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#225 EDIÇÃO OÁSIS GUINADA ECOLÓGICA RADICAL DO PAPA FRANCISCO A ENCÍCLICA VERDE MUNDO JURÁSSICO Dinossauros são uma droga que conduz à ciência MÔNACO Muito além da realeza dos Grimaldi O MISTÉRIO DE UMA ANATOMIA Reflexões de um poeta transexual

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#225

EDIÇÃO OÁSIS

GUINADA ECOLÓGICA RADICAL DO PAPA FRANCISCO

A ENCÍCLICA VERDE

MUNDO JURÁSSICODinossauros são uma droga que conduz à ciência

MÔNACOMuito além da realeza dos Grimaldi

O MISTÉRIO DE UMA ANATOMIAReflexões de um poeta transexual

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OÁSIS . EDITORIAL

POR

EDITOR

PELLEGRINILUIS

D igo, no início do artigo de capa que preparei para apresentar aos leitores algo do conteúdo essencial da recém lançada Encíclica Laudato Sí sobre o meio

ambiente, do Papa Francisco, que “ela foi escrita com a raiva intelectual de um ativista, com a preocupação com os pobres e como um ato de acusação sem precedentes à indiferença dos poderosos”.

Confesso que esse Papa está despertando meu interesse pelos assuntos da Igreja Católica. Ele permaneceu apagado durante décadas. Desde o velho João 23, que foi para o pa-raíso no longínquo ano de 1963, não percebi ninguém mais vocacionado – e adequado – para sentar no Trono de Pedro do que esse argentino alegre e fã do futebol que, outrora, respondia pelo nome de cardeal Bergoglio.

A ENCÍCLICA LAUDATO SÍ, DO PAPA FRANCISCO, PRECONIZA QUE UMA MUDANÇA GERAL DE ESTILO DE VIDA IMPÕE-SE COM A MÁXIMA URGÊNCIA. SEM ELA, NOSSO FUTURO É BEM INCERTO. QUASE INEXISTENTE

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OÁSIS . EDITORIAL

POR

EDITOR

PELLEGRINILUIS

Esta sua nova encíclica, pensada para a importantíssima ques-tão ecológica que, a nível mundial, estamos vivendo, repre-senta uma guinada radical nas posições da Igreja. Francisco, em últimas palavras, e muito simplesmente, afirma que “po-luir, contribuir para o aquecimento global e para a defloresta-ção é – no fundo – um pecado”.

E agora, José?, diria o poeta. Como ficarão os católicos que, em nome do lucro, ou por ignorância e irresponsabilidade, poluem, desrespeitam as regras para a emissão de gases de efeito estufa, desmatam indiscriminadamente para multipli-car seus desertos de soja e suas granjas de vacas? Irão todos para o inferno, ou preferirão por a mão na consciência e pas-sar a agir de forma mais responsável?

Nossa matéria de capa apresenta alguns dos pontos mais importantes da encíclica de Francisco. Ela preconiza que uma mudança geral de estilo de vida impõe-se com a máxima ur-gência. Sem ela, nosso futuro é bem incerto. Quase inexis-tente.

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A ENCÍCLICA VERDEGuinada ecológica radical do Papa Francisco

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Encíclica Laudato Sí, do Papa Francisco, sobre o meio ambiente, foi escrita com a raiva intelectual de um ativista, com a preo-cupação com os pobres e como um ato de acusação sem precedentes à indife-rença dos poderosos. Já

surgiu como libelo clássico que permanecerá na

história dos esforços voltados à conservação da vida na face do planeta Terra.

Trata-se de uma encíclica para todos, não apenas para os cristãos. Com ela Francisco lavra mais um tento na sua já longa lista de intervenções fundamentais sobre os proble-mas do mundo contemporâneo. Pela primei-ra vez a Igreja publica um documento oficial sobre questões do meio ambiente e da sua sal-vaguarda.

Ao longo dos séculos, muitos homens e mu-lheres da Igreja e cristãos em geral levaram

A

“Louvado seja, sobre o cuidado da casa de todos nós”. É o título da Encíclica recém publicada do Papa Francisco sobre o meio ambiente. O ponto central? “A Terra está ferida, é necessária uma conversão ecológica”. Poluir, contribuir para o aquecimento global, para a desflorestação é – no fundo – um pecado

POR: LUIS PELLEGRINI

Ilustração medieval de São Francisco, para 'O Cântico das Criaturas'

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em consideração o tema do respeito à vida e à natureza, a começar por São Francisco de Assis, citado no próprio título da encíclica. Ele foi extraído do célebre “O Cântico das Criaturas”, obra-prima poética do santo de Assis. Mas o documento de hoje faz parte do Magistério (ou seja, do ensinamento) da Igreja. Representa a voz oficial da ins-tituição católica e está impregnada da sua autoridade. A encíclica foi escrita pessoalmente pelo Papa Francisco, que chamou para assessorá-lo um grande número de especia-listas e cientistas. Mas – a premissa é obrigatória – não se trata de um docu-mento científico, e sim de um repto espiritual que convida

antes de tudo a uma “conversão ecológica”. A salvaguarda do ambiente é coligada à justiça em relação aos pobres e à solução dos proble-mas causados por uma economia que persegue apenas o lucro. As três questões não podem ser dissociadas e, com efeito, o tema ambien-tal é tratado por Francisco num contexto mais amplo, o da doutrina social da Igreja.

Mudança de estilo de vida, produção e consumo

O ponto de partida é a análise dos dados cien-tíficos, mas Papa Francisco não deseja intervir no debate científico ou estabelecer em qual porcentagem o aquecimento global seja cau-sado pelas atividades humanas. Esses temas constituem apanágio apenas dos cientistas. O

pontífice explica que “existe um consenso científico muito consistente que indica estarmos diante de um preocupan-te aquecimento do sistema climático mundial”, devido em sua maior parte à grande concentração de gases de efeito estufa na atmosfera do planeta. A humanidade deve “tomar consciência da necessidade de mudanças de estilo de vida, de produção e de consumo”. O Papa também toma em consideração o derretimento dos gelos e a perda da biodiversidade. Os impactos mais pesados “provavelmente recairão nas próximas décadas sobre os países em via de desenvolvimento”. “Portanto, tornou-se urgente e impositivo o desenvolvi

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O poder político domina e divide o mundo

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mento de políticas de modo que nos próxi-mos anos a emissão de gás carbônico e de outros gases poluidores se reduza drastica-mente”. O quadro descrito por Francisco no primei-ro capítulo da sua encíclica é deprimente: deterioração da qualidade da vida humana e degradação social. O ponto de vista do pontífice é o de um teólogo: Francisco recorda que “o ambiente humano e o ambiente natural se degradam juntos”, atingindo sobretudo os mais frá-geis. Problemas que “não encontram sufi-ciente espaço nas agendas do mundo”. As palavras de Francisco não admitem pa-nos quentes: a seis meses da próxima con-ferência sobre o clima, que será realizada em Paris, o pontífice convida os grandes da terra a mudar o tom e o conteúdo do discurso, a dar relevantes passos à frente. Ele denuncia “a debilidade da reação política in-ternacional” e afirma que “muito facilmente o interesse econômico prevalece sobre o bem comum e manipula a informação para que seus projetos e interesses sejam pro-tegidos”.

