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  • 8/7/2019 21- A Descida dos Ideais - Pietro Ubaldi (Volume Revisado e Formatado em PDF para Encadernao em Folha A4)

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    A DESCIDA DOS IDEAIS

    P R E F C I O ........................................................................................................................................................... 1

    I. A DESCIDA DOS IDEAIS. ESTRUTURA DO FENMENO ...................................................... ..................... 3

    II. A HUMANIDADE EM FASE DE TRANSIO EVOLUTIVA .................................................................... . 7

    III. O CRTICO MOMENTO HISTRICO ATUAL. O INCIO DE UMA NOVA ERA. .............................. 10

    V. A EVOLUO DAS RELIGIES..................................................................................................................... 40

    VI. SINAIS DOS TEMPOS - JEAN PAUL SARTRE ........................................................................................... 42

    VII. OS IDEAIS E A REALIDADE DA VIDA ...................................................................................................... 47

    VIII. DESENVOLVIMENTO DO CRISTIANISMO ................................................................ ............................ 57

    X. A CRISE DO CATOLICISMO........................................................................................................................... 68

    XI. PSICANLISE DAS RELIGIES E ............................................................................................................... 74

    ASPECTOS DO CRISTIANISMO.......................................................................................................................... 74

    XII. CINCIA E RELIGIO .................................................................................................................................. 96

    XIII. TRABALHO E PROPRIEDADE ................................................................................................................ 102

    Vida e Obra de Pietro Ubaldi (Sinopse)....................................................................................pgina de fundo

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    Pietro Ubaldi A DESCIDA DOS IDEAIS 1

    A DESCIDA DOS IDEAIS

    P R E F C I O

    Para compreender o significado do presente livro, devemosv-lo enquadrado no seio da Obra da qual ele faz parte. Esta composta de 24 volumes, ligados sucessivamente um ao outro,como anis de uma cadeia. Cada um deles representa uma faseda construo, um andar, de um edifcio nico, que constitui aObra. Tal estrutura no foi premeditada, mas se deveu ao fatode cada volume ter sido vivido pelo autor, que teve representa-do, no desenvolvimento da srie, o espontneo amadurecimentode seu pensamento e personalidade.

    Vejamos, pois, em que ponto da Obra se encontra, em rela-o aos outros, o presente escrito. O termo central dela o li-vro O Sistema, preparado pelo volumeDeus e Universo, atra-vs do qual o leitor conduzido quele, ambos completados

    por A Grande Sntese , que os precede e projeta uma visomais prxima e acessvel, apresentando o aspecto evolutivo donosso universo. Colocadas assim as bases tericas da doutrina,a ideia apresentada em O Sistema ento desenvolvido maisdetalhadamente no volume Queda e Salvao.

    Chegando a este ponto, aps toda a teoria ter sido expos-ta, entra-se agora, com os volumes que se seguem, na fasedas suas consequncias e aplicaes. Ela agora transporta-da ao terreno prtico da sua realizao, para controle de suaverdade. Entramos na fase de concluso da Obra. Assim nas-ceu o volume Princpios de Uma Nova tica, que se refere a

    problemas de moral, psicanlise, personalidade humana etc.A ele segue-se o presente volume, A Descida dos Ideais, que, por sua vez, aborda o problema religioso, tema importante,pois atravs das religies que se realiza na Terra a descida

    dos ideais, interessando vida no seu ponto central: a evolu-o (a salvao, com o retorno a Deus). Estamos preparandoo volume sucessivo a este, Um Destino Seguindo Cristo , noqual se avana sobre as mais concretas consequncias e rea-lsticas aplicaes das teorias bsicas, apresentadas na formavivida por um indivduo que as aplica, transportando-as paraa bancada das experincias e das provas da realidade cotidi-ana, em contato com os fatos, tal como eles se verificam emnosso mundo. Ento a viso global das verdades universais observada novamente, em suas particularidades, transferida

    para outro nvel e dimenso, em funo de outros pontos dereferncia, situados em nosso plano de evoluo. Assim, aatual zona de pensamento torna-se complementar da teoria

    fundamental, pois esta constitui abstrao longnqua da rea-lidade de nosso mundo, enquanto aquela, pelo contrrio, pro- pe-se a submet-la a controle experimental, para demons-trar-lhe a verdade. Com Um Destino Seguindo Cristo , a se-gunda Obra vai chegando ao fim.

    Os outros volumes, surgidos ao longo do caminho, represen-tam ramificaes dos conceitos fundamentais, onde se fazemexposies colaterais exemplificativas e complementares, paramelhor iluminar, detendo-se em problemas secundrios. Trata-se de digresses que, originadas no tema central, comprovam-no e aprofundam-no, pois ele o ponto de referncia de toda aObra. O quadro se completa em sentido no s universal, mastambm particular, compondo-se de tantos elementos quantos

    so os vrios volumes, ligados ao longo da linha de desenvolvi-mento de um processo lgico nico, evidenciado pela suacontinuidade. S agora, que estamos no final e abarcamos comum olhar retrospectivo todo o caminho percorrido, pode apare-cer de maneira evidente, sendo possvel formar uma viso deconjunto, a unidade fundamental de toda a Obra.

    Estes volumes finais, dos quais o presente faz parte, so im-portantes no s porque derivam de um sistema conceptual or-gnico, mas tambm porque, em de vez de se apoiarem numadoutrina particular, apoiam-se sobres bases positivas e univer-sais, tal como as leis que regem a vida e representam a mani-

    festao do pensamento de Deus em nosso plano de evoluo.Estas leis existem e, para funcionarem, como de fato sucede,no necessitam absolutamente de nossas opinies. Elas cami-nham independentemente das verdades sustentadas por qual-quer grupo humano, seja ele partido ou religio, e, indiferentesao fato de as negarmos ou ignorarmos, continuam sempre fun-cionando, como podemos verificar. Elas abrangem integral-mente a vida, e isto inclui tambm a vida espiritual, monopoli-

    zada pelas religies. O ponto de referncia, portanto, slido,sendo ele visvel, atual e objetivamente controlvel, sem neces-sidade de mistrios, revelaes, f, reconstrues histricas ou

    fatos longnquos. Trata-se de um pensamento sempre presente,que sabe falar e se fazer entender nos fatos, castigando-noscom as suas reaes vivas e a sua lgica inflexvel.

    Somente com tal viso realista, que abarca todos os aspec-tos da vida, incluindo os espirituais, possvel convencer asnovas geraes. com esta finalidade de bem que a usamos e a

    oferecemos para a salvao dos valores espirituais, apresen-tando-a numa forma positiva, tal como se exige hoje, para queuma ideia possa ser aceita. Novas correntes de pensamentosesto agora amadurecendo rapidamente. O catolicismo, obri-gado a se mover, a fim de no ficar abandonado para trs, estchegando em ltimo lugar, ofegante, e apressa-se em atualizar-se. Lanando Conclios, vota neles a favor do princpio da li-berdade de conscincia e procura um dilogo com as outras

    Igrejas crists, abrindo os braos aos irmos separados, mass para que eles faam o esforo maior de aproximao em fa-vor da Igreja Catlica. Sua ao, assim, resume-se a movimen-tar-se no sentido de salvar a sua posio de domnio.

    Por outro lado, o autor, a quem no interessa esta luta re-

    cproca pela defesa do prprio grupo, v-se constrangido aresolver seus graves problemas, que so de outra natureza,tratando de solucion-los por si mesmo. Ele comea a pensar,no mais se adaptando a representar, s pelo fato de ser um

    fiel, o papel da tradicional ovelha do rebanho, obrigado obedincia da autoridade. Assim no se detm em inteis dis-senses tericas, mas, pelo contrrio, dispe-se a enfrentar eresolver por sua conta os seus prprios problemas. Pode atachar inoportuno o fato de uma religio, que, ao contrrio dacincia, no competente na matria, ter de imiscuir-se nosseus assuntos, sem ser consultada. Ento, pensa ele, sobreque bases positivas apoia-se a prerrogativa na qual elas searrogam o direito de invadir a sua conscincia, entrando numterreno que dele, onde, portanto, ilcita qualquer intromis-so de estranhos? Para falar com Deus, no se necessita deintrpretes e tradutores. Isto constitui violao de domiclioespiritual. O indivduo consciente rebela-se contra esta faltade respeito ao seu direito de pensar segundo a sua conscin-cia e conhecimento, tanto mais que semelhante invaso auto-ritria se faz em nome de Deus.

    Por tudo isto, oferecemos nestes livros o conhecimento paraque o indivduo pense e compreenda por si mesmo, a fim de queele forme uma conscincia prpria para sua vantagem, e no aservio dos interesses de um grupo. Sem nenhuma imposionem obrigao de acreditar, ele aceitar apenas se quiser, li-

    vremente, porque compreendeu e est convencido. No pedi-mos f, no apresentamos mistrios, nem sequer recorremos aum alto nvel teolgico. Explicamos tudo claramente, para quecada um veja e julgue por si prprio. O jogo medieval da obe-dincia, baseado no princpio da autoridade, no impressionamais. Hoje, no se chega adeso por sugesto ou obrigao,

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    2 A DESCIDA DOS IDEAIS Pietro Ubaldi

    mas sim por demonstrao e convico. Perante a no solici-tada intromisso de terceiros na sua conscincia, o indivduo,

    por direito de legtima defesa, protege-se, assim como, em ple-no direito, protege a sua casa e haveres contra qualquer inva-sor, ou at mesmo com maior direito, porque a casa do espritovale muito mais. Deve-se respeitar a propriedade individual, eno h razes histricas ou teolgicas que possam autorizar aviol-la. No entanto, at mesmo ontem, estas violaes foramrealizadas por parte de quem possua a autoridade e se atuali-

    zava ao longo do tempo, de modo que tudo ficava como se nadativesse sucedido, porque a autoridade, uma vez reconhecida

    pelo fato de ser a mais forte, podia fazer e desfazer a sua ver-dade como melhor lhe conviesse. Isto pode suceder somente namente humana, mas no nas leis da vida, segundo as quais no possvel apagar gratuitamente nenhum erro, cujas conse-quncias, pelo contrrio, inevitvel suportar.

    O presente volume, por tratar de problemas religiosos, de atualidade. Com ele, a Obra, depois de longo caminho,chega s suas concluses tambm neste terreno. Isto num mo-mento em que o mundo se encontra perante graves problemas,que exigem soluo urgente, razo pela qual ele se ps a pen-sar e tem necessidade de conhecimento. Encontramo-nos todos

    numa gravssima hora histrica, de grandes decises e trans-formaes. J no serve o velho e cmodo mtodo de esperarque a autoridade espiritual decida, para descarregar sobre elaas responsabilidades que nos pertencem. O indivduo devecham-las a si, colocando-se de olhos abertos e nimo sincerocom os seus problemas, perante as honestas e sbias leis davida. Nestes livros, procuramos iluminar imparcialmente to-dos os caminhos, para que o homem, por si prprio, encontreo seu, devendo ele mesmo pensar, compreender e decidir. Nobuscamos obedincia, e sim compreenso. Queremos ajudar,mas a vida exige que tudo seja ganho com o prprio esforo.Ela chegou hoje a uma curva do seu caminho, depois da qualser diferente e, por isso, exigir mtodos diversos. para

    este novo trabalho que procuramos nestes livros preparar oleitor para enfrentar o futuro. Por isto falamos aqui de ideaise de sua descida, fazendo-o de forma positiva, porque agoratrata-se de realiz-los a srio, passando das palavras aos fa-tos. Os ideais esto colocados exatamente neste futuro prxi-mo, que se aproxima a grandes passos, e eles so uma reali-dade insuprimvel, porque suprimi-los significa estancar odesenvolvimento da humanidade.

