autor que o uso parcimonioso do direito de greve é facilitado pelos grandes progressos atingidos nos últimos anos tanto na área de salários quanto nas jornadas de trabalho. Direito do Trabalho e Sociedade na Alemanha. São Paulo: Fundação Friedrich Ebert/ILDES/LTr. 1997, p. 58. 5 LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria geral do processo - Primeiros Estudos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p 37.

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A autotutela quase sempre implicava numa beligerância ou no uso da força.

Mas os homens foram percebendo que poderiam solucionar seus problemas sem se

socorrerem à ela. Nasceu, então, uma nova modalidade de solução de conflitos, por

meio da figura do árbitro ou sistema arbitral, que se constituía através da liderança,

oriunda dos laços sangüíneos ou pela supremacia física e intelectual.

Esta forma de solução de conflitos, por não haver um sistema

predeterminado e obrigatório de normas de conduta, gerava muita insegurança,

porquanto a justiça buscada pelas partes conflitantes realizava-se de acordo com as

convicções do árbitro, que variavam conforme a oportunidade que lhes eram

apresentadas.

Verifica-se que, realmente, havia muita insegurança nessas decisões, pois um

mesmo conflito poderia ser levado ao árbitro, em diversas oportunidades, para ser

decidido e ter soluções diferentes.

Segundo Jaime de Altavila6 naquela ocasião as fórmulas pactuais existentes

ou que eram conhecidas não ofereciam garantias às relações econômicas ou políticas,

pois o testemunho, por medo ou por interesse, quase sempre falhava como expressão

da verdade.

Já se fazia necessária a lei escrita, para manter a legitimidade e a

perpetuidade dos princípios do direito, que começava a aparecer entre a humanidade,

procedente dos deuses, por meio dos profetas-estadistas e dos soberanos que

mantinham o privilégio de ter os primeiros esclarecimentos jurídicos.

Na realidade, esta situação foi muito lenta, porque era muito mais

proveniente da religiosidade, porém não foi tão laboriosa como fora "a lucubração do

primeiro machado de pedra durante a qual muitas borbulhas de suor escorreram da

testa curta do homem primitivo"7.

Em síntese, o surgimento do direito nasce, precisamente, quando as 6 ALTAVILA, Jaime. Origem dos Direitos dos Povos, Rio de Janeiro: Melhoramentos, 4ª edição, 1964. p. 10 e 11 7 Ibidem, p.10.

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civilizações primárias atingiram o momento de suas eclosões, pois já não era mais

possível a sobrevivência do Estado primitivo.

Na verdade, Jaime de Altavila demonstra que não foram os deuses que

ditavam o direito pela boca dos seus predestinados, pois isto, na realidade era um

engodo.

Um dia surgiu o Direito em Roma pela boca dos tribunos. Júpiter presidia,

do Olimpo, ao destino do Lácio, mas não ditava leis por intermédio das Sibilas.

Daí para frente vai se acompanhar a história do homem e perceber que o

mundo se processou sob o modelo justiniâneo e cada povo adotou sua lei, seus direitos

e seus deveres sendo avaliados , e a caminhada do século, os processos laborativos

foram se modificando.

Pelos direitos, os homens lutaram, sobreviveram e morreram.

Apesar de precária, essa segunda forma de composição dos conflitos,

significou grande avanço, sendo utilizados sobretudo no campo do Direito

Internacional Público, conforme salienta Zoraide Amaral:

“a composição pela via arbitral ainda é usada em apreciável escala, sobretudo no campo do Direito Internacional Público, em que os conflitos entre Estados Soberanos não podem ser resolvidos, ao menos até agora, senão pelo arbitramento ou, na hipótese pior, pela violência, justamente pela impossibilidade da edição de normas gerais que lhes possam ser coativamente impostas, e de organismos internacionais com força e poder próprios, capazes de torná-las efetivas no caso de transgressão.”8

A expansão das relações humanas, com aumento contínuo dos interesses e a

conseqüente gravame nos conflitos decorrentes para satisfação pessoal, sendo comum

o não acatamento da decisão arbitral, revelando, assim, a precariedade deste sistema,

8 SOUZA, Zoraide Amaral de. Arbitragem, Conciliação, Mediação nos Conflitos Trabalhistas, São Paulo: LTr, 2004, p. 43.

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bem salientou Hélio Tornaghi:

“essas maneiras de solucionar conflitos são precárias e não pode o Estado cumprir a própria missão desde o momento em que elas falham. Todas são líricas, anódicas quando desrespeitadas. A simples solução teórica dos antagonismos, ainda quando perfeitamente justa, será inócua se não for imposta coativamente. Por isso o Estado, fiador da segurança comum, chamou a si a função de declarar e impor o Direito, isto é a jurisdição. Mas, como contrapartida, deu ao súdito o poder de exigir dele, Estado, que faça justiça.”9

Assim, verifica-se o Estado se organizando politicamente e, chamando a si a

composição dos conflitos de interesses, surgindo a terceira forma de composição: a

jurisdição.

A decisão da autoridade substitui as formas primitivas de composição de

conflitos, sem eliminá-las totalmente, pois aqui e ali no direito escrito, encontramos

resquícios das formas anteriores até mesmo nos povos e nas legislações mais

adiantadas.

O Estado através de um dos seus órgãos assegura aos seus súditos a solução

dos conflitos como contraprestação da destituição da autodefesa e da arbitragem.

Hamilton Moraes de Barros assinala que: “quanto mais os homens expandem

suas relações, quanto mais se afirma a sua personalidade, tanto maior é a necessidade

de normas que rejam o seu comportamento, abrindo-lhes franquias ou impondo-lhes

restrições”.10

Neste passo, surge um novo direito. O direito de exigir do Estado a

composição dos conflitos.

Para que o súdito possa exigi-lo são necessários instrumentos adequados.

Esses instrumentos são fornecidos por um ramo do direito: o Direito

Processual.

O Direito Processual é quem nos responde: quem pode pleitear a composição 9 TORNAGHI, Hélio. Compendio de Processo Penal, vol. I, Rio de Janeiro: José Konfino, 1967, p. 6. 10 MORAES E BARROS, Hamilton de. A Proteção Jurisdicional dos Direitos Humanos no Direito Positivo Brasileiro, Brasília: in Revista de Informação Legislativa, out/dez. 1971 – p. 66.

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dos conflitos? Contra quem há de ser pretendida a intervenção estatal? Quando a

prestação pode ser reclamada? De que forma se desenvolve a atividade das partes para

obterem a solução dos conflitos e como se comporta o Estado para cumprir a sua

função?

O Estado chamando a si essa função assume o dever de manter a paz social,

por meio do cumprimento da lei editada anteriormente.

O veículo de atuação da lei é o processo que, como define Chiovenda: “é o

complexo da atuação da vontade da lei (com respeito a um bem que se pretende) por

parte dos órgãos da jurisdição ordinária”.11

Por meio de uma de suas funções, ou de seus Poderes o Estado exerce a

Jurisdição que ao lado do Legislativo e do Executivo permite completar o exercício da

soberania, atingindo o seu fim.

Carnellutti ensina em sua Teoria Geral do Direito que:

“A função legislativa não é a única função do Estado puramente jurídica, ou, em outros termos, não é o único modo pelo qual a ordem soberana produz direito. Toda a gente sabe que ao lado do Estado-Legislador existe o Estado-Juiz. É possível que, na história ou na pré-história do direito, o Juiz tenha precedido o legislador. Ao Estado-Juiz corresponde a função jurisdicional.

Do ponto de vista lingüístico, legislação e jurisdição significam substancialmente a mesma coisa: no jus dicere resolve-se o legem ferre, e vice-versa. Mas os dois nomes diversos exprimem modalidades diversas da atividade jurídica.

No fundo, a diferença entre elas é verdadeiramente funcional. A legislação é uma produção do direito subespécie normativa, isto é, uma produção de normas jurídicas; poderíamos dizer uma produção do preceito em série, para casos típicos, não para casos concretos. A jurisdição, pelo contrário, produz preceitos, ministra direito para cada caso singular, ousarei dizer não trabalha para armazenar, mas por encomenda, sob medida. Esta diferença, baseada no critério da lex generalis e da lex specialis, é bastante conhecida e exprime-se, quanto à jurisdição, na chamada limitação dos efeitos do caso julgado, que é o nome por que se designa o produto da atividade jurisdicional”.12

11 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. Vol. I. São Paulo: Saraiva, 1965, p. 37. 12 CARNELLUTTI, Francesco. Teoria Geral do Direito, trad. A. Rodrigues Queiroz e Artur Anselmo de Castro. São Paulo: Saraiva & Cia. Editores, 1942. pág. 30.

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Com o desenvolvimento em torno do processo, da compreensão de seu duplo

papel, como instrumento de atuação e realização dos direitos subjetivos e da atividade

jurisdicional do Estado por meio da qual torna efetiva e concreta a vontade da lei,

desprendeu-se o processo do praxismo, da prática e dos costumes forenses, para

ostentar a posição de ciência: ciência processual.

Atividade das partes, no exercício do direito de ação e do direito de defesa.

Atividade do Juiz, exercitando a jurisdição, isto é, o poder de dizer a lei.

O exercício do direito de ação deflagra o fenômeno processual. Atua, por

assim dizer, como reagente ou agente provocador do fenômeno. Assim como o calor

provoca o fenômeno da ebulição, a ação (seu exercício) faz com que o processo

(fenômeno) ocorra.

Que direito será esse, que provoca pelo seu exercício fenômeno de tal

significação, como é o processual que, sob um dos seus ângulos, revela o exercício de

uma das expressões da soberania do Estado: a jurisdição?

Sinteticamente, jurisdição é atividade mediante a qual os juízes examinam as

pretensões e resolvem os conflitos de interesses, com o fim de resguardar a paz social

e o império da norma de direito.

Jurisdição é, destarte, o poder dever que o Estado tem de aplicar a norma

jurídica ao caso concreto.

Consoante Ovídio Batista13, “o ato jurisdicional é praticado pelo Juiz, que o

realiza por dever de função.” Além disso, prossegue Ovídio, “o outro componente

essencial do ato jurisdicional é a condição de terceiro imparcial em que se encontra o

Juiz com relação ao interesse sobre o qual recai a sua atividade.”

Vê-se, deste modo, que o Estado moderno avocou para si a exclusividade na

solução dos conflitos de interesses. Todavia, a jurisdição atravessa por grave crise, o que depõe contra seu

efetivo funcionamento. E são vários os seus entraves! Reclama-se de um aparelho

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judiciário moroso, custoso e mormente formalista.

Mesmo detalhes aparentemente pequenos ganham relevo, causando ainda

mais transtorno àqueles que se valem da jurisdição para solucionar seus litígios.

Assim, a jurisdição, que seria a panacéia para os conflitos de interesses,

passa a ser desprestigiada, realmente desacreditada e, por conseguinte, questionada em

seu papel, sobretudo diante da extraordinária evolução tecnológica, onde, após o

fenômeno da globalização e da conectividade iterativa, onde o mundo em rede

celebram negócios, os conflitos exsurgentes não mais suportam aguardar a trajetória

procedimental de um processo judicial formalista, clamando e ampliando o terreno de

outros meios alternativos à justiça.

Mas os conflitos de interesses existem e são cada vez mais constantes e

complexos, como adverte Hamilton de Moraes e Barros14 que “quanto mais os homens

expandem suas relações, quanto mais se afirma a sua personalidade, tanto maior é a

necessidade de normas que rejam o seu comportamento, abrindo-lhes franquias ou

impondo-lhes restrições”.

Tendo em vista a exaustão do modelo litigioso, seja porque os Tribunais

encontram-se soterrados e sem condições de atender à demanda por seus serviços, seja

porque o parâmetro da litigiosidade está esgotado, surgiu a necessidade de se buscar

novas formas de solução de conflitos, as quais se titulou como “formas alternativas”. E

são realmente alternativas ao sistema rigorosamente hierarquizado da Justiça, com

seus procedimentos formais e sua ritualização. Nesse sentido, escreveram Morais e

13 BATISTA, Ovídio. Teoria geral do Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. p. 73-74. 14 MORAES E BARROS, Hamilton de. Op. cit., p. 66 .

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Silveira:

“Esse pensar cria fórmulas renomadas no contexto atual, onde observamos que embora se recorra aos tribunais de forma irracional, por vivermos numa sociedade de cultura essencialmente litigiosa, e exista uma quantidade considerável de conflitos que poderiam ser perfeitamente resolvidos pelas próprias partes ou com a ajuda de um terceiro. Esses mecanismos alternativos, entre os quais cita-se a mediação, a arbitragem, a negociação, a conciliação, colocam-se ao lado do tradicional processo judicial como uma opção que visa descongestionar os tribunais e reduzir o custo e a demora dos procedimentos; estimular a participação da comunidade na resolução dos conflitos, e facilitar o acesso à Justiça, já que, por vezes, muitos conflitos ficam sem resolução porque as vias de obtenção são complicadas e custosas e as partes não têm alternativas disponíveis a não ser, quem sabe, recorrer à força.”15

Assim sendo, analisar-se-á a mediação, a conciliação e a Arbitragem, para

que, no capítulo próprio, possamos melhor compreender a aplicação dos meios

alternativos na composição dos conflitos individuais trabalhistas, ponto nodal de nosso

trabalho.

2.1 - MEDIAÇÃO

Mediação é um método por meio do qual uma terceira pessoa, neutra e

imparcial, ajuda as partes envolvidas em um conflito a restabelecer a comunicação,

para que possam construir um acordo reciprocamente satisfatório, que ponha termo às

divergências, conferindo uma certa ordem no caos. A palavra conflito, que aparece no

conceito, é freqüentemente utilizada no discurso psicológico para referir-se a uma

realidade intrapsíquica, porém, quando pertinente ao campo da mediação, diz respeito

exclusivamente às diferenças interpessoais. O terceiro, referido na noção, neutro e

15 MORAIS, José Luiz Bolzan de e SILVEIRA, Anarita Araújo, no artigo "Os Mecanismos Alternativos", in Em Nome do Acordo - A Mediação no Direito, Luis Alberto Warat (coord.), Buenos Aires, 23. ed., Asociación Latinoamerica de Mediación, Metodologia y Ensefianza deI Derecho, 1999, p. 70.

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imparcial, é o mediador, pessoa que, para além da sua formação de base (Direito,

Psicologia, etc.) possui uma formação específica em mediação e auxilia as partes na

obtenção de um acordo através da confrontação e da negociação dos pontos

divergentes, na perspectiva da autocomposição do litígio e da responsabilização de seu

cumprimento.

Ao longo da história da humanidade foram construídas diferentes

modalidades de resolução de conflitos, das mais informais às mais formais.

No extremo inferior, geralmente dá-se entre familiares, grupo de amigos ou

de trabalhos, ou seja, entre pessoas que têm grande conhecimento entre si. Inexistem

regras para a forma de condução dos conflitos e estas são idiossincrasias dos contextos

nos quais se desenvolvem. Não há terceiros nem custos e é célere. É a negociação.

No extremo mais elevado, impera a formalidade. Existem complexas

organizações, que vão desde os juízos sumários até a arbitragem; utilizam-se de um

processo bem definido (que deu lugar a um dos ramos do Direito, que é o direito

processual); atuam terceiros, que cumprem funções previamente definidas e cujas

decisões são vinculantes para as partes; é onerosa e lenta. É a Justiça.

Entre estes dois extremos existe um espaço intermediário, no qual se situa a

mediação, mais formal que o informal e mais informal que o formal. A mediação não

dispensa um processo definido, estabelecido não por leis ou por códigos, mas pelas

partes mesmas em conflito e o terceiro neutro e imparcial chamado a ajudá-las. Não

raras vezes é o terceiro que decide sobre o processo e as partes aceitam. A participação

na condução da solução do conflito por esta via é voluntária, ninguém pode obrigar a

outrem a eleger este processo. O acordo final não é obrigatório, significando que as

partes podem abandonar o processo a qualquer momento e dirigir-se a um dos outros

dois extremos: passar à negociação ou demandar em juízo. Também é facultado ao

mediador desistir da mediação entre partes conflitivas. É mais barata que uma

demanda judicial, em custo e em tempo. Difere da arbitragem porque as partes não têm

a obrigação de acatar as apreciações do terceiro.

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Maria Nazareth Serpa destaca a informalidade e voluntariedade que permeia

a mediação de conflitos, destacando o papel de neutralidade do interventor, na busca

da composição do conflito, lecionando que:

“a mediação não é uma estrutura que deva ser imposta a nenhuma disputa para propiciar solução, sendo um processo informal, voluntário, onde um terceiro interventor neutro assiste aos disputantes na soluções das questões. O papel do interventor é ajudar na comunicação através da neutralização de emoções, formação de opções e negociação de acordos. Como agente fora do contexto conflituoso, funciona como um catalisador de disputas, ao conduzir as partes às suas soluções, sem propriamente interferir na substâncias delas.”16

Da leitura do acima exposto, apreende-se que a mediação, através do diálogo

conduzido por um terceiro, almeja a composição do conflito sem redundar em um

perde/ganha que transpassa o pensamento das partes conflitantes, ao contrário, busca

um entendimento ponderado, eficaz e satisfatório para os envolvidos, substituindo o

perde/ganha pelo ganha/ganha, já que o conflito se resolve por uma solução

mutuamente acertada e se estrutura de um modo que ajuda a manter a relação entre as

partes envolvidas, já que não há vencidos nem vencedores. Dela nos diz Warat:

“É importante considerar que as práticas sociais de mediação se configuram em um instrumento de realização da autonomia, da democracia e da cidadania, na medida em que educam, facilitam e ajudam a produzir diferenças e a realizar tomadas de decisões sem a intervenção de terceiros que decidem pelos afetados por um conflito.

Falar de autonomia, de democracia e de cidadania, em um certo sentido, é se ocupar da capacidade das pessoas para se autodeterminarem em relação e com os outros; autodeterminarem-se na produção da diferença (produção do tempo com o outro). A autonomia como uma forma de produzir diferenças e tomar decisões com relação à conflitividade que nos determina e configura, em termos de identidade e cidadania. Um trabalho de reconstrução simbólica dos processos conflitivos das diferenças que nos permite formar identidades culturais - de nos integrar no conflito com o outro -, com um sentimento de pertinência comum. Uma forma de poder perceber a responsabilidade que toca a cada um num conflito, gerando devires reparadores e transformadores.”17

16 SERPA, Maria de Nazareth. Teoria e Prática da Mediação de Conflitos. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 1999, p. 90-91 17 WARAT, Luis Alberto, no artigo "Ecologia, Psicanálise e Mediação". In Em Nome do Acordo - A Mediação no Direito, Luis Alberto Warat (coord.), Buenos Aires, 23. ed., Asociación Latinoamerica de Mediación, Metodologia y Ensefianza deI Derecho, 1999, p. 06/07.

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Para atingir seu escopo, a mediação depende muito do mediador, visto que

este atua como facilitador do entendimento entre as partes, sendo oportuno as lições de

Zoraide Amaral sobre a importância do mediador, obtemperando que:

“é figura de fundamental importância para o bem andamento do processo. Deve possuir qualidades pessoais, tais como reconhecida trajetória ética, sensibilidade, facilidade de comunicação e credibilidade, assim como compreender e saber aplicar as etapas do processo de mediação, sabendo administrar habilidades como escutar, promover a harmonia entre as partes, conduzir interesses e necessidades, desenvolver ações, controlar a raiva, saber argumentar, saber reenfocar aspectos, romper barreiras, planejar estratégias, equilibrar poderes, redigir acordos e saber transformar funções. É pacífico e óbvio o fato de este mediador ser competente e conhecer o direito material relativo ao mérito da questão que está em discussão.18

Sem dúvidas é consenso que compete ao mediador conhecer o direito

material relativo ao mérito da questão em discussão, na mesma medida em que são

exigidas habilidades específicas, sem as quais frustar-se-iam o instituto da mediação

como processo de composição de conflitos.

Maria Nazareth Serpa apresenta em sua obra um interessante estudo

formulado por William E. Sinkin, onde demonstra o perfil do mediador, enumerando

suas características, quais sejam:

1. a paciência de Jó; 2. a sinceridade e as características do bulldog de um inglês; 3. a presença de espírito de um irlandês; 4. a resistência física de um maratonista; 5. a habilidade de romper barreiras de um halfack; 6. a personalidade, à prova de investigação, de um bom psiquiatra; 7. a astúcia de Maquiavel; 8. a impenetrabilidade de um rinoceronte; 9. a discrição de um mudo; 10. a capacidade de demonstrar integridade e personalidade; 11. fé no voluntarismo em contraste com a imposição; 12. crença fundamental nos valores humanos e potenciais, moderados pela habilidades de

acesso às fraquezas e fortalezas pessoais; 13. aguçada habilidade para analisar o que é disponível, em castrastes ao que pode ser

desejável; 14. a sabedoria de Salomão; 15. suficiente vigor pessoal e ego, qualificados por disposição de se auto-anular.19

18 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit., p. 69. 19 SERPA, Maria de Nazareth. Op. cit. p. 218.

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Cônsono Zoraide Amaral de Souza20, nos Estados Unidos, por volta dos anos

de 1992 a 1994, formou-se um comitê composto de dois delegados da American

Arbitration Association, dois delegados da American Bar Association e dois delegados

da Society of Professionals in Dispute Resolution, que prepararam um documento que

recebeu a denominação de Modelo-Padrão de Conduta para Mediadores (Model

Standards of Conduct for Mediators).

A criação deste modelo objetivava aperfeiçoar o instituto da mediação,

servindo como guia dos mediadores, estimulando o reconhecimento do instituto,

aumentando sua confiabilidade perante a sociedade.

O Modelo-Padrão revela as características e princípios básicos da Mediação,

quais sejam:

1. Autodeterminação – o mediador deve reconhecer que a mediação é baseada no princípio da autodeterminação pelos envolvidos. As partes devem alcançar um acordo voluntário, sem imposição ou coerção e qualquer espécie.

2. Imparcialidade – o mediador deve manter-se eqüidistante.

3. Conflitos de interesses – um mediador deve esclarecer qualquer conflito de interesses que de alguma forma ele envolva, sendo este materializados ou de possível ocorrência, e que seja por ele conhecido. Após a revelação, o mediador deve interromper o processo, a não ser que as partes decidam mantê-lo.

4. Competência – o mediador precisa possuir as qualificações necessárias para atender razoavelmente às expectativas das partes.

5. Confidencialidade – ao mediador é vedado revelar qualquer informação que alguma das partes a ele solicite que seja mantida em sigilo, somente podendo revelar qualquer informação quando por determinação legal ou autorizado pelas pares.

6. Qualidade do processo – o mediador deve trabalhar para garantir a qualidade do processo de uma maneira justa e desenvolver o mútuo respeito entre os envolvidos.

20 ibidem. P. 73.

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7. Anúncios ou solicitações – anúncios e qualquer outra espécie de comunicação acerca dos serviços oferecidos pelo mediador ou acerca de sua educação, treinamento, etc.

8. Custo – faz-se necessário por parte do mediador o esclarecimento antecipado e integral das bases de compensação, os custos e honorários para as partes. As partes precisam saber de antemão os honorários do mediador para decidir se desejam mantê-lo ou não; assim como também deve ser esclarecido o tempo de duração deste processo.

9. Obrigações para com o processo da Mediação – os mediadores têm o dever de conhecer prática da mediação, que consiste em desenvolver o espírito do consenso no seio da sociedade, contribuindo para educar às pessoas de forma a fazerem o melhor uso possível desse mecanismo.21

2.2 – CONCILIAÇÃO

A conciliação, segundo os historiadores do direito, como forma de solução

de conflitos de interesses, como é intuitivo, surgiu com a própria civilização

organizada, tendo esta vigorado na antigüidade entre os sumérios22, os gregos e

posteriormente os romanos.23

Os "Forais Portugueses" previam de modo expresso a conciliação, após as

"Ordenações" que sempre trataram do tema com relevada atenção. Já o "Código de

Processo Criminal do Império de Primeira Instância com Disposição Provisória Acerca

da Administração da Justiça Civil" (Lei de 29 de novembro de 1832), em seu Título

Único, expressa apego à conciliação, ao estabelecer, a possibilidade de se recorrer ao

Juiz de Paz para a solução do litígio.

No "Regulamento 737" de 1850, a tentativa de conciliação novamente

aparece e é exigida antes da propositura da causa em procedimento contencioso.

Mesmo após a Proclamação da República, o "Regulamento" manteve seu 21 Ibidem, p. 74. 22 SILVA, Hélis Ferreira da. A Conciliação. Minas Gerais. Revista do Curso de Direito da Universidade Federal de Uberlândia, vol. 10, 1981. p. 264. 23 BORGES, Marcos Afonso. A conciliação no direito processual civil brasileiro. Rio Grande do Sul: Revista Jurídica, nº 171/19, 1989. p. 20

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prestígio sendo recepcionado inclusive pela Constituição Republicana de 24 de

fevereiro de 1891, e alguns Estados24 o mantiveram até a entrada em vigor do CPC de

1939, Lei Nacional, que não recepcionou o instituto da conciliação.

É bom lembrar que a partir do período republicano e na primeira fase do

Direito do Trabalho considerado emancipado, alguns órgãos foram destinados a

dirimir os conflitos de interesses trabalhistas, consoante relata Zoraide Amaral:

"a) Em 1907 – os Conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem;

b) Em 1922 – os Tribunais Rurais Paritários (experiência localizada no Estado de São Paulo);

c) Em 1932 – as Comissões Mistas de Conciliação (com atribuição para apreciar os dissídios coletivos);

c) Em 1932 – as Juntas de Conciliação e Julgamento (com atribuição de conciliar os dissídios individuais);

d) Em 1934 – o Conselho Nacional do Trabalho (com atribuição para decidir conflitos entre empregadores e empregados, quando houvesse falhado a conciliação, nas hipóteses de estabilidade dos empregados e em outras questões decorrentes da legislação previdenciária)."25

Posteriormente, a CLT, de 1943, reviveu a conciliação em dois momentos da

audiência de instrução, no início e ao final. Por certo, os bons frutos da experiência

vivenciada pela prática do Processo Trabalhista fez com que os legisladores do Código

de Processo Civil de 1973 recolocassem a conciliação no altar que merece em bons

Códigos, ou seja, previsão expressa de tal oportunidade na Seção II, do Capítulo VII .

Mas a conciliação da maneira como estava no Código não vinha conduzindo

a bons resultados, quer por falta de preparação dos juízes em nível de "técnicas de

24 O Código de Processo Civil e Comercial e São Paulo incluía em seu art. 368, nos processos preparatórios, a conciliação prévia, de caráter facultativo. 25 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. Cit. p.58.

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conciliação", quer pelo momento processual de sua ocorrência. Então, em boa hora,

visando corrigir esse último empecilho, o legislador nacional, auscultando os ecos da

doutrina e valorizando o trabalho de comissão de estudos da Escola Nacional da

Magistratura, encabeçada pelo Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, houve por bem

aprovar projeto que se consubstanciou na Lei nº 8.951/94, acrescentando, entre outras

modificações, o inciso IV ao art. 125 e dando nova redação ao art. 331 e parágrafos do

CPC, revolucionando o instituto.

Divisado o escorço histórico da conciliação, esta, tal como a mediação e

arbitragem, é uma forma de resolução de conflitos de interesses que também se vale de

terceiros imparciais.

Maurício Godinho Delgado assevera que:

"A conciliação, por sua vez, é o método de solução de conflitos em que as partes agem na composição, mas dirigidas por um terceiro, destituído do poder decisório final, que se mantém com os próprios sujeitos originais da relação jurídica conflituosa. Contudo, a força condutora da dinâmica conciliatória por esse terceiro é real, muitas vezes conseguindo implementar resultado não imaginado ou querido, primitivamente, pelas partes."26

Athos Gusmão assevera que tanto maior será a "probabilidade de êxito da

conciliação quanto maior é a autoridade da pessoa que a tenta".27

Tal afirmativa induz à conclusão de que o conciliador deve ser alguém que

evidentemente valorize a função que exerce. Assim, quer seja pela via extrajudicial,

quer seja pela via judicial, ele deve buscar sempre o respeito de todos os partícipes do

conflito, sendo que no caso da via judicial, cujo papel de mediador, normalmente, é

exercido pelo magistrado, há que se buscar o respeito dos jurisdicionados não pela

força processual que dispõe, não com gritos e murros na mesa, mas deve sempre

pautar pelo elevado nível das suas atitudes, inclusive as pessoais. Neste particular

26 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr. 2004 , p.1447 27 CARNEIRO, Athos Gusmão. A conciliação do novo CPC. São Paulo: Revista AJURIS nº 2. 1974, p. 89.

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lembramos a lição de Sidnei Agostinho Beneti, para quem:

"O próprio modo de ser, o gesto, o traje, o andar, a voz, controle pessoal, tudo, a rigor, evidencia o Juiz ao pessoal forense e à sociedade a que serve. E evidencia a todo instante, na Sala de Audiências, no Fórum, na rua, na convivência pública, nas festividades e no lazer, ou mesmo no trato particular, até na intimidade. A família do Juiz, por sua vez, completa o quadro de mensagens mudas provindas da personalidade do Juiz, afirmando-lhe ou derruindo-lhe a credibilidade, pelo exemplo da própria casa".28

Assim, corretíssima a inter-relação entre o êxito na conciliação e a

autoridade moral daquele que a tenta, maior esta, maiores as chances do acordo em

audiência ou extrajudicial. Então, é de boa técnica valorizar o conciliador e a função

que exerce.

É comum o emprego terminológico da conciliação como sinônimo da

mediação, embora tais institutos apresentem diferenças cruciais, destacando-se que o

conciliador, dentro de um processo conflituoso, opina e propõe soluções, por meio de

profícuo diálogo entre as partes, buscando derrogar todos os elementos conflituosos,

induzindo-as ou persuadindo-as a uma negociação. Para este desiderato, vale-se de

suas próprias possibilidades de argumentação e de persuasão, daí a importância do

conciliador possuir conhecimento do tema em conflito, imparcialidade e ascendência

sobre as partes, sob pena de sua atuação não ser exitosa. Já no procedimento da

mediação, como visto no título anterior, o mediador não opina, não sugere e nem

decide pelas partes.

2.3 – ARBITRAGEM

A arbitragem é uma forma de solução de conflitos, prevista em nosso 28 BENETI, Sidnei Agostinho. Curso de Deontologia da Magistratura. Tema: Deontologia da linguagem do Juiz. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 114.

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ordenamento jurídico pela Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996 , que pode ser

utilizada quando estamos diante de um impasse ou conflito decorrente de um contrato.

No mundo, a arbitragem, no tempo, é imemorial.29 No Brasil, a arbitragem

tem lugar desde os tempos coloniais, normatizando-a a CF de 1.824, art. 160, a

Resolução de 26.07.1831, o Código Comercial de 1.850, o Regulamento 737, de

25.11.1850. No período republicano, O Código Civil e as Constituições de 1.934 e

1.937 a previram, e os CPCs de 1.939 e 1.973 também. A Constituição de 1.988 a

prevê nos parágrafos 1º e 2º do art. 114. A Lei 9.307/96 cuida especificamente do

instituto, revogando expressamente os dispositivos do Código Civil e do Código de

Processo Civil que tratam da matéria.

