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50 anos em 50: O Longo e Sinuoso Caminho do Desenvolvimento Industrial Brasileiro David Kupfer Instituto de Economia da UFRJ (IE/UFRJ) João Carlos Ferraz Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e CEPAL Laura Carvalho New School of Social Research (NSSR)

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50 anos em 50:  O Longo e Sinuoso Caminho do 

Desenvolvimento Industrial Brasileiro       

David Kupfer Instituto de Economia da UFRJ (IE/UFRJ) 

 

João Carlos Ferraz Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e CEPAL 

 

Laura Carvalho New School of Social Research (NSSR) 

      

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50 anos em 50:  O Longo e Sinuoso Caminho do Desenvolvimento Industrial Brasileiro* 

David Kupfer IE/UFRJ 

João Carlos Ferraz BNDES e CEPAL 

Laura Carvalho NSSR 

  

Resumo O artigo compila e sistematiza estatísticas descritivas sobre produção, emprego, investimento e comércio exterior para a economia brasileira durante os últimos 50 anos, distinguindo setores e atores. O exame levou à  identificação de duas grandes  trajetórias de crescimento. A primeira, o “empuxo para dentro”, vigente de 1959 a 1979,  foi  subdividida em duas ondas,  seguindo modificações no  regime econômico (Plano  de Metas  e  Planos Nacionais  de Desenvolvimento). A  segunda  trajetória,  “empuxo  para  fora”, vigente de 1980 a 2003, também  foi subdividida em duas ondas,  igualmente em vista de mudanças no regime econômico: fuga para as exportações e novos entrantes. O período mais recente, a partir de 2004, designado  “stop  or  go?”  é  então  analisado,  evidenciando  os  elementos  que  estavam  inclinando  a tendência  novamente  na  direção  de  um  “empuxo  para  dentro”,  reeditando,  talvez,  as  condições  de crescimento  sustentado  do  passado.  Interrompido  pela  crise  internacional  de  2008,  esse  padrão  de desenvolvimento traz novos desafios para ser retomado, que são examinados na parte final do texto. 

   

Abstract This paper compile and discuss descriptive statistics on production, job, investment and external trade for the Brazilian  economy during  the  last 50  years, distinguishing  sectors  and  actors.  The data  led  to  the identification  of  two main  trajectories  of  growth.  The  first  one,  “inward  oriented”,  effective  between 1959  and  1979, were  subdivided  in  two waves,  the  “Goal’s  Plan”  period  and  the  “National  Plans  of Development”  period,  in  accordance  with  changes  in  the  economic  regime.  The  second  trajectory, “outward oriented”, effective from 1980 to 2003, also was stylized in two waves: “escape by exports” and “entry of newcomers”.  Then,  the  recent period,  from  2004  to now, named  “stop or  go”,  is  analyzed, showing  some  evidences  that  the  pendulum  is  swinging  back  to  an  inward  oriented  path,  reediting, perhaps, the conditions of sustained growth of the past.  Interrupted by the  international crisis of 2008, this pattern of development brings new challenges that are examined in the final part of the text. 

 

                                                            * Artigo preparado para o Seminario 50 años de desarrollo industrial en América Latina: Contexto, sectores y actores, realizado em Buenos Aires, 27 de agosto de 2009 

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Sumário 1. INTRODUÇÃO: 50 ANOS DE INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL...........................................................................1

2. A FASE DO EMPUXO INTERNO: 1959 A 1979 ..................................................................................................4 2.1. 1A ONDA – DÉCADA DE 1950 : O PLANO DE METAS E OS “50 ANOS EM 5”........................................................4

2.1.1. Contexto......................................................................................................................................4 2.1.2. Setores ........................................................................................................................................6 2.1.3. Atores ..........................................................................................................................................8

2.2. 2A ONDA – DÉCADA DE 1970: OS PLANOS NACIONAIS DE DESENVOLVIMENTO E O “MILAGRE ECONÔMICO” ..............9

2.2.1. Contexto......................................................................................................................................9 2.2.2. Setores ......................................................................................................................................10 2.2.3. Atores ........................................................................................................................................13

3. A FASE DO EMPUXO EXTERNO: 1980 A 2003................................................................................................14 3.1. 1ª. ONDA ‐ DÉCADA DE 1980: A DÉCADA PERDIDA E A FUGA PARA AS EXPORTAÇÕES..........................................14

3.1.1. Contexto....................................................................................................................................14 3.1.2. Setores ......................................................................................................................................15 3.1.3. Atores ........................................................................................................................................18

3.2. 2ª. ONDA  ‐ (1990 ATÉ 2003): LIBERALIZAÇÃO ECONÔMICA E OS NOVOS ENTRANTES.........................................19 3.2.1. Contexto....................................................................................................................................19 3.2.2. Setores ......................................................................................................................................21 3.2.3. Atores ........................................................................................................................................24

4. A RETOMADA DO EMPUXO INTERNO EM 2004‐2008 E A CRISE: STOP OR GO? .............................................27

5. CONSIDERAÇÃOES FINAIS: OS 50 ANOS EM 50 ‐ UMA VISÃO DE CONJUNTO ................................................29

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................................................33  

ÍNDICE DE TABELAS 

TABELA 1 COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (VA) E DO PESSOAL OCUPADO (PO)  ANTES E DEPOIS DO PLANO DE METAS............................ 7 TABELA 2 EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (VA) E DO PESSOAL OCUPADO (PO) ENTRE 1968 E 1979 ................................ 11 TABELA 3 COMPOSIÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (X) E IMPORTAÇÕES (M) ENTRE 1974 E 1979................................................................. 11 TABELA 4 EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (VA) E DO PESSOAL OCUPADO (PO) ENTRE 1980 E 1989 ................................ 16 TABELA 5 COMPOSIÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (X) E IMPORTAÇÕES (M) ENTRE 1980 E 1989................................................................. 17 TABELA 6 COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (VA) E PESSOAL OCUPADO (PO) ENTRE 1990 E 2003............................................................... 22 TABELA 7 COMPOSIÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (X) E IMPORTAÇÕES (M) ENTRE 1990 E 2003................................................................. 23

ÍNDICE DE GRÁFICOS 

GRÁFICO 1 REGIMES ECONÔMICOS E DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL................................................................................................................. 2 GRÁFICO 2 QUANTUM IMPORTADO POR CATEGORIA DE USO (BASE 2006) ENTRE 1974 E 1979 .......................................................................... 12 GRÁFICO 3 FORMAÇÃO BRUTA DO CAPITAL FIXO DOS SETORES PUBLICO E PRIVADO EM % DO PIB (EM R$ DE 1980) ENTRE 1970 E 1979......... 13 GRÁFICO 4 QUANTUM EXPORTADO POR CATEGORIA DE USO (BASE 2006) ENTRE 1980 E 1989 .......................................................................... 17 GRÁFICO 5 QUANTUM IMPORTADO POR CATEGORIA DE USO (BASE 2006) ENTRE 1980 E 1989 .......................................................................... 18 GRÁFICO 6 FORMAÇÃO BRUTA DO CAPITAL FIXO DOS SETORES PUBLICO E PRIVADO EM % DO PIB (EM R$ DE 1980) ENTRE 1980 E 1989......... 19 GRÁFICO 7 QUANTUM EXPORTADO POR CATEGORIA DE USO (BASE 2006) ENTRE 1990 E 2003 .......................................................................... 23 GRÁFICO 8 QUANTUM IMPORTADO POR CATEGORIA DE USO (BASE 2006) ENTRE 1990 E 2003 .......................................................................... 24 GRÁFICO 9 FORMAÇÃO BRUTA DO CAPITAL FIXO DOS SETORES PUBLICO E PRIVADO EM % DO PIB (EM R$ DE 1980) ENTRE 1990 E 2002......... 25 GRÁFICO 10 EVOLUÇÃO RECENTE DO INVESTIMENTO:  TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL E PROPORÇÃO DO PIB ENTRE 2004 T1 E 2009 T2............... 28 GRÁFICO 11 DECOMPOSIÇÃO DA VARIAÇÃO MÉDIA ANUAL DO PIB ENTRE 1970 E 2008 ..................................................................................... 30 GRÁFICO 12 BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA 1980‐2008................................................................................................................................... 31 GRÁFICO 13 PARTICIPAÇÃO RELATIVA NO VALOR DE TRANSFORMAÇÃO INDUSTRIAL DE TRÊS GRUPOS DE ATIVIDADES ECONÔMICAS (1957‐2007)

.................................................................................................................................................................................................................... 32  

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1. INTRODUÇÃO: 50 ANOS DE INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL 

Há 50  anos o Brasil  vivia uma onda de desenvolvimento econômico  sem precedentes.  Estruturada no 

Plano de Metas editado pelo Governo Kubitschek, cujo lema era “50 anos em cinco”, tinha lugar então a 

construção de um padrão de industrialização planejada com base em um conjunto inédito de instituições 

e políticas voltadas para o fomento ao desenvolvimento industrial. O Plano de Metas tinha uma natureza 

pragmática,  utilizando‐se  de  instrumentos  tão  diversos  quanto  tarifas  aduaneiras  elevadas,  taxas 

diferenciadas de câmbio e controle de saída de divisas com um arcabouço legal e regulatório favorável à 

entrada  do  capital  estrangeiro  e,  ao mesmo  tempo,  o  recurso  à  participação  direta  do  Estado  nos 

investimentos na indústria de base e na infra‐estrutura.  

 

Alguns  anos  depois,  superada  uma  fase  de  instabilidade  política  e  econômica  no  início  da  década  de 

1960, teve lugar um segundo ciclo desenvolvimentista, organizado em torno do 1º e 2º Planos Nacionais 

de Desenvolvimento que o regime militar  instaurado no país  levou a cabo entre 1968 e 1979. Foram os 

anos do “Milagre Econômico” e do grande salto para a  industrialização pesada. De alcance ainda maior, 

esse novo ciclo desenvolvimentista conjugou instrumentos que tornaram ainda mais visível a mão firme 

do Estado como coordenador dos investimentos, por meio principalmente de um maior protagonismo da 

empresa estatal. Essas alcançaram um escopo de atuação muito além do verificado durante o Plano de 

Metas, atuando como controladora ou parceira relevante em um grande número de empreendimentos 

em setores estratégicos para o prosseguimento do processo de industrialização acelerado do país.  

 

Porém, a desestruturação do ordenamento econômico internacional pós‐Bretton Woods, que atingiu seu 

ponto nevrálgico  justamente nos anos  finais da década de 1970 com as crises do petróleo e dos  juros 

significou uma grande contração da liquidez nos mercados financeiros internacionais, jogando uma pá de 

cal no modelo altamente dependente de capitais externos que havia se  instituído no país. Desde então, 

imersa em um quadro de profunda  vulnerabilidade externa,  a economia brasileira passou  a enfrentar 

uma  pré‐disposição  crônica  ao  baixo  crescimento.  As  razões  para  isso  estavam  relacionadas  à 

desorganização macroeconômica  que  se  seguiu  ao  esgotamento  do  processo  de  industrialização  por 

substituição de importações. Os sucessivos surtos inflacionários ocorridos nesse período, cujo combate ia 

se  tornando  cada  vez  mais  difícil,  eram  as  evidências  inquestionáveis  do  grave  desequilibro  fiscal 

provocado por níveis insustentáveis de endividamento interno e externo do setor público. A necessidade 

de manter a taxa de câmbio real desvalorizada, para  impulsionar o saldo comercial, e as taxas de  juros 

elevadas,  para  possibilitar  o  fechamento  do  balanço  de  pagamentos  por meio  da  atração  de  capitais 

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externos, formavam uma equação de políticas pouco eficaz e cada vez mais custosa para a sociedade.  

