3.3 arranjo produtivo local eletrometal-mecÂnico …...segundo dados da tabela 3.3.1, entre os anos...
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3.3 ARRANJO PRODUTIVO LOCAL ELETROMETAL-MECÂNICO DA REGIÃO DE JOINVILLE
Renato R. Campos
*
Jeanine Batschauer**
Renato P. Calheiros***
Na atual configuração da estrutura industrial mundial, o setor eletrometal-mecânico
detém uma posição estratégica nas trajetórias de crescimento econômico de países ou regiões,
visto que este atua na geração e difusão de novas tecnologias para os demais setores
industriais. As indústrias eletrometal-mecânicas caracterizam-se, funcionalmente, por exercer
um papel importante na determinação da produtividade média da economia, bem como por ter
capacidade de interferir no perfil competitivo da indústria como um todo. Tais indústrias
abrangem um conjunto amplo e diversificado de segmentos das atividades econômicas. A
heterogeneidade existente entre esses segmentos, seja em termos de tamanho de
estabelecimentos, produtos ou processos, dificulta a análise dessas indústrias de forma
agregada. Em termos de classificação industrial1, ressalta-se a existência de formas
diferenciadas, na literatura, para se agrupar as atividades produtivas pertencentes às indústrias
eletrometal-mecânicas2.
Na trajetória de desenvolvimento industrial do estado de Santa Catarina, as indústrias
eletrometal-mecânicas tiveram papel de destaque no contexto de uma estrutura produtiva
bastante diversificada. Uma característica importante do movimento de industrialização
catarinense foi a concentração industrial em determinados espaços do território, criando áreas
de especializações produtivas, como no caso das regiões de Blumenau, Criciúma e Joinville.
As atividades relacionadas a estas indústrias são responsáveis por aproximadamente 25% do
* Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação – Mestrado - da Universidade Federal de Santa Catarina. ** Mestre em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. *** Graduando em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. 1 Para a identificação dos principais segmentos de atividades produtivas, utilizou-se o Cadastro Nacional de Atividades Econômicas do IBGE, e a forma de agregação adotada no Estudo da Competitividade Brasileira (ERBER e VERMULM, 2002). Para os segmentos pertencentes à indústria elétrica e eletrônica, utilizou-se a classificação da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE, 2004). 2 As indústrias eletrometal-mecânicas, seguindo a classificação de atividades econômicas do IBGE, abrangem os seguintes subsetores: metalúrgico; mecânico; material elétrico e de comunicação. As indústrias eletrometal-mecânicas englobam tanto os segmentos que se dedicam à produção e à transformação de metais, onde se destacam tanto produtores de bens e serviços intermediários (fundições, forjarias, oficinas de corte...), quanto aqueles segmentos cujos estabelecimentos são produtores de bens finais (eletrodomésticos, equipamentos, maquinarias, veículos e material de transporte). Segundo a categoria de uso dos produtos, os bens finais podem ser os de consumo duráveis, ou os bens de capital.
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valor da transformação industrial catarinense, sendo que a região de Joinville apresenta os
índices mais elevados de especialização3 do Estado (CAMPOS et al., 2004ª, b).
A proximidade com importantes centros industriais, como o têxtil-vestuário de
Blumenau e o automobilístico de Curitiba no Estado do Paraná, contribuiu para a
consolidação de uma estrutura produtiva local fortemente diversificada com forte presença de
outras indústrias como a têxtil, a alimentícia, a de materiais plásticos, entre outras. Nesta
região, as atividades econômicas concentram-se, sobretudo, nas indústrias eletrometal-
mecânicas, cuja aglomeração local registra uma população de 953 empresas (RAIS – MTe
2003) com a predominância de micro e pequenas empresas (96,5%) especializadas,
principalmente, nos segmentos de metalurgia básica, mecânica e equipamentos elétricos.
Assim sendo, este trabalho tem por objetivo analisar as características do aglomerado de
empresas da eletrometal-mecânica na região de Joinville, localizada no Nordeste do Estado de
Santa Catarina.
Para tanto, além dessa breve introdução na primeira seção, o trabalho foi estruturado
em seis seções. Na segunda seção, mostra-se o movimento de reestruturação produtiva do
setor eletrometal-mecânico brasileiro ao longo dos anos 90. Na terceira seção, aponta-se a
trajetória da constituição da indústria eletrometal-mecânica em Santa Catarina, e em particular
na região de Joinville. Na quarta seção, além dos aspectos relacionados à localização da
região, analisam-se as principais características da divisão de trabalho de forma a identificar
as especializações e complementaridades locais, como também a participação das empresas
em redes tecno-produtivas e seus principais mercados de atuação. Na quinta seção, analisa-se
a atividade inovativa das empresas do arranjo. Na sexta seção, apresenta-se uma
caracterização da estrutura institucional e os aspectos da cooperação no local. Finalmente, na
sétima seção, apresentam-se as conclusões indicando as principais vantagens competitivas e
os obstáculos ao desenvolvimento do APL e sugestões de política industrial.
3.3.1 A reestruturação produtiva do setor eletrometal-mecânico brasileiro nos anos 90
A trajetória de consolidação das indústrias eletrometal-mecânicas no Brasil teve dois
momentos decisivos: o plano de metas nos anos 50 e o segundo plano nacional de
3 O Quociente Locacional (QL) nos dá uma noção comparativa da especialização da região em função do país. Em casos em que o QL é superior a 1, a especialização da região nesta atividade é superior à especialização do Brasil (BRITTO e ALBUQUERQUE, 2002). Para a região de Joinville, os QLs dos segmentos de atividades relacionadas à indústria eletrometal-mecânica são: Metalurgia 4,27; Mecânica 7,04; Material Elétrico e de Comunicação 5,77; e Material de transporte 2,35.
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desenvolvimento (II PND) na metade dos anos 70. Durante esse período, o Estado exerceu um
papel fundamental na viabilização de investimentos maciços em infra-estrutura e na
implantação de segmentos produtivos relevantes para esse setor. Até o final dos anos 80, a
expansão desse setor industrial ocorreu com base no modelo de substituição de importações,
cuja estratégia era estimular o núcleo central da economia brasileira, isto é, os segmentos
produtores de bens de capital, intermediários e de consumo duráveis.
Durante esse período, a consolidação da produção nacional ocorreu no segmento de
máquinas-ferramenta, principalmente nos produtos seriados convencionais de menor
sofisticação tecnológica, no qual o país apresentava maior competitividade. Mas a
intensificação da produção voltada à exportação de máquinas-ferramenta como alternativa à
crise foi inviável dadas a situação de recessão mundial e as limitações estruturais da própria
indústria mecânica4. No segmento de bens de capital mecânicos, a adoção de tecnologias de
base microeletrônica contribuiu para ampliar a heterogeneidade tecnológica entre os
fabricantes e os produtos ofertados, na medida em que foram poucas as empresas que
conseguiram realizar o salto tecnológico (ERBER e VERMULM, 2002).
Ao final desse período, verificou-se que as políticas econômicas restritivas foram um
entrave ao crescimento industrial e à absorção de inovações tecnológicas, fazendo com que
muitos dos segmentos pertencentes ao setor eletrometal-mecânico apresentassem
características distintas das observadas nos países industrializados como conseqüência do seu
padrão de instalação e expansão. Tal padrão não viabilizou a consolidação dos segmentos
produtores de bens de capital como fonte geradora de um movimento endógeno de
desenvolvimento e difusão do progresso técnico que mostrasse segmentos capazes de se
manterem na fronteira tecnológica (ALÉM, 2003).
A economia brasileira herdou, no início dos anos 90, um quadro recessivo, de
explosão inflacionária associada à estagnação econômica, que vinha se mantendo desde a
década de 80. Nessa época, as indústrias eletrometal-mecânicas sofriam sérios problemas com
o excesso da capacidade instalada em virtude da excessiva verticalização produtiva e da
elevada diversificação da linha de produtos. Para Kupfer (2001), a ociosidade dessas
indústrias é estrutural, resultante não só da retração do mercado interno, mas também da
existência de um número excessivo de fabricantes para cada linha de produto. Os produtores
de bens de capital foram os mais afetados por essa conjuntura adversa, especialmente os
segmentos máquinas-ferramenta, máquinas agrícolas, equipamentos para o setor de energia
4 Ausência de especialização produtiva e pulverização dos investimentos que contribuíram para a expansão horizontal desse setor, reduzindo os ganhos de escala e dificultando a incorporação de novas tecnologias (VERMULM, 1993).
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elétrica. Esses segmentos são pouco competitivos e se encontram bastante defasados em
termos de produtos e processos em relação ao exterior.
A partir de meados dos anos 90, com a abertura da economia, deflagrou-se um amplo
processo de mudanças organizacionais e nas estratégias competitivas das empresas que vêm
realizando investimentos na tentativa de se adequar à nova realidade do setor eletrometal-
mecânico mundial. As empresas nacionais adotaram como estratégia focar sua produção no
conjunto de produtos em que são mais competitivas, e para isso investiram em métodos de
gestão e procedimentos produtivos mais eficientes visando reduzir a gama de produtos
ofertados e desverticalizar a produção. Durante esse período, diversos fabricantes tiveram que
sair do mercado ou re-orientar suas atividades produtivas na busca por sobrevivência no
mercado. Algumas empresas passaram a utilizar suas instalações para a prestação de serviços
a terceiros. Essa recente reestruturação produtiva ampliou a heterogeneidade entre os vários
produtores dentro das indústrias eletrometal-mecânicas, seja com relação ao porte,
capacitação tecnológica e produtos ofertados.
Ao longo dos anos 90 ocorreu um aumento da participação estrangeira no controle das
empresas que operam, sobretudo, nos segmentos produtores de bens de capital, reforçando sua
posição de liderança no mercado mundial. Esse aumento dos fluxos de investimento
estrangeiro associado à racionalização da produção e à modernização da estrutura produtiva
culminou com a adoção de estratégias de especialização5 e complementaridade produtiva e
comercial pelas empresas que visavam buscar novos mercados para fazer frente à perda do
mercado interno e garantir condições de competitividade (LAPLANE e SARTI, 1999). A
existência de crescentes déficits comerciais que configuram a nova realidade da economia
brasileira nos anos 90 surge como conseqüência da perda de dinamismo das exportações dos
produtores de bens de capital e de consumo. Esses déficits na balança comercial são
atribuídos basicamente à evolução das importações mais do que ao desempenho exportador.
