2175 - revisaco- direito ambiental-amado-1ed · revisaço – direito ambiental • 376 frederico...

19

Upload: hoangthien

Post on 02-Oct-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

FREDERICO AMADOProcurador Federal/INSS. Doutorando em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social pela

Universidade Católica do Salvador – UCSAL. Mestre em Planejamento Ambiental pela Universidade Católica do Salvador – UCSAL. Especialista em Direito do Estado pelo Instituto de Educação Superior Unyahna

Salvador – IESUS. Professor de Direito Ambiental e Previdenciário do Complexo de Ensino Renato Saraiva (curso pela internet - www.renatosaraiva.com.br). Coordenador da pós-graduação on-line em Direito e Prática Previdenciária e dos cursos de prática previdenciária do Complexo de Ensino Renato Saraiva.

Coordenador da pós-graduação em Direito e Prática Previdenciária da Faculdade Baiana de Direito.

2016

ColeçãoColeção

RE ISAÇO

DIREITO AMBIENTAL

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 3 18/07/2016 16:19:02

Capítulo 11 – Responsabilidade Civil por Danos Ambientais

11.1 QUESTÕES

(2016/TRF – 3ª REGIÃO/Juiz Federal Substituto) Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta.

I – O princípio da prevenção está intimamente relacionado ao brocardo jurídico “in dubio contra projectum” e, segundo jurisprudência das Cortes Superiores, impõe o reconhecimento da inversão do ônus da prova.

II – A respeito das sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, é possível afirmar que configuram circunstâncias ate-nuantes o baixo grau de instrução ou escolaridade do agente, o arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação signi-ficativa da degradação ambiental causada, a comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental, a ausência de intuito de obtenção de vantagem pecuniária e a colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental.

III – Tratando-se de direito difuso, a reparação civil de danos ambientais assume grande amplitude, com profundas implicações na espécie de responsabilidade do degra-dador, que é objetiva e fundada no simples risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano.

Estão corretas as assertivas:

a) I e II.

b) I, II e III.

c) II e III.

d) III.

COMENTÁRIOS

Nota do Autor

É firme a jurisprudência do STJ no sentido de que, nos danos ambientais, incide a teo-ria do risco integral, advindo daí o caráter objetivo da responsabilidade, com expressa previsão constitucional (art. 225, § 3.º, da CF) e legal (art. 14, § 1.º, da Lei n. 6.938/1981), sendo, por conseguinte, descabida a alegação de excludentes de responsabilidade,

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 375 18/07/2016 16:19:21

Revisaço – Direito Ambiental • Frederico Amado376

bastando, para tanto, a ocorrência de resultado prejudicial ao homem e ao ambiente advindo de uma ação ou omissão do responsável (STJ, REsp 1.175.907, de 19.08.2014).

Letra d, certa.

Item I, falso. O Princípio da Precaução (e não Prevenção) é que fundamenta a inversão do ônus da prova em ações de reparação do dano ao ambiente, dele decorrendo o in dubio pro natura ou salute: “no Direito Ambiental brasileiro, a inversão do ônus da prova é de ordem substantiva e ope legis, direta ou indireta (esta última se manifesta, p. ex., na derivação inevitável do princípio da precaução), como também de cunho estritamente processual e ope judicis (assim no caso de hipossuficiência da vítima, verossimilhança da alegação ou outras hipóteses inseridas nos poderes genéricos do juiz, emanação natural do seu ofício de condutor e administrador do processo). Como corolário do princípio in dubio pro natura, ‘Justifica-se a inversão do ônus da prova, transferindo para o empreendedor da atividade poten-cialmente perigosa o ônus de demonstrar a segurança do empreendimento, a partir da interpretação do art. 6.º, VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art. 21 da Lei 7.347/1985, conjugado ao Princípio Ambiental da Pre-caução’ (REsp 972.902/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 14.09.2009), técnica que sujeita aquele que supostamente gerou o dano ambiental a comprovar ‘que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva’ (REsp 1.060.753/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 14.12.2009)” (STJ, REsp 883.656, de 09.03.2010).

Item II, falso. A ausência de intuito de obtenção de vantagem pecuniária não é circunstância ate-nuante nos crimes ambientais, nos termos do artigo 14 da Lei 9.605/98:

“Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:

I – baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;

II – arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação significativa da degra-dação ambiental causada;

III – comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;

IV – colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental.

Item III, verdadeiro. A responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva (art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81) e se funda-menta na Teoria do Risco Integral, conforme entendimento do STJ.

(2016/VUNESP/TJ-RJ/Juiz Substituto) Um Município, no interior de Minas Gerais, pre-tende, em sede recursal, a inclusão do referido Estado no polo passivo da Ação Civil Pública, que visa a reparação e prevenção de danos ambientais causados por desliza-mentos de terras em encostas habitadas. Segundo regra geral quanto ao dano ambien-tal e urbanístico, e segundo posição do STJ, o litisconsórcio, nesses casos é

a) facultativo, mesmo havendo múltiplos agentes poluidores.

b) obrigatório, no caso de causas concorrentes.

c) facultativo, pois os responsáveis pela degradação ambiental não são coobrigados solidários.

d) necessário, quando o ato envolve particular e poder público.

e) facultativo, quando envolve ato do particular e necessário quando envolve ato da Administração Pública.

COMENTÁRIOS

Nota do Autor

O poluidor será o responsável pela reparação dos danos ambientais, assim considerado “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indi-retamente, por atividade causadora de degradação ambiental”, na forma do artigo 3.º, inciso IV, da Lei 6.938/1981.

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 376 18/07/2016 16:19:21

Capítulo 11 – Responsabilidade Civil por Danos Ambientais 377

Letra a, certa. Trata-se de litisconsórcio passivo facultativo, pois cada poluidor, quer direto, quer indireto, é responsável solidário pela reparação do dano ambiental, devendo eventual regresso ser apu-rado em ação autônoma. Veja-se o STJ:

STJ – RECURSO ESPECIAL REsp 771619 RR 2005/0128457-7 (STJ)

Data de publicação: 11/02/2009

Ementa: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. LITISCONSÓRCIO PASSIVO

NECESSÁRIO. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES DO STJ. PROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL. 1. No caso dos autos, o Ministério Público Estadual ajuizou ação civil pública por dano ambiental contra o Estado de Roraima, em face da irre-gular atividade de exploração de argila, barro e areia em área degradada, a qual foi cedida à Associação dos Oleiros Autônomos de Boa Vista sem a realização de qualquer procedimento de proteção ao meio ambiente. Por ocasião da sentença, os pedidos foram julgados procedentes, a fim de condenar o Estado de Roraima à suspensão das referidas atividades, à realização de estudo de impacto ambiental e ao pagamento de indenização pelo dano ambiental causado. O Tribunal de origem, ao analisar a controvérsia, reconheceu a existência de litisconsórcio passivo necessário em rela-ção aos particulares (oleiros) que exerciam atividades na área em litígio e anulou o processo a partir da citação. 2. Na hipótese examinada, não há falar em litisconsórcio passivo necessário, e, conseqüentemente, em nulidade do processo, mas tão-somente em litisconsórcio facultativo, pois os oleiros que exercem atividades na área degradada, embora, em princípio, também possam ser considerados poluidores, não devem figurar, obrigatoriamente, no pólo passivo na referida ação. Tal consideração decorre da análise do inciso IV do art. 3º da Lei 6.938 /81, que considera “poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”. Assim, a ação civil pública por dano causado ao meio ambiente pode ser proposta contra o responsável direto ou indireto, ou contra ambos, em face da responsabilidade solidária pelo dano ambiental”.

