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#208 EDIÇÃO OÁSIS GERAÇÃO CANGURU O NINHO ESTÁ CHEIO... MAS ELES NÃO QUEREM SAIR A EUROPA DIVIDIDA O verdadeiro objetivo do terrorismo O FRANGO NOSSO DE CADA DIA Horror e glória da pecuária intensiva A REVOLUÇÃO DO ALTRUÍSMO Quando a visão do outro determina os rumos da nossa vida

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Page 1: OÁSIS - brasil247.com · O fenômeno já é preocupante nos países desenvolvidos da Europa, e vem aumentando gradativamente no Brasil, notadamente na região sudeste, sobretudo

#208

EDIÇÃO OÁSIS

GERAÇÃO CANGURU

O NINHO ESTÁ CHEIO... MAS ELES NÃO QUEREM SAIR

A EUROPA DIVIDIDAO verdadeiro objetivo do terrorismo

O FRANGO NOSSO DE CADA DIAHorror e glória da pecuária intensiva

A REVOLUÇÃO DO ALTRUÍSMOQuando a visão do outro determina os rumos da nossa vida

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2/34OÁSIS . EDITORIAL

POR

EDITOR

PELLEGRINILUIS

O lamento é demasiado frequente, por parte de amigos que têm filhos que, aos 25, 30, 35 anos há muito superaram a idade de bater as asas, sair do ninho familiar e ganhar o mundo, mas que,

em vez disso, preferem permanecer em casa, vivendo uma existência de eternos adolescentes.

O fenômeno já é preocupante nos países desenvolvidos da Europa, e vem aumentando gradativamente no Brasil, notadamente na região sudeste, sobretudo nas famílias de alta renda. Há um ano foi publicado pelo IBGE um estudo apontando essa tendência de comportamento na qual jovens na faixa etária entre 25 a 35 anos, podendo chegar até os 40, relutam em sair da casa de seus pais. Uma combinação de vários fatores marca esse fenômeno. Em 2000, 20% dos jovens viviam com seus pais; em 2012 esse percentual subiu para 24%, sendo que 60% dele é consti-tuído por homens.

A PSICOTERAPEUTA PAULISTA TEREZA KAWALL EXAMINA O FENÔMENO DESSA ASSIM CHAMADA ‘GERAÇÃO CANGURU’: AQUELA FORMADA POR JOVENS QUE, APESAR DE MADUROS,

FORMADOS E PRONTOS PARA SE LANÇAR NO MUNDO, PREFEREM PERMANECER NA CASA PATERNA

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OÁSIS . EDITORIAL

POR

EDITOR

PELLEGRINILUIS

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Em nossa matéria de capa, a psicoterapeuta paulista Tereza Kawall exami-na o fenômeno dessa assim chamada “geração canguru”: aquela formada por jovens que, apesar de maduros, formados e prontos para se lançar no mundo, permanecem na casa paterna adiando sine die a sua declaração de independência. Confira.

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GERAÇÃO CANGURUO ninho está cheio... mas eles não querem sair

OÁSIS . COMPORTAMENTO

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OÁSIS . COMPORTAMENTO

fenômeno já é preocupante nos países desenvolvidos da Europa, e vem aumentando gradativamente no Brasil, notadamente na região sudeste, sobretudo nas famílias de alta renda. Há um ano foi publi-cado pelo IBGE um estudo apon-

tando essa tendência de comportamento na qual jovens na faixa etária entre 25 a 35 anos, podendo chegar até os 40, relutam em sair da casa de seus pais. Uma combinação de vários

O

A psicoterapeuta paulista Tereza Kawall examina o fenômeno da assim chamada “geração canguru”: aquela formada por jovens que, apesar de maduros, formados e prontos para se lançar no mundo, preferem permanecer na casa paterna adiando sine die a sua declaração de independência

POR: TEREZA KAWALL. BLOG: WWW.BLISSNOW.COM.BR E-MAIL: [email protected]

fatores marca esse fenômeno. Em 2000, 20% dos jovens viviam com seus pais; em 2012 esse percentual subiu para 24%, sendo que 60% dele é constituído por homens.

A respeito, diz Wasmalia Bivar, presidente do IBGE: “A geração canguru é um fenôme-no mundial, não necessariamente por falta de condições dos filhos saírem de casa, mas por livre escolha tanto deles quanto dos pais. Preferem fazer graduação, mestrado ou dou-torado permanecendo na casa paterna, retar-dam a formação de uma nova família e tam-bém buscam mais comodidade”.

A geração canguru

Sair da casa dos pais, conquistar seu próprio espaço e autonomia, abrir as asas e alçar voo rumo à liberdade e a auto-realização – tudo aquilo que seria o movimento natural de uma pessoa jovem -, vem perdendo força e sendo postergado ad infinitum pelos inte-grantes da “geração canguru”. Eles são jo-vens na faixa etária entre 25 a 35 anos que relutam em sair da casa de seus pais, confi-gurando uma situação de eternos adolescen-tes que parecem não ter interesse em chegar à vida adulta.

Parte desses jovens que recusam se lançar no mundo de forma mais independente estão desempregados e sem perspectivas favorá

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veis de encontrar trabalho. Mas muitos já estão forma-dos, diplomados e com profissão definida. Alguns já têm seu próprio negócio e desfrutam, potencialmente, de in-dependência financeira. Outros, ainda, estão empregados e recebendo os seus salários. Mas todos esperam o “mo-mento oportuno” ou “a pessoa certa” para se casar e ter, finalmente, sua própria casa.

As combinações desse xadrez sociológico são inúmeras, mas existe, em todos os casos, um fator comum: a resis-tência em perder a proteção e a segurança do “lar doce lar” que mamãe e papai oferecem. Embalados por facili-

dades, conforto, proteção financeira e/ou emocional, essa geração parece não estar disposta a enfrentar e assumir os riscos e responsabilidades da vida adulta.