Segundo dados da Tabela 3.3.1, entre os anos de 1997 e 2002, o déficit comercial médio anual
da indústria de bens de capital foi de aproximadamente US$ 4 bilhões. Pelo lado das
exportações, foi em 1997 que o país mais exportou máquinas e equipamentos, atingindo cerca
de US$ 3,5 bilhões (ERBER e VERMULM, 2002).
5 O processo de especialização nos segmentos produtores de bens de capital teve como efeito a redução dos índices de nacionalização dos bens finais, promovendo o fechamento de linhas de produção para trás da cadeia produtiva e com a substituição de fornecedores locais por estrangeiros. Essa estratégia foi acompanhada pela complementação de linhas de produtos comercializados com produtos importados de maior valor agregado e de maior grau de atualização tecnológica. Esse deslocamento da demanda para o exterior contribuiu para elevar a capacidade ociosa das indústrias produtoras de bens de capital.
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Mas deve-se ressaltar que, mesmo mantendo a atual pauta de exportação de bens de
capital pouco sofisticados tecnologicamente, as vendas para o exterior não demonstraram
condições de serem ampliadas. Em relação às importações de bens de capital, observa-se que
estas estão contidas como conseqüência da retração do mercado interno e das taxas de câmbio
desfavoráveis. Esse desequilíbrio na balança comercial deve-se, sobretudo, à forte importação
de peças e componentes para fabricantes de bens finais. Desse modo, nota-se que o aumento
das importações globais e setoriais ocorre principalmente pelo processo de redução nos
índices de nacionalização dos bens finais resultantes das estratégias de especialização
adotadas pelas empresas estrangeiras.
Tabela 3.3.1 - Balança comercial de máquinas e equipamentos do Brasil - 1997-2002
SEGMENTO PRODUTIVO 1997 1998 1999 2000 2001 2002 EXPORTAÇÕES 3,47 3,21 2,78 3,05 2,99 3,21
Motores, Bombas, Compressores e Equipamentos de Transmissão 0,95 0,96 0,90 0,99 0,96 1,10 Máquinas e Equipamentos de Uso Geral 0,58 0,48 0,47 0,50 0,45 0,38 Tratores e Máquinas para a Agropecuária 0,27 0,25 0,14 0,50 0,45 0,38 Máquinas-Ferramenta 0,21 0,20 0,18 0,22 0,21 0,19 Máq. e Equip. para as Indústrias de Extração Mineral e de Construção 0,73 0,65 0,46 0,48 0,52 0,65 Outras Máquinas e Equipamentos de Uso Específico 0,41 0,38 0,34 0,36 0,35 0,33 Armas, Munições e Equipamentos Militares 0,06 0,06 0,06 0,07 0,06 0,21 Eletrodomésticos 0,27 0,24 0,24 0,29 0,27 0,22
IMPORTAÇÕES 8,82 7,88 6,41 5,87 6,54 5,72 Motores, Bombas, Compressores e Equipamentos de Transmissão 1,74 1,88 1,39 1,49 1,76 1,94 Máquinas e Equipamentos de Uso Geral 1,93 1,72 1,32 1,18 1,36 1,19 Tratores e Máquinas para a Agropecuária 0,15 0,17 0,14 0,10 0,11 0,11 Máquinas-Ferramenta 0,96 0,91 0,93 0,64 0,81 0,57 Máq. e Equip. para as Indústrias de Extração Mineral e de Construção 0,43 0,42 0,25 0,25 0,29 0,25 Outras Máquinas e Equipamentos de Uso Específico 3,34 2,58 2,21 1,98 2,03 1,55 Armas, Munições e Equipamentos Militares 0,01 0,01 0,03 0,08 0,03 0,01 Eletrodomésticos 0,26 0,19 0,15 0,15 0,15 0,11
SALDO COMERCIAL -5,35 -4,67 -3,63 -2,82 -3,54 -2,51
Fonte: Banco de Informações organizado por Fernando Puga apud Além (2003). Valores em US$ bilhões.
Nessa conjuntura, verifica-se que, a partir da década de 90, modificou-se a situação
das indústrias produtoras de bens de capital. As importações de máquinas e equipamentos
perderam sua característica de complementaridade e de alavancar a produção interna, mas
continuaram a manter um papel relevante nos ganhos de produtividade da indústria nacional e
nos estímulos ao aumento das taxas de investimento. Ao longo dessa época, a reestruturação
das indústrias produtoras de bens de capital implicou um enfraquecimento dos encadeamentos
produtivos e tecnológicos (ALÉM, 2003). Essa crescente internacionalização dos elos da
cadeia produtiva eletrometal-mecânica, principalmente nos segmentos produtores de bens de
capital e de eletroeletrônicos, ocorreu em virtude da ausência, no país, de escala de produção
para alguns componentes, em especial, para aqueles de maior complexidade tecnológica.
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Portanto, ao final dos anos 90, o perfil das indústrias eletrometal-mecânicas
caracterizou-se pelo aumento da participação das empresas estrangeiras nos segmentos da
eletroeletrônica e de autopeças, e predomínio na estrutura produtiva, como no passado, dos
produtores de bens de consumo duráveis e bens intermediários como conseqüência do
excelente desempenho da indústria automobilística. Esses segmentos foram os que obtiveram
maiores ganhos competitivos, bem como responderam pela introdução de novas técnicas que
resultaram em maiores níveis de qualidade e produtividade. Por outro lado, os segmentos
produtores de bens de capital foram os que sofreram maiores efeitos negativos devido à
retração no mercado interno e à instabilidade macroeconômica. A esses fatores somou-se a
liberalização comercial, que eliminou barreiras não-tarifárias, favorecendo a substituição de
máquinas nacionais por estrangeiras.
Como resultado do aumento de importações de peças e componentes e do conteúdo
importado dos bens produzidos domesticamente, geraram-se crescentes déficits na balança
comercial de máquinas e equipamentos. Essa situação dos produtores de bens de capital é
agravada ainda pela excessiva verticalização e diversificação da gama de produtos ofertados;
limitações da capacidade técnica; pelo baixo nível de automação eletrônica dos processos e
incipientes serviços de pós-venda no exterior. Enfim, essa fragilidade estrutural das empresas,
sobretudo as de capital nacional, associada à ausência de uma política industrial para inovação
e competitividade são entraves ao desenvolvimento do setor eletrometal-mecânico brasileiro.
3.3.2 Trajetória da constituição da indústria eletrometal-mecânica em Santa Catarina
Na história do processo de industrialização brasileira, verificou-se que a trajetória de
crescimento do estado de Santa Catarina até os anos 60 esteve relacionada ao bom
desempenho das indústrias tradicionais como madeira, alimentos e têxtil e de alguns pequenos
estabelecimentos do ramo metal-mecânico. Mas a partir do final desse período e ao longo da
década de 70, em decorrência das grandes mudanças que ocorreram na estrutura industrial
brasileira, e sob o forte apoio governamental via substituição de importações, deu-se impulso
à consolidação das indústrias catarinenses no mercado nacional principalmente dos segmentos
que atuam na fabricação de bens de capital mecânicos, metalúrgicos, eletro-comunicações e
de material de transporte.
A formação e trajetória produtiva do arranjo eletrometal-mecânico na região de
Joinville podem ser divididas em dois períodos. O primeiro, que vai desde sua formação
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inicial determinada pelo intenso movimento migratório da Europa na segunda metade do
século XIX, até sua inserção no mercado externo no início dos anos 70. O segundo, que se
iniciou em meados dos anos 80 e se estende até os dias de hoje, associado ao intenso processo
de reestruturação industrial frente às novas condições competitivas vigentes no cenário
mundial e à instabilidade macroeconômica brasileira. As profundas mudanças sociais e
econômicas, ocorridas no decorrer dessas décadas, exerceram uma grande influência na
dinâmica econômica local.
As influências do intenso processo de colonização que se deu na região se refletem na
origem do arranjo produtivo. O desenvolvimento das indústrias eletrometal-mecânicas foi
impulsionado pela complexidade da economia ligada ao ciclo da erva-mate e da madeira.
Inicialmente, prosperaram na região empresas tradicionais cujo capital inicial e a mão-de-obra
eram de origem familiar, como no caso das pequenas fundições e oficinas mecânicas.
Simultaneamente ao surgimento desses pequenos empreendimentos fabris e das atividades de
serviços correlatos ao comércio, foram implantadas na região importantes obras de infra-
estrutura, com eficientes sistemas de transporte e comunicação, para facilitar o escoamento da
produção local e o acesso a matérias-primas. O crescimento dos setores industriais no local
beneficiou-se com essa infra-estrutura produtiva que foi viabilizada pela instalação de energia
elétrica, água e telefone e especialmente pela implantação da estrada de ferro que passava por
Joinville rumo ao Porto de São Francisco facilitando a ligação da região com o mercado
nacional.
O período entre os anos de 1945 e 1963 está associado ao primeiro salto da indústria
catarinense, caracterizada pela diversificação industrial e pela substituição de importações de
bens de consumo durável. Na região de Joinville, predominou a existência de
estabelecimentos industriais correspondentes à primeira etapa de substituição de importações,
tais como o têxtil, e alimentos, e a presença significativa de segmentos da eletrometal-
mecânica que atendiam, sobretudo, o mercado local. A expansão de empresas em Jaraguá do
Sul, que atuam principalmente no segmento do material elétrico, foi beneficiada pela
proximidade com os pólos industriais têxtil-vestuário de Blumenau e metal-mecânico de
Joinville.
A partir dos anos 60 até a metade dos 70, com a retomada do desenvolvimento
industrial no país, o Estado de Santa Catarina caracterizava-se por apresentar uma estrutura
produtiva diversificada e competitiva e, de certa forma, ainda muito concentrada. Durante
esse período, as empresas do arranjo eletrometal-mecânico, sob forte apoio governamental,
expandiram a sua capacidade produtiva e se consolidaram no mercado nacional. Essas
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empresas ampliaram os seus investimentos na fundação de novas unidades fabris ou de
suporte para a sua atividade principal, e ainda em outros tipos de setores industriais, dando
origem aos grandes grupos empresariais e às holdings (ROCHA, 1997). Nessa época, a
consolidação do arranjo eletrometal-mecânico foi liderada pelas médias e grandes empresas
que ingressaram no mercado internacional, cujas exportações destinavam-se, principalmente,
para América Latina e EUA.
