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Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321 ARTIGOS COMPLETOS .......................................................................................................... 2676 RESUMOS DE PESQUISA ....................................................................................................... 3053 RELATOS DE EXPERIÊNCIA .................................................................................................... 3090

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  • Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    ARTIGOS COMPLETOS .......................................................................................................... 2676

    RESUMOS DE PESQUISA ....................................................................................................... 3053

    RELATOS DE EXPERIÊNCIA .................................................................................................... 3090

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2676

    Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    ARTIGOS COMPLETOS A CONSTRUÇÃO DO HOMEM NOVO EM CUBA (1959-1961): UM PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO POR MEIO DA ALFABETIZAÇÃO COMO PRÁTICA DE LIBERDADE ........................................................................ 2678

    A DIMENSÃO ÉTICA NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE CUBA: UM ESTUDO COMPARATIVO ............ 2692

    A ENTREVISTA COMO DIÁLOGO: O VIDEODOCUMENTÁRIO PELA ÓTICA DAS PRODUÇÕES DE EDUARDO COUTINHO ................................................................................................................................................... 2703

    A FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE PARA USO DAS TDIC NA EDUCAÇÃO BÁSICA. ......................................... 2710

    A IMPORTÂNCIA DA ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL .................................................................................. 2721

    A UTILIZAÇÃO DO RECURSO AUDIOVISUAL COMO MECANISMO EDUCOMUNICATIVO DE APRENDIZAGEM DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL NAS ESCOLAS................................................................................................. 2731

    AS PRODUÇÕES ACADÊMICAS SOBRE O MONITORAMENTO E A AVALIAÇÃO DOS PLANOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO................................................................................................................................................... 2736

    AÇÃO DOCENTE DE BONS PROFESSORES: análise das produções científicas (2007-2018) ........................ 2747

    AÇÕES QUE DIRECIONAM A TRANSFORMAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA ATUAL NA DIREÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA-COMUNIDADE ................................................................................................................. 2758

    “ALFABETIZAR” OU “LETRAR”? UMA DISCUSSÃO SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE ALFABETIZAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL .............................................................................................................................. 2769

    ANÁLISE DAS CAUSAS DA EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO TÉCNICO ............................................................ 2782

    ANÁLISE DAS PRODUÇÕES CIENTÍFICAS SOBRE ENSINO COLABORATIVO NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS: CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA ...................................................... 2794

    AUTONOMIA E IDENTIDADE PROFISSIONAL: UM NOVO OLHAR SOB A PERSPECTIVA DOCENTE REFLEXIVA ..................................................................................................................................................................... 2804

    CIRANDA DAS DIVERSIDADES ...................................................................................................................... 2815

    CULTURAS LÚDICAS INFANTIS E O AMBIENTE DE LETRAMENTO: UMA PROPOSTA PARA A EDUCAÇÃO ... 2826

    CURRÍCULO POR COMPETÊNCIAS E ENSINO DE GEOGRAFIA: ANÁLISE DA AÇÃO DOCENTE NO CENTRO PAULA SOUZA .............................................................................................................................................. 2839

    DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO E PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA PESSOA COM ESPECTRO DO AUTISMO NO AMBIENTE ESCOLAR INCLUSIVO ..................................................................................... 2855

    DESVIOS ORTOGRÁFICOS EVIDENCIADOS EM PRODUÇÕES TEXTUAIS DE ALUNOS DO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO .......................................................................................................................................................... 2872

    ESCOLA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM ENSAIO SOBRE SOCIEDADE NORMALIZADORA ............................. 2883

    ESTILOS DE ENSINO VERSUS ESTILOS DE APRENDIZAGEM NO CONTEXTO DO ENSINO MÉDIO: SOB À LUZ DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR ...................................................................................................... 2893

    INTERSETORIALIDADE E INCLUSÃO ESCOLAR: UMA POSSIBILIDADE PRECONIZADA PELA POLÍTICA NACIONAL ..................................................................................................................................................................... 2905

    MAPEAMENTO BIBLIOGRÁFICO SOBRE O ENSINO MÉDIO EM TEMPO INTEGRAL DA REDE ESTADUAL DE ENSINO DE MATO GROSSO DO SUL: ESCOLA DA AUTORIA ........................................................................ 2920

    METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO FORMATIVA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA FÍSICA: UMA PROPOSTA HISTÓRICO-CULTURAL PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL ..................................................... 2931

    O ENSINO-APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS SOB A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA REFLEXÃO HISTÓRICO-CRÍTICA ......................................................................................... 2941

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2677

    Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    O GOOGLE SALA DE AULA E A SIMULAÇÃO "O CASO DO REBANHO DE JACÓ" E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A APRENDIZAGEM DOS CONCEITOS DE GENÉTICA ..................................................................................... 2953

    O USO DO WHATSAPP NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: EM DESTAQUE SUAS POTENCIALIDADES E O PAPEL DO PROFESSOR ......................................................... 2967

    ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO EM CANTOS: BRINCAR, CRIAR, IMAGINAR, INTERAGIR, ACOLHER, PERTENCER ..................................................................................................................................................................... 2980

    PESQUISA-AÇÃO COLABORATIVA EM UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL: CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL DOS ESTUDANTES ..................................................... 2993

    PESQUISA SOBRE OS PARQUES INFANTIS A PARTIR DA UTILIZAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS DE MIKHAIL BAKHTIN ...................................................................................................................................................... 3011

    REFLEXÃO SOBRE RELATOS PRÁTICOS DO USO DA EDUCOMUNICAÇÃO ENQUANTO FERRAMENTA PEDAGÓGICA A FAVOR DAS METODOLOGIAS ATIVAS NO CENÁRIO EDUCACIONAL ................................. 3024

    TRABALHO COLABORATIVO: ETAPAS PARA O DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA PARA UM ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIAS MÚLTIPLAS ............................................................ 3036

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2678

    Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    A CONSTRUÇÃO DO HOMEM NOVO EM CUBA (1959-1961): UM PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO POR MEIO DA ALFABETIZAÇÃO COMO PRÁTICA DE LIBERDADE Dayane De Freitas Colombo Rosa1, Roseli Gall Do Amaral Da Silva2, José Joaquim Pereira Melo1. 1Universidade Estadual de Maringá – UEM.

    2Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR. E-mail:

    [email protected]

    RESUMO A alfabetização de um povo pode promover muito mais do que aprendizagens de leitura e escrita, como ressalta Paulo Freire (1987), pode promover libertação e cidadania, um novo modelo de homem e uma nova consciência de mundo. Neste trabalho, o objetivo foi traçar algumas reflexões sobre como se iniciou a construção do modelo de homem ideal cubano: o homem novo. Em um cenário de transformação social, a educação cubana foi reformulada a partir de 1959, com vistas a produzir e transmitir novos conhecimentos de caráter político, social, econômico e cultural. O primeiro passo para essa reformulação foi a Campanha de Alfabetização realizada em 1961, na qual foi necessário fazer de cada cubano um professor. Assim, o projeto antropológico de Cuba foi se desenvolvendo e ganhando características no contexto de formação do professor alfabetizador a fim de transformar, ao mesmo tempo, o aprendiz em mestre. Discutir a práxis alfabetizadora cubana pode em muito promover a reflexão sobre as questões que envolvem um processo eficiente de combate ao analfabetismo em suas várias facetas. Palavras-chave: Educação, Cuba, Formação docente, alfabetização, Homem novo. THE CONSTRUCTION OF THE NEW MAN IN CUBA (1959-1961): A PROCESS OF TRANSFORMATION THROUGH LITERACY AS A FREEDOM PRACTICE ABSTRACT The literacy of a people can promote much more than reading and writing learning, as pointed out by Paulo Freire (1987), can promote liberation and citizenship, a new model of man and a new world consciousness. In this paper, the objective was to draw some reflections on how the construction of the Cuban ideal man model began: the new man. In a scenario of social transformation, Cuban education was reformulated from 1959, with a view to producing and transmitting new political, social, economic and cultural knowledge. The first step in this reformulation was the 1961 Literacy Campaign, in which it was necessary to make every Cuban a teacher. Thus, the anthropological project of Cuba was developing and gaining characteristics in the process of formation of the literacy teacher in order to transform the apprentice in teacher at the same time. Discussing Cuban literacy praxis can greatly promote reflection on the issues surrounding an efficient process of combating illiteracy in its various facets. Keywords: Education, Cuba, Teacher Training, Literacy, New Man. LA CONSTRUCCIÓN DEL HOMBRE NUEVO EN CUBA (1959-1961): UN PROCESO DE TRANSFORMACIÓN A TRAVÉS DE LA ALFABETIZACIÓN COMO PRÁCTICA DE LIBERTAD RESUMEN La alfabetización de un pueblo puede promover mucho más que el aprendizaje de la lectura y la escritura, como señaló Paulo Freire (1987), puede promover la liberación y la ciudadanía, un nuevo modelo de hombre y una nueva conciencia mundial. En este artículo, el objetivo era hacer algunas reflexiones sobre cómo comenzó la construcción del modelo del hombre ideal cubano: el nuevo hombre. En un escenario de transformación social, la educación cubana se reformuló a partir de 1959, con miras a producir y transmitir nuevos conocimientos políticos, sociales, económicos y culturales. El primer paso en esta reformulación fue la Campaña de Alfabetización de 1961, en la que era necesario hacer de cada cubano un maestro. Así, el

    mailto:[email protected]

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2679

    Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    proyecto antropológico de Cuba fue desarrollando y adquiriendo características en el proceso de formación del maestro de alfabetización para transformar al aprendiz en maestro al mismo tiempo. Discutir la praxis de la alfabetización cubana puede promover en gran medida la reflexión sobre los problemas que rodean un proceso eficiente de lucha contra el analfabetismo en sus diversas facetas. Palabras clave: Educación, Cuba, Formación del profesorado, Alfabetización, Hombre Nuevo. INTRODUÇÃO

    A partir dos seus primeiros anos no poder, segundo Gillette (1977), os líderes da Revolução Cubana procuraram transformar a educação em uma força motriz de desenvolvimento econômico e justiça social. Objetivos estes, que não se distanciaram dos responsáveis pela implementação de políticas educacionais de países em subdesenvolvimento que têm por moldes o sistema capitalista. No entanto, para o autor, enquanto nesses países os dirigentes tendem a dar prioridade ora para a educação enquanto fator norteador de desenvolvimento econômico, ora como provedora de justiça social. Em Cuba, além de atingir esses objetivos de forma equilibrada, buscou-se alcançar um terceiro objetivo: a melhor formação do indivíduo enquanto ser humano. Isto porque: “o cidadão cubano não deveria apenas viver melhor; devia ser melhor, e não através da adoção do estilo de vida da classe média americana” (GILLETTE, 1977, p.18).

