casa amado
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Casa AmadoTRANSCRIPT
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RUA ALAGOINHAS 33,RIO VERMELHO
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TEXTOS DEJORGE AMADOGILBERBERT CHAVESPALOMA JORGE AMADOFOTOS DEADENOR GONDIMARTE DEPEDRO COSTA
FUNDAO CASA DE JORGE AMADO
RUA ALAGOINHAS 33,RIO VERMELHO A CASA DE ZLIA E JORGE AMADO
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3RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
O MURO
fachada da rua Alagoinhas
Genaro de Carvalho, chapa
rua Alagoinhas
fachada da rua Irar
Comeamos com um passeiopela rua Irar, olhando acasa pelos fundos.Bougainvilles e flamboyantsformam um muro coloridodando privacidade piscina,mas podemos lanar um olharfugaz na varanda fechada,atravs das grades feitas porMrio Cravo. Agora vamospara o alto da ruaAlagoinhas, aqui que fica aentrada da casa, com seumuro branco que expeesculturas de artistas baianos,com seu muro de pedrasencimado por vegetao queacompanha o jardim atembaixo da ladeira.
O girassol de Genaro deCarvalho fugiu de um tapete evirou escultura em metal nomuro da casa.
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4RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
So Lzaro com seucachorro e umpssaro de ferro,ambas esculturas deMrio Cravo,dividem o espaocom o girassol eum ex-voto, umacabea. A luzprojeta sombrassobre o muro, ereflete nos cacos deazulejos quecompem omosaico da escadade entrada. Noponto mais alto, aarma de Oxssi,prxima do cu,misturando-se comas nuvens,protegendo a casade seu filho.
Mrio Cravo, ferro
ex-votoescada de cacos
arma de OxssiMrio Cravo, ferro
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5RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
Pode tercerteza queesta casa a33, mesmo ada frente sendoa nmero 329e a da suadireita a 342.Era 33 quandofoi comprada,ficou 33 athoje, no seobedeceu smudanasoficiais. Muitosazulejos seencarregam dediz-lo,inclusive aquelefeito e acolocado pelo ceramistaportugus JosFranco.
Jos Franco, azulejos
Hansen Bahia, talha Aldemir Martins, cermica
A ENTRADAO visitante poder escolher uma de duasescadas. Entrar com as frutas e com os dacasa, direto para a cozinha, pela entrada deservio, ou com as visitas, pela escada aolado. As duas tm entre e sobre elas bichos efrutas desenhados por Caryb em lindosazulejos. Xang acolhe o visitante atravs deseu machado ritual. Uma turista inconformadapor seu escritor predileto no estar em casa,escreveu sobre a talha de Hansen Bahia, acaneta, para no sair nunca mais: JorgeAmado, eu te amo; e ainda assinou.
Calasans Neto, talha
Mr
io C
ravo
, mac
hado
de
Xang
, fe
rro
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6RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
Paramos em frente portaentalhada por Calasans Neto,Tereza Batista nos braos deJanurio Gereba, seu amor.Respire fundo e sinta o aromade pitanga. Olhe no sentido darua, pelo lado de dentro domuro, no alto: uma pitangueiralinda, que pode estarcarregada de frutos vermelhose perfumados.
J se pode ver os azulejos deCaryb que representam Oxume a arma de Oxssi que estopela casa toda.
Chegamos perto da porta dasala, paramos para ver aindauma vez Oxum e Oxssi, sque agora Caryb os fez emcimento. Aqui no escaparamde levar um pouco da cal comque freqentemente sopintadas as paredes.
Calasans Neto, talha
Caryb, Oxum e Oxssi, cimento
Caryb, azulejos
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7RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
comeava apenas a conquistar leitores em lngua inglesa.Msera quantia, para mim enorme e, ainda por cima, em
dlares.
DLARES NA MO, TOCAMO-NOS, ZLIA E EU,para a Bahia, comeamos procurar a casa. No a
encontramos pronta, nossa espera, como desejramospara nos mudar em seguida. Terminamos por comprar
terreno no Rio Vermelho e nesse terreno edificamos a casaque estar documentada no livro para o qual, a pedido de
Paloma, escrevo estas palavras de introduo.
AO CONTAR DA CASA DO RIO VERMELHO,devo comear falando sobre o arquiteto Gilberbert Chavesque a projetou, detalhe por detalhe, e dirigiu a construotambm detalhe por detalhe. Quando perguntei aos artistasde minha amizade a que arquiteto devia solicitar projeto,ouvi, de mais de uma boca, o nome de Gilberbert cercadode elogios. Eu j o conhecia de vista e de conversa, fui com
Zlia espiar uma casa projetada por ele, construda emOndina, bela. Nosso mrito foi ter confiado num jovem que
iniciava sua carreira, disposto a uma criao original, auma inveno arrojada. Acertamos em cheio pois
Gilberbert projetou e construiu uma casa que no se parececom nenhuma outra. nica, traz a marca inconfundvel da
competncia engrandecida pela imaginao. Assim,comeo por dizer que esta casa , antes de tudo, uma
criao de Gilberbert Chaves.
BOA NOTCIA LOGO PELA MANH:Paloma conta-me que ela, Pedro e o fotgrafo
Adenor Gondim excelente fotgrafo e bom amigo esto preparando um livro documentrio sobre a casa doRio Vermelho onde Zlia e eu residimos h mais de trinta
anos. Para ser exato, posso informar que nela entramos, afamlia e as bagagens, em janeiro de 1963 cerca de
vinte operrios ainda trabalhavam na concluso da obra.Quando os ltimos se foram, um ms depois, j estvamos
instalados, mveis colocados em seus lugares, determinadosos espaos reservados a cada um de ns. A famlia era
constituda por Zlia e por mim, por minha me Lalu, viva,e por nossos dois filhos adolescentes. Eu via realizado umdos sonhos de minha vida, o de ter casa de morada na
cidade da Bahia.
J CONTEI ANTES E AQUI REPITO, QUE DEVO Aconcretizao desse sonho ao fato de ter vendido
empresa norte-americana Metro-Goldwyn-Mayer os direitosde cinema do romance Gabriela, cravo e canela. A Metropagou-me uma misria, com a traduo de Gabriela eu
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8RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
QUANDO ELA FICOU PRONTA, SENTADOS NA VARANDA,diante do jardim que plantvamos, eu disse Zlia ou
bem ela me disse, j no sei Quando a velhice chegar eestivermos os dois sozinhos, aqui, de mos dadas,
recordaremos os dias felizes.
ASSIM O FAZEMOS HOJE E, AO FAZ-LO,queremos agradecer aos nossos amigos, mestres da arte daBahia, que se juntaram ao arquiteto Gilberbert Chaves paradar casa do Rio Vermelho originalidade e carter. Ela no
se parece com nenhuma outra, nica, porque eles, osartistas, vieram e colaboraram. So muitos, se eu fosse citar
todos, a lista seria longa e decerto incompleta. Cada umdeles e todos eles marcaram-lhe a beleza, a beleza baiana.A presena de Caryb, porm, fundamental, se repete em
toda parte.
O GRANDE EXU QUE GUARDA A CASA,plantado no jardim entre rvores, obra do arteso Manu
que fazia os Exus para o candombl do Gantois. Todas assegundas-feiras Zlia lhe d a beber um gole de cachaa.
Quando ela no est, Aurlio faz suas vezes. Do outro ladoda casa, junto piscina oval, de bordas amarelas, a fmeade Exu, Maria Padilha, escultura de Tati Moreno, defende o
gabinete e os livros.
NOS FORNOS DA CERMICA DE UDO KNOF FORAMqueimados os azulejos de Caryb o arco de Oxssi, o
abeb de Oxum. Nos altos da sala, domina Iemanj,talhada na madeira por Mrio Cravo. Os mveis de Lev
Smarcevscki vieram de Itapagipe num saveiro. A porta darua de Calasans Neto e a que separa nosso quarto da
varanda de Jenner Augusto. Artistas e artesos, osfamosos e os annimos, enriqueceram e iluminaram a casa.
VINDOS DE TODA A PARTE DO MUNDO, SAPOSse espalham nos quatro cantos do jardim, se escondem nosesconsos das paredes. Cermicas de Picasso, o jarro e o
prato no prato a cara de um bode, incrvel.
CERTA FEITA PEDIMOS A UMA FIRMA IMOBILIRIAque avaliasse nossa casa do Rio Vermelho: quanto
obteramos por ela se a quisssemos vender? Vale o preodo terreno, mais nada, nos responderam.