As décadas de 1980 e 1990 foram marcadas por profundas mudanças econômicas e
institucionais que influenciaram negativamente a indústria de bens de capital, em especial o
segmento de máquinas-ferramenta, em decorrência da retração do mercado nacional. Durante
esse período, as empresas do arranjo eletrometal-mecânico, excetuando o restrito grupo
formado pelas grandes empresas, se caracterizavam pelos baixos investimentos, verticalização
produtiva excessiva, deficiente padrão de gestão, obsolescência tecnológica, reduzidos níveis
de especialização (MACEDO, 2002). Mas apesar disso, as empresas que atuam nos
segmentos mais dinâmicos tecnologicamente, em busca de sobrevivência no novo contexto
concorrencial, conseguiram, por meio da reestruturação patrimonial e produtiva,
desverticalização da produção, especialização e terceirização de parte dos processos
produtivos, expandir a sua produção ao voltarem-se para o mercado externo.
Portanto, foi a partir do tipo de colonização que se promoveu na região, baseada na
pequena produção mercantil, que surgiram as pré-condições favoráveis à industrialização da
região de Joinville. A existência de uma vocação empreendedora no local é evidenciada pela
competência dos trabalhadores que vem sendo construída ao longo do tempo no ramo metal-
mecânico. A maior parte dos empresários locais é ex-funcionário das grandes empresas do
arranjo, revelando a importância do acúmulo de conhecimentos nas rotinas de produção como
conseqüência das experiências práticas nessa atividade industrial. Ao longo dos anos 80 e 90,
o intenso processo de reestruturação dos grandes grupos empresariais exerceu forte influência
na dinâmica econômica local, além de ter contribuído ao surgimento de inúmeras micro e
pequenas empresas, favoreceu a consolidação de uma importante rede de mão-de-obra e
serviços especializados na região.
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3.3.3 Localização, caracterização produtiva e mercados
3.3.3.1 A localização da região de Joinville
A aglomeração produtiva da indústria eletrometal-mecânica na região de Joinville,
localizada no Nordeste de Santa Catarina, encontra-se vizinha de duas importantes áreas de
concentração industrial, a região de Blumenau, também em Santa Catarina, e a região
metropolitana de Curitiba, no Paraná (respectivamente cerca de 68 km e 347 km). Este
mesmo aglomerado localiza-se, majoritariamente, nos municípios de Joinville e Jaraguá do
Sul, que juntos correspondem a aproximadamente 80% da população. A região é composta
ainda pelos municípios de Araquari, Balneário Barra do Sul, Corupá, Garuva, Guaramirim,
Itapoá, Massaranduba, São Francisco do Sul e Schroeder, conforme pode ser visto na Figura
3.3.1.
Guaruva
Itapoa
Sao Francisco do Sul
Balneario Barra do SulAraquari
Joinville
Jaragua do Sul
Corupa
Schroeder
Guaramirim
Massaranduba
Fonte: Governo do Estado de Santa Catarina. Figura 3.3.1 - Localização das áreas de produção de eletrometal-mecânico de Santa Catarina – 2005
A população economicamente ativa na região de Joinville, segundo os dados da RAIS
(Relação Anual de Informações Sociais) de 2003, é de 190.278 pessoas, sendo que Joinville e
Jaraguá do Sul concentram 86% da população empregada com carteira assinada, conforme a
Tabela 3.3.2. Na região, cerca de 22,37% da mão-de-obra local está alocada na eletrometal-
mecânica, com a participação de uma ampla gama de empresas dos mais diversos portes.
Portanto, pode-se perceber que a indústria eletrometal-mecânica tem uma forte participação
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na geração de empregos na região e principalmente nas cidades de Joinville e Jaraguá do Sul,
que juntas empregam 40.292 pessoas.
Tabela 3.3.2 - Municípios do arranjo produtivo eletrometal-mecânico da região de Joinville - 2002
MUNICÍPIOS ABRANGIDOS
POPULAÇÃO RESIDENTE
PART. (1) PESSOAL OCUPADO (2)
PART. DO PESSOAL
OCUPADO (3)
PESSOAL OCUPADO
TOTAL
PART. DO PESSOAL OCUPADO NA INDÚSTRIA EM RELAÇÃO COM O TOTAL (4)
Joinville 461.576 63,6 30.772 72,3 118.241 26,02
Jaraguá do Sul 118.199 16,28 9.520 22,37 45.305 21,01
Araquari 18.671 2,57 174 0,41 2.539 6,85
Baln. Barra do Sul 6.832 0,95 0 0 521 0,00
Corupá 12.296 1,7 438 1,03 3.838 11,41
Garuva 12.181 1,67 365 0,86 1.953 18,69
Guaramirim 27.551 3,8 433 1,02 5.871 7,38
Itapoá 10.328 1,42 8 0,02 846 0,95
Massaranduba 12.991 1,79 200 0,47 2.673 7,48
S. Francisco do Sul 34.968 4,81 344 0,81 6.616 5,20
Schroeder 10.245 1,41 303 0,71 1.875 16,16
TOTAL 725.838 100 42.557 100 190.278 22,37 Fonte: RAIS/MTE-2003. (1) Participação percentual dos residentes em cada município. (2) Pessoal ocupado na indústria eletrometal-mecânica nos municípios. (3) Participação percentual do pessoal ocupado na indústria eletrometal-mecânica nos municípios. (4) Participação do pessoal ocupado na indústria eletrometalmecânica em relação ao total do pessoal ocupado nos municípios.
Esta região, relativamente bem localizada, situa-se próxima a dois importantes portos,
como o de Itajaí (90 km) e o de São Francisco do Sul (45 km), ambos em Santa Catarina. Tal
estrutura portuária facilita o escoamento da produção local, sobretudo, para a mercado
externo. As empresas do arranjo produtivo local, além da malha rodoviária e da proximidade
com o sistema portuário, usufruem ainda de uma importante infra-estrutura de transportes
aéreo e ferroviário. Por um lado, o aeroporto oferece vôos diários para as principais capitais
do país (São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre), facilitando o deslocamento dos
empresários locais e, por outro lado, a rede ferroviária atende os serviços de carga através do
escoamento e recebimento de insumos e produtos. Cabe ainda ressaltar que em Joinville a
prefeitura, através de ações e incentivos à industrialização na região, exerceu grande
influência, junto à iniciativa privada, na consolidação de duas zonas industriais (Industrial
Norte e Industrial Tupy), cuja infra-estrutura física no local favoreceu a concentração de
algumas das mais importantes empresas do arranjo.
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3.3.3.2 Estrutura produtiva
Na trajetória histórica do processo de industrialização catarinense, a região de Joinville
sempre se destacou por sua forte tradição industrial. Em decorrência de sua privilegiada
localização geográfica e da existência de uma infra-estrutura física bem desenvolvida
consolidaram-se na região, ao longo dos anos, diversos setores industriais, como têxtil,
materiais plásticos, alimentício, informática, dentre outros que contribuíram para a
consolidação de uma estrutura industrial fortemente diversificada. Mas deve-se salientar que
no local as atividades econômicas concentram-se, especialmente nos segmentos de metalurgia
básica, mecânica e equipamentos elétricos.
O arranjo eletrometal-mecânico possui uma densa estrutura produtiva local e grande
heterogeneidade no tamanho das empresas criando especializações por tamanho de empresas
dentro dos diversos grupos de atividades. De acordo com Campos et al., (2004a e 2004b), a
diversificação é uma característica importante da estrutura industrial da região, onde se
verifica a intensificação da especialização produtiva e a existência de complementaridades
locais a partir da desverticalização dos grandes produtores, da instalação no local de
fornecedores de insumos, de máquinas e equipamentos, de prestadores de serviços. As
características da estrutura produtiva local relacionada ao porte e atividades das empresas são
exibidas na Tabela 3.3.3.
Tabela 3.3.3 - Divisão de atividade econômica e porte das empresas do arranjo produtivo
eletrometal-mecânico da região de Joinville - 2002 MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE TOTAL
DIVISÃO DE ATIVIDADE ECONÔMICA NUM. (1)
PART. (2)
NUM. (1)
PART. (2)
NUM. (1)
PART. (2)
NUM. (1)
PART. (2)
NUM. (1)
PART. (2)
Metalurgia básica 71 7,5 22 2,3 7 0,7 2 0,2 102 10,7 Fabricação de produtos de metal exclusive máquinas e equipamentos 419 44 56 5,9 4 0,4 2 0,2 481 50,5
Fabricação de máquinas e equipamentos 196 21 50 5,3 4 0,4 4 0,4 254 26,7 Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos
37 3,9 12 1,3 2 0,2 4 0,4 55 5,77
Fabricação de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de com.
3 0,3 3 0,3 0 0 0 0 6 0,63
Fabricação de equipamentos de instrumentação para usos médico-hospitalares
14 1,5 2 0,2 2 0,2 0 0 18 1,89
Fabricação e montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias
24 2,5 4 0,4 1 0,1 1 0,1 30 3,15
Fabricação de outros equipamentos de transporte 6 0,6 1 0,1 0 0 0 0 7 0,73
TOTAL 770 81 150 16 20 2,1 13 1,4 953 100
Fonte: RAIS – MTe (2003). (1) Número absoluto de empresas. (2) Participação percentual.
-
194
O segmento6 de “metalurgia básica” engloba as atividades7 de fabricação de peças
fundidas em ferro e aço e de metais não-ferrosos e suas ligas, que são típicas das empresas de
fundição. Este segmento é composto por 9,76% de Micro e Pequenas Empresas (MPEs) e
0,94% de médias e grandes empresas do total de estabelecimentos. A maior parte dos bens
produzidos no setor pode ser classificada como bens intermediários, destacando-se a produção
de autopeças nas grandes empresas e de peças fundidas de metais não-ferrosos (alumínio e
suas ligas) nas médias empresas. Nas MPEs há uma forte concentração na produção de peças
para a indústria de bens de capital.
