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______________________________ 1 MSc, Engenheira Química, Diretora – ZAED Engenharia 2. Engenheiro Civil, Gerente – BUNGE Fertilizantes 3 Engenheiro Civil, Consultor – ZAED Engenharia IBP1613_07 UM MARCO SOBRE A QUESTÃO DA COMUNICAÇÃO DE RISCO À COMUNIDADE EM ÁREA DE ESTÂNCIA HIDROMINERAL. A EXPERIÊNCIA COM O COMPLEXO BUNGE DE FERTILIZANTES Sara Lucia Zaed 1 , Ricardo Manoel 2 , Sebastião A. Silva 3 Copyright 2007, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás - IBP Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na Rio Pipeline Conference & Exposition 2007, realizada no período de 2 a 4 de outubro de 2007, no Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Técnico do evento, seguindo as informações contidas na sinopse submetida pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho Técnico, como apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, seus Associados e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor (ES) que este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais da Rio Pipeline Conference & Exposition 2007. Resumo O presente trabalho visa apresentar os resultados do programa de comunicação dos riscos, desenvolvido para responder aos questionamentos da população situada no entorno do Complexo BUNGE de Fertilizantes, localizado em de Araxá, área de Estância Hidromineral. MG. Tal estudo se baseou no potencial de acidentes de processo ampliados, previamente identificados e mapeados na análise quantitativa de riscos, cujas estratégias de controle e combate a situações de emergências foram estabelecidas, respectivamente, no plano de atendimento a emergência. As atividades com o público externo abrangem, desde jogos lúdicos em multimídia, até a formação de um Grupamento Voluntário de Bombeiros Mirins - Pelotão BUNGE, para adolescentes de 13 a 15 anos; Formação dos NUDEC’s – Núcleos Comunitários de Defesa Civil nos bairros; Informações Toxicológicas ao Setor Saúde, Unidades de Combate do Corpo de Bombeiros e Técnicos Ambientais. Esperamos que este artigo venha contribuir para uma discussão mais ampla sobre este tema, que vem sendo praticado pela organização como parte de seus valores e, que antes de tudo, é demonstrativo do nascer de uma nova cultura com responsabilidade social, já que integra os pilares de um desenvolvimento sustentável, como a segurança, a preservação do meio ambiente, responsabilidade social e a perpetuação de seus negócios. Abstract The purpose of this paper is to present the results of the Risks Communication Program, developed to answer questioning population living in the BUNGE surroundings. The study site is located in the municipal district of Araxá, state of Minas Gerais. The program was, based upon in the potential of large process accidents, previously identified and mapped in the quantitative risks analysis. The control strategies and their combat to situations of emergencies were respectively established in the emergency attendance plan. The activities with the external public includes from computer interactive games to the formation of a Voluntary Team of Little Firemen - Brigade BUNGE, for teenagers; Formation of NUDEC's - Community Nucleus of civil defense in the neighborhoods; Toxicological information to the Health Department, Combat Units of the fireman Department and Environmental Technicians. Hopefully this article comes to contribute for a wider discussion on this theme, which has been practiced by BUNGE as part of your values. Finally, these actions is a clear signal of proativity, and more than that, it is a demonstration of newly born culture of social responsibility, integrates the pillars of the company’s sustainable development vision, with operational safety, environment preservation, social responsibility and businesses continuity. 1. Introdução O desenvolvimento das ferramentas de análise de riscos e sua utilização no processo decisório quanto à implantação, operação e ampliação de instalações industriais potencialmente perigosas permitem atender às preocupações das comunidades vizinhas quanto às possibilidades das mesmas serem afetadas pelos efeitos danosos de acidentes e situações de descontrole operacional passíveis de ocorrer durante a vida útil dessas instalações.