 

Sucedem‐se então um  sem‐número de planos de estabilização monetária, começando em 1986 com o 

Plano Cruzado – uma tentativa de controlar a inflação pela via do congelamento dos preços – até o Plano 

Collor  –  uma  tentativa  ainda mais  heterodoxa  de  “matar”  a  inflação  pelo  congelamento  da  liquidez, 

conjugado a um processo rápido de abertura comercial e  liberalização da economia. Somente em 1993, 

com  a  edição  do  Plano  Real  –  um  plano  de  estabilização  baseado  em  uma  âncora  cambial  e  na 

intensificação da  abertura  comercial  e  financeira da economia – e, especialmente  após  a  sua  revisão, 

introduzida  como  resposta  à  crise  cambial  de  1999,  que  levou  à  adoção  de  um  regime  de metas  de 

inflação com âncoras monetárias e fiscais, que vigora até hoje, a inflação foi controlada.  

 

Essas sucessivas fases estão  ilustradas no Gráfico 1, que mostra a evolução da taxa de crescimento real 

da economia brasileira de 1955  a 2008. A  linha de  tendência é bastante  clara em  ilustrar  a perda de 

dinamismo que  vai  caracterizando  a  economia brasileira  ao  longo dos  anos,  evidenciando que nem o 

controle da inflação conseguido a partir do Plano Real em 1994, nem a melhora gradual nas condições de 

estabilidade macroeconômica conseqüentes à adoção dos regimes de câmbio flutuante e de metas fiscais 

foram  suficientes,  pelo menos  até  o momento,  para  reverter  a  tendência  ao  baixo  crescimento  do 

Produto Interno Bruto brasileiro, que se manteve sempre muito aquém da média dos países emergentes.  

 

GRÁFICO 1 REGIMES ECONÔMICOS E DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL 

‐6,0

‐5,0

‐4,0

‐3,0

‐2,0

‐1,0

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

11,0

12,0

13,0

14,0

15,0

1955

1956

1957

1958

1959

1960

1961

1962

1963

1964

1965

1966

1967

1968

1969

1970

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Taxa de Variação do PIB (preços de 2008)

1994: Plano Real

1982: Crise do Balanço de

Pagamentos 19998-2003: Crise Cambial e Política

Fontes: IPEADATA e IBGE

1963: CriseInflacionária

1968-76: Milagre

Econômico1956-61: Plano

de Metas

1988-1994:Hiperinflação

1955‐1980 1980‐2008

1986: Plano Cruzado

Linha de Tendência

Fase do Empuxo Interno Fase do Empuxo Externo

 

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Cinquenta  anos  após  o  início  dos  anos  áureos  do  desenvolvimentismo,  o  país  assiste  à  retomada  do 

crescimento  em  bases  aparentemente  sustentáveis. De  fato,  em  2008,  antes  do mergulho  provocado 

pela eclosão da grande crise financeira global de setembro de 2008, a economia exibia um desempenho 

qualitativamente  distinto  do  das  décadas  anteriores. Neste  novo  contexto,  o  Estado  voltou  a  por  em 

marcha  programas  e  planos  (Programa  de  Aceleração  do  Crescimento,  Política  de  Desenvolvimento 

Produtivo, entre outros), também de natureza pragmática, porém em um quadro de economia aberta e 

de acordos internacionais (ex. OMC), que diminuem a possibilidade de uso de alguns dos instrumentos do 

passado.  Estes  programas,  ainda  infantes,  datados  que  são  de  2007  e  2008  respectivamente,  tem  o 

mérito de trazer novamente para o centro das atenções o debate sobre como construir e manter políticas 

de desenvolvimento estruturantes, capazes de sustentar um ciclo longo de crescimento.  

 

É exatamente quando o  cenário  internacional está atravessando um período de  turbulência que essas 

questões  ganham  relevância. Dentre os países  latino‐americanos, o Brasil  foi o que  conseguiu  ir mais 

longe  no  projeto  original  de  industrialização,  foi  o  que  enfrentou  o  mais  prolongado  período  de 

estagnação e é, agora, o que reúne as melhores condições para o salto em direção a um novo estágio de 

desenvolvimento. Não é por outra razão que entendemos que visitar a história, neste momento, é um 

exercício  que  pode  trazer  ensinamentos  importantes  para  pensar  o  futuro.  Foi  exatamente  dessa 

convicção que surgiu a motivação para escrevermos esse artigo.  

 

Este é um artigo essencialmente empírico e exploratório. Nele compilamos e sistematizamos informações 

estatísticas  descritivas  sobre  produção,  emprego,  investimento  e  comércio  exterior  para  50  anos, 

distinguindo  setores e atores. A atividade  industrial  foi classificada em  três grandes grupos, de acordo 

com a importância relativa dos principais insumos para produção: recursos naturais, indústria tradicional 

(intensiva  em  trabalho)  e maior  conteúdo  tecnológico  (alta  intensidade  de  esforços  de  engenharia  e 

pesquisa e desenvolvimento). Os atores foram classificados em empresas estatais, privada de capital local 

e privada de capital estrangeiro.  

 

Este exame detalhado nos levou à identificação de duas grandes trajetórias de crescimento. A primeira, o 

“empuxo  para  dentro”  (seção  2),  vigente  de  1959  a  1979,  foi  subdividida  em  duas  ondas,  seguindo 

modificações no regime econômico (Plano de Metas e Planos Nacionais de Desenvolvimento). A segunda 

trajetória “empuxo para fora” (seção 3), vigente de 1980 a 2003, também foi subdividida em duas ondas, 

igualmente em vista de mudanças no regime econômico: fuga para as exportações e novos entrantes. O 

período mais recente, a partir de 2004, foi por nós designado “stop or go?” é abordado na seção 4. Nela 

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estão descritos os elementos que estavam inclinando a tendência novamente na direção de um “empuxo 

para dentro”, reeditando, talvez, as condições de crescimento sustentado do passado. Interrompido pela 

crise internacional de 2008, esse padrão de desenvolvimento traz novos desafios para ser retomado. Na 

última  seção,  com  base  em  uma  visão  de  conjunto  da  trajetória  de  industrialização  estabelecemos 

algumas considerações sobre esse tema. 

 

 

 

2. A FASE DO EMPUXO INTERNO: 1959 A 1979 

2.1. 1A ONDA – DÉCADA DE 1950 : O PLANO DE METAS E OS “50 ANOS EM 5” 

 

2.1.1. Contexto 

Embora  importantes  transformações na estrutura  institucional do Estado brasileiro, visando dotá‐lo de 

capacidade de  intervenção,  já viessem sendo  introduzidas desde a década de 1930, não havia ainda no 

pós‐guerra a experiência de planejamento econômico, aí incluindo tanto a capacidade de diagnosticar os 

principais problemas da economia brasileira, quanto o  conhecimento da  técnica de planejar de  forma 

racionalizada e precisa. Foi somente a partir de meados dos anos 1950 que o Estado brasileiro passa a 

desempenhar um papel mais ativo no desenvolvimento do setor industrial. 

 

Essa  construção  institucional  pode  ser  desdobrada  em  três  frentes.  Em  primeiro  lugar,  buscou‐se 

desenvolver um novo arcabouço legal e regulatório voltado para articula capital privado nacional, capital 

estrangeiro e o próprio Estado. Em segundo lugar, se reformula o regime de incentivos para dar proteção 

ao mercado interno e seus produtores, por meio da introdução de uma nova tarifa aduaneira e da política 

cambial, com controle de câmbio e  taxas diferenciadas. Em  terceiro  lugar, o Estado passou a  fomentar 

diretamente o desenvolvimento industrial, seja pela ampliação da sua participação nos investimentos na 

indústria de base (siderurgia, mineração, petroquímica) e na infra‐estrutura (energia e transportes), seja 

pela ação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico  (BNDE), criado em 1952 para  financiar o 

investimento em praticamente todos os gêneros industriais,  

 

Nesse  contexto,  o  Plano  de Metas  do  governo  Juscelino  Kubitschek  (1956‐1961)  se  constitui  como  a 

primeira  experiência  efetiva  de  planejamento  do  desenvolvimento  industrial  brasileiro.  O  plano,  que 

tinha  como mote  a  idéia  de  “50  anos  em  5”,  coordenava  um  programa  de  investimentos  públicos  e 

privados (nacionais e estrangeiros), de modo a cumprir uma lista de metas específicas para os setores de 

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energia,  transporte, alimentação,  indústrias de base e educação, visando o desenvolvimento acelerado 

da capacidade industrial.  

 

Além de buscar a superação dos chamados “pontos de estrangulamento” da economia brasileira, o Plano 

de Metas mirava os chamados “pontos de germinação”, ou seja, os setores que, quando desenvolvidos, 

seriam capazes de estimular outras atividades produtivas, como o de transportes (rodovias). Além disso, 

o Plano utilizava o conceito de ponto de estrangulamento externo para estabelecer a política de controle 

do comércio exterior, que focava no desenvolvimento dos setores que estariam  limitando a capacidade 

de importar do país.  

 

As  Instruções 70 e 113 da SUMOC (Superintendência de Moeda e Crédito, precursora do Banco Central 

do Brasil)  implementadas em 1953 e 1955  já haviam estabelecido uma nova disciplina na alocação das 

importações,  tornando‐a mais  racional e definida.  Junto à criação do BNDE e da Petrobrás em 1952 e 

1953,  estas medidas  abriram  espaço  para  o  salto  industrial  do  país.  No  entanto,  os  instrumentos  e 

políticas auxiliares ao Plano de Metas foram além, tornando‐o um período de forte protecionismo, com 

subsídio à formação de capital e à exportação, e pesada  intervenção reguladora que  incluíram proteção 

cambial e  tarifária e  controles  sobre  remessas de  lucros,  controles de preços, de  juros e de  tarifas de 

serviços públicos. 

 

Nos cinco anos correspondentes ao Plano de Metas o PIB real cresceu em média 9,3% ao ano, contra taxa 

média anual de 6,2% entre 1950 e 1956.  Já a  taxa média anual de crescimento do PIB da  indústria de 

transformação foi de 10,4% entre 1957 e 1961, contra 8% ao ano entre 1950 e 1956. Os maiores sucessos 

do Plano de Metas se concentraram nos setores de energia (petróleo), indústrias de base e alimentação, 

com destaque também para o crescimento da indústria automobilística.  

 

Tão  importante quanto o elevado ritmo de expansão econômica, o período do Plano de Metas marca o 

deslocamento das exportações como principal  fonte de demanda para o crescimento. Basta mencionar 

que as exportações cresceram em média 5,5% anuais no mesmo período, pouco mais da metade da taxa 

de crescimento atingida pelo PIB, tendo mesmo sofrido redução absoluta de valor em alguns anos. Com 

isso, o coeficiente de exportação passou de 6,8% do PIB em 1956 para 5,8% em 1961. Já as importações 

crescem em média 8,6% ao ano e não mudam muito sua participação no PIB. 

 

Fortes desequilíbrios  foram  criados no balanço de pagamentos desde  fins dos  anos 50,  refletindo um 

novo ciclo de deterioração das relações de troca que se dá a partir de 1958 e o crescimento dos serviços 

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do  capital estrangeiro desde 1957,  como  conseqüência do aumento dos  investimentos e empréstimos 

externos acumulados no início da década. 