O segmento de “fabricação de produtos de metal exclusive máquinas e equipamentos”
concentra 49,84% dos estabelecimentos de micro e pequeno porte e 0,63% dos de médio e de
grande portes. Há uma forte concentração na produção de bens intermediários, e nas médias e
grandes destaca-se a produção de bens finais para o consumo8. As MPEs e algumas médias,
como, por exemplo, serviços de usinagem, na produção de moldes para diversas indústrias e
na produção de peças estampadas, ambos sob encomenda.
No segmento de “fabricação de máquinas e equipamentos” estão locadas 25,81% das
micro e pequenas empresas e 0,84% das médias e grandes empresas do total de
estabelecimentos. Neste segmento, são produzidos bens de capital dos mais diversos tipos.
Destaca-se a produção de compressores e eletrodomésticos/linha branca, por parte das
grandes empresas, na região. As médias empresas apresentam uma grande heterogeneidade
em relação aos tipos de bens produzidos, sendo que algumas produzem exclusivamente
máquinas e equipamentos, na maioria sob encomenda, utilizados por outros setores
industriais9. Algumas empresas médias fabricam produtos seriados, como, por exemplo,
equipamentos para ginástica e equipamentos para jardinagem. As MPEs atuam na produção
de componentes utilizados pelas demais empresas produtoras de bens de capital, na produção
de máquinas e equipamentos sob encomendas, e em menor escala, de bens seriados.
Nos demais segmentos, como o de “fabricação de máquinas, aparelhos e materiais
elétricos”, “fabricação de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicação”,
“fabricação de equipamentos de instrumentação para usos médico-hospitalares, instrumentos
de precisão e ópticos, equipamentos para automação industrial, cronômetros e relógios”,
“fabricação e montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias” e “fabricação de
outros equipamentos de transporte”, estão concentrados 11,12% dos estabelecimentos
6 O segmento equivale à divisão econômica a dois dígitos na classificação IBGE/CNAE. 7 Corresponde à atividade econômica a quatro dígitos na classificação IBGE/CNAE. 8 Metais sanitários e utensílios metálicos, por exemplo. 9 Como, por exemplo, pelas indústrias de papel/celulose e têxtil.
-
195
enquadrados como MPEs e 1,05% dos médios e grandes estabelecimentos. Nestes segmentos,
são produzidos bens de capital, bens de consumo e bens intermediários, com destaque para a
produção de motores elétricos e carrocerias para ônibus, por parte das grandes empresas, e
equipamentos médico-hospitalares, por parte das médias empresas. As MPEs produzem
componentes eletro-eletrônicos, além de uma gama bastante variada de
equipamentos/sistemas para automação industrial, como também atuam na prestação de
serviços para um amplo espectro de empresas correlacionadas.
Por conseguinte, o arranjo apresenta uma densa divisão do trabalho que inclui a grande
maioria das atividades das indústrias eletrometal-mecânicas, com um grande número de
empresas e elevada heterogeneidade no porte das mesmas. Esta densidade é resultado de
externalidades que há mais de um século desenvolvem-se no arranjo, criando demandas locais
que estimulam a complementaridade e a expansão simultânea no local dos variados
segmentos destas indústrias. Por outro lado, os processos mais recentes de reestruturação
produtiva das grandes e médias empresas, que terceirizam etapas de seus processos
produtivos, estimularam o desenvolvimento de grande número de MPEs no local.
3.3.3.3 Características da mão-de-obra
A Tabela 3.3.4 mostra alguns indicadores relacionados à força de trabalho, nos
subsetores que compõem as indústrias eletrometal-mecânicas, da região em comparação ao
Brasil. Ressalta-se, novamente, a importância desses subsetores para o espaço local, uma vez
que 27,83% da massa salarial10 da região corresponde a essa indústria11 (STALLIVIERI,
2004).
Entre os segmentos observados no arranjo, a “Indústria metalúrgica” ocupa maior
absorção de mão-de-obra relativa ao setor eletrometal-mecânico (17.624 Postos Formais de
Trabalho), embora a Indústria mecânica gere a maior massa salarial (11,1%), diferentemente
do encontrado no Brasil. Este último setor é fortemente caracterizado por empregados
qualificados (11,4%) por terem nível superior, enquanto que os outros setores não passam de
8% da mão de obra que possui este nível de escolaridade. As altas taxas de mão-de-obra
especializadas na indústria eletrometal-mecânica da região de Joinville refletem as
10 Correspondente ao emprego formal. 11 No Brasil, esse percentual cai para 6,97%.
-
196
especificidades do setor, cuja distribuição no emprego é relativamente homogênea em
comparação ao encontrado no Brasil.
Tabela 3.3.4 - Indicadores dos PFT (Postos Formais de Trabalho) nos subsetores do arranjo
produtivo eletrometal-mecânico da região de Joinville - 2003 Educação Formal (5)
PART. PFT (1)
Part. da Massa Salarial (2)
Remuner. Média (3)
Tempo de Emprego
Médio Fund.
Incomp. Fund. Comp. e Méd. Inc..
Médio Comp.
Sup. Inc. e Sup. Comp.
Subsetor PFT
JOI BR JOI BR JOI BR JOI BR JOI BR JOI BR JOI BR JOI BR
Indústria metalúrgica 17.624 7,9 2,9 10,3 2,0 5,5 5,0 57,0 32,1 19,7 32,1 39,4 34,7 33,5 25,7 7,5 7,5
Indústria mecânica 13.501 7,4 4,5 11,1 1,5 6,4 6,4 78,7 23,8 16,3 23,8 37,1 33,3 35,2 29,9 11,4 13,0 Indústria de material elétrico e de comunicações
6.755 7,7 3,7 3,9 1,5 4,5 6,0 34,5 17,8 8,1 17,8 37,3 29,3 46,6 39,0 7,9 13,9
Indústria de material de transporte 3.802 2,1 1,2 2,6 2,1 5,3 8,0 30,7 19,1 22,0 19,1 44,1 31,3 26,1 33,2 7,8 16,5
Fonte: RAIS/MTe 2002 e Adaptado, Stallivieri (2004). (1) Participação em percentual nos Postos Formais de Trabalho. (2) Participação na massa salarial em 2002. (3) Remuneração média em salários mínimos de 2002. (4) Tempo de emprego médio em meses, de 2002. (5) Percentual de ocupados por grau de instrução, de 2002.
De um modo geral, o arranjo eletrometal-mecânico da região de Joinville apresenta
uma taxa salarial elevada em comparação à praticada no restante do país devido a sua
participação no emprego, a qual necessita cada vez mais de empregados especializados.
Segundo os dados da RAIS, em torno de 30% dos salários pagos para os trabalhadores da
região são da indústria eletrometal-mecânica, ou seja, do total dos salários pagos para os
trabalhadores com carteira assinada na região de Joinville (R$ 175.733.823,56),
aproximadamente R$ 51.687.249,28 são dirigidos aos trabalhadores da indústria eletrometal-
mecânica.
Os índices da Tabela 3.3.5 revelam que tanto para as MPEs como para as médias e
grandes empresas o treinamento dentro da empresa é o principal meio de capacitação da mão-
de-obra, sendo que para médias e grandes empresas também é dado importância para o
treinamento em cursos técnicos dentro do arranjo e para contratação de formandos dos cursos
universitários localizados no arranjo ou próximo.
A qualidade da mão-de-obra disponível para a indústria eletrometal-mecânica na
região de Joinville pode ser mais bem compreendida e avaliada observando-se o grau de
importância atribuído, pelos empregadores dos diferentes portes de empresas, às
características dos seus empregados, de forma a classificar qualitativamente os requisitos
desejosos ao nível de capacitação dos mesmos.
-
197
Tabela 3.3.5 - Atividades de treinamento e capacitação de recursos humanos das empresas do arranjo produtivo eletrometal-mecânico da região de Joinville - 2003
ÍNDICE DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE
MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE Treinamento na empresa 0,65 0,82 0,85 1,00 Treinamento em cursos técnicos realizados no arranjo 0,52 0,59 0,71 0,90 Treinamento em cursos técnicos fora do arranjo 0,16 0,27 0,55 0,63 Estágios em empresas fornecedoras ou clientes 0,25 0,36 0,48 0,45 Estágios em empresas do grupo 0,01 0,02 0,13 0,15 Contratação de técnicos/engenheiros de outras empresas do arranjo 0,21 0,17 0,30 0,45 Contratação de técnicos/engenheiros de empresas fora do arranjo 0,04 0,08 0,23 0,38 Absorção de formandos dos cursos universitários localizados no arranjo ou próximo 0,07 0,26 0,61 0,80
Absorção de formandos dos cursos técnicos localizados no arranjo ou próximo 0,17 0,44 0,59 0,73 Amostra (Nº de Empresas) 35 34 8 4
Fonte: PROJETO Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil (2003). *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
Na Tabela 3.3.6 vê-se que, dentre os índices construídos para as diferentes
características da mão-de-obra, destacam-se, principalmente, a “capacidade para aprender
novas qualificações”, a “flexibilidade” e “criatividade”. Essas características da mão-de-obra
são notavelmente mais importantes para os empregadores de todos os portes de
estabelecimentos (índices acima de 0,9), exceto para os microempresários, que encaram o
“conhecimento prático/ técnico na produção” como a capacitação mais relevante para os seus
empregados (índice 0,9).
Tabela 3.3.6 - Avaliação da mão-de-obra local segundo as empresas do arranjo produtivo eletrometal-mecânico da região de Joinville - 2003
ÍNDICE CARACTERÍSTICAS
MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE Escolaridade formal de 1º e 2º graus 0,66 0,70 0,85 0,73 Escolaridade em nível superior e técnico 0,57 0,68 0,95 0,90 Conhecimento prático e/ou técnico na produção 0,90 0,86 0,90 0,73 Disciplina 0,88 0,93 0,91 0,90 Flexibilidade 0,84 0,92 0,91 0,90 Criatividade 0,87 0,89 0,81 0,90 Capacidade para aprender novas qualificações 0,86 0,92 0,90 1,00 Amostra (Nº de Empresas) 37 34 8 4
Fonte: PROJETO Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil (2003). *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
No local, a disponibilidade de mão-de-obra qualificada permite que as empresas
reduzam seus custos através de menores gastos com programas de treinamento, mantendo a
qualidade dos produtos finais. Esse aumento da oferta de mão-de-obra qualificada gera ainda
impactos nas condições do mercado de trabalho local, isto porque, ao pressionar os salários
para cima, faz com que haja uma migração dos trabalhadores das micro e pequenas para as
médias e grandes empresas da região.