O débito ecológico entre o Norte e o Sul

Existe um “débito ecológico” entre o Norte e o Sul: “O aquecimento causado pelo enorme consumo de alguns países ricos acarreta repercussões nos lugares mais pobres

da terra”. Os países desenvolvidos devem contribuir para resolver esse débito ecológico. Como? O pontífice sugere limitar “de modo importante o consumo de energia não renovável”. Enquanto os países mais pobres “têm menos possibilidade de adotar novos modelos de redução do im-pacto ambiental”. Tais situações requerem um “sistema normativo que in-clua limites invioláveis e assegurem a proteção dos ecos-sistemas”.

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“Os poderes econômicos continuam a justificar o atual sistema mundial, no qual prevalecem uma especulação e uma busca da renda financeira”, hoje “qualquer coisa que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa diante dos interesses do mercado divinizado, transformados em re-gra absoluta”. Diante do exaurimento de alguns recursos vai-se criando “um cenário favorável para novas guerras, mascaradas como sendo nobres reivindicações”. A políti-ca deveria estar mais atenta, mas “o poder coligado com a finança” resiste a esses esforços. Há diversidade de opiniões

O Papa reconhece que existe diversidade de opiniões so-

bre a situação e sobre as possíveis soluções. Cita dois extremos: quem sustenta que “os problemas ecológicos serão resolvidos simplesmente com a aplicação de novas técnicas, sem considera-ções éticas nem mudanças de fundo”. E quem considera que “a espécie humana, não importa qual seja a sua forma de intervenção, só poderá ser uma ameaça e comprometer o ecossistema mundial, de modo que é conveniente reduzir a sua presença no planeta”. Sobre várias questões concretas, a Igreja “não tem motivo para propor uma palavra definitiva”, basta no entanto “ob-servar a realidade com sinceridade para ver que existe uma grande deterioração da nossa casa comum”. Mas a Encíclica não faz nenhuma concessão ao afirmar a responsabilidade moral dos homens que – com os seus comportamentos – influem

sobre o meio ambiente, a poluição, o aquecimento global e – em última análise – de como poderemos impedir tudo isso. O Papa conclama a todos para uma conversão eco-lógica. Instiga a mudarmos de rota: a nos empenharmos pela salvaguarda do ambiente, da nossa casa comum. E afirma que poluir, contribuir para o aquecimento global, para a deflorestação é – no fundo – um pecado. Diálogo entre a fé e o conhecimento

Quando o Papa, a partir do segundo capítulo da encíclica, introduz os aspectos de fé, ele o faz com um preâmbulo muito claro: “Por que inserir neste documento, dirigido a todas as pessoas de boa vontade, um capitulo referente às

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As piores consequências da degradação ecológica recaem sempre sobre os povos mais frágeis

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convicções de fé? Tenho consciência de que, no campo da política e do pensa-mento, alguns refutam com força a ideia de um Criador, ou a consideram irre-levante, a ponto de relegar ao âmbito do irracional a riqueza que as religiões podem oferecer para uma ecologia inte-gral e para o pleno desenvolvimento do gênero humano. Outras vezes, supõe-se que elas constituam uma subcultura que deve ser simplesmente tolerada. Con-tudo, a ciência e a religião, que forne-cem abordagens diversas da realidade, podem entrar em um diálogo intenso e produtivo para ambas”.

São 180 páginas de reflexões teológi-cas e com numerosos atos de acusação dirigidos aos poderosos e às nações desenvolvidas. Sele-cionamos abaixo aqueles que consideramos serem os seus pontos principais: 1. Abandono dos combustíveis fósseis: “À espera de solu-ções melhores (as energias renováveis) é melhor preferir o mal menor. No caso energético, o pior de todos é o carvão fóssil. Sabemos que a tecnologia baseada nos combustíveis fósseis, todos muito poluidores – especialmente o carvão, seguido pelo petróleo e, em medida um pouco menor, pe-los gases combustíveis – deve ser substituída progressiva-mente porém sem hesitação. Na expectativa de um amplo desenvolvimento das energias renováveis, que já deveria ter começado, é legítimo optar pelo mal menor ou recorrer a soluções transitórias”.

2. A falência dos encontros da ONU sobre o clima: “Mais de vinte anos de summits serviram pouco para o controle do aquecimento global. Digna de nota é a debilidade da re-ação política internacional. A submissão da política à tec-nologia e à finança demonstra-se na falência dos vértices mundiais sobre o ambiente. Existem demasiados interes-ses particulares e muito facilmente o interesse econômico prevalece sobre o bem comum e manipula a informação. 3. Os “créditos de emissão” constituem negociata inútil: “A estratégia de compra e venda de ‘créditos de emissão’ podem redundar em uma nova forma de especulação e não servem para reduzir a emissão global de gases polui-dores. Esse sistema parece ser uma solução rápida e fácil,

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Poluir e extinguir recursos naturais constituem verdadeiros crimes contra a humanidade