    Neste futuro prximo, a cincia se prepara para demonstrarpositivamente que o homem tambm esprito e que, como tal,ele sobrevive morte, voltando depois a ter experincias no

    plano de nossa vida fsica, prosseguindo cada vez mais em as-censo, at percorrer todo o caminho evolutivo, que se realizacom o retorno a Deus. Por este caminho se chegar a uma re-ligio cientfica, que eliminar tanto o materialismo ateu comoas religies fidesticas. A cincia dominar positivamente o ter-reno que hoje ainda se encontra nebuloso, nas mos das religi-es. Em vez de lutarem para eliminar-se, a cincia e f se com-

    pletaro inteligentemente, de forma recproca. Teremos entouma religio cientfica e uma cincia religiosa. A natureza uni-versal da cincia positiva eliminar o esprito exclusivista quesepara as religies atuais, para fazer delas, em vez de diversosaspectos de verdades em luta, uma s verdade universal.

    No por meio das tentativas do atual ecumenismo cat-lico que se chegar unificao do pensamento religioso

    mundial. Este ecumenismo tende a uma unificao muito maisrestrita, apenas entre parentes da mesma famlia religiosa.Ele pode, em substncia, reduzir-se a um chamado casa pa-terna no sentido da absoro de ortodoxos e protestantes nocatolicismo, para que se submetam a Roma. Por outro lado, aanttese plurissecular entre Reforma e Contra-Reforma, prova

    que, no seio da cristandade, seja catlica ou protestante, pre-valeceu o princpio involudo da rivalidade e da luta, e no odo amor, princpio espiritualmente superior. Estamos, pois,situados no polo oposto daquela unificao que o amor cris-to deveria estar. Eis que grande unidade de pensamentoreligioso no se poder chegar seno pelas vias da cincia.E, espiritualmente, isto representa uma grande vantagem,

    porque uma cincia sincera e honesta, esclarecendo as posi-es, reforar o verdadeiro esprito de religiosidade, que es-t desaparecendo nas atuais religies empricas. A religiocientfica, porque demonstrada como verdadeira, no pode

    permanecer no estado de hipocrisia, impossibilitada de sertomada a srio. Esta ser a religio do Terceiro Milnio, feitano de autoridade e palavras, mas sim de livre convico e de

    fatos. No ser proselitista, sectria, fidesta, dogmtica, ex-clusivista, mas sim positiva, racional, demonstrada, convicta,universal. Nossa Obra ser compreendida quando o homemchegar a este mais avanado grau de evoluo.

    A isto se chegar no s pela ao positiva e construtivadas foras do Sistema, mas tambm pela ao negativa e des-trutiva das foras do Anti-Sistema, ambas ativas em nossomundo. Em relao ao aspecto negativo, observamos agora

    dois fatos convergentes, que tendem a levar o mundo a umaguerra atmica. De um lado, o velho egosmo, o esprito dedomnio e o instinto de violncia, no obstante as religies, fi-caram intactos no homem, ainda fechado na lei da luta, quali-dade involuda do plano animal, situado no lado do Anti-Sistema. Do outro lado, com semelhante natureza, o homemchegou repentinamente a ter em seu poder meios de destruioque, se antes eram limitados e, portanto, no podiam produzirseno efeitos limitados, hoje, sendo poderosssimos instrumen-tos de extermnio, podem chegar ao aniquilamento da humani-dade. O homem no se encontra absolutamente preparado pa-ra saber usar com sabedoria semelhante poder novo, pois asua forma mental no progrediu com a mesma rapidez e pro-

    poro daqueles poderes, tendo pelo contrrio permanecidoigual do primitivo, dirigida em grande parte por velhos ins-tintos. Em tal situao, muito duvidoso que ele saiba fazerbom uso de tais meios. As duas condies, de fato, esto conec-tadas: imensos poderes e instintos atrasados. No se sabe re-solver as divergncias entre os povos seno com a fora, basede todo o direito, e as religies aceitam este estado de fato. Pa-ra quem ainda no se armou, no resta seno esperar a sortedos vencidos. assim que a posse da bomba atmica se tornouuma necessidade defensiva para todos. Hoje a guerra se trans-

    feriu para esta nova dimenso. Assistimos uma corrida univer-sal de produo dessas bombas, de maneira que o mundo seenche cada vez mais delas. Assim, cada dia aumenta a probabi-lidade de que se inicie uma exploso em cadeia, impossvel deser detida, o que significa uma carreira para a morte.

    A Obra surge neste momento histrico para explicar comofunciona tudo isso e, assim, levar compreenso e sabedo-ria. mais fcil no consider-la. Mas no se pode impedirque os fatos continuem a se verificar segundo nossa tica,conduzindo-nos s mencionadas concluses. De resto, segun-do as leis da vida, o involudo tarda em compreender, no sa-bendo aprender a evoluir seno atravs da dor. A vida sabedisso e o trata de acordo. Com semelhante bitipo no se podechegar compreenso por outro caminho. A tal resultadoconduziro dois fatos: 1) A evoluo, que impulsiona o homem

    para frente, amadurecendo sua mente; 2) A dor, que o castiga,obrigando-o a pensar. em tal momento histrico e sobre se-melhante quadro de acontecimentos apocalpticos que aparecea Obra, da qual o presente volume faz parte.

    S. Vicente, Natal de 1965.

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    Pietro Ubaldi A DESCIDA DOS IDEAIS 3

    I. A DESCIDA DOS IDEAIS.ESTRUTURA DO FENMENO

    Observaremos neste volume, sob vrios de seus aspectos,um fato fundamental na tcnica de realizao da evoluo,constitudo pelo fenmeno da descida dos ideais. Que significaisto, porm? Descida de onde? Costuma-se dizer do alto. Mas,que o alto? O alto o Sistema, que, na ciso do dualismo, re-presenta Deus ou o lado positivo, em oposio ao lado negati-

    vo, dado pelo Anti-Sistema, na posio antagnica de anti-Deus. Para abreviar, indicaremos o Sistema por S e o Anti-Sistema por AS. O fenmeno central de nosso universo a evo-luo. Ela representa o trabalho de reconstruo do S a partir desuas runas, que constituem o AS. Segue-se, em consequncia,que a evoluo contm diversos graus de aproximao ao S. Ohomem encontra-se num desses graus; o animal, num maisatrasado; o super-homem, num mais adiantado.

    O alto significa, portanto, um grau mais evoludo em compa-rao com um menos evoludo, que, em relao ao primeiro, po-de ser definido como involudo. Descida dos ideais do alto signi-fica transferir a lei de um nvel biolgico mais avanado para ummenos avanado. Isto representa, para quem vive neste nvel,

    uma antecipao da evoluo, porque a influncia do ideal per-mite realizar a passagem para aquele mais alto nvel biolgico.Ao conceito de descida dos ideais poderemos dar uma base posi-tiva, aderente realidade da vida, assim como aos efeitos destefenmeno poderemos dar depois um sentido espiritual, no s deevoluo biolgica positiva, mas tambm de subida para o ideal,de ascenso das almas em direo ao Cu. Usa-se neste caso ou-tras palavras e imagens. Mas, desse modo, podemos saber o sig-nificado delas com base num positivo ponto de vista biolgico.

    Uma tal colocao do problema nos d a chave para com-preender a estrutura e o desenvolvimento do fenmeno destadescida. Se, de um lado, temos o alto, que significa nveis deevoluo mais avanados, temos de outro lado o nosso mundo,

    que representa nveis mais atrasados. O fenmeno da descidados ideais dado pela conjuno destes dois termos, que seaproximam um do outro, o lado S tomando corpo no bitipoevoludo, e o lado AS no bitipo involudo. Na realidade, trata-se de duas ideias ou princpios distintos, que, incorporando-senestes dois bitipos opostos, entram em contato atravs dasaes e reaes de cada um deles, com a finalidade de realizar aevoluo. Tal fenmeno dirigido pela lei de Deus, que, comesta descida, est empenhada, assim como o destino de quemtrabalha apoiado nesta lei, em realizar a salvao do ser.

    Para compreender o fenmeno da descida, necessrio, an-tes de tudo, entender como funciona a lei biolgica terrestre nonvel humano e quais as tcnicas com que suas formas evolu-

    em. A existncia no plano animal-humano baseia-se na lei daluta pela vida. No entanto esta no uma lei universal e defini-tiva, mas apenas relativa a este plano e, por isso, destinada adesaparecer com a evoluo. Como pode isto suceder?

    Eis o que se apresenta na realidade. O ser quer viver e, porisso, luta. Mas por que motivo necessrio lutar para viver?Porque o ambiente hostil e a vida, com o fim de assegurar suacontinuidade, cria com superabundncia, para depois selecionaros melhores, abandonando os outros morte. Assim, se algumaespcie encontrar oportunidade e for favorecida por um ambi-ente adequado, torna-se potencialmente capaz de ocupar todo oplaneta. Mas eis ento que, alm da adversidade dos elementos,surge a competio entre indivduos e raas, justamente como

    consequncia daquela gerao superabundante. Ora, quantomais faltar a cada um o espao vital e os meios para sobreviver,tanto mais se torna feroz a luta para conquist-los. assim quea luta se torna inevitvel, assumindo uma forma tanto mais fe-roz quanto mais primitivo o ser, porque, quanto mais ele primitivo, tanto mais lhe hostil o ambiente, que ele ainda no

    transformou, para adapt-lo s suas necessidades, e, quanto maishostil o ambiente, tanto mais dura, violenta, feroz e desapieda-da a luta para sobreviver. Alm disso, corresponde aos princ-pios que regem a estrutura de nosso universo o fato de ser a vidatanto mais carregada de dificuldades e dores quanto mais involu-da ela for, isto , quanto mais longe estiver do S e mais prximase encontrar do AS. Com a transformao do ambiente e a con-sequente melhor satisfao das prprias necessidades, diminui anecessidade de lutar, reduzindo a violncia e a ferocidade exigi-das para sobreviver. Com a diminuio das resistncias hostis vida do homem, ele pode, sem perigo para si, diminuir a parcelade energia que deve consumir na luta. assim que o sistema deviolncia tende, pouco a pouco, a ser eliminado.

    Mas, com isso, cessar a luta por completo? No. A lutapara transformar o AS em S no pode cessar seno no pontofinal da evoluo, ou seja, quando se alcanar o S, com a anu-lao do AS. A luta nasceu da ciso no dualismo e no podedesaparecer enquanto esta ciso no for sanada, reabsorvendoo dualismo com a reunificao de tudo no S, atravs do retor-no de tudo a Deus.