-
198
3.3.3.4 Empresas líderes
A indústria eletrometal-mecânica catarinense conta com a presença de importantes
empresas líderes em seus diversos segmentos de atuação, estando grande parte das mesmas
concentradas na região Nordeste do Estado, principalmente nos municípios de Joinville e
Jaraguá do Sul. Na região de Joinville estão localizadas empresas que assumem posição de
destaque internacional na produção de refrigeradores [Multibrás], motores e geradores
elétricos [Weg], elementos de fixação12 [Ciser], dentre outros13. Além dessa gama de
segmentos situa-se ainda na região a quinta maior empresa de fundição do mundo [Tupy],
bem como a primeira na fabricação de compressores herméticos [Embraco], e outra na
fabricação de equipamentos e instrumentos odontológicos [Kavo do Brasil].
A consolidação do arranjo eletrometal-mecânico da região de Joinville está associada
à origem e desenvolvimento dessas empresas que foram pioneiras nos seus segmentos de
atuação. Na região 48%14, das empresas instalaram-se antes dos anos 80. Vale assinalar
também que 58% das pequenas empresas foram fundadas após os anos 90, revelando a
influência do processo de reestruturação produtiva e patrimonial das grandes e médias
empresas no dinamismo da estrutura empresarial local.
No segmento de metalurgia, destaca-se no município de Joinville a Tupy Fundições
Ltda., fundada em 1938, que se originou de uma pequena oficina de ferraria e fabricou
pioneiramente, na América Latina, as conexões em ferro maleável. Esta empresa possui
atualmente cerca de 6.092 trabalhadores e atua na fabricação de autopeças15, serviços de
usinagem, barras de ferro fundido e conexões de ferro fundido maleável. O faturamento bruto
dessa empresa atingiu em torno de R$1,07 bilhão, obtido mediante a produção conjunta da
sede e de plantas produtivas no Brasil, subsidiárias na Argentina, EUA e Alemanha e
representantes no México, França, China e Japão. Outras empresas joinvillenses de destaque
neste segmento são a Docol16 Metais Sanitários Ltda, Cia. Industrial H. Carlos Schneider
(Ciser17) e a Metalúrgica Duque18. No ano de 2003, essas empresas contavam com
12 Produção de porcas, parafusos, etc. 13 A saber: componentes para bicicletas, máquinas para indústria de madeira, material rolante para tratores de esteiras, peças para penetração de solo, impulsores de partida. As empresas catarinenses também lideram no mercado interno brasileiro, sobretudo, nos segmentos turbinas para pequenas centrais hidroelétricas, escapamentos para automóveis e caminhões. 14 Considerando a amostra de 83 empresas. 15 Refere-se à produção de blocos e cabeçotes de motor, componentes para sistemas de freio, transmissão, suspensão e direção. 16 Fundada em 1956, atualmente alguns dos principais produtos fabricados pela empresa são sistemas e válvulas de descarga; metais sanitários economizadores de água, torneiras e componentes hidráulicos, dentre outros. 17 Fabricante de elementos de fixação (parafusos, porcas e barras roscadas).
-
199
aproximadamente 826, 827 e 731 funcionários, respectivamente, apresentando faturamentos
por volta de R$ 140,00 milhões. No mesmo município estão presentes empresas de menor
porte, compostas por até 172 funcionários, dentre as quais têm-se a Franke Douat Ltda.19,
Fransisco Lindner S.A. Indústria e Comércio e a Meister S.A.
Outra empresa de destaque no segmento de metalurgia é a Vega do Sul, iniciou suas
operações em 2002, tem como sede o município de São Francisco do Sul, também pertencente
a região de Joinville, produz aços galvanizados (Extragal e Galvalia) e laminados a frio. Esta
empresa emprega hoje cerca de 300 funcionários e realizou no ano de 2003 uma produção de
aproximadamente 100 mil toneladas de aços galvanizados e laminados a frio.
No que diz respeito às principais empresas atuantes no segmento de bens de capital,
destaca-se a Empresa Brasileira de Compressores S.A. (Embraco), fundada em 1971,
originária da Cônsul (1950), iniciou suas atividades fabricando o compressor para esta
empresa e para a Prosdócimo. Localizada em Joinville, emprega cerca de 5.486
trabalhadores20. No ano de 2003, seu faturamento atingiu R$ 1.123 milhões com a produção
de compressores herméticos, seu principal produto, tornando-se líder no mercado mundial,
além de se especializar em soluções para refrigeração. A Embraco, ao longo dos anos, foi
tornando-se uma empresa multinacional e atualmente conta com uma estrutura de vendas que
está presente nos cinco continentes capaz de distribuir suas vendas para mais de 80 países.
Outra empresa joinvillense importante para o Estado e região é a Schulz S.A., fundada em
1963, atualmente emprega em torno de 1.430 trabalhadores que atuam na fabricação,
sobretudo, de compressores de ar e fundidos. Estima-se que em 2004 esta empresa tenha
atingido um faturamento de R$ 334,9 milhões.
Outro segmento importante pertencente à indústria eletrometal-mecânica catarinense é
o de material elétrico, tendo suas principais empresas majoritariamente localizadas na região
de Joinville, precisamente nos municípios de Jaraguá do Sul e Joinville. Em Jaraguá do Sul
está localizada a multinacional Weg, fundada em 1961, é um grupo de capital nacional,
inserida internacionalmente com parques fabris na Argentina, México e Portugal, possui ainda
16 filiais comerciais no exterior (EUA, Canadá, México, Argentina, Venezuela, Chile,
Colômbia, Bélgica, Alemanha, França, Espanha, Inglaterra, Suécia, Itália, Portugal, Japão,
Austrália, Índia e China). A Weg produz motores elétricos monofásicos e trifásicos de alta e
18 Fundada em 1955, iniciou com a produção de peças para bicicletas. 19 Metalúrgica Douat, fundada em 1950, iniciou com a fabricação de artigos sanitários de ferro fundido esmaltado. 20 Em todo o mundo, a Embraco emprega mais de 9 mil pessoas.
-
200
baixa tensão, alternadores e geradores, componentes elétricos industriais, dentre outros21,
empregando aproximadamente 11.294 trabalhadores e faturando US$ 661 milhões em 2003.
Outra importante empresa do segmento de material elétrico também com sede no
município de Jaraguá do Sul é a Kohlbach Motores, fundada em 1945, que emprega hoje por
volta de 523 trabalhadores e obtém o faturamento de R$ 76,5. A Kohlbach Motores é a
segunda maior empresa da América Latina no segmento de motores e geradores. A empresa
joivillense que se destaca no segmento de material elétrico é a Multibrás S.A.22
Eletrodomésticos, pertencente ao grupo americano Whirlpool Corporation, emprega cerca de
4.370 trabalhadores e apresenta um faturamento de R$ 1,1 bilhão. Esta empresa é líder no
mercado nacional e latino americano na produção de refrigeradores de uma e duas portas,
freezers verticais e horizontais, secadoras de roupas e refrigeradores compactos.
Em relação ao segmento de equipamentos de transporte, destacam-se as empresas
Busscar Ônibus S.A. e Tecnofibras S.A, ambas localizadas em Joinville. O número de
empregados aproxima-se da faixa de 3.344 e 541 para o ano de 2003, respectivamente. Os
principais produtos fabricados pela Busscar são as carrocerias metálicas para ônibus e
microônibus, atingindo o faturamento de R$ 113 milhões, ocupando o 4º lugar no mercado
nacional. Por outro lado, a Tecnofibras S.A. tem como principais produtos as autopeças em
PRFV; Termoplásticos e SMC, para ônibus, caminhões, implementos agrícolas/
terraplanagem.
Vale mencionar também a importância da empresa joinvillense Kavo do Brasil S.A.
Indústria e Comércio (integrante do Grupo Interdent Holding AG – Suíça), fundada em 1960,
atualmente emprega cerca de 479 trabalhadores voltados à fabricação de equipamentos e
instrumentos odontológicos sendo líder mundial neste segmento.
3.3.3.5 A dinâmica interindustrial
A densa estrutura produtiva da região de Joinville, ao criar espaço para as intensas
relações dentro do seu território, constitui-se num importante mercado para muitas empresas
que procuram se estabelecer na economia local. Essa densa estrutura produtiva mostra o papel
relevante do território também como importante fonte de fornecimento de produtos ou
serviços para o conjunto de empresas no arranjo. Entretanto, a existência de elevada
21 Refere-se à produção de sistemas de processos e automação de manufaturas, transformadores de força e distribuição, tintas, vernizes, diluentes, breu, terebintina, esmaltes e seus derivados. 22 Em 1994, a Cônsul uniu-se à Brastemp formando a Multibrás S.A. Eletrodomésticos.
-
201
heterogeneidade no tamanho das empresas implica assimetrias nas transações comerciais
realizadas no local. A Tabela 3.3.7 apresenta o índice de importância para as empresas quanto
ao tipo de produtos e serviços transacionados comercialmente no local.
Tabela 3.3.7 - Índice de importância das transações comerciais locais segundo tamanho do estabelecimento do arranjo produtivo eletrometal-mecânica da região de Joinville - 2003
ÍNDICE DE IMPORTÂNCIA TIPOS DE TRANSAÇÕES
MICRO PEQUENAS MÉDIAS GRANDES Aquisição de insumos e matéria prima 0,66 0,68 0,64 0,38 Aquisição de equipamentos 0,43 0,43 0,34 0,40 Aquisição de componentes e peças 0,48 0,66 0,69 0,53 Aquisição de serviços (manutenção, marketing, etc.) 0,58 0,66 0,59 1 Vendas de produtos 0,82 0,63 0,48 0,30 Amostra (Nº de Empresas) 37 34 8 4
Fonte: Pesquisa de campo.