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Page 1: 1613-RIOPIPELINE 1613 Rio Pipeline Sara Zaed Rev0 2007 3

______________________________ 1 MSc, Engenheira Química, Diretora – ZAED Engenharia 2. Engenheiro Civil, Gerente – BUNGE Fertilizantes 3 Engenheiro Civil, Consultor – ZAED Engenharia

IBP1613_07 UM MARCO SOBRE A QUESTÃO DA COMUNICAÇÃO DE RISCO À

COMUNIDADE EM ÁREA DE ESTÂNCIA HIDROMINERAL. A EXPERIÊNCIA COM O COMPLEXO BUNGE DE FERTILIZANTES

Sara Lucia Zaed1, Ricardo Manoel2, Sebastião A. Silva3

Copyright 2007, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás - IBP Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na Rio Pipeline Conference & Exposition 2007, realizada no período de 2 a 4 de outubro de 2007, no Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Técnico do evento, seguindo as informações contidas na sinopse submetida pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho Técnico, como apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, seus Associados e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor (ES) que este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais da Rio Pipeline Conference & Exposition 2007. Resumo O presente trabalho visa apresentar os resultados do programa de comunicação dos riscos, desenvolvido para responder aos questionamentos da população situada no entorno do Complexo BUNGE de Fertilizantes, localizado em de Araxá, área de Estância Hidromineral. MG. Tal estudo se baseou no potencial de acidentes de processo ampliados, previamente identificados e mapeados na análise quantitativa de riscos, cujas estratégias de controle e combate a situações de emergências foram estabelecidas, respectivamente, no plano de atendimento a emergência. As atividades com o público externo abrangem, desde jogos lúdicos em multimídia, até a formação de um Grupamento Voluntário de Bombeiros Mirins - Pelotão BUNGE, para adolescentes de 13 a 15 anos; Formação dos NUDEC’s – Núcleos Comunitários de Defesa Civil nos bairros; Informações Toxicológicas ao Setor Saúde, Unidades de Combate do Corpo de Bombeiros e Técnicos Ambientais. Esperamos que este artigo venha contribuir para uma discussão mais ampla sobre este tema, que vem sendo praticado pela organização como parte de seus valores e, que antes de tudo, é demonstrativo do nascer de uma nova cultura com responsabilidade social, já que integra os pilares de um desenvolvimento sustentável, como a segurança, a preservação do meio ambiente, responsabilidade social e a perpetuação de seus negócios. Abstract The purpose of this paper is to present the results of the Risks Communication Program, developed to answer questioning population living in the BUNGE surroundings. The study site is located in the municipal district of Araxá, state of Minas Gerais. The program was, based upon in the potential of large process accidents, previously identified and mapped in the quantitative risks analysis. The control strategies and their combat to situations of emergencies were respectively established in the emergency attendance plan. The activities with the external public includes from computer interactive games to the formation of a Voluntary Team of Little Firemen - Brigade BUNGE, for teenagers; Formation of NUDEC's - Community Nucleus of civil defense in the neighborhoods; Toxicological information to the Health Department, Combat Units of the fireman Department and Environmental Technicians. Hopefully this article comes to contribute for a wider discussion on this theme, which has been practiced by BUNGE as part of your values. Finally, these actions is a clear signal of proativity, and more than that, it is a demonstration of newly born culture of social responsibility, integrates the pillars of the company’s sustainable development vision, with operational safety, environment preservation, social responsibility and businesses continuity. 1. Introdução O desenvolvimento das ferramentas de análise de riscos e sua utilização no processo decisório quanto à implantação, operação e ampliação de instalações industriais potencialmente perigosas permitem atender às preocupações das comunidades vizinhas quanto às possibilidades das mesmas serem afetadas pelos efeitos danosos de acidentes e situações de descontrole operacional passíveis de ocorrer durante a vida útil dessas instalações.

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O Programa de Comunicação de Riscos – PCR, foi elaborado no sentido de responder aos questionamentos da população situada na área de entorno da unidade de fertilizantes da BUNGE, situada no município de Araxá, região de Estância Hidromineral, Estado de Minas Gerais, seguindo os termos de referência emitidos pela FEAM, com base nos resultados do Estudo de Análise Quantitativa de Riscos – EAQR e nas estratégias de controle e combate a situações de emergências estabelecidas no PAE – Plano de Atendimento a Emergência, desenvolvidos pela ZAED Engenharia.

