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A CIÊNCIA DE FREUD: INTRODUÇÃO AO PROBLEMA DA CIENTIFICIDADE DA PSICANÁLISE Nathalia Sisson Monah Winograd RESUMO Apresenta-se primeiramente a concepção de Freud do que seria a Ciência e em que constituiria a atividade cientica, utilizando-se textos freudianos nos quais ele trabalha esse tema. Considera-se as noções de Naturwissenchaft e Geistwissenchaft para contextualizar a discussão sobre a cienticidade da Psicanálise à época de Freud. Confronta-se então a Ciência, como entendida por Freud, com as concepções de Popper e Bachelard, oriundos da Epistemologia. Posteriormente, apresentamos diferentes posições de psicanalistas, como Lacan e Kernberg, quanto ao mesmo tema, para mostrar como a compreensão do que seja a Ciência determina os posicionamentos quanto à relação entre esta e a Psicanálise. Palavras-chave: psicanálise; ciência; epistemologia; pesquisa cientí ca – psicanálise. FREUDS SCIENCE: AN INTRODUCTION TO THE ISSUE OF PSYCHOANALISISSCIENTIFIC STATUS ABSTRACT The article presents Freud’s conception of Science and the scientic enterprise using Freudian texts in which the author writes specically about the scientic issue regarding psychoanalysis. To broaden the discussion, the german notions of Naturwissenchaft and Geistwissenchaft are introduced so as to shed light on the notions from which and with which Freud was dealing with. After this contextualization, Freud’s conception of science is confronted with the conceptions of Popper and Bachelard regarding science, as well as with other psychoanalysts ideas on this matter, such as Lacan and Kernberg, showing how their way of understanding science determines their position on the matter of Science and Psychoanalysis. Keywords: psychoanalysis; science; epistemology; scienti c research – psychoanalysis Este artigo foi produzido como parte das atividades de pesquisa previstas no âmbito do projeto 401750/07-8 (CNPq/ Edital Ciências Humanas e Sociais). Psicóloga, Mestranda em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Bolsista do CNPQ. E-mail: [email protected] Psicanalista, Professora Assistende do Progrma de Pós-graduação em Psicologia Clínica/ Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, coordenadora do grupo de pesquisa MateriaPensante. Endereço: Departamento de Psicologia - Rua Marquês de São Vicente, 225 – CEP:22453-900 Gávea - Rio de Janeiro – RJ. E-mail: [email protected]

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  • A CINCIA DE FREUD: INTRODUO AO PROBLEMA DA CIENTIFICIDADE DA PSICANLISE

    Nathalia SissonMonah Winograd

    RESUMO

    Apresenta-se primeiramente a concepo de Freud do que seria a Cincia e em que constituiria a atividade cientifi ca, utilizando-se textos freudianos nos quais ele trabalha esse tema. Considera-se as noes de Naturwissenchaft e Geistwissenchaft para contextualizar a discusso sobre a cientifi cidade da Psicanlise poca de Freud. Confronta-se ento a Cincia, como entendida por Freud, com as concepes de Popper e Bachelard, oriundos da Epistemologia. Posteriormente, apresentamos diferentes posies de psicanalistas, como Lacan e Kernberg, quanto ao mesmo tema, para mostrar como a compreenso do que seja a Cincia determina os posicionamentos quanto relao entre esta e a Psicanlise.

    Palavras-chave: psicanlise; cincia; epistemologia; pesquisa cientfi ca psicanlise.

    FREUDS SCIENCE: AN INTRODUCTION TO THE ISSUE OF PSYCHOANALISIS SCIENTIFIC STATUS

    ABSTRACT

    The article presents Freuds conception of Science and the scientifi c enterprise using Freudian texts in which the author writes specifi cally about the scientifi c issue regarding psychoanalysis. To broaden the discussion, the german notions of Naturwissenchaft and Geistwissenchaft are introduced so as to shed light on the notions from which and with which Freud was dealing with. After this contextualization, Freuds conception of science is confronted with the conceptions of Popper and Bachelard regarding science, as well as with other psychoanalysts ideas on this matter, such as Lacan and Kernberg, showing how their way of understanding science determines their position on the matter of Science and Psychoanalysis.

    Keywords: psychoanalysis; science; epistemology; scientifi c research psychoanalysis

    Este artigo foi produzido como parte das atividades de pesquisa previstas no mbito do projeto 401750/07-8 (CNPq/ Edital Cincias Humanas e Sociais). Psicloga, Mestranda em Psicologia Clnica pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, Bolsista do CNPQ.E-mail: [email protected] Psicanalista, Professora Assistende do Progrma de Ps-graduao em Psicologia Clnica/ Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, coordenadora do grupo de pesquisa MateriaPensante. Endereo: Departamento de Psicologia - Rua Marqus de So Vicente, 225 CEP:22453-900 Gvea - Rio de Janeiro RJ.E-mail: [email protected]

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    Nathalia Sisson; Monah Winograd

    Nos ltimos anos, assistimos a atualizao do debate sobre a cientifi cida-de da psicanlise devido, em boa parte, ao desenvolvimento e expanso das Neurocincias em direo a fenmenos que, at ento, haviam sido explorados quase que exclusivamente pela psicanlise. As conexes possveis entre psican-lise e Neurocincias tm sido objeto de diversos estudos tanto sobre como situar as contribuies de um campo de saber ao outro (FAVERET, 2006; KAPLAN-SOLMS; SOLMS, 2005) quanto sobre como as Neurocincias poderiam forne-cer comprovao cientfi ca para os conceitos psicanalticos (ADREASEN, 2005 apud GRAEFF, 2006, p. 31). V-se como este debate teve o potencial de reativar, mais uma vez, a questo da (a)cientifi cidade da psicanlise, dando origem aos mais variados posicionamentos e argumentaes e envolvendo desde fi lsofos a cientistas e psicanalistas.