 

Além disso, entre os pontos apontados como de fracasso do Plano de Metas está o processo inflacionário 

desencadeado durante o governo de Juscelino Kubitschek. O Plano não previa grande contrapartida fiscal 

ou outras  formas de  sustentação  financeira, o que  levou à utilização de mecanismos de emissão para 

financiar os investimentos governamentais. No entanto, a aceleração da inflação também foi em grande 

medida  reflexo  dos  problemas  do  setor  externo  apontados  acima.  O  Programa  de  Estabilização 

Monetária lançado em 1958 não foi capaz de conter o surto inflacionário que caracterizou esses anos.  

 

 

2.1.2. Setores 

 

Como  resultado do Plano de Metas e da adoção de um  regime  competitivo mais protecionista e mais 

apoiado  no  capital  estatal  a  estrutura  industrial  neste  período  avançou  muito  na  incorporação  de 

segmentos  da  indústria  pesada,  da  indústria  de  bens  de  consumo  duráveis  e  de  bens  de  capital, 

substituindo  importações  de  insumos  básicos,  máquinas  e  equipamentos,  automóveis  e 

eletrodomésticos.  Conforme  aponta  Serra  (1982),  o  impulso  do  Plano  de  Metas  provocou  uma 

diferenciação industrial intensa e sem precedente, em um período relativamente curto, sobretudo com a 

instalação no país das indústrias automobilística, construção naval, material elétrico e outras máquinas e 

equipamentos,  e  a  expansão  de  indústrias  básicas,  como  siderúrgica,  metais  não  ferrosos,  química 

pesada, petróleo, papel e celulose. 

 

Apesar da pouca disponibilidade de dados sobre a estrutura  industrial no período  relativo ao Plano de 

Metas,  os  dados  de  Valor  da  Transformação  Industrial,  que  podem  ser  usados  como  proxy  do  valor 

adicionado  (VA),  e  de  Pessoal  Ocupado  (PO),  ambos  classificados  por  gênero  industrial,  que  foram 

divulgados nos Censos Industriais de 1949 e 1959 e na primeira Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 1966, 

permitem  que  se  vislumbre  grandes mudanças  que  aconteceram  na  indústria  brasileira  ao  longo  do 

período em questão. Como será descrito na próxima seção, os anos que se seguem ao Plano de Metas e 

se estendem até 1968 são de forte recessão, sendo o crescimento da produção industrial ainda baseado 

na capacidade  instalada durante o período do Plano. Portanto, uma avaliação das mudanças estruturais 

ocorridas  até  1966,  por  falta  de  dados  relativos  ao  início  da  década  de  1960,  não  altera  muito  a 

compreensão dos resultados do Plano.  

 

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Como se observa na Tabela 1, o grupo de setores considerados como de maior conteúdo tecnológico, que 

engloba  basicamente  as  Indústrias Mecânica,  de Material  Elétrico  e  Comunicações,  e  de Material  de 

Transporte  (Automobilística)  representavam  apenas  8,6%  do  valor  adicionado  da  indústria  no  fim  da 

década anterior, mais do que dobrando sua participação, para 17,1%, em 1959 e chegando a 22,9% em 

1966. Este resultado se explica sobretudo pelo aumento do valor adicionado da indústria de Materiais de 

Transporte, cujo principal componente é a Automobilística, que passa de 2,2% do VA em 1949 para 7,4% 

em 1959 e 8,9% em 1966. 

 

TABELA 1 COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (VA) E DO PESSOAL OCUPADO (PO)  

ANTES E DEPOIS DO PLANO DE METAS EM % 

  1949  1959  1966 

Grupos  VA  PO  VA  PO  VA  PO 

RecursosNaturais  32,7 32,6 38,6 35,3  37,5  34,6

Tradicional  58,7 61,5 44,3 52,0  39,7  47,1

MaiorConteúdoTecnológico  8,6 6,0 17,1 12,7  22,9  18,4

Total  100,0 100,0 100,0 100,0  100,0  100,0Fonte: IBGE /Censo Industrial, IBGE/PIA Empresa 

 

As  indústrias produtoras de  recursos naturais, como por exemplo os  setores de Metalurgia e Minerais 

não‐metálicos, também aumentam seu peso neste período, passando de uma parcela total de 32,7% para 

37,5% do VA entre 1949 e 1966. Na realidade, os dois grupos de setores ganharam espaço em detrimento 

da  indústria Tradicional, que apesar de se manter com mais da metade do valor adicionado  industrial, 

perde cerca de 15% do VA ao longo da década de 1950 e mais 6% entre 1959 e 1966, sobretudo com as 

Indústrias Têxtil e de Alimentos, que  reduzem  sua participação,  respectivamente, de 19,2 e 20,1% em 

1949, para 11,7  e 16,1% em 1959, e  finalmente 10,4 e 13,9% em 1966. 

 

As mudanças observadas na estrutura do emprego, também mostradas na Tabela 1, são similares às  já 

observadas  na  estrutura  de  valor  adicionado  industrial,  com  a  diferença  que  no  emprego,  o  peso  da 

indústria  tradicional,  intensiva em  trabalho, é  ainda maior  inicialmente, mas   perde 10%  (ao  invés de 

15%) entre 1949 e 1959, e mais 5% entre 1959 e 1966. Entre os setores que mais perdem participação no 

Pessoal Ocupado  no  total  do  período  estão  novamente  o  Têxtil  e  de Alimentos,  e  entre  os  que mais 

ganharam  peso,  as  indústrias Metalúrgica,  de Material  de  Transporte,  seguidas  pela Mecânica  e  de 

Material Elétrico e de Comunicações.   

 

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2.1.3. Atores 

 

A onda de  industrialização brasileira  iniciada em meados dos anos 50 se baseou no tripé formado pelas 

empresas  do  Estado,  do  capital  privado  e  do  capital  estrangeiro.  Dentro  desta  divisão  de  tarefas, 

conforme  já apontado, coube uma proteção especial ao capital privado nacional, que era a parte mais 

frágil  do  tripé.  Além  de  ter  contado  com  incentivos  para  os  setores  de  bens  de  capital  e  setores 

fornecedores das empresas  transnacionais, o capital privado nacional beneficiou‐se muito da expansão 

da demanda por bens de consumo não duráveis no período.  

 

Quanto  à  participação  direta  do  Estado,  houve  neste  período  a  ampliação  da  Companhia  Siderúrgica 

Nacional,  bem  como  a  expansão  da  Petrobrás  e  do  setor  estatal  de  produção  de  energia  elétrica. 

Observa‐se no período o  crescimento do  investimento público enquanto proporção do PIB a partir de 

1956. De 1956 a 1961, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) do setor público passa a responder por 

cerca de 6% do PIB, enquanto que a FBCF do setor privado cai de mais de 14% do PIB em 1956 para cerca 

de 8% em 1961. 

 

Na  realidade,  é  a  partir  de meados  da  década  de  1950  que  se  acentua  a  entrada massiva  de  capital 

estrangeiro na produção de bens manufaturados destinados ao mercado interno. Nesse sentido, pode‐se 

dizer  que  o  salto  da  indústria  brasileira  na  direção  dos  ramos manufatureiros  pesados  de  bens  de 

produção e de consumo duráveis é inseparável da penetração das empresas transnacionais no setor. 

 

Conforme aponta Serra (1982), as empresas transnacionais concentraram‐se sobretudo nos setores mais 

dinâmicos  e  oligopolizados  da  indústria  de  transformação,  operando  com  escalas  de  produção, 

intensidade  de  capital,  complexidade  tecnológica  e  produtividade  mais  elevadas  que  as  empresas 

nacionais. As dificuldades do balanço de pagamentos  justificaram a política permissiva  com  relação as 

empresas transnacionais, ainda que muitas vezes houvessem contradições com o interesse nacional. No 

entanto,  pode‐se  dizer  que  havia  alto  grau  de  complementaridade  entre  as  atividades  das  empresas 

transnacionais  e  as  empresas  privadas  nacionais  do  setor  industrial,  como  no  caso  das  indústrias 

automobilística e de autopeças.  

 

 

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2.2. 2a ONDA – DÉCADA DE 1970: OS PLANOS NACIONAIS DE DESENVOLVIMENTO E O “MILAGRE ECONÔMICO”   

2.2.1. Contexto 

 

O  início  de  década  de  1960  é  marcado  pelo  declínio  do  ritmo  de  crescimento  da  economia.  Esta 

desaceleração  decorreu  em  parte  de  fatores  de  natureza  cíclica,  dada  a  conclusão  do  pacote  de 

investimentos  públicos  e  privados  iniciados  em  1956.  Com  a  crise  econômica  e  a  crise  política  que 

culminou na  imposição do regime autoritário militar em 1964, houve certo abandono do planejamento 

do  desenvolvimento  industrial,  conforme  aponta  Suzigan  (1996).  Os  planos  nacionais  passaram  a  se 

preocupar  sobretudo  com  a  estabilização  econômica,  sob  a  coordenação  do  Conselho  Monetário 

Nacional  (CMN),  o  que  contribuiu mais  ainda  para  a  desaceleração.  A  volta  da  preocupação  com  o 

planejamento do desenvolvimento econômico se dá nos anos do “milagre econômico brasileiro”, entre 

1968 e 1973, principalmente com a implementação dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND).  

 

Enquanto  o  I  PND,  ainda  sob  a  coordenação  da  CMN,  se  preocupou  mais  com  a  estratégia 

macroeconômica do que com um projeto de desenvolvimento  industrial e  tecnológico, o  II PND  (1975‐

1979),  implementado  sob  comando do Conselho de Desenvolvimento Econômico,  se  constitui  como a 

segunda experiência efetiva de planejamento do desenvolvimento  industrial, articulando  investimentos 

públicos e privados na indústria e infra‐estrutura econômica, social e de ciência e tecnologia. No âmbito 

da  infra‐estrutura,  alem de  energia  e  transportes,  investimentos  estatais  foram dirigidos para  a  infra‐

estrutura de armazenagem, comunicações e urbanização/saneamento.  

 

Pode‐se dizer que o II PND e as políticas que o complementaram até 1979 reforçaram e intensificaram a 

política  industrial  do  período  anterior.  A  política  de  proteção  comercial  se  tornou  discricionária  e 

crescentemente baseada em barreiras não tarifárias. O fomento ao desenvolvimento tecnológico passou 

a ser regido pelo sistema nacional de desenvolvimento científico e tecnológico (SNDCT) e os mecanismos 

de transferência de tecnologia e direitos de propriedade intelectual foram regulados; há implementação 

de  programas  regionais  e  setoriais  com  impacto  regional;  o  fomento  a  pequenas  e médias  empresas 

passa  a  contar  com  fundos  especiais  de  financiamento  e  se  desenvolve  um  programa  específico  de 

exportação.  Por  fim,  as  políticas  regulatórias  e  de  competição  foram  aplicadas mais  rigorosamente, 

especialmente  o  licenciamento  de  investimentos,  controle  de  preços  e  regulação  do  mercado  de 

trabalho.  

 

Entre 1963 e 1970, o crescimento da indústria ainda se deu baseado na capacidade ociosa construída no 

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fim da década de 1950 e  início da de 1960,  tendo os  investimentos  sido  retomados apenas em 1970, 

conforme destaca Suzigan  (1988). Após a  severa  recessão de 1963‐1967,  com o aumento da ajuda do 

Estado na expansão do mercado  interno e na promoção das exportações de produtos manufaturados, 

associada  às  condições  favoráveis  da  economia  mundial  em  termos  de  dinamismo  do  comércio 

internacional e  facilidades de aporte de capital externo de  risco e empréstimos em moeda, a  indústria 

brasileira experimentou a partir de 1968 um novo ciclo de rápido crescimento e mudanças estruturais.  