JORGE AMADO
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9RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
OS SAPOS
terra cota, trazido da casa de Caryb
cermica, ndia
pedra
Quem nos d asboas-vindas ogrande sapo quetraz o filhinho nascostas. Dizem asms lnguas queele foi roubadode Caryb, mas ocaso no bemassim. Aconteceque o pobrezinhoestava todesprezado emcasa do pintor, nobairro de Brotas,que Jorge,amante de sapos,fez a caridade detraz-lo para acompanhia deseus irmos, quese espalham portoda a casa.
papi
er m
ach
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celo
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cer
mic
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bronzebronze
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So tantos, faltam somente os de verdade, que hoje em dia no vm mais aqui no se assuste, minha senhora! , mas houve o tempo em que um belocururu habitava a rua Alagoinhas, e era o orgulho dos que com ele dividiamesta casa.
loua, Portugal
loua, Portugal
loua, Portugal
loua, Portugalloua, Portugal
mad
eira
, Chi
na
loua, Portugal loua, Portugal
loua, Portugal loua, Portugal
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A SALA
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Pela porta de madeira vazada entramos nasala. Os Cangaceiros, de Caryb, montamguarda, enquanto o So Jorge, de FlorianoTeixeira, mata o drago, ali do outro lado daporta do quarto de hspedes.
O ambiente sombreado, contrasta com oexcesso de luz exterior. Entre os quadros dasala, a natureza viva emoldurada pelo grandejanelo de madeira.
O ba fica em frente mesa dealmoo, esta faz as vezes debureau, pois a que JorgeAmado gosta de despacharcom sua secretria. Sobre oba fechado fica o materialdeste escritrio improvisado.Terminada a sesso detrabalho, retirado o material, oba pode ser aberto para seapreciar a linda pintura queFloriano fez na parte interna desua tampa. Dentro soguardados livros de arte.
Tati
Mor
eno,
Ox
ssi,
chap
a de
lat
o
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Jenner Augusto, leo
Djanira, estudo, guache
Floriano Teixeira, leo sobre madeira
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Sala de estar e de jantar, escritrio, ela tambm o lugar preferido para odescanso do casal. Face grande televiso esto duas poltronas reclinveis,uma moderna, a de Zlia, a outra bem velhinha, do tempo em que o coronelJoo Amado era vivo, de Jorge; refestelados nelas eles lem os jornais,conversam, falam no telefone, repousam e vem televiso. Vamos passandoem silncio que est na hora do cochilinho.
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Os saveiros demestre CalasansNeto, com seu sol,iluminam a sala.Mas no s artebaiana que enfeitao espao:Pernambuco, RioGrande do Sul e Riode Janeiro estopresentes no jarrode Chico Brennand,no guerreiro deStockinger, nafigura sentada deVasco Prado, namulata na janela deDi Cavalcanti.
Di Cavalcanti, leo
Vasc
o Pr
ado,
cer
mic
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Calasans Neto, talha
Francisco Brennand, cermica
Stoc
king
er, m
adei
ra e
ferr
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Caryb, Os Cangaceiros, aguada de guache
Mirabeau Sampaio, madeira
Caryb uma vez pediu o quadro Os Cangaceiros emprestado para fazer partede uma exposio retrospectiva de sua obra, realizada na Alemanha. Oquadro foi, ficou fora mais de um ms, a sala parecia vazia. Sorte a nossa,que hoje ele j est aqui de novo.
E este bicho estranho, que bicho ser? Um lagarto? Um jacar? Um tatu? Sovariadas as opinies, unnime a paixo pelo bicho.
Vamos dar uma olhadinha tambm em torno da sala, por fora. A santa ceiaesculpida pelo Louco est incrustada na parede. E ali est uma escultura emmadeira de Mirabeau Sampaio.
terra cota
Louco, madeira
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No alto da parede principal da sala est umaseleo de peas da coleo de arte popular.
Osmundo, cermica
Willys, leo
lou
a
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L esto So Franciscoe, ao seu redor, osbichos que tanto estima.Com eles as crianas,nos Ibejes, carregadospela baiana, e no livroOs Capites da Areia,que Pancetti pintou aolado de uma flor.
Volpi, So Francisco, leo
cermica, Picasso
cer
mic
a, P
icas
so
Pancetti, Os Capites da Areia, leo
Ald
emir
Mar
tins,
cer
mic
a
Caryb, cermica
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
A sala to cheia de detalhes, difcilseguir adiante, mudar de cmodo, elaparece que tem visgo, como a Jaca queAldemir Martins pintou, to amarela eapetitosa, chega a dar gua na boca.
Aldemir Martins, guache
Carlos Bastos, leo
cone, Belgrado
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
A VARANDAABERTA
Samos da sala por outra porta demadeira vazada, esta dupla, que nosleva varanda aberta. Esta varanda como uma extenso do jardim, elesse interpenetram, quase seconfundem. Chegando a ela pelasala, como ns fizemos, maior oimpacto do jogo de luz e sombra quea domina, com o sol filtrado, um ououtro raio passando livre pelavegetao intensa.
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
Olhando da porta avistamos toda a extenso da casa, a vista passa peloporto de ferro, atravessa a varanda fechada e chega rua Irar. nossadireita est a carranca com cara de cavalo; ela veio do So Francisco, belae rara, foi um presente do escritor Vasconcelos Maia. Um animal feito comconchas, estranho cavalo com sol e lua, de Altamir Galimbert, est prximo aoutro cavalo, este com seu cavaleiro, que veio a trote da Litunia.
Altamir Galimbert, conchas sobre cimento
cer
mic
a, L
itun
ia
madeira pintada, vale do So Francisco
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
Pelas paredes tantos azulejos epeas de cermica
Calasans Neto, talha
Mir
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zule
jo (r
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Fun
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Francisco Brennand, cermica
Ald
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stic
o, R
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azul
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azul
ejos
per
sas
azul
ejos
per
sas
azulejo persa Floriano Teixeira, azulejo
Picasso, azulejos (reproduces); azulejo persa
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
A Virgem abstrata de MrioCravo compartilha o mistriode luzes e sombras com o SoFrancisco de Expedito e oanjo de mestre Dezinho, doPiau.
Mas vamos sentar umpouquinho, na marquesa ouno banco de madeira,antigos, pode ser tambm nacadeira de balano austraca,ela pertenceu ao mecnico epiloto de automveis ErnestoGattai, pai de Zlia. Nos finsde tarde, o frescor da brisaconvida ao balancinho nacadeira, do jardim vem umcheiro bom de pitanga.
Mes
tre D
ezin
ho, m
adei
ra
Expe
dito
, mad
eira
Mrio Cravo, madeira envernizada terra cota pintada
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
O bar se abre como movimento dajanela de trelia,em guilhotina. Elese fecha e nosmostra mais umconjunto deazulejos de Caryb,com bichos e frutas.Garrafas, jarras ecopos, peas devariadasnacionalidadesesto expostas nasprateleiras do bar,so parte dacoleo de artepopular, o que nolimita o utenslio amero objetoexposto.
O B
AR
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
Vamos tomar um suco de umbu, estajarra branca com desenhos verdes tcheca, vem desde o tempo de exliodos donos da casa, h quasecinqenta anos.
Caymmi, leo
Carlos Bastos, leo
Di Cavalcanti, aquarela
Fernando Coelho, leo
Willys, leo
Lev Smarcevscki, leo
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
Vamos aproveitar o frescordesta tarde clara parapassear no jardim, sentarum pouco nos bancos dealvenaria, cobertos pormosaicos de cacos deazulejos, que esto sob asgrandes rvores.
O JARDIM
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
aqui no jardim que est o principal dono da casa: Exu. Foi mestre Manuquem forjou em ferro o orix, que com suas armas foi viver no jardim, deonde olha a casa e lhe d proteo. Aqui ele bem cuidado, toda a segunda-feira toma sua cachacinha, ganha sua gamela de comida, sempre quereclama por ela. No tenham medo, ele no mau como dizem, apenastravesso.
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Vamos tomar o caminho da direita, ele vai at o quiosque.Passaremos pelo jambeiro, pela jaqueira, por algumasmangueiras. No se acanhem, podem colher as mangas queesto pelo cho. que so tantas, que sempre sobra alguma semcolher. Esto vendo ali, perto daquela pitangueira? Esta cabeaem pedra de Vasco Prado mora no jardim h muitos anos.
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Agora que chegamos no fim do jardim voltamos pelo outrolado, o caminho passa pelo sapotizeiro e por outrasmangueiras. Tem at um p de oiti. Quase tudo foi plantadopor Zlia e por Jorge. Estamos chegando de volta casa,impregnados de verde e dos reflexos dourados do sol. J seavistam os galos de cermica que vieram de Portugal.
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
O QUARTO
Uma turista, uma vez, foi surpreendida por Zlia sendo fotografada deitadana cama do casal. No se constrangeu, explicou: Ora, querida, no podiadeixar de tirar um retrato na cama de Jorge Amado. Se ela pde ver o quarto,ns podemos tambm, sem precisar deitar na cama, claro!
A cama de alvenaria, Oxum e Oxssi nos azulejos de Caryb. No cantouma chaise-longue de Oscar Niemeyer, ao lado os bas com os guardados.
