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 1 Capitães da Areia (1937)  Jorge Amado Autoria do resumo e análise: Lígia Rodrigues Balista  Jorge Amado Capa da primeira edição  1937 1. SÍNTESE DO ENREDO Primeira parte O autor conta algumas histórias sobre alguns dos principais Capitães da Areia (o grupo chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado; havia líderes). O clímax da primeira parte vem em dois momentos: quando os meninos se envolvem com um carrossel mambembe que chegou à cidade e experimentam as sensações infantis; e quando a varíola ataca a cidade, matando um deles, apesar da tentativa do padre José Pedro em ajudá-los. Segunda parte Relata a história de amor que surge quando a menina Dora se torna a primeira "Capitã da Areia". Apesar de inicialmente os garotos pensarem em estuprá-la, ela se torna tal qual uma mãe ou irmã para todos. E uma esposa para Pedro Bala. Ela e Pedro Bala são capturados

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Capitães da Areia (1937) – Jorge AmadoAutoria do resumo e análise: Lígia Rodrigues Balista

 Jorge Amado

Capa da primeira edição – 1937

1. SÍNTESE DO ENREDO

Primeira parteO autor conta algumas histórias sobre alguns dos principais Capitães da Areia (o

grupo chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado; havia líderes). O clímax daprimeira parte vem em dois momentos: quando os meninos se envolvem com um carrosselmambembe que chegou à cidade e experimentam as sensações infantis; e quando a varíolaataca a cidade, matando um deles, apesar da tentativa do padre José Pedro em ajudá-los.

Segunda parteRelata a história de amor que surge quando a menina Dora se torna a primeira "Capitã

da Areia". Apesar de inicialmente os garotos pensarem em estuprá-la, ela se torna tal qualuma mãe ou irmã para todos. E uma esposa para Pedro Bala. Ela e Pedro Bala são capturados

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e muito castigados. Conseguindo fugir, bastante enfraquecidos, amam-se pela primeira vezna praia. Logo em seguida ela morre.

Terceira parteMostra a separação dos meninos. Sem-Pernas se mata antes de ser capturado pela

polícia, que odeia; Professor parte para o Rio de Janeiro onde se torna um pintor de sucesso,

entristecido com a morte de Dora; Gato se torna um malandro de verdade, abandonando suaamante Dalva; Pirulito se torna frade; padre José Pedro finalmente consegue uma paróquiano interior, e vai para o sertão; Volta Seca se torna um cangaceiro do grupo de Lampião emata mais de 70 soldados antes de ser capturado e condenado; João Grande torna-semarinheiro; Querido-de-Deus continua sua vida de saveirista e capoeirista; Pedro Bala, cadavez mais fascinado com as histórias de seu pai, sindicalista, vai se envolvendo com osdoqueiros e os Capitães da Areia auxiliam nas greves. Pedro Bala abandona a liderança dogrupo, mas antes os transforma numa espécie de grupo de choque. Assim, Pedro Bala deixade ser o líder dos Capitães da Areia e se torna um líder revolucionário comunista.

Capa da edição de 1970

2. RESUMO DA OBRA

CARTAS À REDAÇÃOO prólogo do livro é formado por uma reportagem e por cinco cartas enviadas ao

 Jornal da Tarde, abordando os feitos dos Capitães da Areia e sua relação com a sociedadelocal.

Na reportagem, esses meninos são apresentados como ‚assaltantes e ladrões‛, ‚um

 bando que vive da rapina‛, crianças entre 8 e 16 anos que não têm moradia certa. Teriam essenome, pois ‚o cais é o seu quartel-general‛. A reportagem ainda aborda um assalto que teriaocorrido na residência do comendador José Ferreira, em que os meninos levaram objetos devalor da sala de jantar e conversaram com o neto do comendador, Raul Ferreira, de 11 anos, oqual se apresenta também como o incômodo dos moradores do aristocrático bairro, quepedem providências da polícia e do juizado de menores, para retomarem o ‚sossego‛ de suas‚distintas famílias‛ e terem um ‚justo castigo‛ aos ‚malandros‛. Na última parte dareportagem temos um trecho da entrevista com o menino Raul.

‚Raul mostrava uma grande coragem, e nos disse acerca da sua conversa com oterrível chefe dos ‚Capitães da Areia‛. 

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– Ele disse que eu era um tolo e não sabia o que era brincar. Eu respondi que tinhauma bicicleta e muito brinquedo. Ele riu e disse que tinha a rua e o cais. Fiquei gostando dele,parece um desses meninos de cinema que fogem de casa para passar aventuras.‛ 

Há então uma carta do secretário do chefe de polícia, alegando que a solução para esseproblema compete antes ao juiz de menores que à polícia. O juiz de menores também

escreve à redação, dizendo que a ele compete designar o local onde esses jovens devemcumprir sua pena e não capturá-los. Expõe também que não tem culpa se eles fogem doestabelecimento ‚de educação‛ para onde costumam ser enviados, local de ‚paz e trabalho eonde são tratados com o maior carinho‛.

Essa carta tem a resposta de uma mãe, costureira, que expõe um lado bem diferentesobre o reformatório para menores, mencionando os maus-tratos que essas criançasenfrentariam l{. Ela ainda afirma ser ‚por essas e outras que existem os ‘Capitães da Areia’‛ .Diz que o jornal deveria ir lá conferir com seus olhos e conversar com o padre José Pedro,que também conhecia as barbaridades do local.

O padre também escreve à redação do jornal, dizendo que essa mãe tem razão: que ascrianças são tratadas como feras, sofrendo espancamentos e castigos desumanos, que osfazem acumular ódio. O diretor do reformatório escreve, então, para desmerecer a cartadessa mãe e rebater os ditos dela e do padre, afirmando que seu estabelecimento cumpre ‚asanta missão de educar‛, submetendo as crianças ‚a uma vida exemplar‛. O diretor aindaafirma que o padre José estaria instigando os meninos à revolta e à desobediência e convidaum redator do jornal a conhecer o reformatório – num dia estabelecido por ele.

Essa parte do livro se encerra então com títulos da reportagem que teria sidopublicada na edição seguinte à visita do redator ao reformatório: os títulos apresentam olocal como ‚modelar‛, divertido, ‚uma grande família‛.

PRIMEIRA PARTESob a lua num velho trapiche abandonado

Ilustração de Poty 

O trapiche

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Temos a descrição do trapiche onde dormem as crianças – imenso casarão que serviacomo armazém, em frente à areia. Hoje, abandonado ao areal, se destaca na brancura daareia, em ruínas, e foi escolhido por parte dos Capitães da Areia como melhor abrigo do quea areia pura ou as pontes. Lá era também o depósito dos objetos que arranjavam essesmeninos de ‚todas as cores e de idades as mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos‛.É lá que mora também o atual chefe dos Capitães: Pedro Bala, de 15 anos, que tomou a chefia

de Raimundo, o Caboclo, após uma briga – Raimundo lhe deixara um corte de navalha comocicatriz no rosto.

‚Nunca ninguém soube o número exato de meninos que assim viviam. Eram bem unscem e destes mais de quarenta dormiam nas ruínas do velho trapiche. Vestidos de farrapos,sujos, semiesfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram,em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente aamavam, os seus poetas.‛ 

Noite dos Capitães da Areia  João Grande, negro forte e o mais alto do grupo, anda pela areia retornando ao

trapiche, fumando. Entra e se aproxima do Professor, que lê à luz de velas. João José, oProfessor, é o único que lê correntemente entre eles (e lê muito), conta aos outros histórias deaventuras e heroísmo e com sua imaginação ajuda a criar os melhores planos de roubo. Pertode João Grande, o Sem-Pernas está rindo – garoto coxo, espião do grupo, que utiliza de seudefeito físico para se meter nas casas de família. Sem-Pernas zomba de Gato, que acaba defurtar um anel.

Pedro Bala reúne alguns dos meninos para combinar o próximo plano: Gonzales do 14quer chapéus de feltro.

Apresentam-se também outros dos meninos, como Pirulito, menino que tem em seucanto duas imagens de santo, para quem ajoelha e reza, para fugir do mundo de sofrimentopara um mundo que conheceu nas conversas com o padre José Pedro. Sem-Pernas o observa,com misto de inveja e desespero: tem o costume de ridicularizar tudo, mas ri e ridicularizacomo remédio para fugir de sua desgraça. Tem um desejo de felicidade, de carinho e de fugirde toda aquela miséria e desgraça que os cerca. A rua é lugar de grande liberdade porém degrande abandono também. Sem-Pernas deseja algo que o livre dessa angústia e dessanecessidade de rir de todos. Mas não quer a reza como Pirulito, quer alegria e carinho. Queresquecer a humilhação e violência que sofreu quando preso.

Gato é o mais elegante do grupo, já adolescente; anda com o cabelo arrumado e umagravata enrolada no pescoço. Envolve-se com a prostituta Dalva, após muitas noites aesperando na rua das mulheres – por isso, sai do trapiche sempre à meia-noite, quase nuncadormindo por lá.

Sem-Pernas o observa sair. E observa também as cerca de cinquenta crianças queestavam lá, parte de um grupo de mais de cem. Tudo que tinham era a liberdade de correr asruas – coisa pouca para a desgraça daquela vida.

Brandão e Almiro saem para dormir juntos. Todos procuram um carinho.Pedro Bala acorda com um garoto que tenta roubar uma medalhinha de Pirulito, para

dar a uma garota que conheceu. Ameaça expulsar esse garoto do grupo. Pirulito dá aogaroto, escondido, a medalhinha que havia ganhado do padre.

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Volta Seca entra no trapiche trazendo um jornal e pede ao professor para ler a notíciasobre Lampião, que havia entrado em uma vila da Bahia. O garoto sorri e recorta o retrato dogrupo de Lampião.

Ponto das PitangueirasPedro Bala, Gato e João Grande se encontram de tarde com Querido-de-Deus, o mais

célebre capoeirista da cidade, para treinar capoeira e combinar um plano para noite. Antes,tiram dinheiro de dois marinheiros num jogo de cartas, trapaceado por Gato. Marcam para anoite de encontrar o homem que propôs negócio a Querido-de-Deus: a uma da manhã na ruaem que este morava. Os três dos Capitães da Areia vão. Encontram Joel, que se incomoda porverem que são meninos, mas acerta o negócio com eles, por cento e cinquenta mil réis.Deveriam ir a uma chácara, a duas ruas dali, e trocar um pacote de embrulho por um igual,que estava na casa aos cuidados de um empregado, sem que ninguém soubesse. Os meninosvão e realizam a tarefa com agilidade. Ainda não têm notícias do Sem-Pernas com o negóciodos chapéus.

As luzes do carrosselChega à cidade o Grande Carrossel Japonês – pequeno carrossel nacional que se

instala na Bahia. Nhozinho França conta ao Sem-Pernas e a Volta Seca o encontro com ogrupo de Lampião, que aproveitou as diversões de seu carrossel, e os convida a ajudarem noserviço enquanto estivesse por ali. Os dois meninos ficam muito entusiasmados, pelotrabalho e por poderem estar perto do carrossel.

‚Volta Seca e o Sem-Pernas nunca haviam acolhido uma com tanto entusiasmo. Elesmuitas vezes já tinham visto um carrossel mas quase sempre ouviam de longe, cercado de

mistério, cavalgadas seus rápidos ginetes por meninos ricos e choraminguentos. (...) E agora,de repente, vinha um homem que pagava cerveja e fazia o milagre de o chamar para viveruns dias junto a um verdadeiro carrossel, movendo com ele, montando nos seus cavalos,vendo de perto rodarem as luzes de todas as cores.‛ 

Sem-Pernas passa a ver Nhozinho França como um Deus, um ídolo. O carrossel évelho e desbotado, mas tem sua beleza. Na opinião dos Capitães da Areia é maravilhoso.Quando ficam sabendo do trabalho dos dois meninos, sentem inveja deles e daquelasuprema felicidade.

No dia seguinte vão todos ver o carrossel armado e ficam extasiados. Quase cemcrianças olhando o velho carrossel. Sem-Pernas mostra a máquina que o faz funcionar; VoltaSeca mostra o cavalo que tinha sido cavalgado por seu padrinho Virgulino Ferreira Lampião.Combinam então de todos andarem no carrossel no dia seguinte, depois de acabar a funçãode trabalho. Volta Seca coloca então a pianola para tocar e começa uma música de valsaantiga.

‚– Quer ver uma coisa bonita?Todos queriam. O sertanejo trepou no carrossel, deu corda na pianola e começou a

música de uma valsa antiga. O rosto sombrio de Volta Seca se abria num sorriso. Espiava a

pianola, espiava os meninos envoltos em alegria. Escutavam religiosamente aquela música

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que saía do bojo do carrossel na magia da noite da cidade da Bahia só para os ouvidosaventureiros e pobres dos Capitães da Areia.Todos estavam silenciosos.(...)

Então a luz da lua se estendeu sobre todos, as estrelas brilharam ainda mais no céu, omar ficou de todo manso talvez que Yemanjá tivesse vindo também ouvir a música e acidade era como que um grande carrossel onde giravam em invisíveis cavalos os Capitães daAreia. Neste momento de música eles sentiram-se donos da cidade. E amaram-se uns aos

outros, se sentiram irmãos porque eram todos eles sem carinho e sem conforto e agoratinham o carinho e conforto da música.(...)E era uma unidade valsa velha e triste, j{ esquecida por todos os homens da cidade.‛ 

A praça se alegra e se ilumina com o funcionamento do carrossel. Nhozinho Françacoloca Volta Seca e Sem-Pernas para andarem no brinquedo. Os dois meninos se divertem e,mais que isso – brincam e viajam cada um em seu sonho.

Na tarde em que iam todos andar no carrossel, o padre José Pedro faz uma visita. Eleera das poucas pessoas que sabiam onde era a pousada dos Capitães e havia se tornadoamigo deles por intermédio de Boa-Vida, desde quando este entrou na sacristia para umfurto. Há muito tempo que o padre José Pedro ouvia falar dos Capitães da Areia e sonhavaentrar em contato com eles, para trazer seus corações a Deus. Sentia muita vontade detrabalhar com aquelas crianças. O padre já havia sido operário antes de entrar para oseminário e não era considerado uma grande inteligência entre o clero. Era dos maishumildes. Não estava de acordo com muitas das coisas que aconteciam no seminário. Seugrande desejo era catequizar as crianças abandonadas da cidade, meninos que sem pai nemmãe viviam do roubo. O padre havia tentado então frequentar o reformatório de menores,mas discordava dos meios de castigo corporal que o diretor utilizava. Sabia que não haviapossibilidade de uma criança se tornar boa e trabalhadora lá. Chega até a escrever uma carta

ao jornal sobre isso, e tem suas visitas proibidas. Os menores abandonados eram sua maiorpreocupação e gostaria de ver se havia algum meio de melhorar sua situação. Sabia que avida deles era cheia de faltas (de conforto, de carinho), e marcada pela fome e pelo abandono.E, se não podia suprir os bens materiais, tinha ao menos palavras de carinho e muito amor nocoração. Inicialmente achava que podia encaminhar algumas das crianças às suas amigas

 beatas, mas depois entende que isso seria o abandono do que tinha de grande na vida deles:‚a aventura da liberdade nas ruas da mais misteriosa e bela das cidades do mundo, nas ruasda Bahia de Todos os Santos‛. Espanta as beatas bajuladoras, com quem nunca volta a teruma relação muito próxima.

Quando conhece o grupo dos meninos e ganha sua confiança, entende que seu projetoinicial era mesmo inútil e absurdo, pois ‚a liberdade era o sentimento mais arraigado noscorações dos Capitães da Areia‛. Trata-os como amigos.

Naquela tarde então os convida para andarem no carrossel, com um dinheiro quehavia pegado de uma parte de doação para comprar velas para a igreja. Diante da falta deanimação dos meninos, o padre fica desconcertado. O Professor então lhe explica que os doismeninos estão trabalhando lá e que eles foram convidados para andar de graça. Mas pedeque o padre não se zangue. O padre compreende e conta de onde é o dinheiro. Os meninosentendem e sentem a bondade do padre. O convidam para ir ao carrossel com eles. O padre

aceita e vai com um grupo até a praça. Os meninos se orgulham dos dois colegastrabalhando.

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Quando cruzam com a viúva Margarida, ela questiona o padre sobre estar naquelemeio e com aquelas companhias. Ele afirma que são crianças e cita o que disse Jesus Cristo:‚Deixai vir a mim as criancinhas‛. A viúva não se conforma e diz que eles são ladrões, e parao padre ter mais cuidado com suas relações. Pedro Bala e o padre riem. Os meninos admiramas crianças bem-vestidas no carrossel, desejando andar nos cavalos. O padre entende que defato são crianças.

De madrugada, os Capitães da Areia vão andar no carrossel:

‚E eles esqueceram não eram iguais |s demais crianças, esqueceram que não tinham,nem pai, nem mãe, que viviam de furto como homens, que temidos na cidade como ladrões.Esqueceram as palavras da velha de lorgnon. Esqueceram tudo e foram iguais a todas ascrianças, cavalgando os ginetes do carrossel, girando com as luzes. As estrelas brilhavam,

 brilhava a lua cheia. Mas, mais que tudo, brilhavam noite da Bahia as luzes azuis, verdes,amarelas, roxas, vermelhas, do Grande Carrossel Japonês.‛ 

DocasPedro Bala, Boa-Vida e Pirulito vão para as Docas esperar o barco do Querido-de-

Deus, que era pescador de profissão. Pedro Bala fala de sua vontade de trabalhar nos barcos.Encontram João Adão, negro estivador, forte, antigo grevista, e Luísa, negra velha quevendia laranjas. João Adão chama Pedro Bala de ‚capitão‛. Os dois contam aos meninossobre a primeira greve das docas chefiada por João Adão, um dos doqueiros mais velhosdali. Comentam sobre Raimundo, o ‚Loiro‛, que morreu com um tiro da cavalaria. PedroBala teria uns quatro anos nessa época. Depois disso, passou por algumas casas até fugir e setornar chefe dos Capitães da Areia. João Adão diz que Pedro deve ter uns quinze anos agorae que tem um lugar nas docas guardado pra ele. Pedro olha espantado; Boa-Vida pergunta

por quê. João explica que Raimundo era o pai de Pedro Bala e morreu ali, lutando pelosdireitos deles. Fazia discursos para os estivadores. Pedro fica contente em saber da históriade seu pai, que tinha sido um homem valente. E pergunta sobre sua mãe. Luísa diz a terconhecido, que teria sido de família rica, mas morreu quando ele tinha seis meses. Foiquando Raimundo foi para as docas. Pedro Bala pensa com empolgação na greve e olha comcarinho para os estivadores trabalhando. Seu pai fora um deles. No dia em que quisesse, teriaum lugar nas docas. Também poderia fazer greve, brigar com a polícia e vingar seu pai. Sorri.

Luísa convida Pedro para ir à festa de Omulu, no terreiro de Gantois. E diz que Omulunão era santo só dos negros, mas de todos os pobres.

Os meninos ajudam o Querido-de-Deus a desembarcar a pescaria e vão comer. Pirulitovai encontrar o padre José Pedro, que estava lhe ensinando a ler e a escrever, e os outros trêsmeninos vão ao candomblé. Omulu anunciava que o dia de vingança dos pobres chegaria.

Pedro Bala volta sozinho, descendo as ladeiras que o conduzem à Cidade Baixa. Vaidevagar, curvado por dentro. Pensa na conversa com João Adão – o alegrara saber que seupai tinha sido homem valente do cais, tinha deixado uma história. Chegando ao areal, vê umvulto de mulher no fim da rua. Uma negrinha de uns quinze anos, como ele. Com passorápido se aproxima dela, que percebe ser seguida. Ele observa seu corpo pelo vestido e adeseja. Apressa os passos, com vontade de possuir seu corpo quente de negra. Ela anda mais

rápido para fugir dele. Há silêncio por todo o cais, medo no coração dela e impaciência nocoração de Pedro Bala, que sorri com os dentes apertados, como um animal feroz caçando.