A partir do marco teórico referencial, foram identificadas as atividades prioritárias a serem desenvolvidas por equipe multidisciplinar ao longo de 12 meses, além das atividades permanentes a serem implantadas nesse mesmo período e absorvidas como atividades de rotina pela empresa.

As atividades do PCR iniciam-se em 2006 com a compilação de informações referentes aos Estudos de Análise Quantitativa de Riscos da instalação de Estocagem de Amônia e das Plantas de Ácido Sulfúrico e Fertilizante, cujos resultados foram os pilares para o desenvolvimento das atividades posteriores.

Seguindo determinação da FEAM, representantes dos órgãos públicos locais intervenientes no controle e combate a situações de emergências, assim como representantes da sociedade civil organizada foram convidados a participar de todo este processo. 2. Referencial Teórico Estamos sujeitos cotidianamente a diferentes tipos de riscos aos quais atribuímos valor, variando este de pessoa para pessoa de acordo com o nível individual de percepção de riscos. Alguns riscos a que estamos sujeitos não são percebidos por terem se tornado familiar no nosso dia-a-dia, como por exemplo, o risco de quedas de escadas e atropelamentos, que somente são vistos como tal na ocorrência de eventos envolvendo a nós mesmos ou pessoas próximas. Indignamo-nos na ocorrência de acidentes aéreos que o senso comum passa a considerar o ato de voar como “perigoso” comparado com o ato de utilizar o transporte rodoviário, embora o número de vítimas fatais em acidentes aéreos seja, no Brasil, quase 2.700 vezes menor do que o decorrente de acidentes de trânsito. Corroborando com a afirmação acima, Covello e Sandman asseveram: “Os riscos que matam as pessoas e os riscos que as alarmam são completamente distintos”. De acordo com a Figura 1, a função da comunicação de riscos é construir pontes entre a visão tecnicista, baseada no raciocínio lógico, formal e fundamentado em números e estatísticas, com a visão do cidadão comum que responde aos fatos e informações que lhe chegam ao conhecimento com diferentes níveis de indignação, conforme pode ser visto no diagrama adiante.

Figura 1-Visão tecnicista x Visão do cidadão

A comunicação de riscos é um dos elementos do gerenciamento de riscos, Figura 2, contribuindo para o entendimento dos riscos residuais e seus possíveis impactos, dentro do processo de tomada de decisão.

AAvvaalliiaaççããoo ddee RRiissccoo

Comunicadores de risco Avaliação de risco

PERIGOS + INDIGNAÇÃO

Especialista em avaliação

de risco

PERIGO

Avaliação pública de risco

(às vezes)

INDIGNAÇÃO Fonte: Canadian Food Inspection Agency

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Em 1989, o Conselho Nacional de Pesquisas dos Estados Unidos elaborou a seguinte definição de

Comunicação de Riscos: “Processo interativo de intercâmbio de informações e opiniões entre os indivíduos, grupos e instituições. É um diálogo onde se discutem múltiplas mensagens que expressam preocupações, opiniões ou reações às próprias mensagens ou acordos legais e institucionais de gerenciamento de risco”. Comunicação de riscos preconiza, portanto, troca de informações e experiências, devendo-se valorizar o conhecimento do público como qual se vai lidar, utilizando-se da linguagem e da mídia adequada para permitir a revisão de conceitos e absorção de novas informações sobre os riscos reais.

Figura 2- Elementos de Gerenciamento de Riscos

Para cada público devem utilizados diferentes canais de comunicação, uma vez que não há canal que sirva

para todos. Materiais escritos, programas de rádio, mensagens multimídia devem ser especificados para os diferentes público-alvos, considerando sua diversidade e diferentes níveis sociais, educacionais e faixa etária. Em qualquer situação, o desenvolvimento de mensagens deverá seguir as regras constantes na Figura 3. A percepção de risco da comunidade é afetada por vários fatores, porém a maior causa de pânico está associada à falta de informação. A aceitação dos riscos também sofre a influência de fatores, entre os quais podem ser ressaltados os indicados na Figura 4. Na relação com instalações industriais, à comunidade residente em seu entorno tende a possuir uma visão distorcida uma vez que não tem acesso aos elementos que indicam o nível de segurança da instalação. Duarte assevera que “Todos dos elementos percebidos no espaço externo são fontes de riscos: os tanques, as tochas químicas, as torres de processo e os ruídos das máquinas. Por outro lado, todos os elementos que garantem a segurança das instalações não são percebidos”.