A pouca utilização da arbitragem era devido ao fato de não oferecer garantia

jurídica e ser muito burocratizada a forma de utilização. No dizer de Zoraide Amaral30

“é que embora existisse a lei, a dificuldade imposta por ela acabava por desestimular o

cidadão que pretendia utilizar a arbitragem, tantas eram as barreiras a serem

transpostas.” Basta lembrar que não outorgava obrigatoriedade de cumprimento à

cláusula contratual que previa a arbitragem, bem como a decisão arbitral precisava ser

homologada por um juiz.

Com a vigência da Lei nº 9.307/96 estas questões foram resolvidas, dando

maior amplitude e garantia ao sistema, que nas lições de Zoraide Amaral31 “é um

exercício de liberdade: liberdade de opção pela sua técnica e de afastamento, em

princípio, da jurisdição, no caso; liberdade de escolha, pelas partes, do procedimento a

ser obedecido; liberdade de indicação dos árbitros; liberdade de adotar a lei aplicável

ou a eqüidade.”

O conflito ou litígio será decidido por um árbitro, ou vários árbitros, sempre

em número ímpar escolhido pelas partes. O árbitro poderá ser qualquer pessoa maior

29 Consulte-se estudo de ALVIM, José Eduardo Carreira, in Tratado Geral da Arbitragem. Belo Horizonte: Livraria Mandamentos Editora, 2.000, p.17 e ss. 30 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit. p. 176. 31 Ibidem, p.176.

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de idade, no domínio de suas faculdades mentais e que tenha a confiança das partes.

Também deverá ser independente e imparcial, isto é, não pode ter interesse no

resultado da demanda e não pode estar vinculado a nenhum dos litigantes.

Consoante art. 1º da lei nº 9.307/96, qualquer controvérsia, conflito ou

desentendimento que diga respeito a direitos que as partes possam livremente dispor

pode ser resolvida por arbitragem. Assim, estão fora do âmbito de aplicação da

arbitragem questões sobre as quais as partes não podem efetuar transações; não podem

dispor como quiserem, tais como, as referentes ao nome da pessoa, estado civil,

impostos, delitos criminais etc. Enfim, todas as questões que estão fora da livre

disposição das pessoas e que só podem ser resolvidas pelo Judiciário.

Em regra geral, a utilização da arbitragem, as partes, em um contrato, devem

incluir uma cláusula contratual prevendo que os futuros litígios dele originados serão

resolvidos por este instituto. Pode estar disposta em um contrato, como referido, ou em

qualquer documento à parte assinado pelas partes. O nome jurídico desta disposição é

cláusula compromissória. Contudo, é possível utilizar a arbitragem mesmo quando não

exista cláusula contratual que a preveja, para isto a lei determina, após surgida a

controvérsia, as partes precisam estar de acordo e assinarão um documento particular,

na presença de duas testemunhas, ou por escritura pública. O nome jurídico desta

disposição é compromisso arbitral.

Conforme Leciona Wilson Ramos Filho32, a arbitragem pode ser

operacionalizada por meio da arbitragem institucional ou ad hoc. Na institucional, a

arbitragem operacionaliza-se quando em um contrato a cláusula arbitral se reporta a

uma instituição arbitral para administrar o procedimento. Também é chamada de

arbitragem administrada. Esta instituição tem um regulamento que determina como a

arbitragem deve transcorrer. Já na arbitragem ad hoc, são as partes que fixam as regras

32 RAMOS FILHO, Wilson. Nova lei de arbitragem e a solução dos conflitos coletivos de trabalho. Curitiba.

Revista Síntese Trabalhista, 91 - Jan/1997, pág. 121.

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e formas em que o processo arbitral será conduzido naquele caso específico. O

procedimento arbitral não seguirá as regras de uma instituição arbitral, mas as

disposições fixadas pelas partes, ou na ausência de disposição o procedimento será

aquele determinado pelo árbitro.

Importante, destacar, que tanto na arbitragem institucional como na ad hoc,

deverão ser observados princípios jurídicos que não podem ser afastados. Determina a

lei que as partes serão tratadas com igualdade, terão o direito de se manifestar para se

defender, o árbitro será independente e imparcial e fundamentará sua decisão.

Há que se destacar que a arbitragem é facultativa, portanto não é obrigatória,

isto é, as partes elegem a arbitragem num contrato se quiserem. Mas, a partir do

momento que escolhem a arbitragem, estarão obrigadas a cumprir o estabelecido no

contrato, não podendo propor ação judicial. Assim, a cláusula compromissória

devidamente pactuada é obrigatória e vinculante.

Em breve síntese, as vantagens em instituir a arbitragem, podem assim ser

relacionadas:

a) a rapidez, a arbitragem solucionará a questão no prazo fixado pelas partes e, se nada

for previsto a respeito, determina a lei que será em 6 (seis) meses;

b) o sigilo, a arbitragem é sigilosa. Nada do que for tratado poderá ser divulgado a

terceiros. As partes e os árbitros deverão guardar sigilo; diferentemente, portanto, do

processo judicial que é público.

c) a especialidade, o árbitro pode ser um especialista na matéria. Com isso, poderá ser

dispensada a perícia, porque o árbitro tem aptidão profissional para entender e decidir

a questão.

A arbitragem é custeada pelas partes, que poderão dispor a respeito

previamente. Poderão estabelecer que as custas serão divididas na metade, ou que o

árbitro decida.

O árbitro deve respeitar um código de ética, ser independente, imparcial,

competente, diligente e discreto. A lei diz que o árbitro se equipara ao funcionário

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público para fins penais, isto é, se o árbitro, por exemplo, foi subornado para decidir a

questão favorável a uma parte, será processado criminalmente e a sentença arbitral

será anulada. O árbitro também pode ser responsabilizado civilmente, por exemplo,

quando há prazo para dar a sentença e o árbitro não decide no prazo determinado,

quando poderia fazê-lo.

Importante, ainda, registrar que segundo o art. 32 e 33, § 1º da lei nº 9.307/96

a sentença arbitral poderá ser anulada – desde que proposta ação de anulação da

sentença arbitral, dentro do prazo de 90 dias - quando:

a)quem foi árbitro estava impedido;

b)quando a sentença não estiver fundamentada;

c) quando não decidir toda a controvérsia;

d) quando for comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção

passiva;

e) quando não observou os princípios da igualdade das partes e do direito de defesa;

f) quando for proferida fora do prazo.

Feita esta brevíssima exposição das linhas gerais da arbitragem, a seguir

analisaremos, com mais acuidade, a natureza jurídica da arbitragem e os requisitos,

finalidades e efeitos da sentença arbitral, possibilitando, assim compreender e focá-la

no aspecto de sua aplicação e legitimidade no conflito individual trabalhista, que será

objeto de estudo em capítulo próprio.

2.3.1 - A NATUREZA JURÍDICA DA ARBITRAGEM

Como já exposto, a arbitragem é uma das formas heterocompositivas de

solução de conflitos. Entretanto, ainda que um terceiro, que não seja juiz togado,

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receba das partes poderes para julgar controvérsias, nada obstante sob o pálio da lei, a

processualística ortodoxa se alevanta e, de pronto, nega-lhe qualquer poder

jurisdicional. Chiovenda33, embora privativista, ao classificar a natureza jurídica da

arbitragem devota a ela verdadeira aversão. Tem-na por “mero resíduo do passado,

quando um pródromo de melhor justiça futura.” Para ele, a arbitragem é totalmente

desprovida de jurisdição, porque o procedimento arbitral pertence à esfera contratual e

se compõe de um juízo lógico e de um comando, sendo certo que o laudo arbitral

depende de homologação judicial para ser executado. Contudo, lembra Carreira

Alvim34 que a posição de Chiovenda se situa no começo do Século XX , portanto antes

do advento da Lei italiana 28, de 1.983, quando o mestre entendia não ser o árbitro

funcionário público e não ter jurisdição, nem própria, nem delegada, não fazendo atuar

a lei e nada podendo executar, defluindo suas faculdades da vontade das partes,

expressas conforme a lei, afirmando ainda que o Estado tornaria executório o laudo

arbitral por ato de um órgão jurisdicional, visão essa que continua atual no art. 825 do

“Codice di Procedura Civile” o que, ex vi do art. 18 da Lei nº 9.307/96, não sucede,

com exceção da sentença arbitral estrangeira (art. 35, Lei nº 9.307/96).

Ludovico Mortara35 vê na convenção arbitral a fonte dos poderes do árbitro,

embora só a lei a tivesse permitido celebrar.

Não obstante o advento da Lei nº 9.307/96, que preencheu verdadeira lacuna

no ordenamento jurídico brasileiro, muitos ainda malquerem o instituto da arbitragem.

Sálvio de Figueiredo Teixeira36, contudo, investe contra os detratores, entendendo-os

como empecilhos à modernidade, corporativistas legalistas e formalistas exacerbados,

“sempre refletindo temor, preconceito e atraso, criando nessa área uma cultura de

resistência ao progresso sob os mais diversos e infundados argumentos.” Excessos à 33CHIOVENDA, Giuseppe, in Instituições de direito processual civil, tradução de J. Magalhães Menegale. São Paulo: Saraiva, 1.965, Vol. V, p. 11. 34 Ibidem, p.88. 35 MORTARA, Ludovico. In Comentario del codice e delle leggi di procedura. Milano, 1.923, Vol. III, p.34, “apud” J.E.Carreira Alvim, op. cit. p.59. 36 TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. A Arbitragem no Sistema Jurídico Brasileiro. In “A arbitragem na era da globalização”, coordenação de GARCEZ, José Maria Rossani, Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 15.

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parte, autores há que se abalançam acerca do tema. Entretanto, é correto afirmar que a

Lei nº 9.307/96 explicita que o árbitro é juiz de fato e de direito (art. 18, no que repete

o revogado art. 1.078 do CPC/73), o árbitro pode regular o procedimento (art. 21), a

sentença (e não laudo) que proferir, produz, entre as partes e sucessores, os efeitos da

sentença judicial e, sendo condenatória, é título executivo (art. 31), a sentença arbitral

deve obedecer a requisitos obrigatórios (art. 26), sob pena de nulidade (art. 32, I),

donde irrefutável a jurisdicionalidade da arbitragem. Resume Nelson Nery Junior37 que

“o árbitro exerce verdadeira jurisdição”, visto que “com a substituição do juízo

arbitral, as partes não estão renunciando ao direito de ação nem ao juiz natural. Apenas

transferem a jurisdição, ordinariamente exercida por um órgão estatal, para um

destinatário privado”

Carreira Alvim38 expõe, acerca da fonte da jurisdicionalidade da arbitragem

com esta verve didática:

“O Estado cumpre seus objetivos jurídicos, políticos, econômicos e sociais através de ‘órgãos-ente’, ou unidades de ação estatal concretamente determinadas, mas cumprem-nos também através de órgãos que só indiretamente poder-se-iam dizer compreendidos na sua estrutura; verdadeiros ‘órgãos-pessoa’, ou particulares aos quais reconhece, em determinada medida, uma parcela do seu poder e cujas decisões ela chancela com o selo da sua autoridade, outorgando-se-lhe idêntica eficácia à qual confere às decisões dos seus próprios órgãos.”

Prossegue, escrevendo:

“Quando o Estado permite que as partes interessadas se valham do juízo arbitral, não está, na verdade, transigindo com o monopólio da jurisdição, mas, ao contrário, reafirmando-as, na medida em que permite que ‘órgãos-pessoa´ (juízo arbitral) sejam investidos do poder de julgar; e reafirmando-as quando impõe determinados princípios a serem observados na formulação desse juízo, reconhecendo-o legítimo, no mesmo pé de igualdade com o formulado pelos ‘órgão-ente’ (juízo estatal), integrantes do próprio Poder Judiciário. Tanto assim é que admite a arbitragem apenas em determinadas hipóteses - direitos patrimoniais disponíveis - e não permite a justiça privada ao largo dessa limitação.”

37 JÚNIOR, Nelson Nery. in Princípios do processo civil na Constituição Federal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1992, p.72. 38 Ibidem, p.54-55.

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Conclui Carreira Alvim que o que as partes convencionam é submeter o

litígio a julgamento do juízo arbitral, porque o poder de julgar outorgado ao árbitro, tal

como ao juiz togado, provém da lei, e assim sendo, não cabe as partes delegar a

jurisdição ao árbitro, visto que só a lei (Estado) pode fazê-lo, pois só ela “disciplina

em toda a sua extensão o exercício da atividade arbitral e a eficácia do produto que

resulta dela (sentença arbitral).”39

Sob outra ótica, e vale a pena trazê-la, José Carlos Magalhães, assenta que:

O Estado nada mais é do que a estrutura jurídica da comunidade nacional, e que a jurisdição, ou seja, a autoridade para declarar o direito, quem a tem é a comunidade, ou a nação e não o Estado.

“Se o indivíduo e, em conseqüência, a comunidade vem antes do Estado, a jurisdição que este exerce é delegada - e não originária -, como, aliás, expresso em todas as Constituições brasileiras, exceto a de 1.891 (...). Essa noção é fundamental para compreender o caráter jurisdicional da atividade do árbitro. A jurisdição de que [o árbitro] se acha investido é a mesma do juiz estatal, com diferença de que sua autoridade jurisdicional decorre diretamente das partes, enquanto a do juiz, da comunidade como um todo, expressa na Constituição. Por isso, não é despropositado falar em jurisdição da comunidade, ou dos indivíduos que a compõem, pois são estes que o delegam ao Estado, por meio da Constituição, conferindo-lhe o poder delegado para declarar, em seu nome, o direito. E é a comunidade que reservou para si prerrogativa não transferidas ao Estado, como a de resolver controvérsias de caráter patrimonial diretamente, sem a interferência do Estado, além de outras.” 40

Visto tratar-se a arbitragem de espécie de justiça privada, considerando-se o

árbitro como juiz de fato de direito (art. 18 da Lei nº 9.307/96), é inegável exercício

por ele da jurisdição visando à pacificação social na dirimência de conflitos de

interesses acerca de direitos patrimoniais disponíveis.

A lume de todo o exposto até aqui, resume-se no sentido de que a arbitragem

é instrumento da jurisdição em sede privada. Ela vem disciplinada pela ordem jurídica,

39 Ibidem. p.57. 40 MAGALHÃES , José Carlos. In prefácio do livro “Comentários à lei brasileira de arbitragem”, de Irineu Strenger. São Paulo: LTr, 1.998, p.11-12.

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que estabelece as hipóteses em que as partes podem dela lançar mão, as regras de

procedimento, a eficácia da decisão (sentença arbitral) e os casos de nulidade. O

árbitro, apesar de não deter o “ius imperii”, detém a “iurisdictio”, que lhe atribui o

poder de decidir.

Destarte, concluída a análise a cerca da natureza jurisdicional da arbitragem,

mister se faz o estudo sobre a sentença arbitral, suas características, requisitos,

finalidades e efeitos, para que possamos, numa fase posterior, analisar e enfrentar a

celeuma em torno da aplicabilidade da Lei nº 9.307/96 aos conflitos individuais

trabalhistas.

2.3.2 – A SENTENÇA ARBITRAL

A sentença arbitral - e não laudo, visto, hoje, divergentes seus requisitos,

finalidades e efeitos -, terá os mesmos requisitos da sentença judicial (art. 26 da Lei nº

9.307/96): relatório, motivação e dispositivo, acrescido de mais um, que é a data e

lugar em que foi proferida (inciso VI, art. 26, Lei de Arbitragem), cuja importância é

relevante, face aos efeitos relativos à nacionalidade e aos prazos legais ou concertados.

A atividade arbitral poderá ser homologatória de acordo, e poderá, a pedido

das partes, declarar tal fato mediante sentença, pois, em caso de transação obtém-se

título bastante a permitir a execução forçada perante o juízo estatal (art. 28 da Lei nº

9.307/96, art. 584, III, do Código de Ritos). Adiante cuidar-se-á da relevância ou não

da homologação para as partes acordantes.

A sentença arbitral é irrecorrível (art. 18 da Lei de Arbitragem), mas nada

impede às partes convencionarem o reexame por outro órgão arbitral (v.g., tribunal

arbitral, no caso, superior) ou árbitros, mediante recursos internos, embora tal arte não

seja recomendável.

Nelson Nery Junior, mesmo antes do advento da Lei nº 9.307/96, percebera

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ausência de diferença entre sentença arbitral e judicial, assim obtemperando:

“Ambas, ao nosso ver, constituem exteriorização do poder jurisdicional. Apenas se distanciam quanto ao aspecto confiança, que preside o negócio jurídico do compromisso arbitral, estando ausente na jurisdição estatal, cujo órgão não pode ser escolhido pelas partes e cuja sentença é imposta coativamente aos litigantes. Enquanto no compromisso arbitral as partes convencionam acatar a decisão do árbitro, na jurisdição estatal o réu é compelido a responder ao processo, ainda que contra sua vontade, sendo as partes obrigadas a obedecerem o comando emergente da sentença.” 41

Da sentença, pode a parte interessada solicitar do árbitro (opor “embargos

declaratórios”) que corrija erro material ou esclareça alguma obscuridade, dúvida ou

ponto omitido a respeito do qual deveria manifestar-se a decisão (art. 30, da Lei nº

9.307/96).

Pode a sentença arbitral ser alvo de nulidade, em ação anulatória ajuizada

perante o juiz togado, na forma dos artigos 21, 33 e 34 da Lei nº 9.307/96. Proferida,

produz ela, entre as partes e seus sucessores, efeitos da sentença judicial (art. 31). Vale

dizer: idêntica à sentença judicial, proferida a arbitral de mérito, constitui ela coisa

julgada às partes, não beneficiando ou prejudicando terceiros. De lembrada, “tout

court”, a coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos de uma sentença, impedindo às

mesmas partes a repropositura da mesma ação em juízo, seja arbitral, seja estatal.

A sentença arbitral, tal como dispõe a Lei nº 9.307/96, tão logo é proferida, e

ultrapassada, quando for o caso, a fase de eventual interposição de “embargos

declaratórios”, transita em julgado, porque irrecorrível, produzindo efeitos da coisa

julgada formal e material, se de mérito. Em outros termos, a imperatividade e a

imutabilidade da sentença arbitral dá-se imediatamente ao seu proferimento. Lembra

Carreira Alvim que a expressão “mesmos efeitos”, do art. 31 da Lei de Arbitragem,

41 JUNIOR, Nelson Nery. Op. cit. p 77.

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possui o seguinte sentido:

“mesmo conteúdo substancial (declaratório, condenatório ou constitutivo), com idêntica qualidade (e grau de eficácia), que lhe dá autoridade de coisa julgada além do processo em que foi proferida. Sob este aspecto, não existe a menor diferença entre a sentença arbitral e a sentença judicial, senão que a primeira não se sujeita a recurso, sujeitando-se, porém, à ação de nulidade; e a segunda, aos recursos cabíveis e à ação rescisória.” 42

E, coerentemente com raciocínio expendido acerca da jurisdição arbitral,

“supra”, aduz Carreira Alvim:

“Essa equivalência de efeitos e eficácia é que coloca a sentença arbitral no mesmo patamar da sentença judicial, pondo em evidência serem, ambas, expressão da vontade do Estado, que nelas coloca o selo da sua autoridade, só que num caso expressa através de órgão-ente (juiz), e, no outro, através de órgão-pessoa (árbitro).” 43

No que tange aos limites subjetivos da coisa julgada arbitral, aplicável é a

regra fundamental que advém do direito romano (res inter alios iudicata tertio nec

nocet nec procedat) tal como o é para o caso das sentenças estatais, até porque de

lembrar que a sentença arbitral é produto de um processo que tem por base uma

convenção de arbitral firmada por interessados.

De acordo com o art. 31 da Lei nº 9.307/96, as partes e seus sucessores se

obrigam a respeitar a sentença, que passa em julgado relativamente a eles, produto da

convenção arbitral; os terceiros, entretanto, não se obrigam a respeitá-la porque, para

eles, embora eficaz, passa em julgado. Certo, entretanto, que se o terceiro intervier,

espontaneamente ou a convite do árbitro, ou porque cristalizado o litisconsórcio

necessário, facultativo ou adesivo no processo arbitral, à sentença arbitral se obrigará,

vez que comporá, de alguma forma, a convenção arbitral.

A sentença arbitral, como cediço, rende ensejo à nulidade, conforme arts. 31,

42 ALVIM, Carreira. Op. cit. p.447. 43 Id, p. 447

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32 e 33 da Lei nº 9.307/96. Nada obstante não haja consenso a respeito entre os

autores, os casos elencados no art. 32 são taxativos, permitindo ao interessado ajuizar

ação de nulidade no prazo decadencial de 90 dias. Também poderá ser impugnada pelo

executado em sede de embargos do devedor, observados os limites do art. 741 do

CPC. Afasta-se a hipótese de litispendência, em caso de o executado da sentença

arbitral ajuizar ação de nulidade devendo, porém, as duas demandas correr perante o

mesmo Juízo.

Dissentem os autores quanto ao cabimento da ação rescisória de sentença

arbitral, sendo que, Carmona, de seu turno, é incisivo quando assevera que o rol do art.

32 da Lei de Arbitragem aumenta a garantia às partes. Diz ele:

"É o caso de previsão do inciso VI do art. 32, que incorpora um dos casos de rescindibilidade da própria sentença estatal, reforçando a credibilidade da via arbitral como meio eficaz e seguro para a solução de controvérsias. Da mesma forma, o inciso VIII prestigia a garantia do ‘due process of law’ ao estabelecer que a violação dos princípios estipulados no art. 21, § 2º, pode levar à destruição da sentença arbitral. Diante da redação do dispositivo legal citado, não hesito em afirmar que não cabe ação rescisória de sentença arbitral, sendo inaplicável, portanto, o disposto no art. 485 do Código de Processo Civil.” 44

Bem de ver que, salvo por consenso das partes, o que retrataria

inconveniência palmar, admitir-se-ia ação rescisória de sentença arbitral, mas somente

contra aquelas em que o árbitro não decidiu por eqüidade e, coerentemente com o

espírito da Lei de Arbitragem, em sede do juízo arbitral. Contudo, caso as partes

tencionassem rescindir a sentença arbitral, deveriam fazê-lo no prazo decadencial de

90 dias, mesmo que sob alegação de uma das hipóteses do art. 485 do CPC. Esta

solução, entretanto, nada obstante guarde conteúdo ético ou moral, não se coaduna

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com o espírito da Lei de Arbitragem.

De remate, para concluir com Carreira Alvim:

“A arbitragem não pode ser considerada um simples equivalente jurisdicional, porquanto não proporciona um resultado ‘equivalente’ à sentença, mas uma ‘verdadeira e própria’ sentença, em tudo e por tudo idêntica, em valor jurídico e eficácia, à que se obtém através da jurisdição estatal. É um ato jurisdicional que, se não chega ao nível da jurisdição estatal (que contém o ‘iudicium’ mais o ‘imperium’), também não se detém nos lindes dos meros equivalentes jurisdicionais, que dependem de uma ‘integração’, por novo ato jurisdicional. A decisão do árbitro não ‘equivale’ a uma sentença; ela é uma sentença; a eficácia da sentença arbitral e a autoridade da coisa julgada que resulta dela não têm nenhuma diferença daquela que qualifica a sentença judicial.” 45

44 CARMONA, Carlos Alberto, in Arbitragem e Processo. São Paulo. Malheiros Editores, 1.998, p. 39. 45

Ibidem. p. 89.

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3. UM ESTUDO NO DIREITO COMPARADO

Os procedimentos e os órgãos encarregados de solucionar os conflitos de

trabalho são muito variados no direito comparado. Em muitos países, conforme

veremos adiante, os dissídios individuais devem ser submetidos, inicialmente, a um

órgão de conciliação e/ou mediação instituídos por lei, convenção ou contrato coletivo

e/ou, com o mesmo objetivo, constituir a fase preliminar do processo a ser julgado

pelos tribunais ou conselhos competentes para a respectiva decisão. Os conflitos

trabalhistas, uma vez configurados, observam, em seqüência, na maioria dos países, os

seguintes procedimentos, conforme sintetiza Arnaldo Süssekind :

“a) negociação direta entre as partes em litígio; b) negociação sob a supervisão de mediadores; c) submissão facultativa ou compulsória do litígio a árbitros privados ou a tribunais ou conselhos estatais. Nesta hipótese, o laudo arbitral ou a decisão terá: a) natureza declaratória, nas controvérsias coletivas de direito; b) natureza constitutiva, nos conflitos coletivos de interesse (pretensões sócio-econômicas).”46

De fato, além da solução judicial, a grande maioria dos países é dotada de

organismos especiais, administrativos para composição dos conflitos trabalhistas,

conforme verifica-se a seguir.

46 SÜSSEKIND, Arnaldo. Tribunais do Trabalho no Direito Comparado e no Brasil. Brasília: Revista do TST, vol. 65, nº 1. 1999, p. 115.

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3.1. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

O sistema Americano está baseado na descentralização, ou seja, no baixo

grau de centralização do contrato coletivo e no voluntarismo privado, embora dependa

dos tribunais para a homologação dos contratos de arbitragem no tocante aos laudos

arbitrais, ainda que, na prática, na maioria dos casos as partes cumprem sua cota.

Segundo Daniel Riojas47, as experiências ligadas à arbitragem obrigatória

seja nos EUA, na Europa ou na Austrália, estão relacionadas à pressões externas,

particularmente à existência de um estado de Guerra – tanto a Primeira quanto a

Segunda -, no qual existia a necessidade da manutenção de um nível de produção e de

regulação dos níveis salariais, em razão da alta inflação. Tendo a medida,

originalmente, caráter temporário.

Nos EUA, v.g., 90% dos contratos coletivos dispõem que as controvérsias

serão resolvidas por árbitros privados. Lá a arbitragem pode ser de duas formas:

arbitragem de queixas (grievance arbitration), que tem por objetivo dirimir as

controvérsias oriundas das convenções coletivas, isto é, conflitos de natureza jurídica a

respeito de aplicação ou interpretação desses convênios, e arbitragem de interesses

(interest arbitration), destinada à fixação de novas condições de trabalho, como

salários, horários, pensões e vantagens sociais.

Há duas alternativas: os árbitros são escolhidos pelas partes livremente, em

agências especializadas como a FMCS (Federal Mediation and Conciliation Service),

órgão público; AAA (American Arbitration Association), órgão privado. Ressalte-se

47 FUNES DE RIOJA, Daniel. Negociación y mediación en conflictos colectivos de trabajo, in Julio Gottheil, Adrina Schiffrin e outros, Mediación, una transformación en la cultura, Buenos Aires: Paidos, 1996, p.103.

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que os árbitros considerados mais competentes são os oriundos da National Academy

of Arbitration.

Laerte Augusto Galizia48 aponta que, criada em 1926, a AAA – Associação

Americana de Arbitragem é uma organização privada de serviço público, sem fins

lucrativos, com escritórios espalhados que fazem mediação, arbitragem, intercessão

etc., além de cursos e publicações.

Em 1993 foi criado o Comitê Deliberativo de Trabalho da Califórnia

Setentrional, que elaborou as Normas para a Resolução de Questões Trabalhistas da

Califórnia – formado por 14 advogados, diretores, juízes aposentados e árbitros, que

por seu sucesso difundiu-se por todo o país, renomeadas como Normas Nacionais para

Resolução de Questões Trabalhistas.

A American Arbitration Association administra os programas de resolução

de conflitos dentro dos padrões estabelecidos pelo Due Process Protocol (que é um

protocolo de processo devido para a mediação e arbitragem, elaborado em 1995)

encaminhados pelo empregador, mediante a apresentação de um Plano de resolução de

questões trabalhistas, que se não estiver dentro dos padrões mínimos pode ser

recusado.

Assim, a arbitragem é feita por um órgão de decisão que aprecia a

controvérsia ou reivindicação fora do contrato, o não cumprimento do mesmo sob as

Normas Nacionais, proferindo decisão que pode ser apresentada no tribunal que tenha

jurisdição sobre o mesmo, a saber: de interesses – que define os contratos ou, de

direitos – onde já existe um contrato e arbitra direitos.

No entanto, os altos custos e o procedimento cheio de formalidades são os

maiores problemas do sistema de arbitragem americano.

Já a mediação é feita por um facilitador, o qual promove uma discussão

mediada, sendo pessoa neutra que sugere solução sem impô-la. A mediação poderá ser

48 GALIZIA, Laerte Augusto. Reaprendendo a negociar nas relações trabalhistas. São Paulo: Câmaras Brasileiras do Livro, Pancrom, 1996, p. 87.

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autônoma ou prévia à arbitragem ou outro procedimento.

Esses procedimentos de resolução de conflitos podem constar de um manual

coletivo de trabalho ou ser usados num determinado conflito. Mas não se aplicam a

questões alheias aos acordos coletivos.

Outro processo que se encontra nos Estados Unidos da América é a técnica

denominada fact-finding, que é uma forma de mediação obrigatória, muitas vezes

referida como conciliação obrigatória, de feição própria, pois mescla mediação e

arbitragem.

Rioja49 esclarece que nos EUA o procedimento denominado fact-finding é

obrigatório e está relacionado a um sistema no qual inexiste direito de greve. Assim, o

fact-finding é o ultimo recurso legal nas relações laborais. Nesse caso, não há sanção

alternativa para os empregados, para os quais não há outras opções, além do que não

há obrigatoriedade nas suas decisões por parte dos empregadores.

Apesar desta dificuldade este procedimento continua existindo como uma

técnica de solução dos conflitos, em particular nos setores públicos. Atualmente, a

discussão sobre o fact-finding não se limita à sua aplicação ou não, mas em torná-lo

mais efetivo.

Inclui a designação de um terceiro neutro, distinguindo-se dos acordos de

conciliação que são tripartites. Apesar das críticas, o fact-finding continua sendo

praticado e goza de prestígio por sua contribuição para a solução dos conflitos.

Outro método alternativo utilizado nos Estados Unidos da América que

merece citação é o denominado ombudsman, onde um oficial indicado por uma

instituição tem a função de investigar queixas e prevenir litígios ou facilitar a sua

solução dentro da própria instituição. Dentro de suas prerrogativas, inclui

investigações, publicações e recomendações.

Zoraide Amaral50 esclarece que nas grandes empresas, o papel do

49 Ibidem, p. 101. 50 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit. p. 89.

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ombudsman é importante, principalmente, nas questões de salário e benefícios,

avaliações de desempenho, segurança no trabalho, disciplina, despedimento,

discriminação e assédio, ética e fiscalização, condições de trabalho, saúde pessoal,

conflitos entre trabalhadores, práticas gerenciais, etc.

3.2. Na Alemanha

Na Alemanha a arbitragem é utilizada tão somente para a interpretação de

contratos coletivos (não é permitida, salvo em raras exceções, nos conflitos

individuais). Há livre negociação sobre a forma de reajuste a cada ano e acordo de

âmbito geral que duram de cinco a dez anos, que são registrados e têm força de lei.

Nos acordos há uma cláusula de obrigatoriedade de paz durante toda a sua vigência

que impede a eclosão de greves.

Há uma cultura de democracia participativa implementada desde o pós-

Segunda Guerra, imposta pelos vencedores, em particular na indústria do carvão e do

aço (fornecedores de matéria-prima para a indústria bélica alemã), consubstanciada

nos direitos de participação e co-gestão na empresa que são exercidos por uma

Comissão de Trabalhadores e similares (delegados sindicais), previsto na Lei

Constitucional de Empresas. Além do que há a participação dos representantes dos

trabalhadores e suas entidades de classe nos órgãos de gestão das empresas, através

das leis de co-gestão empresarial, configurando-se, dessa forma uma verdadeira justiça

coexistencial, bem aos moldes do que propugna Cappelletti51.