No que diz respeito à aquisição de insumos e matérias-primas no local, os índices se
mostram elevados para as micro, pequenas e médias empresas e relativamente baixos para os
grandes estabelecimentos. Quanto à aquisição de equipamentos no próprio arranjo, o índice é
relativamente baixo para todos os segmentos de empresas. Os equipamentos utilizados pela
grande maioria das empresas são oriundos da região Sudeste do país, principalmente de São
Paulo, ou são adquiridos no exterior.
No que concerne à contratação de serviços no local, os índices são relativamente
elevados, especialmente para as grandes empresas, que apresentam índice igual a 1. Isto pode
ser explicado pelo processo de desverticalização produtiva das grandes empresas que
conseqüentemente levou a um aumento das atividades de subcontratação no local, sobretudo
de micro e pequenas empresas que são responsáveis pela prestação de serviços industriais. No
que tange à aquisição de peças e componentes no local, os índices se mostram elevados para
as pequenas, médias e grandes empresas e relativamente baixos para as micro.
Estes índices refletem a intensa divisão do trabalho e a importância do local como o
principal mercado consumidor, sobretudo, para as empresas de pequeno porte. Em geral,
grande parte das peças e componentes, insumos e matérias-primas para o conjunto de
empresas têm origem no local. Os espaços externos ao arranjo são mais relevantes para as
empresas de grande porte no que se refere à aquisição de insumos e matérias-primas, mas é no
interior do arranjo que essas empresas contratam boa parte dos serviços industriais.
No âmbito do arranjo, pode-se concluir então que as distintas especializações e
complementaridades produtivas entre os diversos segmentos da eletrometal-mecânica definem
o local como um importante espaço para a oferta de bens e serviços demandados por todas as
empresas da região. Essas relações comerciais que ocorrem no interior da estrutura produtiva
-
202
podem ser comprovadas pela dinâmica interindustrial que condiciona as interações locais.
Essa dinâmica produtiva local se dá num ambiente que cria importantes vantagens decorrentes
da proximidade e da organização territorial da produção. Dentre as externalidades
proporcionadas pelo local que intensificam as interações entre os agentes no espaço de
produção, destaca-se, além da infra-estrutura física, a proximidade com clientes e
fornecedores, que favorece as relações de trocas de informações técnicas, a disponibilidade de
mão-de-obra qualificada e acesso a serviços técnicos especializados.
A existência dessa aglomeração produtiva com especialização “secular” na metal-
mecânica, ao proporcionar uma intensa divisão de atividades no local, gera estímulos às
intensas inter-relações que ocorrem na esfera de produção. Essas características da
organização territorial da produção combinadas com as especificidades de formação sócio-
espacial da região criam espaços, sobretudo, para as interações entre os agentes que se
estabelecem na esfera produtiva, como as relações de mercado ou em redes de subcontratação.
Consideram-se aqui as atividades que envolvam relações em redes de subcontratação como
indicador da natureza e hierarquia das interações entre as empresas no local.
Tabela 3.3.8 - Empresas subcontratadas por porte e localização das empresas subcontratantes do arranjo produtivo eletrometal-mecânico da região de Joinville - 2003
DENTRO DO ARRANJO FORA DO ARRANJO DENTRO E FORA DO ARRANJO PORTE DA EMPRESA micro
pequena média grande
ambos os
portes
micro pequena
média grande
ambos os
portes
micro pequena
média grande
ambos os portes
EMPRESAS
Micro 0,00 24,32 5,41 0,00 5,41 0,00 2,70 8,11 18,92 64,86 Pequena 2,94 20,59 0,00 0,00 2,94 0,00 0,00 17,65 17,65 61,76 Média 0,00 0,00 0,00 0,00 12,50 0,00 0,00 50,00 0,00 62,50 Grande 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 50,00 0,00 50,00
Fonte: PROJETO Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil (2003). Valores em percentual. Amostra: Número de empresas pesquisadas: 37 micro, 34 pequenas, 8 médias, 4 grandes.
De acordo com a Tabela 3.3.8, notou-se a existência de elevada intensidade de
complementaridades desenvolvidas localmente, uma vez que 64% das micro empresas do
arranjo são subcontratadas, na maioria das vezes, por médias e grandes empresas da própria
região. Contudo, não é escusado apontar a subcontratação, em nível significativo, das micro
empresas por empresas subcontratantes de ambos os portes (micro, pequeno, médio e grande
portes) tanto com residência local ou de fora do arranjo, demonstrando intensas relações
estabelecidas com empresas que não se localizam exclusivamente na região.
-
203
Tabela 3.3.9 - Empresas subcontratantes por porte e localização das empresas subcontratadas do arranjo produtivo eletrometal-mecânico da região de Joinville - 2003
Fonte: PROJETO Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil (2003). Valores em percentual.
A Tabela 3.3.9 aponta a atuação de empresas locais como subcontratantes, revelando
que, em todos os portes de empresas, estão presentes estratégias direcionadas para a
subcontratação tanto de empresas locais como de fora do arranjo, aumentando
ascendentemente conforme o aumento do porte das subcontratantes. Ou seja, a intensidade de
empresas subcontratantes é menor para as micro e pequenas empresas em comparação às
médias e grandes empresas, embora haja diferenças nas estratégias de subcontratação
promovidas por estas últimas. Os índices das médias empresas apontam uma maior relevância
para a subcontratação de empresas locais, enquanto que as de grande porte também
subcontratam outras de fora do arranjo, com pequena predominância para as empresas locais.
3.3.3.6 As redes tecno-produtivas
No âmbito do arranjo produtivo local, as relações de subcontratação sugerem a
existência de três tipos de redes23, conforme se verifica no Quadro 3.3.1. O primeiro tipo
corresponde às redes de subcontratação para o fornecimento de materiais diretos24 às grandes
e médias empresas (incluem-se aqui as empresas envolvidas com subcontratação de atividades
como fornecimento de insumos e componentes e desenvolvimento de produto). O segundo
tipo corresponde às redes para o fornecimento de materiais indiretos25 e prestação de serviços
industriais para as grandes e médias empresas. Consideram-se aqui as subcontratações de
etapas do processo produtivo e dos serviços produtivos especializados. O terceiro tipo refere-
se às redes formadas por MPEs mediante a subcontratação de diversas atividades e produtos.
23 A análise detalhada das redes de empresas no arranjo produtivo da eletrometal-mecânica encontra-se em Stallivieri (2004). 24 Materiais diretos são peças, componentes e/ou subsistemas que são integrados ao produto final. 25 Materiais indiretos são aqueles utilizados durante os processos produtivos, como moldes e ferramentas, por exemplo.
DENTRO DO ARRANJO FORA DO ARRANJO DENTRO E FORA DO ARRANJO PORTE
DA EMPRESA Micro
Pequena Média
Grande
Ambos os
Portes
Micro Pequena
Média Grande
Ambos os
Portes
Micro Pequena
Média Grande
Ambos os Portes
EMPRESAS AMOSTRA
(Nº DE EMP.)
Micro 43,2 0,0 10,8 2,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 56,8 37 Pequena 44,1 2,9 5,9 0,0 0,0 0,0 14,7 0,0 11,8 79,4 34 Média 62,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 25,0 0,0 0,0 87,5 8 Grande 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 100,0 100,0 4
-
204
Quanto ao primeiro tipo de rede as micro e pequenas empresas integram redes
verticais de fornecimento de material direto, cujas relações são coordenadas por uma grande
empresa a qual exerce considerável influência sobre as ações dos agentes que integram a
cadeia produtiva. Nestas redes, as relações entre os agentes tendem a ser mais estáveis, pois
são estabelecidos contratos de longo prazo. Nesses casos a circulação de informação entre os
agentes é mais intensa, favorecendo relações de confiança que podem resultar em atividades
com finalidades cooperativas, como no caso do desenvolvimento de produtos. Este tipo de
rede ocorre principalmente no segmento de fabricação de máquinas e equipamentos.
CARACTERÍSTICAS REDE TIPO 1 REDE TIPO 2 REDE TIPO 3
Tipos de transação Fornecimento
de peças e componentes.
Fornecimento de materiais indiretos.
Prestação de serviços industriais. Etapas do processo produtivo
Etapas dos processos produtivos. Fornecimento de peças e
componentes. Produção de parte dos lotes.
Importância da proximidade geográfica Baixa Alta Alta
Relações com o mercado externo ao Arranjo
Elevadas Baixas Baixas
Circulação de Informações Intensa Média Intensa Complementaridade e especializações dos
agentes Alta Média Alta
Capacitações exigidas Produzir com os
requisitos de qualidade exigidos
Know How Know How e capacidade de integrar competências.
Grau de hierarquia/ coordenação
Alto/exercido pelas GMEs
Alto/exercido pelas GMEs Baixo/exercido por agentes externos à
rede ou por uma MPE
Características dos contratos
Formais e de longo prazo.
Formais e informais de curto prazo
Tanto formais como informais com
prazos variados Exigências de exclusividade
no fornecimento/ prestação de serviços
Baixas Baixas Nulas
Influência do arcabouço institucional
Nula Nula Alta
Fonte: Stallivieri (2004). Quadro 3.3.1 - Características das redes de cooperação tecno-produtivas do arranjo produtivo eletrometal-mecânico da região de Joinville - 2003
No segundo tipo de rede, as micro e pequenas empresas inserem-se em redes verticais
de fornecimento de material indireto e de serviços industriais, também coordenadas pelas
grandes e médias empresas locais. Nestas redes, os contratos são de curto prazo e sem
exclusividade no fornecimento, logo, os requisitos mais importantes são o preço e o prazo de
entrega. Como no local a oferta desses serviços é grande, com níveis semelhantes de
especialização, a interação entre os agentes produtivos é mediada pelo mercado. Portanto,
nesses casos as relações são mais instáveis, restringindo a possibilidade de desenvolvimento
de relações de confiança que estimulem a cooperação. Este tipo de rede ocorre com mais
freqüência no segmento de fabricação de produtos de metais.
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205
No terceiro tipo de rede, as micro e pequenas empresas participam de redes sobretudo
de natureza horizontal coordenadas por uma MPE ou por uma instituição extramercado.