Letra b, falsa. O litisconsórcio é facultativo.

Letra c, falsa. O litisconsórcio é facultativo.

Letra d, falsa. Os responsáveis pela degradação ambiental são coobrigados solidários.

Letra e, falsa. O litisconsórcio é facultativo.

(2016/VUNESP/TJ-RJ/Juiz Substituto) A responsabilidade civil do Estado, por dano ambiental, em caso de omissão de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar, será

a) subsidiária, se a omissão for determinante para concretização ou agravamento do dano, pois a responsabilidade é subjetiva.

b) solidária, se a omissão for determinante para concretização ou agravamento do dano, porém de execução subsidiária.

c) subsidiária, independentemente da omissão ser determinante para concretização ou agravamento do dano.

d) solidária, independentemente da omissão ser determinante para concretização ou agravamento do dano, pois a responsabilidade é subjetiva.

e) solidária, ainda que a omissão não seja determinante para concretização ou agrava-mento do dano.

COMENTÁRIOS

Nota do Autor

Questão nitidamente lastreada na jurisprudência do STJ, pois o tema é controverso na doutrina. Sou um crítico da conjugação da responsabilidade solidária com execução subsidiária. Parece-me incompatível.

Letra b, certa. No que concerne à Administração Pública, entende o STJ que a responsabilidade civil pela reparação do dano ambiental por atos comissivos e omissivos é objetiva, ilimitada, solidária,

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 377 18/07/2016 16:19:21

Revisaço – Direito Ambiental • Frederico Amado378

mas de execução subsidiária, pois o ente público apenas terá a execução direcionada a si quando o degradador direito não o fizer, após o esgotamento das vias ordinárias:

“Processual civil, administrativo e ambiental. Adoção como razões de decidir de parecer exarado pelo Ministério Público. Inexistência de nulidade. Art. 2.º, parágrafo único, da Lei 4.771/1965. Dano ao meio ambiente. Responsabilidade civil do Estado por omissão. Arts. 3.º, IV, c/c 14, § 1.º, da Lei 6.938/1981. Dever de controle e fiscalização.

1. A jurisprudência predominante no STJ é no sentido de que, em matéria de proteção ambiental, há responsabilidade civil do Estado quando a omissão de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar for determinante para a concretiza-ção ou o agravamento do dano causado pelo seu causador direto. Trata-se, todavia, de responsabilidade subsidiária, cuja execução poderá ser promovida caso o degradador direto não cumprir a obrigação, ‘seja por total ou parcial exauri-mento patrimonial ou insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade, por qualquer razão, inclusive técnica, de cumprimento da prestação judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de regresso (art. 934 do Código Civil), com a desconsideração da personalidade jurídica, conforme preceitua o art. 50 do Código Civil’ (REsp 1.071.741/SP, 2.ª T., Min. Herman Benjamin, DJe de 16.12.2010).

2. Examinar se, no caso, a omissão foi ou não ‘determinante’ (vale dizer, causa suficiente ou concorrente) para a ‘con-cretização ou o agravamento do dano’ é juízo que envolve exame das circunstâncias fáticas da causa, o que encontra óbice na Súmula 07/STJ.

3. Agravos regimentais desprovidos” (AgRg no REsp 1001780, 1.ª T., j. 27.09.2011).

Letra a, falsa. A responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva (art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81)

Letra c, falsa. Para a caracterização da responsabilidade da Administração Pública por ato omissivo o STJ exige que a omissão de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar tenha sido determi-nante para a concretização ou o agravamento do dano causado pelo seu causador direto.

Letra d, falsa. Vide resposta à letra c.

Letra e, falsa. Vide resposta à letra c.

(2016/VUNESP/TJ-RJ/Juiz Substituto) As queimadas frequentemente são utilizadas, sem autorização, para desmatamento de mata nativa, e representam a negação da moder-nidade da agricultura e pecuária brasileiras, confrontando-se com os fundamentos mais elementares do Direito Ambiental. Quem queima, ao fazê-lo, afeta, degrada ou destrói o meio ambiente, o que lhe impõe alguns deveres. Quanto à possibilidade de cumulação no pedido de obrigação de fazer, de não fazer (reparar a área afetada) e de pagar quantia certa (indenização), a jurisprudência do STJ tem se firmado no sentido de permitir:

a) a cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar, que têm natureza de obrigação de eficácia real.

b) a cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar, na busca da prote-ção mitigada.

c) a cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e indenizar, que têm natureza conglobante.

d) a cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar, que têm natureza propter rem, na busca da proteção integral do meio ambiente.

e) a cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar, que têm natureza conglobante, na busca da proteção integral do meio ambiente.

COMENTÁRIOS

Letra d, certa. O STJ permite a cumulação das condenações em obrigação de fazer, de não fazer (reparar a área afetada) e de pagar quantia certa (indenização):

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 378 18/07/2016 16:19:21

Capítulo 11 – Responsabilidade Civil por Danos Ambientais 379

STJ, INFORMATIVO 427 – MEIO AMBIENTE. REPARAÇÃO. INDENIZAÇÃO

O princípio da reparação in integrum aplica-se ao dano ambiental. Com isso, a obrigação de recuperar o meio ambiente degradado é compatível com a indenização pecuniária por eventuais prejuízos, até sua restauração plena. Contudo, se quem degradou promoveu a restauração imediata e completa do bem lesado ao status quo ante, em regra, não se fala em indenização. Já os benefícios econômicos que aquele auferiu com a exploração ilegal do meio ambiente (bem de uso comum do povo, conforme o art. 225, caput, da CF/1988) devem reverter à coletividade, tal qual no caso, em que se explorou garimpo ilegal de ouro em área de preservação permanente sem qualquer licença ambiental de funcionamento ou autorização para desmatamento. Com esse entendimento, a Turma deu parcial provimento ao recurso para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação de indenização pecuniária e obrigações de fazer voltadas à recomposição in natura do bem lesado, o que impõe a devolução dos autos ao tribunal de origem para que verifique existir dano indenizável e seu eventual quantum debeatur. Precedente citado: REsp 1.120.117-AC, DJe 19.11.2009. REsp 1.114.893-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16.03.2010.

Ademais, para a Corte Superior se trata de obrigação propter rem, assumida pelo novo proprietário ou possuidor de imóvel com passivo ecológico: “Esta Corte Superior tem entendimento sedimentado no sentido de que os deveres associados às APPs e à Reserva Legal têm natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou posse. Por esse motivo, descabe falar em culpa ou nexo cau-sal, como fatores determinantes do dever de recuperar a vegetação nativa e averbar a Reserva Legal por parte do proprietário ou possuidor, antigo ou novo, mesmo se o imóvel já estava desmatado quando de sua aquisição” (passagem do julgamento do AgRg no REsp 1.206.484, de 17.03.2011),

Letra a, falsa. A obrigação é real, e não de eficácia real. Veja-se o artigo 2º, § 2º, da Lei 12.651/2012: “As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natu-reza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural”.