    H quem considere ser a psicanlise, sim, uma cincia (LO BIANCO, 2003; MEZAN, 2007; ROLIM, 2000; PRUDENTE; RIBEIRO, 2005), enquanto outros afi rmam que ela deveria passar por revises profundas para se encaixar no perfi l de uma produo cientfi ca (KERNBERG, 2006; WALLERSTEIN 1986; CLARKIN et al., 1999). H, ainda, quem entenda que, no s a psicanlise no cincia, como no interessa primeira incluir-se na segunda, pois se tratam de dois campos de saber radicalmente diferentes e irredutveis um ao outro (LA-CAN, 1985[1964], 1988[1965]; MILLER, 2002). Para investigar esta questo, utilizaremos como ponto de referncia inicial os argumentos do prprio Freud, cuja posio em relao indagao de se a psicanlise poderia ou no ser consi-derada uma cincia manteve-se consistente ao longo de toda a vida.

    Desde cedo, Freud esteve em contato estreito com a atividade cientfi ca, j que sua educao formal de mdico e pesquisador se deu em meio s pesquisas acadmico-cientfi cas do fi m do sculo XIX. Sua formao continuou no La-boratrio de Fisiologia da Universidade de Viena, onde desenvolveu pesquisas experimentalmente controladas, o que certamente fez com que ganhasse bastante intimidade com os procedimentos investigativos da produo cientfi ca de sua poca (PRUDENTE; RIBEIRO, 2005). Ainda que sua produo posterior tenha se dado fora da academia, Freud nunca duvidou de que fazia cincia, como es-creve logo no incio do Projeto de 1895: a fi nalidade deste projeto estrutu-rar uma psicologia que seja uma cincia natural [...] (FREUD, 1996[1895], p. 395). Em vrios momentos de sua obra ele reafi rma essa inteno, por exemplo, ao comparar a psicanlise com a Filosofi a, defendendo-a da medicina (FREUD, 1996[1925]), ao discorrer sobre o pensamento e a prtica cientfi ca (FREUD, 2004[1914], 2004[1915], 1996b[1933]) ou ao analisar o mtodo psicanaltico (FREUD, 1996[1940]). Nestas ocasies, o metapsicolgo revela uma concepo clara sobre a produo de saber na cincia, articulando-a de maneira coerente a sua metodologia de investigao dos processos psquicos, cujo valor considerava inestimvel (FREUD, 1996[1940]) - para ele, a prova de cientifi cidade da psica-nlise era justamente sua metodologia de investigao.

    Freud sempre entendeu a psicanlise no s como uma cincia, mas como uma Cincia da Natureza, uma Naturwissenchaft, (FREUD, 1996b[1933]) tal como a Fsica, a Qumica ou a Fisiologia, e no como uma Geisteswissenschaft, uma

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    A Cincia de Freud: introduo ao problema da cientifi cidade da psicanlise

    Cincia do Esprito. So diversos os testemunhos claros desse modo de pensar: o incio do artigo Pulses e destinos de pulso (FREUD, 2004[1915]), sua Auto-biografi a (FREUD, 1996[1925]), o artigo guisa de introduo ao narcisismo (FREUD, 2004[1914]), o texto A questo de uma Weltanschauung (FREUD, 1996b[1933]) e tambm o Esboo de psicanlise (FREUD, 1996[1940]) so os mais signifi cativos a respeito desse tema.

    A respeito da fi rme convico de Freud sobre a pertena da psicanlise s Cincias da Natureza, Assoun (1983, p. 53, grifo do autor) escreve: Para Freud, a psicanlise no constitui um intermedirio na encruzilhada das duas esferas: ela se encontra inteiramente, por essncia, e tende a estar, por vocao, do lado da es-fera da natureza. Ora, o que mais a psicanlise poderia ser, seno uma Naturwis-senschaft? Para que possamos compreender esta pergunta formulada por Freud (1996[1940]), preciso que retornemos ao contexto alemo de sua poca para apreender os tipos de cincia em vigor em seu ambiente cultural e cientfi co. Ao fi nal deste movimento, veremos revelarem-se as opes de respostas disposio de Freud e o sentido da categorizao da psicanlise como Cincia da Natureza.

    A QUERELA DOS MTODOS (METHODENSTREIT)

    O debate que teve lugar na Alemanha no fi nal do sculo XIX e inicio do sculo XX fi cou conhecido como A querela dos mtodos, ou seja, o perodo no qual a psicanlise era inventada foi tambm o momento de uma transformao no campo da epistemologia, provocada pelo surgimento das Cincias do Esprito e, conseqentemente, da disputa entre a Naturwissenschaft e as Geisteswissens-chaften. Segundo Assoun (1983, p. 45), a questo central jazia nas condies de possibilidade do conhecimento e se fundava [...] numa separao entre as esferas da natureza, susceptvel aos mtodos que j haviam sido comprovados na cincia clssica (galileana), e uma esfera da histria e do homem, que precisava dotar-se de uma metodologia sui generis. Considerava-se haver basicamente dois tipos de objeto para o saber: os naturais e os histricos ou culturais. Os primeiros eram considerados como independentes da participao humana, tanto em sua existn-cia como em seu modus operandi. Por sua vez, os segundos referiam-se a tudo o que resultasse da vida em sociedade e caracterizasse a existncia humana. Entre um e outro, entre o humano e o natural, haveria uma diferena ontolgica que exigia o emprego de mtodos diversos em seu estudo (MEZAN, 2007). Assim, o mtodo das Naturwissenchaft baseava-se na explicao (erklren), enquanto as Geisteswissenschaften tinham como fundamento a interpretao e a compreenso (verstehen). Se a primeira tinha como meta a explicao dos fenmenos atravs do modelo investigativo da Fsica de Galileu e Newton, as segundas, por sua vez, buscavam compreender os acontecimentos atravs da hermenutica. A sistema-tizao das diferenas entre os dois tipos de cincia foi realizada por Wilhelm Dilthey (1949[1883]) em seu clebre livro Introduo s Cincias do Esprito.