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com a aparência de um certo empenho para o ambiente, mas ele não implica de fato numa mudança radical à altura das circunstâncias. Longe disso, pode se tornar um expe-diente que consente sustentar o super consumo de alguns países e setores”. 4. Importância das iniciativas locais: “Em alguns lugares desenvolvem-se cooperativas para a exploração das ener-gias renováveis que possibilitam a autossuficiência local e inclusive a venda da produção excedente. Esse simples exemplo indica que, enquanto a ordem mundial existente mostra-se impotente em assumir a responsabilidade, a ins-tância local pode fazer a diferença. É nela que podem nas-cer uma maior responsabilidade, um forte senso comuni-

tário, uma capacidade especial de bons cuidados e uma criatividade mais generosa, um profundo amor pela própria terra, bem como a se pensar naquilo que será deixado para os filhos e os ne-tos. Esses valores têm raízes muito profundas nas populações aborígenes”. 5. Transgênicos? Nem a favor, nem contra: “É difícil emitir um julgamento geral a respeito do desenvolvimento dos organismos geneticamente modificados (OGM), vegetais ou animais, para fins médicos ou na agricultura, pois eles podem ser muito diversos entre si e requererem dis-tintas considerações. Por outro lado, os riscos não devem ser sempre atribuídos à técnica em si, mas à sua aplicação inadequada ou excessi-va. Na realidade, as mutações genéticas foram e continuam sendo produzidas muitas vezes pela própria natureza. Nem mesmo aquelas provo-

cadas pelo ser humano são um fenômeno moderno. A do-mesticação de animais, o cruzamento de espécies e outras práticas antigas e universalmente aceitas podem ser objeto dessas considerações. É oportuno recordar que o início dos trabalhos científicos sobre cereais transgênicos foi a observação de bactérias que naturalmente e espontanea-mente produzem modificações no genoma de um vegetal. Todavia, na natureza esses processos têm um ritmo lento, que não pode ser comparado à velocidade imposta pelos progressos tecnológicos atuais, até mesmo quando tais progressos são baseados sobre desenvolvimentos científi-cos multisseculares.

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Preservar o mundo natural é a melhor herança que podemos deixar para as gerações futuras

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6. O consumo é o problema mais grave da população mundial: “Culpar o incremento demográfico e não o consumismo extremo e seletivo por parte de alguns, é um modo de não enfrentar os problemas. Pretende-se dessa forma legitimar o atual modelo distributivo, no qual uma minoria se crê no direito de consumir numa proporção que seria impossível generalizar, porque o planeta sequer conseguiria absorver os detritos produzidos por um tal consu-mo”. 7. Celulares e outros aparelhos estão arruinando nossa relação com a nature-za: “Ao mesmo tempo, as relações reais com os outros, com todos os desafios que elas implicam, tendem a ser substituídas por um tipo de comunicação intermediada pela internet. Isso permite selecionar ou eliminar as relações segundo o nosso arbí-trio e, dessa forma, gera-se com frequência um novo tipo de emoções artificiais, que têm mais a ver com dispositivos eletrônicos e monitores visuais do que com pessoas e com a natureza. Os meios atuais permitem que nos comunique-mos e que compartilhemos conhecimentos e afetos. Con-tudo, às vezes eles nos impedem de tomar contato direto com a angústia, com o temor, com a alegria do próximo e com a complexidade da sua experiência pessoal. Por isso não deveria espantar o fato de que, junto à opressiva oferta desses produtos, vá crescendo uma profunda e melancólica insatisfação nas relações interpessoais, ou um danoso iso-lamento.”

8. A herança para as novas gerações? A desolação: “As previsões catastróficas já não podem ser consideradas com desprezo e ironia. Poderemos deixar às próximas gerações demasiadas ruínas, desertos e lixo. Os ritmos do consumo, do desperdício e de alterações do meio ambiente supe-raram as possibilidades do planeta, de maneira tal que o estilo atual de vida, sendo insustentável, apenas pode de-sembocar em catástrofes, como de fato já está acontecen-do periodicamente em diversas regiões”. 9. Poluir e extinguir recursos é um pecado: “O ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem dele possui uma parte, é apenas para administrá-la em benefício de todos. Se não o

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Cópias da Encíclica Laudato Sí foram enviadas a todos os milhares de bispos e

madres superioras da Igreja Católica

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fizermos, carregaremos em nossa consciência o peso de ne-garmos a existência dos outros. Por isso os bispos da Nova Zelândia se perguntaram o que significa o mandamento “não matarás” quando cerca de 20 por cento da população mundial consome recursos em medida tal de roubar às nações pobres e às futuras gerações aquilo de que têm ne-cessidade para sobreviver”.

10. A poluição sonora também é condenável: “Para poder falar de um desenvolvimento autêntico, será preciso que aconteça uma melhora integral da qualidade da vida hu-mana, e isso implica analisar o espaço no qual transcorre a existência das pessoas. Os ambientes nos quais vivemos in-fluem no nosso modo de ver a vida, de sentir e de agir. Ao mesmo tempo, no nosso quarto, na nossa casa, no nosso lugar de trabalho e no nosso bairro devemos fazer uso do

ambiente para exprimir a nossa identidade. Nos esforçamos para nos adaptarmos ao ambiente, mas quando ele é desordenado, caótico ou sa-turado de poluição visual e sonora, o excesso de estímulos põe à prova nossas tentativas de de-senvolver uma identidade integrada e feliz”.

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Os serviços de propaganda do Vaticano cuidaram da divulgação maciça da nova encíclica de Francisco

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MUNDO JURÁSSICODinossauros são uma droga que conduz à ciência

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á vinte anos, “Jurassic Park” (baseado no ro-mance best-seller de Michael Crichton com o mesmo nome) galvani-zou as plateias com sua história de dinossauros ressuscitados enlouque-cidos, faturou mais de um bilhão de dólares em

todo o mundo e deu origem a duas sequências não tão bem sucedidas. De qualquer modo, o sucesso da série já era de ótimo tamanho, mas os produtores ainda não estavam satisfeitos. Com razão. A última encarnação da saga, “Ju-rassic World”, galvaniza plateias em todo o mundo. Ela nos leva de volta à Ilha Nublar, onde vinte mil visitantes por dia chegam em revoada ao parque temático para ver um gi-gantesco mosassauro devorar um grande tu-barão branco, enquanto as crianças cavalgam bebês tricerátops. Mas, como toda novidade na nossa sociedade consumista, a dos dinossauros revividos gra-ças à tecnologia humana logo se desgastou, e era preciso produzir algo ainda mais espe-tacular para recuperar os altos números do faturamento. E foi criado o “Mundo Jurássi-co”. Neste quarto filme da série o Dr. Wu (B. D. Wong) literalmente cria um monstro: um dinossauro híbrido com quase 13 metros de altura, guloso ao extremo e de temperamen-to muito irascível. Esse dino-frankenstein é batizado de Indominus rex e, como todos esperam e desejam, ele consegue escapar da sua jaula e entregar-se a carnificinas sem fim, para gáudio dos espectadores. Claro, o filme não seria completo sem alguma mensagem exemplar, e neste caso ela consiste em adver-tências contra a ambição desmedida das cor-porações capitalistas e as consequências de se brincar com a Mãe Natureza. Por fim, algum