Não são percebidos, portanto, a partir do espaço externo os sistemas de controle e combate como válvulas de bloqueio, equipamentos de combate a incêndios e as brigadas de emergência.

É preciso equilibrar a visão superestimada das fontes de risco com as salvaguardas existentes. Quanto mais

impactantes visualmente sejam tais fontes, maior visibilidade se deve dar aos sistemas de controle e combate. Isto é

Comunicação do risco

Avaliação do risco

Identificação do perigo

Caracterização do perigo

Avaliação da exposição

Caracterização do risco.

Gerenciamento do risco

Avaliação do risco

Opções de avaliação

Opções de implementação

Monitoramento e revisão

Fonte: Canadian Food Inspection Agency

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possível investindo em programa do tipo “fábrica aberta” e na participação ativa da população nos exercícios simulados, seja, como apoiadores do processo de evasão, seja como observadores nos treinamentos de brigadas.

QQuueessttõõeess--cchhaavveess ppaarraa oo ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ddaass mmeennssaaggeennss

EEssccrreevvaa mmaatteerriiaaiiss ddee ffáácciill ccoommpprreeeennssããoo

Identifique seu público-alvo e o que é preciso dizer Selecione um formato adequado, por exemplo, um

formato de perguntas e respostas. Satisfaça as necessidades de seu público

organizando suas idéias Fale diretamente ao leitor Verifique o tom do documento

CCaarraacctteerrííssttiiccaass ddaass mmeennssaaggeennss ddee ffáácciill ccoommpprreeeennssããoo

São escritas em uma linguagem clara e simples São apresentadas em um formato fácil de entender São visualmente atraentes São organizadas logicamente São entendidas na primeira leitura

Figura 3-Diretrizes para o desenvolvimento de mensagens

O papel da Comunicação de Riscos é permitir que a comunidade, além de ser informada, possa exercer uma

participação cidadã no processo uma vez que é receptor critico de uma fonte de riscos ao qual se submete de forma involuntária. A percepção de estar contribuindo e sendo ao mesmo tempo beneficiada no processo gera laços de confiança e pode transformar opositores em apoiadores.

Figura 4- Influência de Fatores que afetam a percepção de risco da comunidade

Riscos aceitáveis:

Voluntários, Sob controle, Claramente beneficie, Distribuídos de maneira justa, Naturais, Estatísticos, De uma fonte confiável, Familiares, Que afetam os adultos.

Riscos não aceitáveis:

Involuntários Controlados por outros De pouco ou nenhum benefício Distribuídos de maneira injusta Causados pelo homem Catastróficos De fontes desconhecidas Exóticos Que afetam as crianças.

Fonte: Fischhoff, ET al., 1981

Estude as preocupações de seu público

As mensagens devem ser coerentes com as ações

Responda às perguntas: quem? o que?, como?, quando? e onde?

(não diga que está tudo bem se estiver usando equipamento de proteção)

O que a comunidade quer saber?

O que a comunidade precisa saber?

O que se quer que a comunidade saiba?

Pode-se entender mal a informação?

Não faça mais do que três mensagens-chave

Experimente suas mensagens com membros de confiança do seu público-alvo

Qualidades do perigo que influenciam a percepção de risco

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Conforme Fischoff, a evolução da comunicação de riscos nos últimos 20 anos passou pelas seguintes etapas:

Tudo que necessitamos obter são números verdadeiros; Tudo que temos a fazer é dizer os números; Tudo o que temos a fazer é explicar o que queremos dizer com os números; Tudo o que temos a fazer é mostrar que este é um bom acordo para as partes. Tudo o que temos que fazer é fazer deles participes Todos os pontos acima

Segundo Covello e Sandman, esta evolução se dá em 4 etapas:

Etapa n° 1: Ignorar o público Etapa n° 2: Explicar melhor a informação sobre o risco Etapa n° 3: Dialogar com a comunidade Etapa n° 4: Incluir o público como agente colaborador

No cruzamento dessas duas cronologias, percebe-se a constante evolução até alcançar a participação cidadã, com

responsabilidade compartilhada entre a empresa, o governo e público, que é o objetivo final do trabalho que ora se propõe.