Letra b, falsa. Busca-se a proteção integral, e não a proteção mitigada.

Letra c, falsa. Trata-se de obrigação propter rem, e não conglobante.

Letra e, falsa. Trata-se de obrigação propter rem, e não conglobante.

(2015/CESPE/Prefeitura de Salvador/Procurador do Município) O rompimento da barragem de uma empresa de mineração provocou o vazamento de um bilhão de litros de resíduos de lama tóxica, a qual percorreu vários quilômetros, atingiu várias cidades nos arredores e inundou casas, provocando o desabrigamento de várias famílias. Em razão disso, o MP entrou com ACP contra a empresa, a fim de buscar indenização pelos danos ambientais causados à coletividade e, além disso, o ressarcimento dos prejuízos materiais e morais sofridos pelos moradores. Com referência a essa situação hipotética, assinale a opção correta.

a) Caso a empresa seja condenada a ressarcir os danos ambientais causados, o valor terá de ser depositado em um fundo para ressarcimento dos particulares que se habilitarem na fase de execução da sentença.

b) De acordo com a teoria do risco integral, não basta a ocorrência do ato ilícito para a configuração da obrigação de indenizar por parte da empresa mineradora, sendo necessária a configuração do nexo causal entre o evento danoso e o dano causado.

c) A responsabilidade pelo dano ambiental poderá ser afastada caso fique compro-vado em juízo que foram obtidas pela empresa todas as licenças ambientais para operação das atividades de mineração.

d) Caso fique comprovado que, além do rompimento da barragem, fortes chuvas con-correram para a inundação das casas, ter-se-á uma excludente de responsabilidade que afastará a obrigação da empresa de indenizar os danos sofridos.

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 379 18/07/2016 16:19:21

Revisaço – Direito Ambiental • Frederico Amado380

e) O MP tem legitimidade para pleitear indenização por danos à coletividade, mas não poderia ajuizar a ação para ressarcimento dos danos materiais e morais sofridos pelos particulares.

COMENTÁRIOS

Nota do Autor

A poluição poderá ser lícita ou ilícita. Se uma pessoa desmata parte da vegetação de sua fazenda amparada por regular licenciamento ambiental, haverá uma poluição lícita, pois realizada dentro dos padrões de tolerância da legislação ambiental e com base em licença, o que exclui qualquer responsabilidade administrativa ou criminal do poluidor. Mesmo a poluição licenciada não exclui a responsabilidade civil do poluidor, na hipó-tese de geração de danos ambientais, pois esta não é sancionatória, e sim reparatória.

Letra b, certa. O STJ adota a Teoria do Risco Integral como lastro da responsabilidade civil obje-tiva pelo dano ambiental. Mesmo esta Teoria não dispensa o nexo causal entre a conduta comissiva ou omissiva e o dano ecológico: “A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada

pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o

risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo

dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar”. (REsp 1354536 / SE, de 26/3/2014, Recurso Repetitivo, 2ª Seção). Ademais, “a Segunda Seção do STJ, no julgamento do REsp 1.114.398/PR, da relatoria do senhor Ministro Sidnei Beneti, sob o rito do art. 543-C do CPC, reconheceu a responsabilidade objetiva da PETROBRAS em acidentes semelhantes e caracterizadores de dano ambiental, responsabilizando-se o degradador em decorrência do princípio do poluidor-pagador, não cabendo, demonstrado o nexo de causalidade, a aplicação de excludente de responsabilidade”.

Letra a, falsa. O valor da indenização pecuniária será destinado ao Fundo de Recomposição de Bens Lesados da Lei de Ação Civil Pública: “Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados”.

Letra c, falsa. A concessão de licença ambiental não afasta a responsabilidade civil ambiental obje-tiva, pois esta não é punitiva, sendo ressarcitória. Afastará apenas as punições administrativas e penais.

Letra d, falsa. A Teoria do Risco Integral não permite a quebra do nexo causal pelo fortuito ou força maior.

Letra e, falsa. O STJ admite que o MP postule o ressarcimento dos danos materiais e morais sofridos pelos particulares: “AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTE-ÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. COMPLEXO PARQUE DO SABIÁ. OFENSA AO ART. 535, II, DO CPC NÃO CONFIGURADA. CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÕES DE FAZER COM INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA. ART. 3.º DA LEI 7.347/1985. POSSIBILIDADE. DANOS MORAIS COLETIVOS. CABIMENTO. 1. Não ocorre ofensa ao art. 535 do CPC, se o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide. 2. Segundo a jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art. 3.º da Lei 7.347/1985 permite a cumulação das condenações em obrigações de fazer ou não fazer e indenização pecuniária em sede de ação civil pública, a fim de possibilitar a concreta e cabal reparação do dano ambiental pretérito, já consumado. Microssistema de tutela coletiva. 3. O dano ao meio ambiente, por ser bem público, gera repercussão geral, impondo conscientização coletiva à sua reparação, a fim de resguardar o direito das futuras gerações a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. 4. O dano

moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado, sendo desne-

cessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosse

um indivíduo isolado. 5. Recurso especial provido, para reconhecer, em tese, a possibilidade de

cumulação de indenização pecuniária com as obrigações de fazer, bem como a condenação em

danos morais coletivos, com a devolução dos autos ao Tribunal de origem para que verifique se,

no caso, há dano indenizável e fixação do eventual quantum debeatur” (STJ, REsp 1.269.494, de 24.09.2013).

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 380 18/07/2016 16:19:21

Capítulo 11 – Responsabilidade Civil por Danos Ambientais 381

(2015/CESPE/TJ-DF/Juiz de Direito Substituto) Antônio depositou, a céu aberto, resí-duos tóxicos em terreno de sua propriedade. Embora a área fosse cercada e houvesse placas de sinalização informando a presença de material tóxico, o acesso ao terreno era fácil, consentido e costumeiro. Joaquim, um morador que não conhecia bem a vizi-nhança, passou pelo local e sofreu, por conduta não dolosa, graves queimaduras decor-rentes do contato com os resíduos tóxicos, pois, ao ver esse material, ficou curioso, se aproximou e o tocou.

Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção correta à luz do entendimento do STJ.

a) Aplica-se ao caso a teoria do risco integral, de modo que Antônio deverá responder pelos danos sofridos por Joaquim, a menos que fique comprovada a culpa exclusiva da vítima ou a ocorrência de caso fortuito ou força maior.

b) Não é aplicável ao caso a teoria do risco integral, uma vez que Joaquim era um estranho que não tinha qualquer relação jurídico-contratual com Antônio, a lesão foi cometida a indivíduo e não ao meio ambiente e foram colocadas placas de sina-lização indicando a presença de material tóxico.

c) Caso Antônio tivesse depositado os resíduos na condição de agente de entidade estatal e não como particular, sua provável responsabilidade obedeceria ao regime do risco administrativo.

d) A conduta de Antônio enquadra-se no conceito de dano ambiental e a ela devem ser aplicados o princípio do poluidor-pagador e a responsabilidade objetiva por risco integral.

e) Se Antônio tivesse depositado os resíduos na condição de agente de entidade esta-tal, sua responsabilidade seria de natureza subjetiva, sendo necessário provar culpa lato sensu para que o Estado respondesse por condutas omissivas causadoras de dano ao meio ambiente.