    Após 1959, os principais líderes do movimento revolucionário se empenharam em construir em Cuba um homem integrado1 e consciente de sua função enquanto sujeito histórico social. Esse objetivo de criar um homem desalienado, segundo o mesmo Gillette (1977), foi a princípio mais um slogan filosófico do que um conceito bem definido. Todavia os esforços para o desenvolvimento de um homem consciente podem ser observados desde os preparativos da Campanha de Alfabetização, em especial a partir da formação que os professores voluntários tiveram em Sierra Maestra, quando a necessidade de erradicar o analfabetismo passou a ser propagada como o primeiro passo para possibilitar à população uma condição de plena liberdade política, econômica e humana. Diante destas constatações, o objetivo central deste texto foi refletir sobre o processo inicial de desenvolvimento do homem novo cubano, destacando quem era e qual a sua formação e em especial, o papel que a campanha de alfabetização exerceu nessa construção. METODOLOGIA

    O artigo foi estruturado por meio da pesquisa bibliográfica. Sendo assim, requisitou um referencial de leitura relativo ao tema, o qual viabilizou suporte histórico e metodológico para a solução das questões levantadas para o desenvolvimento do texto.

    Como fonte foi utilizado o Manual Alfabeticemos elaborado em 1961 pela Comissão Nacional de Alfabetização de Cuba, o qual visava a atender as demandas revolucionárias de um educador que contribuísse para construção de uma nova ordem social, o socialismo. Tal manual do alfabetizador foi dividido em três seções. A primeira trata sobre a orientação aos professores voluntários, no que se refere aos procedimentos pertinentes à relação entre alfabetizador e alfabetizando, assim como enfatiza a necessidade de aplicar corretamente a metodologia proposta. A segunda seção apresenta vinte e quatro temas de orientações aos professores a respeito de como utilizar a Cartilha ¡Venceremos!. E a terceira parte consiste em um glossário, no qual são definidos conceitos tidos como significativos para o movimento revolucionário, tais como: imperialismo, Revolução, liberdade e libertação, entre outros.

    Utilizou-se também de discursos de Fidel Castro (1926-2016) e de Che Guevara (1928-1967) para entender a educação do homem livre, culto e miliciano apresentado em 1961 no Manual Alfabeticemos (1961a) e como “homem novo” em 1965 nesses discursos. Foi também preocupação entender historicamente a sociedade cubana e o processo de transformação social por ela promovido, no qual a educação teve papel significativo.

    1Michel Huteau e Jacques Lautrey afirmam em Cuba: revolução no ensino do ano de 1976, que o homem novo seria irmão gêmeo do que Marx denominava de homem integral ou omnilateral, pois “é a sua formação integral que lhe permite ser consciente” (HUTEAU; LAUTREY, 1976, p.197). Para Marx (2004, p.117), o homem omnilateral é “a ratificação do homem como ser genérico lúcido”, dito de outra forma, corrobora-se com José Joaquim Pereira Melo e Roseli Gall do Amaral da Silva (2007), em A questão teoria e prática e suas implicações para a formação docente quando explicitam que o homem omnilateral é aquele em que tem condições materiais e intelectuais “de conhecer, compreender e assumir suas próprias conclusões a respeito da produção da vida como atores e autores do seu momento histórico” (PEREIRA MELO; AMARAL, 2007, p.10).

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2680

    Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    RESULTADOS Em meio ao movimento de alteração da sociedade cubana em 1959, ocorreram discussões de que a

    Revolução só seria real se houvesse uma conscientização popular. Foi então, que o problema do analfabetismo passou a ser discutido com maior ênfase e a educação passou a exercer um papel significativo na formação da consciência da população.

    No entanto, esse desenvolvimento da consciência, deveria acontecer o mais rápido possível. Pois, a disputa política que existia no interior da guerrilha e entre os grupos burgueses contrários a ditadura de Fulgencio Batista (1901-1973)2, poderiam realizar um aburguesamento da Revolução.

    Nesta perspectiva, ocorreu a elaboração de uma proposta pedagógica - o Manual Alfabeticemos (1961a) - com vistas a formação do professor voluntário que participaria da Campanha de Alfabetização. Como elucidado a seguir:

    Figura 01. Foto do Manual Alfabeticemos (1961a)

    Fonte: CUBA, 1961a, p.01.

    Ao analisar o Manual Alfabeticemos (1961a) foi possível compreender que expressava os ideais da

    pedagogia revolucionária desenvolvida para a formação de um homem livre, culto e miliciano de forma simples e didática. Uma vez que a grande maioria dos que atenderam ao apelo de Fidel Castro para

    2Fulgencio Batista Zaldívar foi um militar cubano, segundo Sweezy e Huberman (1960, p.37), Batista “[...] tomou o controle do exército em setembro de 1933 e assumiu o governo no ano seguinte” Foi um ditador sanguinário, cujo regime representou repressões, assassinatos, gangsterismo, suborno e corrupção. É importante ressaltar que de 1933 a 1940, Batista manteve o controle do país como chefe das forças armadas até ser eleito presidente em 1940 até 1944. Retornou ao governo depois de um golpe de Estado em 1952, quando suspendeu a Constituição de 1940 e revogou o direito a greve. Restabeleceu no país a pena de morte e decretou para si mesmo um salário maior do que o do presidente dos Estados Unidos. O regime de Batista foi derrubado em 1959 pelo exército rebelde comandado por Fidel Castro, Che Guevara, Raul Castro e Camilo Cienfuegos.

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2681

    Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    participar da Campanha como professor alfabetizador eram jovens que se encontravam entre 14 e 16 anos de idade e alguns ainda estavam em período de alfabetização.

    Na proposta pedagógica esses princípios de um homem livre, culto e miliciano estariam relacionados a necessidade do professor alfabetizador aprender a trabalhar no coletivo. Os professores da Campanha de alfabetização, em um primeiro momento, foram instruídos a trabalharem com os camponeses nos campos e só a noite exercer o ofício de ensinar a ler.

    Nesse período em que passariam juntos, se orientava no Manual Alfabeticemos (1961a) que o professor, deveria estabelecer uma relação de amizade e cooperação com o camponês, para que a harmonização entre o estudo com o trabalho fosse colocada em prática. Pois, esse princípio deveria ser a base para a construção da nova sociedade, e, só a partir dele seriam internalizados os novos conhecimentos necessários para a abolição da velha divisão social do trabalho.

    Era orientado no Manual ao professor: a) Mostre-se corajoso diante das dificuldades, pense que você trabalha para a Pátria lutando contra a ignorância; b) Evite dar ordens. Diga: vamos trabalhar. Vamos estudar. Use expressões estimulantes como: Vai muito bem! Adiante! Perfeito! etc.; c) Evite o tom autoritário, lembre-se que o trabalho de alfabetização é feito em comum entre alfabetizados e analfabetos; d) Se notar fadiga ou cansaço, mude-lhes de trabalho (CUBA, 1961, p.11, tradução nossa)

    3.

    Manuel Pereira (1989), relembrou em seu livro Rebeldes sem armas: alfabetizadores cubanos em

    ação, um dos momentos em que os professores estavam recebendo essas orientações do Manual Alfabeticemos (1961a):

    [...] Vocês receberam um manual e uma cartilha. No manual, vão encontrar as instruções para utilizar a cartilha. [...] A cartilha - continuou o professor - é o instrumento fundamental para ministrar às aulas. Nas últimas páginas há um alfabeto em letra de fôrma e outro em cursiva. [...] É preciso organização. Devem madrugar e fazer o que fizer o camponês que ninguém fique colado na rede! À tarde vão dar aulas para as crianças. À noite, o melhor horário para os camponeses, é a vez deles (PEREIRA, 1989, p.23-24).

    Nesse sentido, ao tomar consciência de seu dever social, o professor, em meio a um processo duplo

    de educação e autoeducação, assumiria uma conduta moral e disciplinada, exemplificando um engajamento motivador para que toda a população também internalizasse os princípios do homem livre, culto e miliciano. Esse comportamento padronizado está contido no discurso de Che Guevara (1965) quando o mesmo explícitou sobre a educação revolucionária atuar como um constante estímulo moral: “[...] como já disse, num momento de perigo extremo é fácil potencializar os estímulos morais; para manter sua vigência, é necessário que se desenvolva uma consciência na qual os valores adquiram categorias novas” (GUEVARA, 1965, p.9).

    Neste sentido, as discussões realizadas foram essenciais para a compreensão de que, a transformação social promovida em Cuba, a partir da Revolução, desenvolveu novas necessidades educativas. Era necessário um novo ideal de cultura, conhecimento, política, trabalho e educação que configurasse o homem novo e, o professor alfabetizador foi primordial nesse contexto porque contribuiu de forma significativa para construir um novo processo formativo, uma pedagogia forjada “[...] com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade” (FREIRE, 1987, p.17). Uma pedagogia que possivelmente fez “[...] da opressão e de suas causas objeto de reflexão dos oprimidos” (FREIRE, 1987, p.17). Uma vez que o Manual Alfabeticemos (1961a) orientava-lhe a uma práxis pedagógica consciente, que o convergia no próprio homem novo que seria elucidado de forma mais sistematizada somente em 1965. Essa nova forma de educar proporcionava ao professor refletir sobre as relações sociais, políticas e econômicas vivenciadas pelo povo cubano até então, o que pôde ter contribuído para seu comprometimento com a alfabetização.

