2316 aula3 policia federal

Fundamentos de Redação e Produção de Textos para a Polícia Federal Aula 03 – O parágrafo de introdução

PROFESSOR FERNANDO GAMA - @fgamajr http://tiny.cc/red2012pf

48

Pessoal, nesta aula irei abordar um assunto muito importante para quem ainda não

entrou no ritmo de como fazer uma boa redação. Afinal, quem não conhece aquele

ditado popular que diz que “uma longa caminhada sempre começa com o primeiro

passo”? Um ditado muito famoso que se refere a uma parte específica de toda

meta, de todo o objetivo, o início.

No caso de um texto, o começo ocorre antes mesmo de escrever a primeira linha,

na fase de planejamento do texto. Já estudamos nas aulas anteriores como fazer

um bom planejamento de texto, delimitando tema e assunto, bem como o objetivo

dele antes de começar a escrever uma linha sequer, não foi mesmo?

Hoje, no entanto, o começo a que me refiro é ao começo do texto escrito. Ou seja,

na aula de hoje vamos aprender a desenvolver o primeiro e crucial parágrafo do

texto, a introdução.

A introdução é crucial para o texto. É a cabeça dele. É ele que vai demonstrar

sobre o que vai se tratar o assunto ao longo de toda parte desenvolvimento e

conclusão. Ele não é, portanto, meramente uma figura decorativa. Em muitos dos

textos que eu li, corrigindo redações de alunos, verifiquei que as “introduções”

estão lá apenas para constar, batendo ponto, como aquele funcionário que vai ao

trabalho, mas não faz nada. Você não pode deixar isso acontecer. Sua introdução

tem que ter utilidade, fazer sentido e, principalmente, contribuir para a integração

do texto.

Tempos atrás eu estava em uma banca de jornal e vi a capa da revista “Veja” e

nela estava escrito, em letras garrafais: “Casar faz bem”.

Agora me digam uma coisa. Existe alguma dúvida em vocês a respeito do que a

revista ia escrever na reportagem sobre casamento? Vocês acham que ela ia

escrever um texto favorável ou contrário ao casamento? É bem fácil saber que o

texto iria ser plenamente favorável ao casamento, já que o título diz que casar faz

bem, certo?



49

Então, já sabemos que ao final do texto (depois de um debate que imagino que

deve haver entre os prós e contras do casamento), a conclusão será no sentido de

que o casamento é uma boa!

Já sabemos, só pela leitura da capa, que o texto irá enveredar por uma conclusão

previsível. Mas, sobre que ponto de vista o “casamento faz bem”? O que é fazer

bem? Fazer bem é algo bem genérico, o leitor há de concordar, certo?

O “bem” pode ser um bem financeiro. Ao casar as pessoas podem compartilhar

vários bens comuns: casa, carro, chuveiro, escova de dente (opa, essa não dá!).

Assim, cada um, individualmente, gasta menos, e com isso, o casamento faz bem

financeiramente falando. É uma hipótese razoável, certo? Mas será que isso que a

revista quer dizer?

O “bem” pode ser emocional. Tendo alguém do lado, você pode se considerar uma

pessoa mais feliz do que estando sozinho. A companhia da outra pessoa pode

preencher seus “vazios” emocionais, de modo que você se torna uma pessoa



50

melhor. É outra hipótese bem razoável. Mas, ainda não sabemos o que é o “bem”

intitulado na revista.

O “bem” pode ser ainda de outra natureza. Casando você pode ter filhos. Pode ter

sogro e sogra (!!), algo com o qual você sempre sonhou. Enfim, há inúmeras

possibilidades. Por enquanto, só sabemos de duas coisas. Que a revista escolheu

um tema, chamado “casamento” e que o objetivo do texto “é dizer bem de

casamento”. Você ainda se lembra dos capítulos anteriores sobre tema e objetivo

do texto? Pois bem, a revista fez isso ao escrever esse texto.

Tema Casamento

Objetivo Dizer que o casamento faz bem

Mas quem leu as aulas anteriores, deve estar se perguntando: “professor,o tema

casamento está muito amplo! Você não falou que a gente tinha que delimitar o

tema, na fase de planejamento, antes de começar a escrever?”

Excelente pergunta!

Sim, está faltando delimitar o assunto. Na fase de planejamento, precisamos

delimitar o assunto, certo? Certo, mas como não fomos nós que escrevemos este

texto da “Veja”, só pela leitura da capa com os dizeres “Casar faz bem”, não

conseguimos descobrir nada além do tema e do objetivo do texto. O que já é muita

coisa. Se nós fôssemos os autores daquele texto, saberíamos, antes de escrever

qualquer linha, qual seria a nossa delimitação do tema.