H

Steven Spielberg regressa como produtor de “Mundo Jurássico”, a aguardada obra da série “Parque Jurássico”, já em cartaz nos cinemas. Colin Trevorrow dirige este épico de ação e aventura, mas também de muita ciência e ficção científica. Neste artigo, o autor, jornalista de ciência, procura separar o que são fatos e oque é fantasia nesse nova saga de monstros trazidos da pré-história

POR: GERRI MILLERFOTOS: ILM/UNIVERSAL PICTURES AND AMBLIN ENTERTAINMENT

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Em tomada submarina, o mosassauro persegue sua comida preferida, o tubarão branco

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conteúdo de ciência verdadeira também faz parte da tra-ma, por trás de toda a sua ficção científica. Na onda do enorme sucesso que Mundo Jurássico está alcançando, o Museu de História Natural de Los Angeles, EUA, montou no dia 11 de junho um painel de discussões com um trio de importantes especialistas. Os três se empe-nharam para avaliar o que é ficção e o que é realidade no

mundo dos dinossauros descrito na película. Discutiram também a plausibilidade – e a ética – de trazer de volta espécies extintas. O mosassauro não era um dino, e sim um lagarto

Michael Habib é um paleontologista e bioquímico e pro-fessor assistente da Keck School of Medicine, na Universi-ty of Southern California, e pesquisador associado do

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Owen Grady (Chris Pratt) treina um trio de velociraptors em 'Mundo Jurássico'

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Um guarda do parque tenta combater o monstruoso Indomitus rex

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Instituto do Dinossauro, no Museu de His-tória Natural, instituição que reconstrói a anatomia, fisiologia e a movimentação de animais extintos. Habib brande alguns os-sos fósseis ao comentar certos detalhes do filme, começando pelo mosassauro, que na verdade não era um dinossauro e sim um gigantesco lagarto que vivia em meio aquá-tico. “O mosassauro do filme é grande demais. Os maiores deles não superavam o tama-nho de uma orca, não de uma baleia. Mes-mo que isso fosse possível, seriam neces-sários entre 50 e 60 anos de vida para que ele atingisse esse tamanho. Mas o parque existe há apenas vinte anos”, ele afirma. “A textura da pele está errada. Também o formato do rabo, que termina como uma âncora, quando na verdade deveria parecer a um rabo de lagarto. Quanto ao Tyrannosaurus rex, ape-sar de alguns detalhes anatômicos equivocados, o conjun-to está bastante bem. As palmas das patas deveriam estar direcionadas para o meio, como no caso dos pássaros, e o formato do crânio está um tanto estranho. Mas acredito que a produção preferiu manter uma continuidade do vi-sual do tiranossauro do primeiro filme”, presume Habib. “Os velociraptors eram muito menores do que os do filme, e eram parentes próximos dos pássaros. Tinham plumas, e provavelmente não eram tão barulhentos”, continuou Habib. “Não temos informações sobre os sons que eles produziam ou a linguagem que usavam. Mas sabemos com

certeza que os pássaros são bons comunicadores e muito sociais”. Da mesma forma, quanto ao feroz Indominus rex, Habib disse: “Não é um dinossauro plausível, mas nem precisa ser um dinossauro plausível. Trata-se de um monstro doi-do criado pela engenharia genética que de repente apare-ce. Ele é visualmente espantoso e corpulento, e isso fun-ciona no filme. Ele faz exatamente aquilo que querem que ele faça, ou seja, é apavorante”.

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Em show aquático, um mosassauro devora um tubarão branco

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O Indomitus rex adora pterodáctilos

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Muitos dinossauros eram coloridos e tinhamplumas David Krentz, designer de personagens cinematográficos especializado em dinossauros que trabalhou em projetos como “Caminhando com os dinossauros 3-D”, é o criador dos efeitos especiais de “Mundo Jurássico”. Krentz explica que “graças às novas tecnologias, agora podemos nos apro-ximar muito mais dos animais criados por computador. Há 20 anos isso não possível, pois quando chegávamos muito perto o olhar deles parecia falso e a pele parecia feita de borracha. Agora, há uma maior resolução, um melhor con-trole muscular”.

Por outro lado, sabe-se agora que muitos dinossauros eram coloridos e partes dos seus corpos eram recobertas

por protoplumas, um pouco como certos pássaros modernos. “Mas você não verá nada disso em “Mundo Jurássico” por causa dos filmes anteriores da série. Era necessário manter uma continuidade do aspecto desses animais.

Por outro lado, quando o projeto de “Mundo Jurássico” foi desenvolvido, era preciso manter sempre em mente que se tratava de um filme de horror. O pale-ontólogo Jack Horner, consultor cientí-fico da película, queria dinossauros que exibissem suas plumagens, “dançando”, no ato de seus ritos de corte. Mas Steven Spielberg, o produtor, argumentou que “dinossauros emplumados em tecnicolor,

não são apavorantes”.

Foi dentro dessa mentalidade que surgiu o megamonstro Indominus rex, a estrela do show. Trata-se de um OGM (organismo geneticamente modificado), uma combinação do Dna de vários dinossauros com material genético de criaturas como sépias e rãs, que lhe proporcionam a capa-cidade de se camuflar. É mais do que um híbrido, explica Michael Habid. “Um híbrido é o produto do cruzamen-to de duas espécies distintas. O que eles fazem no filme é criar um transgênico: o produto da inserção de genes de diferentes animais no embrião de um outro animal”. Mas embora possa ser cogitado na teoria, a criação de um monstro como o Indomitus com base na genética seria praticamente impossível.