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
Genaro de Carvalho, tapearia em l
Fernando Lopes, leo Mirabeau Sampaio, leo e ouro
A Iemanj de Genaro de Carvalho domina o quarto, com suascores vibrantes. A igrejinha de Santana o corao do bairrodo Rio Vermelho. Face a ela morava o pintor Jos de Dome.
Jos Maria, leo
Jos de Dome, leo
Clvis Graciano, Zlia, aquarela
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
Emanuel Arajo, gravura Juarez Paraso, gravura
Henrique Oswald, leo
Di Cavalcanti, leo
Carlos Scliar, Zlia Gattai, leo
Calasans Neto, talha
Carlos Scliar, Jorge Amado, fuseau
Djanira, guache
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
J que entramos na intimidade do casal, vamos espiar um pouco o que elestm sobre a cmoda. E na parede o grande espelho redondo, de metal, queveio do Mxico.
Willys tirou o quadro Atelier deAlfredo Santeiro de sua parede,para dar a Jorge, pouco antes demorrer.
Picasso, cermica, Frana
Cardoso e Silva, leo
Generalic, gravura, Iugoslvia
Willys, Atelier de Alfredo Santeiro,leo
Rossi, Zlia Gattai, fuseau
loua, Dinamarca
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
A penteadeira de Zlia fica em frente cama. No alto uma prateleira expe santos;a cada lado, sincreticamente, peas rituaisde mestre Didi, filho da saudosa MeSenhora, iyalorix do Ax Op Afonj; emferro, as armas de Oxssi. Tambm no alto,um grande quadro de Aldemir Martinsmostra uma baiana.
Lev
Smar
cevs
cki,
leo
Eman
uel A
raj
o, g
ravu
ra
Mestre Didi, palha, couro, bzios
Man
u, a
rma
de O
xss
i, fe
rro
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
Contguo ao quarto esto escritoriozinho deZlia, privando domesmo ambiente deintimidade.
Vejo que olham comcuriosidade estes animaise esta estranha equaono quadro de Caryb. que morto de inveja dabeleza dos ces Pug,habitantes desta casa,ele inventou que estaraa era o resultado docruzamento de morcegocom porco e telefone.No satisfeito com o queinventou, pintou ainveno!
Jos de Dome, Tieta do Agreste, leo
Caryb, aguada
Raimundo de Oliveira, leo Diego Rivera, Auto-retrato, bico de pena
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
INSINUAES E FRAGMENTOSFAZ MUITO TEMPO. O ANO TALVEZ SESSENTA E DOIS.
No Bairro do Rio Vermelho.
CERTA NOITE, NO ATELIER DO ESCULTOR MRIO CRAVO JR. ,foi marcado com antecedncia um encontro. A casa de Mrio e Lciaera contgua ao atelier. Lcia tratada por Snia minha esposa e por
mim, na intimidade, carinhosamente, como Lucinha ou comoComadrinha.
FICAMOS A CONVERSAR COM MRIO E LUCINHA,ouvamos a melhor msica clssica e jazz. Como de costume, foi
servido saboroso cafezinho. No demorou muito, chegaram Zlia eJorge, Luiza e Jenner. Como sempre, foram feitas as brincadeiras
descontradas e muitos risos. Pusemo-nos vontade.
PASSADO O INTRITO, FOMOS IMEDIATAMENTEao assunto do encontro. Conceder uma mozinha a Zlia e Jorge naadequao da casa s necessidades bsicas do casal. Marcou-se a
primeira visita casa no dia seguinte s nove horas. Rua Alagoinhas,Rio Vermelho. A casa estava situada num grande conjunto imobiliriode habitaes de classe mdia, dos anos cinqenta, conhecido comoParque Cruz Aguiar. A refinaria de petrleo Landulfo Alves comeava
a produzir, o CIA, Centro Industrial de Aratu estava sendo instalado.Salvador adquiria novo status. Agitava-se, expandia-se e era atrao
turstica.
S NOVE HORAS BATO PORTA.A porta da casa est situada no alto do lote e antecedida por umaescada confinada e estreitinha. Algum abre e convida-me a entrar.
Atravesso a casa diagonalmente em direo ao lote contguo, pelado,sem arborizao, uma tristeza. Zlia e Jorge estavam com as mos na
terra. Plantavam naquela terra estorricada e formiguenta. Tinhampressa em arborizar aquela terra ressequida e convert-la em terra
humosa. Talvez desejassem transform-la no pequeno jardinzinho dosseus sonhos, posto que, naquele tempo o casal possua apenas essepequeno lote vizinho casa. Alguns anos depois, viriam a adquirir
mais alguns lotes, que, no conjunto, transformaram-se em uma glebade terra de razovel dimenso. Zlia e Jorge iriam compor um plantiovariado de rvores e arbustos, que viria a ser realmente o jardim dos
seus sonhos, quase um pequeno bosque.
MOSTRAM-ME O LUGAR ONDE SERIA EXECUTADA A VARANDA,a sute do casal e o wc para conforto das visitas, localizado
discretamente no canto da varanda.
A CASA DE ZLIA E JORGE RESULTOU COM O TEMPOem uma casa pregnante, isto , prenhe, repleta, plena, cheia e
pejada de objetos, na qual todos os espaos so ocupados.Objetos aos milhares, que no so como de um colecionadorcomum. So objetos que possuem algo de expresso plstica,
criatividade e utilidade. Parte deles foram adquiridos por Zliae Jorge e parte foram oferecidos por amigos do casal. Os
objetos esto implantados, incorporados, grudados, fixados,integrados, em cada pequenino espao, cada muro, cada
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
ESTAVA CONVICTO, NAQUELE MOMENTO, DE QUE JORGEsintetizava o esprito da Bahia. A identidade com a gente baiana,povo, povo mido, pobreza substancial, pobreza digna, pobrezade meios o povo mais forte do que a misria, diz Jorge. Jorge
encarnava a modstia franciscana, declarava o irmo na poesia,Odorico Tavares.
FATO CURIOSO QUE PARA REALIZAO DE TODAS ASobras de reforma e ampliao da casa de Jorge, no foi
executado, como de praxe, o projeto de arquitetura. Como se dizcomumente nestes casos: projetado em cima da perna. Talvez poristo tenha dado certo. Prevaleceu a espontaneidade. A ocasio. O
momento. A improvisao. O instante. As conseqncias. Osrecursos. Os meios. Os fatos. Todavia foram executados alguns
desenhos parciais e localizados.
ZLIA E JORGE VIRAM QUE ERA BOA A VARANDA.Decidiram que seria conveniente reformar a outra parte da casa.Ficaram inquietos, programaram a nova fase. Com a construo
dessa segunda fase teramos uma casa com unidade arquitetnica.
O PROGRAMA CONSTAVA DE BAR, SALA DE ESTAR,quarto para Lalu, me de Jorge, quarto para Joo Jorge, quarto
para Paloma e sute para visitas. Exclusivamente para Zlia oprograma inclua quarto de vestir, quarto de costura, laboratriofotogrfico e solrio ao nvel do telhado. Dependncias, cozinha,copa e rea de servio. Com este programa ocupou-se todos os
espaos da primeira casa. As dependncias para as empregadasforam construdas distantes, no extremo dos lotes pelados e
desarborizados, os quais, mais tarde, seriam transformados emfrondoso jardim. Uma catedral verde.
salincia, cada plano horizontal, cada plano vertical. A casaabriga o micromundo dos objetos. Os objetos despertamcuriosidade ao serem percebidos, descobertos, notados e
compreendidos. Alguns esto posicionados para despertarcuriosidade, excitar a imaginao, como se fosse um mundo
mgico. Um mundo dentro de outro mundo. nico. So formashumanas, animais e objetos msticos dos rituais afro.
CONSIDERO ORIGINAL ESTA VALORIZAO DOS OBJETOSno geral. Poucas pessoas criaram um mundo to rico de
simbolismo e humanidade. Agrada-me o conjunto.
A SEMITICA DA CASA BAIANA. NA ENTRADA, UM MODELO DE PRTICO.A ambigidade de duas escadarias contguas. Ambas
decoradas com cacos de cermica e azulejo, executada porJorge e o pedreiro ajudante. No alto do prtico o signo de
Oxssi, para mim o arco e flecha dos ndios, tambmidentificado como a arma de So Jorge. Signo de Jorge dos
rituais afro. O arco aponta para o cu. Para mim que aimaginei, aluso torre dos sinos da Igreja Beneditina do
conjunto arquitetnico do convento de la Tourette, construda naFrana sobre o projeto de Le Corbusier. Projetei algo como um
altar para a virgem-afro, escultura de Agnaldo Santos e um Pejide Oxssi, situado na varanda. Existe uma srie de objetos e
espaos simblicos, no interior da casa e distribudos pelojardim.