A Lei Constitucional de Empresas – BetriebsverfassungsgesetzI – de 1972

regula as relações entre empregadores e empregados, prevendo a existência de uma

representação coletiva dos interesses dos operários - comissão de trabalhadores. Nela

51 CAPPELLETTI, Mauro e GARTH, Bryan. Acesso à Justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1998, p. 39 e ss.

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estão previstos a organização interna da empresa e execução das tarefas, tais como,

nomeação, demissão, limitações ao poder diretivo do patrão em defesa do assalariado e

alocação de recursos humanos. Além da celebração de acordos que podem ser formais

ou verbais com os patrões, na solução dos possíveis litígios entre trabalhadores e

empresa.

Prevê a eleição de empregados ou sindicalistas para os conselhos fiscais das

empresas co-geridas com plenos poderes. Tal participação tem como efeitos o respaldo

das decisões, bem como a proteção e o resguardo do direito do trabalho.

Os delitos contra os órgãos constitucionais de empresa e seus membros são

punidos com pena privativa de liberdade de até um ano ou multa.

3.2.1. A internacionalização da experiência alemã na solução de conflitos laborais

A Revista Trabajo, da OIT, em sua edição de número 36, set/out-2000,

apresenta matéria que expõe o quão avançadas se encontram as relações entre capital e

trabalho numa empresa transnacional de origem alemã, a Volkswagen, que possui

fábricas espalhadas por todo o mundo e cuja Comissão de Empresa, por conta de

acordo firmado, criou, em 1999, um Comitê Mundial de Empresa, formado por

representantes dos trabalhadores em todos os centros pertencentes ao grupo

Volkswagen, internacionalizando definitivamente as atividades dos representantes dos

empregados da empresa automobilística.

O caminho para a criação desse Comitê foi aberto em 1990, com a criação de

uma Comissão de Empresa de caráter continental, composta por membros oriundos

das diversas fábricas da Volks na Europa, com sede em Wolksburg.

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De acordo com a matéria veiculada na referida revista, constata-se que:

“o grupo concede amplos direitos de informação aos representantes dos trabalhadores, tanto em nível local como internacional. O Comitê de Empresa Mundial não conta com direitos de participação, de acordo com a lei alemã de comitês de empresa. Não obstante, a lei alemã de participação dos trabalhadores concede aos membros locais a possibilidade de exercer influência nas operações estratégicas de ultrapassem os limites de um centro específico, já que tais operações podem vir a afetar os centros alemães”... “seu objetivo é promover o intercâmbio de informação sobre a evolução e as estratégias do grupo de conjunto, e garantir que os interesses de cada sede sejam levados em conta de modo equilibrado e conforme o espírito de solidariedade”.

Exemplos relacionadas à atuação político-sindical desse Comitê de

amplitude e composição operária internacional da representação laboral são fornecidos

utilizando-se dois conflitos setorizados que ocorreram na fábrica situada em

Uitenhage, África do Sul e aqui no Brasil, em São Paulo, a despeito de, no primeiro

caso, as negociações das quais o Comitê tomou parte terem sido infrutíferas.

Na África do Sul, em janeiro de 2000, mesmo com a intervenção do Comitê

Mundial, não foi possível evitar a demissão de 1.300 trabalhadores da fábrica

localizada em Uitenhage, devido ao fato de que dos delegados eleitos para negociar

com a direção, uma parte deles se negava a abrir mão de certas conquistas alcançadas

ao longo do processo de superação do sistema apartheid, o qual, os próprios

sindicalistas alemães contribuíram para derrotar.

Esta radicalização levou a uma sucessão de greves espontâneas que

culminaram com a expulsão dos treze delegados que se opunham às medidas de

flexibilização das relações do trabalho em contrapartida à manutenção de parte dos

empregos, por iniciativa da NUMSA – a entidade sindical sul-africana. Esta

radicalização exacerbada da situação de resistência de parte dos líderes sindicais

comprometeu o processo negocial entre os representantes sindicais e a empresa.

Assim, foram promovidas as demissões e posteriormente realizadas novas contratações

pela empresa que se recusou a rever as demissões decorrentes do processo grevista.

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No Brasil, entretanto, a experiência foi oposta.

No final dos anos 90 o país atravessava um período difícil, marcado pela

crise econômico-financeira que abalou os países denominados “Tigres asiáticos” e a

América do Sul, tendo como conseqüência a possibilidade de haver um processo de

demissões em massa na fábrica da Volkswagen localizada em Anchieta/São Bernardo,

no estado de São Paulo, onde está a sede central do grupo no Brasil, contando com

cerca de 18.000 postos de trabalho.

O presidente do Comitê Mundial de Empresa, Klaus Volkert, da sede central

de Wolfsburg, intercedeu pessoalmente no conflito que se instalou, participando

ativamente das negociações com a direção local da empresa, que resultaram num

pacote de medidas similar ao da “Alianza para el Trabajo” de Wolfsburg, composto

por redução da jornada de trabalho com redução salarial, além de outras medidas de

flexibilização, mas com garantias futuras de manutenção do emprego.

Houve resistência por parte dos empregados num primeiro momento, em

particular na questão relativa ao reajuste salarial acordado, mas foram mantidos os

postos de trabalho, pelo menos naquele momento.

O saldo mais importante dessa experiência, sem dúvida, foi a superação da

barreira das fronteiras nacionais entre os representantes operários na defesa de seus

interesses de classe, rumo a um sindicalismo autônomo, livre e internacional, com

condições de fazer face à nova feição globalizada das relações capital/trabalho,

utilizando métodos negociais que possam promover a coexistência harmoniosa dos

interesses próprios da patronal, quais sejam, seus lucros, com uma situação de respeito

aos direitos e garantias fundamentais dos empregados que envolva desde a questão da

remuneração e das condições de trabalho até a própria gestão da empresa.

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3.3. Argentina

Um estudo sobre a experiência argentina relativa aos meios autônomos e

heterônomos de resolver as pendências entre o capital e o trabalho, reporta-nos, em

primeiro lugar, à Lei nº 25.573, de 1995, que assim dispõe em seu art. 1º:

Art. 1º - Institui-se em caráter obrigatório a mediação prévia a todos os juízos, mediação esta que será regida pelas disposições da presente lei. Este procedimento promoverá a comunicação direta entre as partes para a solução extrajudicial da controvérsia.

As partes ficarão isentas do cumprimento deste trâmite se provarem que, antes do início da causa, existiu mediação perante os mediadores registrados pelo Ministério da Justiça.

Eis que, desde 1995, para combater a excessiva litigiosidade que também ali

atulhou de causas os tribunais e dilatou prazos, houve uma preocupação, segundo

Goldin52, de promover uma "desjudicialização" do conflito individual trabalhista, na

"linha de evolução também generalizada nos sistemas europeus de solução dos

conflitos" (...), o que determinou "a sanção de um regime de conciliação obrigatória

nos conflitos individuais de trabalho, que deve necessariamente transitar como

condição para aceitar a jurisdição". As atribuições de conciliador foram confiadas a

advogados "que exercem livremente sua profissão e que desempenham essa função

conciliatória em seus próprios escritórios". Alcançada a conciliação, deve ser

submetida à Justiça ou à Administração do Trabalho para homologação, o que dota o

acordo dos efeitos da coisa julgada .

A arbitragem na Argentina também ganhou relevo, sobretudo diante do

52 GOLDIN, Adrián O. Os conflitos trabalhistas e suas formas judiciais e extrajudiciais de solução - anotações e reflexões". Brasília: In "Anais do Seminário Internacional - Relações do Trabalho", Edição do Ministério do Trabalho, 1998. p. 288 e ss.

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Decreto n. 2.184, e 1990, onde segundo Rioja “submeteu à arbitragem obrigatória os

conflitos trabalhista nos serviços essenciais, tais como, a saúde, os hospitais, a água, a

energia, o gás, o combustível, a telecomunicação, a educação e a justiça.”53

Zoraide Amaral54 ressalta, que “a arbitragem, na Argentina, pode ser

utilizada em qualquer espécie de conflito que não esteja fundado em direitos

indisponíveis”

Importante ressaltar, como obtempera Eduardo Zamorano55, a arbitragem

obrigatória fere o princípio da liberdade sindical estabelecido pelas Convenções da

OIT nº 87 (Liberdade Sindical e Proteção do Direito de Sindicalização) e n. 98 (Direito

de Sindicalização e Negociação Coletiva), ratificadas pela Argentina.

3.4. Austrália

O procedimento da arbitragem obrigatória começou em torno de 1890 -

segundo informe de Riojas56 - derivado dos profundos conflitos, frutos da crise interna

das relações industriais, tendo sido considerado como um “audaz experimento social”,

cujo intento foi o de promover a justiça nas relações industriais e assegurar uma

paridade salarial. Tal procedimento funciona tanto nos conflitos individuais quanto nos

coletivos.

O modelo funciona ao estilo de um tribunal, havendo a possibilidade de

apelação aos tribunais cuja função é a de minimizar os precedents contraries e ao

mesmo tempo controlar a qualidade dos laudos arbitrais. Há uma farta jurisprudência

sobre o posicionamento dos árbitros, sendo certo que muitas vezes as partes se valem

53 FUENES DE RIOJA, Daniel. Op. cit. p. 108. 54 Ibidem, p.98. 55 ZAMORANO, Eduardo. El Modelo Laboral Argentino (Antecedentes y Análisis de la Reforma Lavoral. Ley

25.250). Buenos Aires: Dunken, 2000, p. 43 e ss. 56 FUNES DE RIOJA, Daniel. Op. cit. p.104.

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das suas opiniões emitidas pelos árbitros em sua fundamentação, para chegar a um

acordo, permitido no curso da audiência.

Atente-se para o fato da possibilidade da intervenção estatal como terceiro

interessado nos casos que envolvam o interesse público.

3.5. Canadá

Segundo Riojas57, o Projeto de Lei nº 100 de Ontário, prevê a obrigatoriedade

prévia do processo fact- finding, na busca da solução dos conflitos laborais (Lei sobre

os corpos colegiados e lei das negociações coletivas dos professores de 1975).

Também o Código Trabalhista Canadense e a Lei das Relações dos funcionários do

serviço público (federais) adotam o fact- finding.

As críticas ao fact-finding vão no sentido de que tal procedimento impede

uma negociação entre as partes antes de esgotado o processo, permitindo que se

radicalizem as posições de intransigência, dificultando um possível acordo ou de outra

forma de fact- finding pode constituir-se como um óbice à futuros acordos, pelas partes

sentirem-se inclinadas a ele recorrerem necessariamente.

Atualmente está restrito aos setores da administração pública direta e indireta

já que a experiência demonstrou a maior efetividade da conciliação voluntária.

3.6. Espanha

O Direito espanhol prevê como formas de soluções de conflitos a mediação,

a conciliação e a arbitragem, possuindo, inclusive, um órgão específico para esse fim,

57 Ibidem, p. 108.

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denominado Instituto de Mediação, Arbitragem e Conciliação (IMAC), criado por

meio do Real Decreto-Lei nº 5, de 26 de janeiro de 1979, na redemocratização da

Espanha, após a queda do General Franco, com caráter de organismo autônomo

adstrito ao Ministério do Trabalho. O IMAC é órgão autônomo, de composição

tripartite, que atua de forma complementar aos órgãos jurisdicionais trabalhistas. O

Instituto constituiu-se em um órgão estatal independente sem ligação com nenhum dos

poderes.

Solicitada e aceita a mediação, o Instituto convocará e ouvirá as partes em

litígio sobre o perfil que deve possuir o mediador requisitado. Com isso analisará as

pessoas que possuem tais requisitos e nomeará a que melhor se enquadre às exigências

das partes interessadas.

O mediador tem a faculdade de convocar as partes, que estarão obrigadas a

comparecer pessoalmente quantas vezes este entender pertinente, e poderá solicitar

dados e informações para o cumprimento de seu mister. O mediador deve manter

segredo profissional, sob pena das sanções legais. No prazo mais breve possível o

mediador submeterá às partes a proposta de solução que considera justa e, no caso de

aceitação das partes, terá a eficácia de uma convenção coletiva.

O acordado em conciliação tem força executiva entre as partes, sem

necessidade de ratificação ante o Juiz ou Tribunal (art. 68).

Observe-se que há a obrigatoriedade legal do contrato coletivo de trabalho,

havendo a previsão de recurso ao Judiciário. O prazo do contrato é indeterminado,

sendo revogado somente por outro contrato ou se consta um prazo de vigência

original.

A "Lei de Procedimiento Laboral" de 1995 (art. 63 a 73), sob o sugestivo

título “de la evitacion del proceso”, considera obrigatório o intento de conciliação

"perante o serviço administrativo correspondente", como requisito prévio para a

tramitação do processo.

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Contudo, registra Halley de Souza58 que o IMAC não logrou êxito, pois após

a sua criação, surgiram nos locais de trabalho, comissões paritárias que solucionavam

de forma mais eficiente os conflitos, até porque eram órgãos mais próximos da

realidade onde se delimitava a lide.

Joselita Nepomuceno Borba, Deborah da Silva Felix e Maria Regina do

Amaral Virmond59 observam que o modelo espanhol é o que mais se aproxima do

brasileiro, lembrando que recentemente foi criado, em decorrência de um acordo

tripartite (governo, representantes dos trabalhadores e dos empresários - CEDE,

CEPYME , CCOO e UGT), chamado Acordo para Solução Extrajudicial dos Conflitos

Laborais - ASEC, a Fundação SIMA, que é órgão encarregado de viabilizar os

procedimentos de mediação e arbitragem para a solução extrajudicial de conflitos

coletivos trabalhistas. Trata-se de uma fundação tripartite subvencionada pelo governo

espanhol e é administrada por representantes do governo, das organizações de

trabalhadores e dos patrões.

3.7. França

Podem ser encontrados convenções e acordos coletivos. A convenções são

negociadas com as Câmaras de empregadores e os acordos com os sindicatos. O

Ministério do Trabalho intervém fortemente nas relações entre capital e trabalho.

De acordo com o que expõe Villatore60 é a partir do artigo L. 522 e itens, até

o artigo L. 532-1 do Código do Trabalho francês que se encontram os dispositivos que

58 Ibidem, p 03 59 BORBA, Joselita Nepomuceno, FELIX, Deborah da Silva e VIRMOND, Maria Regina do Amaral. Negociação coletiva e os processos de arbitragem e conciliação das relações trabalhistas: as experiências alemã, espanhola, inglesa e italiana (Relatório do Curso A21314, de 04/05 a 15/05/98, Turim - Itália) promovido pela OIT. 60 VILLATORE, Marco Antônio César. Mediação na solução de conflitos de trabalho e o Direito Comparado. Curitiba: in GENESIS – Revista de Direito do Trabalho, nº 74, fevereiro de 1999. p. 05.

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tratam dos procedimentos de regulamentação dos conflitos trabalhistas.

Em consonância com o previsto no artigo L. 524-2, item 1, do Código do

Trabalho, dá-se a mediação, sendo certo que o mediador possui os poderes para se

informar da situação de trabalhadores e demais partes interessadas pelo conflito,

podendo proceder a todas as investigações necessárias e podendo requerer às partes a

produção de todo o documento ou informação de ordem econômica, contábil,

financeira, estatística ou administrativa suscetível. Também pode recorrer a escritórios

de peritos e, geralmente, a qualquer auxiliar necessário.

Zoraide Amaral analisando a Lei de Mediação Processual Francesa n.

95.125, que entrou em vigor em 1995, aponta a semelhança da mediação da França

com a que ocorre nos Estados Unidos da América, aduzindo que:

“Na França, o mediador também tem função semelhante à que tem nos Estados Unidos da América, isso é, aproximar as partes. Por isso, justifica-se o fato de não ser necessário estarmos diante de um jurista ou de um conhecedor do direito, já que o seu papel é de aconselhar e pacificar as partes e litígio.”61

Na ocorrência de acordo entre as partes, o mesmo tem a força de uma

convenção coletiva de trabalho, conforme artigo L. 524-4 do Código do Trabalho.

Já a conciliação pode ser instituída através de convenção coletiva, de acordo

com as cláusulas fixadas pelas partes interessadas. A violação das condições ali

constantes poderá resultar em responsabilidade civil.

Villatore62 informa que conciliação legal, conforme artigo L. 523-2 do

Código do Trabalho, permite às partes submeterem o conflito a uma comissão nacional

ou regional (ou para as seções departamentais), de acordo com o tamanho do conflito:

O presidente da comissão de conciliação, quando esta é infrutífera, convida

as partes a designarem um mediador para se chegar a um acordo amigável de conflito

61 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit. p.120 62 Ibidem, p. 07.

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coletivo. Caso as partes não queiram designar um mediador, a autoridade

administrativa fa-lo-á através de uma lista de personalidades com autoridade moral e

com competência econômica e social. As listas das personalidades ficam à disposição

de consulta e sugestões das entidades sindicais. As listas são revisadas a cada três

anos.

A arbitragem, por sua vez, é encontrada nos artigos 525 e seguintes do

Código laboral francês e, conforme o mesmo autor63 a natureza desse procedimento

adia profundamente a realização dos procedimentos prévios (conciliação e mediação).

Na França, portanto, a arbitragem não faz parte da autonomia das partes sendo que a

regulamentação do conflito, nesse caso, é uma questão de heteronomia.

O árbitro também é um terceiro que decide a solução do conflito, sendo

importante frisar que a arbitragem não possui uma boa aceitação nas relações

profissionais francesas. Nem empregador, nem entidades sindicais são favoráveis ao

instituto da arbitragem. Tal pensamento tem condição de ser modificado no caso de

uma grande crise social.

Na França o concerto ou a consulta é o instrumento mais utilizado de

prevenção de conflitos coletivos de trabalho, ao invés de se utilizar da resolução dos

mesmos64.

3.8. Inglaterra

Na Gran Bretanha há uma tradição relacionada à arbitragem voluntária. No

entanto, a obrigatoriedade da arbitragem existiu de 1914 a 1919 e de 1940 a 1945, ou

seja, em períodos de excepcionalidade causada pela guerra, como ressalta Riojas65.

63 Ibidem, p. 07. 64 VILLATORE, Marco Antônio César. Op. cit. p.06. 65 FUNES DE RIOJA, Daniel. Op. cit. p. 104

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A arbitragem, apesar de voluntária, conta com a intervenção estatal,

promovida pelo Comitê Central de Arbitragem (CAC) esse limita a setores públicos

restritos .

Em 1974, foi criado o Serviço de Assessoria, Conciliação e de Arbitragem

(ACAS), responsável por implementar o desenvolvimento das relações entre capital e

trabalho, incluindo a reforma dos mecanismos de contratos coletivos. No entanto,

somente após esgotadas todas as possibilidades é que as partes podem recorrer à

ACAS.

A ACAS prima pela independência e imparcialidade, além do que não tem a

faculdade de obrigar, mas sim, procura o consenso entre as partes, desempenhando

funções de assessoria, conciliação e arbitragem. É a ACAS que remete os casos ao

Comitê Central de Arbitragem - CAC, assim como serve a uma série de órgãos

públicos: o Tribunal Nacional dos Ferroviários, o Tribunal de Arbitragem da Polícia,

dos Serviços do Correio e Tribunais segundo a Lei de Remuneração dos Professores

de 1965 e a Lei da Educação de 1980.

3.9. Itália

As quatro principais formas de soluções de conflitos encontradas no Direito

Italiano são a mediação, a conciliação, a arbitragem e a comissão de investigação.

A mediação italiana possui como característica marcante, como explicam

Bruno Veneziani e Lauralba Bellardi66, a propriedade de ser “uma atividade de

composição dos conflitos coletivos executada prevalentemente de organismos

estatais”.

66 VENEZIANI, Bruno; BELLARDI, Lauralba. Mediazione (dei conflitti), in Digesto Commerciale. 4ª ed., Vol. IX. Turim: UTET, 1993. p. 361.

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Villatore67 informa que, a partir do final de 1992 vários projetos de lei sobre

arbitragem e conciliação foram elaborados pelo Conselho Nacional de Economia e de

Trabalho (CNEL) sempre com a finalidade de reforçar a autonomia coletiva e reduzir a

carga do judiciário.

A previsão legislativa italiana de solução de conflitos encontra-se, por base,

na sua Constituição de 1947, nos seus artigos 3º (competindo à República remover os

obstáculos de ordem econômico-sociais, que limitam de fato a liberdade e igualdade

dos cidadãos); 4º (a República reconhece a todos os cidadãos o direito ao trabalho e

promove as condições que propiciem efetivamente este direito); 35 (a República tutela

o trabalho em todas as suas formas e aplicações); 41 (utilidade social da iniciativa

privada); 44 (a eqüidade das relações sociais); 46 (a elevação econômica e social do

trabalho).

A expressão jurídica "mediação" inexiste expressamente no ordenamento

jurídico italiano. Sendo certo que se pode intuí-la, mas apenas como conciliação, no

constante do artigo 23, letra “d” do Decreto do Presidente da República nº 520, de 19

de março de 1955 (com regras para os ofícios regionais e provinciais do trabalho) e do

artigo 12, primeiro parágrafo da Lei nº 628, de 22 de julho de 1961 (os ofícios do

trabalho e da máxima ocupação desenvolvem conciliação em matéria trabalhista.

Esta constatação é revelada na obra de Bruno Veneziani e Lauralba

Bellardi68, os quais afirmam que “provavelmente a razão da indeterminação dos

conteúdos normativos nasce do receio do legislador em contrastar com os ditames

encontrados nos artigos 39 e 40 da Constituição italiana ou, no mínimo, de gerar a

hostilidade sindical. Mesmo assim foram apresentados vários projetos de lei a partir de

1944, sem qualquer êxito.”

Por essa razão, foram surgindo inúmeros documentos formais e informais

(documentos, cartas, circulares, pareceres ministeriais) na tentativa de preencher as

67 Ibidem, p.7 68 Ibidem p. 364

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lacunas deixadas pelo legislador e sugerindo os contornos da atividade compositiva do

terceiro.

Halley de Souza69 acrescenta que na Itália existe o Estatuto do Trabalhador

lei nº 300/70, que serviu de base para a organização espanhola. O estatuto italiano

prevê várias formas de solução de conflitos, entre as quais, a Comissão no local de

trabalho, o Colégio de Conciliação e Julgamento. Os trabalhadores indicam um

representante e os patrões indicam outro, sendo que os dois representantes de comum

acordo escolhem uma terceira figura e constituem o Colégio.

O autor afirma que as estatísticas italianas informam que as comissões são a

forma mais utilizada para a solução de conflitos na Itália. O sistema italiano possui

garantias reais contra a dispensa arbitrária, sendo que a demissão somente se efetiva se

houver apuração dos fatos por meio de sindicância, ou seja, a convenção 158 da OIT é

aplicada na plenitude.

3.10 Japão

Conforme ressalta Zoraide Amaral70, o acesso à Justiça no Japão é difícil e

lento, além de muito oneroso, já que é da índole do povo oriental aceitar

compromissos mais do que os ocidentais.

No Japão71 existem as Cortes de Conciliação, “compostas por dois membros

leigos e (ao menos formalmente) por um Juiz”. As atribuições da Corte de

Conciliação, naquele país, são de ouvir as partes informalmente e recomendar uma

solução justa.

69SOUZA, Halley de. Solução dos conflitos no âmbito do trabalho. Retirado do site http://www.jusnavigandi.com.br, 2006. O autor é coordenador para América do Sul da ILSA (Internacional Law

Students Association). 70 SOUZA, Zoraide Amaral. Op. cit. p.143. 71 CAPPELLETTI e GARTH. Op. cit. p. 84.

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É denominado A SHUNTO o sistema de negociação. Pequenas empresas se

integram ao KEIRTSU que subcontrata as empresas familiares com encargos sociais

menores e jornada de trabalho prolongadas com flexibilidade, que são autorizadas

pelos trabalhadores.

O empregado é contratado para trabalhar na empresa e não na função. Assim,

quase não há contratos escritos, com forte influência do sistema norte-americano.

3.11. México

No México também possui um juízo arbitral que se encontra disciplinado

pelo Código de Procedimientos Civiles (Decreto de 1932, que foi modificado por

Decreto de 21.7.1993, de 23.9.1993 e de 6.10.1994), e uma arbitragem comercial, que

se encontra regulada no Código Comercial Mexicano, Lei de 22 de julho de 1993, arts.

1.415 a 1.463.

Interessante destacar no sistema arbitral mexicano que o seu referido Código

de Procedimientos Civiles autoriza as partes em conflito a submeterem suas

controvérsias ao juízo arbitral, podendo o compromisso ser celebrado antes do

ajuizamento da ação, durante o decorrer da ação e depois da sentença, seja qual for o

estado em que se encontre o processo.

A cláusula compromissória e o compromisso arbitral não sofrem distinção no

direito mexicano, gerando os mesmos efeitos, isto é, há obrigatoriedade de

constituição da arbitragem.

Consoante Néstor de Buen72, no México os conflitos de trabalho são

resolvidos mais freqüentemente por meio de solução jurisdicional, por um órgão

denominado Junta de Conciliação e Arbitragem, instituída pelo art. 123 da

Constituição Federal de 1917 e pertence ao Poder Executivo.

72 DE BUEN, Nestor. A Solução dos Conflitos Trabalhistas. São Paulo: LTr, 1997, pp.118/119.

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3.12. Paraguai

O código Procesal Civil do Paraguai contempla o Juízo Arbitral, sob o título

“Del Proceso Arbitral”, no Título I, capítulo I.

O art. 774 do referido diploma legal informa quais são as hipóteses em que é

possível se utilizar da arbitragem, podendo ser objeto deste sistema qualquer questão

de conteúdo patrimonial, e poderá ser submetida antes ou depois de deduzido em juízo

perante a justiça ordinária, em qualquer fase do processo, sempre que não haja

sentença definitiva transitada em julgado.

A arbitragem ou o sistema arbitral trabalhista encontra-se disciplinada nos

Códigos del Trabajo y Procesal del Trabajo, em seus arts. 296 ao 320.

Assim, as partes envolvidas em conflito trabalhista poderão tentar uma

conciliação; caso não ocorra, a Junta Permanente de Conciliación y Arbitrage

declarará o encerramento da instância conciliatória e dará notícias às partes envolvidas

que deverão submeter a decisão do conflito à arbitragem ou ao árbitro. Encerrado o

procedimento arbitral, o laudo respectivo tem força executiva.

3.13. Portugal

Marco Antônio César Villatore73 informa que as regras portuguesas sobre

soluções de conflitos coletivos de trabalho são encontradas no Capítulo VIII, artigos

30º e seguintes do Decreto-Lei nº 519, de 29 de dezembro de 1979.

No caso português, podem ser citadas como formas de soluções, além da

73 VILLATORE, Marco Antônio César. Op. cit. p.02 ss.

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mediação, a conciliação e a arbitragem, podendo existir, por último, a elaboração de

portarias de regulamentação de trabalho.

Na mediação, as partes podem a qualquer tempo acordar em utilizá-la nos

conflitos coletivos que resultem da celebração ou revisão de uma convenção coletiva.

As próprias partes é que escolhem o mediador que, para chegar ao final de

seu trabalho escrito, possui total liberdade de colher os dados e as informações tanto

das partes quanto de qualquer departamento do Estado.

Villatore74 esclarece que o mediador deverá encaminhar o seu laudo por carta

registrada no prazo máximo de vinte dias a partir de sua nomeação, sendo considerado

recusado se ambas as partes não comunicarem expressamente a sua aceitação no prazo

de dez dias de sua recepção.

Decorrido o prazo final de dez dias, o mediador deve encaminhar

simultaneamente às partes a aceitação ou recusa das mesmas.

Todos e quaisquer dados ou informações colhidos durante os trabalhos pelo

mediador devem ser guardados em sigilo pelo mesmo, sob pena de sanções.

Já a conciliação relativa a conflitos coletivos de trabalho poderá ser

promovida conforme as regras presentes na convenção coletiva de trabalho anterior da

categoria profissional, no caso de celebração de uma nova, ou no próprio documento

normativo coletivo, na hipótese da sua revisão. As partes devem apresentar o pedido

de conciliação ao Ministério do Trabalho, que as convocará para iniciá-la dentro dos

quinze dias seguintes.

Caso não esteja previsto em convenção coletiva o instituto de conciliação,

este poderá ser promovido, conforme as regras dos artigos 31º e 32º do Decreto-Lei nº

519/79, ou seja, por comum acordo das partes ou por uma delas somente quando a

outra não der resposta à proposta de celebração ou de revisão de uma convenção

coletiva. Fora esses dois casos, somente será admitida depois de decorrido um pré-

aviso da proposta, de oito dias, por escrito, à outra parte, caso não se tenha qualquer

74 Ibidem, p. 02 e ss.

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resposta.

O Decreto-Lei nº 209, de 2 de outubro de 199275 introduziu nova redação ao

artigo 32º supracitado, estabelecendo que “a conciliação será efetuada pelos serviços

de conciliação do Ministério do Emprego e da Segurança Social”.

Na arbitragem facultativa, cada parte nomeará um árbitro, sendo que o

terceiro será nomeado pelos dois anteriores. Os três poderão ser assistidos por peritos e

possuem ampla liberdade para colher dados e informações necessárias das partes e do

Estado.

A decisão arbitral será tomada por maioria, tendo os mesmos efeitos

jurídicos da convenção coletiva, não podendo diminuir direitos ou garantias já

presentes em convenções coletivas anteriores. Tal decisão deverá ser encaminhada às

partes e ao Ministério do Trabalho dentro do prazo de quinze dias.

Caso frustada uma conciliação ou uma mediação sem que as partes tenham

acordado em iniciar uma arbitragem facultativa, dentro de dois meses do final do

primeiro processo, o Ministério do Emprego e da Segurança Social poderá determinar

uma arbitragem obrigatória.

Por último, encontram-se as “portarias de regulamentação de trabalho”, que

poderão ser emitidas pelos Ministros do Trabalho e da Tutela ou responsável pelo

setor de atividade se verificadas as seguintes hipóteses: a) inexistência de associações

sindicais ou patronais; b) recusa reiterada de uma das partes em negociar; c) prática de

atos ou manobras manifestamente dilatórias que, de qualquer modo, impeçam o

andamento normal do processo de negociação.

Esclarece Villatore76 que por meio de despacho do Ministro do Emprego e da

Segurança Social (Decreto-Lei nº 209/92), será formada uma comissão para a

elaboração da portaria, com a possibilidade de nomeação de assessores pelas duas

partes para assegurar a necessária representação. A comissão terá noventa dias para

75 Diário da República, de 2 de outubro de 1992, in VILLATORE, Marco Antônio César. Op. cit. p. 02. 76 Ibidem, p. 03.

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apresentar a portaria, que terá valor de convenção coletiva de trabalho, salvo

prorrogação do Ministro do Trabalho.

A Constituição da República Portuguesa em seu artigo 56º, item 4, afirma

que: “A lei estabelece as regras respeitantes à legitimidade para a celebração das

convenções coletivas de trabalho, bem como à eficácia das respectivas normas”.

3.14 - Uruguai

A arbitragem também se faz presente no Uruguai, sendo regulada pela Lei n.

15.982/88 – Código General del Proceso.

O referido Código, em seu art. 472 prevê que todo conflito, individual ou

coletivo, poderá ser submetido pelas partes à solução por um Tribunal Arbitral, a não

ser que haja expressa disposição em sentido contrário, como ocorre em relação as

questões proibidas de submissão à transação.