Por fim é preciso dar atenção aos órgãos da imprensa durante o processo, envolvendo representantes seus nas diversas fases da comunicação de riscos, principalmente na deflagração de planos de respostas a situações de emergência, lembrando que os meios de comunicação são importantes uma vez que:

Podem exercer grande influência sobre as pessoas; A maneira como apresentam as notícias pode fazer com que o público decida quem é “bom” ou o “vilão” da

notícia 3. Perfil da População

Para definição do público-alvo do PCR, foram utilizados os resultados das AQRs, realizada pela ZAED Engenharia, através da qual foram identificados os possíveis cenários acidentais envolvendo a liberação de amônia, de dióxido de enxofre (SO2), trióxido de enxofre (SO3) e GLP nas instalações da BUNGE.

Para cada cenário foram definidas as distâncias correspondentes a ERPG (Emergency Response Plan Guideline, que significa diretrizes para plano resposta de emergência) da ERPG 1 a ERPG 3, sendo a primeira correspondente à ao nível de concentração mínima de interesse, abaixo da qual não é esperado nenhum tipo de dano à saúde e segurança dos indivíduos expostos, e a última correspondente ao nível imediatamente danoso à vida e à saúde, IDLH, acima da qual se recomenda a imediata retirada de indivíduos não protegidos.

De acordo com os estudos realizados, a maior distância ERPG 1 corresponde ao cenário acidental relativo à ruptura do tanque de enxofre.

Dentro dos limites estão estabelecidos os 4 núcleos residenciais principais de Boa Vista, São Domingos, Barreirinho e Barreiro que deverão ser prioritários no processo de comunicação de riscos, uma vez que estão sujeitas às concentrações superiores a ERPG 1. 3.1. Boa Vista e São Domingos

Localidades situadas a Norte e Norte - Nordeste da planta da BUNGE, a uma distância superior a 5 km em linha reta. Nesta localidade está instalada uma das estações de monitoramento da qualidade do ar, operada pela BUNGE, na qual são monitoradas as concentrações de Amônia, Dióxido de Enxofre, Flúor, Material Particulado e pH da água de chuva.

As edificações são de padrão popular, com 50 a 70 m2 de área construída, com boa estanqueidade. Estima-se

uma população de 4.000 moradores – predominantemente classes C e D, contando na comunidade com escola, creche, igreja, posto de saúde e centro de convivência.

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3.2. Barreirinho Localidade situada a Leste da planta da BUNGE, a uma distância de 4 km, caracterizado por residências de

alto padrão, estimando uma população residente de 80 pessoas. Não existem equipamentos urbanos, sendo assemelhada a condomínio fechado, embora não haja controle de acesso. 3.3. Barreiro

O Barreiro, situado a 4 km da planta da Bunge na direção Sudeste, conta com dois aglomerados residenciais e 3 hotéis de grande porte, estando um desativado (Hotel da Previdência). No local existem ainda uma igreja, uma escola municipal, um clube de lazer (AABB) e um centro espírita que constituem pontos de aglomeração temporária de pessoas.

Os aglomerados residenciais são conhecidos como Alto Paulista e Vila Operária, caracterizados por

edificações em alvenaria variando de médio a baixo padrão de construção, com uma população residente em torno de 500 pessoas. Os hotéis Grande Hotel de Araxá, Figura 5, e o Hotel Colombo estão em pleno funcionamento, atraindo para a área, turistas e usuários das Termas de Araxá, que constituem população flutuante. Essa população flutuante atinge pico nos períodos de férias e durante o dia, incluindo um número significativo de pessoas idosas.