A FORMA ARQUITETNICA DA VARANDA ESTAVA CONDICIONADA minha reflexo, inspirao, identidade, motivao,
adequao do espao, funo e ao programa. Enfim oferecerrespostas aos desejos psicolgicos e pessoais do casal.
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
EM ESPAOS ESPECFICOS, MUROS E MURETAS FORAMaplicadas cores simblicas. Azul anil ou ndigo, xido de ferro ou
ferruginoso e roxo terra ou roxo forte.
FINALMENTE, PARA VALORIZAR A TEXTURA CORRUGADA DAS PAREDES, predominou obranco da cal no corpo da casa.
CONTEXTUALIZAMOS NA CASA A FORMA, A VOLUMETRIA,a robusteza, a curvatura, a textura, a gordura, a macieza
encontrada no guarda-corpo da borda de Ladeira daMontanha. Estas referncias visuais e formais so encontradasna parte inferior da abertura gradeada da sala de estar, nosacabamentos do banco da varanda e na borda da piscina e
degraus do seu interior. Indiretamente lembra partes do corpoda preta baiana. As ancas, as coxas, os ombros e os braos.
Algo macio e oleoso.
A ATMOSFERA AMBIENTAL DO INTERIOR DO MERCADO MODELOfoi motivo de referencial ambiental e espacial da casa. O
Mercado Modelo foi destrudo por incndio h muitos anosatrs. A parte central da casa dotada de forro vazado
executado com ripas de ip e iluminado zenitalmente por telhasde vidro. A luz projeta nas paredes e pisos inusitados desenhos
lineares, geomtricos e abstratos. O forro vazado facilita aaerao, a ventilao e o combate umidade e ao mofo. O
forro vazado de ripas de ip deste modo cria uma proporomais aprazvel dos espaos da casa.
A CONSTRUO DA CASA DEFINITIVA.A casa final realizou-se por partes. Pouco a pouco.
PARA CONSTRUO DESSA SEGUNDA FASE DA PRIMEIRA CASA,pela sua complexidade e dimenso, foram contratados os engenheiros
construtores Nilson Costa e Artur Ramos.
NO JARDIM CONSTRUIU-SE UMA FONTE PARA ARainha das guas, Iemanj. Uma Iemanj, esculpida por Mrio
Cravo, foi colocada na mesma. Passados alguns anos, com odesenvolvimento do jardim, soterrou-se a fonte e a escultura de
Iemanj foi colocada num espao adequado, num local elevado dasala de estar preservada das intempries. Fincou-se um mastro grande
de saveiro para nele tremular a bandeira de Iemanj pintada porCaryb posteriormente Floriano Teixeira pintou outra bandeira de
Iemanj. Logo na entrada da casa desenhei um prtico. Calasans Netoentalhou uma porta de madeira ao lado do prtico e uma sereia deconcreto decorada com bolas de gude situada no alto do telhado, noterrao da piscina. Atualmente so dois mastros fincados ao lado da
piscina, que simbolicamente representa a fonte de Iemanj. Asemitica as guas. Os mveis da sala de estar e jantar foram
desenhados e executados por Lev Smarcevscki.
A CASA GANHOU UNIDADE FORMAL E FOI MUITO VISITADA.
FOI UM MOMENTO NO TEMPO E NO ESPAO.
NO PRINCPIO MUITAS CORES FORAM COGITADAS PARA PINTURAda casa de Zlia e Jorge. Teriam comeo no colorido variado doscasares e sobrados do Pel. Cores arquitetnicas. Ocres, azuis,
verdes, amarelas, vermelhas, terrosas, rosas, lilases e cinzas. Corescom integridade total. Cores com significado. Cores sem misturas,
puras, diretas e sem nuances. Cores originrias dos objetos do cultoafro e do artesanato da gente pobre que executado com barro cru.
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Os espaos das duas casas foram no tempo articulando-seorganicamente, acontecendo naturalmente com o fluir da vida
familiar e sua dinmica. Os espaos foram integrando-se.nascendo e morrendo, segundo o destino natural da
existncia humana.
A CASA FICA SITUADA A POUCOS METROS ACIMAda Rua Alagoinhas, portanto, no sendo avistada da mesma.
parcialmente percebida da Rua Irar. Pouco vista do jardimcontguo mesma.
MESTRE RUFINO, ESCOLHA DE JORGE, UM GRANDE ACHADO.Eu ia inventado as solues arquitetnicas no canteiro e ele com
entusiasmo ia executando, sem dificuldades. Executava com amor ededicao. Zlia e Jorge felizes, assistindo e participando daexecuo da obra, quase diariamente. Derrubam-se paredes,
constroem-se paredes, fecham-se portas e janelas, abrem-se outras,erguem-se colunas, assentam-se as vigas mestras de ip da
varanda, pe-se os caibros, assentam-se as telhas, retira-se oreboco podre, cria-se reboco novo texturado, caiam-se as paredes,envernizam-se as peas de ip. Hoje o ip, como madeira de lei,
est lamentavelmente extinto.
A CERMICA DO PISO DA VARANDA E DA SUTE VIERAM DEConceio do Almeida, recncavo baiano. Fora executada por umoleiro por mim descoberto, com barro da beira de rio, para obter acolorao clara. Esse tipo de cermica usado desde a poca da
colonizao.
ASSIM PODEMOS DIZER, NUMA BOA, SEM TRAUMAS,executou-se a varanda e a sute. Colaboraram nessa fase os artistas
e amigos, Mrio Cravo, Caryb, Jenner Augusto e Lnio Braga.
AS CADEIRAS DA SALA DE ESTAR E DAS VARANDASforam executadas em ip, fundamentadas no desenho de umacadeira existente no Convento de So Francisco, descoberta e
cadastrada por mim, e realizado o primeiro modelo com ajuda dopintor Lnio Braga. Tambm confeccionamos, improvisando com
sobra dos caibros do telhado, duas mesas de centro, para avaranda e para a sala de estar.
SURGIU A POSSIBILIDADE DE ZLIA E JORGE COMPRAREM UMAsegunda casa, vizinha primeira j completamente reformada,poderiam ampli-la e dispor de mais conforto espacial. Terceirafase da construo. Seria oportunidade de Jorge poder gozar de
uma saleta para escrever e despachar com a secretria. A idia deconstruir a piscina em frente saleta de escrever revelou-se faca de
dois gumes. L se foi o isolamento, l se foi a saleta de escrever.
CONSTRUIU-SE NESTA SEGUNDA CASA MAIS UMAsute para visitas, ampliou-se a cozinha, a rea de servio e criaram-se novas dependncias de empregadas, lavanderia, local para passara ferro e de quebra ganhou-se uma pequena horta protegida da rua
por um muro com um baixo-relevo vazado, executado em cobre,desenhado pelo tapeceiro Genaro de Carvalho.
A EXECUO DA REFORMA E AMPLIAO DESSAsegunda casa ficou a cargo do arquiteto Mrio Mendona.
CONCLUDA A OBRA, JORGE NO CONSEGUIA ESCREVER,a piscina cheia de gente: nela podiam nadar livremente os netos. Foi
tempo do lazer, da boa vida. Para curtir o calor e os banhos depiscina.
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O DESLIZAMENTO DO TALUDE PODERIA ACONTECER DURANTEo inverno vindouro, fazer desaparecer grande parte do jardim,
causar danos na rua Alagoinhas. Criar grande desordem notrfego do bairro.
O DILVIO, PREOCUPAO DE CADA INVERNO,precipitava muita gua sobre o jardim. As guas
transbordavam, derramando-se atravs da borda do jardim,verdadeira cachoeira, em forma de cortina, caindo diretamente
sobre a Alagoinhas. As guas carregavam adubos, plantasmidas, a cerca verde de hibiscos e o prprio terreno de argilaocre. A eroso causava notvel estragos na pavimentao da
rua, executada em paraleleppedos. Como evitar odeslizamento? Cada ano aumentava o processo erosivo.
ESTUDOS TCNICOS APONTAVAM A CONSTRUO DEimensa cortina de concreto armado. Jorge bancou os custos da
obra, afim de evitar a destruio do jardim por ele e Zliaplantado mo a mo. Segurana e estabilidade foram
restitudas. Salvou-se o jardim plantado com amor.
ZLIA E JORGE NO IMAGINARAM UM JARDIM CONVENCIONAL,gramado inglesa. O plantio resultou simplesmente em um
jardim frondoso e intricado. Cada nova plantinha quedespontava voluntariamente no jardim era de pronto notada por
eles, bem vinda e preservada com mimo, carinho e amor.