Zoraide Amaral77 aponta como característica do sistema arbitral do Uruguai o

fato de poder ser voluntário ou necessário, e aí, no caso de ser necessário, será imposto

por lei ou por acordo das partes.

Importante ressaltar, entre outras peculiaridades do sistema arbitral Uruguaio

é que não cabe recurso no laudo arbitral, exceto no caso de nulidade, conforme

expresso no art. 499 do Código General del Proceso.

Como outras alternativas não judiciais de solução de conflitos, o Uruguai

também adota a conciliação e mediação, que foram implantados em 1994, com

formação de comissões para implementar e dar ampla divulgação nos meios de

comunicação ao programa por Luis Torello, então presidente da Suprema Corte que,

conforme relata Zoraide Amaral, apresentava as seguintes soluções para a mediação,

77 SOUZA, Zoraide Amaral. Op. cit., p. 157.

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negociação e conciliação:

“1 – uma adequada preparação dos juízes de paz, de primeira instância do cível, família e trabalho, dos defensores públicos, assistentes sociais e professores encarregados dos escritórios de faculdades de direito, mediante cursos de reciclagem. A mesma preparação seria ofertada aos futuros juízes, mediante cursos na escola judicial, aos futuros advogados e assistentes sociais, por meio da inclusão de cadeiras específicas nos currículos universitários; 2 – criação de um juízo de conciliação prévia, exercido pelos juízes de paz (que continuariam sem competência para o contencioso e a jurisdição voluntária), e pelas defensorias e escritórios interessados; 3 regulação da itinerância dos juízes de primeira instancia em matéria cível, trabalhista e família; 4 – criação de normas favoráveis ao comparecimento das partes à conciliação, igualando-se o valor da conciliação obtida nas defensorias e nos escritórios de faculdades, à conciliação intraprocessual.”78

78 Ibidem, p. 159.

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4. A MODERNA IDÉIA DE ACESSO À JUSTIÇA

Ao longo da evolução da humanidade esta, invariavelmente, foi

acompanhada do aumento crescente de conflitos de interesses, que se tornaram cada

vez mais complexos e abundantes, provocando e exigindo a produção de normas e a

intervenção estatal para administrar e assegurar a pacificação social.

O Estado, ao vedar, salvo em casos excepcionais, a autotutela dos direitos,

chamou a si a tarefa de solucionar os conflitos intersubjetivos de interesses, fazendo-o

mediante o processo. Especificamente, no Brasil, este princípio encontra-se agasalhado

na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5°, inciso XXXV, que prevê o direito à

apreciação jurisdicional, de qualquer lesão ou ameaça a direito, independente de ser a

pessoa jurídica ou natural, incluindo entre estes direitos, também, aqueles de natureza

coletiva ou difusa. Todavia, a doutrina processual, desenvolvida a partir de fins do

século passado, teve basicamente uma concepção individualista dos litígios, como e.g.

a legitimação para a causa aos titulares do direito subjetivo violado e limitação dos

efeitos da coisa julgada às partes da demanda, conforme comando do art. 472 do

Código de Processo Civil Brasileiro.

Essa concepção individualista do processo ficou superada, mostrando-se

insuficiente para atender às exigências dos tempos modernos, de uma sociedade de

massa cada vez mais consciente dos seus direitos, embora a grande maioria dos seus

membros sinta-se, na prática, impossibilitada de exercitá-los pela dificuldade de acesso

aos órgãos componentes do sistema judiciário. Daí o surgimento do fenômeno da

litigiosidade contida ou, até mesmo, cada dia com mais freqüência, o uso do meio de

solução de conflitos próprios das sociedades primitivas, a violência, fazendo-se justiça

pelas próprias mãos.

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É, pois, preciso repensar a Justiça. E, no desempenho dessa tarefa, é

imperativo que se considerem não apenas, como até aqui tem acontecido, os

operadores do sistema judiciário, mas, especialmente, os consumidores da Justiça. Não

se pode olvidar que, no regime democrático, a atuação precípua do Estado, mediante

os seus órgãos, há de visar sempre à afirmação da cidadania. De nada adianta

conferirem-se direitos aos cidadãos, se não lhes são dados meios eficazes para a

concretização desses direitos.

As idéias sobre a matéria vêm sendo desenvolvidas em países da Europa e da

América, em torno do que se convencionou chamar “acesso à justiça”, sendo

relevantes, a respeito, os sucessivos trabalhos publicados por Mauro Cappelletti que,

seguramente, foi quem mais se debruçou, nos últimos cinqüenta anos, sobre a pesquisa

e a formação do conceito de “acesso à Justiça”, como meta maior de garantia de tutela

jurisdicional assegurada aos cidadãos. Na introdução de uma de suas várias obras

sobre o tema, escrita em parceria com Bryant Garth, o processualista e pensador

italiano registrou que:

“A expressão ‘acesso à Justiça’ é reconhecidamente de difícil definição, mas serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico - o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litígios sob os auspícios do Estado. Primeiro, o sistema deve ser igualmente acessível a todos; segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos ”.79

Lembra Cappelletti que a idéia de acesso à Justiça evoluiu paralelamente à

passagem da concepção liberal para a concepção social do Estado moderno. De início,

a participação do Estado não ia além da declaração formal dos direitos humanos.

Nessa época, em que prevalecia como máxima dominante o laissez-faire, todos eram

solenemente presumidos iguais e a ordem constitucional se restringia a criar

mecanismos de acesso à Justiça, sem maiores preocupações com sua eficiência prática

79 CAPPELLETTI e GARTH. Op. cit. p. 32.

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ou efetiva. Diferenças econômicas ou institucionais nem sequer eram cogitadas pelo

ordenamento jurídico. Os problemas reais dos indivíduos não chegavam a penetrar no

campo das preocupações doutrinárias em torno do Direito Processual.

No século XX, todavia, o coletivo ou social passou a ser a tônica da política

governamental e legislativa em todos os países do mundo civilizado, mesmo naqueles

em que a ideologia se rotulava de capitalista e liberal ou neoliberal. A política

constitucional deixou, então, de atuar como simples tarefa de declarar direitos, tal

como prevalecera nos séculos XVIII e XIX. As Cartas contemporâneas, refletindo a

consciência social dominante, voltaram-se para a efetivação dos direitos fundamentais.

Assumiu-se, dessa maneira, o encargo não só de defini-los e declará-los, mas também,

e principalmente, de garanti-los, tornando-os efetivos e realmente acessíveis a todos. O

Estado Social de Direito pôs-se a braços com a tarefa nova de criar mecanismos

práticos de operação dos direitos fundamentais.

Assim, o processo, instrumento de atuação de uma das principais garantias

constitucionais - a tutela jurisdicional -, teve de ser repensado. É claro que, nos tempos

atuais, não basta mais ao processualista dominar os conceitos e categorias básicos do

Direito Processual, como a ação, o processo e a jurisdição, em seu estado de inércia. O

processo tem, sobretudo, função política no Estado Social de Direito. Deve ser,

destarte, organizado, entendido e aplicado como instrumento de efetivação de uma

garantia constitucional, assegurando a todos o pleno acesso à tutela jurisdicional, que

há de se manifestar sempre como atributo de uma tutela justa.

O estudioso do processo e o aplicador das normas processuais têm,

necessariamente, de ir além da dogmática jurídica, além dos conceitos e categorias

exclusivas do Direito. Têm de dar ouvidos a todo o clamor que se ouve no meio sócio-

econômico sobre o qual o Direito Processual deve atuar. Somente assim se conseguirá

dar ao processo e às normas que o regem força de garantir, e não apenas de declarar,

direitos na vida social. E será assim que - como, de fato, vem ocorrendo na sensível

transformação do Direito Processual de nosso tempo - se conseguirá realizar o ideal de

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70

“acesso à Justiça”, preocupação que, necessariamente, ocupa “o ponto central da

moderna processualística ”.

Nessa linha de pensamento, o processo, para cumprir a missão que lhe atribui

o moderno Estado Social de Direito, tem de se apresentar como instrumento capaz de

propiciar efetividade à garantia de “acesso à Justiça”. Na ótica de Cândido Dinamarco

a problemática da efetividade do processo revela quatro facetas, todas fundamentais:

“a) admissão em juízo; b) modo de ser do processo; c) critérios de julgamento (ou justiça nas decisões); d) a efetivação dos direitos (ou utilidade das decisões)’, mas a idéia do acesso à justiça constitui a síntese de todo o pensamento instrumentalista e dos princípios e garantias do processo, seja a nível constitucional ou infraconstitucional; de modo que as garantias de ingresso em juízo, de contraditório, do devido processo legal, do juiz natural, da igualdade entre as partes, todas elas visam o acesso à justiça."80

A garantia de devido processo legal, a que se liga intimamente a de acesso à

justiça, além de exigir a figura do juiz natural e observância do contraditório e ampla

defesa, deve assegurar aos litigantes não apenas uma sentença mas uma sentença justa,

dentro da melhor exegese dos fatos e do direito material pertinente. Só assim se

entende realizado o verdadeiro “acesso à justiça”.

No mesmo sentido, Kazuo Watanabe ressalta que:

“o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional , inscrito no art. 5º, XXXV da CF, não assegura, apenas, o acesso formal aos órgãos judiciários, mas sim o acesso à justiça que propicie a efetiva e tempestiva proteção contra qualquer forma de denegação da justiça e também o acesso à ordem jurídica justa”.81

80 DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do Processo. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 303 e seg. 81 WATANABE, Kazuo. Tutela Antecipatória e Tutela Específica das Obrigações de Fazer e não Fazer, in TEIXEIRA, Sálvio de Figueredo (Coord.) A Reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 18.

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O Autor salienta, ainda, em relação ao princípio da proteção judiciária, os

seguinte pontos relevantes:

“a) da preordenação dos instrumentos processuais capazes de promover a efetiva, adequada e tempestiva tutela de direitos; b) adequação da organização judiciária ao volume dos serviços judiciários; c) recrutamento adequado; d) remoção de óbices ao acesso à justiça; e) pesquisa sobre causas dos litígios e sobre os meios de sua solução judicial ou extrajudicial.”82

O que se extrai de mais importante dos ensinamentos de Kazuo Watanabe é a

certeza de que não é apenas pela lei processual que se logrará atingir o processo justo.

Muitos problemas de ordem política, social e administrativa haverão de ser

enfrentados e superados, para que se torne efetiva a garantia de acesso à justiça.

No Brasil, apesar de sua Constituição de 1988, no art. 5º, inciso LXXIV,

assegurar a todos “assistência jurídica”, a englobar assistência judiciária e

assessoramento jurídico extrajudicial, o acesso à justiça enfrenta para sua efetividade

três tipos de obstáculos ou barreiras, conforme escólio de Leonardo Greco:

“1 – Barreiras econômicas – o custo da justiça, os honorários de advogados, os riscos de sucumbências;

2- Barreiras geográficas – decorrentes da imensidão do território nacional e da impossibilidade de se colocar pelo menos um juiz ao alcance de qualquer cidadão;

3 – Barreiras burocráticas – desaparelhamento da máquina judiciária, decorrente da má remuneração e da falta de formação técnico-pofissional dos serventuários e da inadequação da estrutura judiciária para enfrentar a massa de feitos que lhe são submetidos.”83

Ainda, inspirado na edificante lição do referido Autor, a situação torna-se

mais grave quando se está perante o incapacitado para o trabalho, o desempregado,

82 Ibidem, p. 20. 83 GRECO, Leonardo. Acesso à Justiça no Brasil. Rio de Janeiro: In Revista Ciências Sociais, UGF, Dez./1997, p. 18.

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idoso, a criança ou “até mesmo para aqueles cuja remuneração não permite sobreviver

com a mínima dignidade, como é o caso daqueles que percebem um salário mínimo,

com filhos para educar e doenças para tratar”

Mauro Cappelletti84 assinala ser muito fácil declarar os direitos sociais; o

difícil é realizá-los. Daí que (...) o movimento para acesso à justiça é um movimento

para a efetividade dos direitos sociais, e a sua investigação deve ser feita sob três

aspectos principais, aos quais denominam-se ondas renovatórias, que assim podem ser

resumidas:

a) A primeira onda refere-se à assistência judiciária mais efetiva aos pobres;

b) A Segunda onda, visa à tutela dos interesses difusos ou coletivos ;

c) E a terceira, o acesso à representação em juízo, com uma concepção mais

ampla de acesso à justiça. Um novo enfoque de acesso à Justiça.

4.1. Assistência Judiciária mais Efetiva aos Pobres

A garantia de adequada representação legal dos pobres, considerada como

primeira onda por Cappelletti, nos Estados Unidos, por exemplo, procurou-se buscar

um melhor atendimento judiciário para ser colocado à disposição do menos favorecido

e, como ponto de partida, criou-se um Programa de serviços Jurídicos denominado

Office of Economic Opportunity, de 1965 – OEO, autorizando a destinação de recursos

federais para os programas aprovados como de “ação comunitária”85

Na França, em janeiro de 1972, houve uma substituição de seu esquema de

assistência judiciária do século XIX, baseado em serviço gratuito prestado pelos

advogados, por um enfoque moderno de “securité sociale”, no qual o custo dos

honorários é suportado pelo Estado; seguiram-se medidas idênticas de reforma a

84 CAPPELLETTI e GARTH. Op. cit. p. 33 e ss. 85 Ibidem, pp. 33 e 34.

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assistência judiciária de desfavorecidos economicamente. No mesmo ano de 1972, na

Suécia, na Inglaterra, pela Lei de Assistência de Assessoramento Jurídico, na

República Federal da Alemanha, aperfeiçoou-se o sistema de assistência judiciária,

aumentado-se a remuneração paga aos advogados particulares por serviços jurídicos

prestados aos pobres e, nos EUA, em junho de 1974, estabeleceu-se a “Legal Services

Corporation”, ampliando os objetivos do programa OEO, dissolvido na ocasião.

Analisando-se as reformas antes citadas de assistência jurídica aos pobres,

Mauro Cappelletti 86procura distribuí-las em duas vertentes:

4.1.1. O Sistema Judicare

Neste sistema, utilizado na Inglaterra e França, a assistência judiciária é

estabelecida como um direito reconhecido a todos e, assim, permite aos cidadãos de

baixa renda terem a mesma representação qualitativa dos advogados de maior renome,

já que são escolhidos pelos litigantes na lista de profissionais indicados pelos litigantes

na lista de profissionais que concordam em prestar seus serviços, por meio de seus

órgãos corporativos e associativos, e os honorários dos advogados particulares são

suportados pelo Estado.

Zoraide Amaral sobre este sistema conclui que o mesmo “concorre para

amenizar, objetivamente, o problema da disparidade técnica que se reconhece

incontrastável quando os litigantes de um processo são desiguais na sua potencialidade

econômico-financeira.”87 Com razão a Autora, pois a designação honorífica de

advogados não tem mais sentido. Deve-se permitir a escolha de profissionais que

melhor apresentem qualificação de acordo com a natureza do conflito.

Quadra, por pertinente, asserir que no Estado de Minas Gerais sistema

86 Ibidem, pp. 35 e ss. 87 SOUZA, Zoraide Amaral. Op. cit. p. 33 e ss.

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semelhante foi adotado, com escopo de suprir a falta de defensores públicos

concursados. Através da Lei Estadual de nº 13.166, de 20 de Janeiro de 1999,

regulamentada pelo Decreto nº 42.718, de 03 de Julho de 2002 e pela Resolução

Conjunta nº 009, de 28 de Novembro de 2002, criou-se a figura do Advogado Dativo,

que se inscrevia perante a OAB, escolhendo indicando sua área de atuação, permitindo

aos pobres escolher o profissional para representá-los em juízo. Os honorários

advocatícios eram arbitrados pelo juiz da causa, que fornecia uma certidão de crédito,

cuja obrigação do pagamento ficava a cargo do Estado. Durante alguns anos, as

Comarcas desprovidas de defensores públicos tiveram grande resultado com este

sistema. Contudo, lamentavelmente, o Estado não cumpriu sua obrigação prevista em

lei, deixando de pagar a milhares de advogados nomeados como dativos, não honrando

os seus honorários, sendo que em fevereiro de 2005 a dívida do Estado com os

advogados dativos era estimada em cinco milhões de reais.88

Diante desta execrável conduta do Estado de Minas Gerais, a 54ª Subseção

da OAB/MG, sediada em Manhuaçu-MG, a qual temos a honra de participar de sua

administração, em 05 de novembro de 2004, expediu ofício circular nº 05/2004

orientando aos advogados de sua jurisdição não aceitarem mais atuar como dativos,

destacando que:

"Esta Subseção não mais irá coadunar com a irresponsabilidade Estatal, que durante anos transferiu o encargo obrigatório de promover o acesso à justiça para nossa classe de profissionais liberais, sem disponibilizar um centavo sequer de ressarcimento, transferindo para os advogados até mesmo os custos operacionais básicos para o andamento processual.

Em paralelo, acomodando-se na boa vontade da OAB e dos advogados dativos, o Estado não realizou concurso para preenchimento de vagas de novos defensores públicos, bem como não equipou ou ofereceu melhores condições para os atuais, num completo gesto de descaso para com o cidadão."89

88 Jornal do Advogado: Belo Horizonte, fevereiro de 2005, p.3. 89 Ofício Circular 05/2004, conforme anexo I.

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A repercussão do nosso ato foi grande, sendo que a assistência judiciária de

várias comarcas pertencentes a 54ª Subseção da OAB/MG praticamente paralisou,

tendo alguns magistrados formulado representação junto ao Tribunal de Justiça de

Minas Gerais, que por sua vez encaminhou denúncia de infração disciplinar para a

Seccional da OAB/MG, que, após deliberação com o Conselho de Ética e Justiça,

aprovou unanimemente a nossa iniciativa90, encaminhando expediente para todas as

Subseções, sendo ao final, objeto de deliberação da Carta de Araxá91, por ocasião do

XVIII Encontro Mineiro de Advogado, onde deliberou-se a reprovação da OAB/MG

diante da conduta do Estado, recomendando, em respeito a dignidade do profissional

advogado não mais atuar como dativo, afirmando no item 4 que a sua recusa não

configura infração disciplinar, o que fortaleceu o movimento iniciado na 54ª Subseção

da OAB/MG.

Diante da irresponsabilidade do Estado em não cumprir sua própria

legislação, Minas Gerais perdeu grande oportunidade de vanguarda na Assistência

Judiciária mais efetiva aos pobres.

4.1.2. O Sistema do Advogado Remunerado pelos Cofres Públicos

O sistema do Advogado Remunerado pelos Cofres Públicos, segundo

Cappelletti92 , “tem um objetivo diferente do Sistema Judicare, refletindo sua origem

moderna no Programa de Serviços Jurídicos do OEO - a vanguarda de uma “guerra

contra a pobreza.”

Neste sistema, os serviços de assistência judiciária são prestados por

“escritórios das vizinhanças”, atendidos por advogados pagos pelo governo e

90 Ofício 002/fevereiro/05, onde o Conselheiro Seccional da OAB/MG, Luís Antônio Lira Pontes registra encômios ao Presidente da 54ª Subseção da OAB/MG, solidarizando com a iniciativa, conforme anexo II. 91 Disponível no site http://www.oabmg.org.br/noticias/jornal. Anexo III. 92 Ibidem, p. 39.

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encarregados de promover os interesses dos pobres, envidando esforços no sentido de

fazê-los mais conscientes dos seus direitos.

Como bem observa Zoraide Amaral93 o fator mais importante ligado a este

sistema está em que os advogados têm a prerrogativa de “aumentar os direitos dos

pobres”, auxiliando-os em sua reivindicação de forma mais eficiente, seja na justiça,

seja fora dela.

4.1.3. Os Modelos Combinados

O sistema do modelo combinado, da Suécia, que nos parece ser mais eficaz,

é um misto do sistema judicare com o de advogados remunerados pelos cofres

públicos. Este modelo combinado permite que o indivíduo escolha entre o serviço

personalizado de um advogado particular e a capacitação especial dos advogados de

equipe, que , no dizer de capppelletti94, encontram-se em maior sintonia com os

problemas dos pobres, o que possibilita tanto as pessoas menos favorecidas como os

pobres, como grupo, beneficiarem-se do serviço de assistência judiciária.

Seja qual for a solução ou sistema adotado, o fundamental é que se assegure

aos necessitados assistência jurídica integral, de qualidade e gratuita.

Como bem lembra Zoraide Amaral95 não se pode perder de vista que o

serviço de assistência judiciária importa em despesas e não são poucas, pois se faz

necessário que haja um número maior de advogados, o que demandará grandes

dotações orçamentárias que representam o problema básico na implantação dos

sistemas, sobretudo, para os países menos desenvolvidos, como é o caso brasileiro,

revelado no exemplo dado em Minas Gerais em que o Estado não disponibiliza em seu

93 Ibidem, p 34. 94 Ibidem, p. 44 95 Ibidem, p. 35.

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orçamento os pagamentos dos advogados dativos.

4.2 Interesses Coletivos

A segunda onda renovatória visa à tutela dos interesses difusos ou coletivos,

com o objetivo de proteger o consumidor ou o meio ambiente. Tem por pressuposto

que o conceito de pobreza não se adstringe ao indivíduo carente de recursos

financeiros, de cultura ou de posição social. É mais vasto: abrange grupos e categorias,

como no caso do consumidor. Uma empresa produz milhões de produtos com um

defeito de pouco valor. Trata-se de interesse fragmentado, pequeno demais para que o

cidadão, individualmente, defenda o seu direito. Mas, se todos os consumidores, em

conjunto, decidirem atuar, estarão em jogo interesses consubstanciados em valores

consideráveis. Há, pois, de atentar-se para os carentes econômicos e os carentes

organizacionais.

A concepção, portanto, busca modificações ou criações legais com o escopo

de permitir maior eficácia, quanto à celeridade e efetividade da prestação jurisdicional,

para atendimento dos direitos coletivos, por meio de regras que se dirijam às noções de

legitimidade processual, normas procedimentais, conceito de coisa julgada,

permissivas de se adaptarem à mutação do critério teleológico do processo-

instrumento de atendimento, segurança e certeza de interesses individuais, para

interesses coletivos, comunitários.

No Brasil, a Lei nº 7.347/85 – Ação Civil Pública - regula o procedimento

para impedir violações a direitos coletivos, alcançando bons resultados, que poderiam,

ainda, ser melhores se fossem criados setores especializados na estrutura do Ministério

Público Federal e do Ministério Público Estadual, destinados a promover tais ações

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coletivas.

4.3. Acesso à representação em juízo a uma concepção mais ampla de acesso à justiça. Um novo enfoque de acesso à justiça

A terceira onda preocupa-se com fórmulas para simplificar os

procedimentos, o Direito processual e o Direito material, como, por exemplo, nas

pequenas causas, a fim de que o seu custo não seja superior ao valor pretendido pelo

Autor e a prestação jurisdicional seja o mais breve possível, sem entretanto perder a

qualidade. O tema envolve estudos, entre outros, sobre o princípio da oralidade e da

imediatidade, bem como sobre os poderes do juiz e a instrumentalidade do processo.

Nesse contexto, inclui-se a utilização da arbitragem, da mediação, da conciliação e de

outras formas alternativas da solução de conflitos.

Grinover e outros96, ao traçarem íntima relação entre a instrumentalidade

processual e acesso à justiça observam que não se pode falar em instrumentalidade do

processo ou em sua efetividade sem que se fale dele “como algo posto à disposição das

pessoas com vistas a fazê-las mais felizes (ou menos felizes), mediante a eliminação

de conflitos que as envolvem, com decisões justas.” Mais adiante concluem sobre a

idéia de acesso à justiça, como síntese generosa do pensamento instrumentalista e dos

grandes princípios e garantias constitucionais do processo: “Todos eles coordenam-se

no sentido de tornar o sistema processual acessível, bem administrado, justo e afinal

dotado da maior produtividade possível”

Em que pese a revolução legislativa no Brasil, com a edição da Lei da Ação

Popular (Lei n. 4.717, de 29 de junho de 1965), com a promulgação da Lei da Ação

96 GRINOVER, Ada Pellegrini. CINTRA, A. C., DINAMARCO, C. R. Teoria Geral do Processo. 16ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 42 e ss.

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Civil Pública (Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985), estendida até mesmo à tutela da

ordem econômica pela Lei n. 8.884, de 11 de junho de 1994 (art. 88), com a

promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 13 de julho de

1990) e Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990) e

com o advento da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os

juizados especiais cíveis e criminais, com seus princípios básicos de oralidade,

simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que

possível, a conciliação e a transação, chegamos ao terceiro milênio e,

lamentavelmente, ainda não atingimos o patamar de poder oferecer uma prestação

jurisdicional que seja justa, célere e efetiva e que seja capaz de compor um conflito de

interesse.

Nossa Justiça é carente de recursos humanos e materiais, aliadas às

deficiências legislativas, relacionadas às leis de organização judiciária, às decisões

puramente políticas das duas Excelsas Cortes de Justiça e às freqüentes ingerências do

Poder Executivo, que redundam em graves injustiças no deslinde dos litígios.

O aumento de número de juízes, de tribunais e de melhores condições de

trabalho apregoados por muitos é de inescusável importância para minimizar o

volume crescente de demandas e equivalência de sentenças, contudo não basta se não

for acompanhado de fundamentais modificações no Poder Judiciário no sentido de

tornar efetivo o princípio constitucional do amplo acesso à justiça.

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5. PRINCIPAIS MÉTODOS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS TRABALHISTAS NA ATUALIDADE

Assentados os princípios que governariam a produção de bens e serviços

após a Revolução Industrial, foi a sociedade humana dividida em classes com base em

critério econômico que substituiu todos os anteriores (nobreza, postos militares, títulos

eclesiásticos, etc.). Nas mãos de poucos ficaram os meios de produção. Com os

demais, a prestação de trabalho, único bem de que dispunham para garantir a

subsistência, transformando-o em valor econômico mediante pagamento feito como

retribuição ao serviço prestado. Esta realidade estabeleceu o marco que determinaria a

sociedade de classes até os nossos dias: a distinção rígida entre quem trabalha e quem

emprega. Numa divisão de classes desta natureza fatalmente implicaria no surgimento

de conflitos de interesses, que foram se tornando cada vez mais complexos e

constantes na medida da evolução da sociedade.

O Estado, por sua vez, diante dos conflitos de interesses chamou para si a

responsabilidade da tutela do mesmo. Contudo, como já foi dito alhures e, ainda, será

objeto de estudo no próximo capítulo, a solução jurisdicional dos conflitos não mais

consegue atender a realidade, em face do formalismo e anacronismo do sistema, sem

mencionar, ainda, o grande aumento de demandas originadas pela consciência coletiva

de cidadania, sobretudo, diante de um Estado Social. Assim, a busca de soluções

alternativas para os problemas do Judiciário fora da aparelhagem estatal é uma

constante em todo o mundo, o que justifica a análise dos principais métodos de

solução de conflitos trabalhistas, cujo estudo focar-se-á dentro do contexto brasileiro

conforme abaixo enumerados.

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5.1 ARBITRAGEM

Diante da redação do artigo 1º da Lei nº 9.307/96, onde se define que são

arbitráveis os direitos patrimoniais disponíveis, poder-se-ia afirmar, consubstanciado

nos artigos. 7º e 114, parágrafos 1º e 2º da CF/88 e artigos 9º e 444 da CLT, que todos

os direitos trabalhistas têm natureza patrimonial indisponível, donde impossível levar a

juízos arbitrais conflitos individuais trabalhistas, visto impossível transacioná-los.

Porque de natureza de ordem pública, sua irrenunciabilidade, inflexibilidade,

intransacionalidade impediriam o acesso à arbitragem extrajudicial privada para

dirimência de conflitos individuais. Quando muito restaria ela confinada (a) aos casos

de dissídios coletivos de natureza econômica, não obstante a sua inconveniência, posto

presumido o despreparo intelectual e a parcialidade dos árbitros e (b) aos casos de

solução por mediação ou conciliação, cada um destes meios alternativos, malgrado

também das presunções suso ditas.

Wagner D. Giglio, assim se posiciona:

“De fato, deixar à escolha do julgador por conta dos interessados parece ensejar a imposição, pelos empresários, de elementos favoráveis a seus interesses, posto que o trabalhador, subordinado, não teria liberdade para escolher o árbitro. E sendo lícito ao empregador ‘escolher’ (leia-se impor) árbitro favorável a seus interesses, não deixaria de fazê-lo para se submeter à decisão de um juiz neutro e isento de ânimo, integrante da magistratura trabalhista.” 97

Em outro trabalho, Wagner D. Giglio98, chegou a seguinte conclusão: “A

arbitragem particular, de origem contratual, é inadmissível como forma de solução dos

97 GIGLIO, Wagner D. in Arbitragem e os conflitos coletivos de trabalho no Brasil. São Paulo: LTr, 1.990, p.74. 98 ________ in Os conflitos trabalhistas, a arbitragem e a Justiça do Trabalho. São Paulo: Revista LTr, Vol. 47 n.3, março/1.983, p.271 e ss.

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conflitos individuais do trabalho, por abrir ampla margem de fraude.”

Antônio Lamarca, de seu turno, profetiza e execra: “Não é de tradição do

nosso Direito o juízo arbitral nem apresenta esse dispositivo chance alguma de vingar.

O brasileiro não acredita em ‘árbitros’ e faz muito bem, porque na maioria dos casos

são venais.”99

Para Sérgio Pinto Martins, a arbitragem é alternativa e faculdade para

dissídios coletivos do trabalho, mas para dissídios individuais a Constituição Federal

não faz referência a ela. E aduz:

“Nos conflitos individuais haveria a impossibilidade da arbitragem diante da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas. Apenas alguns direitos trabalhistas poderiam ser renunciados como o aviso prévio concedido pelo empregador quando o empregado tiver outro emprego (Enunciado 276 do TST). O aviso prévio dado pelo empregado pode ser dispensado pelo empregador, mas outros direitos não. Seria necessária lei determinando a possibilidade da utilização da arbitragem para solucionar conflitos individuais do trabalho, de maneira que não se aplicasse o artigo 1º da Lei nº 9.307.” 100

Jorge Luiz Souto Maior101 também trilha o mesmo pensamento, sustentando

que o Direito do Trabalho não se enquadra perfeitamente à previsão do art. 1º da Lei nº

9.307/96, “inviabilizando a arbitragem como mecanismo de solução dos conflitos

individuais do trabalho.”

Em que pese o relevo e propriedade dos pensamentos doutrinários acima

esposados, o que impediria, numa primeira visão, a aplicação da arbitragem aos

conflitos individuais trabalhistas, em face aos princípios de irrenunciabilidade,

vedando assim a autonomia da vontade, analisaremos no título seguinte as

peculiaridades destes princípios e o momento pelo qual a arbitragem torna-se viável,

em face da natureza patrimonial em que se reveste num dado instante.

99 LAMARCA, Antônio. In A competência da Justiça do Trabalho na nova Constituição. São Paulo: Repertório IOB de Jurisprudência, n. 22/88, p.301. 100 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Atlas, 14ª Edição, 2.000, p.84. 101 MAIOR, Jorge Luiz Souto. In Arbitragem e Direito do Trabalho. São Paulo: Revista LTr 61-02/155.

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5.1.2 IRRENUNCIABILIDADE E RENUNCIABILIDADE DOS DIREITOS TRABALHISTAS

Com base no art. 9º da CLT, entende-se defesa a renúncia de direitos

trabalhistas, vez que as normas que os regem são de conteúdo imperativo, têm caráter

de ordem pública. Logo, referidos direitos são indisponíveis, donde inadmitem

transação.