Mas, na qualidade de leitor, só vamos descobrir qual foi a delimitação

na....,

na......,

na...... ( vamos lá, está fácil )!!.



51

...na introdução!

Pronto! A introdução serve para o leitor – que não sabe o que o autor planejou

antes de escrever – possa se situar e saber qual é a delimitação do tema e quais

os objetivos o autor pretende com o texto. Sabendo, qual é o tema, qual é a

delimitação do mesmo e qual o objetivo é, portanto, possível fazer uma excelente

introdução.

Mas o que fazem os alunos na hora de redigir seus textos, em sua imensa

maioria? Inventam teorias, juntam frases bonitas e elegantes e colocam na

introdução para ficar “charmoso”. Mas a introdução não é espaço para você soltar

sua criatividade, não. É apenas para você colocar, de forma resumida, o tema, a

delimitação do tema e objetivo do texto. Esses três elementos formam a idéia

principal do texto, que vai guiar vocês até a conclusão!

É simples, mas dizem que para ser claro é preciso mostrar como fazer. Então,

vamos fazer para aprender.

II – Planejando uma introdução

Vamos ver a introdução do texto sobre “Casar faz bem”, da “Veja”?

O casamento faz bem para a saúde do casal e dos filhos, segundo um

levantamento sobre famílias feito pelo Departamento Nacional de Estatísticas do

governo britânico divulgado nesta sexta-feira.

O levantamento concluiu que homens solteiros de até 35 anos têm risco de morte

50 % maior do que um homem casado, da mesma idade. No caso das mulheres,

as casadas têm menos probabilidade de desenvolver doenças crônicas do que as

solteiras.

Segundo o que se pode depreender da leitura do primeiro parágrafo, a delimitação

do tema “Casar”, com o objetivo “Casar é bom”, tem o seguinte sentido: “Casar é

bom para a saúde”.



52

Pronto! É para isso que serve a introdução! Não é para inventar estória para boi

dormir ou teorias mirabolantes. Sejamos práticos, objetivos e diretos em nossas

introduções.

Se eu fosse um aluno concurseiro, aprendendo a escrever e um professor pedisse

para fazer um texto sobre “Casar faz bem à saúde”, sabe o que eu iria escrever na

introdução?

Exemplo 1:

O casamento é a união entre um homem e uma mulher, quando estes se gostam

muito e querem viver juntos.

Exemplo 2:

O casamento ou matrimônio é uma instituição milenar, criada pela Igreja Católica.

Exemplo 3:

Hoje em dia, ninguém mais respeita o casamento. O número de divórcios vem

aumentando ano após ano, mostrando o quanto essa instituição está falida.

Viu?

É isso que os alunos fazem!!! Escrevem algo que não tem nada a ver com o

objetivo do texto. Escrevem uma introdução que não tem nenhum sentido dentro



53

do contexto delimitado na fase de planejamento (que, em geral, também não é

nem feita).

Portanto, o que sai na introdução? Um monte de idéia solta, desconexa, em

relação ao tema “Casamento”, mas não sobre o que foi delimitado “Casamento faz

bem à saúde”, muito menos, com o objetivo do texto “Casar é bom”. Assim, é claro

que não vai sair nada de útil ao longo do texto. Se a introdução saiu errada, vai

ficar difícil consertar o erro depois. O que as pessoas fazem é criar uma introdução

genérica, totalmente descontextualizada, e depois “cair matando” nas perguntas.

Fica um salto. Sabe o que é salto? Você está na estrada e de repente vê que a

pista a frente é uns 2 ou 3 centímetros mais alta do que a que você está. O carro

faz o que? Dá um pulo quando sobre na nova pista. Isso é um salto, uma transição

que não é nada elegante, totalmente perceptível em um texto.

Quer ver?

Texto original:




- - - - - - - - - - -

O levantamento concluiu que homens solteiros de até 35 anos têm risco de morte

50 % maior do que um homem casado, da mesma idade. No caso das mulheres,

as casadas têm menos probabilidade de desenvolver doenças crônicas do que as

solteiras.

Texto do aluno perdido:



54


Estudo concluiu que homens solteiros de até 35 anos têm risco de morte 50 %

maior do que um homem casado, da mesma idade. No caso das mulheres, as

casadas têm menos probabilidade de desenvolver doenças crônicas do que as

solteiras.