    Che Guevara (1965) ao tratar da formação do “homem novo” argumentava que era necessário internalizar que a cultura era uma arma da Revolução e, a leitura e escrita permitiam o acesso a esse

    3a) Muéstrese animoso ante las dificultades, piense que trabaja para La Patria combatiendo La ignorância; b) Evite dar órdenes. Diga: Vamos a trabajar. Vamos a estudiar. Use expresiones estimulantes como: ¡ Va muy bien! ¡ Adelante! ¡ Perfecto! etc.; c) Evite el tono autoritario, recuerde que la labor de alfabetización se realiza em común entre alfabetizador y analfabeto; d) Si observa fatiga o cansancio cámbieles de trabajo (CUBA, 1961, p.11).

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2682

    Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    universo cultural. Portanto, o conhecimento precisava adquirir um caráter técnico e científico. Ou seja, era necessário unificar o estudo ao trabalho. Deveria-se, segundo Che Guevara (1965), adotar o princípio do trabalho voluntário, no qual apresentava um caráter pedagógico importante, pois aproximaria o trabalhador do escritório ao operário. Ambos aprenderiam juntos e socializariam as normas de conduta e os valores que permitiriam a aprendizagem da nova cultura do trabalho enquanto promotor de riqueza social e não individual. Assim, o homem cubano poderia se apropriar dos conhecimentos produzidos historicamente e compartilhá-los, ao mesmo tempo em que no voluntariado melhoria as condições estruturais da vida coletiva, como aconteceu na Campanha de Alfabetização, quando os professores brigadistas além de ensinar a ler escrever trabalhavam no campo com o camponês e, ainda prestavam serviços à saúde, ajudando a construir banheiros e poços, identificando problemas oftalmológicos e auditivos. Em um dinamismo solidário que unia ciência e técnica, em uma transformação social e cultural.

    Somente a internalização do mundo da cultura por meio da educação direta (oferecida pelo Estado), indireta (força do exemplo) bem como da força de vontade e disciplina de cada indivíduo para buscar dentro de si novas práticas e pensamentos adequados ao novo modelo societário possibilitaria, para Che Guevara (1965), um novo entendimento sobre a função social do trabalho humano e portanto um “homem novo”. O trabalho deveria ser adotado como uma estratégia coletiva de superação nacional e consequentemente individual. Esses princípios podem ser identificados já em 1961 com a Campanha de Alfabetização que ficou conhecida como a batalha da cultura. Uma vez que a educação (alfabetização) passou a ser propagada como condição de libertação nacional tanto na esfera política e econômica. E, quesito de plena humanização do povo cubano.

    Assim, o “homem novo” seria, no caso de Cuba, para Che Guevara (1965) e Fidel Castro (1967), um homem consciente de seu papel de autor e ator da sociedade. Deveria por meio da autoeducação se esforçar ao máximo para se livrar de um passado individualista, assumir uma condição solidária, e uma identidade latinoamericana. Só assim, poderia se despojar dos bens materiais e estar disposto a sacrificar-se pela Revolução a qualquer custo colocando em prática o princípio vocacionado por Fidel Castro de Pátria ou Morte.

    Para Fidel Castro (1967), Che Guevara apresentava essas qualidades e por isso deveria ser tomado como exemplo concreto de “homem novo” a ser seguido. Portanto, para se construir o socialismo em Cuba, na perspectiva de Fidel Castro (1967), era necessário seguir o modelo de Che Guevara, ser um homem que seguisse um modelo de vida quase estoico e espartano. Ou seja, um homem de ideias, mas, sobretudo, de ação.

    No entanto, essas qualidades foram construídas nos jovens voluntários da Campanha de Alfabetização antes de Che Guevara ser dado como modelo de homem a ser seguido por Fidel Castro em 1967. Já que esses jovens foram orientados pelas lições do Manual Alfabeticemos (1961a) que enfrentariam muitas dificuldades nas montanhas pois, estavam acostumados com o conforto da cidade mas “[...] assim como os guerrilheiros que tinham vivido durante anos naquela Sierra, também eles, brigadistas, teriam que dar a sua contribuição” (PERONI, 2006, p.36). E mesmo chorando deitados em suas redes de dormir com saudades de casa ou por medo, não desistiram.

    Desse modo, é possível concluir que a necessidade de superação do analfabetismo e a formação inicial do professor alfabetizador em Cuba tornou-se o terreno fértil para desenvolver a condição de que todos deveriam assumir o dever social de ensinar e aprender, tornando-se ao mesmo tempo mestre e aprendiz, gestando a consciência coletiva, que iria inserir o indivíduo na coletividade. Dessa maneira, foi atrelado aos princípios do ideal de homem a ser formado que se constituía no homem novo uma formação simples, centrada na disciplina e autoeducação que objetivava romper com os princípios morais e burguesas da velha sociedade. DISCUSSÃO

    A partir de uma discussão realizada no período do mestrado e que foi sintetizada na dissertação apresentada, pôde-se concluir que a história de Cuba, no desenvolvimento de uma situação revolucionária que brotou da ordem colonial e floresceu nas condições materiais do neocolonialismo, enfatizou a alfabetização como condição para a formação do novo modelo de homem: livre e libertador.

    Nesse processo, uma crise política, social e econômica, segundo Florestan Fernandes (1984), cresceu e eclodiu no movimento de luta entre as classes e dentro delas, portanto, a Revolução foi produto de forças internas e externas, que não desapareceram ao longo da história. Ao contrário, se agravaram

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2683

    Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    mediante ao cenário de miséria da população e das condições precárias em saúde e educação desenvolvidas a partir da condição de neocolônia americana, de governos corruptos e intensificados com a ditadura de Gerardo Machado (1871-1939)4 e Fulgencio Batista.

    Ao organizar o assalto do quartel Moncada, Fidel Castro iniciou um movimento de luta para a construção de uma sociedade livre política e economicamente. O que culminou na Revolução que a princípio apresentou caráter liberal democrático e foi aos poucos tomando para si o caminho social revolucionário do socialismo. Foi então, que se iniciou uma transformação social na qual a educação teve papel significativo.

    A Campanha de Alfabetização foi o primeiro passo para tal transformação ao mesmo tempo em que se constituiu também no ponto de partida para uma formação docente revolucionária que se converteria no próprio homem novo. Foi então, que o Manual Alfabeticemos (1961a) se tornou o veículo pelo qual foi operacionalizado o processo formativo do professor cubano, o manual fez parte de um conjunto de procedimentos pedagógicos e educacionais. Assim, a formação docente revolucionária em Cuba caminhou para uma práxis pedagógica que garantiu o êxito da Campanha de Alfabetização e Cuba tornou-se o primeiro país da América Latina livre do analfabetismo.

    Essa práxis pedagógica só foi de fato efetiva devido a organização didática dos líderes da Revolução que, por meio do Manual Alfabeticemos (1961a) puderam compartilhar informações e orientações para a formação de uma consciência coletiva. E, também porque houve um processo de desvelamento da conjuntura micro e macro nas relações sociais para as massas populares, no qual fez com que os jovens maestros, caminhassem com a população conquistando sua confiança, treinando e preparando o povo para serem autores e atores desse ato de desvelar a realidade concreta, o que contribuiu à adesão por grande parte da população a Campanha de Alfabetização (FREIRE, 1987).

    Sobre a adesão das massas populares, Paulo Freire (1987) afirmou que coincide com a “[...] confiança que as massas populares começam a ter em si mesmas e na liderança revolucionária, quando percebem a sua dedicação, a sua autenticidade na defesa da libertação dos homens” (FREIRE, 1987, p.97). Segundo Paulo Freire (1987), a liderança de Fidel Castro em determinado momento se tornou contraditória. No entanto, o autor reconhece que no período da Campanha de Alfabetização houve uma grande adesão:

    A liderança de Fidel Castro e de seus companheiros, na época chamados de “aventureiros irresponsáveis” por muita gente, liderança eminentemente dialógica, se identificou com as massas submetidas a uma brutal violência, a da ditadura de Batista. Exigiu o testemunho corajoso, a valentia de amar o povo e por ele sacrificar-se. Exigiu o testemunho da esperança nunca desfeita de recomeçar após cada desastre, animados pela vitória que, forjada por eles com o povo, não seria apenas deles, mas deles e do povo, ou deles enquanto povo. Fidel polarizou a pouco e pouco a adesão das massas que, além da objetiva situação de opressão em que estavam, já haviam, de certa maneira, começado, em função da experiência histórica, a romper sua ‘aderência’ com o opressor (FREIRE, 1987, p.94).

    Assim, é possível considerar que a adesão das massas populares a Campanha de alfabetização se

    deu, naquele momento, por conta da comunhão da liderança com o povo “[...] deixou de ser teoria para converter-se em parte definitiva de seu ser” (FREIRE, 1987, p.98). Neste sentido, é possível também considerar que o Manual Alfabeticemos (1961a) foi um material fundamental, um referencial que oferecia informações, um modelo orientador à tomada de consciência do professor voluntário. Uma vez, que o manual era um guia orientador da metodologia em que se devia ministrar os conteúdos, serviu como orientador de uma formação para as disciplinas de didática e matemática, bem como para o desenvolvimento de noções na área de psicologia e treinamento militar. Ao mesmo tempo em que apresentava um Currículo Oculto que visava a tomada de consciência do professor do seu papel social

    4Gerardo Machado y Morales foi o sexto mandato presidencial por mais seis anos sem convocar novas eleições. Foi um caudilho liberal típico. Segundo Gott (2006, p.152), “[...] era de origem mais humilde do que os presidentes anteriores. Outrora açougueiro em Santa Clara, a cidade em que nasceu em 1871, vinha de uma família de ladrões de gado, talhando de dia o que tinha arranjado durante a noite. Recruta natural das forças rebeldes na guerra de independência, subiu na vida até chegar a oficial comandante, voltando-se presidente de Cuba, eleito em 1924 estendeu em 1928 o seu governo para a política dos liberais [...]”. Tentou conciliar os interesses da burguesia nacional com os interesses do imperialismo ao mesmo tempo em que iniciou uma forte repressão as forças populares.