COMENTÁRIOS

Nota do Autor

O dano ambiental sempre terá uma vertente não patrimonial difusa, podendo, por via reflexa, atingir o patrimônio material, público ou privado. Isso não impede que pessoas determináveis (interesses coletivos em sentido estrito), um grupo determinado (interes-ses individuais homogêneos) ou mesmo um indivíduo tenham maiores prejuízos com o dano ambiental, a exemplo do proprietário de uma floresta desmatada ilicitamente por invasores, o que poderá gerar a concorrência de ações individuais com coletivas.

Letra d, certa. O deposito, a céu aberto, de resíduos tóxicos que tem até o potencial de causar queimaduras deve ser enquadrado como dano ambiental, pois é um prejuízo ao equilíbrio do ambiente e ainda se configurou em dano a saúde. Este caso foi extraído da jurisprudência do STJ, que esten-deu ao dano privado a responsabilidade objetiva pelo risco inregral: STJ, INFORMATIVO 544 – “DIREITO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA POR DANO AMBIENTAL PRIVADO. O particular que deposite resíduos tóxicos em seu terreno, expondo-os a céu aberto, em local onde, apesar da

existência de cerca e de placas de sinalização informando a presença de material orgânico, o

acesso de outros particulares seja fácil, consentido e costumeiro, responde objetivamente pelos

danos sofridos por pessoa que, por conduta não dolosa, tenha sofrido, ao entrar na propriedade,

graves queimaduras decorrentes de contato com os resíduos. A responsabilidade civil por danos ambientais, seja por lesão ao meio ambiente propriamente dito (dano ambiental público), seja por ofensa a direitos individuais (dano ambiental privado), é objetiva, fundada na teoria do risco integral, em face do disposto no art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981, que consagra o princípio do poluidor-pagador. A responsabilidade objetiva fundamenta-se na noção de risco social, que está implícito em determinadas atividades, como a indústria, os meios de transporte de massa, as fontes de energia. Assim, a responsa-

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 381 18/07/2016 16:19:21

Revisaço – Direito Ambiental • Frederico Amado382

bilidade objetiva, calcada na teoria do risco, é uma imputação atribuída por lei a determinadas pessoas para ressarcirem os danos provocados por atividades exercidas no seu interesse e sob seu controle, sem que se proceda a qualquer indagação sobre o elemento subjetivo da conduta do agente ou de seus pre-postos, bastando a relação de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e a situação de risco criada pelo agente. Imputa-se objetivamente a obrigação de indenizar a quem conhece e domina a fonte de origem do risco, devendo, em face do interesse social, responder pelas consequências lesivas da sua ati-vidade independente de culpa. Nesse sentido, a teoria do risco como cláusula geral de responsabilidade civil restou consagrada no enunciado normativo do parágrafo único do art. 927 do CC, que assim dispôs: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. A teoria do risco integral constitui uma modalidade extremada da teoria do risco em que o nexo causal é fortalecido de modo a não ser rompido pelo implemento das causas que normalmente o abalariam (v.g. culpa da vítima; fato de terceiro, força maior). Essa modalidade é excepcional, sendo fundamento para hipóteses legais em que o risco ensejado pela atividade econô-mica também é extremado, como ocorre com o dano nuclear (art. 21, XXIII, “c”, da CF e Lei 6.453/1977). O mesmo ocorre com o dano ambiental (art. 225,caput e § 3º, da CF e art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981), em face da crescente preocupação com o meio ambiente. Nesse mesmo sentido, extrai-se da doutrina que, na responsabilidade civil pelo dano ambiental, não são aceitas as excludentes de fato de terceiro, de culpa da vítima, de caso fortuito ou de força maior. Nesse contexto, a colocação de placas no local

indicando a presença de material orgânico não é suficiente para excluir a responsabilidade civil. REsp 1.373.788-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/5/2014”.

Letra a, falsa. Na Teoria do Risco Integral não se admitem as mencionadas causas excludentes.

Letra b, falsa. O STJ aplicou ao caso a Teoria do Risco Integral

Letra c, falsa. Caso Antônio tivesse depositado os resíduos na condição de agente de entidade estatal persistiria a responsabilidade objetiva pelo Risco Integral.

Letra e, falsa. Caso Antônio tivesse depositado os resíduos na condição de agente de entidade estatal persistiria a responsabilidade objetiva pelo Risco Integral.

(2015/CESPE/TRF 5ª Região/Juiz Federal) A FUNAI ajuizou ação contra o proprietário de imóvel rural lindeiro ao seu com a intenção de ser indenizada pelos danos decorren-tes de incêndio iniciado nessa propriedade vizinha, ocasionado pela prática de quei-mada de palha de cana-de-açúcar. A FUNAI demonstrou que o fogo alcançou instala-ções de uma fazenda que ela utilizava para proporcionar qualificação em trabalho rural e extrativismo aos indígenas. Por sua vez, o MP, em razão desses fatos, ajuizou ACP em que objetivava a recomposição das áreas de reserva legal e o pagamento de indeniza-ção pelo dano ambiental. O réu alegou ilegitimidade passiva porque o fogo fora ateado por arrendatário de sua fazenda e, no mérito, alegou, ainda, ausência de dolo ou culpa de sua parte e que detinha autorização, pelo órgão competente, para efetivar a quei-mada da palha.

Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção correta.

a) A alegada autorização para a queima da palha de cana-de– açúcar é nula diante da proibição, expressa no Código Florestal, do uso de fogo para se erradicar vegetação.

b) Caso seja comprovado que o arrendatário realizou a queimada, deve ser afastada a responsabilidade do réu em ambas as ações.

c) Na ACP, haverá responsabilização objetiva, o que não ocorre com a ação ajuizada pela FUNAI.

d) Os danos patrimoniais sofridos pela FUNAI caracterizam-se como dano ambiental por ricochete.

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 382 18/07/2016 16:19:21

Capítulo 11 – Responsabilidade Civil por Danos Ambientais 383

e) O pedido de indenização na ACP tem de ser subsidiário ao pedido de recomposição in natura, por ser a recomposição o principal interesse da tutela ambiental.

COMENTÁRIOS

Letra d, certa. O STJ vem aplicando o regime da responsabilidade objetiva pela Teoria do Risco Integral ao dano ambiental privado (também chamado de reflexo ou por ricochete): REsp 1381211,

de 15/5/2014. RECURSO ESPECIAL – AÇÃO CONDENATÓRIA POR DANOS EXTRAPATRIMONIAIS E PATRI-MONIAIS – INCÊNDIO INICIADO NA ÁREA DE PROPRIEDADE DO RÉU QUE ATINGIU O IMÓVEL RURAL DO AUTOR – SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA – CORTE LOCAL QUE, AO RECONHECER A RESPONSABILI-DADE CIVIL AMBIENTAL DO RÉU (ART. 3º, INC. IV E ART. 14, § 1º, DA LEI 6.938/81), CONDENA-O AO PAGA-MENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS PATRIMONIAIS, A SEREM QUANTIFICADOS EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA – INSURGÊNCIA RECURSAL DA PARTE RÉ. DANOS AMBIENTAIS INDIVIDUAIS OU REFLEXOS

(POR RICOCHETE) – RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA – APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ARTIGO 14, § 1º, DA LEI Nº 9.938/81, E, OUTROSSIM, EM VIRTUDE DA VIOLAÇÃO A DIREITOS DE VIZINHANÇA – RECO-NHECIMENTO DO DEVER DE INDENIZAR IMPUTÁVEL AO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL.