Eu dei uma “ajeitada” no início do texto, para não ficar tão evidente a ruptura, mas

está claro que houve um salto entre a introdução e o texto subseqüente, certo? O

que tem a ver a criação do matrimônio com o estudo? Nada!

Isso não pode ocorrer nunca! A introdução deve servir para fazer a ponte com o

texto seguinte, o desenvolvimento .

III – Introdução e frase-núcleo

Vocês já ouviram falar na frase-núcleo de um texto? Não? Não me admira que

estejam ainda com dificuldades de escrever uma introdução, portanto.

A frase-núcleo é a frase, a oração mais importante de um texto (ou de parte dele;

no nosso caso, da introdução). Ela é a diretriz principal do texto, que impede o

autor de sair dos limites especificados no objetivo, em relação ao tema proposto.

Lembram do texto do aluno perdido?


A introdução dele tem apenas uma frase, mas não é a frase-núcleo adequada para

o objetivo estabelecido, com o tema proposto.

Já a frase-núcleo do texto da revista (que compreende toda a introdução) diz o que

tem que dizer, se o objetivo é mostrar que casamento é bom para saúde.

Perceberam a diferença?






55

A frase-núcleo em geral introduz o texto, mostrando como o tema foi delimitado,

podendo ser constituída de uma ou mais orações, fixando a direção para o

desenvolvimento do assunto.

A partir da frase-núcleo, cabe ao autor detalhar ou especificar ao longo do texto a

ideia contida nela (nela, a frase-núcleo). Todo o texto vai ser construído ao redor

da ideia contida na frase-núcleo. Seja uma generalidade que precisa ser melhor

explicada, seja uma ideia que precisa de exemplos para ser comprovada, tudo vai

girar ao redor da frase-núcleo.

É bom deixar claro, como já fizemos anteriormente neste texto, que a frase-núcleo

serve tanto ao autor, para delimitar seus objetivos, quanto ao leitor, para entender

como o autor organizou suas ideias. Se a frase-núcleo não corresponde aos

objetivos delimitados pelo autor ou se ele não for fiel à frase principal, o leitor

poderá sentir que o texto está bagunçado e desorganizado. É o que acontece com

professores de cursinho quando têm que ler os testes dos alunos.

A frase-núcleo é extremamente útil para aqueles que estão começando a escrever

textos e não têm muita habilidade para tanto. Com o passar do tempo, vocês

poderão perceber que pessoas experientes na escrita muitas vezes conseguem se

manter fiéis aos objetivos do texto, mesmo sem a utilização de uma frase-núcleo. É

por isso que eu digo que a introdução pode ser, em alguns casos, dispensada,

mas é muito difícil que isso seja feito por pessoas com pouca ou nenhuma

experiência em escrever.

Saibam que nós, meros mortais, precisamos ter sempre a nossa frase-núcleo na

manga, para evitar que o tema não seja seguido de acordo com o objetivo

estabelecido. A frase-núcleo tem outro objetivo, além de delimitar o objetivo e o

tema. Serve para prender a atenção do leitor, despertando-lhe interesse no que

vem a seguir, por meio da curiosidade, da forma como o texto é escrito (um texto

engraçado, por exemplo) ou simplesmente porque é gostoso de ler. Se a frase-



56

núcleo conseguir atingir esses dois objetivos, então o resto do caminho está

pavimentado para seguir adiante, no desenvolvimento.



57

IV – O CESPE e a introdução (e a frase núcleo).

(CESPE – CONSULTOR/CÂMARA DOS DEPUTADOS/2002 – DIRE ITO

CONSTITUCIONAL)

A ESFERA PÚBLICA MUNICIPAL: ENTE FEDERATIVO MAIS PRÓXIMO DO

CIDADÃO

Redija um texto dissertativo, posicionando-se acerca do tema acima e

abordando, necessariamente, os seguintes aspectos:

I – posição do município na Federação Brasileira;

II – competência municipal: interesse local;

III – exercício de cidadania na esfera municipal;

Vamos tentar traduzir uma questão do CESPE, em termos do planejamento de um

texto?

Em primeiro lugar, antes de começar a escrever, é necessário ler atentamente o

que está sendo proposto e pedido na questão. É comum alunos escreverem

pareceres no lugar de textos dissertativos ou analisando um caso concreto,

quando isso não era solicitado. No comando da questão em tela, o CESPE solicita,

de maneira bem clara e transparente, a elaboração de texto dissertativo em que o

aluno se posicione, ou seja, emita sua opinião.