A IMAGEM DO MEIO RURAL E DO AMBIENTE DA CASA DE FAZENDA DE CACAUficaram impregnados na mente de Jorge nos seus primeirosanos de vida, de sua meninice. Jorge nasceu grapina, teve
intimidade direta com a Mata Atlntica, acostumado,
ZLIA E JORGE DECIDIRAM CONSTRUIR MAIS AFASTADO UM ANEXO CASAdefinitiva, isto , a casa composta da integrao das duas
primeiras. O anexo casa definitiva seria a salvao para osdois escritores.
A FORMA ARQUITETNICA DO ANEXO DIVERGEum pouco da forma da arquitetura da casa. O anexo fica
localizado muito distante da casa, e no so avistados entre si,visto que o jardim entremete-se entre ambos. Mas pode-se
perceber, atravs do mesmo, ao longe, parte do bairro do RioVermelho e o mar. Foi feito sobre as dependncias das
empregadas depois transformadas em adega e depsito.
A FORMA ARQUITETNICA DO ANEXO TEM COMO PARADIGMAa arquitetura do Mediterrneo, a qual tomei como emprstimona obra de Le Corbusier, bem como as propores, as medidas
e o traado regulador contidas no Modulor, de Corbusier,adaptado ao ambiente baiano. Zlia e Jorge, quando de suas
viagens pela Europa, visitam sempre o Mediterrneo epessoalmente identificam e apreciam a arquitetura
mediterrnea.
O ANEXO CASA CONSTITUDO DE UMA SALA-QUARTO,banheiro e varanda. um espao confortvel. A idia seria queo casal ficasse isolado no seu cantinho. O isolamento funcionou
parcialmente. A Zlia e Jorge pretendiam por sua tenda deescritor, inclusive, para terem sossego, dispensaram o telefone.
Zlia e Jorge no conseguiram se isolar e ento decidiramvoltar para a sute situada no corpo da primeira casa. Voltaram
para o antigo ninho.
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familiarizado com mato, mato fechado, cips, rios, riachos,lagoas, brejos, plantas, aves, pssaros, animais, mil besouros,muita gua, muita chuva fina, chuva grossa, sombras, muito
cheiro de mato. Aroma da mata.
JORGE NASCEU NESTE AMBIENTE DA MATA ATLNTICA,na vila de Ferradas; coincidentemente, nasci a.
O CAMINHO DO JARDIM FORA EXECUTADOpobremente com aproveitamento de placas de concretoprovenientes das demolies dos terraos e varandas
reformadas. Sobras das obras. Uma placa seguindo a outraplaca, isoladamente.
A COEXISTNCIA DAS PEQUENINAS PLANTAS COM AS GRANDES RVORES. Oconjunto, como orquestrao de seres diversos. Os pssaros, aluz suave projetada sobre a terra, filtrada pela folhagem, cria
um mundo de imagem tropical. A umidade, a amenidadeclimtica. A proteo da incidncia dos raios solares passam asensao de se poder viver em contato direto com a natureza.
Independentemente da arquitetura e do abrigo.
A CASA PASSA A SER UMA ABSTRAO.O jardim predomina, assume importncia maior.
Esta foi a lio da casa de Zlia e Jorge. O jardim foi umacriao deles. Sobrepujou a arquitetura.
IDIA DO RESPEITO NATUREZA MSTICA, DA NO DESTRUIO, DAconfraternizao de todos os seres humanos, da vida e do
amor.
ESTAR NO JARDIM.
IMAGENS SOLTAS. REFLEXES.
LUZ, SOMBRAS. AMENIDADE TROPICAL.Criatividade, silncio e umidade. O destino humano. A naturezarespeitada. Paz. Sensibilidade. Amor. Humildade. Acolhimento,recolhimento. Viso interior, desligamento da angstia da vida,desprendimento, viver. Natureza integrada vida. Viver um ato
natural, espontneo. Liberdade. A vida por instantes,circunstancialmente.
LUZ E SOMBRAS.
QUANDO A ARQUITETURA REDUZ-SEa uma abstrao e se submete natureza.
CIRCUNSTNCIAS.
GILBERBET CHAVES
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Vamos entrar agora para varanda fechada, em forma de L. Na verdade estavaranda s fechada em relao primeira, pois toda gradeada com asgrades de ferro desenhadas por Mrio Cravo. Nesta perna do L os mveis sode Oscar Niemeyer.
Relgio, gravura, Portugal
Hansen Bahia, gravura
Pote
iro,
terr
a co
taA VARANDAFECHADA
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A luz que entra pela grade vem da rua Irar. Lembram? Foi esta parte dacasa que vimos no comeo da visita, quando ainda passevamos pela rua.Agora podemos ver os detalhes, objeto por objeto. nesta varanda que estcolocada a maior parte da coleo de arte popular de Zlia e Jorge Amado.
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
As peas vieram de todas as partes do mundo, tm sido colecionadas aolongo dos ltimos cinqenta anos. Uma das virtudes deste conjunto, e damaneira com que ele exposto, est na mistura das peas, fazendo com quehaja um certo anonimato, a beleza ganha prioridade sobre a origem.
Vamos olhar esta prateleira. Estovendo as corujinhas? Eu sei que uma mexicana, mas qual ser? Estoposando em frente s baianas quedanam sua dana ritual. Um olhomais atento ver que um quadrode Jenner Augusto, as artes seunindo numa s beleza.
Vamos fazer ateno aos dois ex-votos. Um do Toilette de Flora,famosa tenda de riscar milagres dosculo passado; o outro foi pintadopor Licdio Lopes, mostra o caadormatando a ona e salvando ascrianas. A ona, em terra cota,tambm vista em p, fora doquadro.
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O Peji de Oxssi foi pintado por Lnio Braga, em sua frente esto peasrituais. Os azulejos que bordam o banco so antigos.Dodik Jegou, cermica, Frana
Jos
Pin
to, f
erro
Jos
Pin
to, f
erro
Udo Knof, cermica
Willys, leo
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O Cristo, do Louco; o macacomsico; a figura indiana.
Louc
o, m
adei
ra
terr
a co
tam
adei
ra e
ncar
nada
, nd
ia
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Um grupo extraordinrio deesculturas est na varandafechada: o Exu, de MirabeauSampaio; o estudo para agrande escultura Cangaceiro,de Mrio Cravo; a esculturaabstrata com que MirabeauSampaio, recebeu medalha deprata no Salo Paulista; e ogrande pssaro de FranciscoBrennand.
Mir
abea
u Sa
mpa
io, m
adei
ra
Mir
abea
u Sa
mpa
io, m
adei
ra
Francisco Brennand, cermica
Mr
io C
ravo
, est
udo
para
O C
anga
ceiro
, mad
eira
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A Igrejinha de Cardoso e Silva vermelha, estranha e bela, como tambm vermelho o boi do mestre Vitalino. Existem colees dentro da coleo, aquiesto os porquinhos.
da predileo de todos da casa este castialem madeira. De onde veio? H trs dias quepenso nisso, tento me lembrar e no consigo.Pergunte a Zlia, ela sabe com certeza dizJorge. Trouxemos de uma de nossas viagens, dizZlia, mas no sei mais de qual.
Vitalino, cermica
Cardoso e Silva, leo
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Nossa Senhora dos Pregos, o nome desta obra prima de Agnaldo. Reparemos quadros sobre ela, na verdade so os basculantes do banheiro do quartodo casal, que foram pintados por Jenner Augusto.
Agn
aldo
,Nos
sa S
enho
ra d
os P
rego
s, m
adei
ra
Ant
nio
Reb
oua
s, b
ronz
e
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No alto da parede, por sobre a coleo, esto Sante Scaldaferri, CarlosBastos em duas cenas de festa em Salvador Afrnio Castello Brancoe Jamison Pedra.
Chamo a ateno para aquele barco de Exus esquerda, uma pea curiosa,que mistura madeira a arte plumria. Muito linda, tambm, arepresentao dos msicos de Bremen, perto do quadro de Sante.
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Junto janela de trelia queabre para o quarto do casal,uma variedade de bichos tartarugas, bois e vacas, umcarneiro, uma zebra, cavalos,um leo, uma pomba rolia,um peixe de boca aberta convivem sob o olhar amigoda rendeira que tece em suaalmofada de bilros.
Olhem que pea bonita! umdente de elefante-marinhoentalhado pelos esquims. Narealidade uma carta, ondetoda uma histria de pesca contada. A santa ceia queest atrs dele do ceramistaMilagres. De um lado umaorquestra de flautas peruana,do outro a orquestra demacacos.
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A PISCINA
Vasc
o Pr
ado,
ped
ra
Tati
Mor
eno,
Mar
ia P
adilh
a, fe
rro
Em torno destapiscina de bordaamarela, estosapos, peixes,baleias, iemanjs.Mas quem mandamesmo neste pedao Maria Padilha,mulher de Ex, queTati Moreno esculpiuem ferro, com asmos na cintura.