    Nas Cincias da Natureza, o individuo ou grupo de indivduos era tomado como exemplo de toda sua categoria por possuir a capacidade de englobar em si toda a classe de seres qual pertence, ou seja, encontra-se inteiramente identifi -

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    cado com a totalidade de sua espcie. De modo que era preciso apreender o que haveria de universal no espcime e no o que ele poderia apresentar como singular ou individual. Ora, para que essa explorao fosse possvel, a Natureza precisava ser entendida como dotada de constncia confi vel para dar a garantia de que o experimento repetido fosse igual ao anterior. Da estas cincias terem utilizado pro-cedimentos essencialmente indutivos e formulado leis das quais possvel deduzir outras propriedades ou comportamentos passveis de serem verifi cados por obser-vaes e experimentos. Deste movimento entre as observaes e a teorizao se pode formular hipteses com a capacidade de explicar os fatos: extrai-se o univer-sal do particular, pois o segundo mero exemplo do primeiro (ASSOUN, 1983)

    Tudo muda nas Cincias do Esprito, pois, a investigao sobre o domnio propriamente humano revela a inadequao dos procedimentos das Cincias da Natureza: cada objeto apresenta individualidade prpria irredutvel a uma classe no sentido atribudo ao termo pela Cincia da Natureza (MEZAN, 2007). Para dar conta da singularidade de um individuo ou grupo, como as civilizaes, as obras de arte, os sistemas polticos e econmicos etc., parecia ser necessrio in-terpret-los para compreend-los (verstehen), ou seja, penetrar em seu sentido, [...] transcrever o individual sem dissolv-lo em qualquer mediao conceitual (ASSOUN, 1983, p. 47). E o mtodo para realizar tal empreendimento era a her-menutica, a qual permitiria a compreenso profunda dos fenmenos ao invs de sua explicao. Operando pela interpretao das realidades que investigava, tal mtodo permitira esclarecer suas signifi caes e os meios atravs dos quais elas se expressavam, sua articulao interna, suas relaes com outras facetas de um sistema cultural e as diferenas em relao a equivalentes em outros sistemas culturais (MEZAN, 2007). Contudo, se a Naturwissenschaft atinha-se aos ju-zos de realidade, as Geisteswissenschaften acabavam recorrendo valorizao (ASSOUN, 1983): as interpretaes das Cincias do Esprito apresentavam ine-vitavelmente juzos de valor que expressavam a infi ltrao de preconceitos ideo-lgicos em suas anlises e refl etiam o eurocentrismo da poca, chegando mesmo a revelarem a xenofobia de naes em relao a outras (MEZAN, 2007).

    Paul-Laurent Assoun (1983) argumenta que Freud defendia ser a psican-lise uma Cincia da Natureza por estar inscrito em uma tradio cientifi ca que no admitia a possibilidade de se fazer outro tipo de cincia que no Cincia da Natureza: Freud [...] no conhece outra forma de cincia (ASSOUN, 1983, p. 48). Para o metapsiclogo, a cientifi cidade s poderia advir da adoo das normas e dos procedimentos propostos pela Cincia da Natureza, os quais garantiriam a refl exo neutra e racional sobre os dados coletados durante a observao atenta e cuidadosa, tendo em vista uma maior preciso dos conceitos. Ora, o mtodo proposto pelas Cincias do Esprito tinham, no a observao, mas valores a priori como base do conhecimento, o que anularia toda e qualquer possibilida-de de exerccio da racionalidade cientifi ca. Da Freud conceber a atividade do cientista/psicanalista como um rduo trabalho de obteno de dados e lapidao dos conceitos atravs da colaborao contnua e constante entre a observao e a teorizao, seguindo os procedimentos da Cincia da Natureza.

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    A Cincia de Freud: introduo ao problema da cientifi cidade da psicanlise

    FREUD E A CINCIA

    Freud apresenta brevemente sua concepo de como a cincia funciona tan-to em Guisa de Introduo ao Narcisismo (FREUD, 2004[1914]), quanto no primeiro pargrafo de Pulses e destinos da pulso (FREUD, 2004[1915]). No primeiro texto, ele escreve, que mesmo quando as cincias operam com conceitos bsicos e claramente defi nidos, tais conceitos corresponderiam, na realidade, ao topo do edifcio, produzido ao fi nal de todo um processo de construo e desenvol-vimento do trabalho. Mesmo assim, imprescindvel cincia que tais defi nies no sejam rgidas e possam ser removidas e substitudas na medida em que o co-nhecimento avance e modifi caes sejam necessrias (FREUD, 2004[1914]).

    Quanto ao comeo desse processo, ele nos diz que:

    [...] o verdadeiro incio da atividade cientfi ca consiste na descrio de fenmenos que so em seguida agrupados, ordenados, e correlacionados entre si. Alm disso, inevitvel que, j ao descrever o material, apliquemos sobre ele algumas idias abstratas obtidas no s a partir de novas experincias, mas tambm oriundas de outras fontes. Tais idias iniciais os futuros conceitos bsicos da cincia se tornam ainda mais indispensveis quando mais tarde se trabalha sobre os dados observados. No princpio, as idias devem conter certo grau de indefi nio, e ainda no possvel pensar em uma delimitao clara de seu contedo. Enquanto elas permanecem nesse estado, podemos concordar sobre seu signifi cado remetendo-nos repetidamente ao material experincia a partir do qual elas aparentemente foram derivadas; contudo, na realidade, esse material j estava subordinado a elas. Em rigor, essas idias possuem o carter de convenes. Entretanto, preciso que no tenham sido escolhidas arbitrariamente, e sim determinadas pelas relaes signifi cativas que mantm com o material emprico (FREUD, 2004[1915], p. 145, grifo nosso).

    Ou seja, h uma etapa anterior observao e experimentao, na qual participam idias abstratas que tm sua origem nas mais variadas fontes. So essas idias que, mesmo sem uma delimitao ou defi nio clara, guiaro as ob-servaes, as descries dos fenmenos e as concluses posteriores, por mais que parea que estas ltimas surgiram do material advindo da experincia. Logo, ne-nhuma observao pode ser pura, dependendo sempre de alguma referncia que permita a interpretao e o trabalho sobre o material emprico e mesmo a coleta desse material. Neste modo de pensar, a pesquisa o instrumento principal e entendida como [] a elaborao intelectual de observaes cuidadosamente escolhidas (FREUD, 1996 b [1933], p. 156).