Essa é a senha! Você deve elaborar um texto em que vai se posicionar a respeito

do tema. O ideal é que você não faça mistério, não enrole. Mostre sua posição

desde o início. É isso que bons autores fazem: não ficam segurando a sua opinião

para um momento especial no futuro. Já na introdução, na frase-núcleo, o autor

deve dizer como vai ser o texto.

Mas, qual é o meu tema? Qual a delimitação do meu texto? Qual o meu objetivo?

Qual a minha frase-núcleo? Essas perguntas têm que ser respondidas ANTES de

começar o texto em si (exceto a frase-núcleo que pode ser escrita de modo

concomitante).



58

Vamos lá! Vamos começar a resolver esse texto!

Tema: Administração Pública / Esfera pública municipal.

Delimitação: A esfera pública municipal como entidade mais próxima do cidadão.

Objetivo: Escrever um texto argumentativo, onde o aluno/candidato se posicione a

respeito do fato de o município ser a esfera mais próxima do cidadão, respondendo

às perguntas formuladas na questão.

Introdução (destaquei a frase-núcleo em negrito)

A tendência generalizada da sociedade brasileira é relegar a esfera municipal uma

importância bem menor do que a concedida às esferas estadual e federal. Não há

dúvidas a respeito da importância de um Presidente da República, que decide o

futuro de uma nação inteira. Mas, é nos municípios que a política se apresenta

muito mais próxima do cidadão comum. Rua sem calçamento, bairro sem escola,

posto de saúde, saneamento básico, iluminação, áreas de lazer, todas estas,

ações no âmbito de atuação das prefeituras que têm muito impacto na vida das

pessoas.

Lendo o texto acima, é fácil perceber que o autor se posicionou rapidamente em

relação ao assunto. Na frase-núcleo, em negrito, não há dúvidas a respeito da

opinião do autor sobre o assunto. Caso você tenha que se posicionar em um texto

dissertativo/argumentativo faça isso logo no início, sem enrolar. Seja objetivo. Isso

vai ajudá-lo a construir sua introdução.

Como é que o texto acima poderia ser continuado?

Simples! Uma ideia em cada parágrafo, da seguinte forma:

Introdução

A tendência generalizada da sociedade

brasileira é relegar a esfera municipal

uma importância bem menor do que a

concedida às esferas estadual e federal.

Não há dúvidas a respeito da



59

importância de um Presidente da

República, que decide o futuro de uma

nação inteira. Mas, é nos municípios

que a política se apresenta muito mais

próxima do cidadão comum. Rua sem

calçamento, bairro sem escola, posto de

saúde, saneamento básico, iluminação,

áreas de lazer, todas estas, ações no

âmbito de atuação das prefeituras que

têm muito impacto na vida das pessoas.

O poder está mesmo nas cidades.

Responder a:

I – posição do município na

federação brasileira;

É “sui generis” a posição do Município

dentro da nossa Federação. Com a

Constituição Federal de 1988, o

Município atingiu um grau de

importância e autonomia impensáveis

nos sistemas constitucionais anteriores.

Diferentemente de outros países em

que foi adotado o modelo federativo de

governo, no Brasil, o município detém

autonomia política e uma ampla

competência administrativa e legislativa.

Responder a:

II – competência municipal: interesse

local;

Enquanto que para Estados e para a

União foram definidas matérias objeto

de competência legislativa, aos

municípios foi atribuída genericamente

capacidade para legislar “sobre

assuntos de interesse local” e

“suplementar a legislação federal e a



60

estadual no que couber”. A definição do

termo “interesse local” é problemática,

só podendo ser conceituada com base

em uma situação ou caso concreto, pois

cada localidade terá o seu rol de

assuntos que serão assim classificados.

O assunto de interesse local não é

aquele que só interesse ao município,

mas aquele que afeta

predominantemente a população de um

determinado local. Por outro lado, há

assuntos que interessam a todo o país,

mas que possuem aspectos que exigem

regulamentação própria em cada

localidade.

Assim, a competência municipal para

legislar sobre assuntos de interesse

local existirá sempre que, determinada

matéria apresentar aspectos que

impactam mais em um local do que no

conjunto do país ou da região,

necessitando, neste caso, de norma

específica para aquela localidade.