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Na entrada do parque aquático, os turistas fazem fila para entrar

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Animais incríveis da época jurássica são recriados pela engenharia genética

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Trazer um animal do reino dos mortos

Como explica Hill, “o Dna tem uma meia-vida, a cada 521 anos, a metade dele decai, tornando as partes restantes inutilizáveis. Esse fato coloca um limite muito concreto quando se trata de trazer um animal de volta do reino dos mortos. Para os dinossauros, é impossível. Embora já te-nhamos trazido de volta animais mais recentes. Por exem-plo, implantamos Dna de uma espécie extinta de antílope ibex nas células de um parente próximo. Sete embriões foram obtidos e um animal completou o processo de gesta-

ção e nasceu. Mas ele viveu apenas alguns minutos. Tinha má-formação dos pulmões. Mas, de qualquer forma, con-seguimos trazer de volta um animal extinto por um curto período de tempo”. O genoma de um mamute lanoso foi inteiramente sequen-ciado. Mas se esse animal poderá ressurgir através de um parente próximo, o elefante, isso ainda é coisa a ser pro-vada. “Isso talvez seja possível com o mamute”, diz Habib. “Mas será que alguém irá enfrentar os custos dessa proe-za? Milhões de dólares seriam gastos para se produzir um animal que provavelmente morreria em 15 minutos”.

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Mundo Jurássico recria ambientes naturais da época dos dinossauros cópia

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Cena de Mundo Jurássico

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Habib também se preocupa com os aspectos éticos da de--extinção. “Ainda sabemos muito pouco sobre como os ge-nes se comunicam para manter o animal vivo. Aquele ibex viveu dez minutos e morreu de forma dolorosa.” Mas esse cientista não vê problema na reativação de traços que fo-ram extintos há muito tempo. “É possível encontrar genes escondidos de traços não-ativos em parentes ainda vivos de animais extintos, e ativá-los novamente. Por exemplo, traços de dentes, garras, caudas longas nos pássaros, e, dessa forma, ter um vislumbre da aparência do seu ances-tral. Fazer surgir dentes ou caudas em galinhas não causa-ria sofrimento ao animal.”

“Essas questões éticas devem realmente ser tema de discussão”, completa Hill. “Mas, como no caso dos voos espaciais, existe um monte de coi-sas que fazemos em nome da exploração, apenas para ver o que acontece. Pense nas coisas que poderemos aprender sobre genética no processo de tentarmos trazer um animal de volta da escu-ridão da noite. Podemos aprender um bocado, mas, claro, teremos de ser cuidadosos”.

Embora os expertos acreditem que os dinossau-ros não ressuscitarão tão cedo, todos parecem concordar que as boas histórias de ficção cien-tífica incendeiam as imaginações e fazem com que as pessoas falem e se interessem por ciência. “Acho que este filme despertará o interesse de milhões de pessoas pela ciência, da mesma for-ma que o primeira filme da série fez”, diz Kyle.

“Graças a Parque Jurássico, surgiu um grande número de novos paleontologistas. Dinossauros são uma droga que conduz à ciência”.

Assista o trailer do filme aqui

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A incrível ilha Nublar do filme Mundo Jurássico

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MÔNACOMuito além da realeza dos Grimaldi

VIA

GEM

SIS

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ebruçado sobre o Medi-terrâneo e possuidor da indescritível beleza da Côte D’Azur, o Principa-do de Mônaco é um país dos sonhos. Acredite! Esse pequenino reino “extraído” de um conto

de fadas não é só sinônimo de luxo e do metro quadrado mais caro (e cobiçado) do mundo.

Tampouco é apenas o cenário da etapa mais

charmosa da Fórmula 1 e um badalado ponto de encontro de jet-setters. Ao contrário. Possui graciosos encantos e recantos, constituindo-se –por isso mesmo – em uma parada obrigatória para quem viaja pelo continente europeu.

Situado aos pés dos Alpes, a poucas horas de voo ou trem das principais cidades da Euro-pa, Mônaco fica na zona mediterrânea onde a França e a Itália se encontram. Com apenas dois quilômetros quadrados de área, é a segun-da menor cidade-estado do mundo, só perden-do em tamanho para o Vaticano.

País pequenino, sim! Tanto que nem tem uma capital. Mas dono de um glamour e carisma inegáveis. Toda essa fama, assim como a suapopularidade turística, se deve ao emblemático casal Rainier Grimaldi e Grace Kelly – já faleD

Esculpido em um rochedo, o país concentra um paraíso de belezas em dois quilômetros quadrados, onde também vivem a família real Grimaldi e as mais polpudas fortunas do planeta

POR: FABÍOLA MUSARRA

As termas de Monaco

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cidos. Foram eles que reinventaram o perfil de Mônaco no século 20, transformando-o no destino mais VIP do mundo.

Sonho e desafios – Para que Mônaco atingisse o atual status, o príncipe Rainier não mediu esforços. Nos idos dos anos 1950, apostou todas suas fichas até transformar seu reino em uma referência ambiental e em inovação cultural, tecno-lógica e bancária.

Rainier faleceu em 2005, mas não antes de ver o seu pla-no ser bem- sucedido e de, em 2004, passar o comando do país ao filho, o príncipe Albert II. Casado com a sul-africana Charlene Wittstock, o príncipe tem como um dos principais desafios de sua gestão manter vivo o sonho paterno e conti-

nuar redesenhando Mônaco.

O Principado é conhecido internacionalmente por ser um paraíso fiscal e pelas astronômicas cifras que circulam em seus cassinos. Albert II vem batalhando para reverter essa imagem e mostrar ao mundo que o país não é mais só o en-dereço certo para a evasão fiscal nem a capital do jogo.

Não é de hoje, porém, que a história e a trajetória do Prin-cipado se fundem e se confundem com as da dinastia Gri-maldi, realeza no poder há mais de 700 anos. Mônaco só se tornou independente da tutela francesa, após

muitas idas e vindas, em 1860. Foi quando o poder passou em definitivo às mãos dos Grimaldi.

Fachada principal do Cassino de Mônaco

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O Cassino de Mônaco em visão noturna

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Poder à parte, todos os anos o reduto preferido de dez entre dez celebridades é visitado por milhões de turistas dos qua-tro cantos do mundo, a quem acolhe em pelo menos três idiomas: francês, inglês e italiano.

O País dos Príncipes, por sua vez, é o lar de quase 38 mil pessoas, das quais me-nos de oito mil possuem a nacionalidade monegasca, um privilegiado passaporte que concede direito a voto, isenção de imposto de renda, acesso preferencial aos cargos de trabalho e ajuda de mora-dia próxima a 70%.

Irretocável beleza – É nesta época do ano, quando o verão abraça o Hemisfério Norte, que Mônaco exibe a sua melhor forma, com seus jardins multicoloridos, casas e prédios sus-pensos sobre sinuosas formações rochosas e vielas medie-vais contracenando com o sol e o incrível turquesa-néon do Mediterrâneo.