    Mas, para Freud, este modo de proceder no difere e nem diverge do pen-samento normal, apenas desenvolve caractersticas especfi cas, quais sejam: (1) o interesse por determinadas coisas e a evitao cuidadosa de fatores individuais e

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    Nathalia Sisson; Monah Winograd

    infl uncias afetivas; (2) o exame rigoroso da credibilidade dos sensos de percep-o nos quais baseia suas concluses; (3) a capacidade de se equipar com novas percepes que no seriam de obteno possvel por meios habituais e (4) o iso-lamento de fatores determinantes dessas novas experincias em experimentaes modifi cadas deliberadamente (FREUD, 1996b[1933]). Alm disso, o objetivo do trabalho cientfi co o de chegar correspondncia com a realidade externa, fora de ns, independente de ns, mas da qual necessitamos para a satisfao de dese-jos e necessidades. Essa correspondncia seria o critrio de verdade cientfi co e, para Freud (1996b [1933]), as normas da vida seriam, no fi nal, a aplicao de tais verdades alcanadas pela pesquisa. Somente atravs desse procedimento po-der-se-ia construir um conhecimento acerca do universo, j que para ele a cincia exigiria a separao das iluses e dos aspectos emocionais, no podendo contar com outras fontes de conhecimento, como a intuio, a revelao ou a adivinha-o. cincia caberia o papel de crtica constante, apresentando sempre objees e refutaes e sustentando o ceticismo frente aos contedos que surgem, o que permitiria que ela permanecesse em mudana e atualizao incessantes, resultan-do no aperfeioamento de seus fundamentos.

    V-se que a idia de cincia e do modo atravs do qual ela capaz de produ-zir um conhecimento do mundo est, para Freud, estreitamente vinculada ao desen-volvimento de pesquisa, metodologia prpria de cada cincia e s tcnicas de que elas dispem para alcanar uma correspondncia com a realidade exterior, recorren-do sempre observao. exatamente sobre esses termos que Freud (2004[1914]; 1996[1940]) fundamenta seus argumentos sobre a cientifi cidade da psicanlise, pois para ele, a vida psquica apresenta-se como objeto de pesquisa possvel da mesma forma que um objeto externo. A grande contribuio da psicanlise seria, ento, a de [...] ter estendido rea mental as pesquisas cientifi cas (FREUD 1996b[1933], p. 156), o que fez com que ela pudesse constituir-se como cincia, no s dos pro-cessos psquicos conscientes, como tambm dos inconscientes.

    Para isso, a psicanlise apossou-se da idia de que haveriam processos ps-quicos inconscientes cuja prova experimental seria possibilitada pela hipnose e, debruando-se sobre eles, transformou-os em conceito. Em suas palavras:

    Enquanto que a psicologia da conscincia nunca foi alm das seqncias rompidas que eram obviamente dependentes de algo mais, a outra viso, que sustenta que o psquico inconsciente em si mesmo, capacitou a Psicologia a assumir seu lugar entre as cincias naturais como uma cincia. Os processos em que est interessada so, em si prprios to incognoscveis quanto aqueles de que tratam as outras cincias, a Qumica ou a Fsica, por exemplo; mas possvel estabelecer as leis a que obedecem e seguir suas relaes mtuas e interdependentes ininterruptas atravs de longos trechos em resumo, chegar ao que descrito como uma

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    A Cincia de Freud: introduo ao problema da cientifi cidade da psicanlise

    compreenso do campo dos fenmenos naturais em apreo. Isto no pode ser efetuado sem a estruturao de novas hipteses e criao de novos conceitos, e estes no devem ser menosprezados como indicio de embarao de nossa parte, mas, pelo contrrio, merecem ser apreciados como um enriquecimento da Cincia. (FREUD, 1996[1940], p. 227).

    A hiptese psicanaltica do aparelho psquico, portanto, colocaria a psica-nlise em condies de estabelecer bases prximas das outras cincias, na me-dida em que Freud (2004[1915], p. 145) entende ser fundamental, em todas as cincias, a elaborao de uma idia inicial que oriente a aproximao do objeto. Alm da formulao de hipteses, Freud (2004[1914]; 2004[1915]) afi rma ser importante tambm a criao de novos conceitos que possibilitaro uma melhor defi nio do objeto a ser investigado e uma melhor compreenso do fenmeno em questo. A psicanlise trabalha com hipteses sempre abertas reviso e, tal como outras pesquisas cientfi cas, busca, para alm dos atributos do objeto que se apresentam diretamente s percepes, algo que seria mais independente de nossas capacidades perceptivas e que se aproximaria do que se supe ser o estado real das coisas. O procedimento da psicanlise para alcanar estes novos conte-dos que auxiliem o entendimento consiste na utilizao de:

    [...] mtodos tcnicos de preencher as lacunas existentes nos fenmenos de nossa conscincia e fazemos uso desses mtodos exatamente como um fsico faz uso de sua experincia. Dessa maneira, inferimos certo numero de processos que so em si mesmos incognoscveis e os interpolamos naqueles que so conscientes para ns (FREUD, 1996[1940], p. 226).

    Ou seja, a psicanlise possui mtodos tcnicos especfi cos a sua prtica que desempenham a mesma funo que a experincia na Fsica.

    Embora o prprio Freud (1996[1940]) reconhea que a vida anmica seja um dos mais difceis objetos de exame cientfi co, as descobertas da psicanlise tornariam possvel o preenchimento das lacunas de percepo necessrias in-vestigao dos processos psquicos, pois o trabalho da anlise consistiria emi-nentemente em traduzir processos inconscientes em conscientes. Para que essa traduo possa ser realizada, a psicanlise conta com sua tcnica, com a formao de conceitos e com a formulao de hipteses, o que, em suma, lhe conferiria o estatuto de cincia. No entanto, apesar de Freud (1996a[1933]) sempre haver defendido a legitimidade do tratamento psicanaltico e a posio da psicanlise como Cincia da Natureza, muitas foram as resistncias contra a novidade que ela trazia ao pensamento cientfi co e intelectual. A discusso acerca da cientifi cidade da psicanlise tomou diversos rumos ao longo do tempo, todos vinculados a uma concepo de Cincia e do que seria a produo desta.