    A luta no cessa, transforma-se. Quando a humanidadecomea a se reunir em grupos sempre mais vastos, organizan-do-se em sociedade, a ajuda recproca no comum interesse dadefesa torna menos dura a luta contra o ambiente, tendendo,portanto, a fazer desaparecer, como menos urgente, o sistemada fora e da violncia, que to profundas feridas deixa emquem lhes sofre os efeitos. Nesse momento comea, com adisciplina das leis, um processo de ordenao da vida e de cer-ceamento daquele sistema, que, mesmo podendo momentane-amente beneficiar quem o pratica, uma constante ameaa pa-ra aqueles contra quem ele utilizado. Que pode fazer ento oindivduo, quando ele, desta maneira, precisa lutar cada vezmenos contra um ambiente j dominado sobretudo pelos seussemelhantes, que o cercam e o oprimem, para torn-lo incuo,procurando envolv-lo e prejudic-lo.

    Ento a luta se torna mais sutil, processando-se de formalegal e moral, armada de astcia, fraude, engano e dissimula-o. Esta a fase atual, na qual a violncia, pelo menos dentrodos limites de um pas, condenada como delinquncia, apesarde, no caso de ocorrer fora dele e durante a guerra, ser conside-rada um ato honorfico e de valor. Se, no entanto, a violncia hoje condenada, a astcia e o engano esto em plena vigncia,como mtodo de luta pela vida. Com este mtodo, perante asleis, no se procura obedecer, mas sim evadir-se, assim como,perante o prximo, no se procura colaborar, mas sim explorar.Todavia ser agredido e roubado legalmente j representa umcerto progresso em comparao a ser assassinado na estrada. Aprpria tcnica do delito est, portanto, submetida evoluo,

    sendo hoje possvel observar que, com isso, evita-se sempremais a violncia e o derramamento de sangue, para no agravara pena legal, procurando-se a posse com artes mais sutis, atra-vs do furto, que mais vantajosa.

    Vejamos agora aonde nos levar este processo de evoluoda luta. A razo fundamental dela sempre a mesma: sobrevi-ver com o menor esforo possvel. A vida est pronta a aceitartudo o que leva para este fim, buscando o mximo rendimentoem termos de bem-estar, com o mnimo dano prprio. Ora, ape-sar de em menor grau do que o da violncia, o sistema astcia-engano ainda contm um mal, dado pelo prejuzo resultante pa-ra os vencidos, os escravizados e os esmagados. A violnciamata a vtima. A astcia a deixa viva, mas arruinada. As feridas

    permanecem impressas no subconsciente e no so esquecidas.Antigamente, os vencidos, se quisessem sobreviver, eram obri-gados a se fortalecer cada vez mais. Porm, agora, pela mesmarazo, so obrigados a se tornar cada vez mais astutos e inteli-gentes. Eis que novamente, tambm aqui, o mal automatica-mente levado sua autodestruio.

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    4 A DESCIDA DOS IDEAIS Pietro Ubaldi

    Manifesta-se assim uma tendncia a cercar e restringir gra-dualmente o sistema da astcia, por duas razes: 1a) Porque ohomem se dar conta do imenso custo que o consequente mto-do da desconfiana, pelo fato de exigir controle contnuo, repre-senta como dispndio de energia e perceber o quanto contra-producente tal mtodo, pelos atritos produzidos e pelos danosprovocados no vencido, cujo resultado a gerao de um mate-rial negativo que, permanecendo em circulao na atmosferarespirada por todos, no pode acabar seno caindo em cima dealgum; 2a) Porque, existindo a probabilidade de que todos so-fram estas duras consequncias, compreender-se- no somentea contnua ameaa e a falta de segurana que tal mtodo repre-senta, mas tambm a imensa vantagem que para todos seguir,pelo contrrio, o mtodo da sinceridade e da colaborao.

    por este caminho que, por fim, o sistema de luta acabarsendo superado. Esta transformao corresponde a um processode saneamento do separatismo, fruto da queda. Com isso, seralcanada a reunificao, fruto da reconstruo evolutiva. Nesteprocesso, os elementos separados tendem sempre mais a se re-unir, at se fundirem, reconstruindo o seu estado orgnico ori-ginal. Temos, pois, trs fases, que representam as possveis po-sies em que o homem pode se encontrar:

    1o) O homem isolado, que luta contra a naturezaPlenitudedo mtodo dafora-violncia.

    2o) O homem reagrupado em sociedade, que deve, portanto,lutar menos contra a natureza, mas que permanece ainda rivaldos outros componentes do grupo Desuso do mtodo fora-violncia, o qual substitudo pelo mtodo da astcia-fraude.

    3o) O homem integrado no estado orgnico de coletividade ,que, pelo fato de haver, com o mtodo precedente, desenvolvi-do a inteligncia, acabou por compreender quo contraprodu-cente o sistema astcia-fraude e quo vantajoso super-lo Adoo do mtodo da sinceridade-colaborao, para alcanarcom menor esforo um maior bem-estar.

    O problema est em desenvolver a inteligncia, para se che-

    gar a compreender qual o mtodo de maior vantagem. Mas justamente para alcanar este objetivo que o erro produz sofri-mento. por isso que, enquanto no se aprende a elimin-locom uma conduta reta, a ignorncia significa dano. Vive-se esofre-se exatamente para se aprender.

    Atualmente, a humanidade se encontra na segunda das trsreferidas posies. Assim se explica como hoje, na Terra, osideais, incluindo aqueles representados pelas religies, tendema se manifestar em forma de hipocrisia, gerando ento a inds-tria da explorao do sentimento religioso.

    Este desenvolvimento em trs graus pode parecer como umasupresso do egosmo em favor do altrusmo, mas significa narealidade a sua dilatao e ampliao, e no destruio. A vida,

    sempre utilitria, no permite desperdcios inteis para os seusfins, de modo que no admite altrusmos completamente nega-tivos, totalmente improdutivos. Ela no passa, portanto, do ego-smo para um altrusmo como um fim em si mesmo, mas so-mente quando isso representa uma vantagem. por essa razoque ela supera o mtodo da luta entre egosmos rivais e o subs-titui pelo mtodo mais produtivo da solidariedade humana. Avida no alcana o altrusmo atravs de sacrifcios contraprodu-centes, que constituem renncia antivital, mas sim atravs deum egosmo vital, porque utilitrio e sempre mais vasto. Entoo altrusmo no significa mais mutilar-se a si prprio em favordo egosmo dos outros, mas sim em ver-se a si mesmo refletidono prximo, incluindo-o no prprio egosmo. Desse modo,

    forma-se o primeiro ncleo, destinado a se dilatar sempre mais.Comea-se com um pequeno egosmo do casal, do qual nascedepois o do grupo familiar, de onde se chega depois ao de gru-pos sempre mais vastos: a aldeia, a casta, o partido, a nao e,por fim, a humanidade. Trata-se de um progressivo processo deunificao, segundo o princpio das unidades coletivas. Fora do

    grupo, ou seja, do recinto da confraternizao, existe a guerra,mas dentro dele h liames de interesses comuns, onde o noprovimento sobrevivncia dos outros significa atraioar-se asi mesmo. Quanto mais o grupo de que se faz parte aumenta,tanto mais o egosmo se dilata e a guerra afastada para maislonge, afastando-se para limites cada vez mais distantes. Quan-do esta aliana de egosmos se tornar universal, no havermais lugar para a guerra. Ento, ter desaparecido aquilo quechamamos de egosmo, ou seja, aquele egosmo restrito a um sindivduo, pois ele se haver estendido tanto, que abraar to-dos num egosmo universal, o qual chamamos altrusmo. Hoje,a multiplicao dos contatos, devido aos novos meios de comu-nicao, comea a encaminhar a humanidade para ampliaesaltrustas cada vez maiores do velho egosmo.

    Segundo as trs mencionadas fases de evoluo, verifica-seigualmente o fato de que os meios fraudulentos substituem osviolentos, da mesma forma como, depois, os mtodos colabora-cionistas substituem os fraudulentos. Agora, a humanidade seencaminha para entrar nesta terceira fase. Assim se transforma-r tambm para o homem a lei da luta pela vida. Trata-se, naverdade, de uma fase que, apesar de numa forma mais simples elimitada, j foi alcanada, por exemplo, pelas abelhas e pelasformigas, fato com o qual se comprova que a vida j conhecetais mtodos. Caminhando-se em frente no caminho da evolu-o, primeiramente a violncia diminui em favor da fraude, malmenor que substitui o maior, depois a fraude, por sua vez, di-minui em favor da sinceridade e da colaborao. Com isto, ex-plica-se a razo pela qual existe em nosso mundo a mentira,que portadora de uma funo biolgica, e compreende-setambm por que a evoluo levar sua futura eliminao.

    Ser uma grande conquista e um alvio para todos libertar-se do peso da hipocrisia, da fadiga de pratic-la e de suport-la.Com o desenvolvimento da inteligncia, a humanidade chegara isto, e o mesmo acontecer tambm em relao guerra. Asreligies e a moral representam a descida dos ideais e traba-

    lham neste sentido, para libertar a humanidade dos mtodosfraudulentos da luta pela vida, substituindo-os por um senti-mento de solidariedade social e de ajuda recproca, num estadode colaborao e convivncia pacfica. O que nos impede dechegarmos a viver numa posio mais vantajosa para todos somente a ignorncia. E no h outro mtodo para elimin-la,seno sofrer as duras consequncias do estado atual. Sofrer atser obrigado a procurar aquela posio melhor que, com a ex-perincia adquirida, pode ser encontrada mais facilmente edepois, para permanecer nela, compreender, com o desenvol-vimento da inteligncia, que isso melhor. Trata-se de conquis-tar novas qualidades, porque no adianta sobrepor novos siste-mas econmicos, sociais ou polticos a indivduos imaturos.

    Trata-se de eliminar o atvico antagonismo individual, desen-volvendo o esprito de associao, de modo que as foras dosindivduos isolados no se eliminem, destruindo-se numa lutarecproca, mas, ao contrrio, possam se somar num estado decooperao. Assim se obtm um rendimento imensamente mai-or, tornando-se muito fcil resolver o problema da sobrevivn-cia, biologicamente fundamental.

    Na terceira das trs referidas fases, a orgnica, a atividadeque se substitui luta do primeiro e do segundo tipo o traba-lho. O ambiente onde se vive foi gradualmente domesticadocom a civilizao, atravs das leis e da educao. A violnciafoi eliminada da vida social, tendo-se compreendido, por fim,como contraproducente esforar-se tanto para se enganar re-

    ciprocamente. Pode-se, ento, alcanar a terceira fase num am-biente no mais hostil, entre companheiros no mais rivais,porque agora, trabalhando todos juntos, o problema da sobrevi-vncia est resolvido, no havendo mais a necessidade de usaro mtodo da luta, que era inicialmente necessrio para sobrevi-ver. Mais adiante, observaremos quais outros problemas podem

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    Pietro Ubaldi A DESCIDA DOS IDEAIS 5

    surgir depois, quando se supera tambm esta fase. Veremosquais os perigos oferecidos por um bem estar assegurado paraum bitipo que, ainda provido da velha forma mental, propor-cionada aos mtodos de vida precedente, no est habituado aisso. Neste captulo basta haver constatado a necessidade biol-gica pela qual a evoluo deve levar realizao do princpiode solidariedade social, baseado sobre o fato positivo da utili-dade de se associar, para melhor vencer na luta pela sobrevi-vncia. assim que se passa da fase de antagonismos entreegosmos rivais da colaborao. Nesta nova posio, o indiv-duo se sentir muito mais protegido e com mais potencialidade,porque no se encontrar mais isolado dentro de uma naturezahostil, cercado por inimigos, mas sim integrado e funcionandocomo elemento dentro de um grande organismo.