Convém antes estabelecer alguns conceitos. Lei ou norma de ordem pública,

de caráter ordenativo, são as que estabelecem regras de interesse público, em

contrapartida às de ordem privada. M. M. Serpa Lopes, sob o escólio de Ferrara,

escreve que:

“As normas revestidas desse caráter visam garantir e assegurar a existência do corpo social, base do ordenamento jurídico. Disciplinam relações com objetivos relevantes, tendendo à conservação e melhoria da sociedade. Para que ocorra a violação de uma norma de ordem pública é necessária uma lei ‘imperativa’, sancionada pelo ordenamento jurídico, para fazer valer os interesses da generalidade em face dos interesses individuais, e proteger os fundamentos morais e econômicos da vida comum. Impõe-se, ainda, a distinção entre a necessidade de ‘ordem pública’ e a do ‘interesse público’, como bem acentua Ferrara, pois, se a ordem pública é de interesse público, a recíproca não é verdadeira. A ordem pública é aquele interesse público que, como essencial à vida, à incolumidade e prosperidade do corpo social, é oficialmente reconhecido e sancionado pelo Direito positivo.” 102

Leis imperativas ou coativas ou absolutas, são as que encerram uma ordem,

positiva ou negativa, impondo preceito em caráter obrigatório. Leis cogentes são

normas preceptivas de ordem pública, que excluem qualquer arbítrio individual. M. M.

Serpa Lopes103 as conceitua como normas que se impõem por si mesmas, aplicáveis

ainda que pessoas por elas beneficiadas hajam renunciado o favor protecional.

102 LOPES, M. M. Serpa. Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1971, p. 48-49. 103 Id , p.42

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O direito trabalhista é tutelado por normas de ordem pública, imperativas,

cogentes, portanto inderrogáveis e irrenunciáveis. Na verdade, são normas de interesse

público, que o Estado privilegia, fruto de sua intervenção com finalidade social na

proteção do hipossuficiente na relações jurídicas entre os indivíduos.

A renúncia é negócio jurídico unilateral, pelo qual o titular de um direito dele

se desapossa. A maioria dos direitos trabalhistas ou das normas de proteção ao

trabalho é inderrogável, sendo cediço que a irrenunciabilidade de direitos trabalhistas é

princípio do Direito do Trabalho. A imperatividade da norma tutelar dirige-se contra a

própria vontade do titular do direito subjetivo, como também dirige-se contra à parte

contrária. Assim, são irrenunciáveis os direitos que as normas de lei, de convenções e

acordos coletivos de trabalho, as sentenças normativas e as decisões administrativas

tutelam aos trabalhadores, exceto se a renúncia for permitida por lei ou não causar

prejuízos ao trabalhador ou à coletividade, e não for realizada com o controle da

autoridade.

Salvo casos excepcionalíssimos previstos em lei, não há como renunciar,

antecipadamente, a direitos tutelados pela lei trabalhista, ou seja, inadmissível ao

empregado renunciar, v.g., ao gozo e pagamento de férias, ao constituir e concluir o

contrato de trabalho. Do mesmo modo, em regra, inadmissível a renúncia no curso do

contrato, exceto, v.g., se a alteração contratual provier de norma imperativa.

Necessário assentar se há renúncia ou não no momento e depois da extinção

do contrato de emprego. A faculdade de renunciar, do trabalhador, há de ser bem

examinada: primeiro, é de verificar se trata realmente de renúncia ou transação, pois

no caso da primeira, o empregado nada recebe; segundo, é de verificar se a vontade foi

manifestamente livre.

Há autores, entre eles Delgado104, que dirigem o foco da irrenunciabilidade

dos direitos à indisponibilidade; outros, como Mario de La Cueva105, à imperatividade 104 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr. 2004. p. 165. 105 CUEVA, Mário de La. In Derecho mexicano del trabajo, México: Porrúa, 1.943, T. 1, p.222.

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das normas tutelares; outros ainda, como Plá Rodrigues106, à noção de ordem pública

ou à limitação da autonomia da vontade.

Para os autores que dirigem o foco da irrenunciabilidade à imperatividade

das leis trabalhistas, o Direito do Trabalho se inclui no jus cogens. Explica Mario de

La Cueva que:

“O Direito do Trabalho, como direito imperativo e garantia constitucional, ao regular as relações entre o capital e o trabalho, se dirige, por um lado, a cada patrão e a cada trabalhador, por ocasião do estabelecimento das relações e, por outra, ao Estado, enquanto o obriga a zelar para que as relações se constituam na forma dos princípios contidos na lei e nas normas que a suprem, e sejam por elas governados. Sem este caráter imperativo manifesto nessa dupla direção da norma, não seria o Direito do Trabalho um mínimo de garantias, nem preencheria sua função; pois se a idéia de garantia, seja individual ou social, faz referência àquelas normas cuja observância se considera essencial para a realização da justiça, deixá-las subordinadas à vontade de trabalhadores e patrões equivale a destruir seu conceito, como princípio de cuja observância é o Estado o encarregado.” 107

Américo Plá Rodriguez, escrevendo acerca da irrenunciabilidade como

restrição à autonomia da vontade, questiona saber em que consiste a liberdade dos

indivíduos diante da norma impositiva, ao firmar o contrato de trabalho. É que se as

partes, relacionando-se com o contrato, sua liberdade muitas vezes termina neste

momento, pois, inelutavelmente, bastará contemplar-se a lei:

“A restrição da autonomia da vontade que disso se infere afasta o Direito do Trabalho do direito comum clássico, mas dificilmente redunda em menosprezo da personalidade, nem acaba definitivamente com aquela autonomia. A autonomia da vontade como tal não está em jogo, mas se trata de evitar seu abuso. Para esse efeito, em alguns setores da vida social o legislador transplantou a autonomia da vontade do terreno individual para o terreno coletivo. Hoje em dia, as organizações do trabalho são pessoas que, em primeiro lugar, gozam plenamente desta autonomia, enquanto que os indivíduos só desfrutam dela na medida em que o gozo parece compatível com o interesse social.” 108

106 PLÁ RODRIGUES, Américo. In Princípios de Direito do Trabalho, tradução de Wagner D. Giglio. São Paulo: LTr, 1.978, p.76 107 Ibidem, p.222. 108.Ibidem, p. 76.

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Para alguns autores, como Alcione Niederauer Correia, a renúncia a direitos

trabalhistas, face à indisponibilidade, concentra-se na constituição, na conclusão e na

duração, e muito pouco na extinção ou depois da extinção do contrato de trabalho.

Neste sentido, referida autora escreve:

“Toda a justificação da indisponibilidade do direito parte de uma presunção legal no sentido de que, enquanto perdura a relação de emprego, pelo fato de se achar subordinado ao empregador e deste, na maioria dos casos, depender economicamente, o empregado se encontra sob coação. Já a situação do empregado que deixou o emprego, cujo contrato, por qualquer motivo, se extinguiu, deve ser considerado de maneira diversa. Pode-se mesmo afirmar que os possíveis créditos que tenha contra seu ex-empregador, passaram a integrar seu patrimônio e, como tal, são por ele disponíveis. Rompido o laço que o unia ao patrão, já fora dos limites da autoridade de quem o dirigia e subordinava, não se pode tê-lo, ainda, como um eterno coagido” 109

Num dado aspecto, ousa-se divergir da lição acima, eis que o simples fato do

rompimento do vínculo empregatício não é de per se o suficiente para dar a certeza

que o trabalhador encontra-se livre da coação que vicia sua autonomia, neste sentido o

escólio de Arnaldo Lopes Süssekind :

“Com o término do contrato de trabalho, reconhece a melhor doutrina que, sem embargo de cessar a ‘soggezione impiegatizia’, pode persistir o estado de inferioridade e dependência econômica do trabalhador, capaz de o levar a renunciar a certos direitos, a fim de obter o pagamento imediato de salários atrasados ou, mesmo sua indenização. Neste caso, a renúncia corresponde a uma transação oculta, que não pode ter validade pela inexistência da ‘res dubia’. O vício de consentimento da vontade do empregado, oriundo da coação econômica nitidamente caracterizada, determina a nulidade do ato.” 110

Até aqui viu-se que, em que pese vozes divergentes, nosso ordenamento não

109 CORREIA, Alcione Niederauer. In A desistência no processo do trabalho, São Paulo: Revista Legislação do Trabalho, set/1.974, p.829. 110 SUSSEKIND, Arnaldo Lopes. Instituições de Direito do Trabalho, Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos S.A., 1.974, Vol. I, p.161.

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reconhece a renúncia de direitos que contém a característica de norma pública

irrenunciáveis, pouco importando dela ocorrer antes, durante ou após a vigência do

contrato. Contudo, a seguir demonstra-se que a transação, desde que respeitados seus

requisitos, ou seja a questão da res dubia e havendo efetivamente concessões mútuas,

permitirá a composição do conflito individual trabalhista, inclusive perante o juízo

arbitral, sem configurar renúncia de direito, o que inquinaria de nulidade todo o

processo.

5.1.3 TRANSAÇÃO

A transação, à luz do Código Civil vigente (art. 841 e ss.), é um negócio

jurídico, pelo qual os interessados previnem ou terminam litígio, mediante concessões

mútuas, eliminando a incerteza da relação jurídica. Assim, a transação é contrato

bilateral, sinalagmático, oneroso, comutativo e formal. É negócio declaratório, visto

dirimir controvérsias, como também constitutivo, pois sua essência é a reciprocidade

de concessões, pelas quais podem ser criadas relações jurídicas, conforme o ensino de

Orlando Gomes.111

Cada parte, ao transigir, cede parte de seus direitos, visando prevenir ou

terminar litígio acerca da res dubia. Seu efeito específico é a extinção da relação

jurídica controvertida (res dubia), mediante concessões recíprocas.

Nehemias Gueiros, em precioso estudo, ensina que:

“quem disser transação, terá dito, conseqüentemente, concessões recíprocas, ou então estará, por condenável catacrese, atribuindo esse nome a uma simples renúncia ou desistência - ato unilateral que pode pôr termo a uma demanda, mas não dará lugar jamais à exceptio litis per transationem finitae, nem é oponível, por isso mesmo, na hipótese do feito litigioso.” 112

111 GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2.000, 20ª Edição, p.440. 112 GUEIROS, Nehemias. In Caráter oneroso da transação, perante o direito civil e o requisito da res dubia. Rio de Janeiro: Revista de Direito - Civil, Comercial e Criminal, direção de Bento de Faria, 138:419.

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Prossegue o autor enfatizando que o objetivo da transação é evitar ou

extinguir o litígio, seja, evitar mediante ato extrajudicial ou pôr termo no aforado nos

pretórios.

Na leitura do art. 840 do Código Civil vigente (“É lícito aos interessados

prevenirem ou terminarem litígio mediante concessões mútuas”) se contém os dois

requisitos da transação: a res dubia e as concessões mútuas, ou seja, não havendo

incerteza acerca do direito, e não havendo concessões recíprocas, não há contrato de

transação. A reciprocidade, pois, é da sua essência, havendo dúvida acerca do

cumprimento da obrigação.

A res dubia deve ser compreendida como a incerteza e dúvida que as partes

têm diante da relação jurídica em conflito.

Concessões mútuas significa cada um dar, reter ou prometer alguma coisa,

sofrendo um sacrifício, imprimindo ao contrato de transação o caráter de bilateral,

sinalagmático, distinguindo-o da doação, da renúncia e de outros institutos. Notório,

pois, que se não devem confundir a renúncia com transação. Renuncia-se

unilateralmente acerca de direitos certos e transaciona-se bilateralmente, fazendo-se

concessões mútuas, acerca de direitos incertos. Todavia, se nesta última só um

interessado fizer concessões, implicará em renúncia ou reconhecimento de direito do

outro, e não transação.

O art. 843 do Código Civil de 2002, a exemplo do art. 1.027 do Código Civil

de 1916, diz que a transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem

mas apenas se declaram e reconhecem direitos, impondo a lei ao juiz a consulta à

provável vontade das partes transatoras, pois a finalidade da transação é a

tranqüilidade das relações sociais.

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Aduz Carlos Alberto Dabus Maluf que:

"a interpretação da transação deve ser feita restritivamente, no sentido de não se poder dar à transação uma extensão que ela não comporta, já quanto à renúncia que em si contém, já em relação a contestações que ela visa a dirimir, porque isso importaria em contrariar a vontade das partes que, por meio dela, fazendo renúncia ou abandonando seus direitos numa certa medida, têm a seu favor a prevenção de que só renunciaram ou abandonaram aquilo que do ato consta.” 113

Em decorrência do exposto, o mesmo Dabus Maluf, com espeque em

Carvalho Santos, adverte:

“A intenção das partes, em última análise, é que deve preponderar, devendo o intérprete procurar descobri-la quando não seja expressamente declarada por meio dos processos normais de interpretação dos atos jurídicos, não podendo, porém, estendê-la além daquilo que razoavelmente se contém no pensamento expresso, ou deduzido pelas partes.” 114

No mesmo sentido, E J. M. Carvalho Santos leciona:

"Daí esta regra, geralmente admitida: com relação às questões que visam pôr fim, as transações serão obrigatórias para as partes a respeito de todas as divergências sobre as quais parece que tiveram a intenção de transigir, ainda mesmo que os termos em que o ato esteja redigido não sejam suficientemente explícitos, desde que essa intenção resulte, não de uma indução mais ou menos duvidosa, mas como uma conseqüência necessária do que no ato está expresso." 115

Razão por que julga-se nula a transação quando, por meio dela, se renuncia a

direito indisponível, ou quando se verifica extrapolação aos limites que a lei manda

observar.

113 MALUF, Carlos Alberto Dabus. A transação no Direito Civil e no Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2ª Edição, 1.999, p.90. 114 Ibidem. p.90. 115 SANTOS, E.J.M Carvalho. Código Civil Interpretado. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1.938, Vol. 13, p.375/376.

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Advirta-se, entretanto, com Süssekind, ao referir-se à “conciliação judicial”,

que:

“(...) as transações ocorridas na Justiça do Trabalho, sob a forma de conciliação, são consideradas sempre válidas, eis que operadas sob a vigilância e a tutela da própria Magistratura especializada. O ajuizamento do dissídio individual revela a configuração, não só da “res dubia”, mas também da “res litigiosa”, sendo legítima a composição das partes mediante recíproca transação de questionados direitos. Aliás, o parágrafo único do art. 831 da CLT prescreve que ‘nos casos de conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível’, o que significa que somente poderá ser anulada por meio de ação rescisória.” 116

De acordo com o Código Civil de 1.916, o art. 1.030 dispunha que a

transação produzia entre as partes o efeito da coisa julgada. O Código Civil de 2.002

não reproduziu esta disposição. Não obstante, o art. 831, parágrafo 1º da CLT, reza

que no caso de conciliação, o princípio se compatibiliza e se contém na transação e é

norteador dos conflitos individuais e coletivos, o termo valerá como decisão

irrecorrível assinado pelas partes e pelo juiz, salvo para a Previdência Social quanto às

contribuições que lhe foram devidas, “terá valor de coisa julgada (...) somente podendo

ser rediscutida através de ação rescisória”117, o que difere das lides do direito comum,

quando, então, caberá ação anulatória, por aplicação dos artigos 849 e 850 do Código

Civil vigente.

A homologação arbitral de acordo ou transação havido entre as partes,

entretanto, tem peculiaridades, conforme se verifica da sistemática da Lei nº 9.307/96.

O árbitro, conforme art. 28, pode homologar o acordo, a pedido das partes, se estas se

contiverem nos limites da convenção de arbitragem (arts. 3º, 4º e 9º, III, da Lei de

Arbitragem). Advirta-se que as partes podem pôr fim ao processo arbitral e, firmando

acordo escrito, criam título extrajudicial, independentemente da intervenção do árbitro.

116 SÜSSEKIND, Arnaldo. Op. cit. p.162. 117 OLIVEIRA, Francisco Antônio de. CLT Comentada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1996, p.774-775.

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Contudo, se elas (ambas, em conjunto) pretenderem dar ao acordo escrito a garantia de

título executivo judicial, devem pedir ao árbitro que profira sentença homologatória do

acordo escrito extrajudicial a que chegaram, o que será feito na conformidade do art.

26 da Lei nº 9.307/96. Porém, relembre-se, as partes devem limitar-se aos termos da

convenção de arbitragem, não podendo o árbitro agir tal como o juiz togado, que pode

livremente sancionar acordos que extrapolem os limites do objeto do processo (art.

584, III, CPC), ou seja, se constatado pelo árbitro desbordamento da convenção

arbitral, a ele apenas restará extinguir o feito arbitral, sem, entretanto, homologar o

acordo. Se as partes se conciliarem e não pedirem ao árbitro seja homologado o acordo

extrajudicial, a este caberá extinguir o feito fundado na carência da ação, por ausência

de interesse de agir superveniente.

Ainda no que toca à validade da transação, dispõe o art. 849 do Código Civil

vigente que a transação se anula (é anulável) quando eivada dos denominados vícios

de consentimento, ou seja, por dolo, coação, ou erro essencial quanto à pessoa ou

quanto à coisa controversa.

As normas de Direito do Trabalho são de ordem pública, cogentes, e não

podem ser feridas pelos transatores, donde a regra do parágrafo único do art. 849 é

inaplicável nas transação extrajudiciais, mas não nas judiciais, consoante se viu; e nas

arbitrais, conforme se verá.

Enfocado o art. 841 do Código Civil vigente, pelo qual se estabelece que

somente quanto a direitos patrimoniais de caráter privado se permite transação,

conclui-se que os direitos indisponíveis não são abrangidos no referido preceito.

Assim, direitos personalíssimos, de estado, ou decorrentes de normas de ordem

pública, cogentes, imperativas etc., restariam excluídos da norma sob exame.

Não é bem assim quando se trata de direitos trabalhistas, que, não obstante

regidos por normas de ordem pública, cogentes, imperativas, são, como visto, objeto

de transação, contidas em conciliações, estas previstas legalmente. Os efeitos

patrimoniais dos direitos trabalhistas indigitam transação, porquanto deles pode

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suscitar res dubia, como também reciprocidade de concessões das partes transatoras.

Caio Mário da Silva Pereira118 assinala que “(...) não pode ser objeto de transação

qualquer questão que envolva matéria em que é interessada a ordem pública”, mas

“Não quer isto dizer que os efeitos patrimoniais dos direitos insuscetíveis de transação

não a comportem a seu turno. Comportam.”119

Conforme se exemplificou supra, o empregado não pode dispor, e, portanto,

não pode renunciar, ao pagamento do 13º salário, tutelado por norma pétrea

constitucional (CF/88, art. 7º, VIII e Lei nº 4.090/62), mas pode transacionar sobre os

efeitos pecuniários desse direito, se cristalizada a res dubia. Em outras palavras, o

empregado não pode renunciar (ato unilateral) ao pagamento do 13º salário (certeza do

direito), mas pode transacionar com o empregador (negócio jurídico - acordo de

vontades) acerca do seu valor (res dubia), que corresponde ao efeito patrimonial do

seu direito passível de transação. O mesmo se diga com relação ao direito a alimentos

etc.

Para Iara Alves Cordeiro Pacheco, havida a rescisão contratual, extrai-se o

seguinte escólio:

“o empregador deve, efetivamente, pagar ao empregado todas as verbas decorrentes da rescisão contratual, bem como satisfazer direitos até então adquiridos como saldo salarial e férias vencidas. Sendo verbas decorrentes da lei, nesse momento devem ser integralmente pagas, motivo pelo qual o legislador tomou inúmeras cautelas, consoante preceitos contidos no art. 477 da CLT. Somente com relação aos direitos controvertidos, tais como horas extras, diferenças salariais e outras, e, inclusive, com relação a eventuais diferenças referentes a verbas quitadas, é que poderá ocorrer transação em momento posterior.”120

Deve-se entender, entretanto, que o quantum atinente a toda e cada verba

devida em decorrência da lei cogente, pode ser objeto de transação, visto que se pode

118 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 18ª Edição, 1.997, Vol. 1, p.122. 119 Id. Op. cit. p.183. 120 PACHECO, Iara Alves Cordeiro. Os direitos trabalhistas e a arbitragem. São Paulo: LTr, maio/2003, p.112.

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não controverter acerca do direito à verba trabalhista, mas quanto ao seu valor, pode.

Se, por um lado, em termos absolutos, os direitos trabalhistas são tutelados por normas

de ordem pública e, por isso, são inderrogáveis, irrenunciáveis e não transacionáveis,

donde patrimonialmente indisponíveis, estando este preceito enquadrado nos termos

do art. 9º da CLT, é certo que à luz do art. 841 do Código Civil de 2002, ainda que na

extinção do contrato de trabalho os direitos trabalhistas mantenham a

inderrogabilidade, e, conseqüentemente, a irrenunciabilidade, relativizam-se.

Zoraide Amaral de Souza121 aduz que “há indisponibilidade enquanto a

relação jurídico-material existir, isto é, a indisponibilidade está diretamente ligada ao

desenvolvimento da relação trabalhista.” A Autora sustenta seu fundamento com base

na realidade da Justiça do Trabalho, onde o juiz busca o acordo, sem entretanto

preocupar-se em saber “sobre se o direito que está sendo submetido à conciliação, é

disponível ou indisponível.”

No mesmo sentido, Iara Pacheco obtempera:

“após o rompimento do vínculo, os direitos do trabalhador se transformam em valores pecuniários, integrando seu patrimônio, sendo certo que, em regra, os direitos patrimoniais privados são disponíveis. Tal também ocorre com os direitos da personalidade, cujos reflexos patrimoniais a lei civil considera transacionáveis.” 122

O presente trabalho comunga com o entendimento defendido pelas Autoras

retro, parece, até mesmo induvidoso, que arbitráveis são as controvérsias de direito do

trabalho, no campo dos denominados dissídios individuais, mas restritos aos reflexos

patrimoniais desses direitos, haja vista a tutela de ordem pública de que se revestem. O

processo arbitral, terminado por sentença ou por homologação de transação sem

vícios, é meio eficaz e hígido ao desiderato.

Entretanto, em que pese o acerto das razões defendidas pelas autoras ora

121 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit. p. 189. 122 Ibidem. p.106.

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citadas, em nosso entendimento, devem ser considerados com as devidas cautelas,

tendo em vista que as relações trabalhistas em nosso ordenamento revela um

comportamento de resistência, por parte do empregador, ao cumprimento das normas

públicas cogentes, aproveitando do desequilíbrio dos atores do contrato, onde o

empregado, quer seja pela grave crise do desemprego, quer seja pelo grau de

ignorância a respeito das garantias legais, é facilmente induzido - sob o manto de um

pseudo res dubia e res litigiosa - a transacionar conflitos, crendo está havendo

concessões recíprocas, o que pode efetivamente não ter ocorrido.

Embora num dado momento reconheçamos a transmudação de determinadas

normas cogentes em direito patrimonial, o que abriria, em muito, o leque transacional

por meio da arbitragem, como defendem referidas autoras, tal interpretação jurídica

clama por um sistema de controle específico, porquanto, da forma em que se encontra

normatizado (Lei nº 9.307/96) abre margem para muitas fraudes contra o ordenamento

jurídico tutelar do trabalhador hipossuficiente, devendo, portanto, ser observada com

mais cautela, ou seja, não se pode abrir mão de direitos irrenunciáveis somente porque

este, em determinada fase, reveste-se de patrimonialidade. O que deve prevalecer na

transação do conflito individual trabalhista, sob a égide da Lei de Arbitragem, é a

concessão mútua entre as partes, onde e somente naquilo em que se verifica res dubia,

o que atende ao interesse social do trabalhador, quando da incerteza do seu direito ou,

ainda, quando da incerteza diante da res litigiosa, que será pacificado e definido o

conflito de forma mais justa pelo árbitro escolhido.

E por estas razões não é recomendável a homologação pura e simples da

rescisão de contrato de trabalho, em substituição aos órgãos competentes (Ministério

do Trabalho, Sindicato e etc., que têm o dever de apurar o cumprimento das normas

trabalhistas) por juiz arbitral, eis que não se instaura, efetivamente, uma res litigiosa

e/ou res dubia , mas sim instrumento a legalizar renúncia e impedir o acesso do

trabalhador à justiça.

O ideal para melhor utilização da Arbitragem nos conflitos individuais

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trabalhistas seria em primeiro lugar a vedação de instauração de juízo arbitral antes da

apresentação da rescisão contratual aos órgãos competentes (Ministério do Trabalho,

Sindicato e etc.) que identificarão, dentro de suas prerrogativas, se há ou não

descumprimento de normas trabalhistas, possibilitando o trabalhador hipossuficiente

conhecer de antemão aquilo que denomina-se de res dubia e res litigiosa, vinculando,

assim, o árbitro a conduzir o processo dentro dos parâmetros estabelecidos na Lei nº

9.307/96, o que evitaria, em muito, qualquer tentativa de fraude contra o sistema

trabalhista vigente. Em segundo lugar, na esteira das lições de Zoraide Amaral123, uma

alteração da referida Lei de Arbitragem para que esta permitisse o reexame judicial de

fundo de sentença arbitral, dificultaria, ainda mais, o desvio de conduta na utilização

deste importante meio alternativo de solução de conflitos.

5.2 CONCILIAÇÃO

A conciliação como figura da autocomposição de conflitos de interesse é

característica do processo trabalhista, sendo sempre utilizada com vistas à solução

mais ágil das lides submetidas ao Judiciário. O próprio espírito do processo do

trabalho embrionariamente assumiu esta feição, inspirado pela consecução da

celeridade de procedimento.

Segundo Délio Maranhão, um dos princípios básicos deste processo é a

tentativa obrigatória de composição proposta pelo magistrado. Diz o autor:

"O direito do trabalho visa à paz social. Não podia o processo deixar de refletir essa destinação do direito que lhe cabe realizar. Estabelece, por isso, o art. 765 da Consolidação que "os dissídios individuais e coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação"."124

123 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit. p. 193 . 124 MARANHÃO, Délio. Instituições do direito do trabalho. 22ª ed., São Paulo: LTr, 2005, p. 1305

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No contexto, apropriada a distinção efetuada por Wagner D. Giglio, no

tocante a conciliação e acordo. Assevera o doutrinador :

"A conciliação, no nosso entender, tem um conceito mais amplo do que o acordo, significando entendimento, recomposição de relações desarmônicas, desarme de espírito, compreensão, ajustamento de interesses; acordo é apenas a conseqüência material, regra geral de ordem econômica da conciliação das partes. Tradicionalmente, dentro da disciplina celetista, a proposta conciliatória pode ser intentada pelo juiz em qualquer etapa do processo. A homologação do acordo, na forma do art. 831, parágrafo único, do Texto Consolidado, terá força de decisão irrecorrível."125

Cônsono o art. 846 consolidado (Lei nº 9.022/95), no capítulo Dos Dissídios

Individuais, o juiz deverá tentar a composição na abertura da audiência e antes do

julgamento, sob pena de nulidade. Somente se fracassada a iniciativa, a defesa será

oferecida pelo réu.

Em relação aos Dissídios Coletivos, caput do art. 860, a disposição é a

mesma: “recebida e protocolada a representação, e estando na devida forma, o

presidente do tribunal designará a audiência de conciliação, dentro do prazo de dez

dias, determinado a notificação dos dissidentes com observância do disposto no art.

841.”

O procedimento sumaríssimo no processo trabalhista, instituído pela Lei nº

9.957, de 12 de janeiro de 2000, mantendo o princípio da conciliabilidade deste

processo, a conciliação encontra-se prevista no art. 852-E: “(...) Aberta a sessão, o juiz

esclarecerá às partes presentes sobre as vantagens da conciliação e usará os meios

adequados de persuasão para a solução conciliatória do litígio, em qualquer fase da

audiência (...)”.

Ainda convém salientar que, dentro do amplo poder que dispõe o juiz na

direção do processo, em alguns feitos em execução, a audiência de conciliação é

125 GIGLIO, Wagner D. Direito Processual do Trabalho, 8ª ed. São Paulo: LTr, 1993. p. 227.

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viável, sendo a iniciativa resguardada pelo art. 342 do CPC. Do ponto de vista prático,

tem-se mostrado providência profícua, pois as partes sabem o valor certo do crédito e,

muitas vezes, se concretiza um acordo (parcelado ou não). O objetivo é de evitar a

penhora e expropriação e demais incidentes processuais daí decorrentes, que,

freqüentemente, tornam infindáveis as execuções.

A conciliação judicial trabalhista é, portanto, ato judicial, através do qual as

partes litigantes, sob interveniência da autoridade jurisdicional, ajustam solução

transacionada sobre matéria objeto de processo judicial. Embora próxima às figuras da

transação e da mediação, delas distingue-se em três níveis, conforme leciona Maurício

Godinho:

“ no plano subjetivo, em virtude da interveniência de um terceiro e diferenciado sujeito, a autoridade judicial; no plano formal, em virtude de realizar-se no corpo de um processo judicial, podendo extingui-lo parcial ou integralmente; no plano de seu conteúdo, em virtude de poder a conciliação abarcar parcelas trabalhistas não transacionáveis na esfera estritamente privada.”126

Do exposto, a conciliação é o corolário do procedimento da justiça

trabalhista, que, com razão, merece encômios, como conclui Zoraide Amaral:

“Não resta dúvida, portanto, de que no processo judicial trabalhista impera o princípio da conciliabilidade, o que só merece aplausos, já que as relações entre os cidadãos, mesmo que este estejam em campos aparentemente opostos, deverão percorrer uma trilha que os leve a um acordo e não a uma demanda, necessitando que um terceiro por eles solucione problemas que, em muitos casos, são tão pequenos que sem um esforço maior podem lograr solução amigável.”127

Urge, entretanto, ressaltar, em que pese ser a conciliação judicial um notável

e ágil mecanismo de composição dos conflitos trabalhistas, cujo índice de conciliação

126 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit. p.1447. 127 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit. p.199.

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em 2005 representou 44,3 % dos processos trabalhistas, conforme estatística do TST128

não se pode fechar os olhos para os desmandos que vêm ocorrendo na celebração de

pseudos acordos que sob o manto judicial, encobrem verdadeira renúncia de direitos

pelo trabalhador hipossuficiente, em excessiva e execrável vantagem do empregador,

desequilibrando a comutatividade que deveria permear qualquer conciliação. Com a crescente crise que se instala no judiciário trabalhista, sobretudo pelo

excessivo números de processos e falta de estrutura adequada para dirimir os conflitos

cada vez mais intensos, que serão objetos de estudo em capítulo específico, acabou por

gerar um desvio de conduta dos conciliadores judiciais, in casu os magistrados

trabalhistas que, na ânsia de verem-se livres dos intermináveis processos, celebram

acordos sem nenhum critério crítico do conflito posto ao apreço judicial, fazendo

ouvido moco à fraude e desvirtuamento da aplicação das normas de caráter laboral de

ordem pública. Esta conduta de prevalecimento do acordado sobre o legislado,

estimula o descumprimento, por parte dos empregadores, das normas públicas da

legislação trabalhista, que, por sua vez, redundará em novos conflitos e ações

judiciais, num círculo vicioso de violação dos princípios fundamentais.