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    Nathalia Sisson; Monah Winograd

    O PROBLEMA DA CIENTIFICIDADE DA PSICANLISE: POPPER E BACHELARD

    Um dos mais clebres epistemlogos, Karl Popper, no apenas fez ques-to de explicitar sua opinio pessoal a respeito da teoria de Freud, como deixou claro que seu critrio de cientifi cidade exclui completamente a possibilidade de incluso da inveno freudiana dentre as cincias (POPPER, 1991). Para Popper (1991), a psicanlise seria um programa metafsico e, enquanto tal, estaria apta a fornecer um ponto de sada para alguma cincia, uma idia sobre a qual uma cincia poderia se debruar segundo um mtodo que estivesse de acordo com os critrios de cientifi cidade de Popper. Porm, ela mesma no poderia constituir-se enquanto uma porque simplesmente no atende aos critrios lgicos estabeleci-dos como necessrios a toda teoria cientfi ca, a saber, possuir uma estrutura tal que permita a possibilidade de tal teoria ser provada errada, ou seja, ser false-vel. essa possibilidade implcita estrutura lgica de uma teoria cientfi ca que possibilitaria o progresso da cincia, pois, no momento em que uma hiptese for falsifi cada, outra hiptese mais capaz surgir. Como, a seu ver, a teoria psicana-ltica pretende poder explicar todos os acontecimentos do psiquismo humano, ela no pode ser refutada e, conseqentemente, no falsifi cvel.

    J outro clebre estudioso das cincias, Bachelard (1991; 2005), pensava que a psicanlise talvez fosse uma das disciplinas mais cientifi cas. Pois, se a cincia existe a partir de um corte epistemolgico, ou seja, se ela se movimenta contra o senso comum e o pensamento no-cientfi co, o conceito freudiano de Inconsciente poderia ser considerado um exemplo perfeitamente adequado de conhecimento cientfi co. Alm disso, a cincia ainda deve enfrentar criticamente as oposies e as resistncias a ela direcionadas, para que possa romper com o saber j constitudo que se apresenta como obstculo. Inevitvel considerar que tais critrios de cientifi cidade parecem aplicar-se ao processo de constituio da psicanlise em sua totalidade, pois como sabido ela enfrentou inmeras oposies, resistncias e intolerncias por parte do saber ofi cial da poca em que surgiu (JAPIASSU, 1989; FREUD, 1996[1925]). Como o prprio metapsiclogo reconheceu, o conceito de Inconsciente rompeu com e subverteu a concepo hegemnica da psicologia da conscincia, propondo tambm uma teoria indita do processo de constituio do psiquismo (FREUD, 1996[1940], p. 227). Ade-mais, as noes do prprio Freud (2004[1915]) a respeito do pensamento cien-tfi co se assemelham bastante com as de Bachelard (2005): ambos afi rmam ser absolutamente necessrio haver contextos, perguntas e idias prvias que oriente a observao, a qual nunca pura. Em Freud (2004[1915]), esse argumento est claramente presente no incio do artigo Pulso e vicissitudes da pulso, onde ele escreve que a prpria descrio do material obtido j infl uenciada por idias abstratas, obtidas das mais variadas fontes, e que s posteriormente esses dados podem ser ordenados e agrupados.

    Ainda, para Bachelard (2005), o fenmeno a ser delimitado totalmente dependente da tcnica utilizada para seu conhecimento. Ou seja, toda cincia necessariamente uma tecnocincia caracterizada pela fenomenotcnica: o fen-meno, na realidade, s existe se vinculado tecnologia ou aos procedimentos

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    A Cincia de Freud: introduo ao problema da cientifi cidade da psicanlise

    tcnicos que possibilitam sua emergncia. Por essa razo a experincia cientfi ca vai de encontro experincia comum e a contradiz, baseando-se no no real, mas no artifi cial, na abstrao que permite uma crtica racional do experimento. Nas palavras do epistemlogo:

    [...] na experincia, procura ocasies para complicar o conceito, para aplic-lo, apesar da resistncia desse conceito, para realizar as condies de aplicao que a realidade no rene. ento que se percebe que a cincia constri seus objetos, que nunca ela os encontra prontos. A fenomenotcnica prolonga a fenomenologia. Um conceito torna-se cientfi co na proporo em que se torna tcnico, em que est acompanhado de uma tcnica de realizao (BACHELARD, 2005, p. 77, grifos do autor).

    Ocorre o mesmo na psicanlise: tomando o conceito de Inconsciente como exemplo, sua delimitao conceitual enquanto fenmeno s foi possvel a partir do momento a tcnica psicanaltica foi criada. Nas palavras de Freud (1996[1940], p. 226), a psicanlise depende de mtodos tcnicos para [...] preencher as la-cunas existentes nos fenmenos de nossa conscincia. Foi dessa maneira que se tornou possvel o conhecimento de processos que seriam incognoscveis no fosse o fato de virem acompanhados de uma tcnica de realizao especfi ca. Malgrado a posio tomada e defendida pelo inventor da psicanlise, restam al-guns argumentos a respeito das possibilidades de verifi cao dos fenmenos psi-canalticos e de sua incluso no rol dos fatos cientfi cos.

    A PESQUISA EMPRICA E O PROBLEMA DA VERIFICAO EM PSICANLISE

    Internamente ao prprio campo psicanaltico, existem algumas correntes mais signifi cativas de pensamento a respeito do problema da pesquisa em psi-canlise como, por exemplo, a anglo-americana que, inscrita em uma tradio empirista da cincia, busca formas de quantifi car a produo de conhecimen-to da psicanlise. Aqui, Kernberg (2006) um dos principais porta-vozes dessa vertente pois, com efeito, sugere mudanas na forma como a investigao em psicanlise realizada. Para ele, seria absolutamente necessrio um incremento na quantidade de anlises cientifi cas a respeito dos resultados e da efi ccia do que ele chama de psicoterapia psicanaltica. O objetivo desta intensifi cao seria avanar no conhecimento e reassegurar o pblico a respeito dos efeitos benfi cos e do escopo da psicanlise, alm de fortalecer seu lugar entre as cincias. A falta de esforos na comunidade psicanaltica em desenvolver dados empricos siste-maticamente sobre sua efi ccia teria resultado na abertura de espao para terapias cognitivo-comportamentais, as quais realizam pesquisas empricas constantes so-bre suas modalidades de tratamento.