Além das associações de moradores existentes no Barreiro e no Boa Vista, representantes dos dois hotéis em funcionamento no Barreiro devem participar das atividades iniciais de comunicação de riscos por representar a população flutuante da área, constituída pelos funcionários dos hotéis, pequenos comerciantes, e hóspedes e usuários

das termas.

Figura 1- Grande Hotel e Termas de Araxá 4. Atividades do Programa de Comunicação de Riscos, PCR

As atividades constantes deste PCR estão distribuídas em duas categorias principais, de acordo com o público-alvo, sendo: 4.1. Público Interno

Formado pelos funcionários e terceirizados, constitui multiplicadores da informação para os demais segmentos da sociedade, devendo ser capazes de responder, de forma segura, os questionamentos ou contrapor argumentos a informações falsas ou incompletas que possam ser veiculadas por pessoas de seu círculo de relações.

As atividades internas incluem:

Integração de novos funcionários e terceirizados; Diálogos Diários de Segurança; Treinamentos em emergências e evasão; Realização de simulados de emergência.

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4.2 Público Externo Composto por membros das comunidades situadas dentro da distância definida com ERPG1, dos gestores de

órgãos públicos e de organizações não governamentais locais, além de representantes da imprensa. Parte deste público deverá receber treinamentos específicos para resposta a situações de emergência, de acordo com o previsto nos planos da empresa em articulação com os planos da Defesa Civil.

O público externo foi tratado de acordo com a faixa etária, sendo propostas atividades específicas para o segmento infanto-juvenil.

As atividades com o público externo compreenderam:

Desenvolvimento de Jogo Didático “Mapa da Mina” em multimídia DVD, a ser distribuído para crianças e adolescentes;

Formação do Grupamento Voluntário de Bombeiros Mirins - Pelotão BUNGE, para adolescentes; Formação dos NUDEC’s – Núcleos Comunitários de Defesa Civil nos bairros Boa Vista/São Domingos e

Barreiro/Barreirinho. Informações Toxicológicas ao Setor Saúde, Unidades de Combate do Corpo de Bombeiros e Técnicos

Ambientais. 5. Resultados A seguir podem ser observados os resultados obtidos nesta primeira fase de desenvolvimento e implantação e implementação do PCR:

Melhoria significativa na relação entre a Organização, Comunidade e Poder público; Conscientização da comunidade quanto aos valores, políticas e nível de riscos relacionados com as atividades

do Complexo BUNGE de Fertilizantes; Contribuição social consciente e voltada para educação da comunidade para vários níveis de faixa etária; Criação de Plano de auxílio mútuo entre a Bunge, a Empresa CBMM, o Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e

a Defesa Civil locais, mais realístico, e baseado nas hipóteses acidentais identificadas. 6. Agradecimentos Ao Sr. Vicente Lobo, Diretor do Complexo BUNGE de Fertilizantes, pelo seu alto nível de comprometimento quanto à realização deste programa, por sua notória postura demonstrativa de responsabilidade social, assim como por permitir a divulgação deste trabalho na RIOPIPELINE, compartilhando esta experiência com outras organizações. A FEAM que, de certa forma, contribuiu para o nascer do mesmo programa. 7. Referências FISCHOFF, B, Risk communication unplugged. Risk Analysis. 15 p. 137-145. (1995). SANDMAN, P.M, Risk Communication: Facing public outrage, EPA journal, p. 21-22 Nov. 1987. CANADIAN FOOD INSPECTION AGENCY, www.inspection.gc.ca/corpaff/publications/riscomm/riscomme.htm BERLO, K. D. O processo da comunicação: introdução à teoria e à prática. Ed. Martins, Fontes, 1989. Lei Federal Brasileira 6 938 de 31.08, Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências, 1981 Lei Federal Brasileira 9.605 de 12.02, Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências. 1998. FUNDACENTRO, Acidentes químicos ampliados: a visão dos trabalhadores. Anais do Seminário nacional sobre os riscos de acidentes maiores. Atibaia, SP, 29.11 a 01.12.1995. MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Secretaria Nacional de Defesa Civil, Disponível na página http://www.integracao.gov.br/defesacivil/