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    referente aos princípios de prescindir, superar-se diante as dificuldades, a coletividade e sobretudo amar a Revolução.

    As orientações contidas no manual auxiliavam o professor a explorar o conteúdo da Cartilha ¡Venceremos! (1961b) que está ilustrada a seguir:

    Figura 02. Foto da Capa da Cartilha ¡Venceremos! (1961b)

    Fonte: CUBA, 1961b, p.01.

    Assim, as aulas deveriam partir de uma conversa informal sobre as temáticas revolucionárias, na

    qual denunciava problemas sociais desenvolvidos em Cuba devido a subordinação aos interesses do imperialismo estadunidense e elucidava como o governo revolucionário atuava para superar essas dificuldades ao mesmo tempo em que demonstrava qual deveria ser a contribuição do povo. O que contribuía assim, para a politização do professor e do aluno. Ao professor, dava-se a orientação de que para cada lição da Cartilha ¡Venceremos! (1961b) deveria correlacionar algumas temáticas do Manual Alfabeticemos (1961a) a fim de dar condições ao professor de explorar com maior profundidade a temática proposta na lição da cartilha. Para facilitar esta correlação, o sumário do Manual Alfabeticemos (1961a) foi elaborado em duas colunas, a primeira continha o nome das lições da cartilha e a segunda os temas que deveriam orientar a ação pedagógica dos alfabetizadores, conforme a imagem a seguir:

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2685

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    Figura 03. Foto do Sumário do Manual Alfabeticemos (1961a)

    Fonte: CUBA, 1961a, p.08.

    Essas orientações ao professor sobre como utilizar corretamente a cartilha aconteciam por meio da

    disciplina adquirida no treinamento militar, dos estímulos morais e dos novos conhecimentos de caráter político, social, econômico e cultural transmitidos ao professor. Eram desenvolvidas, desse modo, várias atividades para que o mesmo aprendesse na prática como deveria ser o relacionamento professor/aluno e adaptar-se as condições de vida no campo. Por isso, deveriam cumprir as regras do acampamento, levantar de madrugada, cantar o hino de alfabetização seis vezes ao dia, usar devidamente o uniforme e estabelecer um bom relacionamento com os demais colegas. Essas estratégias permitiriam ao professor voluntário desenvolver uma disciplina interna que exigia esforço em libertar-se de uma consciência egoísta princípios essenciais para o “homem novo” elucidado por Che Guevara em 1965.

    Esse esforço em libertar-se dessa consciência egoísta pode, mesmo que parcialmente, ser considerado como o doloroso parto da libertação descrito por Paulo Freire (1987). Uma vez que o treinamento recebido em Sierra Maestra em conjunto com os ensinamentos contidos no Manual Alfabeticemos (1961a), trazia ao professor voluntário acostumado com o conforto da cidade um possível sofrimento da dualidade que se instalava, a princípio, na interioridade de seu ser. Essa dualidade se encontrava na luta que travavam dentro de si para escolherem entre ser espectadores ou atores, entre querer ser e temer ser, entre se desalienar ou se manter alienado para poder ou não transformar o mundo (FREIRE, 1987). E, o homem que nasceu desce parto, só foi exequível por meio da tentativa na e pela, “[...] superação da contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos” (FREIRE, 1987, p.19).

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    A alfabetização em Cuba, nesse sentido, adquiriu um caráter contrário ao da grande parte dos países da América Latina, porque não foi compreendida como um fenômeno neutro sem qualquer caráter político. Aprender a ler e escrever, naquele período, não significou apenas a internalização do sistema de escrita alfabética, como acontece muitas vezes, segundo Magda Soares (2017), na maioria das escolas brasileiras. A alfabetização em Cuba, naquele período, foi utilizada como um desenvolvimento “[...] de construção do saber e meio de conquista de poder político” (SOARES, 2017, p.25).

    O slogan ser cultos para ser livres, contido na contra capa dos materiais didáticos utilizados na Campanha de Alfabetização, inclusive no Manual Alfabeticemos (1961a), geralmente estava acompanhado da imagem de um homem e uma criança saindo de um livro escuro de braços abertos possibilitando ao professor se ver como aquele que traria luz ao obscurantismo existente por falta da leitura escrita. E, como esse processo era importante à libertação do homem e, sinônimo de cultura. Somente a internalização do mundo da cultura, por meio da alfabetização, segundo Fidel Castro (1960), proporcionaria a vitória da Revolução e a construção de uma Cuba soberana e livre. O que possibilita reiterar a ideia de Magda Soares (2017) de que a alfabetização é um instrumento de obtenção de conhecimentos futuros, mas, sobretudo um meio social para obtenção de poder, que pode ser utilizado tanto para reproduzir a estrutura de classes ou para a tentativa de superá-las.

    Fidel Castro em um discurso realizado em 28 de janeiro de 1961 no intuito de convocar mestres voluntários para a Campanha, argumentou que os professores alfabetizadores deveriam atuar como “[...] missionários e missionárias da cultura, como porta-estandarte do ensino, como tochas acesas que irão para lá (regiões montanhosas) para trazer luz, para realizar as mais belas tarefas” (CASTRO, 1961, on-line). Nesse sentido, além de instrumento importante para a realização das aulas a noite o lampião tornou-se um dos símbolos do professor alfabetizador em Cuba. Muitas vezes retratado como um soldado que deveria caminhar a frente dos camponeses para iluminar o caminho que deveria ser trilhado para aquisição da cultura letrada, como demonstra a capa do Manual ¡Cumpliremos!5 apresentada abaixo:

    Figura 04. Capa do Manual ¡Cumpliremos! (1961b)

    Fonte: CASTRO, 1961b.

    O escudo segurado pelo professor na imagem, além do lampião, era a logo da Campanha que

    sugeria a alfabetização como um fator importante para a proteção do povo. O uniforme utilizado pelo

    5O manual ¡Cumpliremos! (1961b) foi elaborado pelo próprio Fidel Castro para uso dos alfabetizadores com o objetivo de esclarecer, com mais detalhes, a situação vivida pelo país e as modificações que estavam ocorrendo em nível econômico. Ou seja, esse material complementar ao Manual Alfabeticemos (1961a) procurou aprofundar a formação didática que os jovens maestros haviam recebido em Sierra Maestra. O livro ¡Cumpliremos! (1961b) apresentava temas sobre a Revolução divididos em sete capítulos.

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2687

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    professor, também poderia ser um indicativo desse pensamento. Já que utilizavam uma farda em tom de verde com a logo da Campanha de Alfabetização em uma das mangas da camisa, botas, cintos e boinas como um soldado, do exército dos alfabetizadores. O implicava uma atmosfera de disciplina e comprometimento em servir a pátria ao contribuir para elevar o nível cultural dos cubanos, em especial os camponeses.

    Era necessário convencer o alfabetizador porque ele lutava, porque seu trabalho era tão importante e útil e o motivo pelo qual deveria se sentir orgulhoso de ser um soldado da cultura e um mestre dos humildes (CASTRO, 1961b). O alfabetizador deveria se sentir orgulhoso, segundo Fidel Castro (1961b), por contribuir ao ensinar ler e escrever, que a maior parte dos cubanos pudessem ter acesso a cultura letrada. O que contribuiria para elevar a consciência política do povo que teria a oportunidade de refletir e expressar a sua realidade por meio da palavra escrita, ou seja, nas palavras do próprio Fidel Castro (1961b) possibilitar a libertação plena do homem cubano, a autonomia e a vitória permanente da Revolução. A formação para a autonomia, segundo Paulo Freire (1987) precisa desenvolver uma libertação que contribua para reflexão sobre o ato desta libertação. Para o autor: “[...] pretender a libertação deles sem a sua reflexão no ato desta libertação é transformá -los em objeto que se devesse salvar de um incêndio. É fazê-los cair no engodo populista e transformá -los em massa de manobra” (FREIRE, 1987, p.29).

    As discussões realizadas até o momento, permitem considerar que em Cuba a formação dos professores alfabetizadores (mesmo sendo jovens em processo de alfabetização) foi intencionalmente planejada para transformá-lo em um homem livre, culto e miliciano que ficou conhecido por homem novo em 1965. Esta formação exigiu dos jovens voluntários um esforço intelectual direto e indireto passando pelos princípios da autoeducação para que pudessem compreender as facetas metodológicas do ato de alfabetizar bem como seus condicionamento sociais, culturais e políticos. O que proporcionou o uso adequado dos materiais didáticos e sobretudo “[...] a assumir uma postura política diante às implicações ideológicas do significado e do papel atribuído à alfabetização” (SOARES, 2017, p.28).

    Segundo Soares (2017) a postura política sobre o papel da alfabetização, afeta diretamente o aprendizado da leitura e escrita. Para a autora:

    A questão da postura política em relação ao significado da alfabetização afeta, evidentemente, o processo de aprender a ler e escrever. A diferença entre uma postura pretensamente ‘neutra’ e uma explícita postura política fica clara quando se compara o trabalho em alfabetização desenvolvido, geralmente, nas escolas, com um trabalho na linha de Paulo Freire, para quem a alfabetização é um processo de conscientização e uma forma de ação política. Conclui-se que, à natureza complexa do processo de alfabetização, com suas facetas psicológicas, psicolinguística, sociolinguística e linguística, é preciso acrescentar os fatores sociais, econômicos, culturais e políticos que o condicionam. Uma teoria coerente da alfabetização só será possível se a articulação e integração das várias facetas do processo forem contextualizadas social e culturalmente e iluminadas por uma postura política que resgate seu verdadeiro significado (SOARES, 2017, p.26).