 

O PIB entre 1969 e 1979 cresceu em média a uma taxa real de 8,8%, contra 4,8% entre 1962 e 1968. Já a 

taxa média de  crescimento  real da  indústria de  transformação passa de 5,2% entre 1962 e 1968 para 

9,5% entre 1969 e 1979. Ao contrário do ciclo de crescimento anterior, o rápido crescimento desta vez 

esteve associado a uma maior abertura para o exterior. Como  resultado das políticas de  incentivo, as 

exportações  crescem em média 14,7% ao ano entre 1968 e 1979.   As  importações passam de 6,7 em 

1968  para  9,3%  do  PIB  em  1979,  refletindo  a  diversificação  do  parque  industrial  brasileiro  e  a 

disponibilidade de divisas proporcionada pelo crescimento das exportações. 

 

2.2.2. Setores 

 

Na  fase de desaceleração  econômica  compreendida  entre 1962  e 1967, houve queda do  crescimento 

industrial,  sendo o  setor mais afetado pela  redução de  investimentos, o de bens de  capital,  conforme 

aponta Serra (1982). Da mesma forma, a recuperação econômica se dá mais uma vez com este setor, e 

com o de bens de consumo duráveis. No entanto, as modificações estruturais da indústria e da economia 

foram muito menos acentuadas do que no ciclo de crescimento anterior. 

 

As mudanças ocorridas nas estruturas de valor adicionado e emprego, no período entre 1968 e 1979, 

podem ser observadas na Tabelas 2. De forma geral, pode‐se dizer que a Indústria Tradicional continua a 

perder espaço, tanto em VA quanto em emprego, perda esta que é dividida entre os outros dois grandes 

grupos de setores (Recursos Naturais e de Maior Conteúdo Tecnológico). 

 

Como  se observa na Tabela 2, o  total da parcela da  Indústria Tradicional, em  termos de VA,  tem  sua 

queda  concentrada  entre  os  anos  de  1968  e  1974,  relativos  ao milagre  econômico,  quando  passa  de 

44,6% para 39,8%, tendo se mantido relativamente estável até 1979. O principal responsável pela perda 

de peso da Indústria Tradicional ao longo do período é o setor Têxtil, que passa de 10,6% em 1968 para 

6,7% em 1979. Esta redução é em parte amenizada pelo aumento de peso de outros setores do grupo, 

como o de Vestuário, que sobe sua parcela no VA de 2,9 para 4,4%. Quem ganha participação no VA é a 

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Indústria Mecânica, que aumenta seu percentual de 5,2 para 9,9% do VA total no mesmo período.   

 

TABELA 2 EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (VA) E DO PESSOAL OCUPADO (PO) ENTRE 1968 E 

1979 Em % 

  1968  1974  1979 Grupos  VA  PO  VA  PO  VA  PO Recursos Naturais  37,9 35,0 37,7 33,1 39,6  33,9Tradicional  38,8 45,5 37,6 44,8 35,0  42,9Maior Conteúdo Tecnológico  23,3 19,5 24,7 22,2 25,5  23,2Total  100,0 100,0 100,0 100,0 100,0  100,0Fonte: IBGE/PIA Empresa  

 

Apesar  da  ligeira  queda  de  participação  da  Indústria  Tradicional,  a  estrutura  do  emprego  industrial 

apresenta  evolução  distinta  ao  longo do  período.  Enquanto  que  no VA,  o  setor  de Recursos Naturais 

ganha participação e se aproxima da parcela ocupada pela Tradicional (especialmente em 1974 e 1979), 

no  Emprego,  o  único  grupo  a  ganhar  peso  é  o  de Maior  Conteúdo  Tecnológico,  que  se  aproxima  da 

parcela representada pelos setores de Recursos Naturais, chegando a uma diferença de apenas 3% em 

1979.  Este  resultado  indica  que  indústrias  de  Maior  Conteúdo  Tecnológico  passam  a  absorver 

relativamente mais mão‐de‐obra  do  que  as  de  Recursos  Naturais  neste  período,  refletindo  possíveis 

aumentos de produtividade nos setores de Commodities.  

 

Mais uma vez, a indústria Mecânica é a principal ganhadora de participação do período, passando de 5% 

do Pessoal Ocupado em 1968 para 11,2% em 1979, seguida pela indústria de Vestuário, que sobe de 5,3 

para 8,8%, atenuando a queda do peso da  indústria Tradicional  (que apenas  reduz percentual de 45,5 

para 42,9%, sendo que somente a indústria Têxtil reduz seu peso de 14,9% em 1968 para 8,4 em 1979). 

 

As exportações, além de crescerem muito, passam por uma notável diversificação durante este período. 

Em primeiro  lugar, nota‐se o aumento da proporção de bens manufaturados na pauta exportadora: a 

agropecuária, que ocupava 15,6% do valor exportado em 1974, ocupa apenas 6,1% em 1979. Além disso, 

nota‐se na Tabela 3 o aumento substantivo da exportação de bens de maior conteúdo tecnológico, QUE : 

passaram de 8,6% das exportações em 1974 para 16,6% em 1979.  

 

TABELA 3 COMPOSIÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (X) E IMPORTAÇÕES (M) ENTRE 1974 E 1979 

Em %   1974  1979 

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  12

Grupo  X  M  X  M Agropecuária  15,6 6,1 Recursos Naturais   60,7

59,660,9 

67,8 

Tradicional  15,1 15,5 16,4  9,5 Maior Conteúdo Tecnológico   8,6 24,9 16,6  22,6 Total  100,0 100,0 100,0  100,0 Fonte: FUNCEX 

 

As  políticas  protecionistas  do  período  também  se  refletiram  na  pauta  importadora.  Em  um  primeiro 

momento,  também aumentam as  importações de bens de capital, dada a  complementaridade entre a 

produção  doméstica  e  as  importações  deste  setor,  que  por  sua  vez  era  decorrente  da  deficiência  do 

parque produtor  já  instalado, da maior  facilidade de  financiamento para bens de capital  importados e 

maior propensão das empresas  transnacionais para  importar as máquinas e equipamentos necessários 

(Serra, 1982). Em um  segundo momento, os  setores de maior  conteúdo  tecnológico passam  a perder 

participação (Tabela 3). 

 

Estas  mudanças  também  são  observadas  no  Gráfico  2,  que  apresenta  a  evolução  da  quantidade 

importada por categoria de uso no período. As  importações de bens de capital e de bens de consumo 

duráveis são substancialmente reduzidas no período,  tendo sido substituídas por produção nacional. 

 

GRÁFICO 2 

QUANTUM IMPORTADO POR CATEGORIA DE USO (BASE 2006) ENTRE 1974 E 1979 

 

Fonte: FUNCEX 

 

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  13

 

2.2.3. Atores 

 

Ainda apoiada no tripé capital privado, capital público e capital estrangeiro, a  industrialização brasileira 

continua  a  incorporar  setores mais  dinâmicos  ao  longo  da  década  de  1960  e  1970. A  observação  da 

evolução  da  FBCF  nacional  pública  e  privada,  entre  1962  e  1979,  no  Gráfico  3,  mostra  a 

complementaridade existente entre o investimento realizado pelos dois setores, sobretudo entre 1970 e 

1975.  

 

Conforme apontado anteriormente, as empresas privadas durante a década de 1960 ainda se aproveitam 

muito da capacidade ociosa construída no período do Plano de Metas, sendo o investimento público um 

fator de freio à queda do ritmo de formação de capital fixo para o conjunto de economia entre 1963 e 

1965. Nota‐se, no entanto, um aumento  substantivo do  investimento privado em  relação ao PIB após 

esta data. O investimento público enquanto proporção do PIB cresce sobretudo entre 1973 e 1976.  

 

GRÁFICO 3 

FORMAÇÃO BRUTA DO CAPITAL FIXO DOS SETORES PUBLICO E PRIVADO EM % DO PIB (EM R$ DE 1980) 

ENTRE 1970 E 1979 

0

5 0

1 0 0

1 5 0

2 0 0

2 5 0

1 9 7 0 1 9 7 1 1 9 7 2 1 9 7 3 1 9 7 4 1 9 7 5 1 9 7 6 1 9 7 7 1 9 7 8 1 9 7 9

F B C F   d o  S e t o r  P ú b l ic o F B C F   d o  S e t o r  P r i v a d o  

Fonte: IBGE/SCN 2000, IBGE/RTSP, IPEA 

 

Já as empresas  transnacionais passam  a  controlar mais de 30% do estoque de  capital da  indústria de 

transformação,  segundo dados básicos da FINEP de 1978, citados por Serra  (1982). Em 1970, entre as 

empresas  lideres,  as  transnacionais  dominavam  a  produção  de  bens  duráveis  de  consumo  (85%  das 

vendas) e de bens de capital (57% das vendas), tendo ainda participação substancial na produção de bens 

de  consumo  não  duráveis  e  intermediários  (43  e  47%,  respectivamente). Desde  fins  dos  anos  60,  há 

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também uma tendência de associação das empresas transnacionais com as empresas nacionais, privadas 

ou estatais,  tanto do ponto de vista  tecnológico, quanto do ponto de vista  financeiro e de garantia de 

mercados para exportação, sendo esta última predominante no caso das empresas estatais. 

 

 

3. A FASE DO EMPUXO EXTERNO: 1980 A 2003 

3.1. 1ª. ONDA ‐ DÉCADA DE 1980: A DÉCADA PERDIDA E A FUGA PARA AS EXPORTAÇÕES 

 

3.1.1. Contexto 

 

Apesar do choque de petróleo de 1973 e da recessão internacional que se seguiu, a persistência de altas 

taxas  de  crescimento  econômico  entre  1974  e  1980  foi  explicada  por  dois  fatores  fundamentais.  Em 

primeiro  lugar, conforme  já destacado na última seção, pela estratégia  industrial do governo brasileiro, 

que tomou forma no II PND e provocou uma “marcha forçada” da economia no período (Castro e Souza, 

1985).    Em  segundo  lugar,  esta  “marcha  forçada”  foi  possibilitada  pelo  lado  do  financiamento  pela 

abundância de recursos externos criada pelos. No entanto, esta mesma fonte de recursos foi responsável 

pelo  aumento  rápido  da  dívida  externa  brasileira,  de modo  que  ao mesmo  tempo  em  que  ocorria  o 

catching‐up do ponto de vista industrial, o país entra em um processo de fragilização financeira, marcado 

pelo crescimento da inflação e da vulnerabilidade externa. 

 

O  segundo  choque  de  petróleo  em  1979,  que  é  seguido  pelo  forte  aumento  da  taxa  de  juros  norte‐

americana,  torna a estrutura da dívida pública brasileira ainda mais  frágil. A  recessão  internacional e a 

moratória mexicana  que  se  seguem  eliminam  a  entrada  de  recursos  externos  para  o  país,  levando  a 

instalação de uma crise aberta de dívida externa em 1982, enquanto no front interno, a recessão que se 

estabeleceu entre 1981 e 1983 agravou ainda mais o quadro deficitário das finanças públicas. Com tudo 

isso,  a  década  de  1980  tornou‐se  uma  “década  perdida”  no  âmbito  do  crescimento  econômico  e  do 

desenvolvimento  industrial. O  regime econômico deixa de privilegiar o desenvolvimento produtivo e a 

gestão macroeconômica em busca da estabilidade assume prioridade, processo este que logrará sucesso 

somente em 1994, com o Plano Real. A década de 1980, portanto, é marcada por importantes mudanças 

nos âmbitos  institucional e econômico. Ao mesmo  tempo, no âmbito político, ocorre o  fim do  regime 

militar em meados da década. 