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No alto da casa, sobreo solarium ao qual setem acesso por umaescada no escritrio deZlia est a baleia debolas de gude deCalasans Neto
Francisco Brennand, cermica
Udo Knof, azulejos Cravo Neto, ferro
azulejos, Frana
Caryb, terra cota
Aldemir Martins, azulejoCaryb, bronze
cermica, Finlndia
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Para a piscina abrem-se uma porta vazada e um janelo como o da sala, elesso do escritrio onde esto as tradues dos livros de Jorge e onde trabalhasua secretria. A me de santo e suas filhas fizeram pose para Caryb e hojetomam conta das tradues dos livros do Ob Arolu.
Caryb, cermica
Caryb, leo
cermica, Peru
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Em meio aos livros e ao computador, duas imagens de dona Flor: a deFloriano Teixeira e a de Jos de Dome iluminam o escritrio. Com elas est oGoleiro, de Siron Franco, e o Cego, retrato que Jos de Dome fez de seuirmo. Sobre a porta que abre passagem para o corredor que leva ao quartode hspedes e cozinha est uma grande arraia de ferro, de Mrio Cravo.
Floriano Teixeira, Dona Flor, leo Jos de Dome, Dona Flor, leo
Siron Franco, leo
Jos de Dome, O Cego, leo
Mrio Cravo, ferro
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Na entrada da cozinha est a placa da Escola de Arte Culinria Sabor e Arte.Esta escola existia no Cabea, e quando Norma Sampaio, a pedido de JorgeAmado, foi conversar com a dona para que autorizasse o amigo a usar onome de sua escola no romance Dona Flor e Seus Dois Maridos, veio asurpresa de que dona Edna, dona e professora da escola, era prima doescritor. Esta a placa original da escola de dona Edna Leal.
Passamos para ocorredor, e, antesde entrarmos noquarto de hspedes,vamos ver osquadros que estonesta passagem,inclusive as cenasdo Rio Vermelho,pintadas por LicdioLopes.
Emanuel Arajo, talha
Calasans Neto, talhaLicdio Lopes, leo
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O QUARTO DEHSPEDES
Este foi o maior boi jfeito pelo mestre Vitalino.O jornalista Joo Cond odeu de presente a Jorge deu e se logo searrependeu, quis tomar devolta, mas a j no tinhajeito, ficou sem o boi.
Aldemir Martins, acrlico
cermica, Peru
Vita
lino,
cer
mic
a
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Aqui esto as talhas originais deCalasans Neto para asilustraes de Tereza Batista,Cansada de Guerra. No seapressem, gastem seu tempo,vale pena olhar cada detalhe.No deixem de apreciar tambma ilustrao que Diego Rivera fezpara o poema de Jorge que estem Terras do Sem Fim: Era umavez trs irms
Carlos Scliar, vinil Raimundo de Oliveira, leo Cardoso e Silva, leo
Calasans Neto, Teresa Batista, matrizes de gravuraFloriano Teixeira, leo
Die
go R
iver
a, b
ico
de p
ena
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O QUIOSQUE O Quiosque to integrado paisagem que passamos por ele sem ver que aliestava o estdio feito para o casal Amado poder ter um pouco de isolamento.O janelo emoldura a mangueira que carrega de mangas-espada. Umavaranda permite olhar a vista sobre o mar do Rio Vermelho, lindo!
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A maioria das peas queesto no Quiosque so deorigem russa: bonecas,cavalos, perus, porcos,carneiros de cermica,pintados em cores vivas.
Jenn
er A
ugus
to,
leo
Emanuel Arajo, talha
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHOEM 1960, JORGE AMADO VENDEU PARA A METRO-GOLDWYN-MAYER
os direitos de adaptao de Gabriela, Cravo e Canela. O valor noera alto direitos para toda a vida e para todo tipo de apresentao
cnica , mas foi o suficiente para possibilitar a realizao de umsonho antigo: ter uma casa na cidade da Bahia, para nela vir morar.
A ESCOLHA DA CASA DUROU MUITO TEMPO, FOI MINUCIOSA,realizar sonhos no acontece todos os dias, e no dia que acontece,
deve-se faz-lo com capricho e sem precipitaes. Genaro deCarvalho, o grande tapeceiro baiano, foi quem indicou ao casal
Amado a casa de uns suos na ladeira da Barra ficava junto aocemitrio dos ingleses, pertinho da igreja de Santo Antnio. Alm debela, a casa tinha uma vista maravilhosa que os deixou encantados.Zlia disse proprietria: Ns gostamos muito de sua casa!, Ns tambm!, respondeu a sua, encerrando o assunto da compra,
antes mesmo dele ter comeado. A segunda casa a ser vista ficava noRio Vermelho, uma boa moradia no alto do Morro das Margaridas. Asnegociaes j iam adiantadas quando ficaram sabendo que os donospretendiam vender apenas a casa, o terreno em volta seria loteado: o
verde desejado deixava de existir, era trocado por uma poro devizinhos, acabava a todo o interesse. Na Pituba ficava a casa da
viva, bem na Manoel Dias da Silva, em frente Igreja. Belo terreno,boa residncia, na hora de assinar o contrato a viva arrependeu-se,
era a sua jia, no quis se desfazer dela. A procura passou porItapagipe, perto do largo da Ribeira: casa grande, antiga e quente
como os diabos, l s o que encantou a Zlia foi um cachorro que ria,a graa era pouca para fazer a compra valer pena. Finalmente
voltaram ao Rio Vermelho e encontraram, no Parque Cruz Aguiar onde fora uma fazenda cheia de sapotis, segundo a lenda do lugar
, no alto da rua Alagoinhas, o local para comear a construir ossonhos. A casa em si era velha e ruim, feita de barro batido, precisavade uma super-reforma; o terreno, no muito grande, era descobriu-
se pouco tempo depois o paraso das formigas, o que justificavaestar vazio de plantas na poca somente uma mangueira pequena,trs sapotizeiros e um jambeiro ainda bem jovem resistiam ; a vistalinda sobre o mar do Rio Vermelho, lugar do Peji de Yemanj, porm,valia a pena e fazia com que as tarefas de reconstruir a casa, eliminaros formigueiros e refazer o jardim fossem apenas pequenos desafios
em nome do bem viver.
GILBERBERT CHAVES, JOVEM ARQUITETO GRAPINA,foi convidado por seu conterrneo para projetar a nova casa
mais correto dizer assim, pois da antiga nada restou. Aoextraordinrio talento de Gilberbert Chaves somaram-se a arte de
alguns dos mais importantes artistas plsticos da Bahia: Mrio Cravoexecutou as belas grades de ferro; a porta de vidro do quarto do casal
e as janelas basculantes do banheiro foram pintadas por JennerAugusto; o arquiteto Lev Smarcevscki projetou os mveis da sala: a
grande mesa com suas cadeiras sem espaldar, o sof e as poltronas.Caryb deixou sua marca de muitas maneiras: desenhou as portas de
madeira vazadas, o grande porto de ferro da varanda em L, doisconjuntos de azulejos, com Oxum e a arma de Oxssi, que esto portoda a parte, e as frutas e os bichos que enfeitam a parede externa do
bar e a entrada da casa; foi Caryb ainda quem sugeriu edesenhou a cabea de pssaro com que terminam as vigas.
ENQUANTO O ARQUITETO, EM SUA PRANCHETA, ELABORAVA DETALHES DE CONFORTO Ebeleza; enquanto o mestre-de-obras e seus operrios trabalhavam naconstruo; enquanto os artistas, em seus atelis, produziam as obras
de arte que depois viriam para a rua Alagoinhas, Zlia e Jorge
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comeavam a plantar o jardim. Foi uma triste surpresa quando, danoite para o dia, o casal Amado viu suas lindas mudas de laranjeiras
devoradas e mortas pelas formigas. Chegou, ento, seu Zuca, matadorde formigas do servio especializado da prefeitura. Seguindo a trilhapara localizar e exterminar os formigueiros, o especialista acabou por
livrar todo o Parque Cruz Aguiar da praga.
EM JANEIRO DE 1963, COM A CASA QUASE PRONTA,a famlia mudou-se para a Bahia. H pouco o coronel Joo Amado
morrera no Rio de Janeiro e Lalu (Eullia Leal Amado), a matriarca dafamlia, acompanhou o filho mais velho para Salvador. Meninos,
adolescentes, matriculados num ginsio pblico do Rio Vermelho, oColgio Estadual Manoel Devoto, integramo-nos rapidamente vida
do nosso novo bairro.
A CASA COMEOU A GANHAR MOVIMENTO, SEU JARDIM FOI SENDOcuidadosamente plantado por Zlia e Jorge com pitangueiras,
mangueiras, bananeiras, cajazeiras e tantas outras rvores de frutas.Seu Zuca de matador de formigas passou a jardineiro, tarefa para a
qual no nasceu: regava plantas de guarda-chuva, na poca dasgrandes chuvas (esta ele considerava como sua tarefa inadivel, omau tempo jamais o impediu de cumpri-la); j para outras, como
plantar mudinhas recm-chegadas, no tinha pressa, e se a patroainsistia ele dizia com candura: Dona Zlia interessante!, e a
plantinha ficava l, murchando, por muitos dias.