    Nesta perspectiva, a alfabetização em Cuba foi gestada como conscientização política e seu

    trabalho mediante os resultados obtidos demonstram resultados concretos na formação, a princípio, de um homem autônomo. Pode-se observar uma certa semelhança nas discussões realizadas por Paulo Freire (1987), em que afirma que o sentido mais exato da alfabetização é aprender a escrever a vida, como autor e como testemunha de sua história. Ao final do ano de 1961, A concretude do processo formador em Cuba teve como resultado a redução de sua taxa de analfabetismo de 26,3% aproximadamente para 3,9%, enquanto em outros países da América Latina, salvo as devidas particularidades, como é o caso do Brasil a taxa de analfabetismo atingia em média, segundo Pereira 1989, 50,5% da população.

    Para Pereira (1989): No início do ano de 1961, foram localizados 979.207 analfabetos, dos quais 707.000 já estavam alfabetizados em dezembro. Ou seja, durante a Campanha Nacional de Alfabetização ficaram sem alfabetizar-se apenas 272.207 cubanos: 3,9% da população, pois Cuba tinha então 6.933.253 habitantes. Nesse residual estão excluídos os que se recusaram, os que se alfabetizaram em fevereiro de 1962 e os não-alfabetizáveis por razões de saúde, de idade, e por serem analfabetos em seu idioma, como foi o caso dos 25.000 haitianos residentes nas províncias de Oriente e Camagüey. Não obstante, 3,9% é um dos índices de analfabetismo mais baixos do mundo, somente comparável com os da União Soviética, Tchecoslováquia, Suíça, França, Inglaterra e Japão (PEREIRA, 1989, p.18).

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    Dos dados acima é importante destacar que o empenho pela alfabetização continuou após o término da Campanha, pois Cuba conseguiu reduzir seu índice de analfabetismo para 0,2% na população com mais de 10 anos. O que pode demonstrar que os objetivos da educação revolucionária para a alfabetização como condição de liberdade se aperfeiçoaram. O que implicou em transformações significativas em todo o campo pedagógico cubano.

    Em meio aos avanços quantitativos, a educação cubana também apresentou grande progresso nos aspectos qualitativos. Para Margarita Quintero López (2011) em A Educação em Cuba: seus fundamentos e desafios, os avanços qualitativos da educação cubana foram possíveis por meio da aplicação dos princípios em que se fundamenta. Para a autora, a educação em Cuba está hoje alicerçada nos princípios de: Abrangência da educação, Combinação do estudo com o trabalho, Coeducação, Gratuidade e a participação ativa. Sendo muitos desses, senão todos gestados no período de Campanha de Alfabetização, em especial no período de preparação dos jovens maestros.

    Foi nesse período, a partir dessas constatações, que Cuba objetivou a formação de um homem com uma essência coletiva, que aprendesse a ser, assumindo uma postura contrária dos objetivos de uma educação capitalista que almeja formar um indivíduo que aprenda a ter. Até hoje, segundo Gillette (1977), a expansão quantitativa e qualitativa da educação cubana é dada pelos cubanos ao grande projeto de criação de melhores seres humanos iniciado em 1961.

    No I Congresso Nacional de Alfabetização em Cuba, realizado para reavaliar a Campanha de Alfabetização, Fidel Castro explicitou que o objetivo da formação docente por meio do Manual Alfabeticemos (1961a) estava também em convencer o professor que seria o maior instrumento de propagação dos ideias revolucionários. Afirmou que Revolução e educação deveriam ser sinônimos (CUBA, 1961c). Neste congresso, Fidel Castro explicou aos participantes: “[...] em poucos outros aspectos da Revolução tem se avançado tanto como no campo da educação. É que não se concebe uma Revolução sem uma grande Revolução também no campo da educação. Quer dizer, que Revolução e educação são duas coisas quase sinônimas” (CUBA, 1961c, p.113).

    Ao explicar que Revolução e educação eram sinônimos, Fidel Castro, ainda enfatizou que somente uma Revolução ao transformar seu quadro político, econômico e social poderia levar o homem a ser livre da ignorância que o analfabetismo proporcionava. Por isso o mais importante da escola (naquele período era importante destacar que, segundo os líderes revolucionários, toda a sociedade deveria se converter em uma escola) era o maestro (CUBA, 1961c).

    Sobre esta perspectiva, um anos depois em 1962, ao tratar sobre a educação, Fidel Castro (1976) argumentou que a revolução deu grande atenção à formação do educador e que o mais importante para a revolução era educar. Educar o professor para que o mesmo pudesse educar um verdadeiro cidadão à “ser um irmão de todos os outros cidadãos; educá-lo no espírito do trabalho, educá-lo no espírito do cumprimento do dever, educá-lo nas ideias justas [...] para que não fique nem sombra da sociedade em que vivemos até aqui, egoísta [...] (CASTRO, 1976, p.46).

    O caráter ideológico da educação em Cuba, dessa forma, aconteceu de forma explícita, no qual Estado e cidadãos precisavam estar conscientes de seus objetivos e assumirem para sí em conjunto a responsabilidade de seu êxito ou fracasso. Nesta perspectiva, os objetivos que foram trilhados para a educação cubana permitiram o rompimento dos princípios éticos e morais burgueses de trabalho assalariado, propriedade privada, educação, cultura e a desvalorização da mulher. E foram substituídos pelos princípios do trabalho voluntário, cooperativas, a união do estudo com o trabalho, o acesso a cultura humana por meio do ensino da leitura e da escrita bem como, o respeito e valorização do trabalhador em geral, inclusive a mulher. O que contribuiu para que Cuba encontrasse o caminho da coletividade e sistematizasse o seu projeto antropológico: o homem novo. Colocando em prática o princípio desenvolvido por Che Guevara (2004) de que:

    O homem através da educação se supera; e quando essa educação se realiza mediante um espírito coletivo, quando o sentido revolucionário de todos ajuda o desenvolvimento da consciência de todos, o salto pode ser gigantesco. [...] e ninguém nos exigiu que temos que saber isso ou aquilo em tal ou qual tempo; o que exigimos, nós exigimos a todos, é saber um pouco mais a cada dia. Esse é o espírito que deve prevalecer (GUEVARA, 2004, p.139).

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2689

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    Sendo assim, Cuba instrumentalizou a alfabetização como força transformadora, e, apesar das contradições econômicas, políticas e sociais que existem no país hoje, o sistema educacional se desenvolveu e continua a desenvolver-se a ponto de se tornar referência mundial, estimulando uma participação ativa da população em todos os aspectos relativos à educação, tanto no individual como também na coletividade.

    Nesta perspectiva, Cuba cumpriu o princípio de educação para todos demonstrando que é possível desenvolver uma educação politécnica, quando de fato a educação torna-se preocupação central do Estado e do povo. E ao longo de várias décadas tem demonstrado ainda que, apesar de enfrentar condições econômicas adversas, a chave para uma formação do homem enquanto sujeito histórico e social está no princípio do ato educativo como dever do Estado, na tentativa de unificar o estudo com o trabalho, na educação direta e indireta e na autoeducação, bem como na recuperação do verdadeiro significado político da alfabetização. CONCLUSÃO

    A partir das discussões realizadas no texto, sobre a formação docente revolucionária em Cuba para a Campanha de Alfabetização que teve como instrumento o Manual Alfabeticemos (1961a) foi o ponto de partida para a construção de um projeto educacional e um ideal de homem sistematizados em 1965 por Ernesto Che Guevara. Isto porque, o “homem novo” elucidado por Guevara (1965) como o homem ideal para a consolidação do movimento revolucionário e a construção do socialismo em Cuba apresentava características similares ao homem livre, culto e miliciano propagado como meio de convencimento sobre a importância de se erradicar o analfabetismo do período da Campanha de Alfabetização.

    Foi possível também considerar que a gênese do homem novo foi o professor alfabetizador. No qual é importante destacar, que o professor alfabetizador foi todo aquele que atendeu ao apelo de Fidel Castro para participar da batalha da cultura e, que recebeu uma formação apressada de três meses em uma antiga base da guerrilha em Sierra Maestra (HUTEAU; LAUTREY, 1976). Este treinamento aconteceu aproximadamente de janeiro a abril de 1961.

    Segundo Pereira (1989), a média de idade desses jovens maestros oscilava entre 12, 14 e 16 anos. Sobre a procedência escolar dos mesmos, o autor esclarece que eram: “[...] 52% a escola primária, 32% da secundária básica, 5% do ensino universitário, 2% da Escola Normal, 2% de escolas comerciais, 2% de universidades e 3% do magistério” (PEREIRA, 1989, p.62). Ou seja, alguns ainda estavam em período de alfabetização, por isso necessitavam de uma formação simples e didaticamente bem construída.

    Quando chegavam em Sierra Maestra recebiam cuidados na área da saúde, todos eram vacinados e faziam exames. Isto porque, tirar os jovens de casa exigia grande responsabilidade por parte da Comissão Nacional de Alfabetização. Ao mesmo tempo que em conjunto com as lições do Manual Alfabeticemos (1961a) fazia-se intencionalmente com que os jovens tivessem um choque de realidade, pois precisavam se adaptar a realidade do que enfrentariam nos povoados das montanhas e aprenderem a refletir sobre as contradições sociais vivenciadas até então pelo cubanos, bem como sobre o abandono em que viviam as pessoas do campo até aquele momento.

    O modelo de homem explícito no Manual Alfabeticemos (1961a), em 1961, apontava para um homem que seria livre na medida em que se tornasse culto. No decorrer da Campanha de Alfabetização, esse mesmo homem, se concretizou em um homem novo que também deveria ter na educação um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento de uma nova consciência que o possibilitasse ser um homem de ação e palavra, que se autoeducasse e dominasse tanto a ciência como a técnica.