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Ela começa a correr e ele a alcança. Rolam na areia. O rosto da negrinha é de terror. Quandovê que o perseguidor é um menino, se anima a tentar ficar de pé e o encara, perguntando oque ele quer. Ele a agarra e a derruba na areia novamente. Ela volta a sentir medo. Ia da casada avó para sua casa, sua mãe a esperava. Mal fizera quinze anos, há pouco era mulher.Pedro Bala também só tinha quinze anos, mas há muito conhecia os segredos do amor dasmulheres. Ela pretendia reservar seu corpo para um mulato que a soubesse apaixonar. Tem

os olhos entupidos de medo. Luta para se afastar dele. Olha ao redor para pedir socorro, poralguém que lhe ajudasse a conservar sua virgindade. Mas no areal do cais da Bahia não hásenão sombras.

Pedro Bala acaricia seus seios e ela, no fundo de seu terror, sente um fio de desejo, quefaz crescer seu terror. Morde a mão dele, se levanta e corre. Ele não imagina que ela sejavirgem e insiste. Ela lhe diz que é virgem e pede angustiada que a deixe ir. Pedro Bala vacilae tem pena diante do choro da menina. Mas o desejo estava solto dentro dele e continua aacariciá-la. Propõe à garota de não tocar na frente, em sua virgindade. Ela compreende que senão o satisfizesse, perderia sua virgindade. E consente. Mas ele ainda tenta desvirginá-la. Elaconsegue se levantar gritando e chorando. Seus olhos cheios de pavor lhe defendem. Ele asolta depois que ela promete voltar no dia seguinte. Ela sai andando, chorando, e ele aacompanha. Ela tem os olhos cheios de ódio e desprezo. Pedro baixa a cabeça e não tem maisdesejo, mas tristeza em seu coração. Se sente mais fraco que ela. Ela o olha com ódio, corre elhe roga uma praga:

‚Mas na esquina mais próxima parou, virou para ele que ainda olhava e rogou pragacom uma voz que o encheu de medo:

– Peste, fome e guerra te acompanha, desgraçado. Deus te castiga, desgraçado. Filhode uma mãe, desgraçado, desgraçado – sua voz solit{ria atravessa a rua, abalava Pedro Bala.‛ 

Ele sente pena dela. Uma criança também.

Aventura de OgumEm uma noite de nuvens pesadas e rel}mpagos, Don’Aninha foi ao trapiche pedir um

favor ao meninos. A polícia tinha carregado Ogum durante uma batida no candomblé e elaqueria ajuda para resgatar a imagem. A amizade com os meninos nasceu da bondade demãe-de-santo, que tem palavra amiga para todos os negros e pobres da Bahia. Não bastasse amiséria dos pobres, não deixavam nem seu deus em paz, lhes tiravam até os santos.

Pedro Bala sente uma onda dentro de si: os pobres não tinham nada. Pensava no quelhe falava o padre José Pedro. Mas não achava justiça em igualdade somente no reino doscéus, se os homens já haviam sido desiguais na terra.

Pedro Bala promete trazer a imagem de volta. Os meninos levam a mãe-de-santo paracasa. No trapiche a chuva entrava pelos buracos do teto. Nessas noites não podiam dormir.Ficavam juntos e, além da cama quente e do quarto coberto, lhes faltavam as palavras docesque acabavam com o temor. Alguns tinham paletós. O Professor tinha um sobretudo queroubara de um homem de quem havia feito um desenho. O homem não lhe pagara pelodesenho e ainda havia lhe dado pontapés. Não compreendia aquele ódio dos homens bem-

vestidos. O Professor havia se vingado, cortando a mão do homem com a navalha e ficadocom o sobretudo, que nunca quis vender.

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Pedro Bala combina com Professor uma maneira de roubar a imagem de Ogum dapolícia. E avisa para todos de sua saída e do difícil plano. Tem receio de não voltar. Osmenores sentem o mesmo. Confiam nele e muitos não saberiam como se arranjar sem ele.Volta Seca pensa que quando Pedro Bala for grande como homem será corajoso comoLampião. Lampião dono do sertão, das caatingas, e Pedro Bala dono da cidade, das ruas, docais.

Pedro Bala revia seu plano: era a coisa mais arriscada em que já se metera.Don’Aninha merecia o risco. O plano era arriscado mas havia uma possibilidade de dar certo.Diante da Central de Polícia, o menino observa o movimento dos guardas. Sabia que aimagem estava na sala dos detidos. Planejava passar a noite lá e levar a imagem consigo aosair. Sua grande vantagem era não ser conhecido entre a polícia, mesmo todos desejandocapturar o chefe dos Capitães da Areia. Aproxima-se do guarda, com voz de criançatemerosa e diz que é de fora, seu pai não voltou depois do temporal e não tem onde dormir.O guarda lhe manda embora. Pedro espera um casal sair do bonde e ataca a mulher, como sefosse roubá-la. O guarda o prende e o leva à sala dos detidos, para esperar o comissário.Pedro conta ter planejado aquilo, para ter onde dormir. Na sala, vê a imagem de Ogum aolado do armário. Coloca seu paletó sobre ela, a enrola e deita no chão, fazendo que dormecom a cabeça sobre o embrulho. Foi o último da sala a ser chamado. Deixa o paletó lá. Contaa mesma história longa ao comissário e dá o nome de um saveirista de Mar Grande como sefosse de seu pai. Os guardas conferem na lista de registro do cais e o liberam. Ele pede seupaletó e sai com a imagem escondida. Encontra Professor, João Grande e Gato que vieramatrás dele. Narra suas aventuras da noite e confessa ter sentido medo. O céu está sem nuvense com sol.

Deus sorri como um negrinho

Um dia lindo, Pirulito anda alegre e despreocupado pela rua. O padre José Pedrohavia lhe prometido tentar um lugar para ele no seminário.

‚E pensando em Deus pensou também nos Capitães da Areia. Eles furtavam, brigavam nas ruas, xingavam nomes, derrubavam negrinhas no areal, por vezes feriam comnavalhas ou punhal homens e polícias. Mas, no entanto, eram bons, uns eram amigos dosoutros. Se faziam tudo aquilo é que não tinham casa, nem pai, nem mãe, a vida deles era umavida sem ter comida certa e dormindo num casarão quase sem teto. Se não fizessem tudoaquilo morreriam de fome, porque eram raras as casas que davam de comer a um, de vestir aoutro. E nem toda a cidade poderia dar a todos.‛ 

Pirulito se entristeceu pensando se estariam todos condenados ao inferno. Mas sabiaque eles não tinham culpa. ‚A culpa era da vida...‛ – padre José dizia isso, mas o doqueiro

  João Adão dizia que a culpa era da ‚sociedade mal organizada, era dos ricos...‛. Às vezespadre José Pedro concordava. Era difícil conciliar as coisas. João Adão dizia que só arevolução acertaria tudo. Os ricos da Cidade Alta queriam que os Capitães da Areia fossempara as prisões. João Adão, lá embaixo, queria acabar com os ricos, fazer tudo igual. O padrequeria dar casa, escola, carinho e conforto aos meninos sem acabar com os ricos, sem arevolução. Mas às vezes dava razão ao João doqueiro.

Pirulito havia mudado muito desde que começou a ouvir o padre. Antes tinha fama deser dos mais malvados. Agora tinha temor e amor a Deus. E se encontra diante de uma

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vitrine, indeciso diante de uma figura de um Menino nos braços de uma Virgem. Era umdeus criança, nu, pobre como pirulito. Quis levá-lo consigo. Acabar com a fome e a sededaquele Menino. Sentiu que estava pecando. Entende que a Virgem lhe entrega aqueleMenino e o recebe. Sente agora que o menino, em seus braços, sorri.

Família

Boa-Vida conta a Pedro Bala sobre uma casa em que havia muita coisa de ouro. Vãoaté lá observar e Pedro Bala conversa com a criada. No outro dia, Sem-Pernas toca acampainha, se apresentando como menino aleijado e órfão. Diz que procura comida, ondedormir e trabalho. A senhora que atende se lembra de seu filho, que tinha morrido com aidade daquele garoto, matando sua alegria e a do marido. Olha Sem-Pernas com carinho elha fala com voz doce. Faz com que ele entre e lhe dá banho, roupas, comida. Quandoperguntam seu nome, Sem-Pernas diz o primeiro nome que vem à cabeça: Augusto. Era omesmo nome do filho da senhora. Ela diz isso ao menino. Depois de vestir as roupas limpas enovas, Sem-Pernas olha a senhora e sente raiva – mas não sabe se dela ou de si mesmo.Dona Ester olha pra suas recordações. Seu menino era cheio de vida. Um dia, veio a febre.Depois que o pequeno caixão saiu pela porta, ela trancou as roupas do filho numa mala.Agora pegava a chave e abria a mala. Abraça as roupas como se abraçasse o filho e chora.Mas um menino órfão e pobre, aleijado e triste, com o mesmo nome de seu filho, bate à suaporta, pedindo pão, pousada e carinho. Por isso ela tem coragem de abrir a mala. Para ela,seu filho voltou na figura dessa criança.

Sem-Pernas, vestido com uma roupa azul de marinheiro, come o melhor almoço desua vida. Pensa nos meninos no trapiche e no gato. Daria muito para ser visto tão elegante.Dessa vez não o deixaram com a criadagem, nem num canto. Muitas vezes já fizeram aquilode se aproximar de uma família para planejar o roubo pros meninos. Mas antes parecia que o

recebiam como obrigação, por remorso. Sem-Pernas achava que eram todos culpados dasituação das crianças pobres. Odiava a todos. Mas desta vez estava sendo diferente. Era comoum hóspede querido. Ele não compreende. E tem medo de que nessa casa sejam bons paraele. Porque se esse ódio desaparecer ele morrerá, não terá mais razão pra viver. A lembrançados soldados que o espancaram irá sempre impedi-lo de ver o rosto de bondade de donaEster, a proteção do padre José Pedro, a solidariedade de João Adão. Seu ódio alcança atodos. Por isso tem medo de que sejam bons para consigo.

À tarde chega o dono da casa – Raul, advogado de nome. Sem-Pernas repete a históriainventada. Raul o convida a ir ao cinema e a tomar sorvete. Diz que faria dele um homem. De

noite dona Ester o põe no quarto e o beija na face, dizendo boa-noite. Era como se o mundotivesse parado naquele momento do beijo maternal. Depois vieram os pesadelos com ossoldados da cadeia.

Oito dias se passam e Pedro Bala vai procurá-lo. Fica espantado ao vê-lo arrumado epenteado. Diz que está demorando. Sem-Pernas diz que ainda observa e procura as coisas.Mas se sente um traidor do grupo. Enquanto estava no conforto, os Capitães da Areiacontinuavam malvestidos, mal alimentados, sob o trapiche. E eles eram os seuscompanheiros, os iguais a ele, vítimas de todos os demais. Não os trairia. Não seriacomprado pelo carinho. Mas pensou que então trairia dona Ester, que confiara nele. Decide-

se e chora. Ela o vê, o abraça e diz que agora ele tem outra mãe para lhe cuidar. Ele chora

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muito, soluçando no colo da senhora. Soluçava porque ia abandoná-la, ia roubá-la. Soluçoscomo pedidos de perdão.

Raul viaja e Sem-Pernas avalia que é a ocasião perfeita. Diz a dona Ester que vaipassear. Beija-a e não volta. Volta ao trapiche e, de noite, espera Pedro Bala voltar do furtocom os outros. Pede a Gato para trocarem de roupas. Recusa o dinheiro da sua parte dofurto, sem dar explicações. Volta Seca traz um jornal com notícias de Lampião e o Professor

vê uma notícia que fala de Sem-Pernas: uma família dizia que seu filho, de 13 anos, coxo,chamando Augusto, desaparecera. Oferecia gratificação por notícias do menino, os paisestavam aflitos.

Sem-Pernas fica sem palavras. Quando descobrissem o furto não mais o procurariamcomo filho desaparecido. Olha com ódio para todos. Rebenta em soluços. Só Pedro Bala e oProfessor compreendiam a dor de Sem-Pernas.

Manhã como um quadroPedro Bala e Professor passeiam pelas ruas. Estão invadidos pela alegria e riem. Não

tem roupas, não sabem o que comerão, mas estão cheios da beleza da liberdade de andarpelas ruas da cidade. E vão rindo sem ter do quê. De onde estão veem o Mercado, o cais e otrapiche onde dorme. Pedro diz que Professor devia fazer uma pintura daquela vista.Professor diz que pensa que pinturas dali são alegres, mas com os homens tristes.

‚– Tu não vê que tudo é mesmo uma beleza? Tudo alegre...Pedro Bala apontou os telhados da Cidade Baixa:

– Tem mais cores que o arco-íris...– É mesmo... Mas tu espia os homem, tá tudo triste. Não tou falando dos rico. Tu sabe.

Falo dos outros, dos das docas, do mercado. Tu sabe... Tudo com cara de fome, eu nem sei

dizer. É um troço que sinto...‛ 

Pedro diz que seria bom o Professor estudar na Escola de Belas Artes. Professordesenha pessoas que saem do bonde. Pedro recolhe o dinheiro que dão. Logo poderiamalmoçar. Professor desenha um homem de piteira com um livro. O homem gosta do desenhoe pergunta onde ele havia estudado. Fica incrédulo quando ouve que o garoto nunca estudoudesenho e lhe dá um cartão com um endereço, pedindo ao garoto para lhe procurar. Entrega-lhe também sua piteira, que Professor havia fitado com atenção. Um guarda se aproximaperguntando se os garotos haviam lhe roubado algo. O homem diz que não: eram duas

crianças – uma com ‚maravilhosa inclinação para pintura. Que pintor não seria!‛.Professor andava exibindo a piteira. Usa o cartão para desentupi-la e depois o joga

fora. Pedro lhe pergunta por que não vai guardá-lo e Professor diz que sabe que do meiodeles só sai ladrão.

AlastrimA varíola toma conta da cidade. No trapiche, Almiro cai com alastrim: começa com

coceira danada, braços vermelhos e febre. Sem-Pernas havia arranjado um cachorro ao qualse dedicava inteiramente. Leva o cão para longe de Almiro e diz que o garoto terá de sair do

trapiche. Não quer que ninguém lá pegue a doença nem que descubram onde eles dormem.Almiro chora e diz que não quer. Pirulito diz que é castigo e reza. Almiro desejava que

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esperassem Pedro Bala chegar. Volta Seca interfere entre Almiro e Sem-Pernas, apontandoum revólver e dizendo para esperarem Pedro para resolver. Pirulito vai chamar o padre JoséPedro.

Pedro Bala chega, com Professor e João Grande. Volta Seca conta que Sem-Pernasqueria expulsar Almiro. Pedro elogia Volta Seca por sua atitude. Pedro pergunta sobre adoença e Almiro confirma, chorando. Sem Pernas tem medo que descubram sobre o

esconderijo dos capitães. Padre José Pedro chega e sugere levar o garoto para o lazareto.Pedro Bala não concorda, pois ninguém voltava de lá. O padre diz que é a lei levá-lo paraassistência. Pedro acha que é melhor tratar dele lá mesmo do que deixá-lo morrer no lazareto.

  João Grande lembra que ele tem casa e decidem levá-lo para sua mãe, a contragosto dogaroto, que havia fugido. O padre arranjaria um médico para vê-lo. O médico denuncia ocaso de varíola – era lei denunciar à saúde pública todos os casos que conhecessem, e omédico estava cavando um lugar na saúde pública. Denuncia o padre também comoencobridor, e o arcebispado o chama. Na conversa com o cônego secretário do arcebispado, opadre José Pedro leva bronca por sua atitude em relação ao menino doente e por outrasqueixas, como ajudar os meninos de rua e os incitar contra a viúva. O padre faz muitasreflexões e sente medo. Tenta argumentar com o cônego. Diz que ninguém olha por aquelascrianças, que não têm culpa de sua situação. O bispo permite que ele continue como padremas não lhe dão a paróquia que havia pedido.

O cônego diz que ele parecia um comunista falando daquele jeito. Pede para sepenitenciar e esquecer aqueles ideais comunistas, que eram contra a Igreja.

O padre sai reflexivo e atordoado. O que mais lhe incomodava era aquela palavra:comunista. Um comunista como João Adão. João Adão era um homem bom. ‚E Cristo? Não,não podia pensar que Cristo fosse um comunista...‛. Só queria dar conforto |quelas almas emelhorar seus destinos. Cristo também pensava assim. Decide continuar: se estiver errado,

Deus o perdoará.Boa-Vida vê uma bolha em seu braço e nota que está com a febre da bexiga. A

epidemia já estava declinando, mas ainda havia muitos casos na cidade. Almiro não voltarado lazareto. Boa-Vida arruma suas coisas e diz ao Professor que vai embora. Pede para avisarPedro Bala. Pede também para Professor não desenhá-lo com as bexigas, quando fizer seuretrato. Professor o admira por esse andar para a morte, decidido. Em uma noite, Omolu foipara o sertão e levou a bexiga com ele. Boa-Vida voltou magro, com a cara toda picada. Nãoquer comentar nada sobre o lazareto. Diz que entrar lá é como entrar no caixão.

DestinoOs garotos e João Adão estão na Porta do Mar. Comentam sobre as mortes e um velho

diz que não se pode mudar o destino. João Adão diz que um dia se muda o destino dospobres. Pedra Bala repete: ‚um dia a gente muda...‛. Comentam que ele é filho do Loiro, quemorreu para mudar o destino de outros ali. A confiança vai de novo chegando a todos.

SEGUNDA PARTENoite da grande paz, da grande paz dos teus olhos

Filha de bexiguento

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No morro, a música voltara depois de muitas mortes. A epidemia de varíola tinha seacabado, mas o marido de Margarida havia morrido no lazareto. Ela estava com febre, masescondeu a notícia para não ser mandada dali metida num saco. Trabalhou mesmo doente emorreu dois dias depois. Dora, de 13 anos, não soluçava enquanto chorava. Pensava em seuirmão, Zé Fuinha, de 6 anos. Os vizinhos discutiam o que fazer com aqueles órfãos. A meninapega o irmão pela mão e desce para a cidade. Dora marcha tranquila. Haviam de encontrar

alguém que lhes desse de comer. Ela arranjaria um emprego. Param numa padaria paracomer. Ela segue até a casa de uma freguesa da sua mãe. Tinha vontade de chorar, de parar.Saudade dos pais mortos. Mas reagiu e continuou.

Diante da casa grande vê os filhos da dona e pede para falar com Laura, a patroa. Orapaz não para de olhar seus seios. A menina era bonita, olhos grandes, cabelo loiro, seios jásurgindo sob o vestido. Dona Laura lhe nega emprego quando sabe que a mãe morreu devaríola. Dá um dinheiro à menina e pede à empregada para limpar o portão com álcool.

Dora volta para encontrar o irmão. Sente cansaço, desânimo e saudade. Seus pés doeme sente fome. Não encontra emprego. Em todas as casas lhe dizem que não: o medo davaríola era maior do que a bondade. Dora gasta os últimos trocados em pão. Sente que acidade é sua inimiga. As casas bonitas não a quiseram. Chora. Seu irmão observa um jogo degude entre dois garotos. Ela vê que eles também estão com fome e lhes oferece pão. JoãoGrande e Professor conversam com Dora. Contam que Almiro também morreu da doença.Convidam a garota para dormir no trapiche. Reparam que ela é bonita – mas olham para ocabelo loiro, e não para os seios. Seguem calados ao lado da garota, carregando Zé Fuinha.

Entram no trapiche e todos os olham. Aproximam-se querendo saber quem é amenina. Vários querem estuprar a garota, dizendo que ela não pode ficar só para JoãoGrande e Professor. João Grande se põe na frente dela e puxa o punhal. Professor diz que nãopassa de uma menina. Volta Seca e Boa-Vida se aproximam e brigam com os dois outros

garotos. Dora sente medo. A voz de Pedro Bala faz com que parem. Volta Seca reclama queos dois haviam arranjado comida e só queriam para eles. Pedro Bala olha para menina, vê ospeitos e o cabelo e acha que estão no direto. Diz a João Grande para sair. Mas João olha Pedroespantado e diz que comeria o primeiro que chegasse ali. Diz a Pedro que é só uma menina.Que lutaria mesmo com Pedro Bala se ele se aproximasse. Pedro vê Dora com outros olhos:vê o terror em seu rosto e suas lágrimas. Ouve o choro de Zé Fuinha. João conta que seus paismorreram e que ela não tinha onde dormir, por isso a levaram até lá. Não é uma puta, masuma menina. Pedro passa para o lado de João Grande e Professor. Diz a Dora para não termedo. Mas diz a todos que ela vai embora no dia seguinte, pois não queria menina ali. Todos

acabam se afastando. Dora disse que ficaria e ajudaria. Sabia cozinhar, lavar, coser, passarroupa. E que Pedro Bala havia dito que ninguém faria mal a ela.