    A utilidade da associao para vencer na luta pela vida umfato positivo, portanto, uma vez que a vida utilitria, torna-seinevitvel que ela evolua nesta direo. Por isso fatal que seacabe passando ao sistema orgnico de cooperao, em substi-tuio ao atual de guerras econmicas, de luta entre classes so-ciais e de guerras armadas para a destruio universal. Mas co-mo poder, na prtica, surgir uma substituio to radical demtodo? O sistema da fora, assim como o da astcia, mesmosendo o segundo mais refinado que o primeiro, so sempre ba-seados num egosmo fechado em si mesmo e na consequentedesonestidade para com o prximo. Ora, abrir este egosmo emdireo ao prximo, assumindo a consequente honestidade paracom ele, constitui uma profunda transformao de tipo biolgi-co, um salto evolutivo para um nvel superior, representandoum amadurecimento que leva a um modo totalmente diverso deconceber a vida, o que no fcil realizar. De que meios dispea natureza e que mtodos ela usa para alcanar tal objetivo?

    O processo, como podemos observar, j est em ao. Paraeliminar o atual regime de rivalidade, no h outro meio senoa reao das vtimas, que devero impor, com a persuaso dosmeios coercivos, o sistema da honestidade, de modo que fique

    ferido quem pratica o regime da rivalidade, nico processo paracompreender que no salutar repetir o erro. Quando os dbeise os ingnuos no se deixarem mais enganar, tendo a indstriada mentira deixado de dar fruto, no haver mais razo para queela continue sendo praticada. Ento ela ser abandonada, comose faz com todas as coisas que j no do mais rendimento.Mas, para que isso seja assimilado como qualidades do indiv-duo, necessrio que, por longa repetio, os desonestos cons-tatem em si mesmos, pela sua prpria experincia, os resultadosdanosos do seu mtodo, adaptando-se, ento, ao outro mtodo,que, ao invs de produzir aqueles resultados, oferece vantagensanteriormente desconhecidas, tornando-se deste modo, por fim,vantajoso para todos. Trata-se de vencer todas as resistncias da

    ignorncia, que faz acreditar no contrrio. Trata-se de mudar deforma mental, passando para uma nova, o que representa umaverdadeira criao biolgica. Para se fixar na raa, tudo issodeve entrar nos hbitos sociais, atravs de um esforo tenaz deimposio, com um impulso constante nesta direo.

    O Evangelho, entendido apenas no seu aspecto negativo desacrifcio, santifica o indivduo que o pratica, mas encoraja osdesonestos em seu mtodo de explorao. Enquanto os prejudi-cados no reagirem, a sua pacincia funcionar como fbrica devtimas. Se os crucificadores de Cristo tivessem recebido umalio imediata, no teriam ficado encorajados pelo seu fcil su-cesso, que lhes ensinou uma verdade totalmente diferente, se-gundo a qual no o amor, mas sim a fora e o engano que so

    premiados. Estamos na Terra, e no nos cus, e aqui a realidadebiolgica nos ensina que o ideal, para se enxertar na vida, deveseguir as leis deste nvel. Em relao Terra, a crucificao deCristo pode ter tido a funo de um escndalo, mostrando aomundo, durante milnios, a vergonha da humanidade, para queela compreendesse a m ao e deixasse de repetir semelhantes

    crimes. Quanto ao significado daquela crucificao perante oCu, ao mundo no lhe interessa saber. Hoje culpa-se os judeuspor deicdio, como se fosse possvel matar Deus! Se assim ti-vesse sido, eles seriam os seres mais poderosos do universo. Noentanto aquele delito no foi apenas de um povo, mas sim detoda a humanidade, que o repete at hoje, perseguindo inocen-tes, inclusive em nome de Deus. Segue-se, ento, que to gran-de escndalo no deu resultados positivos.

    As resistncias das coisas velhas so imensas. Enquanto oegosmo das vtimas, seguindo as leis do plano humano, no

    conseguir organizar-se para se impor ao egosmo dos que provo-cam os danos, obrigando-os a respeitar os direitos de todos, ha-ver sempre lugar para os desonestos, com vantagem para eles eprejuzo para os demais, no se passando jamais fase de acor-do e equilbrio, na qual se supera esse sistema. Este fato justificae torna necessria a presena das leis e das respectivas sanespunitivas, para estabelecer uma ordem na sociedade. Mas tam-bm justifica a rebelio, quando essas leis no correspondem

    justia, sendo feitas por um grupo dominante e a favor dele. Daa origem da revolta para estabelecer uma ordem que d cada vezmenos vantagem para apenas uma parte e seja sempre mais uni-versal, defendendo os interesses de um nmero cada vez maiorde pessoas, at chegar a abranger a todos. Ento ter sido reali-zado o salto biolgico, vivendo-se num regime de altrusmo, jus-tia e honestidade. Permanece, ento, de p o princpio funda-mental de que a vida no d nada gratuitamente, mas apenasoferece aquilo que ganhamos com nosso esforo. O ser quis rea-lizar a descida do S para o AS, mas, agora, so suas as conse-quncias. Para executar a subida do AS para o S, cabe-nos o tra-balho de conquista e construo. Cristo apenas nos mostrou ocaminho, colocando-se frente com o exemplo. Compete-nospercorr-lo com nossos prprios ps. Isto significa que o idealnos oferecido do Cu como uma proposta de trabalho. Cabe,pois, ao homem traduzi-lo em realidade, vencendo todas as re-sistncias do AS, que se opem reconstruo do S.

    Agora que examinamos as bases positivas do fenmeno dadescida dos ideais, podemos melhor compreend-lo e ver por-que eles descem ao ambiente humano, cuja lei fundamental aluta pela vida. Podemos compreender tambm por que, noobstante tanta diversidade, eles procuram enxertar-se num am-biente que a sua absoluta negao. Isto se explica com a lei daevoluo. Quem, no caminho da ascenso, est em posiomais adiantada submetido a um processo que, para ele, consti-tui retrocesso involutivo, a fim de tornar possvel realizar aqui-lo que, para o mundo, situado numa posio atrasada em rela-o a ele, constitui um avano evolutivo. Dizemos ele porqueos ideais tomam corpo (dado que tudo na Terra adquire uma

    forma) primeiramente numa pessoa viva, que os afirma e oslana, e, em seguida, nas instituies, que os representam e ostransmitem. Precisamente assim se organizam as religies, queso o canal mais importante da descida dos ideais Terra. Co-mo se realiza ento este fenmeno e o que sucede quando talrealidade, verdadeira no Cu, pretende enxertar-se naquela todiferente realidade biolgica, verdadeira em nosso mundo?

    Na Terra, o homem est de fato sujeito a leis bem diferentes,que, nada tendo de ideal, obrigam-no a se ocupar em primeirolugar do problema da sobrevivncia. natural, portanto, que,para este objetivo, ele procure utilizar-se daquilo que encontra,inclusive dos ideais. Estes, por sua vez, querem utiliz-lo para osseus fins, que so totalmente diferentes. Aos ideais interessa a

    salvao da alma, para a grandeza do esprito, mesmo que sejacom o sacrifcio da vida terrena. Ao homem interessa sobretudoa vida terrena, porque esta concreta e atual, somente se interes-sando pela outra, quando se trata de deixar a presente. As duasposies esto invertidas uma em relao outra. natural,ento, que cada um dos dois princpios, para no se perder nesse

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    6 A DESCIDA DOS IDEAIS Pietro Ubaldi

    antagonismo, deva buscar o interesse comum. assim que,quando uma religio dita normas de vida para transformar ohomem, este procure transform-las num meio para satisfazeras suas necessidades de vencer na luta pela vida. Deste modo,ele adapta a religio s suas prprias comodidades, de maneiraque esta lhe sirva, no a aceitando, se ela no lhe servir. Se amemria de Cristo chegou at ns, isto se deve em grande parte concesso do Imperador Constantino, que permitiu o podertemporal dos papas, pelo qual o sacerdcio se tornou hierar-quia, administrao de bens, atividade poltica e carreira. Mas,para que se continuasse a falar de Cristo, no havia outro meio,seno transform-lo em algo deste mundo. Mal necessrio, que tanto mais grave, quanto mais primitiva for a humanidade,mas que, com o tempo, vai desaparecendo, porque a tarefa daevoluo elimin-lo. inevitvel, portanto, que, para tornarpossvel a aceitao de um ideal na Terra, ele deva descer aonvel de quem vai aceit-lo, pois este o dono do ambiente ter-restre, onde o fenmeno deve realizar-se. E isto deve acontecerpara que o ideal no fique excludo da vida.

    Os seres nos quais tomam forma os dois princpios opostosso, de um lado, o bitipo evoludo, com o gnio, o santo, oprofeta ou o super-homem, e, de outro lado, o bitipo normalanimal-humano. O primeiro o motor da evoluo, o elementoativo. O segundo o elemento passivo, que se deixa arrastarpelo primeiro. Um ideal demora milnios para ser assimiladoe, quando j cumpriu sua funo, por ter sido todo utilizadonum sentido evolutivo, substitudo por outro mais adiantado,a fim de que a humanidade possa continuar progredindo. Nofundo trata-se de uma troca na qual cada um dos dois termosd e, em compensao, pede alguma coisa. O ideal se oferece,pedindo ao homem o esforo necessrio para progredir, e ohomem trata de ganhar materialmente o mais que pode e com amenor fadiga possvel, utilizando o ideal na Terra apenas paraesta finalidade. assim que surgem como seus representantesos ministros de Deus, formando a casta sacerdotal, que, pelo

    fato de cumprir um servio, estabelece a indstria da religio,formando a base terrena indispensvel para tornar possvel oideal tomar forma no plano humano.

    Para os cidados da Terra, tudo est em seu lugar, de acordocom a lei do seu plano. Deste modo se explica a razo pela qualos ideais, quando so trazidos ao nvel humano na Terra, no senos apresentam ntegros, mas sim torcidos e adaptados. Natu-ralmente, isto adequado ao homem normal, que faz para si otrabalho desta adaptao, mas no para quem assume os ideaisa srio e, por esta razo, encontra-se isolado ou, at mesmo, ex-cludo e condenado. Deste ltimo tipo, perante a destruio dosvalores morais, tomamos o partido nestes escritos, tratando desalvar o que for possvel. Quem se encontra deslocado na Terra

    no o involudo, que est em sua casa, no seu ambiente, massim o evoludo, que procura levar at l o ideal. Para poder rea-lizar a sua misso, ele se encontra na merecida posio de con-denado a um retrocesso involutivo, o que um castigo tremen-do. o mesmo que condenar um homem culto e civilizado aviver entre antropfagos, transformados em seus semelhantes, acujos hbitos ele deve adaptar-se. Tendo por instinto a prticada sinceridade e da colaborao, ele deve viver submerso nummundo de hipocrisia e fraude. E j vimos anteriormente quaisso os diversos graus de evoluo.