Como sabemos todos, na vida real não existem “scripts” perfeitos, roteiros planos e lineares, irretocáveis, sem desvios. Cada indivíduo fará a sua rota de forma parti-cular, de acordo com a sua natureza, seus recursos internos e externos, com suas mo-tivações pessoais ou a falta delas. É inegá-vel, no entanto, que existem fases e ciclos que são mais adequados ou indicados para certas atividades ou funções a serem exer-cidas. Tais fases podem ser ligadas à pro-criação, podem ser intelectuais, sentimen-tais, criativas, profissionais, espirituais. Não por acaso nossa existência é marcada por ciclos. Queiramos ou não, tudo o que nasce, cresce e se desenvolve, depois decai

e chega ao seu fim. O que essa síndrome da geração can-guru está sinalizando em nosso caótico aqui e agora? Desenvolvimento e emancipação

Desde que nasce, o bebê busca o seio da mãe. Nele pulsa, ainda intacto, o instinto de sobrevivência. Em seus pri-meiros anos de vida a criança tem pela frente uma tarefa crucial rumo à sua independência. Esse processo será normalmente gerenciado, com maior ou menor sucesso, pela mãe, pelo pai, ou pela família como um todo. Nesse caminho evolutivo a criança aprenderá a se movimentar,

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a utilizar os cinco sentidos, sentar, falar, andar, pensar, sentir, abando-nar a amada chupeta, assim como as fraldas.

D. Winnicott, psicanalista e pedia-tra britânico que se destacou por analisar profundamente a relação entre as mães e seus bebês, estabe-leceu algumas premissas básicas a respeito do primeiro ano de vida das crianças. Para fazê-lo, ele se baseou nas suas próprias observações a res-peito dos fatores que determinam a saúde mental e física.

A pedra angular de sua teoria afirma que o desenvolvimento da conquista da autonomia é central nessa fase, pois o bebê deve sair gradualmen-te da fase de dependência absoluta para a fase de dependência relativa. O pediatra ressalta que eles nascem com um potencial de força vital e que esta é a base da criatividade que irá acompanhá-lo ou não no transcorrer da vida. Winnicott cunhou a conheci-da expressão da “mãe suficientemente boa” para definir aquela mãe que consegue suprir, de forma adequada, as necessidades básicas de seu filho.

Para todos nós, para cada etapa vencida uma nova fase se prenuncia em nosso horizonte vivencial. Assim acontece a caminhada de cada ser, o reconhecimento e a interação com os pais, irmãos, vizinhos, com a escola, os amigos,

os dramas da adolescência, a magia do primeiro amor.... quem não se lembra?

Estas experiências de um lado são individuais, dada a na-tureza idiossincrática e particular de cada um. Ao mesmo tempo elas são universais, pois pertencem a toda espécie humana. São, portanto, arquetípicas. Rituais de passagem

Desde tempos remotos, as mitologias de praticamente to-das as culturas nos falam dos heróis e suas jornadas exu

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berantes de confronto e superação rumo ao encontro de si mesmos. Elas sempre nos fazem lembrar os dragões, feiticeiras e florestas que estão em nosso caminho, sim-bolizando nossos sofrimentos, alegrias, crises, perdas e ganhos no contínuo subir e descer, morrer e renascer da existência. Este belo e contraditório processo só termina no final da vida, final temido e evitado pela maioria de todos nós.

Ao longo da vida vamos encontrar fases de transição de um estágio para outro, situações que são chamadas de rituais de passagem. De forma bastante simplificada, di-

zemos que o nascimento em si já faz parte desse processo. Ao ser retirado do ventre da mãe, o bebê perde o conforto, o silên-cio e a proteção materna; sentirá a dor física, o calor, o frio e a fome que antes para ele não existiam.

Pois bem: deixar a casa dos pais também é um ritual de passagem. É a separação da origem, da matriz psíquica, daquilo que é familiar e conhecido. Este é, normalmen-te, um período fundamental para a avalia-ção das próprias ideias e valores, as ne-cessidades e os potenciais ainda latentes. Essa experiência, como muitas outras, poderá tanto ser dolorosa quanto grati-ficante, mas sem dúvida a dor da partida torna-se maior quando os pais não enco-rajam essa transição.

Para os pais contemporâneos – produ-zidos por uma civilização que privilegia a juventude em detrimento da velhice – trata-se também de uma fase importante da vida já em seu período maduro: um mo-mento de reavaliação de suas próprias histórias, de seus êxitos e frustrações. Hora de contabilizar os sucessos e as derrotas, tanto os reais quanto os aparentes.

Quando ocorre uma postergação da saída dos filhos, pode ocorrer o risco de que as duas gerações se fixem numa espécie de adolescência eterna, e isso não é de modo algum psicologicamente recomendável. Para os pais, esse momento é conhecido como a “síndrome do ninho vazio.”

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Psicanalistas e psicoterapeutas hoje citam muito o conceito de “mãe des-necessária”: figura conceitual mais atualizada que deverá substituir o conceito de “mãe protetora”.

“Ser desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conse-guirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para tra-çar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e inclusive cometer os seus próprios erros. A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornem adul-tos, constituam a própria família e recomecem o ciclo. O que eles precisam é ter certeza que nós, pais, estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, para o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis... Fatores de proteção e dependência Há muitos fatores que contribuem para que o “ninho”

permaneça sempre cheio. É preciso lançar um olhar que inclua as dimensões sociais, econômicas e psicológicas deste fenômeno. Do ponto de vista cultural, famílias de diferentes países do mundo têm sua forma especifica de interação, e essa influencia é sempre marcante no desti-no de seus filhos.

Sem dúvida, do ponto de vista do jovem as facilidades fi-nanceiras são um bom motivo para essa situação. Ao per-manecer sob a guarda dos pais eles se beneficiam de um maior poder de consumo, pois sobrará mais dinheiro em suas mãos para gastar com baladas, viagens, carros, celu

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lares, etc. A tentação do consumo fácil e a proteção fa-miliar são praticamente imbatíveis. Por outro lado, essa geração parece encontrar um mercado de trabalho mais volátil e competitivo, onde a rotatividade é vista com bons olhos. No entanto, hoje é preciso ter ainda mais, autonomia e criatividade para avançar na carreira.

Estaria a atual geração de jovens mais fragilizada ou sem condições de enfrentamento face aos desafios da vida moderna? Ou são as circunstâncias familiares que se en-carregam de embotar nos jovens a força e a ousadia, atri-butos típicos dessa fase da vida?