Dora, mãeDora ajuda Gato a enfiar a linha numa agulha e costura o paletó dele. Conserta

também a camisa do garoto, sem que ele a tire do corpo. As mãos dela tocando suas costas ofazem lembrar-se de sua Dalva e depois de sua mãe. Pois não era um arrepio proposital.Dora não queria excitar, mas era um carinho bom. Ele sente felicidade, sem desejo. Sentecomo se sua mãe tivesse voltado. Recorda-se de que é somente uma criança. Diz a Dora que

ela é a mãezinha de todos, agora. O Professor compreende. Gato sente que há qualquer coisade novo no trapiche: há carinho e cuidados de mãe, agora.

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Professor lê uma história de heroísmo. João Grande, Dora e Volta Seca ouvem.Amavam o heroísmo. Volta Seca repara nos olhos de Dora, ouvindo a história: ela tambémamava o heroísmo. Riam juntos. Os outros se aproximam. O rosto de Dora os fitava comcarinho de mãe. Gargalham juntos e a olham com amor. Como crianças olham pra a mãemuito amada. Volta Seca diz a ela que sua mãe era muito valente, um mulherão. E que Dorase perecia com ela. Professor pensa: ‚Também ele descobriu sua mãe‛.

Para Pirulito, Dora era o pecado. Olhava-a com receio. Tinha medo da tentação.Quando ela se aproxima das imagens de santo dele e as elogia, o medo começa a desaparecer.Ele a olha com satisfação. Dora escuta as histórias dos santos com simpatia e atenção. Pirulitocompreende que ela o ouve com o carinho de uma mãe. Conta a ela que quer ser sacerdote elhe dá a imagem do Deus Menino.

Pedro Bala estava deitado na areia. Professor e Dora se ajuntam a ele. Pedro diz àgarota que ela devia ir embora. Ela fica triste. Professor explica que ela está sendo como umamãe para todos. Pedro pensa que para ele era tudo: esposa, irmã, mãe. E a deixa ficar. Dorasorri: ele era seu herói. Amava-o como um filho, um irmão, um amado. Para o Professor elatambém era a amada.

Dora, irmã e noivaDora queria ser totalmente um dos Capitães da Areia, então troca o vestido por uma

calça. Quando aparece na frente de Pedro Bala ele ri. Ela diz que quer participar dos assaltos,pois não era justo comer sem ajudar. Pedro diz que isso não é coisa pra menina, que temreceio de que ela seja pega e mandada para o orfanato. Mas no fundo gosta da atitude dela.

Ela passou a andar pelas ruas com eles, igual a um dos Capitães da Areia. ‚J{ não achaa cidade inimiga‛. Era {gil e andava sempre com Pedro Bala, João Grande e Professor. João aachava tão valente como Pedro Bala. Professor sonhava com um olhar carinhoso dela – mas

não de carinho maternal, nem fraternal. Queria um olhar de amor, como os que ela lançavapara Pedro e ele nem percebia.

Pedro Bala volta um dia machucado, pois havia cruzado com Ezequiel, chefe de umgrupo adversário de meninos mendigos. Apanhara dele e dos três que estavam juntos.Brigaram, pois Ezequiel ameaçou visitar o trapiche ao saber que l{ havia agora uma ‚putinhapra todo mundo‛. Pedro Bala apanha dos quatro para defender Dora.

Chegando ao trapiche, Dora está sozinha com o irmão. Ela limpa os machucados dePedro e pergunta o motivo da briga. Quando ele confirma que foi por ela, ela o beija. E foge.Ele corre atrás dela. Aos poucos os outros chegam e, de longe, os dois trocam sorrisos e

olhares. O olhar dela era diferente do olhar de irmã que tinha para os outros. Era um doceolhar de noiva. Mais tarde, vão deitar na areia e Pedro lhe diz que ela agora era sua noiva.Um dia iriam se casar. Ela diz que ele era o noivo dela. ‚Mesmo não sabendo que era amor,sentiam que era bom‛. 

Pedro Bala planeja junto com os garotos uma vingança contra Ezequiel. Saem em unstrinta; Dora vai junto. Levam navalhas e punhais – mas só sacarão se os outros puxaremantes. Têm uma lei e uma moral, um sentido de dignidade. Entre os garotos e Dora, sechamam de irmãos. Ela também os trata por ‚irmãos‛ e ‚mano‛. Nenhum sabe que paraPedro Bala ela é a noiva. Nem o Professor, que dentro de seu coração também a chama de

noiva.

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Voltam alegres, comemorando a vitória. Alguns machucados, mas todos alegres,comentando a coragem de Dora.

Ela conta coisas do morro para Pedro. Riem inocentes deitados na areia, ‚felizes porestarem um ao lado do outro‛.

Reformatório

O   Jornal da Tarde traz manchete na primeira página sobre a prisão do chefe dosCapitães da Areia, com foto de Pedro Bala, Dora, João Grande, Sem-Pernas e Gato. Esse feitoda polícia seria parte de uma ‚campanha meritória‛ contra os menores ‚delinquentes‛ – incentivada pelo jornal e pelo diretor do reformatório. Os garotos foram pegos numatentativa de assalto a um palacete.

Pedro Bala fica preso e é enviado ao reformatório; e Dora, que se declara noiva dePedro, é mandada para o orfanato. Os demais membros conseguiram escapar após confusãocausada por Pedro com golpe de capoeira. Pedro não quer declarar às autoridades o localonde dormiam os Capitães da Areia e guardavam seus furtos. Só diz seu nome e que erafilho de um antigo grevista.

O diretor do reformatório diz que lá o garoto vai se regenerar, não conseguirá fugir econtará onde é o local em que dormem.

No trapiche, o Professor lê a notícia para os outros. Declara Sem-Pernas como chefepor enquanto e planejam livrar Pedro.

Na prisão, Pedro Bala apanha no interrogatório, mas não conta onde dormiam osCapitães. Leva chibatadas, socos e pontapés. Sabe que a segurança dos outros meninosdepende dele. Sente até orgulho. Não fala. Pensa em fugir e libertar Dora. E se vingar. Sente ocorpo todo doer e até desmaia. É levado pelo bedel à cafua e mantido apenas com água efeijão. Não pode se esticar, nem deitar, nem ficar em pé. Sente dor e muita sede. Pensa no

valor da liberdade. Pensa em Dora, sua noiva. Antes não via as mulheres assim. Aprendera oamor com o gemido das negrinhas sob seu corpo no areal. Agora era outra maneira de amor.Contenta-se em conversar com ela, pegar em sua mão. Tinha vontade de possuí-la, mas nãosó por uma noite: pela vida toda. Um dia seria sua esposa. Achava-a valente, e sorri comorgulho, apesar das dores, do cansaço e da sede. Na escuridão, sente muita sede e raiva. Vê acara malvada do diretor. Pensa em enterrar seu punhal no coração dele. Pensa em Lampiãocomo um vingador e o ama. Grita, xinga. Esmurra a porta. Ninguém o atende. Lembra queum dia um velho disse que não se mudava o destino, mas João Adão disse que se mudavasim. Ele acreditava naquilo. Quando saísse, iria ser doqueiro também. Pensa no padre, que

sabia que o reformatório era assim, mas que não podia fazer muito. Pensa em pedir à mãe-de-santo um feitiço forte para matar o diretor. O cansaço o vence e, apesar da dor, dorme.Tem sonhos terríveis.

Acorda com alguém batendo à porta, dizendo que tinha um recado para ele, mas quevoltava depois quando não tivesse gente por perto. Pedro fica alegre. Pensa que o recado é deDora ou do grupo. Ali é sempre noite. Enquanto não o tirarem de lá, não poderá ajudar Dora.O bedel traz um caneco de água e um prato com alguns caroços de feijão boiando. Pedropede mais água, mas o bedel diz que só no outro dia. Come o feijão com água salgada. Sentemais sede.

Novamente batem à porta. Um menino diz que mandaram dizer que vão tirá-lo de lá, assimque sair da cafua. Pedro diz que está com sede. Mas o garoto não tem como lhe passar água.

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Passa um cigarro. Pedro ouve o menino apanhar lá fora. Fuma e quer dormir. Não consegueter noção do tempo. Está fraco. O cheiro do quarto é horrível: não retiraram o barril ondedefeca, com dores e dificuldade. Apenas o ódio o faz se manter em pé. Não tem forças pragritar. Acha que vai morrer ali. Recebe feijão pela quarta vez. Depois do quinto dia e antes doquinto feijão, recebe mais um cigarro do garoto com quem conversa, que o reanima umpouco. O ódio cresce em seu coração. Pensa em Dora – pensa que ela morre lentamente.

O diretor o retira de lá. Cai no chão de tão fraco e magro. Vai trabalhar na plantaçãode cana. Raspam sua cabeça, dão-lhe calças e paletó azul. O bedel lhe entrega objetos paratrabalhar no canavial, com outros meninos. Pedro Bala mal aguenta o facão.

À noite, olha os meninos tentando descobrir com quem falara. No escuro dodormitório, um garoto revela que foi ele e diz que os meninos têm voltado todo dia parasaber de Pedro.

Um dia, Pedro Bala vê Sem-Pernas passando na estrada, ao lado do canavial. Depois,consegue passar um bilhete a ele. Sem-Pernas deixa, de noite, uma corda entre as moitas.Pedro aproveita uma confusão causada por uma briga com outro garoto e leva a corda paraesconder em seu colchão. Volta para o canavial.

Espera duas noites, para a vigilância acalmar depois da confusão, e amarra a cordapela janela, tentando não fazer barulho. Mas um de seus vizinhos acorda e pergunta se elevai sair. O garoto não tem boa fama – costuma delatar. Pedro o ameaça, dizendo que oscolegas o matam se ele falar. Amarra o lençol na ponta da corda, que era curta, e passa ocorpo pela janela. Desce e salta no chão, já correndo. Tira a roupa para despistar os cachorros.

Professor lê a manchete do jornal que conta sobre a fuga do chefe dos Capitães. Todo otrapiche ri.

Orfanato

Um mês de orfanato acaba com a saúde e a alegria de Dora. Fizeram-lhe duas traças,lhe deram um vestido azul. Tinha de ouvir aulas com meninas de 5 e 6 anos. Teve dias defebre. Às vezes avistava Professor e João Grande perto das grades. Um dia lhe passaram um

 bilhete dizendo que Pedro Bala fugira e viria tirá-la dali. Pediam para ela arranjar um meiode ir à enfermaria. Mas nem foi preciso armar nada, pois uma irmã notou que ela ardia emfebre. O sol não entrava na enfermaria, mas naquele dia a luz entrou: Pedro Bala, muitomagro, como João Grande, Gato e Professor, que mostra uma navalha à irmã. Dora estámuito doente e a irmã diz isso aos meninos. Mas Dora diz que iria com eles. Saem pela porta.Dora nem sente a febre, pois está junto com Pedro Bala.

Noite de grande pazOs Capitães da Areia olham Dora em silêncio – sua mãe, irmã e noiva. A mãe-de-santo

reza uma oração para a febre desaparecer. Parece que a grande paz da Bahia está nos olhosda garota. Mas onde está a alegria daqueles olhos? Só há a grande paz da noite, que não estáno coração dos meninos – têm receio de perder Dora. ‚A paz da noite envolve o trapiche‛.

Dora, esposaPirulito vai chamar o padre para dar remédio à Dora. Estão todos silenciosos; Dora

pede que durmam. Pensam na febre dela. Zé Fuinha não compreende bem o que se passa.

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Sabe que ela está doente, mas não pensa que pode abandoná-lo. Os Capitães temem que issoaconteça.

Dora chama Pedro e pede que ele se deite junto dela. Os outros se afastam. Ela leva amão de Pedro ao seu seio, fazendo com que ele a acaricie. Diz que já virou moça e pode sersua mulher. Ele hesita, pois ela est{ doente. Mas ela insiste: ‚Antes de eu morrer. Vem...‛.  Abraçam-se com desejo. Pedro não quer magoá-la, mas ela não demonstra sinais de dor em

sua posse. Seu rosto se enche de alegria. Os corpos se desunem e ela diz que é sua mulher.Ele beija seu rosto, cheio de paz. E fita-a com amor. Esposa. ‚A paz da noite envolve osesposos‛.

Na madrugada, Pedro põe a mão na testa de Dora e a sente fria. Seu coração não batemais. Professor não tem coragem de tocá-la. O padre confirma sua morte e inicia uma oração.Pedro tapa os ouvidos e rompe em soluço. A mãe-de-santo Don’Aninha diz que Dora foicomo sombra e vai voltar santa. Os homens e mulheres valentes viram santo dos negros.Padre José Pedro diz que ela vai por céu, pois não tinha pecado. Esperam que Querido-de-Deus leve o corpo da garota ao seu saveiro e o jogue no mar. Pedro Bala não fala. Há paz nanoite e nos olhos mortos de Dora. Alguns meninos choram. Pedro Bala abraça o cadáver.Professor diz para deixá-la. Levam-na para a paz da noite, para o mistério do mar. Do areal,Pedro vê o saveiro se afastando. ‚H{ uma paz na noite. Paz que veio dos olhos de Dora‛.

Como uma estrela de loira cabeleiraContam no cais que quando morre um homem valente, vira estrela no céu. Nunca se

viu caso de mulher assim. Mas Pedro vê que Dora virou uma estrela no céu.Pedro Bala se joga na água, quer acompanhar Dora. Nada, seguindo a rota do saveiro.

Nada até não ter forças. Boia olhando para o céu e vê as estrelas. Vê Dora feito estrela, indopor céu. Ela fora mais valente que todas as mulheres. Tão valente que mesmo sendo uma

menina, se dera ao seu amor antes de morrer. A felicidade ilumina o rosto de Pedro Bala. Apaz da noite também vem para ele, que sabe que ela brilhará para ele entre as estrelas do céu.

TERCEIRA PARTECanção da Bahia, Canção da Liberdade

VocaçõesA presença de Dora tinha sido rápida, porém muito marcante, e sua imagem ainda

enchia as noites no trapiche. Para Professor, o trapiche mudara de significação após a mortedela. Um dia ele decide arrumar suas coisas e partir para estudar pintura no Rio de Janeiro.Havia procurado aquele senhor que lhe dera uma piteira e seu endereço. Conversa comPedro Bala e diz que um dia vai mostrar como é a vida deles. Pedro diz que ele vai ajudar amudar a vida deles. Não sabe explicar, mas tinha confiança no Professor: ‚nos quadros queele faria, na marca de ódio que levava dentro de si. Não se vive inutilmente entre os Capitãesda Areia‛. João Grande e Volta Seca se mostram tristes. 

No cais, v{rios dos garotos vão se despedir do Professor. ‚Nunca um passageiro deterceira teve tanta gente na sua despedida‛. Professor não sabe como agir longe dos Capitães,

mas, mais tarde, a marca de amor à liberdade o faria pintar, por sua conta, quadros queespantariam e deixariam todo o país admirado.

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Um ano depois, Pirulito começa a trabalhar como engraxate, vendedor, carregador.Não furtava mais para viver, mas Pedro Bala o deixa continuar vivendo com eles. Pirulitosente o chamado de Deus: está marcado por Deus mas também pelos Capitães.

Padre José Pedro é chamado novamente pelo arcebispado. Mas desta vez o cônegoestá acompanhado pelo superior dos capuchinhos. O padre sente que conseguira dar umpouco de conforto, carinho e solidariedade aos meninos. O arcebispado resolveu lhe dar uma

paróquia, esperando que o padre pensasse mais em suas obrigações. Iria para o sertão, para omeio dos cangaceiros. E Pirulito ia ser frade dos capuchinhos.Na despedida do padre, vários dos Capitães aparecem. Pedro Bala diz que o padre foi

um homem bom para eles e que não o esquecerão. Pirulito aparece já como frade, com batinafranciscana.

Boa-Vida se tornou um malandro nas ruas da Bahia: tem um violão, faz samba, vaisempre às festas. Afasta-se aos poucos dos Capitães. Quando tiver dezenove anos já nãovoltará – será um malandro completo, amado e admirado pelos futuros Capitães da Areia.

Um dia, Pedro Bala e Sem-Pernas entram numa igreja e veem um grupo de meninospobres com um capuchinho lhes ensinando catecismo. É Pirulito. Sem-Pernas comenta que a

 bondade não basta. Pedro diz que nem o ódio nem a bondade, mas é preciso pensar na luta – ouve a voz de João Adão e de seu pai.

Canção de amor da vitalinaOs Capitães da Areia preparam mais um golpe numa casa rica: uma solteirona de 45

anos. Sem-Pernas vai se aproximar como sempre faz, para entrar na casa. A solteira o acolhedentro de casa, mas não só por bondade: a voz do sexo fala também dentro dela. Ela o achoulindo, apesar da perna coxa e cara feia. Se curva, mostrando os seios a ele, que desvia o olhar.Arrumam um colchão na sala para o garoto dormir. No meio da noite, a solteirona vai até a

sala e começa a tocar no garoto. Ergue sua roupa e toca o sexo de Sem-Pernas, mas não aceitaque fizessem tudo. Era uma coisa incompleta, o que começa a irritar o garoto. Várias noitesassim se seguem. Sem-Pernas quer fazer o amor completo, mas a impossibilidade faz seuódio crescer. Porém seu desejo o mantém ali. Pedro Bala reclama da demora e realizam oassalto. A vitalina se enfurece com o roubo. Chora e tem raiva do garoto. No trapiche, Sem-Pernas ri, mas sabe que ela o fez ainda pior, aumentando o ódio latente em seu coração.

Na rabada de um tremIlhéus torna-se uma cidade rica e movimentada, com a alta do cacau. Navios cheios de

mulheres chegam atrás dos coronéis. Dalva também resolve se mudar pra lá e leva Gato comela. Ele está com quase dezoito anos, numa roupa elegantíssima. Era o mais jovem dosvigaristas da Bahia. Despede-se de Pedro Bala, que sorri. Sabe que não seriam meninos todavida – na verdade nunca tinham parecido crianças. Eram como homens. A diferença estavano tamanho, no resto eram iguais: derrubavam as mulheres no areal, furtavam, tinhamresponsabilidades. Nunca tiveram um ambiente de crianças. Tiveram sempre que cuidar desi mesmos.

Pedro vê que aos poucos os garotos vão partindo do trapiche. Agora é Gato. Nãodemorará para serem outros. Só ele não sabe o que fazer, para onde ir. Não será intelectual,

nem malandro, nem padre, nem vigarista. Só as palavras de João Adão tocam seu coração.

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Pedro sente o espetáculo dos homens; o valor da liberdade. Quer algo que não sabe ainda,por isso ainda se demora entre os Capitães.

Volta Seca também parte: vai na rabada de um trem. Vai para Aracaju, passar umtempo com meninos de lá. Sente o chamado do sertão, da luta do cangaço. Já havia sidopreso e apanhado muito dos guardas. Agora sente que sua missão na vida é matar soldadosde polícia. Durante a viagem sente o sertão entrar por seu nariz e pelos olhos. Nunca tinha

sido um menino da cidade como os outros. Ele e sua mãe eram da terra. Ela havia morridodepois dos coronéis tomarem sua terra. Volta Seca aprendera que não era só no sertão que oshomens ricos eram ruins com os pobres. Na cidade, aprendera que crianças pobres sãodesgraçadas em toda parte. Agora volta para o sertão e sente que a caatinga é de todos, poisLampião a libertou. Volta Seca o via como um libertador, um novo Zumbi dos Palmares. Nosertão tudo é lírico, pobre e belo – somente a miséria dos homens é terrível.

Quando o trem para, Volta Seca pula e se aproxima dos cangaceiros que apontamfuzis para o trem. Volta Seca vê Lampião e não se aguenta de alegria. Chega junto de seupadrinho e se apresenta. Lampião o reconhece e sorri. Aceita que ele se junte e lhe dá umfuzil. Dividem depois o dinheiro da coleta do trem. Quando vão matar os soldados, VoltaSeca se oferece, contando que já havia apanhado muito deles, assim como outros meninos.Mata os soldados, saciando sua vingança. Lampião fica orgulhoso.