Nestas redes, as relações podem ser formais ou informais e as interações são mais intensas em
situações que demandam atividades coletivas, como no caso dos consórcios de exportação, no
atendimento de prazos de entrega, etc. Mas como as empresas concorrem entre si, no mercado
local, a manutenção de relações de confiança entre elas torna-se mais difícil, predominando
muitas vezes a visão de concorrência. Aqui se ressalta a influência das instituições locais na
coordenação das atividades produtivas entre grupos homogêneos para estimular as relações de
confiança reforçando as atividades cooperativas. Este tipo de rede ocorre em especial no
segmento de metalurgia básica.
Contudo, cabe destacar que, apesar de predominar no arranjo formas de coordenação
hierárquica, esta ainda pode ser combinada com outras formas de governança em função das
articulações entre os agentes produtivos. Ou seja, há no arranjo empresas que participam,
simultaneamente, de diversas redes de subcontratação. Isto pode ser observado nas relações
que ocorrem somente entre pequenas empresas, que participam tanto de redes de natureza
vertical quanto horizontal. Nessas redes de subcontratação verticais, as relações de poder
entre as pequenas empresas se estabelecem de forma diferenciada segundo a natureza
tecnológica de produtos e processos produtivos não se restringindo, portanto, a um papel de
subordinação às decisões das grandes empresas locais.
3.3.3.7 Mercados 3.3.3.7.1 Destino das vendas
No início da década de 90, as pequenas empresas vendiam quase a totalidade de seus
produtos para fora do arranjo da região, sendo que 20% de seus produtos eram exportados.
Através da Tabela 3.3.10, notou-se uma reversão desta tendência no ano 2000, no qual o
mercado local começa a ter uma maior relevância sobre as vendas, tornando-se importante
mencionar que o aumento das vendas para o mercado local não se deu pela diminuição das
exportações, mas sim pela redução das vendas para o mercado nacional.
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206
Tabela 3.3.10 Destino das vendas das empresas do arranjo produtivo eletrometal-mecânico da região de Joinville – 2003
ANOS DESTINO 1990 1995 2000 2002
Micro Local 100,0 78,6 69,4 62,5 Estado 0,0 6,4 11,3 13,0 Brasil 0,0 15,0 17,8 23,6 Exportação 0,0 0,0 1,6 0,8
Total 100 100 100 100 Amostra (Nº de Empresas) 2 7 32 36 Pequena
Local 47,3 35,0 48,5 42,9 Estado 20,0 15,3 10,9 12,3 Brasil 32,7 43,8 38,4 41,9 Exportação 0,0 6,0 2,2 2,9
Total 100 100 100 100 Amostra (Nº de Empresas) 3 4 30 32 Média
Local 0,5 0,5 22,1 21,3 Estado 4,5 4,5 6,7 5,2 Brasil 75,0 75,0 51,3 50,9 Exportação 20,0 20,0 20,0 22,6
Total 100 100 100 100 Amostra (Nº de Empresas) 2 2 8 8 Fonte: PROJETO Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil (2003). Valores em percentual.
A estrutura produtiva existente na região de Joinville acaba por se apresentar de
grande importância para o fornecimento de produtos e serviços no conjunto das empresas ao
nível local, já que 62,5% das microempresas destinam suas vendas localmente. As pequenas
empresas confirmam a participação preferencial para o comércio local, apresentando 42,9%
para o mesmo, seguindo com uma participação também significante (41,0%) direcionada às
vendas no mercado nacional. Porém, não se pode afirmar que as médias empresas tenham o
mesmo comportamento para a estratégia de vendas locais, já que o mercado nacional se
sobrepõe notadamente (50,9%) em detrimento ao mercado local na direção das vendas.
Registra-se que o arranjo produtivo em estudo não depara grandes problemas de
acesso à BR 101 que liga ao Sul, o estado do Rio Grande do Sul e ao Norte, o estado do
Paraná, canais de distribuição para o mercado interno. Assim como, não encontra dificuldades
em demandar serviços portuários, levando em conta que esta aglomeração situa-se próxima do
Porto de São Francisco e não distante do Porto de Itajaí, utilizados para transportar
mercadorias ao exterior.
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207
3.3.3.7.2 Mercado externo
A reputação de Santa Catarina como grande Estado exportador foi construída ao longo
de sua trajetória de desenvolvimento industrial, estando esse com um importante
reconhecimento por parte dos mercados internacionais. Em 2004, no conjunto dos setores
catarinenses, foram exportados 5,03% dos valores totais do país, sendo que essa participação
é correspondente a US$ 4,3 bilhões (FOB) e posiciona esse estado como o sexto maior
exportador do Brasil.
O estado de Santa Catarina apresentou, em 2004, o sexto melhor saldo comercial do
país (3,3%), com variação de 23,8% ante o ano anterior (FIESC, 2004). A competitividade
dinâmica das empresas catarinenses atuantes nos mercados nacional e mundial é orientada
pela capacidade destas de inovar e de constante interação com os diversos agentes internos e
externos, os quais contribuem com informações tecnológicas importantes na construção de
vantagens competitivas paras as mesmas.
O movimento de ampliação da inserção internacional das empresas catarinenses se
confunde com o das principais empresas líderes instaladas na região de Joinville, por
exemplo, a Weg e a Embraco, onde o processo de reestruturação já mencionado levou a
primeira a ser um dos maiores fabricantes mundiais de motores elétricos. Não obstante, a
Embraco adotou a estratégia de internacionalização da produção e distribuição, sendo
atualmente o maior fabricante mundial de compressores herméticos para refrigeração,
destacando-se pela instalação de unidades fabris e subsidiárias comerciais em inúmeros
países, revelando que sua estratégia a posicionou próxima dos seus clientes em mercados
importantes. Este desempenho da indústria eletrometal-mecânica catarinense é demonstrado
pelo peso das exportações. O desempenho exportador da eletrometal-mecânica em 2004,
conforme a Tabela 3.3.11, aponta os produtos de motocompressores e blocos de cilindros e
cabeçotes para motores como principais produtos vendidos no mercado externo (FIESC,
2005).
Tabela 3.3.11 - Exportação dos principais produtos ligados à indústria eletrometal-mecânica -
2004 PRODUTOS EXPORTAÇÃO EM 2004 (1) VARIAÇÃO (2)
Motocompressores 765,00 13,1 Motores e geradores elétricos 209,57 41 Refrigeradores e congeladores 172,86 41 Blocos de cilindros e cabeçotes para motores 128,95 16,4 Fonte FIESC, 2004. (1) Exportação em US$ milhões FOB. (2) Variação em percentual.
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208
O destaque da exportação de motocompressores é para a empresa joinvillense
Embraco, que no ano de 2004 foi a maior exportadora de Santa Catarina e aumentou suas
receitas externas em 20%, estando consolidada no mercado global e detém o market share de
52% do mercado norte-americano. A exportação de motores e geradores elétricos é
majoritariamente realizada pela empresa Weg de Jaraguá do Sul, sendo a segunda empresa
exportadora do estado, com a exportação total de US$ 243,82 milhões (FIESC, 2002), um
aumento de 40,77% na variação de suas receitas externas. A Multibrás, empresa sediada em
Joinville, se destaca como a maior exportadora de eletrodomésticos da região Sul do país,
principalmente, na linha de refrigeradores de uma e duas portas, freezers verticais e
horizontais e secadoras de roupas. No segmento de metalurgia básica/fundição, a Tupy,
empresa localizada também em Joinville, sobressai na exportação de peças para a indústria
automobilística e de bens de capital, sobretudo, para América Latina, EUA e União Européia.
A Tabela 3.3.12 mostra o número de empresas exportadoras catarinenses por gênero
de atividades, revelando que os setores da eletrometal-mecânica que mais se destacam são o
metalúrgico e o de mecânica.
Tabela 3.3.12 - Número de empresas exportadoras do setor eletrometal-mecânico - 2003. NÚMEROS DE EMPRESAS GÊNEROS (SEGMENTOS)
2001 2002 Metalúrgica 85 95 Mecânica 83 78 Material Elétrico e de Comunicação 14 15 Material de Transporte 5 6 Fonte: FIESC, 2004.
Embora não haja dados consolidados disponíveis sobre as formas de comercialização
das empresas eletrometal-mecânicas catarinenses, pode-se assinalar, de forma representativa,
que as grandes empresas lançam mão de sua capacidade de estruturar a própria
comercialização e distribuição dos seus produtos. Exemplo pode ser dado pela empresa Weg,
que logrou um programa de internacionalização instalando filiais próprias nos cinco
continentes, operando com um sistema de distribuição das exportações através de escritórios
comerciais26. A empresa promove anualmente convenções internas entre os diferentes
representantes e responsáveis das filiais para o acompanhamento do mercado externo.
Outra importante empresa metal-mecânica do setor de Máquinas e Equipamentos
inseridos no mercado internacional, Embraco, igualmente lança mão de unidades de negócios
26 A Weg possui escritórios comerciais nos seguintes países: EUA, Canadá, México, Argentina, Venezuela, Chile, Colômbia, Bélgica, Alemanha, França, Espanha, Inglaterra, Suécia, Itália, Portugal, Japão, Austrália, Índia e China.
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209
em diversos países, exercendo funções múltiplas, tais como escritórios comerciais (Ex. EUA e
México), assistência técnica e controle de fabricação. A Embraco também atua nos mercados
internacionais criando joint ventures (ex. China, Eslováquia, Cingapura) e assumindo o
controle de fábricas (ex. Itália), objetivando também aumentar a base de clientes no leste
europeu e na Ásia. O principal destino das exportações da Embraco é para os EUA, Europa e
América Latina.
Em convergência à política agressiva de vendas ao mercado externo, a empresa
fabricante de bombas hidráulicas e compressores de ar, Schulz, dobrou o número de
funcionários para a área de logística em cinco meses (final de 2004 ao início de 2005),
culminando com um aumento de 14 países ao portifólio de clientes27. A empresa pôde ampliar
o foco de participação no mercado por meio de parcerias com outras empresas. Neste sentido,
mediante divisão dos custos relacionados à distribuição por contêineres, possibilitando o
atendimento a clientes de todos os portes em diferentes países, como também parcerias, tais
como as realizadas entre a Schulz e um laboratório mexicano, para a venda de compressores a
serem incorporados a aparelhos odontológicos naquele país.