    A pesquisa aqui entendida como observaes sistemticas sob condies controladas que possam levar a novos conhecimentos (KERNBERG, 2006, p. 920). Para Kernberg (2006, p. 923), a pesquisa emprica deve considerar as ques-tes conceituais envolvidas no estudo, para no correr o risco de chegar a resulta-

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    dos de medida equivocados que no corresponderiam aos conceitos investigados. Por outro lado, a pesquisa conceitual debruada sobre o desenvolvimento hist-rico, as controvrsias e o uso predominante de certos conceitos pode revelar-se estril se no for baseada em evidncias empricas (KERNBERG, 2006). Da sua insistncia na necessidade da adoo do mtodo clnico vinculado a uma in-vestigao experimental atravs do estabelecimento de relaes entre a pesquisa clnica psicanaltica e a observao de mudanas de comportamento dos pacien-tes (KERNBERG, 2006, p. 921). Para terem pertinncia cientfi ca, as questes tericas e clnicas devem ser relacionadas aos achados empricos.

    Nesse mesmo artigo, Kernberg reconhece as difi culdades metodolgicas na conduo dessas pesquisas, dada a impossibilidade de uma aproximao emprica capturar os processos inconscientes envolvidos no decorrer de um atendimento. No entanto, Kernberg (2006) enfatiza que, apesar das crticas negligncia quan-to natureza do processo teraputico nas pesquisas quantitativas, seria relevante para o estudo emprico das psicoterapias psicanalticas relacionar a observao de comportamentos investigao clnica. Mas, seria a investigao clnica um meio legtimo de coleta e anlise de dados empricos pertinentes, j que estes esto unicamente vinculados a um comportamento observvel? No fi ca claro quais critrios defi niriam esses comportamentos, nem por quem eles devem ser observados para possurem pertinncia cientifi ca. Segundo o autor,

    [...] a cristalizao de formulaes conceituais contrastantes, juntamente com potenciais observaes sistemticas disponveis para se distinguir as diferentes consequncias de seus empregos respectivos constitui um primeiro passo na direo da pesquisa emprica (KERNBERG, 2006, p. 924).

    Apesar de reconhecer que o desenvolvimento e a evoluo da psicanli-se se deram atravs do trabalho de tericos e clnicos, Kernberg (2006, p. 925) defende que o efeito cumulativo de pesquisas bem direcionadas se moveria na direo de uma melhora da psicoterapia. Em longo prazo, a integrao proposta entre pesquisa conceitual, clnica e emprica contribuiria signifi cativamente para a evoluo da psicanlise, alm de possibilitar o aumento de suas aplicaes e intensifi car o contato com outros (neuro)cientistas.

    Alm disso, o autor enfatiza tambm a necessidade de vnculos entre psica-nlise e academia em departamentos de universidades, bem como o recrutamento e a incluso, nas sociedades psicanalticas, de cientistas com slida formao em pes-quisa emprica. Tal posicionamento defendido por outros autores de renome in-ternacional, alm de Kernberg, tais como Wallerstein (1986), Clarkin, (CLARKIN; YEOMANS; KERNBERG, 1999). A preocupao com a falta de verifi cao em-prica que, segundo autores, ameaam a psicanlise, levou criao, nos EUA, de uma Sociedade para o Avano da Pesquisa Quantitativa (SAQRP) em 1989 (LO BIANCO, 2003). O intuito desses profi ssionais , portanto, o de fazer com que a psicanlise se atualize constantemente e possa se encaixar e se alinhar mais estrei-tamente com o conhecimento que a cincia verifi cada empiricamente permite.

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    A Cincia de Freud: introduo ao problema da cientifi cidade da psicanlise

    O LUGAR DA CLNICA NA PESQUISA: A ESPECIFICIDADE DO OBJETO

    Ainda outra defesa da legitimidade cientfi ca da psicanlise parte da idia de que, ao invs de se insistir em uma perspectiva emprica e quantitativa, deve-se investir na valorizao da produo de um sistema coerente e consistente de conceitos tericos e de uma tcnica de investigao apropriada que seja desen-volvida tendo em vista o objeto da psicanlise o Inconsciente. Ou seja, uma posio mais prxima quela de Freud e de Bachelard. O que est em pauta aqui so as [...] questes de rigor e da preciso das conceituaes tericas quase sem-pre deixando entrever a especifi cidade do objeto da psicanlise (LO BIANCO, 2003, p. 117). Ursula Dreher (2002) sustenta que nem sempre possvel para a cincia utilizar-se do mtodo experimental, como por exemplo, na Arqueologia e na Astronomia, dentre outras. De modo que o progresso cientfi co deve con-tar, no apenas com dados empricos, mas tambm com o desenvolvimento de conceitos, como o caso do conceito de seleo natural elaborado por Darwin (DREHER, 2002, p. 19) e considerado um dos pilares da Biologia.

    A pesquisa em psicanlise tem seu principal ponto de apoio na clnica espao no qual tratamento e pesquisa ocorrem simultaneamente. Tanto na pesqui-sa conceitual quanto na clnica espera-se a emergncia de novos contedos que seriam, por sua vez, articulados a uma teoria. A situao analtica poderia fun-cionar, ainda, como mediadora que estruturaria os dados surgidos, preparando-os para uma interpretao orientada por uma teoria de referncia e dando origem a um novo conhecimento (LO BIANCO, 2003). Enquanto algumas outras cincias aplicam uma metodologia para investigar um objeto aparentemente delimitado a priori, o objeto psicanaltico se atualizaria entre o discurso de cada indivduo e a escuta do analista na clnica, na relao transferencial. V-se como a pesquisa dependente da transferncia e da associao-livre, que permitem a emergncia do Inconsciente: o momento da constituio do objeto o mesmo do estabelecimento do modo de pesquis-lo. Mtodo, teoria e pesquisa so, assim, interdependentes e operam simultaneamente na clnica, constituindo, na realidade, uma coisa s: a prtica psicanaltica. Essa organizao peculiar das condies de possibilidade de construo do conhecimento psicanaltico, ao contrrio de outras cincias, no tem a opo de produzir novos dados sem revelar a si mesma.