OS AMIGOS PASSARAM A FREQENTAR A CASA COM ASSIDUIDADE.Nos domingos pela manh os Amados os recebiam para um vinho,
uma batida, uma cerveja e uns tira-gostos (entenda-se a expresso emsentido bem amplo, pois iam de acarajs a pernis de porco). Esses
encontros muitas vezes transformavam-se em almoos. Freqentadoresnacionais e estrangeiros movimentavam a conversa, trocavam opinies
sobre o dia-a-dia, a poltica e as artes. Escritores da terra comoWilson Lins, Joo Ubaldo Ribeiro, Lus Henrique Dias Tavares e Guido
Guerra encontravam-se com os que vinham de fora: Vincius de
Morais que depois viria morar na Bahia , Ungaretti, Ferreira deCastro, Neruda que aqui hospedou-se com Matilde em sua ltima
visita ao Brasil , Eduardo Portella e Dias Gomes, baianos vivendo noRio, e todos podiam trocar idias sobre edio e venda, pois destasconversas participavam Alfredo Machado e Dmeval Chaves, AliceRaillard, Luciana Stegagno Picchio e Jean-Claude Latts, uma vez
esteve mesmo Alfred Knopf, pitando seu charuto cubano, suspirandocom os abars. Mas os saraus matutinos no eram somente literrios,
a msica sempre presente com Tom e Caymmi, Maria Creusa, GeorgesMoustaki mais de uma vezes hspede do Rio Vermelho, aqui
escreveu duas belas canes , Harry Belafonte, Srgio Endrigo,Mariuccia Iacovino e Arnaldo Estrela. Do som imagem, na conversa
amiga, os pintores e escultores Mirabeau Sampaio, Caryb, CarlosBastos, Jenner Augusto, Fernando Coelho, Mrio Cravo, CalasansNeto, Floriano Teixeira, Genaro de Carvalho, Di Cavalcanti, Scliar,
Aldemir Martins, a marchand Giovanna Bonino. No se podeesquecer o pessoal de cinema: na varanda do Rio Vermelho
conversaram animados Glauber Rocha, Joris Ivens, Orlando Senna,Roman Polanski, Lina Wertmuller, Nelson Pereira dos Santos, Lucy, Lus
Carlos e Bruno Barreto, Alfredo Bini e Tizuka Yamazaki. E quantagente mais era assdua: Norma, Auta Rosa, Lusa, Lcia Cravo, Nair,
Anita, Nancy, Antonio Celestino, Aydil e Carlos Coqueijo Costa,Dagmar e Tibrcio Barreiros, Judy e Alexander Watson na poca
cnsul dos EUA na Bahia, hoje Subsecretrio de Estado para Assuntosda Amrica Latina Francis Swit, Luz da Serra e Walter Queiroz,Josete e Mecenas Marcos; Dris e Paulo Loureiro vinham de Recife.
Muito se conversou, se discutiu, de literatura a futebol, nestes encontrosmatinais, muito se cantou e se riu como esquecer a Exaltao a
Luxemburgo, samba enredo de autoria de Joo Ubaldo, que rimava aspraias faceiras com as mulatas altaneiras, ambas o orgulho maior de
toda sia Menor. Ai, Luxemburgo?
NAS MANHS DE DOMINGO DA CASA DO RIO VERMELHO ESTAVAM TAMBM OSjovens que na poca faziam poltica estudantil, lutando contra a
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ditadura. Eram os nossos amigos, de Joo Jorge e meus, muitos delesfilhos dos amigos do casal Amado, como Maria e Artur Sampaio,
Mariozinho Cravo, Soss e Ramiro Bernab, Waltinho Queiroz, e maistantos que respiraram esta atmosfera de amizade e cultura.
NAS TARDES DE DOMINGO O PROGRAMA ERA UM CARTEADO.O pquer que reunia Jorge, Mirabeau, Odorico Tavares, Wilson Lins,
Carlinhos Mascarenhas, Fernando Coelho, Nelson Taboada, YvesPalermo e Joo Batista realizou-se em casa de Odorico at a morte do
grande jornalista; a partir de ento passou a dividir-se entre a ruaAlagoinhas e a rua Ary Barroso, na casa de Norma e Mirabeau
Sampaio; enquanto os homens jogavam pquer, as mulheres faziamseus torneios de buraco, do qual participavam Zlia, Norma, Nancy Caryb nunca jogou, vinha s acompanhar , mina, Antonieta
Taboada e outras amigas. Uma nica mulher na roda de pquer:quando vinha Bahia, Giovanna Bonino fazia parte, no dizer de
Mirabeau, do capital estrangeiro.
FESTA DE DATA MARCADA ERA NO DIA 2 DE FEVEREIRO DE CADA ANO:o aniversrio de Lalu no mesmo dia do presente de Yemanj, festamaior do bairro do Rio Vermelho. A tradio que se formou, e que
durou at a morte de minha av, era de se fazer muita comida,comprar muita bebida, deixar a porta aberta para todos que
quisessem passar. Os primeiros chegavam bem cedo, eram os que noqueriam enfrentar fila para levar suas flores, seus pentes e seus
perfumes para a me-dgua. Deixavam o presente no peji e subiam aladeira da Alagoinhas para quebrar o jejum com um acaraj, com umcopinho de cerveja. Mesmo o mais madrugador encontrava Viturina, a
mais linda das baianas que j houve em Salvador, em frente ao seutabuleiro repleto de abars, cocadas, amodas, punhetas, vataps,
camares e molhos de pimenta para rechear os acarajs fritinhos nahora. Seu Arlindo e seus ajudantes comandavam o bar, que, pela
quantidade de bebida que havia, precisava espalhar-se pelasbanheiras da casa, cheias de gelo para a ocasio. Lalu, ao lado dofilho e da nora, recebia as centenas de amigos com seu sorriso de
pura felicidade. O cortejo prosseguia at altas horas da noite, e houvevez em que acabou tudo, tudo mesmo s dez horas da noite, para
um sobrinho que chegou cansado aps o dia de farra, Zlia noconseguiu mais nem um copo de gua.
ANOS DEPOIS JORGE AMADO COMPROU A CASA VIZINHA,impedindo que fosse feito um edifcio no local. Mais um projeto de
Gilberbet Chaves, este integrou as duas casas: a antiga cozinha viroucopa, a casa ganhou uma cozinha mais ampla, digna dos almoosbaianos oferecidos com freqncia aos hspedes estrangeiros e aosamigos locais; ganhou ainda boa rea de servio e dependncias
para os empregados, mais um quarto de hspedes e um bomescritrio. No novo quintal um jardim de rosas.
ZLIA EMPENHOU SUAS ECONOMIAS NA COMPRA DE DOIS PEQUENOS TERRENOScontguos ao jardim e ali plantou uma horta, que passou a abastecer acasa de quiabos, abboras, couves, melancias, pimentas e bananas.
A CASA GANHOU FAMA E PASSOU A SER INCLUDA NOS ROTEIROS TURSTICOS.No incio, os turistas entravam e passeavam pela casa toda, ningum
impedia. Uma vez Zlia estava de cabea para baixo fazendo ioga nomeio da sala, quando viu aquela fila de pessoas passando por ela,
fechou os olhos, fingiu que estava sozinha. O incmodo daprivacidade desrespeitada fez com que os turistas acabassem sendo
proibidos de entrar. Os nibus continuaram a parar na porta, osturistas desciam, por vezes chamavam o escritor gritando seu nome,
tiravam fotografias e iam embora. Era difcil para Eunice arrumadeira da casa por mais de vinte anos despachar o pessoal
da porta: So pessoas to distintas, dizia ela.
PARA MANTER A TRANQILIDADE DA CASA OS AMADOS CONTAMh mais de trinta anos com Aurlio Sodr, que desempenha tarefasmltiplas, entre as quais de motorista, fazedor de pacotes, secretrio
para assuntos de candombl, arquivista recortando e colecionandonotas de jornal. Fiel escudeiro de todas as horas, quando todos estofora, podem ficar descansados, porque Aurlio est olhando pela casa.
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NO COMEO DE 1971 TANTO JOO JORGE QUANTO EU CASAMOS.Eu fui morar no Rio de Janeiro, ele construiu uma casa nos terrenosonde Zlia plantava sua horta, com entrada pela rua Irar. Foi maisum belo projeto do arquiteto grapina. Na casa da rua Alagoinhas
ficaram Zlia e Jorge, Lalu, o casal de cachorros da raa Pug, Capitu ePickwick e a gata Chacha, vira-lata de boa linhagem, filha de
Gabriela (siamesa) e de dona Flor (gato persa azul, que s depois deganhar o nome revelou-se macho). A casa esvaziada sofreu novas
transformaes: o meu quarto virou closet; o quarto de Joo virou umescritoriozinho, onde Zlia passou a guardar suas fotografias, seus
livros, suas coisas.