O mundo virtual exerce um enorme fascínio sobre a pes-soa jovem. Ele facilita a interação social, a mobilidade, a rapidez, o prazer da informação instantânea. Essa ace-leração do ritmo externo das coisas pode, no entanto, ter sérias consequências no mundo interno, subjetivo. O imediatismo e a incapacidade de lidar com a frustração aumentam, na mesma proporção, a ansiedade e várias compulsões. Há uma crise existencial evidente nesta geração. Em todo o planeta os interesses econômicos se sobrepõem aos interesses ambientais e, portanto, à sobrevivência da espécie humana. Existe um vazio de lideranças, uma crise sem precedentes de credibilidade no mundo político. Acreditar em quem? Votar para quê? Muito mais fácil focar só no presente e no prazer imedia-to que a alienação e os cinco sentidos podem proporcio-nar.

Quanto aos pais, quais os motivos para se manterem nes-sa situação? Alguns se valem de suas próprias histórias e afirmam: “Eu tive que dar a cara para bater muito cedo, e não quero que meu filho passe por isso”. Ou então “a vida

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hoje está muito mais difícil; é melhor que ele se prepare mais, etc, etc”.

Mas manter os filhos em casa, na condição de eternos adolescentes, não será também uma forma de garan-tir para os pais a sensação de posse de uma juventude e beleza eternas que, na verdade, e de modo inexorável, o tempo já lhes está roubando?

Na nossa cultura narcisista, os limites impostos pelo tempo não são bem-vindos; daí essa preocupação com a

aparência, daí essa vaidade excessiva que não aceita rugas, doenças, que gera de-pressão e consumo excessivo de drogas e álcool como formas de compensar o vazio da alma.

Na relação que existe hoje entre muitos pais e filhos podemos observar uma alian-ça bilateral possivelmente perversa. À primeira vista essa aliança parece ser feita de puro amor. Mas a verdade é que quan-do ela assume proporções excessivas pode causar desmotivação, postergação e/ou paralização de decisões fundamentais ine-rentes à trajetória existencial das pessoas. Trata-se de uma proteção que desprote-ge, de um freio invisível que não prepara psicologicamente o indivíduo para o en-frentamento e a superação dos conflitos, das privações e das perdas inevitáveis da vida. Trata-se, não mais de um “conflito

de gerações”, mas sim, muito mais, de um conflito “com” as gerações.

(*) Tereza Kawall é psicoterapeuta em São Paulo

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A EUROPA DIVIDIDAO verdadeiro objetivo do terrorismo

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á dias que marcam um antes e um depois. No momento em que dois terroristas irrompiam nas instalações do Charlie He-bdo, em Paris, e matavam 12 pessoas, discutia-se nesta reda-ção o novo romance de Houel-

lebecq, que imagina a França de 2022 sob um regime islamita. Debatia-se o significado do movimento Pegida (Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente) que se encontra em curva ascendente na Alemanha, as várias percepções existentes a respeito do Islão e do islamismo na Europa e a possibilidade de uma

HA finalidade real dos recentes atos terroristas na França, Bélgica, Alemanha e outros países europeus é dividir os europeus: de um lado os muçulmanos, do outro lado todos os demais

POR: CHRISTIAN BANGEL. JORNAL DIE ZEIT (HAMBURGO)

forte radicalização dos cidadãos de muitos países europeus, nos próximos dez anos.Então, chegou a notícia. E começou o depois. Na redação do Charlie Hebdo o ambiente não devia ser muito diferente da atmosfe-ra que se respirava na nossa. O ronronar das impressoras, o resmungar dos redato-res, uma gargalhada aqui, um berro acolá. O quotidiano de homens e mulheres para quem relatar o que se passa no mundo é a sua profissão. No Charlie Hebdo faziam-no através da sátira. Sabemos que podemos ser insultados por causa do nosso trabalho, pro-cessados e até mesmo ameaçados de morte. Contudo, fazemo-lo porque é importante e porque amamos o nosso trabalho, em espe-cial quando suscita reação.

A nossa mais bela conquista

O que aconteceu em Paris, porém, não foi uma manifestação de oposição. Foi a expres-são de uma visão do mundo desprovida de qualquer argumentação e de qualquer ideia, de qualquer sentido de humor ou de qual-quer debate. Essa visão do mundo só conhe-ce a sua verdade e ameaça todos os que não a partilham. O que aconteceu em Paris foi a negação da nossa mais bela conquista: a li-berdade de expressão.

Será preciso insistir neste ponto? Sim!Os terroristas não tinham por alvo apenas

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aqueles cujo trabalho depende do direito a exprimir-se livremente, mas todos os que, na Europa, dispõem dessa liberdade e a amam, incluindo, como é óbvio, muitos mu-çulmanos. O policial Ahmed Merabet, que os terroristas mataram a sangue-frio, era muçulmano.Será preciso insistir neste ponto? Sim!

Muitos europeus consideram o Islã uma religião violenta e incompatível com a democracia. Na França, há muito tempo que Marine Le Pen, militante da extrema direita, se projeta como candidata presidencial. Na Alemanha, há já algum tempo que se registra, na rua, uma hostilidade

inédita contra o Islã. Tudo isso quando milhões de mu-çulmanos vivem na Europa, trabalham na Europa e vo-tam na Europa, há várias gerações. Esses homens e mu-lheres são cidadãos como nós!

A acreditar nas sondagens, uma maioria de alemães já considerava o Islã uma ameaça antes dos atentados. Pou-co depois da notícia dos ataques, o vice-presidente do partido AfD (Alternativa para a Alemanha), Alexander Gauland, felicitava o movimento Pegida pela justeza dos seus avisos acerca do terrorismo islamita.

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‘Europa, acorde!’, dizem os cartazes dos movimentos anti-islâmicos de extrema direita que agora pipocam no Velho Continente

‘Degolem aqueles que insultam o Islã’, `Estripem os que denigrem o Islã’, ‘Europa, você há de pagar. O extermínio já começou’, são alguns dos dizeres dos cartazes de manifestantes muçulmanos em Londres

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Depois de um ataque desses contra a liberdade de ex-pressão, é decerto coerente que surjam manifestações de grupos interessados em incitar o ódio contra os meios de comunicação considerados “mentirosos”. Embora isso possa não funcionar: ninguém sabe quantas pessoaspoderá o Pegida congregar, no futuro.