    Da a pesquisa em psicanlise estar fortemente em contato com a clnica e com a singularidade de cada caso. E mais: o psicanalista encontra-se implicado no material que surge em cada sesso, no sendo apenas uma varivel a ser contro-lada. Por isso a necessidade de que a escuta seja especfi ca e tcnica para que os juzos do psicanalista sejam minimamente infl uenciados por seus valores pessoais, suas averses, seus preconceitos e suas prprias questes pessoais. Alm disso, h o trabalho do psicanalista sobre as questes que surgem na relao com o paciente e que exigem a formulao de hipteses tericas claras e precisas. em um [...] movimento constante de ida e vinda da teoria para a realidade surgida na clnica [que] iro delimitando-se, circunscrevendo-se os conceitos que, articulados, aper-feioaro a teoria (LO BIANCO, 2003, p. 120). Entendida como um conjunto de idias abstratas cuja aplicao ao material bruto da observao lhe confere inteli-

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    gibilidade, a teoria uma forma de sistematizar os dados observados. O prprio Freud expe claramente sua perspectiva a esse respeito em sua conhecida defi ni-o da psicanlise apresentada em um verbete enciclopdico. Segundo esse texto, a psicanlise seria: (1) um procedimento de investigao dos processos anmicos de difcil acesso por outras vias; (2) um mtodo de tratamento fundado nessa in-vestigao e (3) um corpo terico decorrente deste procedimento, o qual paulatina-mente se confi gurou como uma nova disciplina cientifi ca (FREUD, 2007[1923]).

    Considerando-se a particularidade do objeto de estudo introduzido pela psicanlise, a saber, os processos inconscientes e o aparato psquico, percebe-se que no poderia se tratar de torn-lo apreensvel pelas tcnicas e mtodos de investigao de outras reas de saber. O conceito de Inconsciente operou como um corte epistemolgico ou uma ruptura paradigmtica com as outras cincias, ou seja, deu incio a um movimento fundador de uma nova cincia. Dito de outro modo, o que esse novo objeto revelou foi a necessidade de outro enten-dimento da pesquisa e do conhecimento igualmente legtimos em termos de cientifi cidade. A noo de paradigma e o critrio de cientifi cidade (a reunio de uma comunidade cientifi ca em torno de dado paradigma) propostos por Kuhn (2006) ajudam a esclarecer o argumento.

    Para Kuhn (2006), uma cincia madura seria aquela que sustenta uma tra-dio cientfi ca normal ou seja, uma sucesso de tradies na qual cada uma possui sua prpria teoria e seus prprios mtodos de pesquisa e guia a comuni-dade cientfi ca por um certo tempo at ser abandonada e substituda. No entanto, para que tal estado de coisas seja alcanado, necessrio que um paradigma slido esteja em vigncia, legitimando e orientando uma prtica cientfi ca. Kuhn (2006), logo no prefcio do seu Estrutura das Revolues Cientfi cas, considera os paradigmas como [...] as realizaes cientfi cas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e solues modelares para uma comunidade de praticantes de uma cincia (KUHN, 2006, p. 13). O consenso dos cientistas em torno de um paradigma seria, assim, pr-condio para que se afi rmar que um campo de estudo tornou-se, de fato, uma cincia. Ocorre que, de tempos em tempos, o paradigma vigente de uma dada cincia torna-se incapaz de explicar determinados fenmenos designados como anomalias. Quando a quantidade dessas anomalias se torna muito numerosa e comea a ameaar a uni-dade do paradigma sobre o qual a cincia se desenvolve, acontece uma crise da qual surgir um novo modelo paradigmtico, um novo enfoque da realidade, capaz de abarcar e dar conta daqueles eventos que anteriormente eram inexplicveis.

    Historicamente, ento, pode-se arriscar a afi rmao de que foi em um momento de crise paradigmtica, no qual as doenas mentais (principalmente a histerias) evidenciavam diversas anomalias no paradigma vigente, que a psica-nlise props outro recorte sobre os fenmenos e estabeleceu um novo paradig-ma, possibilitando solues que antes no eram possveis. Em termos kuhnianos, poderia-se afi rmar que ela fez com que toda uma comunidade cientifi ca se for-masse em torno desse novo paradigma e desse origem a diversas pesquisas com base em uma idia comum a todos, a saber, a da existncia de processos psquicos

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    A Cincia de Freud: introduo ao problema da cientifi cidade da psicanlise

    inconscientes. Como consequncia, surgiram novas compreenses a respeito dos processos psquicos, assim como novas formas de interveno clnica, possibili-tando o desenvolvimento e a evoluo de uma nova disciplina.

    PSICANLISE: SUBVERSO DA CINCIA?

    O argumento acima baseia-se na idia de que a psicanlise uma cincia exatamente por apresentar um objeto de estudo defi nido e uma tcnica de pesqui-sa que d origem a uma teoria coerente e slida. Contudo, no texto A Cincia e a Verdade, Jacques Lacan (1988[1965]) defende outro ponto de vista e inaugura outra linhagem de abordagem do problema. Ele reconhece que a psicanlise nas-ceu da cincia, porm, entende que a primeira introduziria na segunda algo novo que assume um valor de uma subverso. A questo da cientifi cidade da psicanli-se tratada a partir do raciocnio de que [...] a psicanlise introduziu na cincia aquilo mesmo que, tendo-o inventado e sendo por ele sustentado, a cincia exclui: o sujeito (ELIA, 1999, p. 43, grifo do autor). Para Miller (2002), a psicanlise no poderia ser considerada uma cincia justamente por situar o sujeito no cerne de seu discurso, ao passo que as cincias, por sua vez, teriam referentes externos no centro de seu interesse. Como explica Elia (1999, p. 45), [...] a cincia um discurso constitudo pela inveno de um sujeito, o sujeito cartesiano, que, no en-tanto, deve ser extrado de seu campo para que ela opere. O sujeito da cincia e o sujeito do inconsciente objeto da psicanlise seriam, portanto, o mesmo e sua equivalncia resultaria da compreenso da cincia segundo a qual esta teria surgi-do, em sentido estrito, com a fsica-matemtica numa tentativa de tratar o real pelo simblico (MILLER, 2002). Nota-se com clareza a infl uncia dos trabalhos de Koyr na leitura lacaniana, pois o primeiro concentra seus estudos sobre Galileu e seu modo de fazer cincia, dizendo que o fl orentino teria criado a cincia moderna ao tratar a Natureza pela Geometria Euclidiana (KOYR, 1991).