    Podemos assim entender o que significa transportar um in-divduo do terceiro grau ao segundo, fazendo uma ideia domartrio necessrio para que ele possa realizar, no seio de um

    ambiente biolgico involudo, o trabalho de arrast-lo a umnvel mais alto.Transportado ao mundo dos involudos, o evoludo encon-

    tra-se em condies de inferioridade na luta para a sobrevivn-cia. Se, para ele, existem compensaes celestiais, isto coisaque no interessa para o mundo. A Cristo o mundo respondeu

    apenas nas duas formas que lhe serviam: desprezando-o quandoestava vivo e explorando-o depois de morto. Pelo fato de repeliro mtodo da fora-violncia assim como o da astcia-fraude, ohomem do terceiro grau evolutivo, de tipo evanglico, seguidorde Cristo, no apto para sobreviver no ambiente terrestre. En-to o ideal seria levado a termo somente por poucos pioneiros,rapidamente liquidados, e nunca poderia se realizar no seio denossa humanidade. Isto no entanto significaria o fracasso dosplanos da evoluo. Mas, se isto no pode acontecer, como en-to a vida soluciona o problema?

    Os primeiros seguidores do ideal so poucos, mas tm dearrastar consigo muitos, com a palavra e o exemplo. A descidados ideais somente alcana o seu objetivo, quando tais princ-pios, por terem sido aceitos em massa, tornam-se um fenmenocoletivo. Antes desta ltima fase do seu desenvolvimento, osideais se encontram no mundo apenas no estado de germe. Cris-to, at agora, apenas uma semente que busca crescer. Quantosmilnios faltaro para que possa chegar a ser uma rvore!

    Da se conclui que a moral evanglicapara a finalidade daevoluo, que a salvao de toda humanidade, e no de apenaspoucos casos isolados de tipo coletivo, ou seja, no reali-zvel numa sociedade de tipo inferior, formada por involudos,onde aquela moral, assim como sucedeu com Cristo, rapidamen-te liquida o indivduo que a vive. Ora, a vida pode sacrificar al-guns poucos indivduos na sua economia, quando isto lhe servepara os seus superiores fins evolutivos, mas no pode perder to-da a massa, em favor da qual precisamente se realiza este sacri-fcio. O problema fundamental da vida a sobrevivncia, en-quanto a evoluo questo somente secundria, quando hajauma oportunidade. Eis que o Evangelho, para poder verdadei-ramente realizar-se como prtica, e no apenas como pregao,presume um estado de reciprocidade que somente ser possvelaparecer quando a humanidade, por evoluo, tiver alcanado aterceira fase, com a organizao coletiva, na qual a moral do de-ver no se resolve numa espoliao por parte de quem no a

    aplica em prejuzo de quem a aplica, mas resulte de um equil-brio dado pela correspondncia dos direitos e deveres de cadaum com os direitos e deveres do prximo. Somente ento oEvangelho ser aplicvel em grande escala, porque no repre-sentar uma ameaa, mas sim uma ajuda para a sobrevivncia.

    Se praticar o Evangelho pode ser antivital para o evoludoisolado no atual mundo involudo, que tem de fato o cuidado deno o aplicar, esse Evangelho pode, pelo contrrio, outorgarvantagem e bem-estar num mundo de evoludos, onde s se po-de usar o mtodo da terceira fase, de sinceridade e colaborao,que o nico capaz de permitir a eliminao da luta com o m-todo da no-resistncia. Por si s, transformar-se em cordeiroentre lobos serve apenas para acabar sendo devorado por eles e

    assim engord-los. Por isto o evoludo no pode tornar-se invo-ludo, j que o seu destino est marcado. Seria absurdo que, alongo prazo, a vida desperdiasse as suas energias com o fra-casso daquilo que ela possui de melhor. Eis que todo este jogosobre o qual se baseia a descida dos ideais no pode terminarseno alcanando o objetivo para o qual existe, isto , um des-locamento da humanidade em sentido evolutivo.

    Por todos estes motivos, apesar do evoludo realizar umagrande funo biolgica, o ideal evanglico, transportado para oterreno da realidade da vida, torna-se uma utopia, como coisafora do lugar. A sociedade humana funciona com princpiosopostos. No o estado orgnico colaboracionista que prevale-ce, mas sim o sistema de grupos, dentro do qual se entrinchei-

    ram os interesses, numa espcie de castelo medieval, fechado earmado contra todos os outros castelos. Portanto uma pessoa no julgada pelo seu valor, mas sim pelo fato de estar dentro ou fo-ra do prprio grupo. Ento a primeira pergunta que se faz : Ele um dos nossos?. Se for, perdoa-se-lhe muita coisa, mas, seno for, mesmo que seja santo, ele sempre um inimigo e, por-

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    Pietro Ubaldi A DESCIDA DOS IDEAIS 7

    tanto, est errado, devendo por isso ser condenado. Quando seapreciam as qualidades de um indivduo, isto no se faz impar-cialmente, mas sim em funo da possibilidade de explor-laspara o servio do grupo. Uma vez que o objetivo maior a so-brevivncia, tudo concebido e realizado apenas em funo de-la. O grupo se forma e existe precisamente para este fim, no qualtodos os membros esto sumamente interessados. Esta a foraque os mantm unidos, porque a unio os fortifica para se de-fenderem e vencerem. Assim a apreciao de uma pessoa, con-forme ela se encontre dentro ou fora do grupo, torna-se muitodiferente. As valorizaes humanas so, deste modo, torcidasem funo desta necessidade de luta. Se quisermos julgar objeti-vamente um indivduo pelo que ele realmente , devemos pri-meiro despoj-lo das suas atribuies exteriores, prescindindoda sua posio social e despindo-o de todos os adereos com quese cobre e se esconde, pois s assim poder aparecer sua verda-deira pessoa, em vez dos seus sucessos sociais.

    Na Terra, portanto, tudo existe em funo da luta. O indi-vduo deve ocupar-se em primeiro lugar deste trabalho e valena medida em que pode ser utilizado para este fim. Eis que aparte mais dolorosa da vida do evoludo, quando no morre an-tes, a sua glorificao, porque, mesmo conseguindo com istoenxertar um pouco de ideal na vida, comea a sua explorao,sendo ento submetido s finalidades humanas, quando se bus-ca sua adaptao e se d origem ao seu emborcamento a servi-o do mundo. A maior paixo de Cristo no foi certamente ado Glgota, mas sim a sua longussima crucificao, que j du-ra dois mil anos, a servio dos interesses dos homens. Para oevoludo, a vida no pode ser seno misso e sacrifcio. O seutriunfo est na morte, que o liberta do grande sofrimento do re-trocesso involutivo, restituindo-o ao seu plano de vida. assimque a sua posio negativa no mundo torna-se positiva no Cu.Ele trabalha para a realizao da evoluo, explicando com apalavra e contribuindo com o exemplo, para que se compreen-da a utilidade de se empregar o mtodo da honestidade e da co-

    laborao, em vez da fora e do engano. O mundo ri-se dele,tratando-o como um ingnuo. Quando este ser abre os braospara colaborar, os outros, farejando nele o indivduo honesto eincuo, acabam por escraviz-lo e espoli-lo. A morte liberta oevoludo de tudo isto e o restitui ao seu mundo, que feito, pe-lo contrrio, de justia, onde ele deixa de ser um inepto, pois la sabedoria do indivduo consiste em conhecer o mistrio doser e, consequentemente, atuar com retido, e no em descobriras tramas do prximo, para tirar proveito.

    Que pode fazer ele na Terra? A sua posio aqui clara. NaTerra, ele estrangeiro. Tivemos de falar do evoludo porque eleconstitui o instrumento da descida dos ideais, nosso tema atual.Continuando a ser cidado do seu to diferente mundo, ele desce

    para viver a sua verdade, que no pode ser desmentida. Esta suaposio, ainda que lhe imponha tremendos deveres, desconheci-dos do involudo, tambm representa para ele um direito e umafora. Cada ser funciona segundo a lei do plano ao qual est li-gado, levando-a consigo aonde quer que v, seja como utilidadeou seja como fardo. O evoludo, que, por sua natureza, no entrana luta do mundo, mas que, para tornar possvel o comprimentode sua misso, tem de resolver o problema da sua sobrevivncia,deve possuir seus prprios meios de defesa e proteo. Trata-sede um cordeiro que tem de sobreviver entre lobos, de um evan-glico que usa o mtodo da no resistncia num campo de bata-lha. E a defesa deste indivduo interessa vida, porque ela ne-cessita dele, uma vez que entregou a ele a tarefa, para ela fun-

    damental, de promover a evoluo. Ser possvel que ao involu-do inconsciente e destruidor tenha sido deixado o poder de li-quidar o evoludo, impedindo assim o desenvolvimento da evo-luo? Ser possvel que o mal realmente vena o bem, que o in-ferior vena o superior? Mas, se certo que o evoludo umexilado em terra estrangeira, verdade tambm que a lei de sua

    ptria o segue e o protege, para tornar possvel ele cumprir a suamisso. Se esta lei permite que o involudo elimine tal indiv-duo, assim o faz somente quando tenha chegado a hora que con-vm ao evoludo ir-se embora, porque a sua misso foi cumpri-da. A lei de Deus a verdadeira dona de tudo, inclusive do invo-ludo e do mundo. Ningum pode deter o processo da descidados ideais Terra, pois eles realizam os objetivos da evoluo.Os obstculos ficam limitados no espao e no tempo, tendo sidodado a eles o poder de resistir, mas no de vencer.

    Eis o significado, a tcnica, os instrumentos e as consequn-

    cias da realizao na Terra do fenmeno da descida dos ideais.

    II. A HUMANIDADE EM FASE DETRANSIO EVOLUTIVA

    inevitvel que as concepes humanas sejam antropo-mrficas, pois foram conquistadas por um crebro humano,como resultado das experincias vividas e, portanto, em funodos conhecimentos adquiridos no ambiente terrestre. Comopode a mente humana, que um produto de nossa vida, conterelementos de juzo e uma unidade de medida que ultrapassemos limites dela? A nossa capacidade de conceber baseia-se e

    eleva-se sobre elementos oferecidos pelos nossos sentidos, querepresentam uma abertura para o exterior, estando restritosapenas a uma determinada amplitude do real e a uma determi-nada ordem de fenmenos. Tudo aquilo que estas vias de co-municao impedem a passagem no percebido e, portanto, como se no existisse para ns. Trata-se, por conseguinte, deum material bem limitado aquele que ns podemos obter atra-vs destes meios, com os quais foi construda no passado anossa forma mental, que o instrumento com o qual hoje jul-gamos. No podemos, portanto, elevar as nossas construesideais seno com este instrumento e sobre estas bases simples,dado que no possumos outros elementos. Por esta razo, tudoo que est alm destes limites encontra-se fora de nossa com-

    preenso, no sendo concebido nem concebvel. Assim, se pre-tendemos elevar-nos a concepes superiores, no podemosfaz-lo seno com estes nossos meios, ou seja, com a nossamente limitada, que tende a reduzir tudo s formas do seu con-cebvel, pois ela, por fora das circunstncias, no pode e nosabe pensar seno antropomorficamente.