 

A resolução da crise da dívida passou a ditar a política econômica do período, relegando as políticas de 

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desenvolvimento  a  um  plano  secundário.  Para  atrair  recursos  para  o  Estado  sob  a  forma  de  títulos 

públicos,  as  taxas  de  juros  foram  aumentadas,  retroalimentando  dívida  e  recessão.  Por  outro  lado, 

buscou‐se um ajuste externo a qualquer custo através da geração de superávits comerciais que gerassem 

divisas  para  saldar  os  compromissos  externos.  A  idéia  era  de  que  somente  resolvendo  o  problema 

externo,  seriam  eliminados  os  entraves  ao  crescimento  da  economia  doméstica.  A  balança  comercial 

começa a  ser  revertida, gerando pequeno  superávit em 1981, número este que  só aumenta nos anos 

seguintes e atinge o seu máximo em 1985. O câmbio é desvalorizado em 1983, e as exportações, muito 

estimuladas pelo crescimento dos EUA após esta data, são responsáveis pela maior taxa de crescimento 

econômico  observado  em  1984  e  1985.  Pode‐se  então  perceber  que  a  prioridade  à  gestão 

macroeconômica não deixa de  ter  reflexos  sobre a estrutura produtiva: é neste momento quando  são 

ativados mecanismos de incentivos (incluindo subsídios) para induzir as empresas a exportar, gerando as 

tão  escassas  divisas  externas.  Como  será  visto  logo  abaixo,  alguns  setores,  como  a  indústria 

automobilística, se aproveitam dos incentivos e logram exportar. 

 

No entanto, com o aumento da dívida interna, a crise se agravou na segunda metade da década de 1980. 

Alimentada pela desvalorização cambial e pelo alto grau de indexação de preços a inflação chega a uma 

taxa  anual  de  202%  em  1984,  contribuindo  para  aumentar  incertezas  e  diminuir  a  disposição  ao 

investimento  nos  diversos  setores  da  indústria.  São muitos  os  planos  de  estabilização  realizados  no 

período,  com  uso  de  controle  de  preços  e  reformas monetárias, mas  nenhum  foi  bem‐sucedido  na 

eliminação da inflação inercial. A expansão do consumo promovida pelo Plano Cruzado em 1986 mostrou 

que o problema externo ainda não estava solucionado: o aumento da demanda doméstica e a valorização 

cambial  causaram  a  redução das  exportações, praticamente  eliminando o  saldo  comercial  em  1986  e 

1987 e provocando a moratória da dívida externa em 1987.  

 

O crescimento real do PIB de 1,7% ao ano em média e do PIB industrial de apenas 0,4% anuais em média 

justificam a denominação de década perdida dada a esse período. Quanto ao setor externo, a década é 

marcada por aumentos no coeficiente de exportações, que passa de cerca de 9% do PIB em 1980 para 

21% em 1985 e a repressão das importações, resultando em saldos crescentes na balança comercial. 

 

3.1.2. Setores 

 

A  recessão econômica do período  se  reflete na estrutura  industrial, que não  sofre  grandes mudanças 

estruturais ao longo da década de 80. Como apontam Bonelli e Gonçalves (1998), os setores considerados 

dinâmicos  (bens  intermediários classificados pelos autores como “modernos” – metalúrgicos, químicos, 

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plásticos, materiais  de  construção,  papel  e  borracha  –  além  dos  bens  de  capital  e  parte  dos  bens  de 

consumo  duráveis)  encerram  neste  período  sua  trajetória  de  aumento  da  participação  na  estrutura 

industrial. 

 

Conforme  distinção  de  Teixeira  e  Ferraz  (1996),  a  fase  entre  1981  e  1988  é  marcada  pelo  ajuste 

exportador  da  economia  brasileira  em  resposta  à  crise  da  dívida,  que  se  sustenta  na maturação  dos 

investimentos do  II PND. Entre 1980 e 1982, a principal política de governo a afetar a  indústria é a de 

subsídios  fiscais  e  creditícios  à  exportação,  combinada  com  a  desvalorização  do  câmbio  real,  que 

estimulam um grande número de empresas a explorar o mercado externo. Em um segundo momento, 

entre  1983  e  1988,  o  governo  brasileiro  assumiu  a  responsabilidade  da  dívida  externa  de  empresas 

privadas e estatais, o que junto à grande instabilidade, levou as empresas industriais a fazer o chamado 

ajuste financeiro, procurando alta liquidez  e eliminando planos de investimento. 

 

Conforme  pode  ser  observado  na  Tabela  4,  ao  longo  da  década  de  1980  a  participação  relativa  dos 

grandes  grupos no VA da  indústria não  sofre  alteração. No  entanto, no  interior de  cada um ocorrem 

mudanças  importantes.  As  Indústrias  de  Alimentos  e  Bebidas  e  Têxtil  perderam  peso  no  produto 

industrial  durante  a  década,  passando,  respectivamente,  de  12,56%  e  6,59%  em  1981  para  11,42%  e 

5,21%  em  1989.  Ao  contrário,  a  Indústria  de Materiais  de  Transporte  ganha  peso,  aumentando  sua 

participação  de  7,64  para  9,12%  graças  à  sua  propensão  exportadora.  Por  fim,  a  Indústria Mecânica, 

reverte o  seu processo de  crescimento,  reduzindo  sua participação de 11,28 em 1981 para 9,37% em 

1989.  Já  a  composição  do  Pessoal  Ocupado  apresenta  evolução  semelhante.  Nota‐se  um  pequeno 

aumento  da  participação  da  Indústria  Tradicional  entre  1980  e  1983,  que  pode  estar  relacionada  ao 

ajuste exportador, ficando estabilizada a estrutura do emprego na segunda metade da década. 

 

TABELA 4 EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (VA) E DO PESSOAL OCUPADO (PO) ENTRE 1980 E 

1989 Em % 

  1980  1985  1989 Grupos  VA  PO  VA  PO  VA  PO Recursos Naturais   41,5 34,5 46,0 32,1  40,9  31,7Tradicional  32,9 43,1 31,3 45,4  31,3  44,2Maior Conteúdo Tecnológico   25,6 22,4 22,7 22,4  27,8  24,1Total  100,0 100,0 100,0 100,0  100,0  100,0

Fonte: IBGE/PIA Empresa  

A  observação  do  perfil  exportador  da  indústria  brasileira  no  período,  na  Tabela  5,  permite  confirmar 

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algumas das hipóteses anteriores. Os grupos Recursos Naturais e Tradicional, que inclui a Têxtil e o setor 

de Alimentos e Bebidas, aumentam sua participação no valor das exportações ao  longo do período em 

detrimento dos setores de maior conteúdo tecnológico, principalmente na primeira metade da década. 

 

TABELA 5 COMPOSIÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (X) E IMPORTAÇÕES (M) ENTRE 1980 E 1989 

Em %   1980  1985  1989 Grupos  X  M  X  M  X  M Recursos Naturais   65,3 71,5 66,7 73,3  61,1  58,0Tradicional  16,1 8,1 16,5 5,3  17,1  11,6Maior Conteúdo Tecnológico   18,6 20,4 16,8 21,5  21,7  30,4Total  100,0 100,0 100,0 100,0  100,0  100,0Fonte: FUNCEX  

A interrupção da trajetória anterior de sofisticação da estrutura industrial brasileira também se reflete no 

volume exportado, quando estimado pelo Índice de Quantum. Nota‐se no Gráfico 4 que as indústrias de 

Bens de Capital são as que mais reduzem as exportações entre 1981 e 1985, enquanto que as de Bens de 

Consumo não Duráveis e de Bens  Intermediários aumentam a quantidade exportada ao  longo da maior 

parte da década. 

 

GRÁFICO 4 

QUANTUM EXPORTADO POR CATEGORIA DE USO (BASE 2006) ENTRE 1980 E 1989 

0

5

10

15

20

25

30

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

Bens  de Capital

Bens  de consumoduráveis

Bens  de consumonão duráveis

Bens  Intermediários

 

Fonte: FUNCEX 

 

Confirmando o fim da era da substituição de importações, entre 1980 e 1989, os bens de maior conteúdo 

tecnológico  passam  de  20,4%  para  30,4%  do  valor  total  importado  de  bens  industriais,  conforme 

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apresentado na mesma tabela 6. Este processo se  inicia na segunda metade da década, quando  já não 

ocorre mais a maturação dos investimentos do II PND. 

 

Na  realidade, como mostra o Gráfico 5, o volume  importado cai para  todas as categorias de uso entre 

1980 e 1984, refletindo a recessão econômica e a desvalorização cambial que marcaram o período.   Na 

segunda metade da década, há pequeno aumento da quantidade  importada dos diversos tipos de bens 

(com destaque para o pico de  importação de bens de  consumo não duráveis em 1986,  ano do Plano 

Cruzado e da valorização cambial). 

 

GRÁFICO 5 

QUANTUM IMPORTADO POR CATEGORIA DE USO (BASE 2006) ENTRE 1980 E 1989 

0

5

10

15

20

25

30

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

Bens  de Capital

Bens  de consumoduráveis

Bens  de consumonão duráveis

Bens  Intermediários

 

Fonte: FUNCEX 

 

 

3.1.3. Atores 

 

A Formação Bruta de Capital Fixo sofre redução em proporção ao PIB entre 1980 e 1985, no período em 

que,  conforme  defendem  Castro  e  Souza  (1985),  o  crescimento  da  indústria  ainda  se  baseia  nos 

investimentos do II PND. Esta queda á ainda maior no setor privado, onde passa de cerca de 17 para 12% 

do  PIB,  conforme  se  observa  no  Gráfico  6.  Após  este  período,  os  investimentos  se  mantém 

aproximadamente no mesmo patamar em relação ao PIB: FBCF de 4% do PIB no setor público e 13% no 

setor privado. 

 

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GRÁFICO 6 

FORMAÇÃO BRUTA DO CAPITAL FIXO DOS SETORES PUBLICO E PRIVADO EM % DO PIB (EM R$ DE 1980) 

ENTRE 1980 E 1989 

02468

1012141618

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989

FBCF do setor público (% do PIB

FBCF do setor privado (% do 

Fonte: IBGE/SCN 2000, IBGE/RTSP, IPEA 

 

 

3.2. 2ª. ONDA  ‐ (1990 ATÉ 2003): LIBERALIZAÇÃO ECONÔMICA E OS NOVOS ENTRANTES  

 

3.2.1. Contexto 

A virada das década de 1980 foi marcada por grandes mudanças nos regimes institucional e econômico. 

As primeiras eleições diretas desde 1960 levaram ao poder o presidente Collor, cuja política econômica é 

uma  combinação  entre  uma  estratégia  de  estabilização  heterodoxa  e  um  conjunto  de  reformas 

institucionais liberalizantes.  

 

Estas reformas, chamadas de primeira geração, envolviam não somente as aberturas comercial (redução 

de  barreiras  tarifárias  e  não‐tarifárias  à  importação)  e  financeira  (abertura  da  conta  de  capital), mas 

também a desregulamentação da economia e as privatizações. Também havia a    idéia era de que seria 

possível reduzir e estabilizar a  inflação a partir da volta do fluxo de capitais para o Brasil, o que por sua 

vez  só  poderia  ocorrer  com  a  liberalização  do mercado  de  capitais.  Paralelamente,  o  governo  Collor 

também adotou uma política de elevação das taxas de juros reais, que somada ao conjunto de reformas 

gerou um grande afluxo de capitais durante os primeiros anos da década.  