Por outro lado, temem-se novos atentados na Europa. Há muito tempo as autoridades se preocupam com o regres-so de cidadãos europeus arregimentados pelo Isis (Esta-do Islâmico). O pior seria que a partir de agora reinasse a desconfiança no seio de uma ampla maioria de pessoas,muçulmanas e não muçulmanas, que não são islamitas nem partidárias do Pegida.

Algo assim já aconteceu. Há dez anos, os atentados de Madri e de Londres e o assassinato do realizador holan-dês Theo van Gogh instilaram o medo na Europa. Em muitos países, os partidos de extrema-direita ganharam adeptos, o que levou não à pacificação mas sim à exacer-bação das tensões.

Islã na Europa não vai desaparecer

A Comunidade Europeia está se desagregando por causa do efeito de um círculo vicioso feito de desconfiança recí

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‘Muçulmanos não são bem vindos’, diz o cartaz de manifestantes ingleses

‘Sharia (lei islâmica) para a Holanda’, diz o cartaz de manifestantes em Amsterdam

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proca. Essa desconfiança é fonte de mais violência e não apenas por parte dos islamitas. Na Alemanha, até agora, os terroristas ameaçavam sobretudo muçulmanos. Os as-sassinatos em série cometidos por militantes neonazistas do NSU (Clandestinidade Nacional Socialista, um peque-no grupo acusado de ter matado oito turcos, um grego e uma mulher policial, entre 2000 e 2007) datam de há apenas alguns anos.

O Islã está presente na Europa e não vai desaparecer, apesar do que alguns gostariam. Não deve despertar medo nem rejeição e tanto os muçulmanos como os não muçulmanos devem velar para que assim seja. Devem ser feitas todas as perguntas, devem ser manifestados todos

os receios. É para isso que existe a liberdade de expres-são.

Também devemos aprender a distinguir entre o Islã e o islamismo extremista, da mesma forma que entre os con-servadores e os neonazistas.

O inimigo não é o Islã, é o terrorismo. Os assassinos de Paris queriam acima de tudo dividir a Comunidade Eu-ropeia entre muçulmanos e não muçulmanos: seremos fortes o bastante para evitar tal divisão?

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73% dos franceses tem uma visão negativa na presença islâmica na Europa. Na foto, oração coletiva de muçulmanos numa rua de Paris

Em Bruxelas, grupo de manifestantes europeus usando camiseta com os dizeres 'Stop à islamização da Europa'

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A BLASFÊMIA É NECESSÁRIA! POR QUE?O direito de criticar, e inclusive de ofender, é indisso-ciável da democracia. Deve ser defendido, em especial quando é ameaçado pela violência

Por: Ross Douthat. Jornal: The New York Times

Transcorrido mais de um mês após o massacre nas ins-talações do jornal satírico francês Charlie Hebdo, que-ro propor três esboços de princípios sobre a blasfêmia, numa sociedade livre.

1. O direito de blasfemar (ou ofender de outras formas) é fundamental para a ordem democrática.

2. Blasfemar não sendo um dever, a liberdade de uma sociedade não é proporcional à quantidade de blasfêmias em circulação. Há situações em que é razoável criticar a escolha da ofensa (religiosa ou outra), denunciando--a como inutilmente provocatória, desnecessariamente cruel ou meramente estúpida.

3. Em geral, a legitimidade e a sensatez de criticar um

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Em Nova Iorque, no Ground Zero, local do atentado às Torres Gêmeas, manifestantes protestam contra o Islã

Em Paris, manifestações contra o atentado ao jornal Charlie Hebdo

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discurso ofensivo é inversamente proporcional ao perigo mortal em que o blasfemo incorre.

O primeiro ponto subentende que as leis contra a blasfê-mia (nos tempos que correm quase sempre designadas por “restrições ao incitamento ao ódio”) são intrinseca-mente antidemocráticas. O segundo ponto significa que uma certa contenção, de ordem cultural, no que se refere a expressão da blasfêmia é compatível com as regras da democracia, e que não há nada de antidemocrático em pôr em causa a sensatez ou a decência de cartoons e ar-tigos que, de forma intolerante ou grosseira, ataquem o que uma parte da população considere sagrado.

É certo que tal questionamento pode resvalar para a hostilidade contra a democracia, consoante o grau da pressão exercida e o ponto a partir do qual a definição de “ofensa” se torna elástica. Mas as nossas liberdades fun-damentais não ficam obrigatoriamente em perigo quan-do, por exemplo, a Liga Anti-Difamação norte-americana critica Mel Gibson pelo retrato do sinédrio em A Paixão de Cristo, ou quando a Liga Católica condena manifes-tações artísticas como Piss Christ (de Andres Serrano, 1987).

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Em Raqa, no Iraque, parada de militantes do Estado Islâmico

Especialistas temem uma reedição das cruzadas cristãs medievais contra os muçulmanos

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Tal como também não são postas em risco pela ausência de caricaturas grotescas de Moisés ou da Virgem Maria nas páginas do Washington Post ou do New York Times. A liberdade implica, sem dúvida, o direito de ofender, mas permite igualmente que as pessoas, as instituições e as comunidades exijam e pratiquem a contenção.

Não lhes mostremos medo

Se um grupo bastante grande de indivíduos está pronto a matar quem tenha dito uma determinada coisa, então é quase certo que essa coisa devia ser dita. Não o dizer equivaleria a dar aos apóstolos da violência direito de veto sobre a civilização democrática, logo, essa civilização

deixaria de o ser.

A liberdade não depende de todos estarem sistematica-mente ofendendo os outros, sendo preferível uma socie-dade na qual a ofensa pela ofensa seja limitada e não ge-neralizada.