    Se ns percebemos somente uma pequena parte da realida-de, o que haver ento alm dela? Apenas recentemente, commeios indiretos, pelas vias da cincia, o homem comeou a sedar conta de tudo isto. Ele tambm viu que nem sequer esta par-te percebida por ns a realidade, mas apenas uma interpreta-o dela, pois se trata de algo obtido atravs dos nossos limita-dos sentidos e interpretada com o instrumento de nossa mente,

    relativa ao ambiente terrestre. Pode acontecer, ento, que o pro-duto de nossa interpretao seja somente uma distoro da rea-lidade, condio pela qual o que julgamos ser a realidade nopassaria de uma projeo antropomrfica, construda por nscom as ideias fornecidas pela nossa vida.

    Mas h tambm um outro fato que influi sobre o nosso mo-do de conceber. Se tudo o que existe est englobado no trans-formismo universal, ento nem sequer as nossas concepespodem escapar desse processo, razo pela qual elas tm de serrelativas e progressivas. indiscutvel que, se o universo setransforma por evoluo, tambm por evoluo se transforma orgo mental com o qual o percebemos e julgamos. Portantotudo visto sucessivamente de diversos modos, cada um dos

    quais representa uma determinada realidade, relativa ao indiv-duo que a observa e ao momento que ele faz a observao. Eisque no possumos das coisas seno estas nossas sucessivas erelativas representaes, realizadas por ns mesmos. Julgamoster alcanado a realidade, mas esta apenas a realidade que oindivduo alcana por si mesmo, naquele dado instante, a qual

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    8 A DESCIDA DOS IDEAIS Pietro Ubaldi

    varia com o observador e o momento, modificando-se para di-ferentes observadores e, com o decorrer do tempo, para o mes-mo observador. assim que as nossas verdades no expressamoutra coisa seno a maneira pela qual elas so vistas e concebi-das por cada um num dado momento. As verdades so, portan-to, relativas ao observador e progressivas no tempo.

    Uma vez que tal condio depende da estrutura do ser huma-no, ento ela permanece verdadeira tambm no campo das ver-dades filosficas, religiosas, morais, sociais etc. Nenhuma formade existncia parece ser possvel, se no for considerada comoum vir-a-ser, e o homem deu-se conta de que tudo movimento,seja no universo fsico, no dinmico ou no espiritual. No campodas verdades acima mencionadas, o transformismo evolutivo ainda mais evidente, porque a psique ainda mais mvel e variamais rapidamente com a evoluo, em funo das fases sucessi-vas que ela atravessa. Tais verdades tambm esto em contnuomovimento, sendo relativas e progressivas. Este o patrimniomental que nos dado possuir, o qual se resume em representa-es antropomrficas limitadas e a verdades progressivas.

    No entanto esta mesma progressiva relatividade leva consi-go, implcita, a sua compensao. A ideia do transformismoem marcha exige a ideia de um ponto de chegada, que tam-bm o ponto de referncia, sem o qual nenhum movimento po-de ser apreciado. Ento a prpria ideia de verdade relativa eprogressiva nos leva necessariamente ideia, oposta e com-plementar, de verdade absoluta e imutvel. O movimento exigeuma meta, um ponto situado fora dele, em funo do qual serealize. Transformismo e relatividade progressiva, no se man-tm por si ss, mas necessitam de um ponto absoluto que,cumprindo a funo oposta, sirva de suporte. A isso leva oprprio princpio do dualismo universal, pelo qual cada posi-o existe em funo do seu oposto, somente sendo possvelreconstruir a unidade atravs da reunio das duas metades di-vididas. como o reencontro do positivo e do negativo e vice-versa, para formar um mesmo e nico circuito.

    A contnua e fugidia mobilidade se apoia na solidez doimvel, do qual necessita, para que no se perca tudo num futu-ro imenso, sem equilbrio, orientao e significado. Esta fluidezdeve ser um movimento na ordem, pois, de outra forma, leva-ria, ou at mesmo j teria levado h muito tempo, tudo a nau-fragar no caos. A instabilidade no admissvel seno em fun-o de uma estabilidade, assim como a relatividade no se sus-tm seno em relao a um absoluto. Na lgica da estrutura edo funcionamento do universo h necessidade de um ponto queseja no somente o termo final da evoluo como um seumarco csmico, ltimo produto do processo ascensional mastambm o seu ponto inicial, constituindo a partida e a chegada,o Alfa e o mega, de todo o transformismo dado pela existn-

    cia; um ponto que abrace, dirija, resuma e justifique todo esteimenso fenmeno, como seu centro; um ponto no qual se iniciee se resolva a instabilidade do vir-a-ser, a corrida do movimen-to, a relatividade deste transformstico modo de existir em for-mas e dimenses sempre mutveis; um ponto enfim no qual tu-do deve finalmente deter-se, aps ter alcanado a sua plenitudeno aperfeioamento total do imperfeito, completando o incom-pleto, com a superao final de todas as dimenses.

    a prpria ideia do relativo no qual vivemos que nos leva,por reflexo, ideia do absoluto, mesmo que no nos seja dadoconhec-lo diretamente. Se o nosso relativismo nos nega a con-cepo do absoluto e o nosso antropomorfismo no pode alcan--lo, nem por isso ele deixa de existir. Pelo contrrio, justa-

    mente a nossa posio unilateral e, por isso mesmo, incompletaque, exigindo ser completada, nos indica a posio oposta, uni-camente na qual isto pode realizar-se. precisamente o fato deestarmos colocados apenas num lado do ser que nos faz sentir anecessidade da presena do seu outro lado, somente em funodo qual se pode completar o nosso tipo de existncia.

    A esta concepo de uma estabilidade definitiva o homempode ter chegado tambm pelo fato de alguns aspectos da rea-lidade acessvel a ele lhe indicarem isto, se bem que em senti-do relativo. O transformismo em que ele est submerso pode,de fato, apresentar algumas zonas ou fases de imobilidade, asquais, no entanto, podem verificar-se apenas como temporriodescanso ou pausa no caminho, numa aparente suspenso mo-mentnea do movimento, que mesmo assim continua, pormno mais como manifestao exterior, e sim como amadureci-mento profundo, no qual a existncia prepara as suas muta-es, perceptveis s quando elas se manifestam na forma exte-rior. assim que o vir-a-ser da existncia pode parecer sus-penso, dando a iluso de imobilidade definitiva. Ento poss-vel, no meio da relatividade, surgirem pontos aparentementefixos e definitivos, momentos de estabilidade nos quais se levado a crer que a imutabilidade tenha sido alcanada, apesarde no serem eles nada mais do que repousos e paragens pas-sageiros no transformismo. De fato, eles no passam de transi-trias posies de equilbrio, prontas a se romperem, para re-tomar o caminho. Trata-se de uma momentnea estabilizaode foras contrrias, que se neutralizam no equilbrio dos im-pulsos. nesta posio esttica de movimento relativo que,sem a desintegrao atmica, a matria parece eternamente es-tvel, conforme se julgou no passado. Isto, porm, no impedeque ela esteja pronta a se transformar em energia, quando sorompidos os seus equilbrios atmicos internos.

    O vir-a-ser da existncia no se detm jamais. Porm so-mente possvel um transformismo como um meio para alcan-ar um fim, e no como um processo sem soluo, que se mo-vimenta eternamente numa determinada direo. No pode ha-ver um transformismo que no seja compensado por um mo-vimento contrrio e complementar, em funo de um ponto departida e de chegada, dentro dos limites de um dado percursoou processo transformstico. Se queremos nos aprofundar, paracompreender a natureza deste movimento, temos de chegar aos

    conceitos de involuo e evoluo, entendendo-os como osdois perodos opostos e complementares do mesmo ciclo. So-mente assim tal movimento no se anula no vazio, mas com-plementa-se com a sua fase contrria, em funo do seu pontode referncia fixo, de partida e de chegada, que lhe imprimeuma direo, sem a qual ele no pode existir. Com isso, a sim-ples ideia do movimento de vir-a-ser aperfeioa-se, transfor-mando-se numa concepo mais exata, dada por um transfor-mismo na direo involutiva ou evolutiva. Este ento o duplomovimento no qual consiste o vir-a-ser e a existncia. Isto sig-nifica que, em nosso universo, no se pode existir seno mo-vendo-se na direo involutiva ou na direo evolutiva, pro-gredindo ou retrocedendo, afastando-se ou avizinhando-se de

    Deus, que o princpio e o fim, pois tudo existe em funo deDele. A estase, neste processo de ida e volta, no pode serconstituda seno por perodos transitrios, que cedo ou tardeso retomados no movimento da existncia.

    O transformismo no , pois, uma mutao desordenadaqualquer, ao acaso, mas sim um movimento bem regulado, fe-chado dentro de normas, constituindo um processo fenomnicobem definido e disciplinado. Sem um tal princpio de ordemque o dirija, difcil imaginar como ele possa se realizar. Ora,tudo isto implica a existncia de um esquema diretivo, confor-me um plano pr-estabelecido, que determina o caminho e, aolongo dele, as fases de descida e de ascenso. Deve haver, en-to, vrios nveis de evoluo, correspondendo a diversas altu-

    ras ou graus progressivos no modo de existir e, portanto, a dife-rentes posies biolgicas, mais ou menos avanadas, conformeo caminho executado pelo ser em relao ao ponto final de todoo processo, na direo do qual tudo converge. Eis como pdenascer e o que significa a ideia de progresso. Eis como ocorre ofenmeno do gradual desenvolvimento do ser por evoluo.

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    Pietro Ubaldi A DESCIDA DOS IDEAIS 9

    Vimos estes conceitos se desenvolverem, ligados uns aos outrosnum progressivo concatenamento lgico.

    Chegando a este ponto, podemos explicar melhor o signifi-cado do conceito de verdades relativas e progressivas, do qualfalamos anteriormente. O grau do nosso conhecimento estabe-lecido conforme o nvel de evoluo alcanado pelo instrumentoque possumos para este fim, ou seja, a nossa mente. Portanto oconhecimento existe em funo da evoluo e progride com oaperfeioamento deste instrumento, na proporo dada pelo seudesenvolvimento. Na natureza, tudo j est compreendido e re-solvido, o que se comprova pelo fato de j encontrarmos tudo noestado de funcionamento. Somos ns, portanto, que ainda deve-remos compreender e resolver tudo. No indivduo mais evolu-do, a dificuldade no reside tanto em compreender, mas sim emse fazer compreender pelos menos evoludos do que ele, poden-do, s vezes, levar at mesmo sculos para eles poderem enten-d-lo. Esta a histria dos gnios incompreendidos.

    O que impede o conhecimento so os prprios limites doinstrumento mental que o indivduo tem de utilizar para alcan--lo. A superao destes limites representa um esforo que oser no deseja realizar, sendo tanto menor sua agilidade paraexecutar tal trabalho, quanto mais involudo for o ser. Quantomais atrasado o indivduo, tanto mais ele se aproxima dainrcia da pedra, aproximando-se evolutivamente dela. O serinvoludo tem horror s mudanas e ope resistncia a toda re-novao de ideias, apresentando uma vontade antiesforo quebusca paralisar qualquer ascenso, para ele muito incmoda.Esta tendncia estagnao chama-se misonesmo e devida tendncia do subconsciente ficar agarrado ao contedo arma-zenado no passado, onde se encontra a linha de conduta maissegura, pois j foi comprovada pela existncia, constituindoum patrimnio seu, que muito esforo lhe custou para conquis-tar. Prefere assim, por preguia, no construir outro patrim-nio, quando para viver basta o que j possui.