 

A massiva entrada de capitais é  interrompida em 1992, quando aumenta a  incerteza sobre o ambiente 

político e econômico no país, a partir das evidências de corrupção e o grande movimento popular que se 

forma para o impeachment de Collor.  Após um esboço de uma estratégia econômica mais nacionalista e 

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intervencionista, durante o início do governo Itamar Franco, vice de Collor, a ameaça da crise econômica 

e as pressões políticas levam ao prosseguimento das reformas durante todo o restante da década.  

 

Em resposta à política econômica do ministro Fernando Henrique Cardoso e em especial às altas taxas de 

juros  praticadas,  os  capitais  retornam  em  massa  ao  país,  possibilitando  a  acumulação  de  reservas 

internacionais necessárias e suficientes à  realização de uma outra  tentativa de estabilização, desta vez 

com a utilização de uma âncora cambial. O Plano Real é  implementado em 1994 através da criação de 

duas moedas oficiais  (uma que servia como unidade de medida e a outra como meio de pagamento) e 

obtém sucesso imediato na redução da inflação. A baixa inflação somada à apreciação cambial estimulou 

instantaneamente a economia.  

 

Cardoso é eleito presidente em 1994 e re‐eleito em 1998. Durante seu primeiro mandato  (1995‐1998), 

não houve recuperação das exportações, de modo que os problemas na balança de pagamentos pioram 

com a crise asiática de 1997 e a crise  russa em 1998,  levando a uma crise cambial em 1999. O Banco 

Central adotou então um  regime de metas de  inflação e de  taxa de  câmbio  flutuante, o que  junto ao 

aumento do superávit primário do governo,  impediu a volta da  inflação e evitou o aumento da relação 

PIB/dívida pública, trazendo a assistência financeira do FMI.  

 

Após 1999, apesar da mudança no regime cambial, a política macroeconômica brasileira continuou a ser 

caracterizada pelas altas taxas de juros, mas desta vez com alto superávit primário. A crise Argentina em 

2001 e as expectativas após a eleição de Lula em 2002 reduzem a entrada de capitais, dando novo golpe 

na  economia:  o  câmbio  se  desvaloriza,  a  inflação  acelera,  o  crescimento  econômico  é  reduzido  e 

aumentam as exportações. 

 

Apesar das expectativas de  grandes mudanças,  a política macroeconômica de  Lula  se manteve  com  a 

mesma  estratégia:  os  juros  e  o  superávit  primário  foram  aumentados  no  início  da  gestão,  trazendo 

instantaneamente de volta o capital estrangeiro e provocando nova apreciação do câmbio. 

 

Em  termos  do  desempenho  da  economia,  da  distribuição  de  renda  e  do  catching‐up  industrial  e 

tecnológico do país, a década de 1990 (até 2003) se junta à década de 1980 enquanto “década perdida”, 

ao  contrário  do  que  sustentavam  o  FMI  e  os  demais  advogados  do  Consenso  de  Washington.  O 

crescimento médio do PIB real foi de 1,2%   ao ano entre 1990 e 1994 e de 2,2% desde a estabilização, 

entre 1995 e 2003. Já o crescimento  industrial, foi de apenas 0,8% em média entre 1990 e 1994 e 1,4% 

entre 1995 e 2003.  

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No  setor  externo,  as  exportações  crescem  de  8,2%  do  PIB  em  1990  para  15%  em  2003. Ainda  como 

reflexo da política de abertura, as  importações aumentam de 7 para 12% do PIB entre 1990 e 2003. A 

situação da balança comercial se deteriora até que surge o primeiro déficit em 1995. 

 

De  fato,  conforme  destacam  Souza,  Burlamaqui  e  Barbosa‐Filho  (2005),  a  economia  se  tornou mais 

aberta  para  o  comércio  exterior  e  o mercado  de  capitais, mas  sem  aumentar  sua  participação  nas 

exportações mundiais ou  reduzir  a  vulnerabilidade  externa. Os maiores  avanços da década,  conforme 

apontam os  autores,  se deram na  produção  agrícola  (agrobusiness),  com um  aumento  substancial na 

produção e nos indicadores de produtividade dos produtos exportados, e no setor de petróleo, no qual a 

Petrobrás, empresa ainda estatal, aumentou consideravelmente seu peso no mercado domestico. 

 

3.2.2. Setores 

 

Conforme  já descrito,  a  década  de  1990  foi marcada  no Brasil por  duas mudanças  no  regime 

econômico  e  competitivo:  a  liberalização  econômica  e  a  estabilização  monetária  (Kupfer,  1998).  A 

indústria nacional passou a enfrentar um ambiente caracterizado por sobrevalorização cambial, taxas de 

juros elevadas e redução das barreiras à entrada de empresas estrangeiras. Em primeiro  lugar, como  já 

apontado, o  resultado deste  cenário  foi a deterioração da balança  comercial brasileira e a entrada de 

capital estrangeiro para  financiar este déficit, o que, por  sua vez, elevou a vulnerabilidade externa da 

economia nacional. Além disso, a década de 1990  foi para a economia brasileira um período de baixo 

crescimento dos investimentos.  

 

Por fim, após análise dos  impactos da  liberalização sobre a composição e os níveis de produtividade da 

estrutura industrial brasileira, vê‐se em Ferraz, Kupfer e Iootty (2004) que de uma forma geral, a indústria 

doméstica  se  adaptou  de  forma  diferenciada  às  reformas  da  década  de  1990,  tornando‐se  mais 

competitiva em alguns casos. No entanto, parte do aumento da produtividade na  indústria decorreu da 

maior importação de insumos e bens intermediários, o que por sua vez contribuiu para o rompimento e a 

fragilização de alguns elos da cadeia produtiva no Brasil. Na realidade, a  liberalização comercial  levou à 

modernização produtiva via simplificação de produtos e processos e outsourcing de insumos, resultando 

aumentos importantes da produtividade da indústria.  

 

A Tabelas 6,  referente à evolução da composição do valor adicionado da  indústria entre 1990 e 2003, 

permite uma primeira avaliação sobre a evolução da estrutura industrial do país. Entre 1990 e 1994, esta 

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estrutura permanece basicamente congelada, com uma ligeira redução do peso dos setores de Recursos 

Naturais e aumento da Indústria Tradicional.  

 

TABELA 6 COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (VA) E PESSOAL OCUPADO (PO) 

ENTRE 1990 E 2003 Em % 

   1990  1994  1999  2003 Grupos  VA  PO  VA  PO  VA  PO  VA  PO Recursos Naturais   39,6  30,7 38,6 30,6 41,3 33,7  47,2 32,7Tradicional  33,3  45,2 34,0 46,5 34,9 54,6  30,3 54,6Maior Conteúdo Tecnológico   27,1  24,2 27,4 22,9 23,8 11,7  22,5 12,7Total  100,0  100,0 100,0 100,0 100,0 100,0  100,0 100,0Fonte: IBGE/PIA Empresa  

No  entanto,  após  1994,  com  a  estabilização  e  abertura,  a  parcela  ocupada  pelas  indústrias  de maior 

conteúdo  tecnológico  inicia uma  trajetória de queda, passando para 22,5% do VA em 2003. Por outro 

lado, o grupo da indústria tradicional chega a ultrapassar a indústria de recursos naturais em participação 

entre 1995 e 1999. Após 1999, os setores baseados em recursos naturais, liderados pelo setor petróleo, 

passam a assumir a liderança na estrutura industrial brasileira. 

 

De  acordo  com  o  IBGE,  entre  os  setores  que mais  ganharam  peso  na  produção  industrial  durante  a 

década de 1990 estão o de Alimentos e Bebidas (que eleva a sua participação de 12,43 para 18,25%) e a 

Indústria  Química.  Por  outro  lado,  os  setores  produtores  de Material  Elétrico  e  de  Comunicações,  a 

Indústria Mecânica, a Metalúrgica, a Têxtil, e,  finalmente, a  Indústria de Artigos de Vestuário, Couro e 

Calçados reduziram significativamente seu peso no VA durante todo o período.  

 

As mudanças  ocorridas  na  estrutura  do  emprego  industrial  ao  longo  do  período  1990‐2003  também 

podem  ser  vistas  na  Tabela  6.  Apesar  da mudança  de metodologia  da  Pesquisa  Industrial  Anual  que 

ocorre em 1996 e dificulta a avaliação da série de forma contínua, ainda é possível observar, mais uma 

vez,  que  o  período  1990‐1994  não  apresenta mudança  estrutural  relevante.  No  entanto,  durante  o 

período 1995‐2003 ocorrem mudanças importantes na estrutura do emprego, com queda de dez pontos 

percentuais da participação relativa nos setores de maior conteúdo tecnológico. Há um  ligeiro aumento 

na participação  relativa do emprego nos Recursos Naturais e um crescimento de 8 pontos percentuais 

para a o grupo Tradicional que mantêm a maior parte do emprego industrial do país. 

 

As  exportações  no  período  aumentam  substancialmente  para  todos  os  setores,  conforme  aponta  o 

Gráfico 7, com destaque para as indústrias de bens de consumo duráveis e não duráveis. As participações 

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na pauta oscilam ao longo da década, com aumento seguido de queda do peso da indústria Tradicional, e 

trajetória reversa seguida pelas indústrias de maior conteúdo tecnológico, conforme revela a Tabela 7. 

 

GRÁFICO 7 QUANTUM EXPORTADO POR CATEGORIA DE USO (BASE 2006) ENTRE 1990 E 2003 

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002

Bens  de Capital

Bens  de consumoduráveis

Bens  de consumonão duráveis

Bens  Intermediários

 Fonte: FUNCEX 

 

 

 

TABELA 7 COMPOSIÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (X) E IMPORTAÇÕES (M) ENTRE 1990 E 2003 

Em %    1990  1994  1999  2003 Grupos  X  M  X  M  X  M  X  M Recursos Naturais   61,9  56,8 57,8 44,8 54,7 39,5  55,3 48,1Tradicional  18,0  10,2 19,8 11,6 19,3 10,6  18,3 9,1Maior Conteúdo Tecnológico   20,1  33,0 22,4 43,6 26,0 49,9  26,4 42,8Total  100,0  100,0 100,0 100,0 100,0 100,0  100,0 100,0

Fonte: FUNCEX  

 

Sob  um  regime  de  liberalização  econômica,  estabilização  e  crescimento  –como  foi  o  período  aqui 

analisado‐ o perfil das  importações apresenta mudanças  importantes, principalmente para os bens de 

maior conteúdo tecnológico. Como mostra o Gráfico 8, as importações aumentam fortemente para todas 

as categorias de uso entre 1990 e 1997, se estabilizando após esta data, quando emerge a crise asiática e 

o  câmbio  sofre desvalorização. Do  início da década até 1998, os bens de maior  conteúdo  tecnológico 

aumentaram  substancialmente  seu  peso  no  valor  das  importações,  em  detrimento,  sobretudo,  das 

importações de commodities. Esta mudança reflete as estratégias das firmas industriais após a abertura 

de  redução  de  custos  via  contração  do  leque  de  produtos  fabricados  no  país  e  substituição  por 

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componentes  importados.  Este  ajuste,  como destacado  em  Teixeira  e  Ferraz  (1996)  foi  facilitado pela 

grande oferta de inovações genéricas a baixo custo, como componentes microeletrônicos de automação 

industrial. Já após 1999 nota‐se uma lenta reversão deste processo, com redução da participação de bens 

sofisticados na pauta importadora. 