III – exercício da cidadania na esfera

municipal

No Brasil, portanto, o município

representa a base da vida política na

esfera do cidadão comum. Prefeitos e

vereadores têm contato direto com a

população em nível bem mais intenso

do que governadores e deputados



61

estaduais e bem mais ainda que as

autoridades do plano federal. Além

disso, deve-se destacar que o povo

pode exercer pressão direta sobre o

poder público municipal, já que é muito

mais fácil fiscalizar os titulares de

função pública no plano municipal do

que no plano estadual ou federal.

Conclusão

O aperfeiçoamento da democracia

exige o fortalecimento dos municípios e

o aprimoramento da vida política

municipal. Poderíamos dizer, de certa

forma, que a cidadania começa nos

municípios: antes de ser um cidadão

brasileiro consciente, a pessoa deve ser

um munícipe consciente.

Deu para perceber como o planejamento e a introdução foram essenciais para a

construção deste texto? Ao planejarmos bem o início, delimitando o tema e

definindo claramente o objetivo, foi possível escrever todo o texto sem nos

perdemos, chegando ao final com uma conclusão antenada com o que expusemos

no primeiro parágrafo.

Vamos tentar de novo?

(CESPE/UNB/TCDF/2002/AUDITOR)

Informativo: STF223 (MS-23.550 – DF)

TCU: Contraditório e Ampla Defesa.



62

Artigo: Concluído o julgamento de mandado de segurança contra a Decisão n.o

621/99 do Tribunal de Contas da União que, em razão de irregularidades no

processo licitatório, assinara o prazo de 15 dias para que a SUFRAMA adotasse

providências para anular a concorrência realizada e, em conseqüência, o contrato

dela decorrente (v. Informativo n.o 216). O Tribunal, por maioria, tendo em vista

que o processo administrativo iniciara-se em face de representação formulada por

particular — empresa que perdera a concorrência — e que não fora dada

oportunidade de defesa à impetrante — empresa vencedora da licitação —, deferiu

parcialmente a segurança para anular o processo desde o início e determinar a

intimação da impetrante como litisconsorte passiva (CF, art. 5.º, LV). Vencido o

Ministro Marco Aurélio, relator, que deferia a ordem em maior extensão, por

entender que a decisão impugnada ofendera o § 1.º do art. 71 da CF (“No caso de

contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional,

que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis”). MS-23.550

– DF, relator Ministro Marco Aurélio, 4/4/2001.

Considerando a decisão citada acima, proferida pelo Supremo Tribunal Federal,

redija um texto dissertativo , abordando os seguintes aspectos:

• natureza dos processos que tramitam nos tribunais de contas (TCs);

• adoção de medidas cautelares pelos TCs;

• competência dos TCs para fiscalizar atos e contratos celebrados pela

administração pública;

• executoriedade das decisões proferidas pelos TCs;

• possibilidade de as decisões dos TCs serem revistas pelo Poder Judiciário.

Diferentemente do texto anterior, neste o CESPE deu menos pistas. Precisamos

caçá-las ao longo do texto. Qual o tema? E, portanto, o que deve constar em

nossa introdução e na nossa frase-núcleo? Não está tão claro como da outra vez.



63

Outra coisa a se observar é que o CESPE não pediu um texto argumentativo, pois

foi omisso quanto à necessidade de se posicionar. Apenas falou que o texto deve

ser dissertativo, de modo que não é necessário se posicionar, apenas responder

às perguntas feitas.

O tema está bem no título do Mandado de Segurança que embasa a questão:

“TCU: contraditório e ampla defesa”. E isso tem que constar, necessariamente, da

frase-núcleo e no primeiro parágrafo, ok?

Então, como faremos?

Tema: TCU.

Delimitação do tema : TCU: Contraditório e ampla defesa.

Objetivo : redigir texto respondendo às questões no contexto do TCU.

Introdução e frase-núcleo : (em negrito, a frase núcleo)

Embora o TCU não seja um integrante do Poder Judiciário, a nossa Constituição

atribuiu à Corte de Contas várias similaridades com os órgãosjudiciários, no

tocante à sua organização e funcionamento. Além disso, várias restrições

impostas aos processos judiciais foram também adapt adas, na medida do

possível, aos processos do Tribunal de Contas, tais como a necessidade de

observar os princípios gerais de direito em seus ju lgamentos, a exemplo dos

princípios do contraditório e ampla defesa .

O que eu faço na introdução?

Digo que o TCU é similar, em muitos aspectos, aos outros tribunais do poder

judiciário. Digo, ainda, que essa similaridade permite adotar no TC vários dos

princípios gerais de direito, típicos do poder judiciário. E que completo

argumentando que um destes princípios é justamente o do contraditório e da

ampla defesa.