Esta realidade percebida no cotidiano forense é confessada por alguns

magistrados trabalhistas que contribuem no mercado editorial. Neste sentido, Antônio

Álvares da Silva, Juiz togado do TRT 3ª Região, escrevendo sobre métodos

alternativos de solução dos conflitos do trabalho sustenta que as conciliações

apressadas, promovidas pelos juízes do trabalho em pautas longas e tumultuadas, não

representam transações, mas costumeira renúncia de direitos. Diante deste grave

contexto, o referido autor lança pertinente indagação:

“E, o que é pior em tais situações, muitas vezes o argumento para que o empregado aceite propostas irrisórias ou insuficientes consiste exatamente na demora do processo e na lentidão da Justiça do Trabalho. Onde fica a garantia de apreciação pelo Poder Judiciário de lesão ou ameaça a direito (art. 5º, item XXXV), se a lesão é perpetrada pelo próprio Poder Judiciário?129

128 http://www.tst.gov.br. 129 SILVA, Antônio Álvares da. "Solução dos Conflitos do Trabalho", in BARROS, A.M. de (Coord.), Curso de direito do trabalho. Estudo em memória de Célio Goyatá. Vol. II, 1ª ed., São Paulo: LTr, 1993. p. 732

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Diante deste quadro caótico e a urgente necessidade de reduzir o volume

estrondoso de reclamatórias trabalhistas ajuizadas perante a Justiça do Trabalho, na

busca de meios alternativos de solução de conflitos, editou-se a Lei nº 9.958, de 12 de

janeiro de 2000, que criou as Comissões de Conciliação Prévia no âmbito trabalhista,

que serão objeto de estudos no próximo item.

5.3 AS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

A instituição da Comissão de Conciliação Prévia teve origem no Egrégio

Tribunal Superior do Trabalho que, preocupado com o imenso volume de processos (2

milhões e meio)130, apresentou proposta de reforma do processo de trabalho.

O Poder Executivo, adotando a idéia originária do Tribunal Superior do

Trabalho, remeteu ao Congresso o anteprojeto com a Mensagem n. 952/98 (06 ago.

1998), subscrita pelo então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, com

exposição de motivos (nº 509, 28 jul. 1998) subscrita pelos então Ministros de Estado

da Justiça (Renan Calheiros) e do Trabalho (Edward Amadeo).

O objetivo expresso na Exposição de Motivos é evitar "... a chegada ao

Judiciário de grande parte das demandas trabalhistas".

O dito projeto de lei sofreu inúmeras modificações até se transformar na Lei

nº 9.958/00, que efetivamente veio instituir as Comissões de Conciliação Prévia de

forma geral no âmbito da Justiça do Trabalho.

Assim, as empresas e os sindicatos ficam autorizados a instituírem núcleos

conciliatórios, com composição paritária. É, portanto, uma faculdade, que poderá ser

exercida através da convenção coletiva.

O intuito do TST e do legislador foi o de desafogar o judiciário trabalhista,

130 Disponível no site htp://www.tst.gov.com.br.

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conciliando as partes, como já tentara anteriormente, com edição da súmula (antigo

Enunciado) nº 330131, furtando-se, assim, o Estado do dever de proteção de direitos

fundamentais trabalhistas.

5.3.1 Decomposição da Lei nº 9.958/00.

A Lei n. 9.958/00 é composta de quatro artigos (1º ao 4º) que introduzem o

TÍTULO VI-A e os artigos 625-A a 625-H na Consolidação das Leis do Trabalho,

além de alterar a redação do art. 876 e de inserir, ainda na CLT, o art. 877-A.

O art. 625-A torna clara a faculdade ("podem") que as empresas e os

sindicatos têm para instituir as Comissões de Conciliação Prévia, de composição

paritária, com representantes dos empregados e dos empregadores, com atribuição

específica de tentar a conciliação dos dissídios individuais do trabalho, podendo ser

criadas por grupos de empresas ou de forma intersindical.

A lei, interpretada em seu conjunto, permite concluir que as Comissões -

embora enquadradas na disciplina do Direito Coletivo - atuam apenas nos dissídios

individuais do trabalho. Para a correta constituição, elas devem observar o princípio da

negociação coletiva, ao passo que, quanto ao funcionamento, o princípio paritário é

imprescindível.

A natureza delas é parajudicial, de composição paritária e de instituição

facultativa, tanto no âmbito das empresas como nos sindicatos, com atribuição

específica de tentar a conciliação dos conflitos individuais do trabalho.

131 A súmula nº 330 do TST estabelece que: “A quitação passada pelo empregado, com assistência de entidade sindical de sua categoria, ao empregador, com observância dos requisitos exigidos nos parágrafos do art. 477 da CLT, tem eficácia liberatória em relação às parcelas expressamente consignadas no recibo, salvo se oposta ressalva expressa e especificada ao valor dado à parcela ou parcelas impugnadas. I - A quitação não abrange parcelas não consignadas no recibo de quitação e, conseqüentemente, seus reflexos em outras parcelas, ainda que estas constem desse recibo; II - Quanto a direitos que deveriam ter sido satisfeitos durante a vigência do contrato de trabalho, a quitação é válida em relação ao período expressamente consignado no recibo de quitação.

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Obtida a conciliação, seus efeitos extrapolam os sujeitos envolvidos

(empregador e empregado), pois o termo lavrado tem natureza de título executivo

extrajudicial (art. 585, II, do Código de Processo Civil), podendo ser executado na

forma prevista no Título X do Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho (art.

876).

As Comissões podem ser instituídas no âmbito das empresas ou no dos

sindicatos.

Conforme art. 625B, no âmbito das empresas, a composição das Comissões

está prevista o número mínimo de 02 (dois) e o máximo, 10 (dez) membros, com

respectivos suplentes, todos com mandato de um ano, permitida uma recondução,

metade indicada pelo empregador e a outra metade eleita pelos empregados, em

escrutínio secreto, "fiscalizado" pelo sindicato da categoria profissional.

O termo "Fiscalizado" (inc. I do art. 625-B da Lei 9.958/00), tem sentido

mais amplo do que assistir ou exercer vigilância. Reflete, na verdade, a participação

integrativa do sindicato em todo o processo eletivo, desde o seu início (arts. 513 e 514

da Consolidação das Leis do Trabalho e inc. III do art. 8º da Constituição da

República).

Os representantes dos empregadores são indicados (e não eleitos), não se

exigindo que sejam necessariamente empregados (inc. I do art. 625-B).

A Comissão Intersindical, no entendimento de inúmeros autores, é "... a

criada por mais de um sindicato, independentemente de categoria, podendo ser

patronal ou de trabalhadores, com a participação de ambas as espécies para manter a

paridade"132, acresço os princípios retromencionados, que não podem estar ausentes

das Comissões.

As Comissões instituídas em contrariedade à lei padecerão de vício

132SOUSA FILHO, Georgenor de. A lei das comissões de conciliação prévia, in LTr, v. 64, 2000, pp. 174-177; VEIGA JÚNIOR, Celso Leal da. A Lei 9.958 de 12 de janeiro de 2000. Alguns questionamentos práticos em decorrência da instituição e funcionamento das comissões de conciliação prévia, in LTr, Sup. Trab. 029/00, pp. 141-146.

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intrínseco de constituição, que contamina os atos por elas praticados - especificamente

a conciliação - tornando-os passíveis de discussão judicial (nulidade ou anulabilidade),

conforme adiante se abordará. Ou seja, os atos praticados por tais Comissões não terão

a eficácia prevista na Lei n. 9.958/00.

As categorias inorganizadas em sindicatos, no âmbito de suas

representações, poderão, através das Federações ou das Confederações que as

representem - econômicas e profissionais -, celebrar Convenções Coletivas de

Trabalho com o fim de instituir as Comissões de Conciliação Prévia, conforme

franqueado pelo § 2º do art. 611 da CLT.

Os representantes dos empregados integrantes das Comissões, titulares e

suplentes, necessariamente empregados (embora dispensada a filiação sindical), têm

garantia do emprego até um ano após o final do mandato, salvo se cometerem falta

grave, nos termos da lei (art. 625-B, § 1º). Os dirigentes sindicais que as integram têm

as suas próprias estabilidades.

As funções do representante dos empregados na empresa não se alteram (art.

625-B, § 2º). Delas ele apenas se afasta no momento em que tem assento na Comissão,

na qual exercerá a função de "conciliador", "... sendo computado como tempo de

trabalho efetivo o despendido nessa atividade" (art. 4º da CLT).

Diz a lei: "Qualquer demanda de natureza trabalhista" (art. 625-D) será

submetida à Comissão Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido

instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria.

A locução "qualquer demanda" não está a revelar que qualquer demanda

trabalhista deverá obrigatoriamente ser submetida à Comissão de Conciliação.

A dimensão da locução qualquer demanda não pode assumir um sentido

capaz de corromper a utilidade da tentativa prévia de conciliação. Intenciona-se uma

alternativa de autocomposição dos dissídios, mas uma alternativa de algo viável,

factível.

Por exemplo, não faz senso submeter à CCP o objeto de uma ação de

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cumprimento, um inquérito para apuração de falta grave, a ação de consignação em

pagamento, a ação rescisória, a declaratória, a reconvenção, a ação revisional, tutelas

urgentes (cautelar, tutela antecipada, mandado de segurança), a ação anulatória, entre

outras.

Essas hipóteses não desvendam a utilidade de uma tentativa de conciliação

prévia, muito embora a nenhuma delas se irá negar o atributo que faz o gênero de

qualquer demanda. A imperatividade do texto legal não pode orientar a absurdidade,

como viria a corresponder a falta de presteza de sua aplicação e da sua própria

existência.

Logo, o sentido de qualquer demanda cabe para todas as demandas que

possam satisfazer a razoabilidade de algum propósito de utilidade ideado pela lei: a

conciliação.

Seria teratológico, por exemplo, a tentativa de conciliação prévia tendo como

devedor uma Massa Falida. Invariavelmente, a empresa está lacrada e a Massa não

dispõe de ativos disponíveis. Além disso, o síndico nada poderia fazer sem a prévia

autorização do juiz da falência. Não obstante, ao se situar o sentido de toda demanda à

locução qualquer demanda, não se excluiria a massa falida. É escusado discorrer sobre

a flagrância dessa inocuidade.

Em razão de seu escopo estrito, na prevenção de conflitos judiciais, não

cabem às Comissões de Conciliação Prévia prestar a assistência à rescisão contratual,

desfalcada de litigiosidade, do empregado com mais de um ano de serviço, pois

legitimados para tanto são somente o respectivo Sindicato ou a autoridade do

Ministério do Trabalho, ex vi do § 1º do art. 477 da CLT, até porque elas não têm

competência para autorizar a movimentação da conta vinculada do FGTS.

As "demandas" serão formuladas por escrito, podendo ser reduzidas a termo

por qualquer dos integrantes da Comissão, que o assinará e entregará (cópia datada e

assinada) aos interessados (art. 625-D). Os "interessados" são o empregador e o

empregado demandante. Os demais membros da Comissão também deverão ter acesso

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ao pleito, embora não na condição de "interessados".

Não sendo celebrada a conciliação, os membros da Comissão firmarão

declaração de "tentativa conciliatória frustrada", com descrição de seu objeto, que será

entregue ao empregador e ao empregado, a ser juntada à eventual reclamação

trabalhista (art. 625-D, § 2º).

Se houver Comissão no local da prestação de serviços, no âmbito da empresa

ou do sindicato da categoria, o empregado deve submeter a sua demanda ao

procedimento conciliatório. Contudo, o § 3º do art. 625-D excepciona a regra e

permite o ajuizamento de ação trabalhista com desprezo ao sistema prévio

conciliatório, quando houver motivo relevante para tanto.

Constatado o motivo relevante que impossibilite a submissão da lide à

Comissão de Conciliação Prévia, "... será a circunstância declarada na petição inicial

da ação intentada perante a Justiça do Trabalho" (art. 625-D, § 3º).

Um exemplo de motivo relevante é a Comissão não funcionar em

decorrência de caso fortuito (acontecimento derivado da força da natureza) ou força

maior (dano originário em fato de outrem).

A apreciação do motivo ficará na esfera do livre convencimento do Juiz, que

poderá acatá-lo ou não, sempre de forma fundamentada.

Questão que gerou grande polêmica é a da natureza jurídica da submissão da

demanda ao sistema prévio conciliatório. Seria condição da ação (como originalmente

previsto no art. 836-C do Projeto de Lei n. 4.694/98) ou pressuposto processual?

As condições da ação, tradicionalmente aceitas pela doutrina, são três:

possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimação ad causam.

Caracterizam-se como "... condições para que legitimamente se possa exigir, na

espécie, o provimento jurisdicional"133.

Possibilidade jurídica do pedido é a sua acomodação ao ordenamento

133 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini. DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo, 7ª ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 229.

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jurídico, pois, muitas vezes, esse, a priori, afasta ou veda a apreciação do pleito pelo

Poder Judiciário, como no caso clássico das dívidas oriundas de jogo (art. 1477 do

Código Civil).

O interesse de agir revela-se quando a prestação jurisdicional resulte útil para

quem a solicite, além de necessária (só se obtém o bem almejado com a interferência

do Estado) e adequada (a lesão ou ameaça a direito deve corresponder ao provimento

judicial reclamado).

A legitimidade ad causam diz respeito às titularidades, tanto de quem se diz

lesado ou ameaçado em seu direito (titular da ação, art. 6º do Código de Processo

Civil) como daquele que é responsável pela obrigação correlata.

Na ausência de qualquer das condições, o autor é carecedor de ação, que se

extingue sem apreciação do mérito.

A submissão da demanda ao procedimento conciliatório prévio não se

aproxima de nenhuma das condições da ação, não tendo, pois, essa natureza.

Já os pressupostos processuais "... são requisitos para a constituição de uma

relação processual válida (ou seja, com viabilidade para se desenvolver regularmente -

CPC, art. 267, IV)"134.

O art. 82 do Código Civil exige para a validade do ato jurídico, a presença de

"...agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei". No âmbito da

relação processual, que é relação jurídica distinta da encontrada no direito material,

certos requisitos são necessários para que ela seja válida, embora com contornos

próprios, distintos dos daqueles previstos no art. 82 do Código Civil.

Os pressupostos processuais são: "a) uma demanda regularmente formulada

(CPC, art. 2º; CPP, art. 24); b) a capacidade de quem a formula; c) a investidura do

destinatário da demanda, ou seja, a qualidade de juiz. A doutrina mais autorizada

sintetiza esses requisitos nesta fórmula: uma correta propositura da ação, feita perante

134 CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO, Op. cit., p. 257.

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uma autoridade jurisdicional, por uma entidade capaz de ser parte em juízo."135

Advertem os processualistas que os pressupostos "... inserem-se entre os

requisitos de admissibilidade do provimento jurisdicional"136. Há, entretanto, na

doutrina brasileira, uma tendência não tão restrita quanto aos pressupostos processuais,

consoante leciona Ada Pelegrini:

"Segundo essa tendência, eles se classificariam em: I- objetivos; II- subjetivos. Os objetivos seriam: a) intrínsecos (regularidade procedimental, existência de citação); b) extrínsecos (ausência de impedimentos, como coisa julgada, litispendência, compromisso). Os subjetivos seriam: a) referentes ao juiz (investidura, competência, imparcialidade); b) referentes às partes (capacidade de ser parte, capacidade de estar em juízo, capacidade postulatória)"137.

Diante da assertiva acima, a pretensa inconstitucionalidade (violação do art.

5º, XXXV da Constituição Federal.), vislumbrada por alguns138, na obrigatoriedade da

passagem prévia da demanda perante a comissão de conciliação, não tem qualquer

procedência, pois, a observância do procedimento previsto no caput do art. 625-D, tem

a natureza de pressuposto processual objetivo extrínseco, o que significa dizer que,

estando instalada a Comissão, não submeter a demanda ao procedimento prévio

conciliatório implica na extinção da reclamação ou do pedido, sem julgamento do

mérito (inc. IV do art. 267 do Código de Processo Civil, subsidiariamente aplicado ao

Processo do Trabalho).

135 Ibidem, p. 258. 136 CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO, Op. cit., p. 258. 137, Ibidem pp. 257-258. 138 Tramitam no STF três ações de declaração de inconstitucionalidade sobre questões relativas à obrigatoriedade de submeter a demanda à Comissão e sobre a eficácia liberatória do acordo formalizado perante ela, proposta pelos Partidos Políticos que na época eram de oposição (PT, PSB, PDT e PcdoB), pela ABRAT, através da Confederação Nacional dos Profissionais Liberais e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio.

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Pertine asserir, por oportuno, a observação de Zoraide Amaral no sentido

que algumas Varas do Trabalho não vinham cumprindo este pressuposto processual:

“determinadas varas do Trabalho, apesar de haver comissões instituída para a categoria profissional a que pertence o interessado, os seus juízes não esteja exigindo esse pressuposto para o ajuizamento da reclamação trabalhista, sob a alegação de que o acordo tanto pode ser realizado na Comissão de Conciliação Prévia, como na audiência de conciliação na Vara de Trabalho, o que leva os interessados ao descumprimento da lei e, principalmente, ao afogamento da própria justiça obreira."139

Zoraide Amaral140 destaca ainda que O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª

Região (São Paulo), a respeito do tema, editou a Súmula n. 2, com o seguinte teor:

“CCP extinção de processo. “o comparecimento perante a Comissão de Conciliação prévia é uma faculdade assegurada pelo obreiro, objetivando a obtenção de um título executivo extrajudicial, conforme previsto pelo art. 625-E, parágrafo único, da CLT, mas não constitui condição da ação, nem tampouco pressuposto processual na Reclamação Trabalhista, diante do comando emergente do art. 5º XXXV da CF”141

O Tribunal Superior do Trabalho, por sua vez, não comunga o entendimento

acima esposado, aderindo à corrente que interpreta o comando do art. 625-E, como

pressuposto processual na Reclamação Trabalhista:

"RECURSO DE REVISTA – OBRIGATORIEDADE DA SUBMISSÃO DA DEMANDA À COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – A submissão da demanda à Comissão Prévia de Conciliação, estabelecida no art. 625-D da CLT, é obrigatória e, assim, constitui pressuposto para a constituição e desenvolvimento válido e regular do processo. Recurso de revista a que se nega provimento."142

139 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit. p.205 140 Ibidem, p. 206 141 Publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo – Parte Justiça – de 12 de novembro de 2002, Caderno I, parte I, p. 158 142 TST – RR 1.374/2001-113-15-00.4 – 5ª T. – Rel. Min. Gelson de Azevedo – DJU 02.09.2005. No mesmo sentido as seguintes Ementas: TST – RR 157/2002-314-02-00.1 – 4ª T. – Rel. Juiz Conv. José Antonio Pancotti – DJU 02.09.2005; TST – RR 54323/2002-902-02-00.9 – 3ª T. – Relª Minª Maria Cristina Irigoyen Peduzzi –

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Suplantada a celeuma da constitucionalidade do comando do art. 625-D da

CLT, urge, ainda, destacar que quando houver Comissão de empresa e Comissão

sindical na mesma localidade e para a mesma categoria, o interessado optará por uma

delas para submeter a sua demanda. Competente será a Comissão que primeiro

conhecer da demanda (art. 625-D, § 4º).

Não raro, haverá concomitantemente duas Comissões, uma instalada na

empresa, por Acordo Coletivo e, outra, intersindical. Quando tal ocorrer, a regra

contida no § 4º do art. 625-D da Lei n. 9.958/00 dará lugar ao princípio que impõe o

afastamento do geral em prol do específico ou particular. Ou seja, o mais próximo

sobrepõe-se ao afastado ou longínquo. A Comissão no âmbito da empresa (especial)

afasta a possibilidade de opção pela Comissão intersindical (geral), exceto se de forma

diversa prever a negociação coletiva.

Celebrada a conciliação, lavrar-se-á termo assinado pelo empregado, pelo

empregador ou seu preposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópias às

partes (art. 625-E).

Diz a lei que o termo de conciliação tem a natureza de título executivo

extrajudicial, com eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente

ressalvadas (parágrafo único do art. 625-E).

Para que sejam evitadas situações altamente lesivas aos interesses dos

empregados - pelas conseqüências decorrentes do inadimplemento do acordo - é

oportuno, nas Comissões, o aproveitamento do texto contido no § 2º do art.

846/CLT.143

A conciliação celebrada na Comissão será passível de anulação judicial,

DJU 10.12.2004; TST – RR 50957 – 1ª T. – Rel. Min. João Oreste Dalazen – DJU 19.11.2004; TST – RR 50.957/02.0 – 1ª T. – Rel. Min. João Oreste Dalazen – DJU 19.11.2004 – p. 539; TST – RR 733 – 4ª T. – Relª Minº Ives Gandra Martins Filho – DJU 11.06.2004 143 CLT - Art. 846, § 2º: Entre as condições a que se refere o parágrafo anterior, poderá ser estabelecida a de ficar a parte que não cumprir o acordo obrigada a satisfazer integralmente o pedido ou pagar uma indenização convencionada, sem prejuízo do cumprimento do acordo.

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como os demais atos jurídicos, devendo, entretanto, numa reclamatória trabalhista, ser

invocado em sede de preliminar a existência de irregularidades no procedimento da

Comissão, invocando-se os preceitos do art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, que

veda a lei de excluir qualquer lesão de direito da apreciação do Judiciário.

Destarte, para que os atos da Comissão gerem os efeitos esperados, são

necessários que:

- a) a Comissão atenda aos pressupostos legais de sua existência

(constituição conforme a lei);

- b) a transação seja válida, isto é, perfeita, sem que seus elementos

essenciais padeçam de qualquer deficiência que a invalide (p. ex. erro, art. 86/CCB;

dolo, art. 92/CCB; coação, art. 98/CCB, ou simulação, art. 102/CCB).

Só assim - estando a Comissão devidamente constituída e celebrada a

conciliação (válida) - haverá eficácia jurídica, fonte de direitos e deveres.

O art. 625-F concede às Comissões o prazo de dez dias para a realização da

sessão conciliatória, contados a partir da provocação do interessado.

Como a Comissão fornece "... cópia datada e assinada pelo membro..." (art.

625-D, § 1º) aos interessados, é desta data que se tem a comprovação da provocação e

da qual se conta o prazo de dez dias.

Esgotado o prazo sem que a sessão tenha sido realizada, será fornecida, "...no

último dia do prazo, a declaração a que se refere o § 2º, do art. 625-D" (parágrafo

único do art. 625-F).

O art. 625-G prevê que o "... prazo prescricional será suspenso a partir da

provocação da Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe

resta, a partir da tentativa frustrada de conciliação ou do esgotamento do prazo

previsto no art. 625-F".

Trata-se de suspensão da prescrição, que recomeça a fluir, pelo que lhe resta,

após o afastamento da causa suspensiva. Como o prazo para a Comissão realizar a

tentativa de conciliação é de dez dias, a suspensão jamais o ultrapassará.

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Aos Núcleos Intersindicais de Conciliação Trabalhista, em funcionamento ou

que vierem a ser criados, são aplicáveis as disposições previstas nesse Título, desde

que observados os princípios da paridade e da negociação coletiva na sua constituição

(art. 625-H).

É de particular precisão a crítica de José Alberto Couto Maciel:

"É difícil entender que se estabeleçam as referidas Comissões em órgãos que não existem legalmente. É como se admitir sua criação em centrais sindicais. Não existe previsão legal na criação de Núcleos Intersindicais de Conciliação Trabalhista. E, ainda que existam, mediante convenção coletiva, quem representa o empregador e o empregado e qual a competência desses núcleos criando-se as Comissões?"144

Antes da Lei n. 9.958/00, os Núcleos Intersindicais tinham existência fática,

mas não se inseriam no ordenamento legal, a despeito das boas intenções daqueles que

os idealizaram. A Lei n. 9.958/00 os integrou ao ordenamento jurídico, desde que

constituídos em consonância com os "princípios da paridade e da negociação coletiva

na sua constituição".

A convalidação prevista na Lei n. 9.958/00 não atinge todos os Núcleos:

somente os que tenham observado os "... princípios da paridade e da negociação

coletiva na sua constituição" (art. 625-H) é que estão salvos. Outros - criados, por

exemplo, com base estatutária, sem observância nos seus atos constitutivos dos

princípios mencionados - continuam à margem da lei, por ausência de pressupostos

existenciais (constituição através de negociação coletiva e paridade representativa). Ou

seja: os Núcleos atuais, desde que constituídos de forma paritária e através da

negociação coletiva, conformam-se à lei. Os demais padecerão de vícios insanáveis de

constituição e seus atos (conciliação, p. ex.) serão destituídos de segurança jurídica (ou

seja, os Núcleos irregulares não têm a atribuição prevista na Lei 9.958/00).

144 COUTO MACIEL, José Alberto. Comentários à Lei n. 9.958, de 12 de janeiro de 2000, São Paulo: Rev. LTr 64, 2000, pp. 178-183.

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O art. 2º da Lei n. 9.958/00 altera o art. 876 da Consolidação das Leis do

Trabalho, que passa a ter a seguinte redação:

"Art. 876. As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão executados pela forma estabelecida neste Capítulo."

O art. 876 com a nova redação estende a competência da Justiça do

Trabalho, na forma do que prevê a Constituição Federal (art. 114), para fins de

promoção da execução dos termos de conciliação celebrados perante as Comissões e

dos termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho.

Já o art. 3º da Lei n. 9.958/00, acrescenta à Consolidação das Leis do

Trabalho o art. 877-A, para fixar a competência do título executivo extrajudicial como

sendo a do juiz que a teria para o processo de conhecimento relativo à matéria.

A norma inter-relaciona-se com os artigos 625-D e 651 (e §§), ambos da

Consolidação das Leis do Trabalho, que fixam como regra geral de competência a

localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao

empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro.

As Comissões de Conciliação Prévia representam um avanço, não há como

negar. Suprem ou diminuem certas carências ou deficiências, notadamente no campo

processual, no qual o sistema tradicional de solução dos litígios se mostra

insatisfatório. Não resolvem, porém, o estado de empobrecimento geral do povo e do

próprio Estado (acentuado nos últimos anos com a "âncora cambial" encerrada em

janeiro de 1999, a alienação do parque industrial, o comprometimento das receitas

destinadas ao pagamento de juros e a abertura indiscriminada das importações), ao

lado da natural retração dos postos de trabalho decorrente das novas tecnologias, tudo

a acentuar as grandes desigualdades sociais do País, razão que levou o jurista italiano a

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profetizar:

"Podemos ser céticos, por exemplo, a respeito do potencial das reformas tendentes ao acesso à justiça em sistemas sociais fundamentalmente injustos. É preciso que se reconheça que as reformas judiciais e processuais não são substitutos suficientes para as reformas políticas e sociais. Muitas vezes, o problema é mais político e econômico do que institucional."145

Em conseqüência desta realidade nacional, os resultados apurados juntos às

Comissões de Conciliação Prévia não têm sido animador, sendo objeto das mais sérias

denúncias, conforme noticia Benizete Ramos de Medeiros:

“...O mesmo não ocorre com a maioria dos trabalhadores que estão sendo levados às Comissões de Conciliação Prévia, via de regra, para homologarem sua rescisão por suporem se encontrar nos sindicatos de classe ou nas Delegacias Regionais do Trabalho, dando quitação de direitos que sequer conhecem, como horas extraordinárias, multas, diferenças diversas, equiparação salarial, etc.

A fraude circundada pelo erro do empregado vem ganhando campo propício e fecundo em todo o Brasil. Os relatos são inúmeros, as experiências danosas e os resultados nefastos, traduzidos pela revolta do obreiro ao ser noticiado que não poderá ingressar em juízo.

A par disso, é que recentemente em visita ao Presidente do STF, Min. MARCO AURÉLIO DE MELLO, o presidente da ABRAT - Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas, entregou pessoalmente um dossiê, cujo conteúdo dá conta das inúmeras fraudes que vêm ocorrendo em todo o País, em desfavor do trabalhador.”146

Considerando a enorme disparidade econômica-financeira, social e cultural

entre as partes que se submetem às Comissões de Conciliação Prévia, urge uma

adequação na Lei nº 9.958/2000, sobretudo no que diz respeito à assistência jurídica do

trabalhador, acompanhamento de todo o procedimento conciliatório pelo Sindicato,

145 CAPPELLETTI, Mauro, GARTH, Bryant. Op. cit. p. 161. 146 MEDEIROS, Benizete Ramos de. Comissões de Conciliação Prévia e os Princípios do Direito do Trabalho. Porto Alegre: Jornal Síntese nº 64, junho/2002, p. 3.

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sobretudo nas Comissões de Empresa, entre outros mecanismo de controle para coibir

o mal-uso deste importantíssimo instrumento alternativo de solução de conflitos,

desafogando, assim, o judiciário trabalhista.

5.4 MEDIAÇÃO

A mediação, como já estudado no capítulo 2, é a conduta pela qual um

terceiro aproxima as partes conflituosas, auxiliando e, até mesmo, instigando sua

composição, que há de ser decidida, porém, pelas próprias partes.

A ordem jurídica trabalhista anterior a 1988 previa a mediação compulsória

nos conflitos laborais coletivos, a ser realizada por autoridades do Ministério do

Trabalho. De fato, a CLT, no campo regulatório da negociação coletiva trabalhista (art.

616, §§ 1º e 2º), previa a convocação compulsória para comparecimento perante os

órgãos administrativos especializados do Ministério do Trabalho de sindicatos e

empresas recalcitrantes, visando a dinâmica negocial a ser ali implementada. Presentes

as partes, processava-se a mediação administrativa em direção à negociação coletiva.

Contudo, a mesma CLT já indicava que a recusa à convocação ou o insucesso da

mediação facultavam aos sujeitos coletivos interessados a instauração do dissídio

coletivo (art. 616, § 2º).

A mediação na negociação coletiva de natureza trabalhista possuía suas

regras previstas no Decreto nº 1.572, de 28 de julho de 1995.

Em 16 de fevereiro de 2001, foi publicada no Diário Oficial da União, a Lei

nº 10.192, objetivando tentar prevenir o ajuizamento de Dissídio Coletivo, conforme

se revela pelo seu art. 11 que estabelece que "frustada a negociação entre as partes,

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promovida diretamente ou através de mediador, poderá ser ajuizada a ação de dissídio

coletivo."

A referida legislação estabelece os critérios para a escolha do mediador. Este

pode ser pessoa física escolhida pelas partes, de comum acordo, ou, indicado pelo

Ministério do Trabalho ou pelo Ministério Público do Trabalho, se assim as partes

solicitarem. É possível a indicação de servidores do próprio Ministério do Trabalho,

quais sejam inspetores ou fiscais do trabalho. Havendo recusa da indicação pelas

partes, frustrada estará a mediação e a composição do conflito.

A qualificação do mediador é muito importante para obtenção do consenso

entre as partes. O próprio Ministério do Trabalho mantém um cadastro de profissionais

aptos para o desempenho da função. São requisitos para o credenciamento dos

interessados a experiência em composição de conflitos trabalhistas e conhecimentos

técnicos relativos às questões trabalhistas. Neste sentido, adverte Raimundo Simão de

Melo:

“Porém, tanto o mediador, como o árbitro, para cumprirem com êxito seus misteres, precisam estar bem preparados tecnicamente e conhecer as questões e circunstâncias fáticas que envolvem o conflito de trabalho; precisam conhecer os problemas econômicos, sociais e políticos do país; precisam conhecer modernas técnicas de negociação coletiva; finalmente, precisam ter experiência e vivência prática com relação a todas as questões anteriores, para não se desvencilhar do seu norte, que é o bom senso.”147

O § 3º do art. 10 da Lei 10.192/2001 estabelece que iniciada a mediação,

deverá ser concluída em 30 (trinta) dias, salvo acordo expresso entre as partes

interessadas.