Tabela 3.3.13 - As dez maiores empresas eletrometal-mecânicas exportadoras do estado de
Santa Catarina - 2004 COLOCAÇÃO EMPRESA SETOR EXPORTAÇÔES (1) VARIAÇÃO (2)
10 Embraco Máq. e equipamentos 316,52 20,58 19 Weg Exportadora Máq. e equipamentos 243,82 40,77 30 Tupy Fundições Metalurgia 195,92 20,12 31 Multibrás Eletroeletrônicos 180,64 42,02
118 Busscar Ônibus Montadoras de Ônibus 35,73 31,37 141 Zen Metalúrgica Autopeças 26,88 26,62 171 Schulz Máq. e equipamentos 21,35 180,98 177 Vega do Sul Siderurgia 20,65 1.633,51 250 Kavo do Brasil Máq. e equipamentos 12,81 28,05 253 Fábio Perini Máq. e equipamentos 12,54 -20,11
Fonte: Anuário Expressão Exportações. Exportações em US$ milhões de 2004. (2) Variação percentual.
Por outro lado, as empresas de menores portes enfrentam grandes dificuldades de se
inserir no mercado internacional. O sistema de distribuição própria apresenta-se seriamente
dificultoso e ainda não se tornou realidade para a maioria das MPEs e médias empresas
eletrometal-mecânicas catarinenses, sendo que estas acabam se inserindo no mercado externo
através das determinações e demandas por fornecimento das empresas líderes, pois não
apresentam a mesma estrutura logística, financeira e organizacional disponível. A Tabela
3.3.13 mostra a colocação das empresas exportadoras eletrometal-mecânicas catarinenses no
27 Por exemplo, países como Ucrânia, Síria, Marrocos, Rússia, Romênia, Quênia, Namíbia, Argélia, Líbano e Paquistão.
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210
ranking da revista Anuário Expressão Exportação, que lista as 300 maiores empresas
exportadoras do Estado, sendo destaque a Embraco, Weg Exportadora, Tupy Fundições e
Multibrás.
3.3.4 Capacitação tecnológica e para a inovação
3.3.4.1 A estrutura tecnológica local
A estrutura de formação de recursos humanos no local é composta por cinco centros
de ensino superior que são responsáveis pela oferta de cerca de 2.500 vagas/ano somente nos
cursos direcionados às indústrias eletrometal-mecânicas, conforme quadro 3.3.2. Dentre essas
organizações de ensino superior, destaca-se a Universidade da Região de Joinville
(UNIVILLE), a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e o Instituto Superior
Tupy (IST), responsáveis pela maior parte dos cursos de engenharia no local, sobretudo, nas
áreas de concentração em mecânica, elétrica fundição e automação industrial, segundo o
Quadro 3.3.2. A partir do final dos anos 90 e início do ano 2000, ampliou-se essa rede de
ensino com a oferta de cursos de pós-graduação na área de eletrometal-mecânica.
CURSOS OFERECIDOS NÚMERO DE CURSOS ALUNOS ADMITIDOS POR ANO
ESCOLAS TÉCNICAS DE 2OGRAU Escola Técnica Tupy (SOCIESC) 15 1.570 CEDUP 04 1.448 Total 19 3.018 CURSOS SUPERIORES FEJ/UDESC 06 1.959 UNIVILLE 25 5.813 IST (SOCIESC) 07 1.123 SENAI/CTEMM 03 330 UNERJ 18 4.000 Total 59 13.225 OUTROS CURSOS PROFISSIONAIS REGULARES SENAI/CTEMM 06 714 Fonte: Batschauer (2004). Quadro 3.3.2 - Infra-estrutura científico-tecnológica do arranjo produtivo eletrometal-mecânico da região de Joinville - 2004
Há também no local diversas organizações que atuam no ensino técnico e em
atividades de treinamento da mão-de-obra por meio de cursos profissionalizantes nas áreas de
mecânica, eletromecânica, eletroeletrônica, informática e gestão de produtos e processos.
Dentre essas organizações tem-se a Escola Técnica Tupy (ETT) e as unidades do Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial/ Centro Tecnológico Eletrometal-mecânico
(SENAI/CTEMM) nos municípios de Joinville e Jaraguá do Sul.
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211
Esta ampla estrutura de conhecimento caracterizada pela existência de diversas
organizações de ensino que atuam na formação e treinamentos dos recursos humanos, na
prestação de serviços tecnológicos, e ainda mesmo que de forma incipiente, na realização de
pesquisa tecnológica, contribui para a existência de um intenso fluxo de mão-de-obra
especializada e de difusão de informações dentro do arranjo. Essa mobilidade dos
trabalhadores possibilita a circulação de know how e de conhecimento entre as empresas do
arranjo.
Como conseqüência da fraca atuação das organizações de infra-estrutura tecnológica,
verifica-se que as competências locais para a geração de conhecimentos e estímulos para
difusão de informações de cunho inovativo são ainda muito limitadas, restringem-se à
prestação de certos tipos de serviços tecnológicos. A fraca atuação dos laboratórios em
desenvolver pesquisas tecnológicas tem poucos impactos positivos sobre o desenvolvimento
da capacidade inovativa das empresas do arranjo local. Desse modo, observa-se que um dos
principais gargalos ao desenvolvimento tecnológico do arranjo é resultante da ausência de um
centro de pesquisa e da fraca articulação entre o setor produtivo e a estrutura de conhecimento
da região.
Esta estrutura de conhecimento está mais voltada para as atividades de capacitação de
recursos humanos no âmbito das empresas eletrometal-mecânicas. Sua maior efetividade na
função ensino pode ser explicada pela base de conhecimento comum relativa ao conjunto de
todas as atividades industriais locais. No mesmo sentido, a função treinamento, além da
qualificação da mão-de-obra, as organizações locais disponibilizam atividades
complementares ao arranjo produtivo, como serviços de assistência técnica, certificação e
análises e ensaios de matérias-primas. Tal estrutura de conhecimento local, nas funções de
ensino e treinamento, avança na direção de aprofundar as capacitações técnicas-produtivas,
porém, tem pouco efeito sobre a capacidade inovativa localizada.
3.3.4.2 Fontes de informação para a aprendizagem das empresas
Considerando a ampla heterogeneidade entre os agentes produtivos que integram os
diversos segmentos do arranjo eletrometal-mecânico, seja em termos do tamanho ou
capacidade tecnológica, pode-se notar que são bastante diferenciadas as estratégias de
aprendizagem adotadas pelas empresas no local. No interior do arranjo, são intensas as
interações entre as empresas gerando importantes estímulos aos processos de aprendizagem e
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212
as capacitações técnico-produtivas desenvolvidas no local. Simultaneamente, no local existem
segmentos produtivos que apresentam distintas estratégias de aprendizagem para promover o
desenvolvimento de capacidade inovativa. Nos segmentos menos dinâmicos formados por
micro e pequenas empresas que atuam no fornecimento de materiais indiretos e na prestação
de serviços industriais, observam-se estratégias passivas baseadas em fontes locais de
informação. Por outro lado, nos segmentos mais dinâmicos formados por um grupo restrito de
micro e pequenas empresas e por grandes empresas que atuam na fabricação de máquinas e
equipamentos, os esforços para desenvolver capacidade para inovar são mais intensos
materializados na endogeneização das atividades de pesquisa e desenvolvimento.
Em relação às micro e pequenas empresas, que em sua grande maioria atuam em
segmentos tecnologicamente maduros, os esforços para aprendizagem nem sempre são
internamente estruturados na forma de departamento de P&D, e decorrem das habilidades
acumuladas pela experiência na área da produção. Nessas empresas, o conhecimento
requerido para o aperfeiçoamento ou desenvolvimento de produtos ou processos é em geral
genérico, com maior possibilidade de codificação, logo, os processos de aprendizagem mais
usuais são do tipo learning by doing. Isto caracteriza um tipo de cumulatividade alta ao nível
local, no sentido de que as externalidades localmente estabelecem um grau significativo de
conhecimento especialmente localizado. Ao nível da empresa, há facilidade para incorporar o
conhecimento base, sendo este de fácil acesso e amplamente difundido. No que se refere às
habilidades envolvendo o uso de equipamentos, o aprendizado ocorre por interação com
fornecedores por meio de processos de treinamento que se dão na própria empresa, em cursos
técnicos do arranjo (learning by interacting) ou com os usuários de seus produtos (learning by
using).
Os índices de importância das fontes de informação utilizadas pelas empresas para o
desenvolvimento de suas capacitações tecnológicas e inovativas são evidenciados na Tabela
3.3.14. No que tange às fontes internas, para as MPEs, a mais importante é a área de
produção, ressaltando a maior importância do learning by doing para essas empresas. Os
índices são mais reduzidos para o departamento de P&D (0,36 para ambos os portes),
refletindo a baixa importância atribuída a atividades de pesquisa e desenvolvimento realizadas
por essas empresas. Os índices mais elevados quanto à área de vendas e marketing e à área de
serviços de atendimento aos clientes refletem a elevada importância da troca de informações
com os clientes para a aprendizagem das firmas desse porte.
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213
Tabela 3.3.14 - Fontes de informação para a aprendizagem das empresas do arranjo produtivo eletrometal-mecânico da região de Joinville - 2003.
ÍNDICE FONTES
Micro Pequena Média Grande
FONTES INTERNAS Departamento de P & D 0,36 0,36 0,61 1,00 Área de produção 0,79 0,86 0,78 1,00 Áreas de vendas e marketing 0,65 0,71 0,85 1,00 Serviços de atendimento ao cliente 0,65 0,71 0,85 1,00 Outras 0,00 0,09 0,00 0,00
FONTES EXTERNAS Outras empresas dentro do grupo 0,00 0,04 0,13 0,25 Empresas associadas 0,00 0,02 0,00 0,08 Fornecedores de insumos 0,70 0,72 0,73 1,00 Clientes 0,84 0,87 0,81 1,00 Concorrentes 0,42 0,54 0,56 0,45 Outras empresas do setor 0,32 0,51 0,64 0,63 Empresas de consultoria 0,22 0,29 0,54 0,30 INSTITUIÇÕES DE PESQUISA, CAPACITAÇÃO E SERVIÇOS TECNOLÓGICOS Universidades 0,11 0,20 0,39 0,73 Institutos de pesquisa 0,10 0,08 0,40 0,55 Centros de capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção 0,29 0,40 0,49 0,45 Instituições de testes, ensaios e certificaç