JUNTO COM A CASA DE JOO JORGE, EM 1970, FOI FEITAuma construo no final do jardim. Trata-se de um estdio para oescritor. A idia era que ali ele pudesse isolar-se para escrever. OQuiosque, como passou a ser chamado, uma construo de dois
andares, em baixo fica um quarto de empregados, um depsito e umaadega, em cima um grande espao cercado de estantes a est abiblioteca que rene os livros escolhidos pelo escritor, seus preferidos com uma cama de casal num canto, um banheiro amplo, e uma
linda vista sobre o mar do Rio Vermelho.
EM 1972 MORREU Lalu, na Pscoa. Seu quarto foi transformado numquarto para os netos de passagem: Bruno, Mariana, Adriana, MariaJoo, Camila, Ceclia, Valria, Joo Jorge Filho e Jorge Neto. Maisuma vez modificaes foram feitas: o jardim de rosas desapareceu,
dando lugar a uma piscina de borda amarela, uma jia de Gilberberthomenageando Yemanj. Em 1973 a entrada ganhou porta nova,entalhada por Calasans Neto, com as figuras amorosas de Tereza
Batista e Janurio Gereba.
COM A SEPARAO DE JOO JORGE, A CASA DA RUA IRARficou para seus filhos. Joo mudou-se para Itapu.
DESDE QUE COMPRARAM O APARTAMENTO EM PARIS,Zlia e Jorge passaram a dividir o tempo entre a Europa e o Brasil. A
casa passou a ficar sem os donos por longos perodos. Para nodeix-la tanto tempo vazia Joo Jorge voltou para a casa do Rio
Vermelho. Novas adaptaes foram feitas: o quarto de hspedes dafrente passou a ser o quarto do casal Rzia e Joo, o netrio de Zlia originalmente quarto de Lalu passou a ser o quarto de Jorginho,e o antigo quarto de Joo voltou ao dono e passou a ser seu escritrio.
A FESTA DO 2 DE FEVEREIRO, FOI SUBSTITUDA PELA DO ANO NOVO.No mais uma festa a reunir todos os amigos, conhecidos e
passantes, mas um momento importante de encontro da famlia e dosamigos mais ntimos, quando a casa se ilumina toda, se anima com a
juventude dos netos que agora trazem os amigos e namorados.
MUITAS FESTAS TM MARCADO A VIDA DA CASA DO RIO VERMELHO.Uma delas aconteceu no ano de 1985, quando da inaugurao da
Fundao Casa de Jorge Amado. O casal Amado reuniu num grandealmoo sentado cerca de 450 convidados. Nas mesinhas espalhadas
pelo jardim, pelas varandas, e na piscina sentaram-se personalidades,artistas, intelectuais de expresso da vida brasileira e de fora oescritor Eugne Evtuchenko vestia espantoso terno vermelho , o
Presidente Jos Sarney com ministros, polticos de todas as correntes.Vrios desafetos se encontraram na rua Alagoinhas, e passaram juntos
um bom momento nesta casa de paz, prpria convivncia.
AS FESTAS CONTINUAM ACONTECENDO: EM 1994,quando veio Bahia o Presidente de Portugal, Mrio Soares, um beloalmoo lhe foi oferecido. Desta vez uma festa com menos convidados,
mas com a marca dos donos da casa: cordialidade, amizade ebeleza. Outra ainda, e mais recente, foi a merenda baiana servidaaos artistas franceses Dominique Blanc e Michel Piccolli e viva do
poeta Ren Char em outubro de 1995: tinha o mesmo clima e omesmo esprito das domingueiras matinais dos anos 60.
PALOMA JORGE AMADO
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A casa cheia dedetalhes, ser quemostrei todos?
A vigas terminamsempre em forma depssaro, esta soluofoi dada por Caryb,que subiu numa escadae fez o desenho sobre aprpria viga. Deletambm so os azulejoscom Oxum e a arma deOxssi, que esto portoda a parte da casa.O telhado de telhav; quando existe umforro, ele de trelia.
OS
DET
ALH
ES
Caryb, azulejos
Mrio Cravo, ferro
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O trao de Caryb tambm est nas portas vazadas. As janela de guilhotinasaparentes tem um sistema muito engenhoso, onde uma metade o contrapesoda outra. A trelia das janelas e dos forros, o vazado das portas, os tijolosdispostos em xadrez com espaos vazios, a luz passando, formando desenhosno cho, nas paredes, so como rendas diversas, que se estendem pela casa.
Caryb, madeira
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Renda maravilhosa e nica a do porto de ferro desenhado por Caryb,entre as varandas aberta e fechada.
Os tucanos, ospssaros e os cajus doporto esto tambmnos azulejos do bar. Obar ainda trazgraviolas e pitangas,carambolas e cabaas;no lugar do tamandude ferro, macacos.So bichos e frutasbrincando perto dobar.
Caryb, azulejos
Caryb, ferro
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Nos mosaicos de cacos da azulejos, a variedadeinfinita de composies.
A porta de vidro pintada por JennerAugusto liga a varanda fechada com oquarto do casal, e a janela basculanteilumina o banheiro deste quarto. Nelaesto retratados os pssaros sofr, quevieram do Rio de Janeiro quando ocasal mudou-se para a Bahia.
Jenner Augusto, leo sobre vidro
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Lev Smarcevscki, cadeirasLev Smarcevscki, cadeiras
Ram
iro
Bern
ab,
cad
eira
Os mveis foram desenhados pelo arquiteto Lev Smarcevscki, menos asgrandes cadeiras de encosto e acento de sola, fruto de pesquisa de GilberbertChaves nos mosteiros da Bahia, e a poltrona esculpida por Ramiro Bernab.
A mesa para a varanda foi encomendada ao carpinteiro Joo dos Prazeres.Ele demorou a faz-la, mas que surpresa quando ela chegou: tinha a bordatoda esculpida em bico de jaca, uma lindeza. Foi mais uma renda delicadaque chegou para embelezar a casa.
Joo
dos
Pra
zere
s, m
esa
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ROSA RAMALHO
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As peas de cermica de Rosa Ramalho e Jos Franco formam, pelo nmero equalidade, colees dentro da coleo. A santa ceia, os santos e demnios,os cristos um branco outro preto, que ladeiam a Nossa Senhora dosPregos, so todas peas muito caractersticas da obra da saudosa artistaportuguesa.
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JOS FRANCO
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Os bichos, ossantos, osjarros deJos Franco,como oaparelho dejantar que seusa em diade festa, vemde seu atelierem Mafra,Portugal.
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OXUNS EIEMANJSEsta uma casa de Oxuns e Iemanjs. Aprimeira e principal das Oxuns a prpriaZlia. A esculpida por Vasco Prado vive nua, beira da piscina. A grande Iemanj deMrio Cravo, no alto da sala, iluminadapelo sol; a cada hora uma luz diferente, umanova viso.
Mario Cravo, Iemanj
Vasco Prado, Iemanj
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Caryb, Iemangj
Gilberbet Chaves, IemanjCaryb, Oxum
Iemanj, Angola
Grace Gradim, Iemanj Iemanj, Haiti
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OXSSIS ESO JORGES
Se Oxum dona Zlia, seuesposo Oxssi, seuJorge, So JorgeGuerreiro.
Floriano Teixeira, So JorgeCaryb, arma de Oxssi
Osmundo, So Jorge
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A coleo dos So Jorges grande; entre os entalhados, presos parede dapiscina, de repente, aparece uma figura indiana que nada tem a ver com osanto, mas que acaba por se integrar no conjunto.
Nossa visita acaba aqui, junto a Oxum e a Oxssi. Espero que tenhamgostado.
P. J. A.
madeira, ndiaIlse, cone
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Mila
gres
, cer
mic
a, P
ortu
gal
Este livro foi composto pormangueiras
para aFUNDAO CASA DE JORGE AMADO
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RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO O MURO 3A ENTRADA 5BOA NOTCIA LOGO PELA MANH:
JORGE AMADO 7OS SAPOS 9A SALA 11A VARANDA ABERTA 21O BAR 25O JARDIM 27O QUARTO 31INSINUAES E FRAGMENTOS
GILBERBET CHAVES 37A VARANDA FECHADA 43A PISCINA 53O QUARTO DE HSPEDES 58O QUIOSQUE 60RUA ALAGOINHAS 33, RIO VERMELHO
PALOMA JORGE AMADO 62OS DETALHES 66ROSA RAMALHO 71JOS FRANCO 73OXUNS E IEMANJS 75OXSSIS E SO JORGES 77