    Enquanto Galileu teria tornado possvel a [...] disjuno do simblico e do imaginrio, do signifi cante e da imagem (MILLER, 2002, p. 45), Descartes teria elaborado o sujeito da cincia atravs do cogito. Por que Descartes afi rma penso, logo sou, aps ter efetuado todo um esvaziamento subjetivo pelo exerccio da dvida, Lacan (1985[1964]) compreende que esse sujeito cartesiano s sede da identidade e do eu no instante em que pensa. Nas palavras de Lacan (1985[1964], p. 39): Descartes nos diz Estou seguro, porque duvido, de que penso, e di-ria eu, para me manter numa frmula no mais prudente que a sua, mas que nos evita debater o eu penso- Por pensar, eu sou. Como acontece com frequncia, Miller (2002, p. 51) explica:

    [...] um sujeito que, em seu ponto de emergncia, no de nenhum modo uma substncia, e sim, pelo contrrio, um sujeito completamente dessubstanciado. [...] Esse sujeito, que rompeu com todas suas aderncias naturais, com toda signifi cao que no seja o resduo pontual e desvanecente onde o pensamento e o ser formam um; esse sujeito

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    estruturalmente o agente do discurso da cincia. E esse sujeito que, em seguida pe em ao um signifi cante em sua relao com outros signifi cantes [...].

    Assim, sujeito da cincia, sujeito do signifi cante e sujeito do inconsciente se equivalem, j que o primeiro pe em ao o segundo e o sujeito do inconscien-te o sujeito do signifi cante (KAUFMANN, 1996).

    Como conseqncia, a psicanlise, ao invs de fazer parte da cincia, a subverteria, por permitir a emergncia de um discurso diferente daquele da cin-cia ao no foracluir o sujeito. Apesar de ambas partirem do mesmo real, a cincia excluiria o sujeito, enquanto a psicanlise buscaria escutar os efeitos desse real nele. Dessa forma, ela estaria localizada como um ponto inapreensvel no seio do discurso cientfi co. Em resumo, mesmo sendo derivada da cincia, a psicanlise realizaria um furo naquela por ter como objeto o sujeito, exatamente uma parte que deve ser excluda da cincia para que ela possa funcionar. Nas palavras de Luciano Elia (1999, p. 50, grifos do autor):

    Ao excluir de seu campo o sujeito, a cincia precisamente no o inclui como real, como impossvel a dizer, como aquilo que no cessa de no se escrever, includo, no entanto, em seu seio, como um furo no simblico que constitui seu discurso. Incluir o real como impossvel no a mesma coisa que exclu-lo, foraclu-lo de seu campo, porque, neste ltimo caso, podemos dizer que, em algum lugar, esse real assim foracludo persevera consistindo.

    Vale lembrar que o discurso lacaniano versa a partir de um registro diferen-te daquele de onde fala Freud e as outras posies apresentadas acima. Enquanto o campo de Freud e dos outros autores citados cientfi co-tcnico, os argumen-tos de Lacan defi nem-se por um desvio, uma mudana desse campo para outra rea, o registro antropolgico-tico (STENGERS, 1990) e, consequentemente, a psicanlise estaria situada [...] em um mbito bastante resistente captao conceitual da cincia (MILLER, 2002, p. 47). Ela seria um lugar de resistncia s prticas tecno-cientfi cas j que, para Lacan (1988[1965]), tratar-se-ia do su-jeito da psicanlise e no da tcnica psicanaltica. Tal deslocamento operado pelo discurso lacaniano permite que ele emita julgamentos de valor sobre a produo cientfi ca, pois, se o sujeito do inconsciente o sujeito da cincia, a psicanlise estaria um passo alm da cincia. Por considerar o sujeito e dar-lhe uma escuta, o discurso psicanaltico situaria o saber (inconsciente) no lugar da verdade. O discurso cientfi co, por sua vez, produziria apenas um saber consciente desarticu-lado da verdade do sujeito. Logo, ao se situar em oposio cincia, ao incluir o sujeito, a psicanlise teria condies de apontar a falha da primeira, a saber, sua insufi cincia quanto verdade.

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    A Cincia de Freud: introduo ao problema da cientifi cidade da psicanlise

    CONCLUSO

    Ao propor um breve debate sobre o tema da cientifi cidade da psicanlise, expondo diferentes argumentos tanto a favor quanto contra um pertencimento desta ao campo da Cincia, pretendemos, no uma defesa de um ou outro posicio-namento, mas mostrar que as possibilidades de resposta questo so inteiramen-te dependentes do qu se considera como Cincia. Percebe-se que importa menos uma defi nio (ou no) do estatuto cientifi co da disciplina psicanaltica do que a explicitao das bases sobre as quais cada autor ou grupo de autores constri sua argumentao. Pois, dependendo de onde se estabelece a fronteira entre o que cientifi co e o que no o , o estatuto da psicanlise necessariamente muda.

    Independente da concluso qual se chegue, no h como estabelecer uma hierarquia entre as diversas cincias, uma vez que os mtodos de uma no podem ser impostos outra. As condies de possibilidade de existncia de cada dis-ciplina, seus conceitos, seus pressupostos e instrumentos so adequados quele campo defi nido, sendo inaptos para aplicaes em outras reas de conhecimen-to (WINOGRAD, 2004). No entanto, o ponto fundamental, como nos lembra Mezan (2007, p. 354), que a garantia da validade de qualquer conhecimento cientifi co recai sobre a aplicao de mtodos obrigatoriamente no-arbitrrios. Para que o progresso de qualquer cincia se d, seja ela defi nida como for, abso-lutamente necessrio que haja um ncleo slido de informaes coerentes. Uma teoria s ser aceita se apresentar consistncia interna, compatibilidade com os princpios gerais do campo epistemolgico a que pertence e capacidade para li-dar com novas descobertas, podendo ser modifi cada quando desafi ada por algum novo fenmeno que a desafi e com sucesso. O modelo psicanaltico cumpre todas essas exigncias, seja em termos de coerncia terica e sua relao com o mtodo de investigao forjado por ele, seja quanto as mudanas ocorridas na teoria e na tcnica em decorrncia de eventos que pusessem a psicanlise prova. Ainda que os critrios e os argumentos aqui apresentados sobre a cientifi cidade da psican-lise sejam diferentes e mantenham em aberto a discusso, nenhum deles pe em questo a qualidade ou pertinncia da teoria freudiana dentro dos contextos expli-citados e esclarecidos por Freud ao longo do desenvolvimento de sua criao.

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    Recebido em: julho de 2009Aceito em: fevereiro de 2010