Como um trapezista de circoApós um ataque audacioso a uma casa perto de uma praça cheia de guardas, Sem-

Pernas foge seguido de perto pelos guardas. Os outros conseguiram sair. Ele corre, tentandoescapulir, driblando os guardas. Não queria que o pegassem. Lembra de quando fora preso.Sabe que gostariam de pegá-lo: era uma bela façanha prender um dos Capitães da Areia. Massua vingança será essa: não deixar que o peguem; não tocarão em seu corpo. Sente seu ódio – 

nunca tivera uma alegria de criança. Amava unicamente seu ódio, que o fazia corajoso e forteapesar do defeito físico. Os guardas se aproximam, mas ele não para. Sobe num pequenomuro, vira para os guardas, cospe em um deles e se atira de costas como um trapezista decirco. A praça se espanta e ele se arrebenta na montanha, como um trapezista que nãoalcança o outro trapézio. Seu cachorro late entre as grades.

Notícias de jornalO Jornal da Tarde publica o sucesso da exposição de um jovem pintor baiano até então

desconhecido – trata-se do Professor. A crítica de arte fala das qualidades de defeitos do

‚novo pintor social‛, que trata de cenas e retratos de meninos pobres. Ressalta que ossentimentos bons são sempre ligados, nos quadros, a uma figura de uma menina magra decabelos loiros e faces febris, enquanto os sentimentos maus estão sempre representados porum homem de sobretudo. A crítica o trata como ‚pintor João José‛.

Meses depois, outra notícia fala de um jovem vigarista preso – o Gato. Outra, fala deum malandro conhecido como Boa-Vida, que armara uma confusão em uma festa e estavasendo procurado pela polícia. Outra notícia ainda fala de uma criança de dezesseis anos queacompanha o grupo de Lampião – trata-se de Volta Seca, que se tornara um jovem cangaceiromuito temido no sertão, conhecido por matar cerca de 70 pessoas. Acaba processado pela

morte de 15.

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CompanheirosHá um movimento novo na cidade. Pedro Bala, João Grande e Barandão saem do

trapiche e observam os estivadores, com João Adão à frente, indo prestar solidariedade àgreve dos condutores de bonde. Os garotos acham bonito aquele movimento todo. Ficam naporta do sindicato e veem as manifestações de alegria a João Adão e aos outros estivadores.Pedro Bala acha bonito o espetáculo da greve, e uma das mais belas aventuras dos Capitães

da Areia. Tem vontade de entrar, de se misturar com os grevistas, lutar ao lado deles.De noite, no trapiche, Pedro procura Dora no meio das estrelas do céu – ela que viveraigual a um Capitão da Areia, que é igual a um homem valente. Tivera coragem para morrer.Pensa nas aventuras: hoje não são eles que estão metidos numa bela aventura, mas oscondutores de bonde. Levantam os braços e gritam como os Capitães. Pedro acha a greveuma coisa bonita – a mais bela das aventuras. Tem vontade de entrar na greve – tem sanguede grevista e a rua o ensinou a amar a liberdade. Sabe que os grevistas lutam pela liberdade.

  João Adão vai ao trapiche acompanhado de um rapaz jovem, bem-vestido:companheiro Alberto. Trata-se de um estudante da faculdade que quer conhecer os Capitãesda Areia pessoalmente e lhes propor um trabalho. Diante do encanto de Pedro sobre a greve,Alberto diz: ‚A greve é a festa dos pobres‛. Sua voz é mansa e boa. Conhece a história do paide Pedro. João Adão chama Pedro de companheiro – e ele se encanta com essa palavra: ‚achaa palavra mais bonita do mundo‛. Alberto propõe que eles ajudem os grevistas impedindoque o grupo fura-greve trabalhe no dia seguinte. Os garotos topam e se organizam para isso.Alberto se admira com a confiança dos Capitães. Planejam a ação para a madrugada.Comentam sobre o sucesso do pintor João José (o Professor).

Pedro Bala vê numa estrela do céu a estrela de Dora – uma companheira também. Osmeninos vão para a tarefa como se fossem a uma festa. Uma festa de homens, uma festa dospobres – dos pobres como eles.

O estudante Alberto está entusiasmado com os meninos. Tem vontade de que elestrabalhem com a organização da greve. Podem fazer muito juntos. Os meninos tomam aporta e param os fura-greves. Muitos fogem. A greve não é furada. O estudante os elogia.‚Companheiros, companheiros‛, ecoa na voz de João Adão, no vento e no coração de PedroBala, como música.

Os atabaques ressoam como clarins de guerraTerminada a greve, o estudante continua a frequentar o trapiche, em longas conversas

com Pedro. Transformam o trapiche em uma brigada de choque. O Gato volta, homem

elegantíssimo. Pergunta por notícias dos outros e diz que vai para Aracaju, pois o açúcar estádando dinheiro lá.

A revolução chama Pedro Bala como Deus chamava Pirulito: uma voz poderosadentro dele, como a voz do mar. Uma voz sem comparação, que o alegra. ‚Ajudar a mudar odestino de todos os pobres‛. Voz que vem dos bondes, do cais, de seu pai, da luta decapoeira, até mesmo do padre José Pedro, das filhas-de-santo do candomblé, do trapiche dosCapitães da Areia, do reformatório e do orfanato. De seus colegas e do estudante. De todosos pobres, ‚do peito de todos os pobres‛. Voz essa que diz a palavra bonita de solidariedade,de amizade: ‚Companheiros‛. Voz que o convida para a festa da luta. Voz que vem da

lembrança de Dora.

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‚Voz poderosa como nenhuma outra. Porque é uma voz que chama para lutar portodos, pelo destino de todos, sem exceção. Voz poderosa como nenhuma outra. Voz queatravessa a cidade e vem de todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz oinverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta. Voz que chama Pedro Bala,que o leva para a luta. Voz que vem de todos os peitos esfomeados da cidade, de todos ospeitos explorados da cidade. Voz que traz o bem maior do mundo, bem que é igual ao sol,

mesmo maior que o sol: a liberdade. (...) Uma voz de mulher canta a canção da Bahia. Cançãoda beleza da Bahia. Cidade negra e velha, sinos de igreja, ruas calçadas de pedra. Canção daBahia que uma mulher canta. Dentro de Pedro Bala uma voz o chama: voz que traz para acanção da Bahia, a canção da liberdade. Voz poderosa que o chama. Voz de toda a cidadepobre da Bahia, voz da liberdade. A revolução chama Pedro Bala.‛ 

 João Grande embarca como marinheiro num navio cargueiro. Pedro agora comanda a brigada formada pelos Capitães. O destino deles mudou: intervêm em comícios, greves, lutasobreiras. ‚A luta mudou seus destinos‛. Pedro recebe ordens para ir organizar um grupo emAracaju (os Índios Maloqueiros), enquanto Alberto ficaria com os Capitães da Areia. Pedroreúne todos no trapiche, se despede e deixa Barandão como chefe. As crianças o saúdam e eleparte para mudar o destino de outras crianças.

‚De punhos levantados, as crianças saúdam Pedro Bala, que parte para mudar odestino de outras crianças. Barandão grita na frente de todos, ele agora é o novo chefe.

De longe, Pedro Bala ainda vê os Capitães da Areia. Sob a lua, num velho trapicheabandonado, eles levantam os braços. Estão em pé, o destino mudou.‛ 

... Uma pátria, uma família

Anos depois, os jornais de classe (que sobrevivem com existência ilegal e tipografiaclandestina) publicam notícias sobre ‚um militante oper{rio, o camarada Pedro Bala‛,perseguido pela polícia como organizador de greves, dirigente de partidos ilegais – perigosoinimigo da ordem estabelecida.

‚No ano em que todas as bocas foram impedidas de falar, no ano que foi todo ele umanoite de terror, esses jornais únicas bocas que ainda falavam clamavam pela liberdade dePedro Bala, líder da sua classe, que se encontrava preso numa colônia.‛ 

No dia em que ele foge, muitos rostos, em inúmeros lares, se iluminam. Qualquer umdaqueles lares seria abrigo para Pedro Bala, pois a ‚revolução é uma p{tria e uma família‛.

FIM

3. ANÁLISE DA OBRA – ELEMENTOS DA NARRATIVA

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Capa da edição de 1978 

3.1 PERSONAGENS

As principais personagens do livro estão no núcleo formado pelos meninos Capitãesda Areia. A maioria é adolescente do sexo masculino, apresentada por ‚apelidos‛ (ou porparte de seu nome) ligados às suas características físicas ou ao seu comportamento no grupo.

Pedro Bala é o chefe do grupo. Jovem, de aproximadamente 15 anos, loiro, com marcade corte no rosto provocada por uma briga com o antigo chefe do bando, Raimundo, nadisputa pela liderança. Era forte, inteligente, um líder. Tornou-se menino de rua aos 5 anosde idade. ‚Nunca soube de sua mãe, e seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho eempregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus

 becos". Apesar de não participar de todas as cenas da história, é linha condutora da narrativa,dando um caráter coesivo aos diversos quadros que são apresentados.O grupo liderado por Pedro Bala tinha cerca de cem meninos, e as personagens principaissão:

Professor: recebe este apelido por gostar de ler e desenhar (ao contrário da maioria,sabia ler fluentemente). Gostava de contar histórias ao grupo. Inteligente, ajuda sempre afazer os planos dos roubos. Ajuda e respeita muito Pedro Bala. Também se apaixona porDora. No final da narrativa vai se tornar um pintor famoso no Rio de Janeiro – é quandopassa a ser conhecido por um nome: João José.

Sem-Pernas: garoto coxo (deficiente de uma perna). Agressivo, debochador. Haviasofrido humilhantes agressões quando preso. Utiliza sua deficiência para servir de espiãopara o grupo, fazendo-se de órfão desamparado para ser recebido nas casas e descobrir ospontos estratégicos para roubar as residências, retransmitindo tais informações ao grupo. Em

uma dessas casas é bem acolhido por um casal que perdera o filho pequeno – sente entãoremorsos por ter de roubar aqueles que lhe acolheram com a um filho, mas decide se manterfiel aos Capitães da Areia. Numa fuga policial, atira-se do elevador Lacerda para escapar:prefere morrer a ser preso novamente.

João Grande: negro forte, grande e bom, entrou aos 9 anos nos Capitães da Areia. Émuito próximo de Pedro Bala e do Professor. Tem enorme senso de justiça. No final danarrativa, torna-se ajudante em um navio.

Volta Seca: afilhado de Lampião, odiava as autoridades e desejava se tornarcangaceiro como seu padrinho (acompanhava notícias do cangaço pelos jornais que oProfessor lia para ele). No final da narrativa consegue se juntar ao grupo de Lampião,transformando-se em um cruel e temido cangaceiro. É preso e julgado por algumas dasmortes.

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Gato: garoto que anda sempre elegante; conquistador. Vive entre as prostitutas earranja, muito cedo, uma delas como amante – Dalva. Fazia falcatruas com o baralho e outrosgolpes com sua esperteza.

Pirulito: menino magro, alto e com aspecto frágil. Único do grupo com vocaçãoreligiosa. Evitava certos golpes comuns aos Capitães da Areia por sua crença em Deus.Torna-se frade, com ajuda do padre José Pedro.

Dora: a única mulher do grupo, tinha aproximadamente 14 anos. Era loira, muitosimples, dócil e bonita (com o corpo de mulher se formando). Acaba conquistando todo ogrupo: passa a representar, para os Capitães da Areia, a figura da mãe protetora e também dairmã, dando colo, carinho e atenção. Já para Pedro Bala, Dora será a "noiva" e a "esposa".Entra para o grupo junto com seu irmão mais novo, acolhida por Professor e João Grande,após ficar órfã. Morre ardendo em febre, após fugir do orfanato com a ajuda dos garotos. Éuma personagem de fundamental importância na construção da lógica do romance (temgrande influência nas atitudes e reflexões dos meninos, especialmente de Pedro Bala).Outras personagens:

Padre José Pedro: religioso que se aproxima dos Capitães da Areia, contrariandomuitas vezes a lei e a moral estabelecidas pela sociedade e pela Igreja, por acreditar poderajudar os meninos.

Don’Aninha: mãe-de-santo amiga e protetora dos Capitães.João Adão: estivador negro e forte, antigo grevista, era amigo do pai de Pedro Bala (o

Loiro). É personagem de grande influência nas reflexões e decisões de Pedro Bala.Querido-de-Deus: capoeirista e saveirista, amigo dos Capitães.Dalva: prostituta e amante de Gato.

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3.2 - FOCO NARRATIVOO foco narrativo está em 3ª pessoa , com narrador onisciente, que coloca em sua voz as

reflexões e os sentimentos das personagens. O discurso indireto livre comprova essaonisciência em vários momentos, nos apresentando as reflexões por que passa cadapersonagem através de uma identificação com o narrador.

Porém, pode-se observar um distanciamento em alguns trechos, quando o narradoradota uma visão panorâmica que se distancia do mundo interior das personagens para olharpara o amplo espaço da cidade. Há também distanciamento quando se apresentam alguns

textos jornalísticos, que têm um tom pretensamente mais frio e objetivo, já que vêm por umavoz ‚oficial‛ – que, mesmo que tome partido, tem um olhar diferente do que tem o narradordo resto do romance (que adere mais emotivamente ao mundo das crianças).

Pode-se observar, então, um duplo movimento – adesão aos humildes edistanciamento dos prepotentes – na escolha da voz narrativa1.

1 Isso pode já indicar a postura ideológica do escritor, pois a escolha da voz narrativa é fundamental para determinar o

seu compromisso com uma arte engajada (identificada com princípios da esquerda). Pode-se ver no narrador de Capitães

da Areia muitos traços da personalidade do autor, que, na época da composição do romance, era ativista político. Porém,é preciso sempre ter o cuidado de não afirmar que o narrador é o próprio Jorge Amado.

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3.3 - ESPAÇOA narrativa se passa na Bahia, principalmente na cidade de Salvador, com foco na

praia (Cidade Baixa). O principal local de desenvolvimento da narrativa é em torno doTrapiche (hoje, Solar do Unhão e o Museu de Arte Moderna); mas também é de importânciao Terreiro de Jesus (na época, lugar de destaque comercial de Salvador); e o Corredor daVitória (área nobre de Salvador).

Há também espaços secundários, como o sertão nordestino narrado na viagem deVolta Seca ao encontro do grupo de Lampião e as referências a Ilhéus, Aracaju e Rio de Janeiro (esta última, na menção à exposição dos quadros do Professor).

3.4 - TEMPOA menção de datas precisas é evitada pelo narrador, mas há a indicação de fatos

históricos que situam a narrativa em torna da década de 1930 (como as greves operárias naBahia, as atividades do Partido Comunista do Brasil, as menções às ações de VirgulinoLampião).

A passagem do tempo se mantém, no geral, em ordem cronológica, com algumasinterrupções em  flash-backs para o passado de algumas personagens. Mas a estrutura geraldas ações é simples e linear: mostra o início das aventuras dos Capitães da Areia, sua rotinade sobrevivência, o apogeu do grupo com a chegada de Dora e a partida de alguns membrosmais velhos, que seguem diferentes caminhos.

A passagem do tempo algumas vezes é marcada por referência a características danatureza (especialmente do sol, da lua e do mar). Mas são frequentes os marcadorestemporais mais ‚diretos‛, referentes | passagem de dias, meses ou anos.

3.5 – ENREDO: RUPTURA COM A CONVENÇÃO DO ROMANCE TRADICIONAL

O romance se inicia com um Prólogo (‚Cartas | Redação‛), que funciona como espéciede artifício para indicar a veracidade dos fatos a serem narrados sobre os "Capitães da Areia".Esse prólogo precede as três partes do romance, subdivididas em capítulos de variadasextensões (alguns mais longos, outros bem curtos).

Esse recurso utilizado por Jorge Amado retoma uma prática bastante comum e antigaao gênero romance, fornecendo à história um alto grau de verossimilhança.Na primeira parte do romance, o narrador retoma essa indicação jornalística ao comentar,por exemplo, que o padre já havia escrito ao jornal sobre o problema dos meninos de rua.

Também na segunda e terceira partes do romance, o narrador nos dá notícias do destino dealgumas personagens utilizando novamente trechos de reportagens de jornal.

O clímax da primeira parte do romance (‚Sob a lua num velho trapiche abandonado‛)se dá em dois momentos. O primeiro quando os meninos se fascinam com um carrosselmambembe que chega à cidade, deixando em evidência a condição de criança que existia sobo forçado embrutecimento e amadurecimento causado pela miséria em que viviam.

O segundo momento será quando uma epidemia de varíola ataca a cidade, matandoum dos meninos (Almiro). Padre José Pedro tenta ajudá-los, indo contra a lei e sendoadvertido pelo arcebispado.

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A segunda parte do romance (‚Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos‛)  também tem dois pontos altos: o primeiro com a prisão de Pedro Bala e Dora (e a narraçãodos sofrimentos vividos por eles e pelos planos de fuga); e o segundo pela morte de Dora.

Por fim, a terceira parte (‚Canção da Bahia, Canção da Liberdade‛) mostra oscaminhos seguidos pelos protagonistas (com a discussão de seus destinos, mas aindamantendo foco na personagem de Pedro Bala).

Como coloca Álvaro Cardoso Gomes (em Roteiro de Leitura: Capitães da Areia  , Ática,1996), Capitães da Areia se difere dos demais romances de Jorge Amado por conta de suaestrutura específica de composição.

A estrutura clássica de enredo (com organização dos fatos encadeados e relaçõescausais entre os eventos) não aparece tão claramente aqui, pois o autor prefere a montagemde Capitães da Areia por meio de quadros mais ou menos independentes, que vão compondoa narrativa daquele grupo e dos personagens que os cercam.

 Jorge Amado valoriza a fragmentação e a montagem do romance em ‚blocos‛, numaespécie de colagem do texto próxima das práticas dos pintores cubistas.

4 – ANÁLISE: INTERPRETAÇÃO

O início da narrativa nos apresenta diferentes pontos de vista sobre a questão dosCapitães da Areia, ora tratados como ‚bando‛ criminoso de ‚crianças delinquentes‛, oracomo ‚filhos de pobres‛, ‚crianças abandonadas‛ – expressões que variam conforme aautoria das cartas. Não fica dúvida de que o jornal não assume o ponto de vista da mãe queescreve nem do padre, mas reforça o que colocou o diretor do reformatório e os moradoresassaltados pelos capitães, considerando que esse ‚bando‛ de ‚precoces criminosos‛ tira o

sossego das ‚distintas‛ famílias, e considerando inclusive a instituição do reformatóriopositiva – ponto sobre o qual o padre e a mãe divergem radicalmente.

Percebe-se também que conforme a importância social do remetente se altera a páginade publicação da carta e os comentários que as acompanham: enquanto as cartas dasautoridades vêm nas páginas iniciais, com comentários; as críticas do padre e da mãe vêmnas páginas centrais, sem serem acompanhadas de comentários.

A linguagem aqui já revela o grupo social de cada remetente, variando entre maiorsimplicidade ou mais domínio da forma culta. Vale atentar para o trabalho no uso davariação linguística como parte importante da caracterização dos personagens.

ContrasteDesde o início da narrativa, portanto, se apresenta um cenário marcado pelo contraste

social, tendendo à simpatia ao grupo dos meninos dos Capitães da Areia, cuja história seconta com detalhes (e com uma mudança de foco) a partir da primeira parte do livro. Onarrador se aproxima da história e das dificuldades desses meninos, levando o leitor aacompanhar com afeto essas narrativas.

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Esses meninos, que são marcados pela falta (de comida, de carinho, de conforto, dedinheiro)2  , sobrevivem de furtos e esmolas, sem deixar nunca de ter sonhos e princípioséticos. São crianças (não só negras, mas brancas e mestiças também) unidas pela miséria epela luta contra todos e contra a cidade ‚inimiga‛, mas que têm uma ‚lei e uma moral‛. Olado humano das personagens é um traço importante e comum ao grupo, envolvendo o leitordurante o desenvolvimento da narrativa. (Cria-se um desejo de entender essas meninos e de

acompanhar o desenvolvimento de suas vidas).  Jorge Amado trabalhou um final de certa forma bastante democrático para ospersonagens, que têm destinos diversos: do grupo de meninos sai um artista, um padre, umcangaceiro, um líder grevista, um malandro, um golpista. Toca-se, assim, em vários ediferentes aspectos da grande questão social discutida. O centro da narrativa é odesenvolvimento da personagem de Pedro Bala, porém as tensões e reflexões por quepassam os outros personagens, com desfechos diversos, são também abordadas com atençãopelo narrador.