 GRÁFICO 8 

QUANTUM IMPORTADO POR CATEGORIA DE USO (BASE 2006) ENTRE 1990 E 2003 

0

20

40

60

80

100

120

140

160

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002

Bens  de Capital

Bens  de consumoduráveis

Bens  de consumonão duráveis

Bens  Intermediários

 

Fonte: FUNCEX 

 

Em termos de composição, a principal mudança é observada no grupo de maior conteúdo tecnológico. A 

partir de 1991 e até 1998 as  importações neste grupo crescem a taxas positivas, passando de 33,2% do 

total naquele ano para 50,1% em 1998. A partir de então se observa queda, atingindo 42,8% em 2003. O 

grupo tradicional, como era de se esperar, é aquele com menor propensão à importação, mantendo‐se a 

participação do grupo na faixa de 10%, com um pico de 14,0% do total em 1996. Os recursos naturais, por 

outro  lado, que  respondiam por mais da metade das  importações no  início,  terminam o período  com 

44,8% do total. 

 

3.2.3. Atores 

 

Com  relação  ao  esforço  de  formação  de  capital  do  país,  a  trajetória  de  queda  da  participação  dos 

investimentos públicos,  já presente desde a década anterior,  continua e até mesmo  se  intensifica. De 

fato, os investimentos públicos que chegaram a atingir 6% do PIB em 1982 e que já haviam caído para 4% 

em 1989, seguiram  ladeira abaixo, situando‐se na casa dos 2% em 2002, como mostra o Gráfico 9. Já a 

Formação Bruta do Capital Fixo do setor privado sofreu redução em um primeiro momento, entre 1990 e 

1993 (de 12 para um pouco mais de 9% do PIB), aumentando entre 1993 e 1997, e voltando a cair entre 

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1998 e 2003, sugerindo que a estabilização monetária proporcionada pelo Plano Real teve fôlego curto na 

mudança  das  condições  de  atratividade  dos  investimentos  no  país,  com  o  retorno  de  um  quadro  de 

grande incerteza após a crise cambial de 1999 e a crise sucessória de 2002‐2003.  

 

GRÁFICO 9 FORMAÇÃO BRUTA DO CAPITAL FIXO DOS SETORES PUBLICO E PRIVADO EM % DO PIB (EM R$ DE 1980) 

ENTRE 1990 E 2002 

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

1990199119921993199419951996199719981999200020012002

FBCF do setor público (% do PIB

FBCF do setor privado (% do  Fonte: IBGE/SCN 2000, IBGE/RTSP, IPEA 

 

Boa parte desse desempenho decrescente do  investimento público decorreu do avanço do processo de 

desestatização  que marcou  a  política  econômica  desses  anos,  inicialmente  com  a  predominância  da 

venda de empresas da  indústria de  transformação de 1991 a 1996 e, posteriormente, do segmento de 

serviços, de 1997 em diante.  

 

Diferentemente  da  distribuição  setorial,  a  estrutura  da  indústria  segundo  a  nacionalidade  do  capital 

sofreu grandes transformações nesses anos, muito em decorrência do processo de desestatização, mas 

não  apenas  por  essa  razão.  Estudo  realizado  por  Kupfer  (2002)  com  um  grupo  de  empresas  líderes 

mostrou  que  os  resultados  do  programa  de  desestatização  implementado  pelo  governo  brasileiro  na 

primeira metade  da  década  de  90  repercutiram mais  amplamente  na  indústria  baseada  em  recursos 

naturais,  haja  vista  que  era  nesse  segmento  que  estava  concentrada  a  participação  das  empresas 

estatais. De fato, as empresas estatais, cujo faturamento se aproximava da metade do obtido pelo grupo 

de empresas líderes desse segmento em 1991, viu‐se resumida exclusivamente à Petrobras já em 1996. O 

declínio das empresas estatais correspondeu  inicialmente ao  incremento da participação das empresas 

nacionais,  situação,  porém,  registrando  as  seguir  um  grande  avanço  das  empresas multinacionais  na 

produção de commodities, que chegaram a 1999 com um market‐share bem próximo ao das empresas 

nacionais.  

 

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Na indústria de maior conteúdo tecnológico, a década de 1990 foi um período de ratificação da crescente 

hegemonia  do  capital  estrangeiro.  As  empresas  multinacionais,  que  controlavam  cerca  de  50%  das 

receitas das empresas desse segmento em 1991, evoluíram continuamente no período, atingindo a quase 

totalidade do mercado, revelando a perda de competitividade das empresas nacionais nesse segmento e 

também  o  fasto  de  o  Estado,  cuja  participação  em  1991  limitava‐se  à  Embraer,  ter  se  retirado 

completamente do segmento. 

 

Mesmo na indústria tradicional verificou‐se transformação similar, com as empresas multinacionais, que 

representavam  pouco  mais  da  metade  das  receitas  obtidas  pelas  empresas  nacionais  em  1991, 

terminando a década praticamente em pé de igualdade com o capital local.  

 

Enfim,  a  década  caracterizou‐se  por  um  processo  de  desconcentração  econômica,  causado 

principalmente  pelo  fracionamento  de  algumas  grandes  empresas  estatais  e  por  grande  número  de 

entradas  de  novas  empresas  multinacionais  no  país.  No  sub‐período  1991‐1996  houve  importante 

redução do peso das empresas estatais e aumento do das empresas privadas,  independentemente da 

nacionalidade,  caracterizando  uma  etapa  de  desestatização.  Já  no  sub‐período  1996‐1999,  houve 

transferência de  receita das  empresas nacionais,  independentemente da natureza pública ou privada, 

para as empresas multinacionais, configurando uma etapa de desnacionalização. 

 

As grandes empresas privadas nacionais  foram deslocadas da  indústria para os serviços, em particular, 

atividades  relacionadas  à  infra‐estrutura.  O  processo  de  privatização  teve  grande  importância  na 

explicação das mudanças observadas no perfil de especialização das empresas no período, mas  fatores 

relacionados à  liberalização e à estabilização monetária  também desempenharam  importante papel na 

maior atratividade ao  investimento direto externo que, mesmo que em  sua maior parte  tenha  visado 

somente a aquisição de ativos pré‐existentes, pode  ser  considerado muito  intenso, especialmente nos 

poucos anos de maior estabilidade macroeconômica que decorreram do Plano Real até a crise cambial de 

1999.  

 

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  27

 

4. A RETOMADA DO EMPUXO INTERNO EM 2004‐2008 E A CRISE: STOP OR GO? 

 

Após duas décadas de busca  incessante de condições macroeconômicas mais favoráveis à retomada do 

crescimento  econômico,  foi  apenas  no  período mais  recente,  que  se  inicia  em meados  de  2004  e  se 

estende até setembro de 2008, quando do  início da  fase aguda da crise  financeira  internacional, que a 

economia brasileira passou a exibir claros sinais de que uma importante inflexão na trajetória anterior de 

desenvolvimento encontrava‐se latente. De fato, é visível que nesses pouco mais de quatro anos algumas 

importantes  transformações  nas  condições  de  contorno  da  economia  brasileira  tiveram  lugar:  a 

estabilidade macroeconômica  se  consolidou,  as  exportações  cresceram  em  um  ritmo  inimaginável  e, 

acima de tudo, o mercado interno ressurgiu como principal força dinamizadora do crescimento.  

 

Cada uma dessas mudanças foi o reflexo de múltiplas causas. A consolidação da estabilidade decorreu de 

uma  intrincada conjunção de  interesses que congelou um modelo macroeconômico que, mais devido a 

sua  continuidade  do  que  devido  ao  acerto  das  diretrizes  da  política  econômica  nele  contidas,  teve  o 

mérito de assegurar uma transição política sem maiores rupturas que pudessem comprometer de modo 

irreversível as expectativas dos agentes. Já a disparada das exportações refletiu fatores exógenos, ligados 

ao contexto internacional favorável que vigorava especialmente nos mercados das commodities agrícolas 

e metálicas  no  quais  o  Brasil  apresenta  boa  inserção, mas  também  foi  fruto  do  aproveitamento  das 

oportunidades trazidas pela reestruturação estratégica promovida pelas grupos empresariais brasileiros, 

que aos poucos vinham buscando o mercado externo como uma opção mais permanente de receitas e 

não  somente  como  escoadouro  de  excedentes  nas  fases  de  recessão.  Finalmente,  o  aumento  da 

importância do mercado interno deu‐se como resposta aos efeitos de políticas de rendas adotadas pelo 

governo brasileiro dentre as quais se destacam a consolidação e ampliação do programa de transferência 

de renda condicional –Bolsa Família‐ e também, e principalmente, o crescimento real do salário mínimo. 

Também  o  retorno  do  crédito  ao  consumo  que,  com  a  maior  estabilidade  econômica,  pode  ser 

direcionado  também  para  as  classes  de  menor  renda,  ajuda  a  explicar  a  grande  aceleração 

experimentada pelo consumo doméstico no período.  

 

Todos  esses  fatores  conjugados  estavam  promovendo  aquilo  que  provavelmente  constituía  a  mais 

significativa  de  todas  as mudanças  em  curso  nesses  anos:  tomava  forma  no  país  um  forte  ciclo  de 

investimentos,  como não  se  via desde  a década de 1970. Como mostra o Gráfico 10, eram muitas  as 

evidências  desse  fato. Desde  2005  a  formação  bruta  de  capital  passou  a  crescer  sistematicamente  à 

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frente  do  PIB,  atingindo  às  vésperas  do  evento  Lehman  Brothers,  que  precipitou  a  crise  financeira 

internacional  em  setembro  de  2008,  uma  taxa  de  crescimento,  na margem,  de  quase  20%  para  uma 

expansão do PIB da ordem de 6% (gráfico à esquerda). Com isso, a taxa de investimento como proporção 

do  PIB  vinha  em  contínua  ascensão,  tendo  deixado  um  piso  de menos  de  14%  do  PIB  no  primeiro 

trimestre de 2004 e rumava para valores já superiores a 19% no final de 2008, antes de a grande crise vir 

a se manifestar (gráfico à direita).  

 

Evidentemente a crise internacional modificou profundamente essa trajetória, haja vista que, assim como 

em tantos outros países, o seu contágio no Brasil deu‐se com grande força. Foram marcantes as quedas 

sofridas  pelo  produto  industrial,  pelo  comércio  internacional  e  pela  formação  bruta  de  capital.  A 

produção  industrial,  por  exemplo,  contraiu‐se  20%  entre  setembro  e  dezembro  de  2008,  em  grande 

medida em função da queda das exportações de manufaturados. Desses, 12% já foram recuperados entre 

dezembro  de  2008  e  junho  de  2009,  sinalizando  que  a  retomada  dos  níveis  prévios  de  expansão  do 

mercado nacional parece ser agora apenas uma questão de tempo.  