Contudo, estamos numa situação em que se aplica o meu terceiro princípio. Todos sabiam que o tipo de blasfêmia cometido pelo Charlie Hebdo envolvia o risco de ter con-sequências mortais... e esse tipo de blasfêmia é precisa

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Jihadista do Estado Islâmico

Jihadistas exaltados do Estado Islâmico desfilam em parada no Iraque

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mente aquela que é preciso defender, por servir um bem maior. É preciso ser mais insolente, e não menos, por-que não se pode permitir que os assassinos pensem que a sua estratégia dá bons resultados. Muitos dos que, no Ocidente, criticaram os editores do Charlie viram o pro-blema ao contrário. Da Casa Branca de Obama à revista Time, no passado, ou do Financial Times à Liga Católica norte-americana, hoje, todos acusaram o semanário de ter sido desnecessariamente ofensivo e “inflamatório”, quando é precisamente a violência que justifica o conteú-do inflamatório.

Se os cartoons só dessem origem a indignados comuni-cados de imprensa e comentários furibundos em blogs,

poderia-se perceber o sentido das palavras de Tony Bar-ber (chefe de redação para a Europa do Financial Times). Ele escreveu que publicações como o Charlie Hebdo “fin-gem bater-se pela liberdade provocando os muçulmanos, mas, na verdade, estão apenas sendo estúpidas”.

Quando o fato de publicar envolve o risco de se ser mas-sacrado, quem publica está, de fato, lutando pela liberda-de. É preciso, portanto, que os nossos concidadãos po-nham de lado a suscetibilidade e se mobilizem em nossa defesa.

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Manifestações anti-islamistas na Alemanha

Membros do grupo Femen protestam contra o Islã

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Com demasiada frequência, é o contrário que se passa: as pessoas estão dispostas a invocar a liberdade de expres-são para justificar quase todo o tipo de ofensas, mas fo-gem ao menor sinal de perigo: uma prova de que, afinal, ir até ao fim pode requerer coragem.

Deveremos, independentemente do contexto, aclamar todas as ofensas deliberadas? Não! Mas diante dos fuzis, a liberdade exige que as defendamos.

39 é o número de países onde a blasfêmia conti-nua a ser passível de ser levada a tribunal - se-gundo um relatório da organização Repórte-

res Sem Fronteiras, publicado em dezembro de 2013. Em 86 Estados, a “difamação das religi-ões” é abrangida pelo direito penal. Só os paísesislâmicos mais duros preveem penas - por vezes de morte - por “apostasia”.

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Muçulmanos se manifestam na Suiça

No Texas, EUA, o cartaz diz que o Islã radical é uma nova forma de nazismo

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AMALDIÇOADOS SEJAMOs canalhas que se dizem discípulos de AláNeste contundente artigo, o jornalista tunisino Slahe-ddine Schicha (que é muçulmano) deixa bem clara qual é a posição da imensa maioria dos muçulmanos a res-peito do terrorismo praticado pelo Estado Islâmico.

Por: Slaheddine Schicha, Fonte: Jornal Kaphai, Túnis

Os fascistas que mataram os jornalistas do Charlie Heb-

do são os mesmos que assassinam policiais e soldados na Tunísia e semeiam a devastação no Iraque, na Síria e na Líbia. Assim, só por que o acaso os fez nascer numa famí-lia muçulmana, dois ou três indivíduos sinistros autopro-clamam-se porta-vozes dos muçulmanos e apresentam--se como representantes de Maomé, ou até mesmo de Alá, na Terra.Quanta pretensão! Quanta vaidade! Quanta arrogância!Esses miseráveis, esses pulhas, esses zésninguéns presu-mem vingar o Profeta e agir em nome de Deus e permi-tem-se matar pessoas que não lhes fizeram nada. Esses criminosos, esses bandidos, esses fascistas permitem-se

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O ideal europeu de uma sociedade mista bem integrada fica cada vez mais distante

Parada a favor do Estado Islâmico, no Iraque

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destruir a inteligência, o humor, a cultura, o talento, gri-tando “Allahu Akbar”, esquecendo ou ignorando que Alá é sobretudo “o muito misericordioso”, como Ele mesmo recorda no início de cada surata do seu livro santo, o Co-rão.

Ao assassinarem os jornalistas Charb, Cabu, Wolinski, Tignous, Maris e os outros, esses criminosos fanáticos e imbecis fazem reféns os muçulmanos da França e do res-to do mundo. Ignoram que, ao cometerem esse ato ignó-bil, privaram a comunidade muçulmana da França dos seus defensores mais sinceros, mais constantes e maisantigos. Contudo, não ignoram de modo algum que ata-caram o coração da democracia, o coração da República: a liberdade de expressão e a liberdade de consciência.

Esses fascistas são agentes e promotores autoproclama-dos de uma ordem totalitária, a mesma ordem que assas-sina polícias e soldados, na Tunísia, que emitiu uma fa-twa contra Kamel Daoud, na Argélia, que semeia a morte e a devastação no Iraque e na Síria, e que está destruindo a vizinha Líbia...

A maldição do mundo árabe e muçulmano é a autopro-clamação. A ausência de intermediário, a ausência de clero e a autonomia e liberdade dadas ao crente na sua relação com Deus são as qualidades específicas do lslã que, paradoxalmente, estão sendo pervertidas por uma semialfabetização que dá um acesso sumário e superficial aos escritos: o Corão e o Hadith. Essa “santa ignorância”, segundo a expressão genial encontrada por Olivier Reg (cientista político especialista em Islã), permite que qual-quer um se autoproclame “xeique”, “imã”, “emir”, “cali-fa”...

Uma sociedade, uma cultura, uma religião que permi-tem tais comportamentos e que produzem tais indiví-duos deve interrogar-se e pôr-se em causa. O talentoso jornalista argelino Kamel Daoud tem mil vezes razão, ao afirmar: “Se não enfrentarmos a questão de Deus no chamado mundo árabe, não iremos reabilitar o homem, não iremos avançar... A questão religiosa tornou-se vital no mundo árabe. Para podermos avançar, é preciso que a analisemos, é preciso refletir sobre ela”.