Realidade do país em questão  Jorge Amado acreditava que suas obras influenciassem a realidade do país. E não

poupava esforços para trabalhar em seus textos questões críticas do Brasil, retratando osparadoxos da nossa sociedade3. Declarou ter aprendido com o poeta romântico Castro Alvesque ‚igual ao rifle, | metralhadora e ao punhal, a poesia é também arma do povo‛4. JorgeAmado trabalha então, com a arma de sua escrita, os conflitos sociais (na relaçãohomem/sociedade, oprimido/opressor). Trata com drama a questão do destino humano – palavra que vai ser bastante trabalhada pelo personagem Pedro Bala, nos questionamentossobre a possibilidade ou impossibilidade de se alterar os destinos de suas vidas.

  Jorge Amado recria, portanto, com esses personagens no centro de sua narrativa, o

tema dos ‚desajustamentos da história‛. O autor cria dessa forma heróis populares, que se juntam a outros protagonistas da literatura brasileira – algumas vezes se inserindo na galeriados ‚malandros‛ (como personagens {geis, que transitam por diferentes camadas sociais, seadaptando a diversas situações).

Nomes não nomesAs personagens em Capitães de Areia , quase todos masculinos, são designadas não por

nomes inteiros ou ‚reais‛, mas por apelidos que vêm de adjetivações e metonímias calcadasna aparência física ou no comportamento psicológico diante do grupo. Cria-se assim uma

espécie de caricatura permanente dessas figuras – que talvez contribua para que essaspersonagens sejam mais representativas de tipos coletivos do que de identidades individuais.

2O escritor Milton Hatoum aponta que o que mais impressiona na vida desses garotos é essa “sede de amor e ternura” – 

desejo de pertencer a uma família e conquistar um lugar digno na sociedade. (Posfácio da edição de Capitães da Areia 

pela Companhia Letras).3 Milton Hatoum escreve: “É surpreendente a atualidade dos temas de Capitães da Areia. O assunto e as questões sociais

que o livro explora em profundidade são, em larga medida, os mesmos da ‘cidade da Bahia’ e de muitas outras cidades,do Brasil e da América latina. Lido Hoje, este romance ainda comove e faz pensar nas crianças desvalidas, nas crianças de

rua, nas crianças abandonadas (...). Atiradas à marginalidade, elas roubam e cometem delitos para sobreviver. Detidas,são submetidas à humilhação, ao castigo, à tortura.” (Posfácio da ed ição de Capitães da Areia pela Companhia Letras).4

In: Caderno de Leituras, p. 17.

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Pedro Bala (o ágil e valente, chefe do grupo) é dos poucos que têm um nome em suareferência. Sem-Pernas é designado pelo defeito físico de seus membros; Pirulito poderemeter ao caráter puro da infância; Professor é a figura mentora dos planos, que lê (para si epara os outros); João Grande ressalta a força física; Volta Seca, a vingança (que traz até aquestão do sertão já expressa em seu nome); Boa-Vida, o descanso, o compositor; Gato, aelegância e a esperteza malandra. Dora (apelido que vem da abreviação de algum nome ou

da referência ao brilho, de ouro) é o referencial feminino da mãe, de irmã, de namorada.Importante contrastar com os nomes das personagens de outras posições sociais,inclusive as crianças, que vêm sim designadas por um nome, algumas vezes até comsobrenome: Raul Ferreira, Augusto, dona Ester. Interessante também como um dos meninosque fazia parte dos Capitães, ao ser colocado em outra esfera social, ganha sua referência (esua identidade) também a partir do nome (e não mais do apelido pela característica): oProfessor passa a ser apresentado como João José depois de ter sua exposição de quadros

 bem-sucedida no Rio de Janeiro.

Linguagem Um aspecto que marca a construção da linguagem nessa obra é a oscilação entre o uso

dos tempos verbais presente e pretérito imperfeito para marcar um aspecto atemporal dasituação social narrada – junto com a falta de marcadores temporais exatos que permitamlocalizar com precisão essa narrativa na história brasileira. Tem-se então, desde o início danarrativa:

‚Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem.Antigamente aqui era o mar.‛ 

Outra marca da linguagem de Jorge Amado é uma espécie de caráter lírico que se criapelo emprego de períodos breves e pelo predomínio de coordenação5  , numa escrita quase‚econômica‛: 

‚João Grande ficou muito tempo atento | leitura. Para o negro aquelas letras nadadiziam. O seu olhar ia do livro para a luz oscilante da vela, e desta para o cabelo despenteadodo Professor. Terminou por se cansar e perguntou com sua voz cheia e quente (...)‛ 

‚Mas Deus chamava Pirulito. Nas noites do trapiche o menino ouvia o chamado deDeus. Era uma voz poderosa dentro dele. Uma voz poderosa como a voz do mar, como a voz

do vento que corre em torno ao casarão. Uma voz que não fala aos seus ouvidos, que fala seucoração. Uma voz que o chama, que o alegra e o amedronta ao mesmo tempo. Uma voz queexige tudo dele para lhe dar a felicidade a servir. Deus o chama. E o chamado de Deus dentrode Pirulito é poderoso como a voz do vento, como a voz potente do mar.‛ 

Percebe-se também nesses trechos outra marca de um recurso importante que JorgeAmado utiliza: a repetição (de palavras ou expressões). Essa repetição cria um efeito rítmico

5

O uso de períodos coordenados soa mais popular do que o uso da subordinação, pois as construções frasaiscoordenadas são mais diretas, sem tanto rebuscamento e desvios (que podem, às vezes, prejudicar a clareza da

narrativa).

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envolvente, que é importante para expressar o desenvolvimento das reflexões daspersonagens.A simplicidade da linguagem e o tom coloquial e popular caracterizam seu modo de narrar,que alia lirismo e crítica social.

Conflitos sociais

Os temas trabalhados pela narrativa dos Capitães da Areia estão sempre, de algumaforma, ligados aos conflitos sociais que o autor nos expõe. As questões da ‚bandidagem‛, davingança, da falta (ou da vontade) de amor e de justiça revelam sempre o conflito com aordem estabelecida – ordem aparente, que esconde, que vira as costas a uma parcela socialmarcada pela exclusão. Uma forma de não aquietar esse problema ser{ ‚quebrando‛ essesilêncio, roubando o sossego dessa sociedade – e isso se dá através dos diversos atos ilícitoscausados pelos meninos (roubos materiais, estupros, fugas etc.), que expõem os conflitossociais que não podem ficar silenciados/apagados. O último capítulo do livro explicita essaideia, colocando Pedro Bala como um perseguido pela polícia por ser ‚perigoso inimigo daordem estabelecida‛.

A prosa de Jorge Amado revela uma preocupação em aproximar a realidade da ficção,num discurso que dialoga com escritores antecessores como Manuel Antônio de Almeida,Mário de Andrade e Oswald de Andrade (pode-se pensar uma relação das figuras dos heróisdesses autores como transgressores).

Luta e RevoluçãoO final do livro marca a clara opção da personagem de Pedro Bala pelo caminho da

luta. Jorge Amado produz, nesse romance, uma obra que reflete alguns princípiosideológicos da esquerda: a crítica ostensiva e indignada aos poderosos, a aderência aos

humildes (inclusive pelo foco narrativo) e a compreensão apaixonada dos dramas humanosatestam a sua consciência de artista participante, engajado6.

Tomando partido pelos mais fracos e aderindo às causas das personagens excluídas,  Jorge Amado busca unir lirismo e comunismo (construção poética e crítica social), sem sedistanciar do popular.

Capitães da Areia é um romance que trata do tema revolucionário7 do desejo por umasociedade igualitária: o grupo dos meninos tem códigos de lealdade e solidariedade. É nessadimensão que sonha o protagonista, que se transforma, aos poucos, em um líderrevolucionário. A prática revolucionária da luta é, para Pedro Bala, mais do que uma forma

de vida: é uma perspectiva existencial. A personagem se questiona várias vezes ao longo doromance sobre a possibilidade ou impossibilidade de se alterar destinos (o dele e dos outros).E sua decisão nesse sentido não deixa dúvidas sobre a forma de ver a luta como meiopossível de alterar esses destinos. O sentimento de pátria como grande família (e não afamília burguesa) com que Jorge Amado encerra o livro indica essa opção da personagem.

6 Jorge Amado disse em uma entrevista de 1981: “Sou apenas um homem que luta e lutou por causas que me parecem

 justas. Não sou teórico, felizmente, nem erudito leitor dos teóricos”.7Alfredo Bosi aponta o predomínio do populismo literário nesse autor (que não chega à arte revolucionária). Porém,

analisamos aqui a força do tema revolucionário para a composição interna do romance.

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5 - MODERNISMO E JORGE AMADO

Capitães da Areia é uma obra que se enquadra na Segunda fase do Modernismo brasileiro(1930 – 1945). Na prosa, se consolida nesse período a manifestação do romance regionalistanordestino  , que trabalha a desgraça e a opressão do homem, apresentando tiposmarginalizados. Através deles analisa toda a sociedade.

 Jorge Amado se destaca com seus romances nessa fase, ao lado de José Lins do Rego,Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos – personalidades políticas e das letras com quem oescritor mantinha amizade.

A convivência com o Movimento de 30 marca a personalidade desse escritor,especialmente na preocupação com os problemas brasileiros. É nesse período que a escritoraRaquel de Queiroz lhe apresenta os ideais igualitários do comunismo.

Fases da obra de Jorge AmadoA obra literária de Jorge Amado pode ser dividida em três fases: uma com

predomínio de preocupações político-sociais, no começo da carreira; outra sobre o ciclo docacau; e outra ainda com maior exploração do lirismo e da sensualidade feminina.

Na primeira incluem-se Capitães da Areia, Suor, Jubiabá e  Mar Morto; na segunda  , asobras Cacau , Terras do Sem-Fim e São Jorge de Ilhéus; na terceira , iniciada com Gabriela, cravo ecanela (que apesar de se passar na zona do cacau não é sobre o ciclo do cacau em si), incluem-se Dona Flor e seus Dois Maridos , Teresa Batista Cansada de Guerra e Tieta do Agreste.

Capitães da Areia foi escrito em 1937, pouco depois da implantação do Estado Novo porGetúlio Vargas. Jorge Amado o escreve durante uma longa viagem que fez pelo Brasil, pelaAmérica Latina e pelos Estados Unidos. Ao retornar, é preso pela segunda vez devido à

supressão da liberdade política que decorria do Estado Novo.Consta que o livro foi censurado e que se queimaram cerca de mil exemplares8 em

praça pública, em Salvador. Somente em 1944 a obra é reeditada e volta às livrarias, tendo,desde então, muitas edições em português e em outros idiomas.

Este livro foi, assim, escrito na chamada primeira fase da carreira de Jorge Amado, naqual se notam grandes preocupações sociais (com denúncia da miséria e da opressão dasclasses populares)9.

Os Capitães da Areia são heróis no ‚estilo Robin Hood‛. As au toridades e o clero sãoretratados como opressores, cruéis e responsáveis pelos males (Padre José Pedro é, de certa

forma, uma exceção). Há, ao longo da narrativa, um aumento de consciência sobre a situaçãogeral do país e em particular daqueles meninos, num encaminhamento para a luta política.

É um livro que, de certa forma, rompe com questões do romance tradicional, sendo, junto com outros dessa fase de Jorge Amado, um romance de denúncia social , que retrata o

8O Jornal de Salvador de 1937 noticiou a queima dos livros de Jorge Amado pela polícia do Estado Novo em matéria

intitulada: “Incinerados vários livros considerados propagandistas do credo vermelho”. A notícia explica que os livros deJorge Amado e de José Lins do rego foram os mais atingidos na apreensão, que incinerou livros “julgados comosimpatizantes do credo comunista”, com termo oficial datado de 19 de novembro de 1937.9

Alfredo Bosi indica que Capitães da Areia veio após um primeiro momento de consolidação da fórmula do “romanceproletário”, em que o autor trabalha já com depoimentos líricos em torno de amores marinheiros. Chama essa fase de

“ciclo de romances urbanos de Salvador”.

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amor proletário entre Dora e Pedro Bala. É considerado um romance ‚lírico-revolucion{rio‛,que expressa o desejo por uma sociedade igualitária.

6 - INTERTEXTUALIDADEConfira algumas obras que mantêm alguma relação de intertextualidade com a obra

Capitães da Areia , de Jorge Amado.

Poema "Bandido Negro", de Castro Alves

O texto abaixo é a epígrafe e as duas primeiras estrofes do poema "Bandido Negro" dopoeta romântico, também baiano, Castro Alves10.

Bandido negro(Castro Alves)

Corre, corre, sangue do cativoCai, cai, orvalho de sangueGermina, cresce, colheita vingadoraA ti, segador a ti. Está maduraAguça tua foice, aguça, aguça tua foice.(E. SUE – ‚Canto dos Filhos de Agar‛.)

Trema a terra de susto aterrada...Minha égua veloz, desgrenhada,

Negra, escura nas lapas voou.Trema o céu ... ó ruína! ó desgraça!Porque o negro bandido é quem passa,Porque o negro bandido bradou:

Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingança feroz.

ComentáriosVale ressaltar a proximidade temática (do bandido, do negro, da vingança) entre esse

poema e a obra Capitães da Areia. Na narrativa dos jovens excluídos pela sociedade,abandonados à própria sorte não são apenas os negros, outrora escravos (como no poema deCastro Alves), que se levantarão contra essa sociedade burguesa, mas também, os pobres,

 brancos e mestiços.Há também uma espécie de reivindicação por justiça, que é feita também pelos

meninos do trapiche. Por isso o conflito com a ordem estabelecida. Os meninos partem para

10Jorge Amado tem grande empatia com esse poeta romântico, sobre quem inclusive escreveu uma biografia

romanceada ( ABC de Castro Alves), além de colocá-lo como personagem em duas obras.

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fazer justiça com as próprias mãos. Em um plano mais geral, existe o conflito desses jovenscom a sociedade, com o status quo  , isto é, com a ordem estabelecida. A vingança pode serentão contra alguém em particular (o menino do grupo rival, por exemplo), ou contra todoum setor da sociedade (como é o caso da vingança contra os soldados, por exemplo; oucontra os ricos, de maneira geral).

Música “Meu guri”, de Chico Buarque de Holanda 

Quando, seu moçoNasceu meu rebentoNão era o momentoDele rebentar

 Já foi nascendoCom cara de fomeE eu não tinha nem nomePrá lhe dar[...]

Olha aí! Olha aí!Olha aí!Ai o meu guri, olha aí!Olha aí!É o meu guri e ele chega!

FilmesCidade Baixa

(Brasil, 2005; 93 min)

Direção: Sérgio MachadoElenco: Wagner Moura, Lázaro Ramos, Alice Braga.Sinopse: Deco e Naldinho se conhecem desde garotos, sendo difícil até mesmo falar em um

sem se lembrar do outro. Eles ganham a vida fazendo fretes e aplicando pequenos golpes a bordo de um barco a vapor. Um dia conhecem a stripper Karinna e se envolvem. Aos poucos,

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desgastam a relação, chegam a se separar, mas não conseguem ficar sozinhos. Eles sereaproximam e se deparam com um caminho sem volta.Comentário: Entre as dificuldades de relacionamento, o filme mostra o cotidiano das pessoasdessa região. Fala de pobreza, drogas, prostituição e violência. Pode ser interessante para aajudar na compreensão de algumas características da vida na Cidade Baixa, em Salvador.

O contador de histórias

(Brasil, 2009; 100 min)Direção: Luiz VillaçaElenco: Maria de Medeiros, Daniel Henrique, Paulinho Mendes, Cleiton Santos, Malu Galli.

Sinopse: Baseado em fatos reais. Minas Gerais, anos 70. Nascido numa favela de BeloHorizonte, desde os 6 anos, Roberto Carlos Ramos já demonstra enorme talento para contarhistórias. Caçula de dez irmãos e morador de favela, é o escolhido por sua mãe para ir vivernuma nova instituição anunciada pelo governo como uma oportunidade para aqueles queviviam na pobreza.Comentário: filme de recente produção brasileira, que, apesar de não tratar da região daBahia, discute muitos dos mesmos temas que aparecem em Capitães da Areia  , como orelacionamento entre meninos de rua, a dificuldade de se inserirem dignamente na sociedadee principalmente as condições ruins enfrentadas por eles nas instituições que deveriam ser

‚de educação‛. Pode ser interessante para a compreensão de como se organizam essasinstituições e como as crianças que passam por elas as veem. Talvez também seja interessantepara pensar na organização de outros grupos de menores, diferentes dos Capitães em algunsaspectos, mas muito próximos em outros.

7- ENTREVISTA DE JORGE AMADO A CLARICE LISPECTOR

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(para a revista Manchete , com primeira publicação em 1975.)

JORGE AMADO

"O público é que tem compromisso comigo, e não eu com ele."

Infelizmente na época não pude visitar Jorge Amado em sua casa em Salvador, Bahia,que dizem ser uma casa bela e singular: é que Jorge já estava há dois meses no sítio dotapeceiro Genaro de Carvalho, tendo como companhia única sua esposa Zélia. No sítio, a unsvinte quilômetros de Salvador, Jorge podia esquivar-se a visitas, pois estas, mesmo quesimpáticas, o impediriam de trabalhar. No meio de uma chuva torrencial fui ao sítio, tendotido o trabalho prévio de avisá-lo e de perguntar-lhe se me daria uma entrevista. Lá fuirecebida pelo casal com um refresco de mangaba.

Que é que você está escrevendo agora, Jorge?Um novo romance, que trata ao mesmo tempo da vida popular baiana e da vida de setoresda pequena burguesia, da intelectualidade. O livro tem dois espaços e dois tempos: umtempo pretérito, quando o personagem é apresentado numa série de acontecimentos de suavida – entre 1868 e 1943, quando morre – e essa é a parte fundamental do romance; umtempo atual, 1968, quando o centenário de nascimento do personagem é comemorado comgrandes festejos. Teremos, assim, duas faces de Pedro Archanjo – a ‚pura‛ e a impura – , umaespécie de pequeno escritor – ou sociólogo, talvez poeta – desconhecido. Não tenho ainda

título definitivo para o livro, que poderá se intitular Meu bom.

Qual é o seu método de produção?Parto, em geral, de uma ideia, de um fato, de uma impressão ou emoção. Durante anos esseponto de partida vive dentro de mim, de repente se afirma, começo a ver personagens eambientes. A história vem na máquina de escrever.

Você se inspira em fatos reais ou os imagina?As duas coisas: parto de minha experiência de vida para a criação. Invento muito, mas nunca

invento no ar, minha inventiva tem sempre algo em que se apoiar.

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Você está rico com os seus livros?Não creio que livro enriqueça ninguém no Brasil, a não ser a editores (todos que conheçoestão ricos) e a livreiros. Sou pobre, felizmente, mas ganho com meus livros o suficiente paraviver vida modesta e digna com minha família. Escritor profissional, vivo exclusivamente dosdireitos autorais de meus livros – escrevo pouquíssimo e cada vez menos para revistas e

 jornais, e essa rara colaboração não pesa sequer no meu orçamento.

Faça uma crítica de seus próprios livros.São os livros que eu posso fazer. Busco fazê-los o melhor que posso. São rudes, sem finurasnem filigranas de beleza; são, por vezes, ingênuos, sem profundezas psicológicas e semangústias universais; são pobres de linguagem e muitíssima coisa mais. São livros simples deum contador de história da Bahia.

Você gostaria de escrever diferente ou está comprometido demais com o seu público?Eu escrevo como me agrada; não há escritor mais livre neste país. Não tenho compromissossenão comigo mesmo: nem com modas, nem com escolas, nem com circunstâncias, nem comacademias, nem com editores, nada. Tenho um único compromisso: com o povo – e não édemagogia, sou o antidemagogo. Com o povo, porque creio que meu dever de escritor éservi-la. Quanto ao público, é ele que tem compromisso comigo e não eu com ele.