 

GRÁFICO 10 EVOLUÇÃO RECENTE DO INVESTIMENTO:  

TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL E PROPORÇÃO DO PIB ENTRE 2004 T1 E 2009 T2 

‐20

‐15

‐10

‐5

0

5

10

15

20

25

2004

 T1

2004

 T2

2004

 T3

2004

 T4

2005

 T1

2005

 T2

2005

 T3

2005

 T4

2006

 T1

2006

 T2

2006

 T3

2006

 T4

2007

 T1

2007

 T2

2007

 T3

2007

 T4

2008

 T1

2008

 T2

2008

 T3

2008

 T4

2009

 T1

Taxa de Variação da Formação de Capital Fixo (Tri/Tri‐4)

Taxa de Variação do PIB (Tri/Tri‐4)

12

13

14

15

16

17

18

19

2004 T1

2004 T2

2004 T3

2004 T4

2005 T1

2005 T2

2005 T3

2005 T4

2006 T1

2006 T2

2006 T3

2006 T4

2007 T1

2007 T2

2007 T3

2007 T4

2008 T1

2008 T2

2008 T3

2008 T4

2009 T1

2009 T2

Taxa de investimento (preços 2006) ‐ % PIB

Fonte: IBGE/SCN 

 

Em um plano de análise mais conjuntural, essa reação rápida da economia pode ser em grande medida 

atribuída,  primeiro,  ao  fato  de  que  o  mercado  de  trabalho  passou  quase  que  incólume  pela  crise, 

contribuindo  para  a manutenção  da  renda  das  famílias;  segundo,  como  efeito  de  diversas  políticas 

anticíclicas de sustentação da demanda interna, como desonerações tributárias sobre bens duráveis e de 

capital e o aumento dos gastos correntes e do  investimento públicos em obras de  infraestrutura e em 

programas de construção habitacional e; terceiro, ao maior ativismo dos bancos públicos – BNDES, Banco 

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do Brasil e Caixa Econômica Federal na concessão de empréstimos, melhorando as condições de liquidez 

da economia. . 

 

Contudo, em um plano de análise mais estrutural, na medida em que os efeitos da grande crise  forem 

ficando para trás, os desafios para o desenvolvimento industrial que já estavam postos desde a retomada 

pós‐2004  irão  retornar, provavelmente  com maior  força, em  vista das  implicações que uma expansão 

mais  lenta  da  economia  mundial  tenderá  a  trazer  sobre  o  acirramento  da  competitividade  e  a 

modificação  dos  padrões  de  concorrência,  tanto  para  os  exportadores  brasileiros  nos  mercados 

internacionais, quanto para os fabricantes domésticos no mercado nacional.  

 

Por  isso a  saída da  crise exigirá muito mais do que  tão  somente  recuperar  as engrenagens do  círculo 

virtuoso  do  crescimento  recente  que,  como  visto,  estava  associado  à  transferência  gradual  do  pólo 

dinâmico  da  economia  brasileira  inicialmente  das  exportações  para  o  consumo  interno  e,  mais 

recentemente, daí para o investimento. Isso porque, em paralelo a esse movimento, a atividade industrial 

via‐se  enredada  em um  círculo nada  virtuoso da  especialização  regressiva: maior  competitividade das 

atividades  baseadas  em  recursos  naturais;  concentração  da  pauta  de  produção  e  exportação  nesses 

produtos  com  dependência  crescente  de  importações  dos  demais;  perda  de  densidade  nas  cadeias 

produtivas, aumento do hiato de produtividade e  inovação do restante da  indústria, maior atratividade 

dos  investimentos nos  setores de  recursos naturais, aumento da  competitividade desses  setores.  Sem 

quebrar essa  circularidade não desejável, dificilmente o desafio  competitivo  trazido pelo novo  cenário 

econômico mundial será superado. Esse tema iremos abordar na próxima seção. 

 

 

5. CONSIDERAÇÃOES FINAIS: OS 50 ANOS EM 50 ‐ UMA VISÃO DE CONJUNTO 

Ao longo das seções anteriores foi possível traçar uma linha do tempo do processo de desenvolvimento, 

industrial brasileiro nos últimos 50 anos, organizando essa trajetória em torno de duas diferentes forças: 

o  empuxo  interno  do  período  desenvolvimentista  e  o  empuxo  externo  do  período  de  busca  da 

estabilidade.  Nessa  seção,  a  título  de  conclusão,  pretendemos  avançar  na  proposição  de  três  fatos 

estilizados que permitem a construção de uma visão de conjunto dessa trajetória de industrialização. São 

eles: 

 

i. a importância do mercado interno, em particular do investimento, como driver estratégico de um 

crescimento expressivo e sustentado 

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No gráfico 11 é possível perceber que ao  longo das últimas quatro décadas o crescimento da economia 

brasileira foi majoritariamente liderado pela demanda interna, exceto nos dois períodos que se estendem 

entre 1981 e 1984 e 1999 e 2003. Não por coincidência, estes dois períodos apresentaram taxas médias 

de crescimento relativamente baixas, principalmente quando comparados aos demais períodos. Percebe‐

se,  também,  que  o  padrão  de  crescimento  da  década  de  1970,  no  qual  todos  os  componentes 

apresentavam crescimento positivo e significativo, somente veio a ocorrer novamente no período mais 

recente,  como  se  depreende  da  semelhança  entre  os  padrões  de  crescimento  desses  dois  períodos. 

Particularmente marcante no período 2004‐2007 e em especial no primeiro semestre de 2008 foi a alta 

contribuição do investimento para o PIB em comparação aos baixos valores que foram típicos do período 

anterior  (1994‐2003),  para  não  mencionar  a  contribuição  negativa  ocorrida  no  período  1990‐1993, 

também reproduzindo similaridade com os padrões verificados na década de 1970. 

 

GRÁFICO 11 DECOMPOSIÇÃO DA VARIAÇÃO MÉDIA ANUAL DO PIB ENTRE 1970 E 2008 

5.1%

4.5%

2.1%3.1%

-0.7%

4.1%

0.1%

7.2%

12.3%

-4%

-2%

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

16%

1970-1973 1974-1980 1981-1984 1985-1989 1990-1993 1994-1998 1999-2003 2004-2007 2008 1s

Consumo final Formação Bruta de Capital Fixo Exportações Importações PIB 

Nota:  a  taxa  exibida  acima  de  cada  barra  refere‐se  à  taxa média  de  crescimento  do  PIB  ao  longo  do  período. 

Fonte: elaboração própria com base em IBGE/SCN.  

 

ii. a  integração da  economia brasileira  à  economia  internacional  como  fornecedora de matérias‐

primas 

 

O  segundo  fato  relevante  é  a  crescente  integração  à  economia  internacional  experimentada  pela 

economia brasileira, demonstrada pela rápida expansão da corrente de comércio ao  longo do tempo. O 

Gráfico  11  apresenta  a  evolução dos números  referentes  ao  comércio  exterior brasileiro de  1980  até 

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hoje. Verifica‐se que nos últimos dez anos as vendas ao exterior do Brasil alcançaram taxas de expansão 

superiores  a  20%  ao  ano,  levando  a  que  o  valor  total  exportado  pelo  país  duplicasse  no  período, 

colocando o Brasil no seleto clube dos países alcançam vendas externas na casa de 200 bilhões de dólares 

anuais ou mais. É  interessante enfatizar que a análise do desempenho de  longo prazo da  corrente de 

comércio exterior brasileira mostrado no gráfico  sugere que as exportações  seguem uma  trajetória de 

expansão  suave  e  contínua,  independente  das  oscilações  da  economia,  enquanto  as  importações,  ao 

contrário,  têm um  comportamento  extremamente  irregular,  com  explosões  e  contrações  comandadas 

pelo quadro macroeconômico.  

 

 

GRÁFICO 12 BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA 1980‐2008 

‐25.000

0

25.000

50.000

75.000

100.000

125.000

150.000

175.000

200.000

225.000

250.000

275.000

300.000

325.000

350.000

375.000

400.000

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

1000

Us$

Exportações Importações Saldo Corrente de Comércio   

Quando colocados em perspectiva internacional, porém, esse desempenho é nada mais do que mediano, 

isto  é,  a  despeito  de  todo  o  crescimento  absoluto  ocorrido,  as  exportações  de  manufaturados 

expandiram‐se em ritmo  inferior ao dos nossos concorrentes. Em 1980, as exportações brasileiras eram 

de 20,1 bilhões de dólares, valor que correspondia a 1,17% do comércio  internacional, de acordo com 

UNCTAD. Mesmo com os excelentes resultados conseguidos nos últimos anos, a participação brasileira na 

corrente de comércio mundial alcançou 1,18% em 2007, após ter atingido um máximo de 1,38% em 1984 

e um mínimo de 0,84% em 1999. Em termos da composição da pauta de exportação, os dados também 

não  são muito  alvissareiros,  tendo  ocorrido  um  aumento  do market‐share  apenas  para  os  produtos 

agrícolas.  

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iii. a  lenta  evolução  da  estrutura  industrial  na  direção  de  crescente  participação  de  atividades 

associadas aos recursos naturais 

 

Quando se observa a evolução da composição do valor adicionado na  indústria brasileira, mostrada no 

Gráfico 13 para o período 1959‐2007, verifica‐se que houve avanço da participação dos setores baseados 

em  recursos  naturais  (agropecuários  ‐  complexo  soja,  carnes  ou  industriais  ‐  mineração,  siderurgia, 

petroquímica), com uma nítida aceleração a partir da abertura comercial no início dos anos 1990. Já para 

a  indústria tradicional, voltada para a produção de bens de consumo não durável (alimentos, complexo 

têxtil‐calçados, móveis) e o suprimento dos  insumos  industriais mais simples e com menores requisitos 

de escala  (produtos de metal, plásticos, químicos diversos), é  inquestionável a perda de peso que vem 

ocorrendo desde a década de 1980, quando da estagnação da renda nacional, acelerada após a adoção 

do regime de câmbio  flutuante em 1999. Em uma situação  intermediária  fica o conjunto de setores de 

maior  conteúdo  tecnológico  (material  de  transporte,  mecânica,  eletrônica)  que,  se  não  recuou  no 

período coberto pelos dados, atravessou uma fase bastante adversa no período dos anos finais da década 

de 1990 e iniciais da atual década.   

 

GRÁFICO 13 PARTICIPAÇÃO RELATIVA NO VALOR DE TRANSFORMAÇÃO INDUSTRIAL DE TRÊS GRUPOS DE ATIVIDADES 

ECONÔMICAS (1957‐2007) 

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

0,50

1959

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

Recursos Naturais Tradicional Maior Conteúdo Tecnológico  Fonte: IBGE 

 

Esse comportamento de  longo prazo da estrutura produtiva confirma que está em  curso um processo 

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lento mas persistente de especialização da  indústria brasileira em setores produtores de commodities. 

Nesse processo, na  contramão do que  vem ocorrendo nas  indústrias  líderes mundiais,  são os  setores 

intensivos em  recursos naturais, menos dinâmicos na geração de  renda e emprego e mais sujeitos aos 

ciclos de preços e quantidades do comércio  internacional, que vêm conseguindo evoluir positivamente. 

Reverter esse quadro indesejável é o principal desafio a ser superado.  

 

Como mencionado  na  introdução,  este  artigo  é  um  esforço  exploratório,  essencialmente  empírico  e 

descritivo, visando reunir informações sobre a mudança estrutural ‐ ou sobre a sua ausência ‐ na indústria 

brasileira  para  relatar  uma  história  complexa  e  de  longa  duração.  Embora  extenso,  certamente  esse 

relato não é exaustivo. Muito mais do que esgotar um tema, aqui vislumbramos um vasto programa de 

investigação para rever argumentos, alcançar maior precisão nas conclusões e, principalmente, identificar 

causalidades e determinantes mais sólidos para explicar o longo e sinuoso caminho do desenvolvimento 

industrial brasileiro nos últimos 50 anos.  

 

A apreciação do  longo prazo  realizada no artigo  levou‐nos à única certeza possível: o desenvolvimento 

industrial depende, primeiro, da qualidade dos regimes econômicos praticados no país e, segundo, e mais 

fundamental,  da  habilidade  dos  governantes  em  conciliar  a  prudência  imposta  pelos  objetivos  de 

estabilidade com a ousadia requerida pelos objetivos de desenvolvimento nos diferentes momentos da 

história econômica nacional e mundial. 

 

 

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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