O Ministério do Trabalho elaborou um Manual do Mediador, a fim de

orientar e informar as partes sobre a Mediação, que ocorre no âmbito das Delegacias

Regionais do Trabalho.

147 MELO, Raimundo Simão de. O Agravamento dos Conflitos Trabalhistas e a Demora da Prestação Jurisdicional: Algumas Causas e Soluções. Porto Alegre: Revista Síntese Trabalhista, n. 103 - jan. 1998, p. 12.

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O processo de mediação inicia-se com a reclamação do empregado, atermada

pela DRT, com as informações relacionadas com o seu trabalho, o empregador,

jornada e salários, e outras declarações pertinentes. O formulário será assinado pelo

empregado e mediador.

A seguir, o empregador é cientificado da reclamação, por telefone ou carta, e

chamado a comparecer à Delegacia para prestar informações e apresentar proposta de

conciliação, dentro de um prazo mínimo de 5 (cinco) dias. Havendo acordo, as partes

assinam um Termo de Conciliação, contendo a solução do conflito e homologado pela

DRT.

Os fiscais do trabalho devem ficar atentos para que as normas trabalhistas

sejam observadas neste serviço. A mediação não pode, jamais, servir de meio para que

as empresas burlem seus deveres legais para com o empregado.

Não havendo acordo, lavra-se uma ata da reunião, contendo as propostas

apresentadas e rejeitadas pelas partes.

Indubitavelmente, a mediação nos conflitos trabalhistas constitui moderna

técnica de negociação assistida, traduzindo-se em inúmeros benefícios, consoante

obtempera Zoraide Amaral ao tratar do tema:

“Sem dúvida, são inegáveis os benefícios que traz este meio alternativo que, ao compor o conflito, consegue, entre outras vantagens, obter rapidez, eficácia de resultados, redução do desgaste emocional, redução do custo financeiro, garantia de privacidade, de sigilo, redução da duração, redução da reincidência de litígios , maior facilitação da comunicação, promoção de ambientes mais colaborativos, melhoria dos relacionamentos e maior compromisso das partes em cumprir um acordo por elas construídas.”148

Razão assiste a Autora supracitada, porquanto o mediador, pessoa imparcial,

preparada e de confiança das partes, nada impõe, mas estimula a criatividade das

partes na procura de opções para um acordo, buscando intercâmbio de posições e

148 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit. p. 216

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opiniões, transformando adversários em colaboradores, conseguindo, na maioria das

vezes, restaurar a harmonia entre os litigantes. Além disso, a mediação é um processo

absolutamente informal, movido pelo bom senso, parcimônia, criatividade e muito

equilíbrio, sendo as soluções encontradas muito mais duradouras e personalizadas, daí

porque por meio dela obtém-se excelentes resultados no aprimoramento da

produtividade, qualidade dos produtos e melhora das organizações, prevenindo-se,

evidentemente, pleitos judiciais e conflitos internos.

Exemplo modelar destas assertivas é a experiência em Patrocínio-MG, onde,

por intermédio dos sindicatos dos trabalhadores e empregadores rurais, com estímulo e

apoio da Justiça o Trabalho daquela Comarca, criaram o Núcleo Intersindical de

Conciliação Trabalhista Rural de Patrocínio. Cônsono em Antônio Gomes de

Vasconcelos149, referido órgão é de constituição privada, supra-sindical e composição

paritária, fundamentando-se na autonomia privada, na livre associação e no

reconhecimento da negociação.

O modelo de Patrocínio destaca-se na busca de maior conscientização e

informação, demonstrando e estimulando a boa-fé nas relações de trabalho, o que nos

leva a crença que as fraudes são reduzidas e os princípios tutelares do direito do

trabalho são mais respeitados. É palmar que num ambiente assim delineado os

conflitos levados à tutela estatal se reduzem significativamente, já que o escopo do

Núcleo Intersindical é o entendimento e harmonização das relações trabalhistas.

Segundo Antônio Gomes de Vasconcelos, os resultados obtidos são expressivos:

“A seção intersindical tem obtido grandes resultados e alcance social. Os acertos são realizados total e corretamente, mantém-se a harmonia entre as partes que se posicionam sempre com predisposição ao entendimento e à solução de suas pendências de forma bem mais intensa que no processo judicial; o empregador cumpre o acerto rescisório sem constranger o empregado a sujeitar-se a propostas imorais de acordo, perdura a paz e harmonia nas relações de trabalho, quando rompidas.”150

149 VASCONCELOS, Antônio Gomes de. Sindicatos na administração da justiça: o núcleo intersindical de conciliação trabalhista de Patrocínio e a institucionalização de equivalentes jurisdicionais – mediação e arbitragem voluntária. Temas de Direito e Processo do Trabalho. Belo Horizonte: Del Rey Editora, 1996, p. 30. 150 Ibidem, p. 31.

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5.5 AS MESAS DE ENTENDIMENTO

As Mesas de Entendimento podem ser compreendidas como sendo um

método de composição dos conflitos trabalhistas alternativo à solução por meio da

justiça estatal. Seu procedimento é instituído no âmbito da fiscalização do trabalho

pela Instrução Normativa Intersecretarial nº 23, de 23 de maio de 2001, em

conformidade com o disposto no art. 17, item 2 da Convenção nº 81 da Organização

Internacional do Trabalho e com o art. 18 do Decreto nº 55.841, de 15 de março de

1965.

Referidos diplomas contém normas dirigidas aos Agentes da Inspeção do

Trabalho, no sentido de que considera como inserido entre os seus deveres: advertir,

aconselhar tecnicamente e orientar as partes envolvidas (empregado e empregador) a

cumprirem a legislação trabalhista.

Segundo as lições de Zoraide Amaral151, a Instrução Normativa nº 23 revela

“a preocupação do legislador com a atuação preventiva do auditor, colocando fim à

idéia de que a sua função era apenas de aplicar multa”. Esta mudança de paradigma

revela grande evolução, porquanto nas conturbadas relações entre capital e trabalho, o

fomento da prevenção e, sobretudo, educação para o respeito às normas trabalhistas

devem preceder à penalização, que não dá oportunidade do infrator adequar-se às

normas vigentes, sem amargar um prejuízo financeiro, que agrava, ainda mais, os

conflitos de interesses entre capital e trabalho.

Com efeito, embora os Auditores Fiscais, em sua maioria, travem

diariamente uma luta para dar cabo das inúmeras denúncias que recebem dos próprios

trabalhadores, dos sindicatos e mesmo do Ministério Público do Trabalho, o resultado

de suas ações nem sempre vem ao encontro do anseio social, isto porque o trabalhador,

151SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit. p. 219 .

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diante da multa imposta ao patrão, guarda para si um sabor de insatisfação quanto à

efetivação de seu direito que, na maioria dos casos, continua desatendido. O

empregador, por outro lado, desespera-se, muitas vezes, diante da impossibilidade de

cumprimento da norma, agravada pelo ônus decorrente da autuação. A sociedade

perde, de modo geral, uma vez que o conflito existente entre as partes permanece. O

que se vê, portanto, é que o auto de infração, encarado como único instrumento de

efetivação da norma, nem sempre se mostra eficiente na obtenção do escopo maior que

deve ser buscado pela Inspeção do Trabalho: a manutenção da paz e justiça sociais,

traduzido pela observância do ordenamento jurídico vigente.

Na busca do escopo acima referido, a Mesa de Entendimento instituída

apresenta-se como mais um instrumento de que dispõe a fiscalização para o

cumprimento de suas obrigações.

Apreende-se na referida Instrução Normativa, tratar-se de uma alternativa,

não de uma obrigação.152 A decisão quanto a instauração ou não de uma Mesa de

Entendimento cabe precipuamente ao Auditor responsável pela ação Fiscal. Esta

discricionariedade é salutar, porquanto não obriga um procedimento em casos em que

a experiência, o histórico do empregador não propicia um entendimento, o que levaria

ao descrédito a atuação dos auditores.

O Auditor, dentro de sua capacidade, decidirá, conforme o caso, após um

diagnóstico, qual o instrumento mais eficaz a ser aplicado para atender as finalidades

do bem comum, sem, entretanto, perder de vista que o trabalhador não pode sofrer

prejuízos. Assim por exemplo, se o Auditor Fiscal constatar que a questão importa em

grave e iminente risco para o trabalhador, não poderá indicar o procedimento da Mesa

de Entendimento, conforme determina o § 2º do art. 1º da Instrução Normativa nº 23

de 23 de maio de 2001.

O procedimento da Mesa de Entendimento, portanto, é recomendado ao

Auditor-Fiscal do Trabalho - AFT, visando a compelir o empregador a sanear

152 Ibidem, p. 220.

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irregularidades de difícil solução153 durante a ação fiscal ou pela Chefia da

Fiscalização, para atender o planejamento das ações fiscais.

A Mesa de Entendimento deverá ser instalada no Ministério do Trabalho e

Emprego, e deverá ser precedida de comunicação ao Delegado Regional do Trabalho.

Os participantes da Mesa terão um prazo de 30 dias, contado da primeira

reunião, para concluir os trabalhos, podendo, no entanto, a critério da Coordenação da

Mesa, se prorrogado por 30 dias.

Findo o trabalho, os participantes firmarão um termo de compromisso,

contendo as cláusulas objeto do entendimento, e será fixado um prazo de 120 dias para

o saneamento das irregularidades.

Com escopo de dar efetividade ao Termo de Compromisso, durante o prazo

fixado para saneamento das irregularidades, o empregador será fiscalizado para a

verificação do cumprimento de suas cláusulas, sem prejuízo da fiscalização rotineira

de atributos não contemplados no referido Termo.

Caso o empregador venha desatender a convocação para a Mesa de

Entendimento, ou recusar-se a firmar Termo de Compromisso ou, ainda, descumprir

qualquer cláusula do Termo de Compromisso sofrerá fiscalização reiterada e se

persistir nas irregularidades, o Auditor Fiscal encaminhará ao coordenador da Mesa de

Entendimento relatório circunstanciado, com cópia dos autos de infração lavrados, no

prazo de trinta dias contados do início da ação fiscal, que por sua vez serão

encaminhados pelo coordenador para o Delegado Regional do Trabalho e Emprego,

que expedirá comunicação ao Ministério Público do Trabalho.

A instituição da Mesa de Entendimento, portanto, traduz em uma nova

postura da Fiscalização do Estado, propiciando a solução de conflitos trabalhistas já

em seu nascedouro. É sabido que no Brasil os trabalhadores, em sua grande maioria,

153 O § 1º do Art. 1º da Instrução Normativa n. 23 define o que é irregularidade de difícil solução: “Considera-se de difícil solução a situação em que o empregador não se adequar às normas trabalhistas, seja por recalcitrância, seja pela conclusão do AFT da existência de motivo grave ou relevante que venha impossibilitando a adequação.”

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ajuízam reclamação trabalhista somente quando já se encontram desempregados, o que

não significa inexistência do conflito antes da ruptura contratual. Embora seja

explicitado nessa oportunidade, o conflito já existe de forma latente, no curso do

contrato, quando pode agir a fiscalização. Obtida a efetivação de um direito

descumprido pelo empregador durante a vigência de um contrato de trabalho,

soluciona-se o conflito, impedindo-o de desaguar numa Justiça do Trabalho já

profundamente sobrecarregada.

Sob todos os enfoques, portanto, a adoção de um novo perfil da Inspeção do

Trabalho propiciará o resgate de sua função institucional perfilhada

internacionalmente e consagrada na Convenção 81 da OIT, restabelecendo, inclusive,

a necessária sintonia entre a instituição e o Direito do Trabalho que ela propõe tornar

efetivo.

É bom que se diga, de outra parte, que a instituição da Mesa de

Entendimento não visa retirar do Inspetor do Trabalho o seu poder de polícia. Quando

investido de suas funções, representa o braço do Estado na manutenção da ordem e do

respeito às normas legais vigentes, dispondo, por isso mesmo, da capacidade de impor

sanções. O que se pretende é dotar o Ministério do Trabalho e Emprego de mais

instrumentos, ao lado dos já existentes, para permitir-lhe novos caminhos que levem,

efetivamente, ao atendimento das demandas da sociedade que ele busca proteger,

compondo, assim, os conflitos exsurgentes.

5.6 OS TERMOS DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Semelhante o que ocorre nas Mesas de Entendimento promovidas pela

Fiscalização Trabalhista, o Ministério Público do Trabalho formaliza adequação

consensual entre os integrantes de uma relação de emprego para cumprimento dos

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comandos legais violados, cujo instrumento recebe a denominação de Termo de

Compromisso de Ajustamento de Conduta – TAC, que possui eficácia de Título

Executivo Extrajudicial, conforme veremos a seguir.

Como é cediço, o Ministério Público do Trabalho, da mesma forma que o

Ministério Público em geral, vale-se do instrumento do inquérito civil público para

promover a investigação e o levantamento de provas, quando há notícia de

descumprimento a direitos sociais trabalhistas difusos, coletivos ou individuais

homogêneos e também lesão à ordem jurídica. Ocorre, amiúde, que o inquérito

termina porque a parte inquirida resolve, voluntariamente e por consenso com o

Ministério Público, adequar-se aos ditames da ordem jurídica, firmando o Termo de

Compromisso de Ajustamento de Conduta ( TAC).

O TAC encontra-se sistematizado no art. 5º, § 6º da Lei nº 7.347, de 24 e

julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública), introduzido pelo art. 113 da Lei nº 8.078,

de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Consoante sistemática da Lei nº 9.958, de 12 de janeiro de 2000, que alterou

o art. 876 da CLT, os Termos de Compromisso de Ajustamento de Conduta, que neste

diploma legal recebeu redação de “Termos de Ajuste de Conduta”, firmados com o

Ministérios Público do Trabalho, foram considerados títulos passíveis de execução na

Justiça do Trabalho.

Os TACs são, sem nenhuma dúvida, meios extrajudiciais de composição de

conflitos com natureza jurídica de título executivo extrajudicial (art. 585, inc. II do

CPC, c/c art. 876, da CLT e Lei nº 8.078, de 1990, art. 113 c/c Lei nº 7.347, de 1985,

art. 5º, § 6º).

Como meio extrajudicial de composição de conflitos, a natureza jurídica da

técnica, ou da atividade desenvolvida pelos TACs pode, segundo escólio de Lutiana

Nacur Lorentz, “ter a forma de autocomposição (quando o Ministério Público do

Trabalho é parte), ou de mediação (quando o Ministério Público é um terceiro entre as

partes), ou de arbitragem (também no caso do Ministério Público ser um terceiro entre

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as partes).”154

Impende ressaltar, entretanto, que atividade arbitral redunda à prolação de

uma sentença arbitral que careceria de executibilidade, já que existe regra jurídica

restritiva de admissão de títulos executivos no processo trabalhista, nos exatos termos

do art. 876 da CLT. Assim sendo, embora a técnica da arbitragem seja possível perante

ao Ministério Público do Trabalho, esta deverá tomar forma jurídica de TAC, com

escopo de conferir executibilidade ao instrumento perante a Justiça Trabalhista.

Como método alternativo de composição de conflitos trabalhistas, Lutiana

Nacur Lorentz destaca o dever do respeito aos princípios tutelares do direito do

trabalho, aduzindo que:

“Porém, ressalte-se que em ambos os casos, ou seja, tanto no caso de o TAC traduzir uma atividade, tanto técnica de mediação quanto de arbitragem (nesta principalmente, porque importa numa decisão), tais atividades só poderão ser desenvolvidas com total respeito aos princípios basilares do direito do trabalho, da proteção, da indisponibilidade e da imperatividade, sob pena de nulidade do termo.”155

Urgi ressaltar que o Ministério Público num inquérito e diante de um

investigado não defende direitos próprios, mas, dentro de suas prerrogativas, direitos

difusos, coletivos, ou individuais homogêneos ( Lei nº 8.078, de 1990, art. 81, incisos I

a III), na hipótese de o TAC desenvolver a atividade de uma autocomposição, ao

mesmo somente é permitido fazer concessões sobre o modo, tempo e lugar, enfim, as

condições para que o investigado cumpra as normas legais, de maneira completa, ou

seja, restitua o respeito aos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos,

sendo-lhe defeso transacionar sobre o conteúdo das regras, que redundaria em

ilicitude, dado o caráter de extrema indisponibilidade material do direito envolvido,

154 LORENTZ, Lutiana Nacur. Métodos Extrajudiciais de Solução de Conflitos Trabalhistas. São Paulo: LTr, 2002. p.102 155 Ibidem, p 102.

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neste sentido, Mancuso156 e Correia157.

Ponto importante e que tem gerado dissenso entre alguns doutrinadores é

questão de saber quem, além do Ministério Público, é parte legítima para celebrar

termo de ajuste de conduta – TAC.

Consoante o art. 5º, da Lei nº 7.347, de 24 de junho de 1985, O Ministério

Público, a autarquia, a empresa pública, fundação, sociedade de economia mista ou

associação podem propor Ação Civil Pública.

Por sua vez, o parágrafo 6º do art. 5º da lei em comento, estabelece que “os

órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de

ajustamento de conduta”.

É forçoso questionar, em face da redação do art. 5º, da Lei nº 7.347, de 24 de

junho de 1985, se todos os legitimados para moverem Ação Civil Pública estariam

também legitimados para celebração de termos de ajuste de conduta ?

Para alguns autores como José Marcos Rodrigues Vieira158 e Zoraide Amaral

de Souza159, a resposta é positiva, reconhecendo que tanto o Ministério Público, quanto

a administração pública direta, indireta e fundacional e as associações poderiam

celebrar, validamente, termos de ajuste de conduta.

Diferentemente, Lutiana Nacur Lorentz160 e Hugo Nigro Mazzilli161,

entendem que as associações (e, por conseqüência, os sindicatos) não poderiam

celebrar termos de ajuste de conduta, porque a regra jurídica limitou tal prerrogativa

aos “órgãos públicos legitimados. Da mesma forma a administração indireta, ou seja,

empresas públicas e sociedades de economia mista e seus órgãos também não teriam

156 MANCUSO, Rodolfo de Carmargo. Ação Civil Pública. 5ª ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997, pp. 177-178. 157 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves. Direito Processual Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1998, pp. 29-30. 158 VIEIRA, José Marcos Rodrigues. Ação Civil Pública. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, pp. 229-230. 159 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit. p. 222. 160 Ibidem, p. 108. 161 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 11ª ed., São Paulo: Saraiva, 1999, pp. 205-207 .

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legitimidade, isto porque não têm natureza jurídica pura de “órgãos públicos”, tendo

em vista seus objetivos de lucro e não de proteção ao interesse público, na forma do

art. 173 da Constituição do Brasil.

Este trabalho comunga o entendimento da legitimidade da Administração

Indireta e das associações, isto porque, em que pese a redação do §6º do art. 5º da Lei

nº 7.347, de 24 e julho de 1985 referir-se expressamente que “os órgãos públicos

legitimados”, não é da melhor hermenêutica a utilização da interpretação literal, mas

sim a sistemática e teleológica. Sem querer aprofundar muito nesta ciência,

acreditamos que a velha máxima “de quem pode o mais, pode o menos”, permite uma

interpretação que o espírito da lei foi o de ampliar o leque dos legitimados e não

restringir, harmonizando-se com o paradigma do Estado Democrático do Direito

adotado em nosso modelo Constitucional.

Do exposto, considerando-se, ainda, a importância e necessidade de

estímulos ao desenvolvimento de métodos alternativos de solução de conflitos e, mais

ainda, a necessidade de controle e educação para o cumprimento das normas públicas

das relações de trabalho, os TACs apresentam-se como importantíssimo instrumento

jurídico que devem ser utilizados, não só pelo Ministério Público do Trabalho, mas

por todos os demais legitimados para ação civil pública, ampliando a possibilidade de

composição de conflitos por "outros mecanismos", no dizer de Zoraide Amaral162, sem

ser pela via Judicial.

162 Ibidem, p. 223.

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6. A JUDICIALIZAÇÃO DO CONFLITO DE INTERESSE

TRABALHISTA

A judicialização dos conflitos de interesses, expressão forjada pela

sociologia jurídica, significa a transferência do conflito social para o judiciário163,

dando início ao ativismo judicial ao mesmo tempo em que as autoridades

administrativas adotam procedimentos semelhantes aos judiciais164. Representa a

crescente invasão do direito na organização da vida social e política165. O surgimento

de novos direitos difusos e coletivos, de novos procedimentos judiciais como o juizado

de pequenas causas, de novos poderes como os do atual Ministério Público, todos em

função da democratização que culminou no Brasil com a Constituição Federal de

1988, têm contribuído para a judicialização crescente das relações sociais em nosso

país.

O direito do trabalho sempre foi considerado pioneiro na formulação de um

direito especial, que quebrou o aspecto formal e individualista do próprio direito,

desformalizando-o , através de sua feição coletiva e de proteção. Podemos afirmar que

a judicialização começou cedo na Justiça do Trabalho, fruto da ascensão dos

movimentos reivindicativos de classe, principalmente por meio dos sindicatos. Nas

décadas de 30 e 40 surgiram o direito coletivo do trabalho, a ação coletiva trabalhista,

as juntas de conciliação e julgamento com representação de empregados e

empregadores e com ritos rápidos e diretos. Os conflitos de classe foram 163 SORJ, Bernado. A Nova Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, p. 114 164 TATE, Neal e VALLINDER, Torbjorn. The Global Expansion of Judicial Power. New York: New York University Press. 1995, p. 32. 165 VIANNA, Luiz Werneck. A Judicialização da Política e das Relações Sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Revan. 1999, p. 45.

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encaminhados para a Justiça do Trabalho com objetivo de serem solucionadas por

meio pacífico. Oliveira Vianna166, um dos principais mentores da Justiça do Trabalho,

defendia-a enquanto “entidades administrativas providas de processualidade própria”.

Por outro lado, o fato de poder criar regras - o poder normativo a ela conferido -

também feriu a tradicional independência dos três poderes. O sucesso dessa justiça foi

tão grande que com a Constituição Federal de 1946 passou a integrar o Poder

Judiciário, levando para seu interior mecanismos participativos, embora corporativos.

Os novos direitos da época eram os direitos trabalhistas. Hoje, no entanto,

houve uma inversão com o surgimento de novos direitos coletivos difusos e que

procuram defender interesses de cidadania, mais voltados para setores discriminados e

para valores culturais e ambientais. Alguns dos novos interesses coletivos chegam a se

chocar com os dos trabalhadores, especialmente por meio da contraposição entre

indústria e meio ambiente. O próprio mundo do trabalho perde historicamente sua

importância.

Na segunda metade do século XX ocorreram fortes transformações nas

relações de trabalho. Algumas análises167 apontam para o fato do mundo ter vivido os

chamados 30 anos gloriosos do final da Segunda Guerra até a crise do petróleo na

década de 70. O Estado do bem-estar social entra em crise por ter aumentado suas

despesas com a redução da receita.

As transformações do mundo do trabalho são fruto da automação na

indústria, tornando-se desnecessária a constituição de grandes parques industriais com

enorme quantidade de operários. Assim, da mesma forma que o setor primário cedeu

espaço ao setor secundário, agora este cede espaço ao setor terciário, mais concentrado

no mercado que na produção. O tema “mundo do trabalho”, que envolve as relações de

trabalho, a organização sindical e a jurídica passa a ser questionado. Há certo consenso

sobre a diminuição da importância do trabalho fabril e operário no contexto

166 VIANNA, Oliveira. Problemas de Direito Corporativo. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora. p. 102 167 Castel, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes. P. 129 ss.

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internacional. O fim do trabalho passa a ser profetizado168, como já o fora a História.

Outras análises procuram demonstrar que tais mudanças correspondem às novas

formas de exploração do trabalho, de exclusão social, com objetivo de abrir o mercado

e enfraquecer o Estado. Esta análise, segundo Ricardo Antunes169, é bem aceita no

Brasil.

Mais especificamente no âmbito das relações de trabalho, destaca-se a

redução do fordismo, que impunha ritmo de produção cadenciado. O cenário da

relação entre capital e trabalho deixa de ser o da grande concentração fabril, para

entrar em cena a acumulação flexível170. Em países como o Brasil aumentou o que

passou a ser chamado de terceirização e precarização do trabalho, com destaque ao

aumento da informalidade do trabalho, rotatividade de mão-de-obra e desemprego.

Diversos postos de trabalho e até categorias inteira de trabalhadores são suprimidos, o

que reflete no enfraquecimento dos sindicatos, principalmente os dos trabalhadores

mais braçais.

No âmbito internacional, com o fim dos regimes do bloco comunista e com a

hegemonia capitalista, o paradigma capitalista passou a ser o do tipo asiático, sem leis

protetoras do trabalho e com a conseqüente prevalência das leis do mercado. Esses

acontecimentos influenciam o direito do trabalho, que sempre foi calcado no princípio

da proteção do trabalhador. Teses a favor da livre negociação contratual, da

flexibilização contratual, crescem no campo do direito. No Brasil, no final do ano de

2001 a Câmara, sob caloroso debate e com enorme acompanhamento da mídia, aprova

o projeto de flexibilização da CLT (PL 5.483/01). Mas com a eleição de Lula o projeto

foi arquivado. Em agosto de 2003 o projeto de terceirização (PL 4.302/02) só não foi

aprovado em função da constituição do Fórum Nacional do Trabalho, onde o governo

pretende concentrar os debates da reforma trabalhista. Todavia, a MP 130 de 168 RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos. São Paulo: Makron Books, 1996, p. 28. 169 ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses do mundo do trabalho. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 1997, p. 54. 170 HARVEY, David. Condição pós-moderna. Uma Pesquisa sobre as Origens da Mudança Cultural. Trad. Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Edições Loyola, p. 135 e ss.

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17.09.2003 veio a permitir o desconto em folha de dívidas de empréstimos a serem

feitos pelos trabalhadores em instituições financeiras, o que enfraquece um antigo

princípio de impenhorabilidade do salário.

Este fenômeno político, social e econômico de grande e rápidas

transformações tem contribuído para a judicialização crescente das relações de

trabalho, redundando numa crise sem precedentes na Justiça do Trabalho, conforme

análise no tópico seguinte.

6.1 A CRISE NA JUSTIÇA

A antiga e generalizada queixa contra a ineficiência do Judiciário brasileiro,

incluída a Justiça do Trabalho, principalmente em razão de sua exagerada morosidade,

não é problema característico apenas do Brasil, mas sim uma certa universalidade,

conforme atesta Barbosa Moreira:

"Sem de longe insinuar que isso nos sirva de consolo, ou nos permita dormir o sono da boa consciência, ouso assinalar que o problema é praticamente universal e alarma não poucos países do chamado primeiro mundo. Há décadas freqüento congressos internacionais de Direito Processual e não assisti a nenhum em que não ouvisse a propósito gemidos e lamentações, vindos dos mais diversos quadrantes." 171

Este fenômeno emblemático desenvolve-se a partir do momento em que o

Estado moderno, sobretudo a partir do século IX, não mais adota o pensamento liberal,

segundo o qual deve agir como mediador de conflitos individuais e sociais.

Prevalecem, hoje, as idéias do Estado Social, que tem como meta o bem comum,

intervindo, quando necessário, na ordem social e na ordem econômica. A Constituição

171 MOREIRA, José Carlos Barbosa. O futuro da justiça. Alguns mitos. Rio de Janeiro: Revista da Associação dos Magistrados Brasileiros, V.4, n.8. p. 7, 1º sem. 2000

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da República Federativa do Brasil de 1988 destaca claramente seus objetivos sociais

nos artigos 1º, 3º e 193, incluindo-se a função jurisdicional, pela qual se visa realizar a

justiça.

Consoante advertem Cintra, Grinover e Dinamarco, o Estado moderno, hoje,

tem como escopos: a ordem econômica, a ordem política e a ordem social. Prosseguem

os autores aduzindo:

“A pacificação é o escopo magno da jurisdição e, por conseqüência de todo o interesse processual (uma vez que todo ele pode ser definido como a disciplina jurídica da jurisdição e seu exercício). É um escopo social, uma vez que se relaciona com o resultado do exercício da jurisdição perante a sociedade e sobre a vida gregária dos seus membros e felicidade pessoal de cada um (...) Afirma-se que o objetivo síntese do Estado contemporâneo é o bem-comum e, quando se passa ao estudo da jurisdição, é lícito dizer que a projeção particularizada do bem comum nessa área é a pacificação com justiça.” 172

Neste sentido, o Brasil é um Estado Democrático de Direito (art. 1º, CF/88),

social (CF/88, arts. 1º, 3º, 5º, 7º, 8º, 193 etc.), voltado à realização do bem-comum ou

dos anseios sociais.

Entretanto, a realidade impõe verdades que devem ser reconhecidas e

debatidas. O formalismo processual já não mais acompanha a evolução e as alterações

céleres do comportamento social, da tecnologia de toda gama, das relações sociais e

jurídicas multifacetárias. A construção doutrinária acerca da jurisdição monopolítica

do Estado envelheceu. Fustigada pela realidade das relações humanas, do comércio

jurídico ou das relações jurídicas originadas da criação do gênio humano, exige

constante renovação e agilização, visando soluções céleres aos constantes conflitos

exsurgentes, tornou impensável o acesso à Justiça tal como se vêem modelados o

processo e o procedimento, ambos dotados de burocracia dispendiosa, desnecessária e

morosa, por conta de excessos ou rigorismos formais, ou sob o pálio do embuço da

172CINTRA Antônio Carlos de Araújo, GRINOVER Ada Pellegrini e DINAMARCO Cândido Rangel. Op. cit., p. 25.

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proteção recursal revisional, exacerbada, porém, na sua teleologia.

Barbosa Moreira, escrevendo (na década de 80) sobre as tendências do

Direito Processual Civil, a esse respeito assevera, também, que:

"O trabalho empreendido por espíritos agudíssimos levou a requintes de refinamento a técnica do direito processual e executou sobre fundações sólidas projetos arquitetônicos de impressionante majestade. Nem sempre conjurou, todavia, o risco inerente a todo labor do gênero, o deixar-se aprisionar na teia das abstrações e perder o contato com a realidade cotidiana (...). sente-se, porém, a necessidade de aplicar com maior eficácia à modelagem do real as ferramentas pacientemente temperadas e polidas pelo engenho dos estudiosos."173

Assim é de reconhecimento geral que o monopólio do Estado-juiz já não

mais atende aos anseios dos jurisdicionados, razão porque outras formas jurídico-

processuais ou procedimentais devem ser postas em prática, sob pena de colapso na

prestação e na entrega da prestação jurisdicional, e de tornarem ínvias as atividades de

juízes, advogados e servidores do judiciário. Melhor disse Sálvio de Figueiredo

Teixeira, historiando a evolução da composição dos litígios individuais, escrevendo:

“A atividade processual (...) somente veio a definir-se como ramo do Direito em meados do século passado [XIX], na Europa Central, com o denominado ‘processualismo científico’, de onde tiveram início as grandes construções doutrinárias, até desaguar na fecunda fase atual do processo contemporâneo, com suas ‘ondas’, suas tendências e busca de soluções mais rápidas e eficazes, hoje uma inquietação mundial, ante a triste realidade da ineficiência das decisões judiciais, ensejada sobretudo pelo arcaísmo das organizações judiciárias e pela inexistência de órgãos permanentes de planejamento e reflexão no universo estatal do Judiciário.” 174

173 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Tendências contemporâneas do Direito Processual Civil. São Paulo: In

Revista de Processo, n. 31, jul./set. 1983. p. 199-209. v. 8. 174 TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. Op. cit. p.22.