Desde que idade você escreve?– Desde muito tempo. Com 15 anos, ou 16, já fazia parte de grupos de jovens literatos emSalvador. Aos 18 anos escrevi o primeiro romance, publicado no ano seguinte.

Quando você esta escrevendo, espera pela inspiração ou trabalha com disciplina, tantas e

tantas horas por dia?Inspiração? Inspiração para mim é a ideia, é o amadurecimento interior – eu prefiro a palavravocação: você nasce ou não para escrever, e acabou. O trabalho só não basta. Mas o trabalho éessencial, fundamental e deve ser disciplinado. Levo anos sem fazer nada – quero dizer, semestar na máquina a bater as páginas de um livro: durante esse tempo estou concebendo aideia do romance – a isso chamo de inspiração. Depois vou para a máquina e trabalho commuita disciplina, 'tantas e tantas horas'. No momento, por exemplo, acordo às 5 da manhã,antes das 6 já estou na máquina e trabalho até as 13 horas. Almoço, descanso, atendo minhasecretária, às 17 volto ao trabalho até as 19, exceto aos sábados e domingos, quando não

cumpro o horário das 17 às 19 horas e passo a tarde jogando pôquer ou conversando comamigos.

Você é um homem feliz e realizado, Jorge?Sou, creio, um homem a quem a vida muito tem dado, mais do que mereço. Tenho alegria deviver, amo a vida e sempre a vivi ardentemente. Sou feliz com minha mulher, Zélia, e meucasal de filhos: João, com suas barbas e seu teatro; Paloma, com seu dengue e seu GarciaLorca. Minha mulher é leal companheira. Tenho mãe viva, de 86 anos, Lalu, poderosa figura.Tenho dois irmãos que são amigos fiéis – um deles, James, é o bom escritor da família, em

minha opinião. Tenho amigos excelentes; a amizade é o bem da vida. Vivo muito com meus

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amigos. Quanto a ser realizado, penso que o escritor que um dia se considere realizado, senão for um idiota (e deve ser) tem o dever de deixar de escrever, pois já se realizou.

Disseram-me que ninguém passa por Salvador sem querer conversar com você – éverdade?Vem muita gente à minha casa, o que é, ao mesmo tempo, simpático e maçante, às vezes. Em

certas ocasiões, é demais. Agora mesmo, para trabalhar, tive de vir para o sítio de Genaro deCarvalho, nosso mestre tapeceiro.

Você é tão hábil em escrever, que se lhe dessem um tema você aceitaria? Ou o tema temque nascer de você mesmo?Nunca aceitei encomenda nem penso em aceitá-las. Apenas uma vez deram-me um tema:conto destinado para um livro Os Dez Mandamentos  , onde colaboram mais nove autores. Oeditor deu-me o tema para a história e eu aceitei escrevê-la. E a encomenda, pois cumpromeus compromissos, foi uma das piores coisas que escrevi. Sou um escritor profissional,porque escrever livros é minha profissão, e não um hobby  , um bico ou uma 'ocupaçãofundamental...' de fim de semana. Sou, assim, um escritor comercial. Escrevendo meu quartolivro num espaço de tempo de 12 anos, ou seja, em média um livro de quatro em quatro anos.Quisesse eu escrever para ganhar dinheiro e, com o público que possuo, era livro de seis emseis meses, sobretudo se sou realmente 'hábil' como você diz. Só escrevo aquilo que nasce ecresce dentro de mim.

Quem é o escritor brasileiro do passado que você mais admira?Não posso citar um, impossível, não há um acima de três ou quatro. Digamos quatro poetas:Castro Alves, Gregório de Matos, Gonçalves Dias e Augusto dos Anjos. Digamos os

romancistas Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar, Aluísio de Azevedo e Machadode Assis.

Qual foi o fato mais importante de sua vida, Jorge?Vários fatos foram importantes e várias pessoas. O padre Cabral, por exemplo, que, nointernato dos jesuítas, declarou em aula que eu seria fatalmente escritor, quisesse ou não.

Você está de algum modo ligado a alguma religião? Nunca teve uma experiência mística?Não sou religioso, não possuo crença religiosa alguma, sou materialista. Não tive

experiências místicas, mas tenho assistido a muita mágica, sou supersticioso e acredito emmilagres, a vida é feita de acontecimentos comuns e de milagres. Não sendo religioso,detenho um alto título no candomblé baiano, sou Obá Otum Arolu, um dos 36 obás. Distinçãoque os meus amigos do candomblé me conferiram e que muito me honra.

Você costuma ler as traduções que fazem de seus livros? Porque eu, por exemplo, jamaisleio para me poupar a raiva.Prefiro as traduções em língua que não posso ler. Nas outras você descobre erros e se chateia.É assim ou não com você?

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Exatamente assim: fiquei contente com dois de meus livros traduzidos. O que mais divertevocê? Você tem algum hobby?Quem não tem um hobby? Jogo meu pôquer, adoro meus gatos, meu jardim que é quase umafloresta. Leio romances policiais quando estou escrevendo.

Você já escreveu poesia? É melhor confessar.

Da pior espécie possível, mas felizmente pouquíssima e inédita.

A que atribui o sucesso enorme de seus livros?Atribuo à qualidade brasileira; a estar do lado do povo; a transmitir esperança e nãodesesperança.

Que é que você gostaria de ter sido e não foi?Não creio que prestasse em profissão nenhuma. Tenho grande tendência a não fazer nadaque seja obrigação.

Você escreve muito sobre o amor. O que é amor?É a própria vida, é o melhor da vida, tudo. No amor não sou profano, aí não. Sou sectário.

Qual de seus personagens é mais você mesmo?Todos os personagens têm um pouco do autor, não é assim, Clarice?

É assim, Jorge. Alguns acusam você de superficialidade nos últimos livros. Que é que vocêacha disso?Os primeiros são, a meu ver, mais superficiais.

Voltemos ao assunto da tradução. Em quantos países você foi traduzido?Até agora em 33 línguas, algumas realmente distantes, como o vietnamita, o persa, o mongol.Fui publicado, não contando o Brasil, em 38 países. Algumas traduções em inglês têmedições dos Estados Unidos, da Inglaterra e do Canadá, em alemão, nas duas Alemanhas, naÁustria, na Suíça. Aliás, com as edições portuguesas, a soma se eleva a 39 países.

Capa: Alemanha Argentina Croácia Espanha 

Qual ou quais são as cidades aonde a atmosfera conduz um artista a criar mais e melhor?Penso que existem duas cidades feitas à medida do homem, cidades que não são, ainda esomente, campos de trabalho: Salvador da Bahia de Todos os Santos e Paris.

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Aqui, em Salvador, eu realmente senti que poderia escrever mais e melhor. Mas o Rio deJaneiro, com o seu ar poluído, não é nada mau, Jorge. Coloca-nos frente a frente comcondições adversas e também dessa luta nasce o escritor. É verdade que muitos escritoresque moram no Rio são saudosistas de seus estados e têm nostalgia da província.Talvez.

(In: LISPECTOR, Clarice. De corpo inteiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 11-16.)

8 – CINEMA 

 Jorge Amado tem muitos de seus livros adaptados para o cinema. Osfilmes mais populares baseados em sua obra foram Dona Flor e seusDois Maridos (1976, direção de Bruno Barreto) e Tieta do Agreste (1996,direção de Carlos Diegues), ambos com o próprio escritorparticipando da realização do roteiro.

Quanto à obra Capitães da Areia , há três produções.

Capitães da Areia (1971)

Ficha técnicaDuração: 102 minDiretor: Hall BartlettRoteirista: Jorge Amado, Hall BartlettElenco: Kent Lane, Tisha Sterling, Dorival Caymmi, Ademar Da Silva, Aloysio De Oliveira,Marc De Vries, Jimmy Fraser, Freddie Gedeon, William Hobson.Co-produção Brasil/EUA, com algumas cenas exteriores tomadas em Salvador. Foi a primeiraadaptação para cinema do clássico romance do baiano Jorge Amado.

 A vida dos Capitães da Areia

Ficha técnicaDuração: 228 minutosDireção: Luiz Carlos LabordaElenco: Geraldo Del Rey, Leandro Reis Souza, Mirian Pires,Tâmara Taxman

Livre adaptação da obra de Jorge Amado, o filme trata do cotidianodos garotos de rua e suas misérias - falta de proteção e de

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condições minimas de existência digna –  , o que os leva ao caminho natural damarginalização e da violência.

Filme de 2009/2010 (ainda em produção)

Há um projeto, ainda em andamento, de filme baseado no livro de Jorge Amado. Asfilmagens se encerraram em junho de 2009, em Salvador. Veja mais informações em:(http://www.capitaesdaareia.com.br/noticias.php)

Ficha técnicaDireção: Cecília AmadoRoteiro: Hilton Lacerda, Cecília Amado

9 - BIOGRAFIA E BIBLIOGRAFIA DO AUTOR

 Jorge Amado com 1 ano de idade   Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, no município de Itabuna (Bahia).

Passou sua infância em Ilhéus, onde foi morar com um ano de idade. Em 1925, foge docolégio interno Antônio Vieira, percorrendo o sertão baiano em direção à casa do avô.

Em 1931, com 19 anos, publica seu primeiro livro: O país do carnaval, romance quesurpreende crítica e público.Em 1935, forma-se em Direito pela Faculdade Nacional, no Rio de Janeiro. Filia-se ao Partido

Comunista Brasileiro (PCB). É perseguido como comunista e preso em 1936 e 1937 – ano emque publica Capitães da Areia.Durante o Estado Novo, seus livros são queimados em praça pública, em Salvador.Entre 1941 e 1942, vive exilado na Argentina e no Uruguai. Em 1945 casa-se pela

segunda vez, agora com a paulistana Zélia Gattai, sua companheira pelo resto de sua vida.É eleito deputado federal pelo PCB, participa da Assembleia Constituinte de 1946 e da

primeira Câmara Federal após o Estado Novo. Em 1947 seu mandato é cassado depois doPCB ser colocado na ilegalidade. Em 1948, Jorge Amado deixa o Brasil e vive alguns anos naEuropa e na Ásia: inicialmente na França, de onde sua família é expulsa; e então na

Tchecoslováquia, onde mora até 1952, quando volta ao Brasil.

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Com a publicação de Gabriela, cravo e canela  , em 1958, inicia uma nova fase literária,marcada pela discussão da mestiçagem e do sincretismo.

Em 1961 é eleito para a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras. Em 1963, vaimorar em Salvador, onde reside até sua morte, em 6 de agosto de 2001.

 Jorge Amado é um dos romancistas brasileiros mais traduzidos e conhecidos em todo

o mundo. Reconhecido por uma literatura politicamente engajada, tem entre seus livros maisconhecidos:  O país do carnaval , romance (1931)   Jubiabá , romance (1935)   Mar morto , romance (1936)  Capitães da Areia , romance (1937)  Terras do Sem-Fim , romance (1943)  Bahia de Todos os Santos , guia (1945)  Os subterrâneos da liberdade , romance (1954)  Gabriela, cravo e canela, romance (1958)   A morte e a morte de Quincas Berro d'Água , romance (1961)  Dona Flor e seus Dois Maridos , romance (1966)  Tenda dos milagres , romance (1969)  Tieta do Agreste , romance (1977)  Tocaia grande , romance (1984)

A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro etelevisão, além de também já ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livrosforam traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em

fitas gravadas para cegos.A obra de Jorge Amado recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre os

quais se destacam: Stalin da Paz (União Soviética, 1951), Pablo Neruda (Rússia, 1989), Luís deCamões (Brasil-Portugal, 1995), e Jabuti (Brasil, 1959, 1997).

10- BIBLIOGRAFIA  ABDALA, Benjamin (Junior). O romance social brasileiro. São Paulo: Scipione, 1993.  AMADO, Jorge. Capitães da Areia. (Posfácio de Milton Hatoum). São Paulo: Companhia

das Letras, 2009.  AMADO, Jorge. Literatura comentada (Seleção de textos, notas, estudos histórico e crítico

por Álvaro Cardoso Gomes). São Paulo: Nova Cultural, 1988.  BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.  GOLDSTEIN, Norma Seltzer (Org.).  A Literatura de Jorge Amado: caderno de leituras. São

Paulo: Companhia das Letras, 2008.  LISPECTOR, Clarice. De corpo inteiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 11-16.

11 - QUESTÕES 

Texto para questões 1 e 2: 

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Passaporte para a leitura

Carlos Heitor Cony (Folha de S. Paulo , 7/8/2001) disse: ‚O seu aprendizado não seria feito nos

laboratórios da gramática ou nos alambiques da linguística... Jorge se fez na vida, vivendo e

escrevendo.‛ Por isso, e talvez apesar disso, Jorge Amado é indiscutivelmente um dos nomes

mais importantes da literatura brasileira do século XX. Ninguém pode discutir essa

realidade. Não é por mero acaso que um autor vende mais de 20 milhões de exemplares dos

seus livros em um país, no caso o Brasil, onde pouco se lê. Muito menos, não é qualquer

autor de sucesso no seu país que tem seus livros publicados em 49 idiomas. (Cult  , n. 50,

setembro/2001, p. 17)

1.  (PUC-PR) Quando Cony diz: ‚O seu aprendizado não seria feito nos laboratórios da

gramática ou nos alambiques da linguística...‛ Entende-se que:

a) o escritor Jorge Amado se fez na vida e não aprendeu gramática. b) o escritor Jorge Amado não sabia linguística nem gramática.c) o conhecimento de Jorge Amado foi adquirido em laboratórios de gramática.d) o aprendizado de Jorge Amado dependia dos alambiques da linguística.e) o aprendizado de Jorge Amado ocorreu independente da gramática e da linguística.

2.  (PUC-PR) Segundo o texto, pode-se afirmar que:a) Jorge Amado é um dos maiores escritores da literatura brasileira do século XX.

 b) Jorge Amado vendeu, por acaso, 20 milhões de livros no Brasil.c) Discute-se muito se o nome de Jorge Amado é importante no Brasil.

d) Não se sabe quantos foram os idiomas em que Jorge Amado teve livros publicados.e) No Brasil, onde pouco se lê, Jorge Amado não vendeu seus livros.

3.  (Covest-PE) Capitães de Areia  , de Jorge Amado, faz parte do Modernismo, dentro do

Romance Regional de 30. Sobre essa obra, podemos afirmar que:

0-0) Capitães de Areia descreve a ação dos grupos revolucionários e faz parte da primeira fase

das obras do autor, junto com Jubiabá.

1-1) o livro narra a vida de meninos abandonados nas ruas de Salvador, os quais, apesar demarginais (viviam de furto), ao final, organizam-se como um grupo político que defende

idéias revolucionárias.

2-2) a narrativa é precedida de cartas à redação de jornais e de reportagens sobre a

necessidade de se tomar providências em relação ao bando de delinquentes juvenis (os

capitães de areia), o que dá ares de veracidade à história.

3-3) a história dramática narrada no livro está dividida em três partes, sendo a última Canção

da Bahia , Canção da Liberdade. ‚Porque a revolução é uma p{tria e uma bandeira‛ é a frase

final que dá um toque de esperança à obra.

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4-4) o personagem central, Pedro Bala, torna-se líder político, comandando uma brigada de

choque: ‚Intervém em comícios, greves, lutas obreiras. A luta mudou seus destinos.... para

que depois continuasse a mudar o destino de outras crianças abandonadas do país‛. 

4.  (UFPE-PE) Sobre Capitães da Areia , de Jorge Amado, assinale a resposta correta:

a) A obra faz parte do ciclo do cacau e tem um tom épico, escrito em linguagem formal. Opersonagem principal é o padre João Pedro, que tem uma visão diferente da visão dos seus

Superiores e sabe conviver com os problemas sociais.

 b) Faz parte das obras urbanas do autor, com o estilo picante e colorido que as caracteriza. O

povo é o personagem principal, com suas gírias e expressões regionais, próprias das classes

populares. O nome do romance é tomado de um prostíbulo situado na Baixa do Sapateiro.

c) Eliminando o panfletarismo e o esquematismo psicológico, a obra aborda a luta dos

fazendeiros de cacau, no sul da Bahia. Sinhô Padaró e o coronel Horácio Silveira são os

principais personagens.d) Tendo Salvador como cenário, é uma obra comprometida com a denúncia das injustiças e

opressões sociais. Pedro Bala, menino de rua e chefe do bando que dá nome ao romance,

torna-se ao final líder revolucionário.

e) A obra faz parte do ciclo iniciado com Gabriela, Cravo e Canela, o qual deixa de abordar a

luta política e o romance proletário, com tipos marginais, para celebrar o folclore, a tradição

popular e os valores do mundo negro, sobretudo. Recupera os torneios da fala popular, em

seu personagem principal, Balduíno.

Texto para as questões 5 e 6:

O trapiche

Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem.

Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche as ondas

ora se rebentavam fragorosas, ora vinham se bater mansamente. A água passava por baixoda ponte sob a qual muitas crianças repousam agora, iluminadas por uma réstia amarela de

lua. Desta ponte saíram inúmeros veleiros carregados, alguns eram enormes pintados de

estranhas cores, para a aventura das travessias marítimas. Aqui vinham encher os porões e

atracavam nesta ponte de tábuas, hoje comidas. Antigamente diante do trapiche se estendia o

misterioso maroceano, as noites diante dele eram de um verde escuro, quase negras, aquela

cor misteriosa que é a cor do mar à noite.

Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É que na sua frente se estende agora o areal do cais

do porto. Por baixo da ponte não há mais rumor de ondas. A areia invadiu tudo, fez o mar

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recuar de muitos metros. Os poucos, lentamente, a areia foi conquistando a frente do

trapiche. (...) Durante muitos anos foi povoado exclusivamente pelos ratos que o

atravessavam em corridas brincalhonas, que roíam a madeira das portas monumentais, que o

habitavam como senhores exclusivos. Em certa época um cachorro vagabundo o procurou

como refúgio contra o vento e contra a chuva. Na primeira noite não dormiu, ocupado em

despedaçar ratos que passavam na sua frente. (...) Mas aquele era um cachorro sem pouso

certo e cedo partiu em busca de outra pousada, o escuro de uma porta, o vão de uma ponte, o

corpo quente de uma cadela. E os ratos voltaram a dominar até que os Capitães da Areia

lançaram suas vistas para o casarão abandonado.

Neste tempo a porta caíra para um lado e um do grupo, certo dia em que passeava na

extensão dos seus domínios (porque toda a zona do areal do cais, como, aliás, toda a cidade

da Bahia, pertence aos Capitães da areia), entrou no trapiche.

Seria bem melhor dormida que a pura areia, que as pontes dos demais trapiches onde por

vezes a água subia tanto que ameaçava levá-los. E desde esta noite uma grande parte dos

Capitães da Areia dormia no velho trapiche abandonado, em companhia dos ratos, sob a lua

amarela. Na frente, a vastidão da areia, uma brancura sem fim. Ao longe, o mar que

arrebentava no cais. Pela porta viam as luzes dos navios que entravam e saíam. Pelo teto

viam o céu de estrelas, a lua que os iluminava.

(AMADO, Jorge. Capitães da Areia. 119 ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 19-20.)

5. (Cefet-BA) Capitães da Areia era o nome dado a:

a) um grupo de bandidos que dominavam as ruas de Salvador, na década de 1920. b) oficiais que haviam perdido o posto e agora se reuniam em um grupo de malfeitores.c) uma corporação de estivadores do cais que se uniram para fazer uma greve contra os

 baixos salários.d) um grupo de crianças e adolescentes, abandonados ou fugidos, que sobreviviampraticando furtos ousados.e) uma gangue de marginais que amedrontavam os trabalhadores do cais da cidade da Bahiae ocuparam o trapiche.

6.  (Cefet-BA) No livro, entre os Capitães da Areia  , vivia apenas uma mulher, Dora. Esta

personagem:

a) tem um papel importante, encarnando, em momentos diversos, a figura de mãe, irmã eesposa.

 b) representa a força feminina, nas obras de Jorge Amado, a partir da questão da prostituiçãoe da marginalização social.

c) provoca uma série de problemas entre o grupo, que perduraram até a sua morte, por causada varíola.