    Os vrios graus de conhecimento que a evoluo nos ofere-

    ce so alcanados com diferentes tipos de inteligncia, propor-cionais ao nvel biolgico conquistado pelo indivduo. Para asformas superiores de conhecimento, os primitivos esto com-pletamente imaturos. Podem receb-lo, aprend-lo, repeti-lo epossu-lo em aparncia, mas uma coisa a erudio, outra saber pensar. necessrio compreender qual o tipo de inteli-gncia do involudo, que no um estpido. Trata-se de umainteligncia sempre correspondente ao seu nvel evolutivoanimal-humano, possuindo assim a respectiva sabedoria, que direcionada e utilizada para a defesa da vida, sendo resultadodo caminho percorrido no passado. Ela limita-se, portanto, afins imediatos, sendo adequada para resolver os problema pr-ticos e prximos, em vez de tericos e longnquos. A tal biti-

    po, basta-lhe a sagacidade comum, a habilidade do engano e aarte de tirar proveito de tudo. Com isto ele se cr inteligente, eesta de fato a sua inteligncia.

    Mas o tipo de inteligncia se transforma com a evoluo,elevando-se para enfrentar e resolver outros problemas, bem di-ferentes, que, para o tipo precedente, ficam fora do concebvel.Assim, entre evoludo e involudo, poder se encontrar o mes-mo desnvel de compreenso que existe entre um homem e umanimal. Com a evoluo, a inteligncia coloca problemas sem-pre mais vastos e gerais, mais prximos dos princpios direto-res, no centro do conhecimento. em direo a este centro queavana o ser, afastando-se da periferia ou superfcie, onde fun-ciona a realidade prtica exterior. Temos, assim, outro tipo de

    inteligncia, feita para outros trabalhos e dirigida para outrosfins. Ela abraa horizontes e concentra vises de imensas am-plitudes, reunindo em si, numa sntese, espaos conceptuaisvastssimos, libertando-se por abstrao da infinita multiplici-dade do particular. Poder-se-ia chamar a isto de viso telesc-pica, feita para enxergar longe, em comparao com a outra,

    que se poderia chamar viso microscpica, feita para ver deperto. De fato, trata-se de uma inteligncia pequena, limitada aocontingente, descentrada na multiplicidade do particular, deso-rientada e dispersa em mil fatos pequenos, dos quais lhe escapao significado do plano diretor. No entanto, evoluindo, ela am-plia sua capacidade de ver tais princpios, dilatando sempremais os horizontes que pode perceber.

    Os dois tipos de inteligncia no se compreendem. O primi-tivo, justamente por ser ignorante, acredita que possui toda averdade, completa e definitiva. O evoludo, pelo fato de saber,chega a compreender quo mais amplo o conhecimento, almdas limitadas possibilidades humanas e o quanto, portanto, eleainda desconhece. O primitivo liquida rapidamente todos osmaiores problemas do conhecimento, suprimindo-os e limitan-do-se aos da vida animal. Somente estes so importantes paraele, que v o pensador como um inepto para a vida, perdido en-tre nuvens, fora da realidade, considerando-o uma coisa intil,cuja eliminao necessria. Assim, a forma mental, os desejos,as emoes e as dores de cada um so completamente diferentes.

    Os problemas que o primitivo se coloca e tem de resolverso mais simples dos que os do evoludo, porm, assim comoacontece com este, so sempre proporcionais respectiva inte-ligncia. Quem se encontra ainda envolvido nas necessidadesmateriais deve, para sobreviver, ocupar-se delas. O interessepor outros problemas, mais adiantados, pode surgir somentequando os primeiros j tenham sido resolvidos, atingindo-seuma fase de civilizao mais elevada, na qual a vida seja menosviolenta e feroz, os direitos e deveres estejam estabelecidos e asatisfao das necessidades materiais para o indivduo seja ga-rantida, a fim de que ele, no mais sendo atacado e distradopor elas, possa dedicar-se a outros trabalhos, construindo umaforma mental adequada para realiz-los.

    Continuemos seguindo o fio de nossa lgica, para ver atonde ele nos leva. Vimos haver no universo uma previso e co-ordenao de trabalho que implica a presena de um pensamen-

    to diretor. Este planejamento, segundo o qual se move o pro-cesso involutivo-evolutivo, no pode ser outra coisa, neste caso,seno o produto de uma inteligncia suprema, a qual pode estarsomente em Deus, pois tudo isso no pode derivar e dependerseno de uma inteligncia que esteja situada sobre toda a cria-o e que, para poder disciplin-la, tenha condio de compre-end-la com a sua mente e envolv-la com a sua potncia, o ques Deus pode fazer. Eis, ento, que aquele plano no outracoisa seno a lei de Deus, imposta como regra da existncia econstituindo a base da ordem do universo.

    Esta lei no letra morta, escrita em palavra, mas, pelo con-trrio, est viva e em ao, porque pensamento e vontade, ideia e realizao. Quando a criatura se desvia, afastando-se da

    Lei, esta o chama de volta para o caminho reto, impelindo-o aretornar a ela, no s para o bem dele mesmo, mas tambm por-que no tolervel infringir a Lei, pois isto representa um aten-tado integridade do plano de Deus, constituindo uma tentativade destru-lo, para vontade suprema substituir a vontade dacriatura rebelde. Ento a reao da Lei tem a sua funo, que defender este plano, o qual deve permanecer absolutamente n-tegro, para ser realizado, pois a salvao do universo est nele,que determina o caminho de regresso de tudo a Deus, enquantoo ser, tentando impor o seu desvio, procura sair da rbita traadapela Lei. Esta sada do plano estabelecido para tentar uma rbitadiversa, anti-Lei, deve ser liquidada. Este o princpio funda-mental, e cada lei o repete na Terra, reagindo com a priso ou

    com o inferno, porque a reao punitiva a nica coisa capaz defazer o involudo compreender e induzi-lo a obedecer. Se noestivesse em questo o seu prprio dano, o transgressor no sepreocuparia em nada com as leis, que permaneceriam uma afir-mao terica, sem nenhum resultado prtico. Assim a reao daLei assume a forma de dor para o violador, o que se justifica

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    como legtima defesa por parte da Lei, pois ela representa o pla-no de Deus, anteposto salvao do ser. Portanto, em ltimaanlise, a dor santa e sbia, pois constitui uma medida provi-dencial de proteo para, assim, obrigar a criatura a tomar o ca-minho da sua salvao, que consiste no regresso a Deus.

    O plano da Lei guia o caminho da evoluo e determinaque ele deve avanar em direo a Deus, seu ponto final. Evo-luir significa progredir num processo de divinizao, o queimplica adquirir as qualidades mais altas do ser, situadas nocimo da escadaria da subida, dadas por potncia de pensamen-to, inteligncia, sabedoria, bondade e espiritualidade, todaselas qualidades de Deus. Se esse caminho avana nesta dire-o, ele tem de consistir num desenvolvimento mental e espiri-tual. E este de fato o caminho que verificamos ter sido per-corrido pela evoluo at hoje, subindo desde a matria, atra-vs da vida vegetal e animal, at ao homem, que se distingue

    justamente pelo seu desenvolvimento cerebral. Por este trecho,a histria de nossa evoluo passada nos mostra que esta foi adireo do caminho imprimida pelo plano diretor, fato peloqual somos levados a crer que, sendo esta a lei seguida pelofenmeno, ela tem de continuar a se desenvolver no mesmosentido, segundo o mesmo princpio.

    A consequncia desta lgica que a humanidade no porcomando de castas religiosas ou de teorias filosfico-morais,mas sim por lei positiva de evoluo, segundo os princpios deuma biologia mais ampla, abrangendo passado, presente e futu-ro tem de continuar a seguir o seu caminho j traado, queconsiste em se divinizar cada vez mais, ou seja, avanar em di-reo espiritualidade. Ento, se esta a vontade da Lei, cadadesobedincia leva fatalmente, como j vimos, a uma reaocorrespondente, resultando numa sano contra quem tentadesviar-se para fora da linha traada. , portanto, no sentido daespiritualizao que deve realizar-se o crescimento evolutivo. Ahistria do passado nos mostra qual deve ser o nosso futuro. Se,no trecho percorrido at agora, o crescimento evolutivo foi di-

    rigido neste sentido, evidente que esta justamente a qualida-de que ter de se acentuar cada vez mais no trecho a percorrerno futuro, pois a evoluo um processo nico e estamos reali-zando agora apenas uma continuao dele.

    Esta uma descoberta importante, pois nos mostra qual de-ve ser a direo a seguir agora em nosso caminho evolutivo,sendo este o sentido no qual a Lei quer que nos movamos, sobpena de sofrermos suas reaes dolorosas em caso de desobedi-ncia. O passo atual perigoso, pois a maturidade mental al-canada pelo homem o coloca perante o dever de tomar sobre sias responsabilidades que tal madureza acarreta. O homem, nes-te momento, chegou a um desenvolvimento mental e de consci-ncia que o capacita a assumir a direo do processo evolutivo

    no seu planeta, passando a funcionar no mais guiado pelo ins-tinto, como um animal, mas sim pelo conhecimento, conscientedo plano diretivo da vida, fazendo-se operrio inteligente deDeus e colaborador na execuo da Sua lei. O homem, agora,no pode mais aceitar cegamente, s por f, os ideais descidosdo Alto, concedidos por revelao, mas deve inteligentementecompreender o significado e a funo deles, para obrar ativa-mente no sentido de traduzi-los em realidade na Terra.

    Os fatos confirmam estas afirmaes. Hoje, a humanidade seencontra realmente numa curva ou virada biolgica, atravessandouma fase de transio evolutiva. Ela est passando de um tipo detrabalho inferior, que lhe imposto pela necessidade da luta pelasobrevivncia fsica num ambiente hostil, para um tipo de traba-

    lho superior, dirigido ao desenvolvimento da mente e do esprito,em ambiente civilizado. A ferocidade e a fora bruta, agora, ser-vem cada vez menos para os fins da vida, cujo interesse sempremaior na cultura, no pensamento e na inteligncia, porque eleslhe so mais teis. E a vida, sem hesitar, escolhe sempre o que mais til para a sua afirmao e para a sua continuao.

    Assim, o tipo de vida que nos espera no futuro est eviden-temente traado, e no pode ser outro. Este o passo que a Leiquer dar no momento atual de nosso desenvolvimento evoluti-vo. Estas so hoje, para ns, as diretivas do plano de Deus. Este o comando ao qual Ele exige que se obedea. Caso o homemno siga esta linha de conduta, acabar se colocando numa po-sio anti-Lei, tendo de suportar as correspondentes conse-quncias dolorosas que vimos. Assim, se o homem se aprovei-tar do progresso alcanado e das descobertas realizadas, que olibertam do trabalho fsico e de tantas duras necessidades mate-

    riais, para utilizar tudo isto somente com a finalidade de se di-vertir, dirigindo sua inteligncia para o mal, e no para o bem,no sentido destrutivo ao invs do criador, ento a Lei certamen-te reagir, enchendo o mundo de dor, porque, como vimos, ca-da violao leva ao correspondente pagamento doloroso. Nes-sas condies, a humanidade ficar fora da Lei, abandonada a simesma para destruir-se com suas prprias mos.