Letra a, falsa. A autorização de queima não é necessariamente nula, pois, mesmo que de modo excepcional, pode ser concedida nos termos do artigo 38 do Código Florestal:

“Art. 38. É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes situações:

I – em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou florestais,

mediante prévia aprovação do órgão estadual ambiental competente do Sisnama, para cada imóvel rural ou de forma

regionalizada, que estabelecerá os critérios de monitoramento e controle;

II – emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em conformidade com o respectivo plano de manejo

e mediante prévia aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao manejo conservacionista da

vegetação nativa, cujas características ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;

III – atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa devidamente aprovado pelos órgãos competentes

e realizada por instituição de pesquisa reconhecida, mediante prévia aprovação do órgão ambiental competente do

Sisnama”.

Letra b, falsa. O proprietário deverá responder pelo dano por se tratar de obrigação propter rem.

Letra c, falsa. O STJ vem aplicando o regime da responsabilidade objetiva pela Teoria do Risco Inte-gral ao dano ambiental privado, conforme pontuando no comentário à letra d.

Letra e, falsa. Não necessariamente. Isso porque o STJ permite a cumulação das condenações em obrigação de fazer, de não fazer (reparar a área afetada) e de pagar quantia certa (indenização): STJ, INFORMATIVO 427 – MEIO AMBIENTE. REPARAÇÃO. INDENIZAÇÃO. O princípio da reparação in integrum aplica-se ao dano ambiental. Com isso, a obrigação de recuperar o meio ambiente degradado é compatí-vel com a indenização pecuniária por eventuais prejuízos, até sua restauração plena. Contudo, se quem degradou promoveu a restauração imediata e completa do bem lesado ao status quo ante, em regra, não se fala em indenização. Já os benefícios econômicos que aquele auferiu com a exploração ilegal do meio ambiente (bem de uso comum do povo, conforme o art. 225, caput, da CF/1988) devem reverter à coletividade, tal qual no caso, em que se explorou garimpo ilegal de ouro em área de preservação permanente sem qualquer licença ambiental de funcionamento ou autorização para desmatamento. Com esse entendimento, a Turma deu parcial provimento ao recurso para reconhecer, em tese, a pos-sibilidade de cumulação de indenização pecuniária e obrigações de fazer voltadas à recomposição in natura do bem lesado, o que impõe a devolução dos autos ao tribunal de origem para que verifique existir dano indenizável e seu eventual quantum debeatur. Precedente citado: REsp 1.120.117-AC, DJe 19.11.2009. REsp 1.114.893-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16.03.2010.

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 383 18/07/2016 16:19:21

Revisaço – Direito Ambiental • Frederico Amado384

(CESPE/AGU/Advogado da União/2015) Na zona costeira nordestina, uma empresa estrangeira construiu um empreendimento turístico hoteleiro de grande porte próximo ao mar, sem o licenciamento ambiental prévio exigido por lei, ocupando ilegalmente área de preservação permanente na margem de um rio e afetando diretamente uma comunidade lindeira composta em sua maioria por pescadores.

Seis meses após a inauguração do empreendimento, o empresário estrangeiro vendeu o negócio a uma empresa brasileira, que vem operando o hotel há cerca de um ano, sem, contudo, ter efetuado ainda a regularização do licenciamento ambiental.

Além disso, após reclamações provenientes da comunidade afetada, foram constatados os seguin-tes problemas: ausência de recolhimento e de disposição adequados dos resíduos líquidos e sólidos, com prejuízos ao bem-estar da referida comunidade; e impedimento de livre acesso à praia, o que pre-judicou as atividades econômicas dos pescadores da comunidade.

Com referência a essa situação hipotética, julgue os itens a seguir em consonância com as normas ambientais e a jurisprudência pertinente.

Os efeitos do empreendimento irregular que prejudicam o bem-estar da comunidade e sua ativi-dade econômica de pesca enquadram-se na definição de degradação ambiental, de modo a ensejar a responsabilização civil ambiental.

COMENTÁRIOS

Questão certa. A degradação ambiental é qualquer alteração adversa da qualidade do meio ambiente, nos termos do artigo 3º, II, da Lei 6.938/91, a exemplo de ações que prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população ou que criem condições adversas às atividades sociais e econômicas.

(CESPE/AGU/Advogado da União/2015) A emissão de licença de operação para o fun-cionamento do empreendimento construído irregularmente e que se encontra conso-lidado será inexigível caso a reparação civil dos danos ambientais causados seja cum-prida integralmente.

COMENTÁRIOS

Questão errada. A reparação do dano ambiental não irá isentar a empresa de se submeter ao regu-lar processo de licenciamento ambiental.

(Juiz – 2014 – TJ-CE – FCC) O Estado Beta ajuizou uma ação civil pública em face de José Benedito visando retirá-lo de área de Parque Estadual, bem como a recuperação dos danos ambientais causados ao local. Durante a ação, ficou comprovado que: (i) o réu não tem título da área que ocupa com sua casa de veraneio, (ii) a ocupação ocorreu em momento posterior à criação do Parque Estadual, (iii) o réu possui no local criação de gado, galinha e porco. A ação deverá ser julgada

a) parcialmente procedente, apenas para retirar o réu do local.

b) parcialmente procedente, apenas para impor ao réu um regramento específico de utilização do local.

c) extinta, sem resolução de mérito, diante da falta de legitimidade do Estado Beta para figurar no polo ativo da ação.

d) improcedente, diante da hipossuficiência do réu.

e) procedente, uma vez comprovados os requisitos da responsabilidade civil ambiental.

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 384 18/07/2016 16:19:21

Capítulo 11 – Responsabilidade Civil por Danos Ambientais 385

COMENTÁRIOS

Letra e, certa. A referida ocupação no parque estadual é irregular, uma vez que se cuida de uni-dade de conservação de proteção integral de posse e domínio público (Lei 9.985/2000), não havendo a demonstração da propriedade privada e tendo havido apossamento indevido após a criação da uni-dade de conservação. Assim, o pedido na ação coletiva deverá ser julgado procedente, determinando--se a desocupação da área e impondo-se a obrigação de reparação do dano ecológico.

Letra a, falsa. O pedido deve ser julgado totalmente procedente.

Letra b, falsa. O pedido deve ser julgado totalmente procedente.

Letra c, falsa. O Estado possui legitimidade ativa para propor ação coletiva.

Letra d, falsa. O pedido deve ser julgado totalmente procedente.

(2014/CESPE/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo) As ações humanas que direta ou indiretamente prejudicam as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente são consideradas poluidoras para fins de responsabilização civil consistente no dever de reparar lesões ambientais causadas.

COMENTÁRIOS

Questão certa. A questão traz a terminologia do artigo 3º da Lei 6.938/81:

“Art. 3º – Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;

II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;

III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indi-retamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;

IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indire-tamente, por atividade causadora de degradação ambiental”.