    A Campanha de Alfabetização exerceu, então, um papel significativo à construção do homem novo cubano porque contribuiu de forma efetiva para a consolidação do processo de transformação social quando adotou a alfabetização como prática de liberdade. E, ao dar atenção especial à formação do professor aproximou-se do princípio de que “a coincidência da mudança das circunstâncias e da atividade humana ou autotransformação só pode ser tomada e racionalmente entendida como práxis revolucionária (MARX; ENGELS, 1986, p.104) e que para tanto primeiramente o educador precisa ser educado.

    Assim, a experiência cubana no quesito da alfabetização possibilita a problematização de que de fato adotar a aquisição do sistema de escrita alfabética como prática de liberdade seria, segundo Paulo Freire “[...] aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se” (FREIRE, 1987, p.5).

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    A educação em Cuba, neste sentido, ao recuperar o significado da alfabetização enquanto condição de libertação e conquista de poder político, ganhou características próprias de formação social, pois cada cubano deveria ser um propagador de cultura, deveria ser aquele que se autolibertou e propõe ao outro a se libertar, esses princípios deveriam vencer as fronteiras, pois o homem novo proposto em Cuba seria um homem consciente, ativo em meio aos embates da vida que assume suas responsabilidades e não é educado para si próprio, e sim para o coletivo, transformando sua formação em atos concretos, que sirvam de exemplo e mobilização.

    REFERÊNCIAS CASTRO, F. Discurso pronunciado por el comandante Fidel Castro Ruz, primer secretario del Comite central del partido comunista de cuba y primer ministro del gobierno revolucionario, en la velada solemne en memoria del comandante Ernesto Che Guevara, en la plaza de la Revolución, el 18 de octubre de 1967. Disponível in: . Acesso in: 05/08/2019. _____. DISCURSO DO COMANDANTE FIDEL CASTRO RUZ, Primeiro-Ministro do governo revolucionário, na sede da Nações Unidas, ESTADOS UNIDOS, 26 de setembro de 1960. Disponível em: . Acessado em: 07/08/2019. _____. Discurso Pronunciado Por El Comandante Fidel Castro Ruz, Primer Ministro Del Gobierno Revolucionario, En El Acto De Inauguración De La Ciudad Escolar “Abel Santamaría”, Donde Antes Estaba El Cuartel Militar “Leoncio Vidal”, En La Ciudad De Santa Clara, El 28 De Enero De 1961. Disponível em . Acesso in: 07/08/2019. _____. ¡Cumpliremos! Temas sobre la Revolución para los Alfabetizadores. La Habana, Cuba. 1961b. _____. Educação em revolução. Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1976. CUBA, Ministerio de la Educación. Alfabeticemos manual para el Alfabetizador. La Habana: Imprenta Nacional, 1961a. _____. Ministério de la Educación. ¡Venceremos!. La Habana: Imprenta Nacional, 1961b. _____.Ministerio de la Educación. Congreso Nacional de Alfabetización. La Habana: Imprenta Nacional, 1961c. FERNANDES, F. O que é revolução. São Paulo: Brasiliense, 1984. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17ª. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1987. GILLETTE, A. A Revolução Educacional Cubana. 1ª ed. Lisboa-Portugal: Moraes Editores, 1977. GUEVARA, E. C. O socialismo e o homem em Cuba. Semanário Marcha, Montevideo. Março de 1965. _____. Ernesto Che. Notas para o Estudo da Ideologia da Revolução Cubana. In: SADER, Eder (org.). Che Guevara – Política. 1ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2004. HUTEAU, M.; LAUTREY, J. Cuba: revolução no ensino. Trad. De Manuela Leandro e Fernanda Campos. Coimbra: Centelha, 1976. LÓPEZ, M. Q. A educação em Cuba: seus fundamentos e desafios. Estudos avançados, v. 25, n. 72, p. 55-72, 2011. https://doi.org/10.1590/S0103-40142011000200006

    http://www.cuba.cu/gobierno/discursos/1967/esp/f181067e.htmlhttp://www.cuba.cu/gobierno/discursos/1960/esp/f260960e.htmlhttp://www.cuba.cu/gobierno/discursos/1961/esp/f280161e.htmlhttps://doi.org/10.1590/S0103-40142011000200006

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    Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    PEREIRA MELO, J. J.; AMARAL, R. G. A. S. A questão teoria e prática e suas implicações para a formação docente. In: VI Congreso Internacional de Salud Mental Y Derechos Humanos, 2007, Buenos Aires. Trabajos 6º Congreso, 2007. PEREIRA, M. Rebeldes sem armas: alfabetizadores cubanos em ação. São Paulo: Editora Ática, 1989. PERONI, V. M. V. A Campanha de Alfabetização em Cuba. Porto Alegre: UFRGS, 2006. SOARES, M. Alfabetização e letramento. 7ª ed. São Paulo: Contexto, 2017. SWEEZY, P. M.; HUBERMAN, L. Cuba: anatomia de uma revolução. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1960. https://doi.org/10.14452/MR-012-03-04-1960-07-08_1

    https://doi.org/10.14452/MR-012-03-04-1960-07-08_1

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    A DIMENSÃO ÉTICA NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE CUBA: UM ESTUDO COMPARATIVO Drielly Adrean Batista Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: [email protected]

    RESUMO O presente trabalho aborda a formação dos professores em Cuba, destacando a importância dos valores morais na educação infantil, de forma a considerar alguns aspectos, como: a formação dos docentes de Pedagogia, a estrutura pedagógica, a organização curricular e o perfil do formador. Considera-se não somente o intelectual, mas um conjunto formado pelos aspectos afetivo, moral e emocional, que mediam a aprendizagem e levam o aluno a pensar, por meio da prática, a construção dos aspectos teóricos. O objetivo da presente pesquisa é investigar a ética na percepção dos Professores de Cuba, fazendo um estudo comparativo com os Professores no Brasil. A metodologia utilizada é a bibliográfica com pesquisas em revistas, artigos, e sites autorizados pela embaixada Cubana. O desenvolvimento moral é um processo contínuo, interativo e dinâmico que tem início quando a criança nasce e perdura por toda a vida, apresentando características diferentes em cada período do desenvolvimento do ciclo vital. Esse desenvolvimento depende, sobretudo, da interação do indivíduo com o meio e das experiências morais proporcionadas pelos diferentes aparelhos sociais. Finalmente, esperamos ter contribuído para o desenvolvimento de um novo olhar sobre a educação, de maneira a estimular uma reflexão sobre aspectos importantes no que diz respeito à realidade na formação dos professores no Brasil. Palavras-chave: Educação, Professores, Cuba, Valores Morais. ABSTRACT The present work deals with the training of teachers in Cuba, highlighting the importance of moral values in early childhood education, in order to consider some aspects, such as: teacher education, pedagogical structure, curricular organization and teacher profile. It is considered not only the intellectual, but a set formed by the affective, moral and emotional aspects that mediate learning and lead the student to think through practice, the construction of theoretical aspects. The objective of this research is to investigate the ethics in the perception of the teachers of Cuba, making a comparative study with the teachers in Brazil. The methodology used is bibliographic with searches in magazines, articles, and websites authorized by the Cuban embassy. This work seeks to undertake a reflection on the training of teachers in Cuba. Moral development is a continuous, interactive and dynamic process that begins when a child is born and endures throughout life, presenting different characteristics in each period of development of the life cycle. This development depends, above all, on the interaction of the individual with the environment and the moral experiences provided by the different social apparatuses. Finally, we hope to have contributed to the development of a new perspective on education, in order to stimulate a reflection on important aspects regarding the reality in the training of teachers in Brazil. Keywords: Education. Teachers. Cuba. Moral Values. RESUMEN El presente trabajo aborda la formación de docentes en Cuba, destacando la importancia de los valores morales en la educación de la primera infancia, con el fin de considerar algunos aspectos, tales como: la formación de docentes pedagógicos, la estructura pedagógica, la organización curricular y el perfil del docente. Se considera no solo el intelectual, sino un conjunto formado por los aspectos afectivos, morales y emocionales, que median el aprendizaje y llevan al alumno a pensar, a través de la práctica, la construcción de los aspectos teóricos. El objetivo de esta investigación es investigar la ética en la percepción de los docentes de Cuba, haciendo un estudio comparativo con los docentes en Brasil. La metodología utilizada es bibliográfica con búsquedas en revistas, artículos y sitios web autorizados por la embajada de Cuba. Este trabajo busca, por lo tanto, emprender una reflexión sobre la formación de docentes en Cuba. El desarrollo moral es un proceso continuo, interactivo y dinámico que comienza cuando el niño nace y dura toda la

    mailto:[email protected]

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    Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2019. ISSN: 1677-6321

    vida, con diferentes características en cada período de desarrollo del ciclo de vida. Este desarrollo depende sobre todo de la interacción del individuo con el entorno y las experiencias morales proporcionadas por los diferentes aparatos sociales. Finalmente, esperamos haber contribuido al desarrollo de una nueva mirada a la educación, a fin de estimular una reflexión sobre aspectos importantes con respecto a la realidad de la formación docente en Brasil. Palabras clave: Educación, Docentes, Cuba, Valores Morales. INTRODUÇÃO

    A formação de professores, cuja base é o ensino universitário, tem sido um assunto muito importante nos dias atuais.

    Cuba é uma referência quando se fala sobre a formação de professores, sua estrutura curricular, a organização dos cursos de licenciatura e a prática docente.