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d) traz alívio para os pequenos que faziam parte do grupo, porque, enquanto os outros saíampara os roubos, ela se responsabilizava pelos que ficavam.e) tenta conseguir emprego de empregada doméstica, mas não conseguiu, porque tinhacontraído varíola, epidemia que assolou a cidade, provocando óbitos e medo.

7.  (UFPE-PE) "Irmão ... é uma palavra boa e amiga. Se acostumaram a chamá-la de irmã.

Ela também os trata de mano, de irmão. Para os menores é como uma mãezinha. Cuida

deles. Para os mais velhos é como uma irmã que brinca inocentemente com eles e com

eles passa os perigos da vida aventurosa que levam.

Mas nenhum sabe que para Pedro Bala, ela é a noiva. Nem mesmo o Professor sabe. E dentro

do seu coração Professor também a chama de noiva."

(Jorge Amado: Capitães da Areia.)

Considerando a obra e o autor do texto, assinale a alternativa incorreta.

a) O autor faz parte do romance regional de 30, quando se aprofundaram as radicalizações

políticas na realidade brasileira.

 b) Jorge Amado representa a Bahia, "descobrindo" mazelas, violências e identificando grupos

marginalizados e revolucionários em Capitães da Areia.

c) Dora, Pedro Bala e Professor são alguns dos personagens da narrativa, que aborda a

dramática vida dos camponeses das fazendas de cacau no sul da Bahia.

d) O tom da narrativa aproxima-se do Naturalismo, alternando trechos de lirismo e crueza. Onível de linguagem é coloquial e popular.

e) Capitães da Areia pertence à primeira fase da produção de Jorge Amado, quando era

notório seu engajamento com a política de esquerda. Daí o esquematismo psicológico: o

mundo dividido em heróis (o povo) e bandidos (a burguesia).

Texto para as questões 8 e 9:

CARTA DE UMA MÃE, COSTUREIRA, À REDAÇÃO DO ‚JORNAL DA TARDE‛ 

Sr. Redator:

Desculpe os erros e a letra pois não sou costumeira nestas coisas de escrever (...) Vi no

  jornal uma notícia sobre os furtos dos ‚Capitães da Areia‛ (...). É pra falar no tal do

reformatório que eu escrevo estas mal traçadas linhas.

Eu queria que seu jornal mandasse uma pessoa ver o tal do reformatório para ver como

são tratados os filhos dos pobres que têm a desgraça de cair nas mãos daqueles guardas

sem alma. (...) O menos que acontece pros filhos da gente é apanhar duas e três vezes pordia. O diretor de lá vive caindo de bêbedo e gosta de ver o chicote cantar nas costas dos

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filhos dos pobres. Eu vi isso muitas vezes porque eles não ligam pra gente e diziam que

era para dar exemplo. Foi por isso que tirei meu filho de lá. Se o jornal do senhor mandar

uma pessoa lá, secreta, há de ver que comida eles comem, o trabalho de escravo que têm,

que nem um homem forte aguenta, e as surras que tomam. Mas é preciso que vá secreto

senão se eles souberem vira um céu aberto. Vá de repente e há de ver quem tem razão. É

por essas e outras que existem os ‚Capitães da Areia‛. 

Eu prefiro ver meu filho no meio deles que no tal reformatório. (...)

(AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das letras, 2009; p. 16.)

8.  No trecho acima, do prólogo de Capitães da Areia  , essa mãe fala das condições do

reformatório de menores.

a)  As condições que ela aponta, sobre alimentação, trabalho e castigos físicos, são

confirmadas ao longo da narrativa? Justifique comentando trechos do enredo que

comprovem sua resposta.

 b)  Por que ela insiste que o jornal deve mandar alguém secretamente e sem avisar

para verificar as condições do local?

9.  Por que a mãe afirma que ‚É por essas e outras que existem os ‘Capitães da Areia’‛?

Explique essa afirmação dela com base no enredo da narrativa, comentando em sua

resposta quem eram os Capitães da Areia e como se organizavam.

Texto para as questões 10 e 11:

Leia o capítulo abaixo (último capítulo da primeira parte do livro Capitães da Areia):

DestinoOcuparam a mesa do canto. O gato puxou o barulho. Mas nem Pedro Bala, nem João Grande,nem Professor, tampouco Boa-Vida se interessaram. Esperavam o Querido-de-Deus na Porta

do Mar. As mesas estavam cheias. Muito tempo a Porta do Mar andara sem fregueses. Avaríola não deixava. Agora que ela tinha ido embora, os homens comentavam as mortes.Alguém falou no lazareto. É uma desgraça ser pobre, disse um marítimo.Numa mesa pediram cachaça. Houve um movimento de copo no balcão. Um velho entãodisse:– Ninguém pode mudar o destino. É coisa feita lá em cima – apontava o céu.Mas João de Adão falou de outra mesa:– Um dia a gente muda o destino dos pobres...Pedro Bala levantou a cabeça, Professor ouviu sorridente. Mas João Grande e Boa-Vidapareciam apoiar as palavras do velho, que repetiu:– Ninguém pode mudar, não. Está escrito lá em cima.

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– Um dia a gente muda... – disse Pedro Bala, e todos olharam para o menino.– Que é que tu sabe, frangote? – perguntou o velho.– É filho do Loiro, fala a voz do pai – respondeu João Adão olhando com respeito. – O paimorreu pra mudar o destino da gente.Olhou para todos. O velho calou e também olhava com respeito.A confiança foi de novo chegando para todos. Lá fora um violão começou a tocar.

(AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das letras, 2009; p. 159.)

10.  a) Por que o velho passa a olhar Pedro Bala com respeito ao saber de quem ele era

filho? Explique comentando o que fizera Loiro no passado.

  b) Explique de que maneira a fala de Pedro Bala já adianta a postura que o

personagem tem no desenvolvimento da narrativa (e especialmente nos acontecimentos

finais).

11.  Explique a relação do capítulo ‚Destino‛ com o seguinte trecho, retirado do penúltimo 

capítulo do livro, comentando o significado de ‚luta‛ para o personagem Pedro Bala:

‚Agora comanda uma brigada de choque formada pelos Capitães da Areia. Odestino deles mudou, tudo agora é diverso. Intervêm em comícios, em greves, emlutas obreiras. O destino deles é outro. A luta mudou seus destinos.‛ 

(Retirado do capítulo ‚Os atabaques ressoam como clarins de guerra‛. AMADO,

 Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das letras, 2009; p. 259.)

12.  Leia os trechos abaixo:

‚E é esse amor e esse temor que fazem Pirulito indeciso ante a vitrina nesta hora de meio-dia,

cheia de beleza. (...) Ele dá um passo. Dentro da loja só uma senhorita espera os fregueses,

pintando os lábios com uma nova marca de batom. É facílimo levar o Menino. Pirulito

estende o pé noutro passo, mas o temor de Deus o assalta. E fica parado, pensando.

Ele tinha jurado a Deus, no seu temor, que só furtaria para comer ou quando fosse uma coisa

ordenada pelas leis do grupo, um assalto para o qual fosse indicado por Pedro Bala. Porque

ele pensava que trair as leis (nunca tinham sido escritas, mas existiam na consciência de cada

um deles) dos Capitães da Areia era um pecado também.‛ (capítulo Deus sorri como um

negrinho)

‚Se sentiu como um traidor do grupo. (...) Não, não trairia. Mas aí pensou se não iria trair

dona Ester. Ela confiara nele. Ela também na sua casa tinha uma lei como os Capitães da

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Areia: só castigava quando havia erro, pagava o bem com o bem. O Sem-Pernas ia trair essa

lei, ia pagar o bem com o mal.‛ (capítulo Família)

a) No primeiro trecho, Pirulito vive um conflito, pois precisa decidir o que fazer, levando em

conta duas ‚leis‛. Refletindo sobre a decisão que ele tom no final do capítulo Deus sorri como

um negrinho , explique qual das duas ‚leis‛ ele resolveu seguir e como se sente.

  b) Assim como ocorreu com Pirulito, Sem-Pernas, no capítulo Família  , vive um conflito eprecisa tomar uma decisão. Levando em conta as características da personagem e o que sabea respeito da sua vida, explique a atitude que ele teve em relação à família.

RESPOSTAS DAS QUESTÕES PROPOSTAS

1 – E

2 – A

3 – 0, 1, 2, 3, 4.

4 – D

5 – D

6 – A

7 – C

8 – a) As péssimas condições comentadas por essa mãe são confirmadas tanto pelo padre José

Pedro (logo na carta seguinte), quanto pela sequência da narrativa, nas lembranças e

comentários dos meninos e, especialmente, quando Pedro Bala é levado ao reformatório – 

trecho em que se narram detalhes sobre o tipo de alimentação (feijão e água salgada), de

castigos (surras que leva, e prisão na ‚solit{ria‛) e do trabalho (no canavial) pelo qual ele e

outros meninos passam nessa instituição.

 b) Ela insiste que o redator do jornal deve ir sem avisar e secretamente à instituição, pois sabe

que, se for algo marcado e esperado pelo diretor do reformatório, ele irá fazer de tudo para

esconder e disfarçar as condições criticadas – fato que se confirma pela carta dele e pela

reportagem que vêm na sequência.

9 – Ela afirma que ‚é por essas e outras‛ que esse grupo de meninos existe para mostrar que

os Capitães são um grupo organizado que tenta, de alguma forma, sobreviver nesse meio eaté questionar essas condições: é um grupo que questiona a ordem social. A mãe está dando

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razão às ações dos meninos em função do que sabe que ocorre na instituição do reformatório,

que deveria dar educação e oportunidade aos garotos (e não castigos e punições que só os

fazem mais revoltados e excluídos). Os Capitães da Areia eram um grupo de meninos

abandonados ou fugidos que viviam juntos, dormindo em um trapiche na praia. Eles tinham

líderes e regras (uma ética) entre eles, e vivam de furtos e golpes.

10 – a) O velho passa a respeitar Pedro Bala pois vê que ele fala inspirado no pai, o Loiro, quehavia morrido defendendo os trabalhadores em uma antiga greve, ou seja, havia dado a vida

tentando mudar os destinos daqueles homens. O velho percebe que o menino tem a mesma

vontade do Loiro (e algum respaldo para afirmar o que afirmou).

  b) Essa fala já indica o desejo de mudança que esse personagem apresenta – e que vai

defender com afinco no desfecho do livro. Aqui já aparece o não-conformismo de Pedro Bala,

que se inspira em seu pai e em João Adão para defender uma possível mudança do seu e dos

destinos dos outros como ele. No desenvolvimento da narrativa, ele percebe que aos poucos

vão se alterando esses destinos, conforme se narra o que se passou como cada colega seu e,

especialmente, com sua decisão por lutar ao lado dos grevistas, transformando os capitães

em uma brigada de luta e até deixando-os para ir expandir sua luta com outros meninos, de

outro grupo.

11 – Nesse capítulo vemos que se confirma o que foi indicado no capítulo ‚Destino‛: de fato,

Pedro Bala e outros conseguiram alguma mudança em seus destinos. A organização e a

função do grupo dos Capitães se alteraram – eles passaram agora a lutar junto com os

trabalhadores, auxiliando-os nas greves e na luta política. O futuro esperado para eles podeser outro agora, e isso se deu por conta do envolvimento com a luta (a luta política ao lado

dos trabalhadores). Pedro Bala já apresentava esse desejo de luta no capítulo ‚Destino‛,

inspirado na história de seu pai e do doqueiro João Adão.

12 – a) Pirulito decide seguir as leis dos Capitães; em vários momentos, apesar do amor e

temor a Deus e à lei divina, ele opta por seguir as leis de seu grupo de meninos. No final

deste capítulo, acaba por roubar a imagem do Menino Jesus, achando que o Menino agora

estaria confortável e seguro em seus braços. Pirulito sente a angústia do conflito entre as leisde Deus e as leis dos Capitães, mas também avalia que ser um pecado grande desrespeitar as

leis e o código de conduta de seu grupo de meninos – mesmo não sendo leis escritas, eram

respeitadas pela consciência do grupo. Acaba, por isso, muitas vezes seguindo as leis dos

Capitães.

  b) O conflito de Sem-Pernas envolve a contradição de sua condição atual (ser um dos

meninos, um dos Capitães; e estar, ao mesmo tempo, num ambiente de amor e conforto

dentro da casa daquela família), mas também aspectos de sua condição passada (ter sido

maltratado e castigo pelos guardas; nunca ter tido amor). Ele acaba decidindo também seguir

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‚a lei dos Capitães‛, ou seja, decide seguir com o plano de roubar aquela casa e não ficar só

para si com o conforto e com o amor de família que havia encontrado. Sem-Pernas não quer

ser um traidor no grupo dos Capitães, e prefere fazer mal e perder a confiança da família de

Dona Ester, e não de seus amigos.

13 - TRECHOS PARA LEITURA

CARTA DO PADRE JOSE PEDRO À REDAÇÃO DO ‚JORNAL DA TARDE‛ 

Sr. Redator do Jornal da Tarde.Saudações em Cristo.Tendo lido, no vosso conceituado jornal, a carta de Maria Ricardina que apelava para

mim como pessoa que podia esclarecer o que é a vida das crianças recolhidas ao reformatóriode menores, sou obrigado a sair da obscuridade em que vivo para vir vos dizer queinfelizmente Maria Ricardina tem razão. As crianças no aludido reformatório são tratadascomo feras, essa é a verdade. Esqueceram a lição do suave Mestre, senhor Redator, e em vezde conquistarem as crianças com bons tratos, fazem-nas mais revoltadas ainda comespancamentos seguidos e castigos físicos verdadeiramente desumanos. Eu tenho ido lá levaràs crianças o consolo da religião e as encontro pouco dispostas a aceitá-lo devidonaturalmente ao ódio que estão acumulando naqueles jovens corações tão dignos de piedade.O que tenho visto, senhor Redator, daria um volume.

Muito grato pela atenção.Servo em Cristo,Padre José Pedro

Carta publicada na terceira página do  Jornal da Tarde  , sob o título ‚Ser{ Verdade?‛ esem comentários.

CARTA DO DIRETOR DO REFORMATÓRIO À REDAÇÃO DO ‚JORNAL DA TARDE‛ 

Exmo. Sr. diretor do Jornal da Tarde.Saudações.Tenho acompanhado com grande interesse a campanha que o brilhante órgão da

imprensa baiana, que com tão rútila inteligência dirigis, tem feito contra os crimesapavorantes dos ‚Capitães da areia‛, bando de delinquentes que amedronta a cidade eimpede que ela viva sossegadamente.

Foi assim que li duas cartas de acusações contra o estabelecimento que dirijo e que amodéstia e somente a modéstia, senhor diretor me impede que chame de modelar. Quanto àcarta de uma mulherzinha do povo, não me preocupei com ela, não merecia a minharesposta. Sem dúvida é uma das multas que aqui vêm e querem impedir que o Reformatóriocumpra a sua santa missão de educar os seus filhos.

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Elas os criam na rua, na pândega, e como eles aqui são submetidos a uma vidaexemplar, elas são as primeiras a reclamar, quando deviam beijar as mãos daqueles que estãofazendo dos seus filhos homens de bem. Primeiro vêm pedir lugar para os filhos. Depoissentem falta deles, do produto dos furtos que eles levam para casa, e então saem a reclamarcontra o Reformatório. Mas, como já disse, senhor diretor, esta carta não me preocupou. Nãoé uma mulherzinha do povo quem há de compreender a obra que estou realizando à frente

deste estabelecimento.O que me abismou, senhor diretor, foi a carta do Padre José Pedro. Este sacerdote,esquecendo as funções do seu cargo, veio lançar contra o estabelecimento que dirijo gravesacusações. Esse padre que eu chamarei padre do demônio, se me permitis uma pequenaironia, senhor diretor abusou das suas funções para penetrar no nosso estabelecimento deeducação em horas proibidas pelo regulamento e contra ele eu tenho de formular uma sériaqueixa: ele tem incentivado os menores que o Estado colocou a meu cargo à revolta, àdesobediência. Desde que ele penetrou os umbrais desta casa que os casos de rebeldia econtravenções aos regulamentos aumentaram.

O tal padre é apenas um instigador do mau caráter geral dos menores sob a minhaguarda. E por isso vou fechar-lhe as portas desta casa de educação. Porém, senhor diretor,fazendo minhas as palavras da costureira que escreveu a este jornal, sou eu quem vem vospedir que envieis um redator ao Reformatório. Disso faço questão. Assim podereis, e opúblico também, ter ciência exata e fé verdadeira sobre a maneira como são tratados osmenores que se regeneram no Reformatório Baiano de Menores Delinquentes eAbandonados. Espero o vosso redator na segunda-feira. E se não digo que ele venha no diaque quiser é que estas visitas devem ser feitas nos dias permitidos pelo regulamento e é meucostume nunca me afastar do regulamento. Este é o motivo único por que convido o vossoredator para segunda-feira. Pelo que vos fico imensamente grato, como pela publicação

desta. Assim ficará confundido o falso vigário de Cristo.Criado agradecido e admirador atento,Diretor do Reformatório Baiano de Menores Delinquentes e Abandonados

Publicada na terceira página do Jornal da Tarde com um clichê do reformatório e uma notíciaadiantando que na próxima segunda-feira irá um redator do Jornal da Tarde ao reformatório.

O trapiche

Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem.Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche as

ondas ora se rebentavam fragorosas, ora vinham se bater mansamente. A água passava por  baixo da ponte sob a qual muitas crianças repousam agora, iluminadas por uma réstiaamarela de lua. Desta ponte saíram inúmeros veleiros carregados, alguns eram enormes epintados de estranhas cores, para a aventura das travessias marítimas. Aqui vinham encheros porões e atracavam nesta ponte de tábuas, hoje comidas. Antigamente diante do trapichese estendia o mistério do mar-oceano, as noites diante dele eram de um verde escuro, quasenegras, daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite.

Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É que na sua frente se estende agora o arealdo cais do porto. Por baixo da ponte não há mais rumor de ondas. A areia invadiu tudo, fez o

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mar recuar de muitos metros. Aos poucos, lentamente, a areia foi conquistando a frente dotrapiche. Não mais atracaram na sua ponte os veleiros que iam partir carregados. Não maistrabalharam ali os negros musculosos que vieram da escravatura. Não mais cantou na velhaponte uma canção um marinheiro nostálgico. A areia se estendeu muito alva em frente aotrapiche. É nunca mais encheram de fardos, de sacos, de caixões, o imenso casarão. Ficouabandonado em meio ao areal, mancha negra na brancura do cais.

(...)Seria bem melhor dormida que a pura areia, que as pontes dos demais trapiches ondepor vezes a água subia tanto que ameaçava levá-los. E desde esta noite uma grande parte dosCapitães da Areia dormia no velho trapiche abandonado, em companhia dos ratos, sob a luaamarela. Na frente, a vastidão da areia, uma brancura sem fim. Ao longe, o mar quearrebentava no cais. Pela porta viam as luzes dos navios que entravam e saiam. Pelo tetoviam o céu de estrelas, alua que os iluminava. Logo depois transferiram para o trapiche odepósito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraramentão para o trapiche. Não mais estranhas, porém, que aquela meninos, moleques de todas ascores e de idades as mais variadas, desde os 9 aos 16 anos, que à noite se estendiam peloassoalho e por debaixo da ponte e dormiam

(...)É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi

chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem 15 anos. Há dez que vagabundeia nas ruasda Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho eempregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus

 becos. Não há venda, quitanda, botequim que ele não conheça. Quando se incorporou aosCapitães da Areia o cais recém-construído atraiu para as suas areias todas as criançasabandonadas da cidade o chefe era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte.

Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo. Pedro Bala era muito mais ativo,sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridadede chefe. Um dia brigaram. A desgraça de Raimundo foi puxar uma navalha e cortar o rostode Pedro, um talho que ficou para o resto da vida. (...)

Porém Pedro Bala, o cabelo loiro voando, a cicatriz vermelha no rosto, era de umaagilidade espantosa e desde esse dia Raimundo deixou não só a chefia dos Capitães da Areia,como o próprio areal. Engajou tempos depois num navio.

Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia.