Não falta o que fazer em Mônaco, especialmente em dias en-solarados. A começar por conhecer o palácio real, os cassi-nos, a marina onde atracam luxuosos iates, as lojas de grife e renomados restaurantes, como o Le Louis XV.

Há muitas maneiras de conhecer o Principado. Você pode caminhar por suas ruas limpas e bem-cuidadas ou pegar um ônibus turístico, visitando os postais do reino.

Outra possibilidade é embarcar em um Azur Express, na Av. Saint Martin. Este pequeno trem, nas cores da bandeira do país, diariamente, percorre as ruas do porto e de Monte-carlo.

Você também pode admirar Mônaco, seus arredores e a imensidão azul do mar do alto, a bordo de um helicóptero. No heliporto da Av. des Ligures, em Fontvieille, empresas diariamente oferecem a aventura.

Antes, porém, de sair para explorar a cidade, é melhor com-preender sua geografia. Basicamente, o país se espalha por três áreas: Monaco-Ville, a cidade velha situada ao redor do

Panorama aéreo do Principado de Mônaco

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castelo dos Grimaldi, no topo do rochedo; o bairro portuário La Condamine; e Montecarlo, onde ficam os cassinos, pubs, casas noturnas e a maioria dos hotéis de luxo.

Herança dos genoveses – Pronto para circular? Que tal co-meçar a jornada na cidade velha? Lá, no alto do rochedo, está a majestosa Monaco-Ville, a sede do governo. Circun-dada por ruas medievais, a residência dos Grimaldi é um charme a mais de Mônaco.

Instalado em uma antiga fortaleza erguida pelos genoveses em 1215, o palácio real guarda tesouros inestimáveis. Você pode desvendá-los em um tour guiado de 40 minutos.O trajeto inclui a lareira do Renascimento da Sala do Trono,

salões de requintada decoração e o Pátio de Honra, com suas escadas de mármore de Carrara do século 17, além de pinturas e afrescos do século 16.

Se não tiver tempo para explorar o interior do castelo, tente assistir a troca da guarda real na Place du Palais. Com seus impecáveis uniformes brancos de verão, os soldados todos os dias se revezam em um ritual de gestos precisos, executa-do pontualmente às 11h55.

Dê uma esticada até a Catedral de Mônaco (onde Grace Kelly e Rainier casaram-se em 1956) e o Museu Oceanográ-fico. A catedral foi erguida em 1875 no exato local onde fica-va a primeira igreja do país, construída em 1252.

Grande Prêmio Fórmula 1, todos os anos, em Mônaco

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E tem também o Rally de Montecarlo

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De estilo romano-bizantino, o imponente templo católico, também conhecido como Catedral de São Nicolau, é palco dos principais eventos religiosos de Mônaco, assim como de batizados, casamentos e cerimônias reais.

Já o museu foi fundado pelo príncipe Albert I em 1910. Com exóticos recifes de corais e espécies marinhas, foi dirigido pelo oceanógrafo francês Jacques Cousteau.

Essas não são as únicas estrelas de Monaco-Ville. Em uma simples caminhada pelas floridas ruas e vielas medievais você vai descobrir muitas outras delas até perceber que está em Montecarlo.

Grand Casino, a estrela maior – O coração de Mônaco é Montecarlo, com seus jardins impecavelmente desenhados, elegantes residências e edifícios, estacionamento e elevador públicos limpos e organizados e – é claro – os efervescentes cassinos.

O Grand Casino é o mais famoso deles. Obra-prima do ar-quiteto Charles Garnier construída em 1863, abriga ao fun-do a Salle Garnier, uma réplica em miniatura da Ópera de Paris onde são promovidos espetáculos líricos e de balé.

O suntuoso Cassino de Montecarlo, como é mais conheci-do pelos brasileiros, impera soberano na Place Du Casino, constituindo-se em uma tentadora atração tanto para os

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Iatismo em todos os meses do ano ao largo de Montecarlo

O Hotel de Paris ainda é um dos mais chiques de Mônaco

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endinheirados que ali jogam quanto para os reles mortais que apenas o visitam.

Se você deseja conferir de perto o luxo ostensivo de seus ambientes interiores, pode recorrer às visitas guiadas – elas também são permitidas no Le Casino, Café de Paris, Sun Casino e demais cassinos da cidade.

Se, ao contrário, sua intenção é só passear em frente à sofis-ticada casa de jogos, não deixe de sentir a suave fragrância do Les Jardins du Casino, enquanto observa as fontes que “brincam” entre a infinidade de verdes de seus gramados.

Quando se cansar de lapidar as joias existentes nas badala-das ruas de Montecarlo, vá conhecer La Condamine, na par-te baixa da cidade.

Cores e aromas – Todas as manhãs, a região portuária se colore com o perfume das barracas de ervas e os quiosques que “desfilam” à beira-mar, dividindo o cenário com o mar repleto de iates da Baía de Mônaco.

Para saborear as cores e os aromas de La Condamine, a dica é descer a pé de Montecarlo até o porto pela orla. O cami-nho é íngreme, mas permeado por simpáticas flores, gracio-sos jardins e inesquecíveis paisagens.

Não desista de percorrê-lo pensando na via-crúcis que terá de encarar na volta. Lembra-se do elevador em Montecar-lo? Num sincronizado sobe- desce, ele rapidamente pode te conduzir à parte alta da cidade. Assim, na hora de se despe-dir de La Condamine, é só ir até o canto direito da enseada e subir.

É impossível testemunhar o arrebatador turquesa daquele pedacinho de Mediterrâneo sem sentir vontade de mergu-lhar em suas águas. Se esse é seu desejo, saiba que para ser atendido, terá de ir até à Praia de Larvotto, a única pública de Mônaco – todas as outras são particulares.

Na praia, você pode alugar guarda-sol e cadeira, e, num dol-ce far niente, se deleitar ao sabor do sol e paradisíaco mar. Um lembrete: chegue cedo, pois ali o metro quadrado de areia fina é extremamente disputado.

Nos arredores – Os jardins são outros pontos altos de Mô-naco. Em 250 mil metros quadrados preservados de áreas verdes, o Principado abriga vários deles – quem nunca ou-viu falar do La Roseraie Princesse Grace?

Encantamento no Jardim Africano

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O jardim de rosas em formato de coração foi criado em 1984 a mando do príncipe Rainier para homenagear a esposa Grace Kelly. Imperdível, sim, mas não o único.