    Cuba está localizada na parte insular da América Central. região conhecida como Antilhas. O arquipélago é formado por mais de 1600 ilhas e ilhotas, com aproximadamente 105 mil km² de extensão. Por estar na entrada do golfo do México, o arquipélago fica próximo da América do Norte, mais precisamente dos Estados Unidos da América, do mar do Caribe e da Jamaica, e também do Haiti. (OLIVEIRA, 2007, p. 41)

    Em Cuba, de acordo com a OEI 6(Organização dos Estados Ibero-americanos) há dois tipos de

    Órgãos de Estado: os Órgãos superiores de Poder Popular e os Órgãos Locais de Poder Popular. De acordo com Hernández (1995), há os Órgãos Superiores do Poder Popular, como uma

    Assembleia Nacional, juntamente com os Conselhos de Estado e o Conselho de Ministros. Já a Assembleia do Poder Popular é formada pelo poder do Estado, mas está voltada para a fala e para as opiniões do povo. Esses órgãos são renovados a cada 5 anos, em sessões ordinárias, as quais ocorrem duas vezes ao ano. Os Ministros encarregados de dirigir a Educação do País são o Ministerio de Educación e o Ministerio de Educación Superior. Entre esses Ministérios há uma grande relação política com a Educação, juntamente com o Ministerio de Cultura, a Academia de Ciencias de Cuba e o Instituto Nacional de Desportes y Recreacíon.

    Segundo a divisão político-administrativa do País descrita por Hernández et al. (1995, cap. 1), Cuba compreende 14 províncias e 169 municípios, entre os quais se destaca a Ilha da Juventude.

    Cuba deixou de ser uma colônia da Espanha em 1898, mas foi governada por muitos anos pelos Estados Unidos da América, que administrou a Ilha durante aproximadamente sessenta anos.

    Na década de 1950, de acordo com Hernández (1995), havia aproximadamente meio milhão de analfabetos. Somente metade da população era atendida no ensino primário. Os ensinos médio e universitário eram oferecidos somente nas grandes cidades da Ilha. O ensino industrial, o qual podia ser comparado ao técnico no nível médio, voltava-se para as grandes empresas da época e seu objetivo era a formação de mão de obra barata. Havia 16 centros de formação, dirigido aos operários e caracterizado por uma qualificação pequena e de baixa qualidade. Ainda que Cuba fosse um país voltado para a área agrícola, o ensino industrial era reduzido. As escolas normais totalizavam somente 6 em toda a Ilha e serviam para a formação de professores. E o número de universidades para formar os profissionais da Educação era apenas 3: a Universidade de La Havana, a Las Villas e a Oriente. Havia também o fato de essas instituições de ensino superior terem poucas vagas disponíveis; além disso, ocorriam muitas fraudes na obtenção das vagas (HERNANDEZ, 1995, p. 3).

    Os dados encontrados referem-se ao período compreendido entre 1957 e 1958. Além disso, abarcam somente os dois últimos anos do governo de Fulgêncio Batista. A proposta orçamentária para a educação era de apenas 79,4 milhões de pesos cubanos (CUP), o que correspondia a 11 pesos por pessoa, isto é, a um valor quase insignificante. Após o triunfo da Revolução e a queda do governo de Fulgêncio Batista, o governo começou a investir na educação, a fim de resolver os problemas passados, com uma proposta de diminuição da taxa de analfabetismo, garantindo o oferecimento de educação para todos.

    Muitas leis e decretos foram elaborados com o objetivo de proporcionar excelência ao ensino e às propostas de governo. Algumas das leis consideradas importantes para o marco do Sistema Educacional

    ¹ A OEI é um organismo internacional de caráter governamental cujo objetivo é a cooperação entre os países ibero-americanos nos campos da educação, da ciência, da tecnologia e da cultura, dentro do contexto do desenvolvimento integral da democracia e da integração regional.

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    Cubano foram as seguintes: a Lei 561, de 15 de setembro de 1959, que visava à criação de 10.000 salas de aulas para a escola básica; e a Lei 680, de 23 de dezembro de 1959, que estabelecia mudanças na educação. Na Lei 561, estabeleciam-se os níveis de ensino, como seriam os centros para a formação básica, a obrigatoriedade do ensino até os 12 anos (6 ª série), a criação do ensino secundário (6 ª a 9ª série) e o ensino pré-universitário (HERNANDEZ, 1995). A ampliação do acesso às escolas foi acontecendo rapidamente, e a população mostrava-se motivada. No entanto, para atender toda a demanda do País, foi necessária a atuação de muitos professores, e, como o acesso à universidade era restrito, foram indispensáveis mudanças também no ensino universitário.

    Para Hernandez (1995), houve por parte da população muito esforço e incentivo às reformas na educação e na alfabetização. Os números relativos à educação aumentavam a cada ano e chegaram a 707.212 mil alfabetizados, o que levou o índice de analfabetismo a uma redução de 23,6 % para 3,9 %, de acordo com o censo de 1981.

    A Lei da Nacionalização da Educação foi firmada em junho de 1961 e estipulou que a educação fosse pública e gratuita para todos. Além disso, essa lei determinou que o Estado e outros departamentos sempre estariam à frente de toda a organização educacional.

    Em 1961, aproximadamente dois anos após o triunfo da Revolução, começaram a surgir os Círculos Infantis, que atendiam crianças de 0 a 5 anos e garantiam a educação e o cuidado dessas crianças, juntamente com o atendimento às mães. Anteriormente esses Círculos eram chamados de creches (guarderías), lugares que proporcionavam apenas o cuidado com as crianças, sem nenhuma preocupação com a aprendizagem e o desenvolvimento infantil. Essas "creches’’ foram transformadas em instituições pedagógicas, onde o cuidar e o desenvolvimento intelectual, afetivo, cognitivo, social e moral funcionavam como uma ponte entre o cuidar e o ensinar. No começo do ano de 1962, a Reforma da Educação Superior foi aprovada, e os serviços relacionados à educação e à pesquisa foram todos regulamentados.

    Entre o final da década de 1960 e o início dos anos 1970, as escolas destinadas à formação de professores foram criadas e transformadas, hoje, nas Faculdades dos Institutos Superiores Pedagógicos, voltados para a formação de licenciados em Educação Primária. De acordo com Hernández (1995), esse projeto levou a uma grande expansão da classe escolar, produzindo mudanças na descentralização da docência.

    Portanto, foi a partir da Revolução de 1959 que se começou a modificar, no País, a situação precária relacionada ao analfabetismo e à falta de professores. No século XXI, houve um favorecimento à erradicação do analfabetismo e à universalização da educação. Essa erradicação resultou em altos índices de notas elevadas dos alunos, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco). Todo o contexto educacional cubano está centrado na universalização do ensino público e gratuito, visando à qualidade da educação e da formação dos docentes. Esse modelo educacional compreende tanto o Ensino Infantil quanto o Superior.

    En un inicio, estos centros de formación de maestros (escuelas de formación de maestros primarios que sustituyeron a las antiguas Escuelas Normales de Maestros) estuvieron en las montañas, después, la Revolución creó escuelas de formación de maestros en cada provincia, a las que se ingresaba con la educación primaria culminada y, más adelante, cuando las condiciones de desarrollo lo propiciaron, en nivel de ingreso fue con la secundaria básica terminada [...] A partir de 1976, los institutos superiores pedagógicos construídos como centros universitários independientes, conformaron una rede de instituicones dirigida a la cobertura de docentes para lograr la universalización hasta el nivel medio y superior. (GÓMEZ GUTIERREZ, 2006, p. 6-7)

    O aparato educacional de Cuba é todo fundamentado no Sistema Nacional Unificado. Esse sistema

    funciona muito bem, em virtude da pequena extensão territorial do País. Conforme se mostrou no início deste trabalho, Cuba é um arquipélago formado por duas ilhas, habitadas por cerca de 11 milhões de pessoas.

    O sistema educacional cubano se apóia [sic] nos princípios de carássivo da educação; no princípio da vinculação estudo da educação; no princípio da participação de toda a sociedade nas tarefas da educação do povo; da co-educação [sic] e no princípio da gratuidade do ensino em todos os níveis. (FREITAS, 1998, p. 2016)

  • Anais do Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – ENEPE 2695

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    A estrutura do ensino é organizada da seguinte maneira: Círculo Infantil (zero a quatro anos de idade); Pré-escolar (cinco anos), Escola Primária (6 a 11 anos); Secundária Básica (12 a 14 anos); Pré-universitária; Escolas de Ofícios, Secundária, Obrero-campesina e Instituto Politécnico (15 a 17 anos); Universidades e Centros Universitários e Institutos Superiores. Para os alunos que não conseguem atingir o nível superior, há o chamado “Programa de Superação’’.

    A organização do governo, voltada para o ensino unificado, é constituída por oito ministérios, um escritório, um comitê e um instituto nacional. O Ministério da Educação Superior é o responsável pelas faculdades de formação que atuam na área educacional.

    A formação de professores em Cuba, desde a Educação Infantil ao Ensino Universitário, é constituída por cursos de licenciatura plena de nível superior, os quais estão sob total responsabilidade do Estado. Todos os cursos de licenciatura são de período integral, têm duração de 5 anos e uma ampla ligação entre a universidade e a escola (teoria e prática). Outro aspecto relevante do curso de Pedagogia em Cuba é o diagnóstico integral do aluno que está iniciando o curso de licenciatura, por meio da qualificação de cada perfil do discente.

    A formação do professor requer: um desenvolvimento do pensamento reflexivo e da autonomia; orientação da motivação para aprender; capacidade para resolver conflitos e integração dos processos de interação do individual com o coletivo, bem como uma efetiva relação entre os conteúdos e a prática social.

    O currículo do curso de Pedagogia está organizado, primeiramente, pelo caráter teórico intensivo, com o objetivo de trabalhar aspectos psicológicos, pedagógicos e sociológicos. No segundo ano, os estudantes já são encaminhados às escolas denominadas “microuniversidades’’, que são sedes universitárias criadas para atender os alunos de Pedagogia. Nesse momento os alunos (futuros professores) trabalham com seus tutores pensando em grupo e socializando com sua equipe. Isso estabelece, desde cedo, uma relação entre prática e pesquisa. “En la escuela tiene lugar la interacción de los maestros que se forman con los docentes de experiencia ya en ejercicio’’(MARIÑO SÁNCHEZ et al., 2004, p. 6-9).