Logo, a questão trata da definição de poluição, nos termos do inciso III, letra d. Por sua vez, o artigo 14, § 1º do mesmo diploma determina que “o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”, razão pela qual o enunciado é verdadeiro, pois o poluidor é responsável pela reparação da degradação causada.

(2014/CESPE/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo) Considere que uma determinada empresa, a qual em sua atividade rotineira é capaz de causar poluição, tenha requerido e obtido a licença ambiental necessária para o seu funcionamento. Uma semana após ser fiscalizada, atestando-se que suas práticas estavam obedecendo às exigências legais, foi detectada a ocorrência de dano ambiental causado por suas atividades. Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item.

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 385 18/07/2016 16:19:21

Revisaço – Direito Ambiental • Frederico Amado386

A empresa não pode ser responsabilizada civilmente e administrativamente, uma vez que obede-ceu a todas as exigências formuladas pelo órgão ambiental competente, bem como foi fiscalizada, não se encontrando nada de irregular em suas práticas.

COMENTÁRIOS

Questão errada. A licença ambiental, se regular e respeitada, impede a punição do poluidor (ins-tâncias punitivas: criminal e administrativa). A instância civil, por ser ressarcitória, persistirá, pois não afastada pelo licenciamento ambiental.

(2014/CESPE/PGE-BA/Procurador do Estado) Uma empresa brasileira de exploração de gás e petróleo, pretendendo investir na exploração de gás de xisto, obteve autoriza-ção de pesquisa do órgão competente e identificou, no início das primeiras pesquisas exploratórias, um potencial razoável para a exploração do gás em determinada área federal. Apesar de ainda não dispor de tecnologia que garantisse totalmente a proteção ambiental da área de exploração, principalmente, no que tange à água subterrânea, a empresa obteve a licença prévia para proceder à exploração de gás de xisto.

Com base nessa situação hipotética, nas normas de proteção ao meio ambiente e na jurisprudência, julgue os itens seguintes.

A responsabilização civil da empresa poderá ser objeto de ação civil pública ajuizada pelo MP caso ocorra dano superveniente da exploração do gás de xisto, a despeito da licença obtida pela empresa para operar.

COMENTÁRIOS

Questão certa. A licença ambiental, se regular e respeitada, impede a punição do poluidor (ins-tâncias punitivas: criminal e administrativa). A instância civil, por ser ressarcitória, persistirá, pois não afastada pelo licenciamento ambiental.

(2014/CESPE/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo) Uma associação de mora-dores, registrada no município de São Paulo há mais de dois anos, pretende ajuizar uma ação civil pública na justiça estadual contra a empresa SQC, que supostamente seria responsável pela contaminação de águas subterrâneas da região. Além dessa empresa, outras empresas da localidade também poderiam ser potencialmente causadoras do mesmo dano.

Com base na situação hipotética apresentada acima e em seus desdobramentos, julgue o item sub-secutivo. Nesse sentido, considere que a sigla CONAMA, sempre que empregada, se refere ao Conselho Nacional do Meio Ambiente.

A empresa SQC poderá ser responsabilizada civilmente pela totalidade do dano, mesmo que outras empresas tenham concorrido em uma proporção maior para a ocorrência do dano.

COMENTÁRIOS

Nota do Autor

Um caso com previsão legal expressa de poluidor indireto encontra-se insculpido no artigo 2.º, § 4.º, da Lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança), em que os financiadores de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGMs devem exigir dos executores Certificado de Qualidade em Biossegurança, emitido pela CTNBio, “sob pena de se tornarem corresponsáveis pelos eventuais efeitos decorrentes do descum-primento desta Lei ou de sua regulamentação”.

Questão certa. O STJ entende que todos os poluidores, diretos ou indiretos, responderão solidaria-mente pelos danos ambientais:

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 386 18/07/2016 16:19:21

Capítulo 11 – Responsabilidade Civil por Danos Ambientais 387

STJ – RECURSO ESPECIAL REsp 771619 RR 2005/0128457-7 (STJ)

Data de publicação: 11/02/2009

Ementa: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES DO STJ. PROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL. 1. No caso dos autos, o Minis-tério Público Estadual ajuizou ação civil pública por dano ambiental contra o Estado de Roraima, em face da irregular atividade de exploração de argila, barro e areia em área degradada, a qual foi cedida à Associação dos Oleiros Autôno-mos de Boa Vista sem a realização de qualquer procedimento de proteção ao meio ambiente. Por ocasião da sentença, os pedidos foram julgados procedentes, a fim de condenar o Estado de Roraima à suspensão das referidas atividades, à realização de estudo de impacto ambiental e ao pagamento de indenização pelo dano ambiental causado. O Tribu-nal de origem, ao analisar a controvérsia, reconheceu a existência de litisconsórcio passivo necessário em relação aos particulares (oleiros) que exerciam atividades na área em litígio e anulou o processo a partir da citação. 2. Na hipótese examinada, não há falar em litisconsórcio passivo necessário, e, conseqüentemente, em nulidade do processo, mas tão--somente em litisconsórcio facultativo, pois os oleiros que exercem atividades na área degradada, embora, em princípio, também possam ser considerados poluidores, não devem figurar, obrigatoriamente, no pólo passivo na referida ação. Tal consideração decorre da análise do inciso IV do art. 3º da Lei 6.938 /81, que considera “poluidor, a pessoa física ou jurí-dica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”. Assim, a ação civil pública por dano causado ao meio ambiente pode ser proposta contra o responsável direto ou indireto, ou contra ambos, em face da responsabilidade solidária pelo dano ambiental”.

Logo, mesmo que existam outros poluidores, é possível responsabilizar a empresa SQC pela totali-dade do dano.

(2013/FGV/ Exame de Ordem) João, militante ambientalista, adquire chácara em área rural já degradada, com o objetivo de cultivar alimentos orgânicos para consumo pró-prio. Alguns meses depois, ele é notificado pela autoridade ambiental local de que a área é de preservação permanente. Sobre o caso, assinale a afirmativa correta.

a) João é responsável pela regeneração da área, mesmo não tendo sido responsável por sua degradação, uma vez que se trata de obrigação propter rem.

b) João somente teria a obrigação de regenerar a área caso soubesse do dano ambien-tal cometido pelo antigo proprietário, em homenagem ao princípio da boa-fé.

c) O único responsável pelo dano é o antigo proprietário, causador do dano, uma vez que João não pode ser responsabilizado por ato ilícito que não cometeu.

d) Não há responsabilidade do antigo proprietário ou de João, mas da Administração Pública, em razão da omissão na fiscalização ambiental quando da transmissão da propriedade.

COMENTÁRIOS

Nota do Autor

Em positivação da jurisprudência consolidada do STJ, previu o novo CFlo (art. 2º, p. 2º) que “as obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural”. Logo, a aquisição de um imóvel rural ou urbano com um passivo ambiental responsabi-lizará o novo proprietário, mesmo que este já tenha adquirido o bem com a degradação ambiental perpetrada pelo antigo senhor, por se tratar de uma obrigação propter rem, a exemplo do dever de recuperar a vegetação nas áreas de preservação permanente e de reserva legal.