Além de todos os jardins que se espa-lham rochedo acima e abaixo, fora do-centro da cidade, na fronteira França--Mônaco, outros dois merecem destaque: o Jardin Exotique e o Jardin Japonais.

O primeiro exibe diversas espécies de cactos e plantas suculentas em audacio-sas formações rochosas, além de uma gruta pré-histórica, a Observatoire, com rochas calcárias esculpidas ao longo dos milênios. Já o japonês concentra, em sete mil metros quadrados, canteiros floridos,fontes e riachos inspirados na cultura oriental. Céu, sol, orla, mar, bucólicas paisagens... Luxo e sofisticação. Tudo, enfim,

impressiona, fascina e é mágico neste pequeno reino encan-tado, o país de conto de fada chamado Mônaco.

Palácio Grimaldi, residência da família

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Em Paris, com descontoBrasileiros que visitarem Paris, na França, em agosto po-dem usufruir da promoção de um dos mais modernos hotéis boutiques parisienses: o Le Fabe. Durante todo este mês, quem fizer as reservas diretamente com o empreendimento ganha 5% de desconto no total das diárias (custa a partir de 100 € na baixa temporada).

O Le Fabe disponibiliza para os brasileiros um site em por-tuguês (lefabehotel.fr) e alguns recepcionistas que falam o

idioma e fazem reservas em restaurantes e shows, além de dar dicas sobre as atrações turísticas da cidade.

Com decoração contemporânea, climatização e tevê a cabo, o hotel conta ainda com sauna e business center e wi-fi gratuitos. O café da manhã e o estacionamento são cobrados à parte. Custam por dia, 10 € e 15 €, respectiva-mente.

Le Fabe, hotel de charme em Paris

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Verão em NevadaO verão promete ser quente em Lake Tahoe, no Estado de Nevada (EUA).

É quando a cidade acolhe uma anima-da programação musical, com shows da banda Aerosmith (dia 3 de julho), Ima-gine Dragons (dia 18), Train (dia 21) e Elton John, em 8 de agosto.

Enquanto julho e agosto não chegam, o Summer Concert Series agita as sextas--feiras e os sábados com concertos ao vivo e gratuitos.

A agenda musical traz ainda atrações como o Basejam Summer 2015 Outdoor Concert Series e o Lake Tahoe Bluegrass Festival. O primeiro acontece no dia 27 de junho. É promovido pelo Hard Rock Hotel & Casino Lake Tahoe e vai brindar o público com o alegre som do reggae.

Já o segundo, a ser realizado a partir do dia 11 de julho, con-ta com a participação de estrelas como Earls of Leicester.

O verão no Hemisfério Norte só termina em setembro. Até lá, Nevada é palco de eletrizantes shows com Kenny Ches-ney, Dierks Bentley, Dave Matthews Band e outros astros.

As cores incríveis da Baía esmeralda, no Lago Tahoe, no Nevada

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Tours pelo Universal StudiosPara comemorar os seus 50 anos, o Universal Studios Hollywood, em Los Angeles (EUA), anuncia duas novida-des: um tour noturno pelos estúdios de cinema e outro pela nova área de Velozes e Furiosos, a ser reaberta aos visitantes no próximo dia 25.

Palco onde foi gravado o último filme da franquia, a área de-dicada a Velozes e Furiosos está equipada com efeitos 3D e outras engenhocas tecnológicas que simulam uma persegui-ção em alta velocidade em 360 graus, colocando o visitante dentro de um carro a 200 km/h.

Também o tour noturno será estreado este mês e possibilitará que o visitante confira como um filme é gravado à noite.

Cenário de Velozes e Furiosos no Universal Studios, em Los Angels

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Esqui na cidade mais austral do mundoO frio começa a dar as caras no Hemis-fério Sul, onde a neve já tinge de branco várias cidades. No extremo da Patagônia Argentina, Ushuaia é uma delas. Com boa infraestrutura hoteleira, a cidade mais austral do mundo tem muita coi-sa legal para fazer, como se hospedar e praticar atividades de inverno em um de seus centros de esqui. Distante 26 km de Ushuaia, o Cerro Castor possui 29 pistas de diferentes níveis de dificuldade em 650 hectares esquiáveis, além de caba-nas, restaurantes e loja, entre outras co-modidades.

Ushuaia, porém, não se resume apenas a atividades de inverno. Oferece opções de lazer para todos os gostos, desde mergulhos em águas geladas, caminhadas noturnas e passeios de 4x4 até visitas a museus como o da Cidade, Yamana e do Fim do Mundo. Imperdível também é o Trem da Morte, que percorre tre-chos do Parque Nacional Terra do Fogo e dá direito a conhe-cer a história da ferrovia e saber como ali viviam os prisio-neiros. Durante a viagem, o olhar é brindado pelo vaivém de memoráveis paisagens.

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Ushuaia, no extremo sul da Argentina

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Alberguistas ganham carteira virtualBoa notícia para os alberguistas de plantão: a HI Hostel Brasil acaba de lançar a carteirinha virtual, um jeito fácil de fazer parte da maior rede de hostel do mundo.

Para obtê-la, basta entrar no site www.hihostelbrasil.com.br, se associar e pagar a taxa de R$ 30. A carteirinha será enviada ao seu e-mail e somente terá de ser impressa quan-do você se hospedar em um hostel da rede no Exterior, ou

para usufruir de descontos em pas-seios, viagens de trem e entradas em museus e parques, entre outros.

Hi Hostel Brasil do Arraial da Ajuda, no sul da Bahia

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Arraial em SampaA cosmopolita cidade de São Paulo (SP) se transforma em uma grande festa do interior nesta época do ano. Aqui, ali e em quase to-dos os seus bairros pipocam festas juninas. Uma das mais tradicionais é a da Portuguesa (Estádio do Canindé, Av. Pres. Castelo Bran-co, 1.708, Pari), um arraial que só acaba no dia 12 de julho. Até lá, os fins de semana do clube são animados por quentão, comidas típicas e shows de artistas e duplas como Pixote, Victor e Marrone e Sorriso Maroto. Entradas: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia).

Arraial junino do Clube Pinheiros, em São Paulo

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Viagem a um universo mágicoSe você visitar a capital paulista, não deixe de dar uma pas-sada no Instituto Italiano de Cultura São Paulo. Até o dia de 17 de julho, ali acontece a exposição “A Magia Pirográfica de Adriano Colangelo”. Com curadoria do fotógrafo Lamberto Scipioni e apresentação do jornalista Luis pellegrini, a mos-tra reúne belíssimas pirografias de inspiração renascentis-ta do artista plástico italiano em papel, cartão e painéis de madeira. Está imperdível. Anote: Av. Higienópolis, 436. De

Convite para a mostra de Adriano Colangelo no Instituto Italiano de Cultura São Paulo

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segunda a quinta, das 10 h às 13 h e das 15 h às 17 horas.