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O FRANGO NOSSO DE CADA DIAHorror e glória da pecuária intensiva

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o site Yahoo! Respostas, a melhor resposta escolhida para a pergunta “O que é pecuária intensiva?” não deixa margem a dúvidas. Seu autor informa que: “A pecuária intensiva inicia desde a seleção das matri-zes a serem inseminadas, com um

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Poucas tecnologias contemporâneas conseguem melhor exemplificar os tremendos contrastes observados em nossa civilização do que a pecuária intensiva. É difícil imaginar, quando se compra algum produto animal no supermercado, tudo que se esconde por trás daqueles rótulos apetitosos. O vídeo que apresentamos revela algumas imagens disso

POR: LUIS PELLEGRINI

busca incessante de melhoria genética, pas-sando pelo manejo dos embriões. Uma vez obtida a fertilização e o posterior nascimen-to, vem a fase da alimentação, suplementa-da, das vacinas e vermicidas, da alimentação nos cochos, com o mínimo de caminhada do novilho, seu acompanhamento diário de ganho de peso, até o abate. Hoje o mercado está muito exigente em termos de qualidade de carne, requerendo animais jovens, com teor de gordura controlado e com possibili-dade de rastreamento, desde o seu desmame até o ponto de venda”. E conclui consideran-do que a pecuária extensiva, aquela pratica-do até os anos 80, está com seus dias de vida contados. A tecnologia já chegou, e veio para ficar, para os médios e pequenos criadores brasileiros, uma vez que nos grandes de há muito já vem sendo implementada.

A pecuária intensiva, bem como a agricul-tura que usa o mesmo qualificativo para se apresentar, é a tecnologia contemporânea que, por um lado, possibilita a abundância de carnes e de outros produtos animais e vegetais em nossos supermercados. Mata a fome dos milhões de consumidores que, mi-nimamente afortunados, têm suficiente po-der aquisitivo para adquiri-los.

Por outro lado, ela é palco de horrores indi-zíveis para os animais que escravizamos com o propósito de comer sua carne, seu leite, seus

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ovos. Poucos conseguem imaginar, ao degustar seu tenro filé de peito, os sofrimentos pelos quais passou o frango que o elaborou em seu próprio corpo, e que não teve um só momento de liberdade e prazer desde o nascimento até a morte.

A eterna roda da existência

O vídeo abaixo mostra algumas cenas das cadeias de pro-dução na indústria da criação de animais e da alimenta-ção. Ele é extraído do filme documentário Samsara, ter-mo que, na antiga língua sânscrita, descreve a eterna roda da existência – nascimento, vida e morte.Samsara é um projeto realizado pelo diretor Ron Fricke e pelo produtor Mark Magidson. Os dois empregaram cin-co anos para realiza-lo, em 25 diferentes países do mun-

do. O filme quer ser uma reflexão sobre a vida, a morte e o renascimento. Acaba sendo também um libelo contra a loucura da arrogância do homem que acredita ser o senhor da Terra e de tudo aquilo que nela existe. A sequ-ência que selecionamos é notável por mostrar algumas cenas da produção industrial de alimento que geralmente permanecem ocultas para o público internacional.Mas atenção: este vídeo pode chocar aqueles dotados de alma sensível. Sua visão é desaconselhada a crianças e a pessoas que se deixam impressionar mais facilmente.

Veja o vídeo aqui

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A REVOLUÇÃO DO ALTRUÍSMOQuando a visão do outro determina os rumos da nossa vida

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lguns dizem que ele é “o homem mais feliz do mundo”, mas o francês Matthieu Ricard prefere definir a si próprio como monge budista, escritor e fotógrafo.

Depois de estudos completos na área da bioquímica, no renomado Instituto Pas-teur, em Paris, Matthieu Ricard abando-

nou a ciência e seguiu para as montanhas do

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O que é altruísmo? Simplificando, é o desejo de que outras pessoas sejam felizes. Matthieu Ricard, pesquisador de felicidade e monge budista de linha tibetana, diz que o altruísmo é também uma ótima lente para tomada de decisões, tanto a curto como a longo prazo, no trabalho e na vida

VÍDEO: TED – IDEAS WORTH SPREADINGTRADUÇÃO: VIVIANE FERRAZ MATOSREVISÃO: ANDREA MUSSAP

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Himalaia, e lá se tornou um monge budista dentro da tradição tibetana. Decidiu dedicar a vida à busca da felicidade, tanto como alvo básico da existência humana, como objeto de estudo sistemático. Conquistar a felicidade, acredita ele, requer o mesmo tipo de esforço e treinamento mental de qualquer outro ob-jetivo existencial.

Suas reflexões sempre feitas com tintas cien-tíficas sobre a felicidade e o budismo se tra-duziram em diversos livros, entre os quais o célebre The Quantum and the Lotus: A Journey to the Frontiers Where Science and Buddhism Meet (O quantum e o lótus: Onde ciência e budismo se encontram). Ao mesmo tempo, ele também produziu fotografias no-táveis do seu amado Tibete.

O monge budista Matthieu Ricard

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Vídeo integral da palestra de Matthieu Ricard no TED

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Tradução integral da palestra de Matthieu Ricard no TED

Nós, humanos, temos um potencial extraordinário para o bem, mas também um imenso poder para fazer o mal. Qualquer instrumento pode ser usado para construir ou destruir. Tudo depende da nossa mo-tivação. Por isso, é ainda mais importante promover uma motivação altruísta em vez de egoísta.

De fato, estamos enfrentando muitos desafios, atualmente. Poderiam ser desafios pessoais. Nossa mente pode ser nossa melhor amiga ou pior inimiga. Existem também desafios sociais: a pobreza em meio a abundância, desigualdades, conflitos, injustiça. E ainda há novos de-safios inesperados. Há 10 mil anos, havia cerca de 5 milhões de seres humanos na Terra. Qualquer coisa que eles fizessem, a resiliência da Terra logo remediaria a atividade humana. Após as Revoluções Indus-trial e Tecnológica, não é mais assim. Agora somos o principal agente de impacto na Terra.

Entramos no Antropoceno, a era dos seres humanos. De um modo, se disséssemos que precisamos continuar esse crescimento sem fim, esse uso ilimitado de recursos materiais, é como se este homem dissesse - e eu ouvi de um ex-chefe de Estado, não direi quem, dizer - “Há cinco anos, estávamos à beira do precipício. Hoje demos um grande passo adiante.” Portanto, esta fronteira é a mesma que os cientistas defini-ram como os limites planetários. E dentro desses limites, pode haver um número de fatores. Ainda podemos prosperar, a humanidade ain-da pode prosperar por 150 mil anos se mantivermos a mesma estabi-lidade climática como no Holoceno, nos últimos 10 mil anos. Mas isso depende de escolhermos uma simplicidade voluntária, crescer qualita-tivamente, não quantitativamente.