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Neste sentido, João Oreste Dalazen, já há muito pugnava:

“a Justiça do Trabalho e o processo do trabalho brasileiros vivem uma crise estrutural sem precedentes: concebidos para outorgar justiça distributiva com agilidade e presteza, têm hoje, como tônica, paradoxalmente, uma dramática morosidade, exibindo pontos de estrangulamento insuportáveis à sociedade”175

Embora sejam amplos e fecundos estudos sobre alternativas de reformas do

processo, com escopo principal de maior celeridade e efetividade, as inúmeras

propostas sugeridas, quase sempre, encontram barreiras de difícil transposição,

sobretudo no que diz respeito ao princípio constitucional da ampla defesa e devido

processo legal. Cappelletti e Garth, discorrendo sobre o presente tema, também,

revelam esta preocupação, advertindo que:

"O maior perigo que levamos em consideração ao longo dessa discussão é o risco de que procedimentos modernos e eficientes abandonem as garantias fundamentais do processo civil – essencialmente as de um julgador imparcial e do contraditório."176

Com razão, uma justiça célere, panacéia mundialmente almejada, nem

sempre traduzir-se-á em uma prestação jurisdicional de efetiva qualidade, quando

reduz o contraditório e, via de conseqüência, aumenta o arbítrio do juiz – que no caso

brasileiro, de forma crescente, padece de confiabilidade, sobretudo pelo seu

despreparo e desapego às questões sociais dos conflitos humanos revelados nos

processos.

Conquanto reconheça-se a pertinência e relevância do embate sobre a

reforma processual, é, entretanto, inviável neste estudo o aprofundamento destas

propostas, teses e antíteses, que clamariam um estudo específico neste sentido, o que

175 DALAZEN, João Oreste. Reforma do processo trabalhista. In: Revista do Direito Trabalhista, Brasília: Consulex, ano V, n. 10, p. 16-21, 30 de Outubro de 1998. 176 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Op. cit. p. 163.

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desviaria o foco do presente trabalho. Não poderíamos, entretanto, deixar de registrar

que imputar ao sistema processual vigente como o vilão maior da causa da

morosidade da prestação jurisdicional brasileira é desviar a atenção, fechando os olhos

para outras causas que efetivamente contribuem para o colapso e conseqüente

morosidade da justiça. Ocorre que ao estudar as valiosas contribuições dos

processualistas no sentido de modernização processual, a nossa realidade e vivência

cotidiana no mundo forense deixa-nos uma estranha sensação de engodo, aumentando

nossa perturbação e inquietude. Afinal, o grande embate desenvolvido por parte dos

processualistas redunda numa formulação jurídica dogmática, como se o direito não

dependesse dos juízes, dos escrivães e dos oficiais de justiça, da esperteza dos

advogados e do senso moral de todas esses atores que compõem o grande teatro da

prestação jurisdicional.

Neste sentido, J. J. Calmon de Passos, com uma linguagem direta e

surpreendente, adverte:

“Diz_se tudo como se o cotidiano do foro e da vida social inexistissem ou, existindo, fossem irrelevantes, para o direito, quando a verdade única é justamente inversa ou seja, a de que enquanto permanecer gravemente enferma a nossa sociedade brasileira nenhuma ordem jurídica formal será salutar. Abstrair o social, o econômico, o político para parolar sobre o direito é incidir, em última análise, na falta de senso, para não dizer cinismo, daquele bêbado, que depois de haver, na véspera, ingerido garrafas e garrafas de vodka, intervalando muitas doses com o mastigar de algumas azeitonas solitárias, maldizia_se, diante da ressaca braba, que ameaçava vitimá-lo: Malditas azeitonas, malditas azeitonas! Nós, que temos perfeita ciência dos problemas graves que emperram a efetivação do direito entre nós, todos eles de origem estranha à dogmática jurídica, quando nos comprazemos em criticar os procedimentos e processos, as normas e os conceitos, em verdade nada mais estamos fazendo que camuflar o "porre" que tomamos, impotentes ou indiferentes diante dos problemas que realmente são problemas, atribuindo toda a culpa às formas e aos procedimentos, isto é, às pobres e inocentes azeitonas referidas pelo bêbado, mentindo a ele próprio e aos outros, mas faltando à verdade sem proveito nenhum, porque porre é porre e não é maldizendo as azeitonas que escaparemos do risco de nos termos deixado embebedar sem medida e sem controle.177

177 PASSOS, José Joaquim Calmon. A crise no Processo de Execução. São Paulo: Revista de Processo, 55/67 – 2001.

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De fato, ao ater-se apenas nos dogmas processuais, atribuindo-lhes toda a

culpa, ignorando as raízes do cotidiano social, econômico, político, sendo impossível

colher-se justiça onde impera a opressão, retidão de julgamento, onde campeia a

corrupção do bolso e do coração, senso de responsabilidade quando a coisa pública se

torna "cosa nostra" e quando se busca mais ter do que ser, agimos com cinismo ou

como tabaréus diante de tão graves problemas que contribuem de forma indissolúvel

para o colapso da máquina judiciária.

Dentro deste contexto, não poderia deixar de destacar a atuação da

magistratura como elemento de agravo da prestação jurisdicional, tendo em vista que

nas palavras de José Renato Nalini178 “o déficit de eficiência reconhecido como única

mácula consensual à administração da justiça resulta do anacronismo das idéias ainda

imperantes no universo jurídico”. Referido Autor em sua vivência como

desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, discorrendo sobre a reforma do

judiciário obtempera ser de suma importância a instalação da Escola Nacional de

Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados, a funcionar junto ao STJ, asseverando,

ainda, que:

"Se não houver um novo paradigma de juiz, não haverá reforma capaz de redesenhar a justiça brasileira.

...................................................................................................................... Essa missão atribuída à Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados. Dentre outras funções – ela será de fato um organismo voltado à educação da Magistratura – incumbe-lhe regulamentar os cursos oficias para o ingresso e promoção na carreira.

A dúplice incumbência é prenhe de relevância. A existência de cursos oficiais para ingresso na carreira pressupõe a necessidade de preparação do candidato à Magistratura. Não é tarefa da universidade oferecer juízes prontos e acabados para o Poder Judiciário. Este é que deve se encarregar do modelo de preparo – prévio ao concurso – para recrutar os quadros mais habilitados ao exercício da jurisdição no século XXI."179

178 NALINE, José Renato. Reforma do Judiciário: seqüência inadiável. Curitiba: Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, ano VI, n. 34, p 19, mar/abr. 2005. 179 Id., p. 20

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Nesta mesma esteira de pensamento que aqui se defende, urge perfilhar a

anotação de Santis Garcia em relação a magistratura, não só no aspecto jurídico, mas

também em seus aspectos psicológicos e sociológicos, onde assevera que:

"A rigor a preparação deste deveria começar nas próprias faculdades de Direito, não só no que diz com o aprimoramento do ensino, como no tocante a cursos e seminários especialmente dedicados à atividade jurisdicional, em nível de graduação ou de pós-graduação. Neles se daria atenção não apenas ao preparo jurídico, mas também aos aspectos psicológico e sociológico envolvidos no desempenho da judicatura, em termos de apurar no candidato as qualidades imprescindíveis ao seu exercício, que são, como lembra Pajardi, o equilíbrio, a firmeza de caráter, a objetividade, a imparcialidade, a resistência às sugestões, uma particular saúde psíquica, uma certa imunidade à emoção não separada de uma intensa humanidade, uma capacidade sã de crítica do comportamento humano, dentre outras."180

Quadra asserir, por pertinente, o escólio de José Renato Nalini:

"A convicção de que o profissional juiz precisa ser preparado e não resulta de geração espontânea é uma das idéias mais fecundas do século passado. Talvez a única chave capaz de transformar o Judiciário, de instituição acometida de certo autismo, em serviço público eficiente. O déficit de eficiência reconhecido como única mácula consensual à administração da justiça resulta do anacronismo das idéias ainda imperantes no universo jurídico.

A formação do profissional do direito continua centrada no positivismo, com uma visão puramente formal do positivismo legalista. Em lugar de uma cultura concreta da vida, erigiu-se uma cultura abstrata e dogmática. Em conseqüência, triunfou a burocracia como valor, e o sistema de justiça elevou-se à categoria de instituição e passou a ser considerado fim em si mesmo."181

De fato esta instituição autista posiciona-se distante dos destinatários da

atuação judicial mantendo os cidadãos à margem de sua funcionalidade. Quando,

entretanto, provocados a conectarem-se ao mundo real para efetivamente redundar em

um serviço público eficiente, o judiciário, em coro, justifica-se sob o auspício do

180 GARCIA, Dinio de Santis. A crise da justiça e suas causas. São Paulo: Revista da Escola Paulista da Magistratura, ano 1, n. 1, p. 162, set/dez. 1996. 181 NALINI, José Renato. Op. cit., p. 17.

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número reduzido de magistrados e serventuários e o elevado número de processos.

Este canto de sereia que seduz muitos autores de escol não traduz e muito menos serve

de justificativa para o mal que impera, de forma crescente, no colapso do judiciário.

Ao que parece, está vingando a velha receita nazista “repita uma mentira muitas vezes,

o quanto possível; enfim, ela vira uma verdade absoluta” . Embora reconheça-se que

faticamente há um número excessivo de processos, a desculpa, cada vez mais

crescente, do número de juiz não suporta a demanda processual deve ser revista e

observada com atenção e censo crítico, onde perceber-se-á que tal justificativa não

procede, ou, se procede, não o é na intensidade e efeitos propagados, tanto que,

segundo o então Presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, em entrevista

a Revista Veja , declarou que:

“na comparação com dados globais, o número de juízes no Brasil - 7,7 para cada 100.000 habitantes -, é superior à média internacional. No tocante a servidores do Judiciário, há uma quantidade até exagerada, mais do que o dobro da média de outros países. Apurou-se mais que os juízes constituem a categoria com maior padrão de vencimentos em nosso país.”182

Não obstante esses dados, ficou constatado que a justiça brasileira leva em

média doze anos para julgar um processo. Nossos magistrados, em que pese seu

elevado padrão de vencimentos, não mais dedicam-se com exclusividade à judicatura.

Dedicam-se longo tempo na produção de artigos, livros, palestras e na docência183

reduzindo, desta forma, seu tempo dedicado aos processos – é um contra-senso.

Comportam-se e lembram aquela péssima imagem que o funcionalismo público revela

ao povo brasileiro, qual seja: querem altos salários, sem entretanto, com as devidas

exceções, trabalhar.

182 Revista Veja, Ed. 09.05.2005 “O raio X da Justiça” , p. 44-47. 183 Há que se reconhecer que em relação a docência, embora ocupe o prazo de dedicação do magistrado aos processos, traz benefícios no sentido de atualização e aprofundamento dos dogmas, além da aproximação com o pensamento contemporâneo do mundo acadêmico.

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Este panorama crítico tende a piorar na Justiça do Trabalho, em face da

Emenda Constitucional de nº 45, conforme passaremos a seguir analisar.

6.2 OS EFEITOS DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004

A Emenda Constitucional nº 45, de 08.12.2004, publicada em 31.12.2004,

com vigência imediata, segundo dispõe seu art. 10, determinou profundas mudanças

no Poder Judiciário, com destaque especial para a competência da Justiça do Trabalho,

significativamente ampliada, atendendo aos percucientes reclamos da comunidade

jurídica nacional, sobretudo dos magistrados trabalhistas, que lutaram, e muito, pelo

fortalecimento político, em face ao temor pelas propostas de extinção desta Justiça

Especializada, conforme reconhece Oreste Dalazen, em artigo sobre este tema:

"Por derradeiro, havia uma justificativa política, sumamente relevante, em favor da ampliação da competência da Justiça do Trabalho: a necessidade de fortalecimento político da instituição, de uns tempos a esta parte com balida pela proposta de extinção. E esse fortalecimento se alcançou alargando-se os domínios da Justiça do Trabalho para o dissídio individual. Naturalmente, competência é poder."184

Impende observar que quando o Autor acima assevera que “competência é

poder” confirma um infundado, mas persistente e mal disfarçado complexo de

inferioridade dos magistrados trabalhistas, diante dos juízes de direito que somado ao

justificado temor decorrente da ameaça de extinção da Justiça do Trabalho, levou este

segmento a uma luta intensa, promovida pela ANAMATRA (Associação Nacional dos

Magistrados Trabalhista) junto ao Congresso Nacional para ampliação da competência

material, forma mágica encontrada para ganhar prestígio e combater o propósito

neoliberal de extinção.

184 DALAZEN, op. cit. p. 54.

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Deixando-se de lado as motivações políticas acima, a bem da verdade,

historicamente falando, a Justiça do Trabalho já possuiu competência para processar e

julgar os processos oriundos de questões que envolvessem diaristas e mensalistas da

União, dos Estados, do Distrito Federal, dos territórios, dos municípios e das entidades

autárquicas, que trabalhassem nas suas organizações econômicas, comerciais ou

industriais em forma de empresa, desde que não fossem funcionários públicos ou não

gozassem de garantias especiais, até que a Lei nº 1.890, de 13.06.1953, retirou diversas

destas questões do âmbito da competência material da Justiça do Trabalho. Algumas

matérias relativas ao Instituto de Previdência Social já foram objeto de apreciação da

Justiça do Trabalho. A Lei nº 5.638, de 03.12.1970, modificada pela Lei nº 6.825,

22.09.1980, passou a atribuir à Justiça Federal comum a competência para decidir

ações trabalhistas em que fossem partes a União, suas autarquias e as empresas

públicas federais. Como se vê, estes são alguns exemplos de que a competência

material da Justiça do Trabalho foi se perdendo na linha do tempo.

Ocorre que a história mais uma vez demonstrou que todas as questões que

envolvem, direta ou indiretamente, a relação de trabalho - e não apenas a relação de

emprego - devem ficar concentradas em um único lugar, sendo este lugar, sem dúvida,

a Justiça do Trabalho.

O aumento da competência material da Justiça do Trabalho já vinha se

alargando em termos de interpretação doutrinária e em sede de aplicação

jurisprudencial. Percebe-se, facilmente, a ocorrência gradativa de ampliação da

competência da Justiça do Trabalho. O Tribunal Superior do Trabalho tem abraçado a

tese ampliativa da competência por meio de diversas súmulas (antigos enunciados185),

como, ad instar, o de número 19 (quadro de carreira), o de número 189 (abusividade

de greve) e o de número 300 (cadastramento do PIS). Além de diversas orientações

jurisprudenciais a respeito deste aumento de competência, como nos dá notícia, por

185 Resolução TST nº 129, de 05.04.2005, DJU 20.04.2005, que altera a denominação dos verbetes da jurisprudência predominante do Tribunal Superior do Trabalho de "Enunciado" para "Súmula".

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exemplo, a Orientação Jurisprudencial nº 26 (complementação de pensão requerida por

viúva de ex-empregado), a Orientação Jurisprudencial nº 138 (competência residual,

transposição para o Regime Jurídico Único), a Orientação Jurisprudencial nº 141

(descontos previdenciários e fiscais), a Orientação Jurisprudencial nº 210 (seguro-

desemprego) e a Orientação Jurisprudencial nº 327 (dano moral).

Se a idéia já foi a de restringir a competência material da Justiça do

Trabalho, para limitá-la ao campo apreciativo das relações entre empregados e

empregadores, tal visão não mais se sustenta. Não há mais, no atual estágio em que

vivemos, justificativa plausível para a manutenção do entendimento no sentido de se

considerar a restritividade da Justiça do Trabalho no campo de sua atuação

jurisdicional.

A Emenda Constitucional nº 45, promulgada em 08.12.2004, em que pese as

motivações políticas, apenas cuidou de realizar um acerto de contas histórico,

devolvendo para a Justiça do Trabalho matérias que dela jamais deveriam ter saído,

além de ter-lhe acrescido outras tantas questões de competências.

Embora reconheça-se que historicamente a ampliação da competência

material da Justiça do Trabalho é o caminho lógico e natural vindicado pela

comunidade jurídica, sendo totalmente equivocada a interpretação dada por alguns

autores a redação do art. 114 da Constituição da República Federativa do Brasil no

sentido de restrição da competência ao litígios oriundos da relação de emprego, isto

porque o texto ora aprovado incorre em grave contradição, porquanto o inciso I do art.

114 declara competir à Justiça do Trabalho julgar os dissídios em geral emergentes de

“relação de trabalho”, já o inciso IX estatui que a Justiça do Trabalho pode julgar

“outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei”. Diante desta

redação defeituosa, poder-se-ia objetar que, se a competência da Justiça do Trabalho

para “relação de trabalho” repousará no próprio texto constitucional (inciso I), não

haveria por que se contemplar em outro inciso (IX) a possibilidade de a lei ordinária

estender essa competência a outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho.

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Poder-se-ia redargüir que de duas, uma: ou o inciso I alude impropriamente à relação

de trabalho, pretendendo referir-se tão-somente à relação de emprego, única

circunstância em que se compreenderia e justificar-se-ia a norma do inciso IX, ao

contemplar a possibilidade de a lei estender a competência para outras controvérsias

decorrentes da relação de trabalho, tal como sucedia em face da redação originária do

art. 114; ou o inciso I cometeu à Justiça do Trabalho competência para o litígio

advindo mesmo de qualquer “relação de trabalho” em sentido amplo , hipótese em que

o inciso IX despontaria ocioso , a toda evidência. A ociosidade deste inciso facilmente

se revela através de uma interpretação histórica do processo legislativo da EC 45/04,

onde, in tribus verbis, em Plenário, a Câmara dos Deputados aprovou destaque para

substituir a locução “relação de emprego” (locução aprovada na Comissão Especial da

PEC 96/1992) por “relação de trabalho”, olvidando-se, no entanto, de suprimir (porque

inútil e incompatível com o destaque apresentado e aprovado) o inciso (VIII da PEC,

atual IX) pelo qual a lei poderia estender a competência da Justiça do Trabalho para

outras controvérsias derivantes da relação de trabalho. Todo o processo legislativo da

EC 45/04 confirma que a mens legislatoris foi a de repelir a identificação da

competência material da Justiça do Trabalho estritamente com os dissídios emergentes

da “relação de emprego”. Houve, sim, deliberada vontade do Congresso Nacional,

expressa em sucessivos momentos, de alargar os horizontes da atuação da Justiça do

Trabalho, sobretudo no que se renegou a locução “da relação de emprego”, preferindo-

se a esta a locução, muito mais ampla e genérica, “da relação de trabalho”.

Esta ampliação de competência material não foi objeto de planejamento e

preparação estrutural da Justiça do Trabalho, diante de um conseqüente e inevitável

desencadeamento de uma inundação de novas ações de proporção gigantesca, ao qual

a fragilidade da organização trabalhista não terá como resistir.

Com a nova redação dada ao art. 114 da Constituição Federal, que atribuiu

e ampliou sua competência para processar e julgar controvérsias oriundas da "relação

de trabalho". Em decorrência desta atribuição genérica, indefinida, de difícil

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conceituação, passaram ao âmbito da jurisdição da Justiça do Trabalho, entre outros,

litígios que envolvam: prestadores de serviço; autônomos; representante comercial;

cobrança de honorários de profissionais liberais (advogados, médicos, dentistas,

contadores); leiloeiros; créditos de corretagem; trabalhadores de cooperativas;

trabalhadores em atividade informal; execução de contribuições sociais; dano moral (já

reconhecido pelos tribunais quando decorrente do contrato de trabalho) e patrimonial.

Como se não bastasse, a ampliação da competência transfere para a alçada da

Justiça do Trabalho a apreciação e julgamento das ações sobre representação sindical;

entre sindicatos, entre sindicatos e entre trabalhadores e sindicatos, e entre estes e

empregadores; litígios entre federações e confederações sindicais; habeas corpus,

habeas data; controvérsias sobre eleições sindicais; penalidades administrativas às

empresas impostas por órgãos de fiscalização por infração de normas trabalhistas;

questões oriundas do exercício do direito de greve, entre as quais interditos

possessórios decorrentes desta.

Tema polêmico, prestando-se a longas discussões, com repercussão na

duração dos pleitos, será também a aplicação no tempo da norma instituindo novas

competências, particularmente no que toca à competência residual de dezenas de

milhares de processos em curso nas justiças estadual e federal. A expressão "relação

de trabalho", que é usada de pelo legislador de forma vaga, imprecisa, genérica, poderá

ser freqüentemente confundida com relação de consumo, da qual nem sempre é fácil

distinguir, certamente dará azo a intermináveis controvérsias. Divergência de

interpretação ocorrerá sobre os trâmites processuais aplicáveis às novas hipóteses

regidas antes pelo direito comum, elastecendo ainda mais o tempo de duração dos

processos. Objeto de debate serão, por igual, os temas relativos a custas e honorários

de sucumbência, estes, até agora não admitidos pelos tribunais trabalhistas. Assinale-

se ainda que, segundo o texto promulgado da Emenda nº 45, a competência para os

conflitos entre servidores estatutários e a Administração Pública Direta também foi

transferida da Justiça Comum para a Justiça do Trabalho, competência esta, contudo,

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suspensa por liminar deferida pelo STF.

Em suma, uma enorme gama de matérias das justiças federal e estadual foi

deslocada, para desafogo destas, para a esfera da justiça do trabalho.

Indo além, a ANAMATRA pleiteia que a PEC nº 385/05, denominada de

PEC Paralela da Reforma do Judiciário, em tramitação na Câmara dos Deputados,

acresça mais, às competências já reconhecidas e incorporadas à Constituição Federal, a

competência para julgar causas que envolvam questões previdenciárias em municípios

nos quais não exista Vara da Justiça Federal.

Teme-se que tão fundas e abrangentes inovações, verdadeiro salto de etapas,

provoquem o caos na justiça do trabalho, desaparelhada até para enfrentar suas atuais

atribuições. A maneira mais segura de inviabilizar uma reforma é ampliá-la em

demasia, torná-la excessivamente abrangente. Um sábio ditado popular adverte que

quem muito abarca pouco aperta. Com efeito, só se pode realizar em cada estágio o

que em cada estágio é possível. Como alerta Eduardo Couture186, o tempo se vinga

daquilo que se faz sem sua colaboração.

A reforma do Judiciário foi concebida e efetivada com o escopo principal de

possibilitar sua agilização, como, aliás, se deduz do preceito (art. 5º, LXXVIII)

dispondo que "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável

duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação". Mas,

como tudo indica, na Justiça do Trabalho, a reforma produzirá resultado inverso,

tornando-a mais complexa e mais morosa.

Os operadores do direito, mesmo boa parte dos que atuam na área trabalhista,

ainda não se aperceberam dos efeitos e impacto resultante da profunda alteração

constitucional introduzida na justiça laboral, que se vê na iminência de perder seu

caráter especializado.

186 COUTURE, Eduardo Juan. Os mandamentos do advogado, tradução Ovídio Batista da Silva. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1979, p. 07.

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Num passado recente, no final dos anos 90, os partidários do neoliberalismo,

entre nós, pretenderam extinguir a justiça do trabalho, com a proposta de esvaziá-la e

deslocar suas atribuições e processos para a justiça federal. Não lograram tal intento.

Quem sabe se agora não estão vislumbrando a possibilidade de sua asfixia e

estrangulamento com o abarrotamento de atribuições e encargos, usando como

coveiros da instituição os próprios juizes, advogados trabalhistas e sindicatos?

Não é preciso clarividência para prever o risco de colapso com que, dentro

de alguns anos, se defrontará inevitavelmente a justiça do trabalho.

A radical e substancial alteração processada no art. 114 da Constituição

Federal é fato consumado, inarredável nessa altura. Resta, pois, aos juízes, tribunais,

advogados, entidades sindicais, enfim, a todos os operadores do direito e demais

interessados empenharem-se e mobilizarem-se para minimizar e absorver o impacto

das mudanças em questão, feitas inoportuna e precipitadamente, embora com a melhor

das intenções. Cumpre, portanto, unir esforços visando à absorção e implementação da

reforma ao longo do tempo, com o mínimo de tumulto, para evitar que o caos se

instale na justiça do trabalho.

Todavia, nenhuma reforma estrutural ou processual, nenhuma mudança

visando à agilização da máquina judiciária será eficaz enquanto parte dos juízes

continuar imbuída de uma cultura patrimonialista e corporativista, que emperra o

desenvolvimento da instituição que compõem. É preciso que muitos magistrados

abram suas mentes, tornem-se receptivos às mudanças, desprendam-se do misoneismo,

conscientizem-se de que o Judiciário não lhes pertence; convençam-se de que são

simples mandatários, e não mandantes da comunidade, que lhes remunera o trabalho

judicante. Persuadam-se, enfim, de que existem para atender à população, aos

jurisdicionados, e não o inverso.

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CONCLUSÃO

A crise do poder judiciário, destacando a morosidade como marca do seu

desempenho na solução dos conflitos, enseja o debate, além da reforma processual,

acerca de métodos alternativos de composição da lide, ganhando relevo maior, ainda,

quando se depara com os inevitáveis efeitos da Emenda Constitucional de nº 45/2004,

que ampliou a competência material da Justiça do Trabalho, sem entretanto, preceder

de qualquer planejamento estrutural e funcional para atender uma gama ingente de

novas ações, conclui-se que a levará, inevitavelmente, a um colapso, a não ser que

novas e urgentes medidas sejam tomadas.

A moderna idéia de acesso a justiça orienta e indica caminhos que devem ser

trilhados para alcançar uma justiça ao mesmo tempo célere e justa. Neste sentido e

dentro do quadro que se apresentam as relações trabalhistas no Brasil, a composição

dos conflitos exsurgentes, em especial os conflitos individuais, deve ser estimulada

através dos métodos alternativos, como a mediação, a arbitragem, a conciliação, as

mesas de entendimento e os termos de ajustamento de conduta.

A mediação demonstra ser um forte instrumento de composição dos

conflitos, ganhando relevo de seus princípios na instituição das mesas de

entendimentos e termos de ajustamento de conduta, que deveriam ser cada vez mais

estimulados, porquanto a composição do litígio dentro destes métodos traz a grande

vantagem pedagógica no sentido do cumprimento das normas trabalhistas antes da

ruptura contratual, o que reduz a judicialização do conflito, já que, na grande maioria

dos casos, a lesão ao direito laboral ocorre na vigência do contrato e não somente no

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seu termo.

A arbitragem, na forma em que se encontra regulamentada precisa de

algumas alterações para melhor adaptá-la ao conflito individual trabalhista, adotando

regras procedimentais que impõem e possibilitem ao árbitro assegurar a verificação

exata do objeto do litígio, para que não sirva de instrumento para legalizar o abuso do

poder econômico. Sendo importante, para este desiderato, a vedação de instauração de

juízo arbitral antes da apresentação da rescisão contratual aos órgãos competentes

(Ministério do Trabalho, Sindicato e etc.) que identificarão, dentro de suas

prerrogativas, se há ou não descumprimento de normas trabalhistas, possibilitando o

trabalhador hipossuficiente conhecer de antemão aquilo que denominamos de res

dubia e res litigiosa, vinculando, assim, o árbitro a conduzir o processo dentro dos

parâmetros estabelecidos na Lei nº 9.307/96, o que evitaria, em muito, qualquer

tentativa de fraude contra o sistema trabalhista vigente.

O artigo 21,§ 3º da Lei 9.307/96, onde expressa uma faculdade da parte

fazer-se representar por advogado, na arbitragem dos conflitos individuais entendemos

que deveria ser obrigatória a assistência - quer via advogados contratados por órgãos

de classe (sindicato), ou contratação particular, assegurando, assim, ao trabalhador

hipossuficiente a orientação necessária na direção de suas reivindicações, mormente

considerando-se os efeitos da sentença arbitral.

Por último e não menos importante, concluímos que se deveria alterar a

referida Lei de Arbitragem para que esta permitisse o reexame judicial de fundo de

sentença arbitral, dificultando, ainda mais, o desvio de conduta na utilização deste

importante meio alternativo de solução de conflitos, que hoje, infelizmente, é pouco

utilizado no Brasil, o que, pela pouca tradição na sua aplicação, não constitui entrave

ou, como dizem alguns, desuso, pois o tempo e os resultados da sua atuação

demarcarão a sua utilidade e auxílio a todos os operadores do direito.

A conciliação judicial dos conflitos individuais trabalhistas, sem dúvidas,

revela sua incontestável importância e traduz todo o espírito da composição destes

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litígios. Urge, entretanto, uma mudança de postura e filosofia dos magistrados

trabalhistas diante da homologação sistemática de acordos que na verdade traduzem-se

como verdadeira renúncia de direito pelo trabalhador - consciente ou imposta.

O critério quantitativo de solução dos conflitos na justiça do trabalho, onde

os Tribunais demonstram grande preocupação de apresentar em número os processos

resolvidos - quer sejam conciliados, quer sejam julgados, deve ser substituído pelo

critério qualitativo, buscando sim, tanto na conciliação ou no julgamento, distribuir

efetivamente justiça de qualidade, sob pena de negação do verdadeiro e correto sentido

de acesso à justiça.

A conciliação buscada pelas Comissões de Conciliação Prévia, instituídas

pela Lei nº 9958/2000 não tem apresentado bons resultados, havendo notícias de

desvios e fraudes contra o trabalhador.

A idéia de se obrigar a sujeição a uma comissão de conciliação como critério

de admissibilidade processual não é feliz, pois desvia o sentido da espontaneidade que

deve permear a pacificação de um conflito por este método. Acordo não pode ser

imposto. Deve ser resultado livre da vontade das partes.

Considerando a enorme disparidade econômico-financeira, social e cultural

entre as pessoas que se submetem às Comissões de Conciliação Prévia, urge uma

adequação na Lei nº 9.958/2000, sobretudo no que diz respeito à assistência jurídica do

trabalhador, acompanhamento de todo o procedimento conciliatório pelo Sindicato,

sobretudo nas Comissões de Empresa, entre outros mecanismos de controle para coibir

o mal-uso deste importantíssimo instrumento alternativo de solução de conflitos,

desafogando, assim, o judiciário trabalhista.

Mesmo com toda esta gama de métodos alternativos de composição de

conflitos, o Estado não pode se furtar da proteção do trabalhador e muito menos sob

embuste da celeridade de solução de conflitos negar e/ou dificultar o acesso à justiça,

devendo sim implementar reformas no judiciário trabalhista, com alterações

processuais, mais celeridade aos processos, maior qualificação dos magistrados,

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propiciando condições humanas e materiais para o melhor funcionamento da justiça.

O legislador tem obrigação de criar mecanismos que permita o democrático

equilíbrio nas relações entre capital e trabalho, fomentando a superação das

divergências jurídicas, sobretudo na vigência do contrato de trabalho.

Não se pode fechar os olhos para os desmandos que vêm ocorrendo, tanto em

nível judicial como extrajudicial, onde sob um falso manto de transação opera-se

graves prejuízos ao patrimônio do trabalhador e, o que é pior, gerando insegurança e

descrédito nas leis e no Estado, aumentando, ainda mais, a constante litigiosidade nas

relações trabalhistas.

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ANEXO A

OFÍCIO CIRCULAR 05/2004 - 54ª SUBSEÇÃO DA OAB/MG.

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ANEXO B

OFÍCIO Nº 002/FEVEREIRO/2004 .

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ANEXO C

CARTA DE ARAXÁ