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De Floripa a BrasíliaDesde o início deste mês, a GOL está ope-rando seis voos semanais entre Florianópo-lis (SC) e Brasília (DF). As passagens já po-dem ser adquiridas pelos canais de vendas e lojas da companhia (www.voegol.com.br).

GOL, direto das praias de Floripa para Brasília

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Azul vai operar em DivinópolisA partir do dia 6 de julho, a Azul Linhas Aéreas vai operar na cidade de Divinópolis (MG), oferecendo voos diretos cin-co vezes por semana, saindo de Campinas (SP), para todas as regiões brasileiras.

(*) Correspondência para esta seção: https://fabiolamusarra.wordpress.com/

Panorama aéreo de Divinópolis,jovem metrópole mineira

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O MISTÉRIO DE UMA ANATOMIAReflexões de um poeta transexual

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ee Mokobe é um “slam poet”, um poeta de favela que explora a injustiça social e as questões de identidade de gênero. Mo-rador de Cape Town, África do

Sul, ele é vencedor de vários prêmios desse gênero de poesia e fundador da Vocal Revo-lutionaries, uma organização literária focada na juventude africana (@blackboishine). Em

L

Reflexão minuciosa sobre corpos, e os significados atribuídos a eles. Nascido menina, o jovem poeta sul-africano Lee Mokobe cria comovente momento no TED ao explorar de forma cativante e poética as questões da identidade e da transição

VÍDEO: TED – IDEAS WORTH SPREADINGTRADUÇÃO: NADJA NATHANREVISÃO: MARICENE CRUS

Bill Gates fala no TED

2013, com sua equipe, Mokobe chegou à fase final do Brave New Voices, concurso global de poesia, em Chicago. Primeira equipe africana a participar do evento, ela ganhou o segundo lugar entre 55 outros concorrentes vindos de todo o mundo.

Lee Mokobe

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Tradução integral do poema de Lee Mokobe apresentado no TED

A primeira vez que fiz uma prece foi numa catedral com vitrais.Continuei me ajoelhando após a congregação ter-se levantado,mergulhei minhas mãos na água benta, fiz o sinal da cruz no meu peito, meu pequeno corpo curvado como um ponto de interrogaçãocobrindo o banco de madeira.Pedi a Jesus que me endireitasse, e quando ele não respondeuamiguei-me com o silêncio, à espera que meu pecado queimariae minha boca apaziguaria e dissolveria como açúcar na língua,mas a vergonha ficou como um gosto intenso na boca.E, na tentativa de me reintroduzir à santidade, minha mãe me fa-lou que eu era um milagre, disse que eu podia ser o que eu quisesse quando crescesse.Eu decidi ser um garoto.

Era fofo.Eu tinha boné, sorriso desdentado,usava os joelhos esfolados como barganha na rua,brincava de esconder com o que restava do meu sonho.Eu era isto.O campeão do jogo que as outras crianças não podiam jogar.O mistério de uma anatomia, uma pergunta sem resposta,na corda bamba entre um menino desajeitado e uma menina arrependida, e quando fiz 12 anos, a fase de menino deixou de ser fofa.Minhas tias sentiam nostalgia dos meus joelhos quando eu usava saias, o que me fazia lembrar que minha atitude nunca traria um marido para casa, que eu existo para casamento heterossexual e ter filhos.Engoli seus insultos e calúnias.Naturalmente, não sai do armário.Meus amigos no colégio o abriram sem minha permissão.Me chamavam de um nome que eu não reconhecia, diziam lésbica, mas eu era mais menino que menina, mais Ken do que Barbie.Não tinha nada a ver com eu odiando meu corpo, eu simples-mente o amava tanto que o libertei.Eu o trato como uma casa, e quando sua casa desmorona,você não a abandona, você a faz confortável o suficiente para acomodar suas entranhas, a faz atraente o suficiente para receber hóspedes, você faz com que o piso do chão seja bem firme para ficar de pé.Minha mãe teme que escolhi um nome de coisas desbotadas.Enquanto ela conta os ecos deixados por Mya Hall, Leelah Alcorn, Blake Brockington.Ela receia que morrerei sem um sussurro,que me tornarei um “Ah, que pena!” nas conversas do ponto de ônibus.

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Lee Mokobe no TED

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Tradução integral do poema de Lee Mokobe apresentado no TED

Ela alega que me tornei um mausoléu, que sou um caixão ambulan-te.As manchetes de jornais fizeram da minha identidade um espe-táculo; todo mundo fala sobre Bruce Jenner enquanto que a vida brutal em seu corpo torna-se um asterisco no final da páginas de igualdade.Ninguém pensa sobre nós como humanos porque somos mais apa-rições do que carne, porque as pessoas temem que a expressão do meu sexo é um truque, que existe para ser perverso.que isto os prende sem seu consentimento, que meu corpo é um banquete para seus olhos e mãos, e, uma vez que se alimentem da minha estranheza, eles regurgitam todas as partes que não gosta-ram.Colocam-me de volta no armário e me penduram com os outros esqueletos.Vou ser a melhor atração.Estão vendo como é fácil empurrar as pessoas aos caixões, escrever errado seus nomes nos túmulos?E as pessoas ainda se perguntam por que há garotos se decompon-do.Eles se vão, nos corredores dos colégios temem que vão se tornar um outro ‘hashtag’ em segundos, com medo que discussões na sala de aula virem um tipo de julgamento final e, agora, o tráfego em sentido oposto abraça crianças transexuais mais que seus pais.Eu me pergunto quanto tempo levará para que as cartas de suicídio dos transexuais tornem-se desnecessárias, antes que se perceba que nossos corpos se tornam lições sobre o pecado muito antes de aprendermos a amá-los.Como Deus não salvou toda esta respiração e misericórdia, como meu sangue não é o vinho que lavou os pés de Jesus.Minhas preces estão agora presas na minha garganta.Talvez eu finalmente esteja endireitado, talvez eu não ligue mais, talvez Deus finalmente ouviu minhas preces. Obrigado.

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Membros do grupo Vocal Revolutionaries