Com isso, eu introduzo e delimito o tema. A partir de agora, eu não posso mais

fugir disso, na continuação do texto. A cada parágrafo, o leitor sabe, eu terei que ir



64

respondendo às perguntas seguintes, uma a uma. Percebam que já existe um

“link” de conexão aberto para fazer ponte com a primeira pergunta “natureza dos

processos que tramitam nos tribunais de contais (TCs)”.

Vamos concluir o texto, então?

Introdução

Embora o TCU não seja um integrante

do Poder Judiciário, a nossa

Constituição atribuiu à Corte de Contas

várias similaridades com os órgãos

judiciários, no tocante à sua

organização e funcionamento. Além

disso, várias restrições impostas aos

processos judiciais foram também

adaptadas, na medida do possível,

aos processos do Tribunal de

Contas, tais como a necessidade de

observar os princípios gerais de

direito em seus julgamentos, a

exemplo dos princípios do

contraditório e ampla defesa.

Competência dos TCS para fiscalizar

atos e contratos celebrados pela

administração pública

Os tribunais de contas detém

competência expressa na Constituição

para fiscalizar a execução de atos e

contratos administrativos emanados ou

firmados pelo poder público com

terceiros, como corolário de seu poder

de fiscalização sobre a administração



65

pública.

Natureza dos processos que

tramitam nos tribunais de contas

(TCs)

Entretanto, diferentemente dos

processos no âmbito do poder judiciário,

os processos que tramitam perante os

tribunais de contas não são processos

judiciais. A maioria da doutrina entende

que os processos no TC possuem

natureza de processo administrativo, a

exemplo da própria natureza dos

tribunais de contas, de ser um órgão de

índole administrativa, embora uma

corrente minoritária defenda que os

processos que nos TCs teriam uma

natureza “especial”, nem administrativa

tampouco judicial.

Possibilidade de as decisões dos

TCs serem revistas pelo Poder

Judiciário

Seja qual for o posicionamento adotado,

o fato é que os tribunais de contas, por

não pertencerem ao poder judiciário,

não podem dizer o direito de modo

definitivo. Suas decisões podem sempre

ser revistas pelo poder judiciário, já que

no Brasil, país que não adota o

contencioso administrativo, cabe à

justiça, em sentido restrito, o monopólio

de decidir causas em última instância. É

bom que se ressalte, no entanto, que as

revisões judiciais às decisões dos TCs

resvalam apenas em aspectos formais,

não podendo o juiz togado substituir ou



66

modificar a decisão da Corte de Contas

quanto ao mérito.

Executoriedade das decisões

proferidas pelos TCs

Decidida uma causa pelo TC (desde

que não revista pelo Poder Judiciário) e

esgotados os prazos legais para

recurso, ocorre o trânsito em julgado da

decisão, podendo, a partir de então, ser

ela executada. É forçoso reconhecer, no

entanto, que nosso ordenamento

jurídico não atribuiu aos tribunais de

contas competência para executar suas

próprias decisões. A decisão, por

exemplo, que condena o gestor em

débito ou aplica multa é na verdade um

título executivo extrajudicial para que a

fazenda pública interessada possa

propor a competente ação de execução,

por meio de seus órgãos jurídicos

próprios.

Adoção de medidas cautelares pelos

TCs

Entretanto, há outras decisões adotadas

pelos TCs que são executadas sem a

interveniência de outros órgãos

jurídicos, como no caso de algumas

decisões interlocutórias ou algumas

medidas cautelares, que são

executadas diretamente. Recentemente

o STF reconheceu aos TCs

competência para expedir medidas

cautelares como forma de impedir que a



67

decisão de mérito seja esvaziada pela

demora no julgamento.

Alguns comentários sobre a realização do texto acima:

a) em primeiro lugar, cumpre destacar que eu inverti a ordem das questões em

relação à proposta do CESPE; não é probido fazê-lo e não é o aluno

obrigado a responder as questões na ordem apresentada pela banca, desde

que você responda a todas as perguntas;

b) em segundo lugar, eu não fiz uma conclusão explícita do texto, já que isso

não era necessário; como as perguntas foram fechadas e não havia

solicitação para que o aluno/candidato/autor se posicionasse o texto apenas

respondeu às perguntas solicitadas;

No próximo capítulo, irei abordar o desenvolvimento do tema e a importância da

utilização de algumas palavras-chave que constam da questão para elaborar um

texto que será bem avaliado.

2316 aula3 policia federal

Documents