Em 1900, como podem ver, estávamos bem dentro dos limites de se-gurança. No entanto, em 1950, veio a grande aceleração. Prendam a respiração, não muito, para imaginar o que vem depois. Agora, devas-tamos amplamente alguns dos limites planetários. Tomemos como

exemplo a biodiversidade: no ritmo atual, até 2050, 30% das espécies terrestres terão desaparecido. Ainda que congelemos seu DNA, isso não será reversível. Por isso estou ali, sentado em frente a uma geleira de 7 mil metros, de 21 mil pés, no Butão. No Terceiro Polo, 2 mil geleiras estão derretendo mais rápido que o Ártico.

O que podemos fazer nessa situação? Bem, por mais complexa que seja em termos políticos, econômicos, científicos, a questão do meio ambiente simplesmente se reduz a uma questão de altruísmo versus egoísmo. Sou marxista, da tendência Groucho. (Risos) Groucho Marx disse: “Por que devo me importar com as gerações futuras? O que já fizeram por mim?” (Risos) Infe-lizmente, ouvi o bilionário Steve Forbes, na Fox News, dizendo exatamente o mesmo, mas a sério. Contaram a ele da subida dos níveis dos oceanos, e ele disse: “Acho um absurdo mudar meu

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Contrafortes do HImalaia, foto de Matthieu Ricard

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Tradução integral da palestra de Matthieu Ricard no TED

comportamento atual por algo que acontecerá em 100 anos”. Então se vocês não se importam com as gerações futuras, vão em frente.

Portanto, um dos maiores desafios atuais é conciliar três escalas de tem-po: a economia a curto prazo, os altos e baixos do mercado de valores, o balanço de fim de ano; a qualidade de vida a médio prazo - o que é qua-lidade de vida em cada momento, a cada 10 anos, 20 anos? - e o meio ambiente a longo prazo. Quando ambientalistas falam com economis-tas, é como um diálogo esquizofrênico, completamente incoerente. Não falam a mesma língua. Agora, nos últimos dez anos, andei pelo mundo todo, encontrando economistas, cientistas, neurocientistas, ambienta-listas, filósofos, pensadores no Himalaia e por todo lugar. A mim, pare-ce que só há um conceito que pode conciliar essas três escalas de tempo: simplesmente, ter mais consideração pelos outros. Ao ter mais conside-ração pelos outros, teremos uma economia solidária, em que as finan-

ças estejam a serviço da sociedade e não a sociedade a serviço das finanças. Vocês não jogarão no cassino com os recursos que as pessoas confiaram a vocês. Se vocês têm mais consideração pelos outros, se assegurarão de remediar a desigualdade, de tra-zer algum tipo de bem-estar para a sociedade, para a educação e local de trabalho. Do contrário, se a nação for a mais poderosa e mais rica, mas todos são pobres, qual o sentido? E se temos mais consideração pelos outros, não prejudicaremos o planeta que temos; e no ritmo atual, não temos três planetas para conti-nuar dessa maneira.

Por isso a pergunta é: tudo bem, o altruísmo é a resposta, isso não é novidade, mas pode ser uma solução real, pragmática? E primeiro, ele existe, o verdadeiro altruísmo, ou somos egoístas demais? Alguns filósofos pensavam que éramos irremediavel-mente egoístas. Mas somos realmente todos sacanas? Isso é uma boa notícia, não é? Muitos filósofos, como Hobbes, falaram isso. Mas nem todos parecem sacanas. Ou o homem é como um lobo para o homem? Este cara não parece tão mal. É um dos meus amigos do Tibete. É muito gentil. Agora, nós adoramos cooperação. Não há prazer maior do que trabalhar juntos, certo? E não só os humanos. Então, claro, há a luta pela vida, a sobre-vivência do mais apto, o darwinismo social. Mas na evolução, a cooperação - embora a competição exista, claro - a cooperação deve ser bem mais criativa para ir a níveis altos de complexida-de. Somos supercooperadores e deveríamos ir mais além.

E agora, no topo disso, a qualidade das relações humanas. A OCDE fez uma pesquisa com dez fatores, incluindo a renda, tudo. O primeiro que as pessoas disseram ser o principal para sua felicidade é a qualidade das relações sociais. Não só dos hu-manos. Vejam essas bisavós. E a ideia de que se nos aprofunda-mos em nosso interior, somos irremediavelmente egoístas,

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Dança típica tibetana

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Tradução integral da palestra de Matthieu Ricard no TED

isto é ciência fajuta. Não há nenhum estudo sociológico, nem psicológi-co, que tenha mostrado isso. Ao contrário. Meu amigo, Daniel Batson, passou a vida toda pondo pessoas no laboratório em situações muito complexas. Claro, às vezes somos egoístas, e algumas pessoas mais do que outras. Mas ele descobriu que sistematicamente, independente de tudo, há um número significativo de pessoas que se comportam de maneira altruísta, independentemente de tudo. Se você vê alguém profundamente ferido, sofrendo muito, você pode querer ajudá-lo por angústia empática - você não pode suportar, então é melhor ajudar que continuar olhando essa pessoa. Testamos isso e, ao final, ele diz que claramente podemos ser altruístas. Essa é uma boa notícia. E ainda mais, devemos olhar a banalidade da bondade. Vejam isto. Ao sairmos não diremos: “Isso é tão agradável! Não houve brigas enquanto essa multidão pensava em altruísmo”. Não, isso é esperado, não é? Se hou-vesse uma briga, falaríamos nisso durante meses. Portanto, a banalida-de da bondade é algo que não chama a atenção, mas ela existe!