    A concluso por ns atingida hoje, at aqui, que a huma-nidade se encontra em uma encruzilhada: ou ela segue a linhada evoluo, segundo o plano de Deus, que no sentido da es-piritualizao, avanando em direo ao Sistema, para adquiriras suas qualidades, ou, pelo contrrio, continuando a seguir apsicologia do passado, feita de egosmo e agressividade destru-tivos, acabar por fazer um louco uso dos novos e potentssi-mos meios dos quais dispe. No primeiro caso, ela poder al-canar uma verdadeira civilizao. No segundo, ela se autodes-truir, e a supremacia da vida sobre o planeta passar para ou-tras raas animais, inferiores, que substituiro a humana. Espiri-tualizao significa conscincia, sentido de responsabilidade esenso de justia no uso dos novos poderes; significa assumir in-teligentemente, sobre a Terra, as diretrizes da vida do homem edos seus coinquilinos, no mais com a forma mental tradicionaldo involudo, mas sim com a do evoludo. Insistir na psicologiado passado agora pode significar a morte!

    Impulsionar a humanidade em direo sua inteligente es-piritualizao pode significar salv-la da destruio. Da seconclui quo grande a importncia do trabalho realizado portodos que, na Terra, trabalham para a descida dos ideais, por-quanto nestes princpios esto contidos o programa do futurodesenvolvimento da humanidade, indicando-nos de que mododeve, agora, continuar na Terra a atuao do plano de Deus, pa-ra realizar esta nova fase do processo evolutivo. Muitas vezes,no entanto, o mundo considera estes indivduos como iludidos,fora da realidade, e os condena, chamando-os de sonhadores ca-rentes de sentido prtico, enquanto eles, neste momento, repre-sentam a nica possibilidade de salvao para a humanidade nasua atual fase de transio evolutiva.

    III. O CRTICO MOMENTO HISTRICO ATUAL.O INCIO DE UMA NOVA ERA.

    Tratemos de compreender em profundidade o significado domomento histrico atual. Salta-nos primeiramente vista o seuaspecto negativo, que o mais prximo e j se encontra emao. Trata-se de um processo de destruio dos valores do pas-sado, conquistados com muito esforo nos ltimos milnios.Assistimos disperso dos mais preciosos tesouros da espiritu-alidade, que so premissa indispensvel para uma sbia direoda conduta humana. Paralelamente, nada vemos ser reconstru-do no lugar daquilo que est sendo destrudo espiritualmente.No surgem nem se afirmam novos valores deste tipo em subs-

    tituio aos antigos, de maneira que se fica num vazio. A espiri-tualidade est em liquidao, pois suas velhas formas, cada vezmenos adaptadas mente moderna, no convencem mais, nose sabendo ainda substitu-las por outras novas, racionais e ci-entficas. Para suprir a falta de provas, as religies apresentamsuas verdades de um modo fidestico, com base em mistrios,

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    Pietro Ubaldi A DESCIDA DOS IDEAIS 11

    numa forma absolutista e autoritria, afastando o homem de ho-je, que vai assim em busca de outras verdades, mais positivas,de natureza cientfica, demonstradas e utilizveis na prtica.Hoje se pretende colocar o problema da vida de uma forma di-ferente do passado, sobre bases claras e concretas, e no sobreabstraes tericas, colocadas fora da realidade da vida. No en-tanto sucede que, entre o velho que no serve mais e o novoque ainda deve ser construdo, a conduta humana fica desorien-tada, faltando-lhe diretivas superiores, razo pela qual ela segue deriva, retrocedendo involutivamente em direo animali-dade. Assim os progressos da tcnica so usados ao contrrio,fazendo-se deles um meio no para alcanar fins superiores,mas sim para engordar no bem-estar ou para aniquilar a todoscom uma guerra atmica. Ento, no meio de tanto progresso, omundo fica merc dos impulsos elementares, que se prestammuito mais a faz-lo perder-se do que a salvar-se.

    Procuremos compreender o que est acontecendo. Quandoum fenmeno chega sua maturao, ele tende irresistivelmen-te a se precipitar na concluso e, tal como um parto, deve ne-cessariamente realizar-se. Neste sentido, a vida oferece os mei-os e estimula os impulsos necessrios, preparando tudo paraque ele se cumpra com facilidade. No entanto, se o ser, em vezde seguir a Lei at ao fundo, negar-se a isto, todo o processo,no qual ele se encontra envolvido, desmorona sobre ele mesmo.Assim, tudo que estava preparado para um avano em direoao melhor transforma-se num retrocesso em direo ao pior.Este o tremendo perigo que pesa sobre a humanidade de hoje,ou seja, que ela se arrune por no querer fazer bom uso dosnovos poderes conquistados. Tais meios, para no se tornaremmortferos nas mos de um inconsciente, teriam a necessidadede serem dirigidos por uma nova sabedoria, ainda mais consci-ente e efetiva do que a dos sculos passados. No entanto, suce-de que, justamente neste momento, no temos nada alm dosrudimentos do antigo conhecimento, nem sabemos como subs-titu-lo. O perigo grave, porquanto, absorvida nos detalhes e

    sem se dar conta do que acontece nas linhas gerais, a humani-dade est jogando e arriscando o seu futuro destino. Neste pon-to do caminho da evoluo, ela se encontra numa bifurcao.Se responder ao apelo ascensional da vida, ela subir a um pla-no biolgico ou nvel evolutivo mais avanado, alcanando umestado de maior civilizao, com menos luta, dificuldade e dor.Se no responder ao chamado, ela retroceder a um plano bio-lgico ou nvel evolutivo mais atrasado, voltando ao estado sel-vagem do primitivo e correspondente dura forma de existn-cia. O momento crtico, porque est em jogo uma salvaoimediata, positiva e controlvel neste mundo, aquela que todoscompreendem e tomam a srio, porque no uma f discutvel,mas sim uma realidade biolgica. Se a humanidade no aceitar

    a tarefa, recusando-se a atender ao convite, ela poder amanhchorar sobre as suas runas, porque, em vez de dar um passoadiante, para evoluir em direo ao melhor, ter retrocedido umpasso, involuindo em direo ao pior. Quem conhece a estrutu-ra das leis da vida sabe que tudo isto pode suceder.

    O tema da descida dos ideais interessa neste momento, so-bretudo porque ele nos expe o programa a ser realizado, almde representar, evolutivamente, uma antecipao de estadosmais avanados, que esperam ser realizados por ns no futuro.Chegou a hora da escolha, o momento da curva decisiva, paradar o salto numa direo ou em outra. Procuramos aqui compre-ender o que est acontecendo, orientados pelo tratado j desen-volvido nos precedentes volumes da nossa Obra, porque, sem a

    premissa de um sistema filosfico-cientfico completo, no possvel se chegar a concluses positivas. As espetaculares rea-lizaes da cincia nos mostram que algo de excepcional se estpreparando na histria da humanidade. Alguma coisa est semovendo nas vsceras do fenmeno evolutivo. Por isso, incons-cientemente, o mundo se encontra numa ansiosa agitao, des-

    conhecida no passado. Se o salto falha, no se sabe como nemonde se ir cair. E perigoso uma tentativa s cegas. Seria ne-cessrio nos movermos orientados no seio do organismo feno-mnico universal, dentro do qual existimos e de cujas reaesno podemos prescindir, para, atravs do conhecimento das con-sequncias do que fazemos, sabermos o que deve ser feito. imprescindvel sermos sbios e previdentes. Mas s poderemoss-lo com conhecimento e conscincia. Tentando realizar emnossos volumes uma sntese universal, tratamos de dar uma con-tribuio neste sentido. Tudo isto urgente, porque o fenmenoevolutivo, uma vez que exerce presso para se realizar, corre emdireo concluso do atual perodoque o incio de um ou-tropara se resolver, seja qual for a nossa escolha, ou a favor dahumanidade, com o seu progresso, ou contra ela, para seu dano eretrocesso. O deslocamento em direo a novos equilbrios j es-t iniciado. Enquanto a vida avana, o homem, sem compreen-der o que est sucedendo, resiste com a sua velha forma mental,amarrado ao seu passado. Diante dele h uma estrada cheia deluz, ao longo da qual a vida o impulsiona. Mas ele continuaolhando para trs, na direo de um mundo cheio de trevas. Este o tempestuoso contraste entre os impulsos opostos do momen-to atual. Contudo ningum pode mudar a fundamental razo doser, que evoluir, nem pode paralisar o irrefrevel anseio deprogresso, do qual constituda a vida. Quem tem inteligncia,conscincia e meios deveria ajudar no sentido de fazer avanar omais rapidamente possvel neste caminho, atravs do qual, pormeio da superao, alcana-se a salvao.

    A humanidade deve escolher entre as duas direes a tomar.O caminho estabelecido apenas um, mas pode-se percorr-lopara frente, evoluindo, ou para trs, involuindo. Adiante encon-tram-se os mais requintados valores de ordem psquica e espiri-tual. Hoje, o homem tem nas mos poderes jamais possudos.Mas que uso far deles? Ir empreg-los para se tornar sempremais rico, egosta e corrompido, regredindo ao plano animal,ou, pelo contrrio, ir utiliz-los para ascender a um plano mais

    alto, transformando-se cada vez mais num ser de pensamento econscincia? Estes poderes podem ser utilizados nestas duas di-rees. Eles permitem um salto de grandes propores parafrente, porm, se forem mal usados, podem levar a um granderetrocesso involutivo. Ou se constri um novo edifcio, ou sefica a descoberto entre as runas do velho. Este um dessesmomentos da evoluo nos quais o ideal e sua realizao assu-mem um valor especial, diferente do costumeiro. Isto significaque o ideal no mais, como se julga normalmente, algo deutpico, no positivo, estranho realidade prtica, mas, pelocontrrio, ele se introduz nesta realidade como uma necessidadevital, trazendo um programa a ser realizado com urgncia. Tra-ta-se de um plano necessrio para a salvao do mundo, a fim

    de evitar que este se perca no retrocesso e de, principalmente,faz-lo avanar ao longo do caminho da evoluo.O que est em jogo imenso. Existe a perspectiva de uma

    era de bem-estar, com um novo tipo de civilizao, que, liber-tando o homem da escravido do trabalho, poder com isto ofe-recer-lhe novas atividades, muito mais elevadas, inteligentemen-te orientadas e realizadas por um bitipo humano mais evoludo,com outra forma mental. Isto o que est amadurecendo na pro-fundidade do fenmeno da evoluo. verdade que a vida noapresenta ao ser tais problemas, nem solicita semelhantes desen-volvimentos, quando ainda no chegou a hora. Antes de chegaro devido momento, a vida prepara longamente o fenmeno, for-necendo-lhe as condies adequadas, protegendo-o e ajudando-o

    depois, para que ele possa realizar-se. Mas, quando tudo estpronto e o momento da sua realizao amadureceu, a vida exigedo ser um esforo proporcional s suas capac