    Dessa maneira, após um ano de estudos teóricos intensivos, empreende-se uma formação voltada para a prática, e os alunos são orientados e assessorados pelos professores tutores das sedes universitárias municipais. Esse funcionamento da formação dos professores dá-se mediante o programa “Universalización de la Educación Superior”, cuja meta é inserir todos na educação superior em 10 anos.

    O ensino superior cubano está regido pelo plano de universalização da educação superior, que foi implantado em 2003 e cujo objetivo é abranger toda a população. O governo garante cursos superiores a todos os estudantes que concluam o Ensino Secundário Pré-universitário e sejam aprovados no exame de ingresso.

    Os professores universitários do curso de Pedagogia recebem uma formação pedagógica na própria instituição em que atuam. Durante essa formação, os docentes são preparados para lecionar no mencionado curso e para colocar em prática os saberes a eles transmitidos, tendo sempre em mente que o objetivo da Educação Superior cubana, nos cursos de licenciaturas que formam professores, é articular a teoria com a prática desde o princípio.

    O Instituto Central de Ciências Pedagógicas (ICCP), criado em 1976, começou a ter um papel importante na Ciência da Educação (Pedagogia e Didática) em toda a Ilha. Em 2011, aconteceu o primeiro Congresso Internacional de Pedagogia em Cuba, com a finalidade de divulgar para o mundo a Educação Cubana e o modelo que a inspira. A esse Congresso compareceram representantes de vários órgãos do mundo, unindo povos e olhares diferentes com a intenção de investigar a Educação Cubana.

    “Universidade para Todos” e “Mesa Redonda” são projetos que ampliam a relação do cidadão cubano com os assuntos das políticas educacionais internacional e nacional. O período que vai de 2005 a 2010 enfocou a “educação à altura de seu tempo” Nesse período, realizou-se um esforço para enriquecer o sistema nacional de educação e colocá-lo em concordância com as exigências do atual momento.

    Em 2006, a Orealc,7 juntamente com a Unesco, declararam Cuba como exemplo de excelência na educação. Esses órgãos consideraram que o alto desempenho cubano em termos de educação se deve à qualidade na formação dos professores. De acordo com Castro (1999), que aborda a formação dos professores em Cuba:

    7 Orealc é a sigla da Oficina Regional da Educação para América Latina y el Caribe. Exerce uma missão de conhecimento da educação, juntamente com os direitos humanos durante toda sua existência.

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    Os professores cubanos são contratados por 40 a 44 horas por semana e espera-se que ensinem de 16 a 20. São reservadas, portanto, 20 horas para preparar as aulas e interagir com os alunos. As salas de professores estão disponíveis para estas atividades extra-classe. Espera-se que, de fato, os professores permaneçam às 40 horas na escola. E o que é mais importante para qualidade do ensino, boa parte da preparação das aulas e materiais pedagógicos é feita em regime colegiado. De fato, é permitido que dediquem um dia por semana para seu aperfeiçoamento profissional. Na escola secundária visitada, todos os 59 professores tinham feito cursos de pós graduação. Além da possibilidade de alocar parte das 40 horas para o estudo, os cursos de pós graduação conduzem a um adicional de salários, criando um grande incentivo para continuar os estudos (CASTRO, 1999, p. 344).

    Para atingir a mencionada excelência no ensino, desenvolvem-se e preveem-se programas

    educativos e sociais de curto e de longo prazos, a fim de eliminar as barreiras que reprimem aspirações e para aumentar as oportunidades e as possibilidades de cada criança, adolescente, jovem e adulto quanto ao acesso à educação e à cultura. Nesse caminho, o governo cubano dedica esforços e recursos para o aperfeiçoamento do trabalho dos docentes e sua formação com maior qualidade, aproximando a formação inicial e a escola, e aumentando a responsabilidade escolar e de cada professor. Com tal empenho, desenvolvem-se os estudos sobre as peculiaridades do trabalho na formação docente, a qual deve contribuir para realizar as aspirações da educação para todos.

    Considerando a importância na qualidade na formação dos profissionais da pedagogia, a discussão será permeada na valorização de trabalhar os valores morais na educação infantil por meio de uma formação humanizadora visando a educação como um processo social.

    Visando a contribuir para a expansão de pesquisas a respeito da moralidade, fundamentados em nossas leituras e pesquisas, pudemos perceber a importância do tema para o desenvolvimento de crianças no início da idade escolar. Além disso, a filosofia é uma das grandes responsáveis por discutir e elaborar teorias sobre a moral na sociedade.

    Há muitos anos, na história da humanidade, a constituição do homem em comunidades é um fato concreto. Os grupos humanos primitivos deram origem à sociedade, cuja formação adquiriu características cada vez mais complexas. Por sua vez, essas complexidades originaram as relações sociais, as quais compeliram os homens a elaborar normas valorativas e morais para determinados comportamentos em sociedade.

    Pensar na sociedade e em sua forma valorativa não é fácil: os valores morais, nos dias de hoje, estão sendo esquecidos crescentemente, em razão das normas da sociedade na qual vivemos. Valores como bondade, justiça, generosidade, felicidade e amizade, entre outros, são atributos muito relevantes e que, por isso, precisam ser trabalhados ainda na infância.

    Entretanto, ainda mais atualmente, há quem pergunte: “Qual é a necessidade de estudar a moral na educação?”. Para responder a essa indagação, é preciso relembrar as ideias do filósofo grego Aristóteles. De acordo com ele, as virtudes exercem um caráter valorativo para o indivíduo na sociedade; dito de outra forma: ao assumir uma virtude, o indivíduo está favorecendo a formação de sua subjetividade.

    O mesmo acontece com os valores morais, se desenvolvida satisfatoriamente, resulta em aspectos positivos na formação dos indivíduos. Está comprovado que, quando atingem a vida adulta, há mais chances de desenvolverem outras virtudes, como a bondade e a cooperação. De acordo com o dicionário de Houaiss (2001),8 aos valores morais como conjunto de regras, normas de uma sociedade ou determinada região. Outros dicionários, como o “Aurélio” e o “Lexis”, definem “valores morais” da mesma maneira, além de acrescentarem palavras sinônimas como: princípios, moral, preceitos, padrões, crenças, normas, regras, convicções.

    Aristóteles foi um dos primeiros pensadores a refletir acerca de questões éticas na sociedade. Para ele, o agir ético não é um meio, mas um fim, e para agir eticamente é necessário que haja uma racionalidade relativa a como o ser humano interage com o mundo (ARISTÓTELES, 1992). Tal racionalidade refere-se os valores morais, ao Cristianismo e à benevolência.

    8 O Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa foi elaborado pelo lexicógrafo brasileiro Antônio Houaiss. Sua primeira edição foi lançada em 2001, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Antônio Houaiss.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Lexic%C3%B3grafohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Houaisshttp://pt.wikipedia.org/wiki/2001http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeirohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Ant%C3%B4nio_Houaiss

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    Diante dos questionamentos com os quais nos deparamos e da importância social e científica de estudar os valores morais e as virtudes na Educação, conduziremos nosso estudo para a investigação sobre a maneira pela qual se dá os valores morais na Educação Infantil. O tema “moralidade humana” é objeto de estudo há muitos anos, desde os estudos de Aristóteles até os dias atuais. Na visão aristotélica, as virtudes são constituintes do caráter humano, o qual é relacionado com a origem social do indivíduo por meio da educação transmitida pela cultura e pela sociedade na qual está inserido. Afirma o filósofo grego que as virtudes são hábitos adquiridos que conduzem os sujeitos em suas vidas. Para o sujeito tornar-se um ser virtuoso, segundo o ponto de vista aristoteliano, é necessário equilíbrio, isto é, um meio-termo, expressão utilizada nas próprias obras do mencionado pensador.

    Para Aristóteles é preciso educar criando hábitos, desde o principio (Educação Infantil). Uma vida regada com a felicidade se faz conforme à educação de valores. A virtude como elemento fundamental dentro dos valores morais de acordo com Aristóteles, depende da prática desses valores morais.

    Ainda para o autor, nenhum indivíduo nasce virtuoso, mas sim, construído com os ensinamentos principalmente na educação escolar (prática). Só nos tornamos justos praticando atos justos, só somos bons, praticando bons atos. Os valores morais é regada pela educação, pois ela é uma disposição de caráter que torna alguém bom e o faz agir bem.

    Em meios as integrações dos conhecimentos do mundo globalizados, suas medições com as novas tecnologias, é necessários pensar na educação de valores com um aporte humanista onde, o principal objetivo é tornar uma educação consciente, voltada para os valores morais visando os pensamentos, ações os povo.

    O alemão Kant (1980) deu o ponto de partida para as pesquisas atinentes à moral, ao elaborar reflexões acerca da moralidade na área da Educação. Para Kant (1980), a moralidade é composta por imperativos categóricos absolutamente necessários e não contingentes, nos quais o valor não depende das consequências dos atos, sejam externas, sejam internas; imediatas ou não.

    Em Crítica da Faculdade do Juízo, o citado filósofo alemão apresenta sua filosofia como uma análise crítica, como uma maneira de construir conhecimento que é considerada antropocentrista. 9

    O homem, na perspectiva de Kant (1980), é um ser finito guiado pela razão, pela vontade e pela liberdade. Em outras palavras, o homem constitui um ente racional, que vê o mundo como algo dividido em dois polos: no primeiro (o “mundo sensível”), os seres estão totalmente submetidos aos instintos estimulados pelo exterior; no segundo (o “mundo inteligível”), a razão prevalece na liberdade, suscitando a independência do sujeito. Finalmente, a verdadeira moral, de acordo com as concepções kantianas, é baseada no dever de agir segundo os princípios universais.

    Piaget recorreu aos conceitos kantianos de anomia, autonomia e heteronomia, quando elaborou, por meio de pesquisas empíricas, sua teoria sobre o juízo moral na criança. O único livro escrito pelo autor sobre a moralidade foi Le jugement mo