Letra a, certa. A responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva por força do artigo 14 da Lei nº 6938/81. No caso de novo proprietário ou possuidor que adquire imóvel com área de preservação permanente ou de reserva legal já desmatada, este assume a responsabilidade pela reparação por se tratar de obrigação propter rem de acordo com o STJ, independentemente de sua boa-fé: “Esta Corte Superior tem entendimento sedimentado no sentido de que os deveres associados às APPs e à Reserva Legal têm natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou posse. Por esse

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 387 18/07/2016 16:19:21

Revisaço – Direito Ambiental • Frederico Amado404

“Processual civil. Administrativo. Danos ambientais. Ação civil pública. Responsabilidade do adquirente. Terras rurais. Recomposição. Matas. Incidente de uniformização de jurisprudência. Artigo 476 do CPC. Facul-dade do órgão julgador.

A responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva, ante a ratio essendi da Lei 6.938/1981, que em seu artigo 14, § 1.º, determina que o poluidor seja obrigado a indenizar ou reparar os danos ao meio ambiente e, quanto ao terceiro, preceitua que a obrigação persiste, mesmo sem culpa. Precedentes do STJ: RESP 826.976/PR, Relator Ministro Castro Meira, DJ de 01.09.2006; AgRg no REsp 504.626/PR, Relator Ministro Francisco Falcão, DJ de 17.05.2004; RESP 263.383/PR, Relator Ministro João Otávio de Noronha, DJ de 22.08.2005 e EDcl no AgRg no RESP 255.170/SP, desta relatoria, DJ de 22.04.2003.

A obrigação de reparação dos danos ambientais é propter rem, por isso que a Lei 8.171/1991 vigora para todos os proprietários rurais, ainda que não sejam eles os responsáveis por eventuais desmatamen-tos anteriores, máxime porque a referida norma referendou o próprio Código Florestal (Lei 4.771/1965) que estabelecia uma limitação administrativa às propriedades rurais, obrigando os seus proprietários a instituírem áreas de reservas legais, de no mínimo 20% de cada propriedade, em prol do interesse cole-tivo. Precedente do STJ: RESP 343.741/PR, Relator Ministro Franciulli Netto, DJ de 07.10.2002.

Paulo Affonso Leme Machado, em sua obra Direito Ambiental Brasileiro, ressalta que ‘[...] A respon-sabilidade objetiva ambiental significa que quem danificar o ambiente tem o dever jurídico de repará--lo. Presente, pois, o binômio dano/reparação. Não se pergunta a razão da degradação para que haja o dever de indenizar e/ou reparar. A responsabilidade sem culpa tem incidência na indenização ou na reparação dos ‘danos causados ao meio ambiente e aos terceiros afetados por sua atividade’ (artigo 14, § 1.º, da Lei 6.938/1981). Não interessa que tipo de obra ou atividade seja exercida pelo que degrada, pois não há necessidade de que ela apresente risco ou seja perigosa. Procura-se quem foi atingido e, se for o meio ambiente e o homem, inicia-se o processo lógico-jurídico da imputação civil objetiva ambiental! Só depois é que se entrará na fase do estabelecimento do nexo de causalidade entre a ação ou omissão e o dano. É contra o Direito enriquecer-se ou ter lucro à custa da degradação do meio ambiente. O artigo 927, parágrafo único, do CC de 2002 dispõe: ‘Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem’. Quanto à primeira parte, em maté-ria ambiental, já temos a Lei 6.938/1981, que instituiu a responsabilidade sem culpa. Quanto à segunda parte, quando nos defrontarmos com atividades de risco, cujo regime de responsabilidade não tenha sido especificado em lei, o juiz analisará, caso a caso, ou o Poder Público fará a classificação dessas ativi-dades. ‘É a responsabilidade pelo risco da atividade.’ Na conceituação do risco aplicam-se os princípios da precaução, da prevenção e da reparação. Repara-se por força do Direito Positivo e, também, por um princípio de Direito Natural, pois não é justo prejudicar nem os outros e nem a si mesmo. Facilita-se a obtenção da prova da responsabilidade, sem se exigir a intenção, a imprudência e a negligência para serem protegidos bens de alto interesse de todos e cuja lesão ou destruição terá consequências não só para a geração presente, como para a geração futura. Nenhum dos poderes da República, ninguém, está autorizado, moral e constitucionalmente, a concordar ou a praticar uma transação que acarrete a perda de chance de vida e de saúde das gerações [...]’ in Direito Ambiental Brasileiro, Malheiros Editores, 12ª ed., 2004, p. 326-327” (STJ, REsp 745.363/2007).

11.2 DICAS

A responsabilidade ambiental das pessoas físicas e jurídicas poderá exsurgir em três esferas distin-tas: civil, administrativa e criminal.

De acordo com o artigo 225, § 3º, da Constituição Federal, “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e admi-nistrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.

Assim, essas três instâncias de responsabilidade ambiental gozam de previsão constitucional, sendo, em regra, independentes, salvo quando houver previsão legal em sentido contrário.

Uma dessas exceções foi positivada no artigo 935, do Código Civil, ao estatuir que “a responsabili-dade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”.

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 404 18/07/2016 16:19:22

Capítulo 11 – Responsabilidade Civil por Danos Ambientais 405

Logo, a absolvição penal lastreada na existência do fato ou de autoria vincula o juízo civil no julga-mento da ação que objetive a reparação dos danos ambientais.

Vale ressaltar que, enquanto a responsabilidade civil por danos ambientais não é normalmente sancionatória, pois visa a recomposição do dano causado ao meio ambiente, a responsabilidade admi-nistrativa e a criminal objetivam punir os infratores pela violação nas normas administrativas e penais, através da aplicação de sanções administrativas e penas, respectivamente.

O principal dispositivo legal no Brasil que contempla genericamente a responsabilidade civil por danos ambientais é o § 1º, do artigo 14, da Lei 6.938/81:

“§ 1º – Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, inde-pendentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente”.

Por esse dispositivo, nasceu a ação civil pública ambiental ainda no ano de 1981, antes mesmo da Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85), legitimando ativamente o Ministério Público para a sua propositura.

Outrossim, o legislador atribuiu ao poluidor a responsabilidade pela reparação ou indenização dos danos causados ao meio ambiente (dano imaterial) e a terceiros pelo desenvolvimento de sua atividade.

Ademais, foi instituído um sistema de responsabilização civil ambiental objetivo já em 1981 (antes do atual ordenamento constitucional), ou seja, independentemente da apuração de culpa do poluidor, que passou a ser irrelevante para a sua caracterização, bastando à conduta (comissiva ou omissiva), o dano ambiental e o nexo causal entre ambos para nascer à obrigação de reparação.

Há uma grande polêmica doutrinária se a responsabilidade civil objetiva ambiental fundamenta-se ou não na Teoria do Risco Integral. É que a responsabilidade civil sem culpa lastreada pelo risco inte-gral não será excluída pelo fortuito, força maior ou fato de terceiro.

No entanto, o Superior Tribunal de Justiça possui precedentes pela aplicação da Teoria do Risco Integral à responsabilidade civil por danos ambientais.

Por sua vez, o artigo 3º, inciso IV, da Lei 6.938/81, definiu o poluidor como a “pessoa física ou jurí-dica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”.

Assim, todos aqueles que, direta ou indiretamente, causem uma alteração adversa das caracte-rísticas do meio ambiente, passaram a ser responsáveis pela reparação do dano ambiental, inclusive as pessoas jurídicas de direito público.