Vejamos isto. Alguns psicólogos disseram, quando contei que dirijo 140 projetos humanitários no Himalaia, que isso me dá tanta alegria, disseram: “Ah, entendo, você trabalha pelo prazer. Isso não é altruís-mo. Simplesmente você se sente bem”. Pensam que este cara, ao saltar na frente do trem, pensou: “Vou me sentir ótimo quando isto acabar”? (Risos) Mas isso não é tudo. Quando o entrevistaram ele disse: “Não tive escolha, tinha que saltar, claro”. Não tinha escolha. Comportamen-to automático. Não é egoísta nem altruísta. Não teve escolha? Bem, pressupõe-se, esse cara não ia pensar por meia hora: “Deveria dar a mão a ele? Não dar a mão?” Ele o faz. Há escolha, mas é óbvia, imedia-ta. E então, também ali, ele teve uma opção. (Risos)

Há pessoas que tiveram opção, como o pastor André Trocmé e sua es-posa, e todo o povo de Le Chambon-sur-Lignon, na França. Em toda a Segunda Guerra Mundial, eles salvaram 3.500 judeus, deram refúgio a eles, levaram todos para a Suíça, contra toda a dificuldade, arriscando

suas vidas e de suas famílias. Portanto, o altruísmo existe.O que é altruísmo? É o desejo de que o outro seja feliz e encon-tre a causa da felicidade. A empatia é a ressonância afetiva ou a ressonância cognitiva que nos diz: essa pessoa está feliz, essa pessoa sofre. Mas a empatia por si só não é suficiente. Se você se confronta sempre com o sofrimento, pode sentir angústia empá-tica, estresse, por isso você precisa de um âmbito maior de bon-dade. Com Tania Singer do Instituto Max Planck, em Leipzig, demonstramos que as redes cerebrais da empatia e bondade são diferentes. É tudo muito bem feito, então temos isso da evo-lução, do cuidado materno, do amor dos pais, mas temos que estender isso. Isso pode estender-se inclusive a outras espécies.

Se queremos uma sociedade mais altruísta, precisamos de duas coisas: mudança individual e mudança social. É possível a mu-dança individual? Dois mil anos de estudo contemplativo

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Dois garotos tibetanos

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Tradução integral da palestra de Matthieu Ricard no TED

disseram que sim, que é. E 15 anos de colaboração com a neurociên-cia e a epigenética disseram que sim, que nosso cérebro muda quando se treina o altruísmo. Passei 120 horas numa máquina de ressonância magnética. Essa foi a primeira vez, por duas horas e meia. O resultado foi publicado em muitos trabalhos científicos Mostra, sem dúvidas, que há uma mudança estrutural e funcional no cérebro, quando se treina o amor altruísta. Só para vocês terem uma ideia: aqui está o meditador em repouso, à esquerda, fazendo meditação de compaixão, vemos toda a atividade, e o grupo de controle em repouso, nada aconteceu, em me-ditação, nada aconteceu. Eles não foram treinados.

Então são necessárias 50 mil horas de meditação? Não. Quatro sema-nas, 20 minutos por dia de meditação afetiva, consciente, já gera uma mudança estrutural no cérebro, comparado ao grupo controle. Apenas 20 minutos ao dia, por 4 semanas.

Mesmo com crianças de pré-escola. Richard Davidson fez isso em Madison. Um programa de oito semanas: gratidão, genti-leza, cooperação, respiração. Podem dizer: “São só crianças de pré-escola”. Vejam após oito semanas, o comportamento pró--social, nessa linha azul. E a seguir o último teste científico, o teste do adesivo. Antes, você determina para cada criança quem é o melhor amigo da classe, o menos favorito, o desconhecido, e uma criança doente, e eles têm que dar os adesivos. Antes da in-tervenção, eles dão a maioria dos adesivos para o melhor amigo. Crianças de 4, 5 anos, 20 minutos, 3 vezes por semana. Depois da intervenção, mais nenhuma discriminação: o mesmo núme-ro de adesivos ao melhor amigo e à criança menos favorita. Isso é algo que devíamos fazer em todas as escolas do mundo.Para onde vamos a partir daí? Quando o Dalai Lama soube, dis-se a Richard Davidson: “Vá a 10 escolas, 100 escolas, à ONU, ao mundo todo”.

E, para onde vamos a partir daí? A mudança individual é possí-vel. Temos que esperar por um gene altruísta na raça humana? Isso levará 50 mil anos, demais para o meio ambiente. Feliz-mente, existe a evolução da cultura. As culturas, como espe-cialistas mostram, mudam mais rápido que os genes. Essa é a boa notícia. O comportamento relacionado à guerra mudou drasticamente com o tempo. A mudança individual e cultural se moldam mutuamente, e sim, podemos alcançar uma sociedade mais altruísta.

Para onde vamos a partir daí? Eu voltarei ao Oriente. Agora tratamos 100 mil pacientes ao ano em nossos projetos. Temos 25 mil crianças na escola, 4% a mais. Algumas pessoas dizem: “Isso funciona na prática, mas funciona na teoria?” Sempre há o desvio positivo. Então também voltarei à minha ermida para encontrar os recursos internos para servir melhor aos outros.

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Meditação à beira do rio

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Tradução integral da palestra de Matthieu Ricard no TED

Mas a nível mais global, o que podemos fazer? Precisamos de três coi-sas. Aumentar a cooperação: aprendizagem cooperativa na escola, em vez de aprendizagem competitiva; cooperação incondicional dentro das empresas, pode existir certa competição entre empresas, mas não dentro delas. Precisamos de harmonia sustentável. Adoro esse ter-mo! Nada de crescimento sustentável. Harmonia sustentável significa que agora reduziremos a desigualdade. No futuro, faremos mais com menos, continuaremos crescendo qualitativamente, não quantitativa-mente. Precisamos da economia solidária. O Homo economicus não pode lidar com a pobreza em meio a abundância, não pode lidar com o problema dos bens comuns da atmosfera, dos oceanos. Precisamos da economia solidária. Se um diz que a economia deve ser compassiva, dizem: “Não é trabalho nosso.” Mas se você diz que eles não se impor-tam, isso é mal visto. Precisamos de compromisso local, e responsabi-lidade global. Precisamos estender o altruísmo ao outro 1,6 milhão de espécies. Os seres sencientes são co-cidadãos neste mundo. E temos que nos atrever ao altruísmo.

Portanto, vida longa à revolução altruísta! Viva a revolução de altruís-mo!

OÁSIS . SABEDORIA 34/34Meditação junto ao Glaciar de Jomolhari

Mosteiro tibetano encravado na montanha