As luzes do carrosselO Grande Japonês não era senão um pequeno carrossel nacional, que vinha de uma

triste peregrinação pelas paradas cidades do interior naqueles meses de inverno, quando aschuvas são longas e o Natal está muito distante ainda. De tão desbotada que estava a tinta,tinta que antigamente fora azul e vermelha e agora o azul era um branco sujo e o vermelhoum quase cor-de-rosa, e de tantos pedaços que faltavam em certos cavalos e em certos

 bancos, Nhozinho França resolveu não armá-lo numa das praças centrais da cidade e sim emItapagipe. (...)

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O parque de Nhozinho França era naquele tempo a alegria da cidade. E, mais quetudo, o carrossel dava dinheiro, rodando incansavelmente com as suas luzes de todas ascores. (...)

Isso mesmo contou Nhozinho a Volta Seca que ficou excitadíssimo e ao Sem-Pernasnaquela tarde em que os encontrou na Porta do Mar e os convidou para que o ajudassem noserviço de carrossel durante os dias que estivesse armado na Bahia, em Itapagipe. Não podia

marcar ordenado, mas talvez desse para tirar cada um uns cinco mil-réis por noite. E quandoVolta Seca mostrou suas habilidades em imitar animais os mais vários, Nhozinho França seentusiasmou por completo, mandou baixar mais uma garrafa de cerveja declarou que VoltaSeca ficaria na porta chamando o público, enquanto o Sem-Pernas o ajudaria com asmáquinas e tomaria conta pianola.

(...)Nas noites da Bahia, numa praça de Itapagipe, as luzes do carrossel girariam

loucamente movimentadas pelo Sem-Pernas. Era como num sonho, sonho muito diverso dosque o Sem-Pernas costumava ter nas suas noites angustiosas. E pela primeira vez seus olhossentiram-se úmidos de lágrimas que não eram causadas pela dor ou pela raiva. E seus olhosúmidos miravam Nhozinho França como a um ídolo. Por ele até a garganta de um homem oSem-Pernas abriria com a navalha que traz entre a calça e o velho colete preto que lhe servede paletó.

– É uma beleza – disse Pedro Bala olhando o velho carrossel armado. E João Grandeabria os olhos para ver melhor. Penduradas estavam as lâmpadas azuis, verdes, amarelas,roxas, vermelhas.

É velho e desbotado o carrossel de Nhozinho França. Mas tem a sua beleza. Talvezesteja nas lâmpadas, ou na música da pianola velhas valsas de perdido tempo, ou talvez nosginetes de pau. Entre eles tem um pato que é para sentar dentro os mais pequenos.. Tem a

sua beleza, sim, porque a opinião unânime dos Capitães da Areia é que ele é maravilhoso.Que importa que seja velho, roto e de cores apagadas se agrada às crianças? (...)

Na outra noite foram todos com o Sem-Pernas e Volta Seca e tinham passado o diafora, ajudando Nhozinho a armar o carrossel e ver o carrossel armado. E estavam paradosdiante dele, extasiados pela beleza, as bocas abertas de admiração. O Sem-Pernas mostrava tuVolta Seca levava um por um para mostrar o cavalo que tinha sido cavalgado por seupadrinho Virgulino Ferreira Lampião. Eram quase cem crianças olhando o velho carrossel deNhozinho França, estas horas estava encornado num pifão tremendo na Porta do Mar.

(...)

– Então amanhã, quando acabar a função, tu pode botar ele pra rodar só com a gente.Tu bota as coisas pra andar, a gente se aboleta.

Pedro Bala apoiou a ideia com entusiasmo. Os outros esperavam a resposta do Sem-Pernas ansiosos. O Sem-Pernas disse que sim, e então muitos bateram palmas, outrosgritaram. Foi quando Volta Seca deixou o cavalo onde montara Lampião e veio para eles:

– Quer ver uma coisa bonita?Todos queriam. O sertanejo trepou no carrossel, deu corda na pianola e começou a

música de uma valsa antiga. O rosto sombrio de Volta Seca se abria num sorriso. Espiava apianola, espiava os meninos envoltos em alegria. Escutavam religiosamente aquela música

que saía do bojo do carrossel na magia da noite da cidade da Bahia só para os ouvidosaventureiros e pobres dos Capitães da Areia.

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Todos estavam silenciosos. Um operário que vinha pela rua, vendo a aglomeração demeninos na praça, veio para o lado deles. E ficou também parado, escutando a velha música.Então a luz da lua se estendeu sobre todos, as estrelas brilharam ainda mais no céu, o marficou de todo manso talvez que Yemanjá tivesse vindo também ouvir a música e a cidade eracomo que um grande carrossel onde giravam em invisíveis cavalos os Capitães da Areia.Neste momento de música eles sentiram-se donos da cidade. E amaram-se uns aos outros, se

sentiram irmãos porque eram todos eles sem carinho e sem conforto e agora tinham ocarinho e conforto da música. Volta Seca não pensava com certeza em Lampião nestemomento. Pedro Bala não pensava em ser um dia o chefe de todos os malandros da cidade. OSem-Pernas em se jogar no mar, onde os sonhos são todos belos. Porque a música saía do

 bojo do velho carrossel só para eles e para o operário que parara. E era uma unidade valsavelha e triste, já esquecida por todos os homens da cidade.

DestinoOcuparam a mesa do canto. O gato puxou o baralho. Mas nem Pedro Bala, nem João

Grande, nem Professor, tampouco Boa-Vida se interessaram. Esperavam o Querido-de-Deusna Porta do Mar. As mesas estavam cheias. Muito tempo a Porta do Mar andara semfregueses. A varíola não deixava. Agora que ela tinha ido embora, os homens comentavam asmortes. Alguém falou no lazareto. É uma desgraça ser pobre, disse um marítimo. Numamesa pediram cachaça. Houve um movimento de copo no balcão. Um velho então disse:

– Ninguém pode mudar o destino. É coisa feita lá em cima – apontava o céu.Mas João de Adão falou de outra mesa:– Um dia a gente muda o destino dos pobres...Pedro Bala levantou a cabeça, Professor ouviu sorridente. Mas João Grande e Boa-Vida

pareciam apoiar as palavras do velho, que repetiu:– Ninguém pode mudar, não. Está escrito lá em cima.– Um dia a gente muda... – disse Pedro Bala, e todos olharam para o menino.– Que é que tu sabe, frangote? – perguntou o velho.– É filho do Loiro, fala a voz do pai, respondeu João Adão olhando com respeito. – O

pai morreu pra mudar o destino da gente.Olhou para todos. O velho calou e também olhava com respeito.A confiança foi de novo chegando para todos. Lá fora um violão começou a tocar.

Dora, Irmã e NoivaComo o vestido dificultava seus movimentos e como ela queria ser totalmente um dos

Capitães da Areia, o trocou por umas calças que deram a Brandão numa casa da cidade alta.As calças tinham ficado enormes para o negrinho, ele então as ofereceu a Dora. Tambémestavam grandes para ela, teve que as cortar nas pernas para que dessem. Amarrou comcordão, seguindo o exemplo de todos, o vestido servia de blusa. Se não fosse a cabeleira loirae os seios nascentes, todos a poderiam tomar como um menino, um dos Capitães da Areia.

No dia em que, vestida como um garoto, ela apareceu na frente de Pedro Bala, o

menino começou a rir. Chegou a se enrolar no chão de tanto rir. Por fim conseguiu dizer:– Tu tá gozada...

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Ela ficou triste, Pedro Bala parou de rir.– Não tá direito que vocês me dê de comer todo dia. Agora eu tomo parte no que

vocês fizer.O assombro dele não teve limites:– Tu quer dizer...Ela o olhava calma, esperando que ele concluísse a frase.

–... que vai andar com a gente pela rua, batendo coisas...– Isso mesmo – sua voz estava cheia de resolução.(...)Andava com eles pelas ruas, igual a um dos Capitães da Areia. Já não achava a cidade

inimiga. Agora a amava também, aprendi a andar nos becos, nas ladeiras, a pongar nos bondes, nos automóveis em disparada. Era ágil como o mais ágil. Andava sempre com PedroBala, João Grande e Professor. João Grande não a largava, era como uma sombra de Dora, ese babava de satisfação quando ela o chamava com sua voz amiga de meu irmão.

(...)Professr preferia que não fosse assim. Sonhava com um olhar de carinho dos olhos da

Dora. Mas não daquele carinho maternal que ela tinha para os menores e para os mais tristes,Volta Seca, Pirulito. Tampouco um olhar fraternal, como os que ela lançava a João Grande, aSem-Pernas, a Gato, a ele mesmo. Queria um daqueles olhares plenos de amor que elalançava a Pedro Bala quando o via na carreira.

(...)Enquanto andava para o 14, Pedro Bala pensava em Dora. No cabelo loiro que caía no

pescoço, nos olhares dela. Era bonita, era igual a uma noiva. Noiva... Nem podia pensarnisso. Não queria que os outros do grupo se sentissem com direito de pensar em safadezascom ela. E se ele dissesse a Dora que ela era como uma noiva para ele, outro poderia se julgar

no direito de também dizer. E então não haveria mais lei nem direito entre os Capitães daAreia. Pedro Bala se recorda de que é o chefe...

(...)Ele abanou a cabeça afirmando. Então ela chegou os lábios para junto dos de Pedro

Bala, os beijou e depois fugiu. Ele saiu correndo atrás dela, mas ela se escondia, não sedeixava pegar. Aos poucos foram chegando os outros. Ela de longe sorna para Pedro Bala.Não havia nenhuma malícia no seu sorriso. Mas seu olhar era diferente do olhar de irmã quelançava aos outros. Era um doce olhar de noiva, de noiva ingênua e tímida. Talvez mesmonão soubessem que era amor. Apesar de não ser noite de lua, havia um romântico romance

no casarão colonial. Ela sorria e baixava os olhos, por vezes piscava com um olhe porquepensava que isto era namorar. E seu coração batia rápido quando olhava. Não sabia que issoera amor. Por fim a lua veio estendeu sua luz amarela no trapiche. Pedro Bala se deitou naareia e mesmo de olhos fechados via Dora. Sentiu quando ela chegou e deitou a seu lado.

Disse:– Tu agora é minha noiva. Um dia a gente se casa.Continuou de olhos fechados. Ela disse baixinho:– Tu é meu noivo.Mesmo não sabendo que era amor, sentiam que era bom. (...)

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ReformatórioO bedel Ranulfo, que o tinha ido buscar na polícia, o levou à presença do diretor.

Pedro Bala sentia o corpo todo doer das pancadas do dia anterior. Mas ia satisfeito, porquenada tinha dito, porque não revelara o lugar onde os Capitães da Areia viviam. Lembram-seda canção que os presos cantavam na madrugada que nascia. Dizia que a liberdade é o bemmaior do mundo. Que nas ruas havia sol e luz e nas células havia uma eterna escuridão

porque ali a liberdade era desconhecida. Liberdade. João de Adão, que estava nas ruas, sob osol, falava nela também. Dizia que não era só por salários que fizera aquelas greves nas docase faria outras. Era pela liberdade que os doqueiros tinham pouca. Pela liberdade o pai dePedro Bala morrera. Pela liberdade – pensava Pedro – dos seus amigos, ele apanhara umasurra na polícia.

(...)Ele precisa de movimento, de andar, de correr, para poder conceber um plano para

livrar Dora. Ali naquela escuridão é que não pode. Fica inútil pensando que ela está talveznuma cafua também. Senta-se como pode. Ratos correm na cafua. Mas ele está por demaisacostumado com os ratos, não liga. Mas Dora terá medo deste ruído contínuo. É deenlouquecer um que não seja o chefe dos Capitães Areia. Quanto mais uma menina... Éverdade que Dora é a menina valente

(...)Está novamente na sala do diretor. Este o olha sorridente:– Gostou do apartamento? Continua com muita vontade de roubar? Eu sei ensinar,

quebrar moleque aqui.Pedro Bala está irreconhecível de tão magro. Os ossos aparecem junto à pele. O rosto,

verdoso da complicação intestinal. O bedel Fausto, dono daquela voz que ele ouvira certa vezna porta da cafua, está ao seu lado. E um tipo forte, tem fama de ser tão malvado quanto o

diretor.(...)Castigos... Castigos... É a palavra que Pedro Bala mais ouve no reformatório. Por

qualquer coisa são espancados, por um nada são castigados. O ódio se acumula dentro detodos eles.

(...)Põe o punhal ao alcance da mão. Recolhe completamente a corda, amarra o lençol na

ponta com um daqueles nós que o Querido-de-Deus lhe ensinou. Ameaça mais uma vez omenino, joga a corda, passa o corpo pela janela, começa a descida. Ainda no meio ouve os

gritos denunciadores do delator. Se deixa escorregar pela corda, salta ao chão. O pulo égrande, mas ele já salta correndo. Pula a cerca, após evitar os cachorros policiais que estãosoltos. Desaba pela estrada. Tem alguns minutos de vantagem. O tempo dos bedéis sevestirem e saírem em sua perseguição e soltarem os cachorros também. Pedro Bala prende opunhal nos dentes, tira a roupa. Assim os cachorros não o conhecerão pelo faro. E nu, namadrugada fria, inicia a carreira para o sol, para a liberdade.

Noite de Grande Paz

Os Capitães da Areia olham mãezinha Dora, a irmãzinha Dora, Dora noiva, Professorvê Dora, sua amada. Os Capitães da Areia olham em silêncio. A mãe-de-santo Don’Aninha

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reza oração forte para a febre que consome Dora desaparecer. Com um galho de sabugueiromanda que a febre se vá. Os olhos febris de Dora sorriem. Parece que a grande paz da noiteda Bahia está também nos seus olhos. Os Capitães da Areia olham em silêncio sua mãe, irmãe noiva. (...)

Dora, Esposa– É bom... Sou tua mulher.Ele a beija. A paz voltou ao rosto dela. Fita Pedro Bala com amor.– Agora vou dormir – diz.Deita ao lado dela, segura sua mão ardente. Esposa.A paz da noite envolve os esposos. O amor é sempre doce e bom, mesmo quando a

morte está próxima. Os corpos não se balançam mais no ritmo do amor. Mas nos orações dosdois meninos não há mais nenhum medo. Somente paz, a paz da noite da Bahia.

Na madrugada, Pedro põe a mão na testa de Dora. Fria. Não tem mais pulso, ocoração não bate mais. O seu grito atravessa o trapiche, desperta os meninos. João Grande aolha de olhos abertos.

(...)Em torno é a paz da noite. Nos olhos mortos de Dora, olhos de mãe, de irmã, de noiva

e de esposa, há uma grande paz. Alguns meninos choram. Volta Seca e João Grande vãolevar o corpo. Mas, parado ante ele, está Pedro Bala, imóvel.

(...)Voltam para o trapiche. A vela branca do saveiro se perde no mar. A lua ilumina o

areal, as estrelas tanto estão no céu como no mar. Há uma paz na noite. Paz que veio dosolhos de Dora.

CompanheirosHá um movimento novo na cidade. Pedro Bala sai do trapiche com João Grande e

Barandão. O cais está deserto, parece que todos o abandonaram. Somente soldados de policiaguardam os grandes armazéns. Não há descarga de navios neste dia. Porque os estivadores,com João de Adão à frente, foram prestar solidariedade aos condutores de bonde que estãoem greve. Parece que há uma festa na cidade, mas uma festa diferente de todas.

(...)

Vão para a porta do sindicato. Entram homens negros, mulatos, espanhóis eportugueses. Veem quando João de Adão e os outros estivadores saem entre vivas dosoperários das linhas de bonde. Eles vivam também. João Grande e Barandão porque gostamdo doqueiro João de Adão. Pedro Bala não só por isso como porque acha bonito o espetáculoda greve, é como uma das mais belas aventuras dos Capitães da Areia.

Um grupo de homens bem vestidos entra no sindicato. Da porta eles ouvem uma vozque discursa, uma que interrompe: Vendido, amarelo.

– Tá bonito... – repete Pedro Bala.Tem vontade de entrar, de se misturar com os grevistas, de gritar e lutar ao lado deles.

(...)

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Mas hoje não são os Capitães da Areia que estão metidos numa bela aventura. São oscondutores de bonde, negros fortes, mulatos risonhos, espanhóis e portugueses, que vieramde terras distantes. São eles, que levantam os braços e gritam iguais aos Capitães da Areia. Agreve se soltou na cidade. É uma coisa bonita a greve, é a mais bela das aventuras. Pedro Balatem vontade de entrar na greve, de gritar com toda a força do seu peito, de apartear osdiscursos. Seu pai fazia discursos numa greve, uma bala o derrubou. Ele tem sangue de

grevista. Demais a vida da rua o ensinou a amar a liberdade. A canção daqueles presos diziaque a liberdade é como o sol: o bem maior do mundo. Sabe que os grevistas lutam pelaliberdade, por um pouco mais de pão, por um pouco mais de liberdade. É como uma festaaquela luta.

(...)– Companheiro, esse é um porreta diz João de Adão. – Tu não conhece os Capitães da

Areia nem Capitão Pedro... É um companheiro...Companheiro... Companheiro... Pedro Bala acha a palavra mais bonita do mundo. O

estudante diz como Dora dizia a palavra irmão.– Pois companheiro Pedro, a gente precisa de você e do seu grupo.

Os atabaques ressoam como clarins de guerraA revolução chama Pedro Bala como Deus chamava Pirulito nas noites do trapiche.É uma voz poderosa dentro dele, poderosa como a voz do mar, como a voz do vento,

tão poderosa como uma voz sem comparação. Como a voz de um negro que canta numsaveiro o samba que Boa-Vida fez:

‚Companheiros, chegou a hora...‛ A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu coração. Ajudar a mudar o

destino de todos os pobres.

(...)Uma voz que vem do cais, do peito dos estivadores, de João de Adão, de seu pai

morrendo num comício (...) Voz que vem do trapiche dos Capitães da Areia. Que vem doreformatório e do orfanato. (...) Uma voz que vem de todos os pobres, do peito de todos ospobres. Uma voz que diz uma palavra bonita de solidariedade, de amizade: companheiros.Uma voz que convida para a festa da luta.

(...)Voz poderosa como nenhuma outra.Porque é uma voz que chama para lutar por todos, pelo destino de todos, sem exceção.

Voz poderosa como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e vem de todos os lados.Voz que traz com ela uma festa, que faz o inverno acabar lá fora e ser a primavera. Aprimavera da luta. Voz que chama Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que vem de todosos peitos esfomeados da cidade, de todos os peitos explorados da cidade. Voz que traz o

 bem maior do mundo, bem que é igual ao sol, mesmo maior que o sol: a liberdade.(...)Agora comanda uma brigada de choque formada pelos Capitães da Areia. O destino

deles mudou, tudo agora é diverso. Intervêm em comícios, em greves, em lutas obreiras. Odestino deles é outro. A luta mudou seus destinos.

Ordens vieram para a organização dos mais altos dirigentes. Que Alberto ficasse comos Capitães da Areia e Pedro Bala fosse organizar os índios Maloqueiros de Aracaju em

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 brigada de choque também. E que depois continuasse a mudar o destino das outras criançasabandonadas do país.

(...)De punhos levantados, as crianças saúdam Pedro Bala, que parte para mudar o

destino de outras crianças. Barandão grita na frente de todos, ele agora é o novo chefe.De longe, Pedro Bala ainda vê os Capitães da Areia. Sob a lua, num velho trapiche

abandonado, eles levantam os braços. Estão em pé, o destino mudou. Na noite misteriosa dasmacumbas os atabaques ressoam como clarins de guerra.

Uma Pátria e uma famíliaAnos depois os jornais de classe, pequenos jornais, dos quais vários não tinham

existência legal e se imprimiam em tipografias clandestinas, jornais que circulavam nasfábricas, passados de mão em mão, e que eram lidos à luz de fifós, publicavam semprenotícias sobre um militante proletário, o camarada Pedro Bala, que estava perseguido pelapolícia de cinco estados como organizador de greves, como dirigente de partidos ilegais,como perigoso inimigo da ordem estabelecida.

No ano em que todas as bocas foram impedidas de falar, no ano que foi todo ele umanoite de terror, esses jornais únicas bocas que ainda falavam clamavam pela liberdade dePedro Bala, líder da sua classe, que se encontrava preso numa colônia.

E, no dia em que ele fugiu, em inúmeros lares, na hora pobre do jantar, rostos seiluminaram ao saber da notícia. E, apesar de que fora era o terror, qualquer daqueles lares eraum lar que se abriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é uma pátria euma família.