De seu turno, o poluidor pode ser classificado em direto ou indireto. O poluidor direto é aquele que promove imediatamente a degradação ambiental, a exemplo de um agricultor que executa a der-rubada de uma floresta.

Já o poluidor indireto, conquanto não realize diretamente a degradação ao ambiente, faz parte da cadeia que ensejou a lesão ambiental, a exemplo de uma instituição financeira que liberou os recursos ao agricultor sem exigir previamente a licença ambiental.

Considerando o caráter indivisível que marca o dano ao ambiente, todos os poluidores, diretos ou indire-tos, responderão solidariamente pela reparação do dano ambiental, sendo esta a posição do STJ.

Demais disso, ainda para a Corte Superior, não se admite a denunciação da lide entre poluidores, devendo eventual ação regressiva ser exercida em processo autônomo.

No que concerne à Administração Pública, entende o STJ que a responsabilidade civil pela repara-ção do dano ambiental por atos comissivos e omissivos é objetiva, ilimitada, solidária, mas de execução subsidiária, pois o ente público apenas terá a execução direcionada a si quando o degradador direito não o fizer, após o esgotamento das vias ordinárias.

Em razão de o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado ser imaterial e de toda a coletividade, a pretensão de reparação do dano ambiental é perpétua, não se sujeitando a

prazos prescricionais de acordo com o STJ.

Impende salientar que o novo proprietário ou possuidor, que adquire um imóvel com a reserva legal e/ou área de preservação permanente desmatadas, mesmo sem ter causado diretamente o dano

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 405 18/07/2016 16:19:22

Capítulo 11 – Responsabilidade Civil por Danos Ambientais 407

11.3 LEGISLAÇÃO

a) CONSTITUIÇÃO, ARTIGO 225:

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

b) LEI 6.938/1981, ARTIGO 14:

Art 14 – Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

I – à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obriga-ções Reajustáveis do Tesouro Nacional – ORTNs, agravada em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios.

II – à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público;

III – à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;

IV – à suspensão de sua atividade.

§ 1º – Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

c) LEI 7.347/1985:

LEI Nº 7.347, DE 24 DE JULHO DE 1985

Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).

l – ao meio-ambiente;

ll – ao consumidor;

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)

V – por infração da ordem econômica; (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).

VI – à ordem urbanística. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. (Incluído pela Lei nº 12.966, de 2014)

VIII – ao patrimônio público e social. (Incluído pela Lei nº 13.004, de 2014)

Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 407 18/07/2016 16:19:22

Revisaço – Direito Ambiental • Frederico Amado410

Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor. (Incluído Lei nº 8.078, de 1990)

Art. 22. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. (Renumerado do art. 21, pela Lei nº 8.078, de 1990)

Art. 23. Revogam-se as disposições em contrário. (Renumerado do art. 22, pela Lei nº 8.078, de 1990)

Brasília, em 24 de julho de 1985; 164º da Independência e 97º da República.

JOSÉ SARNEY

Fernando Lyra

Este texto não substitui o publicado no DOU de 25.7.1985

11.4 JURISPRUDÊNCIA

“É firme a jurisprudência do STJ no sentido de que, nos danos ambientais, incide a teoria do risco integral,

advindo daí o caráter objetivo da responsabilidade, com expressa previsão constitucional (art. 225, § 3º, da

CF) e legal (art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/1981), sendo, por conseguinte, descabida a alegação de excludentes

de responsabilidade, bastando, para tanto, a ocorrência de resultado prejudicial ao homem e ao ambiente

advindo de uma ação ou omissão do responsável (STJ, REsp 1.175.907, de 19/08/2014).

STJ, INFORMATIVO 544 – “DIREITO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA POR

DANO AMBIENTAL PRIVADO.

O particular que deposite resíduos tóxicos em seu terreno, expondo-os a céu aberto, em local onde, apesar da

existência de cerca e de placas de sinalização informando a presença de material orgânico, o acesso de outros

particulares seja fácil, consentido e costumeiro, responde objetivamente pelos danos sofridos por pessoa que,

por conduta não dolosa, tenha sofrido, ao entrar na propriedade, graves queimaduras decorrentes de contato

com os resíduos. A responsabilidade civil por danos ambientais, seja por lesão ao meio ambiente propriamente dito (dano ambiental público), seja por ofensa a direitos individuais (dano ambiental privado), é objetiva, fundada na teoria do risco integral, em face do disposto no art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981, que consagra o princípio do poluidor-pagador. A responsabilidade objetiva fundamenta-se na noção de risco social, que está implícito em determinadas atividades, como a indústria, os meios de transporte de massa, as fontes de energia. Assim, a responsabilidade objetiva, calcada na teoria do risco, é uma imputação atribuída por lei a determinadas pessoas para ressarcirem os danos provocados por atividades exercidas no seu interesse e sob seu controle, sem que se proceda a qualquer indagação sobre o elemento subjetivo da conduta do agente ou de seus prepostos, bastando a relação de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e a situação de risco criada pelo agente. Imputa-se objetivamente a obrigação de indenizar a quem conhece e domina a fonte de origem do risco, devendo, em face do interesse social, responder pelas consequências lesivas da sua atividade independente de culpa. Nesse sentido, a teoria do risco como cláusula geral de responsabilidade civil restou consagrada no enunciado normativo do parágrafo único do art. 927 do CC, que assim dispôs: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. A teoria do risco integral constitui uma modalidade extremada da teoria do risco em que o nexo causal é fortalecido de modo a não ser rompido pelo implemento das causas que normalmente o abalariam (v.g. culpa da vítima; fato de terceiro, força maior). Essa modalidade é excepcional, sendo fundamento para hipóteses legais em que o risco ensejado pela atividade econômica também é extremado, como ocorre com o dano nuclear (art. 21, XXIII, “c”, da CF e Lei 6.453/1977). O mesmo ocorre com o dano ambiental (art. 225,caput e § 3º, da CF e art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981), em face da crescente preocupação com o meio ambiente. Nesse mesmo sentido, extrai-se da doutrina que, na responsabilidade civil pelo dano ambiental, não são aceitas as excludentes de fato de terceiro, de culpa da vítima, de caso fortuito ou de força maior. Nesse contexto, a colocação de placas no local indicando a presença de material orgânico não é suficiente para excluir a responsabilidade civil. REsp 1.373.788-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/5/2014”.

STJ, INFORMATIVO 388 – DANOS AMBIENTAIS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

A questão em causa diz respeito à responsabilização do Estado por danos ambientais causados pela invasão e constru-ção, por particular, em unidade de conservação (parque estadual). A Turma entendeu haver responsabilidade solidária do Estado quando, devendo agir para evitar o dano ambiental, mantém-se inerte ou atua de forma deficiente. A res-ponsabilização decorre da omissão ilícita, a exemplo da falta de fiscalização e de adoção de outras medidas preventivas inerentes ao poder de polícia, as quais, ao menos indiretamente, contribuem para provocar o dano, até porque o poder de polícia ambiental não se exaure com o embargo à obra, como ocorreu no caso. Há que ponderar, entretanto, que

Revisaco- Direito Ambiental-Amado-1ed.indb 410 18/07/2016 16:19:22