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10º. CONGRESSO NACIONAL DOS SINDICATOS DE ENGENHEIROS - FISENGE
27 A 30 DE AGOSTO DE 2014
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10o. CONGRESSO NACIONAL DOS SINDICATOS DE ENGENHEIROS
FISENGE
27 A 30 DE AGOSTO DE 2014
DOCUMENTO BASE
“UM PROJETO DE NAÇÃO PARA O BRASIL”
Versão para Eventos Regionais (31.03.2014)
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Apresentação ...................................................................................................................................................... 3
I. Brasil: nação e projeto ................................................................................................................................ 5
I.1. As possibilidades abertas pela democracia – a disputa de um projeto .................................. 7
I.2. Os governos populares - um balanço positivo ........................................................................... 10
I.3. O momento atual e seus macros desafios .................................................................................... 11
I.4. A promoção da igualdade – uma das bases do projeto ............................................................ 13
I.5. Os Elementos da estratégia .............................................................................................................. 14
I.6. Uma premissa – sustentabilidade ambiental ............................................................................... 14
I.7. A importância das instituições e atores sociais .......................................................................... 16
II. Estado e Desenvolvimento ..................................................................................................................... 17
II.1. Energia e Desenvolvimento ........................................................................................................... 22
Petróleo e Gás ........................................................................................................................................ 23
Energia Elétrica ..................................................................................................................................... 26
II.2. Políticas urbanas: saneamento e habitação ............................................................................... 29
Saneamento ............................................................................................................................................. 29
Habitação ................................................................................................................................................. 32
II.3. Infraestrutura de Transporte e Telecomunicações................................................................... 35
Mobilidade Urbana ............................................................................................................................... 35
Transporte ................................................................................................................................................ 38
Telecomunicações ................................................................................................................................. 44
II.4. Políticas agrária e agrícola sustentáveis para o desenvolvimento ...................................... 48
III. Desenvolvimento e o papel do movimento sindical ...................................................................... 52
III.1. Política sindical e suas interfaces ............................................................................................... 54
III.2. Projetos de inclusão sindical e formação política .................................................................. 60
III.3. Ambiente de negociação: realidade e perspectivas ............................................................... 63
III.4. Formação Profissional ................................................................................................................... 65
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Apresentação
A Fisenge e seus Sindicatos de Engenheiros filiados realizarão neste ano o 10o Congresso
Nacional, momento no qual serão debatidas e deliberadas diretrizes de ação para o
próximo mandato da direção da Federação. Como forma de iniciar o processo de
construção do Congresso, este documento apresenta, para o debate nos estados, alguns
desafios da realidade brasileira que devem se transformar em base para a elaboração de
diretrizes de ação de âmbito nacional e local, bem como em orientações estratégicas para
as inúmeras cooperações no âmbito do movimento sindical, dos movimentos sociais e das
relações institucionais.
A Fisenge e seus Sindicatos são atores sociais de cunho político sindical, têm papel
relevante em promover a qualidade de vida dos engenheiros no trabalho, compartilhar as
lutas dos trabalhadores e disputar, em uma frente ampla de organizações e movimentos, o
sentido geral do desenvolvimento econômico, social, cultural, ambiental e político
brasileiro.
O documento está assim estruturado: além desta apresentação, há um primeiro capítulo no
qual se discute, na visão da Fisenge, as bases gerais de um projeto político de
desenvolvimento para o país. O capítulo seguinte trata do que deve ser, neste projeto, o
papel do Estado, em termos gerais e, especificamente, em diversos segmentos importantes
de atividade econômica, em que a presença da engenharia, da engenheira e do engenheiro
é destacada. No terceiro e último capítulo, discute-se o papel que o movimento sindical,
particularmente na engenharia, deve cumprir para influenciar decisivamente este processo.
Tanto no segundo capítulo quanto no terceiro, além do texto básico contendo alguns
elementos de diagnóstico e de identificação de possíveis desafios, são sugeridas, para cada
segmento, diretrizes para a ação, meramente com o intento de estimular o debate e a
elaboração de propostas.
Esta versão do documento (Versão Eventos Regionais) destina-se a subsidiar os debates
nos Encontros Estaduais/Locais a serem realizados pelos Sindicatos. O resultado desses
debates locais e, principalmente, as contribuições enviadas à coordenação nacional do
Congresso até 16 de junho serão sistematizados e analisados visando à sua incorporação
no atual documento, produzindo-se assim uma nova versão que subsidiará os debates no
Congresso, que acontecerá em agosto próximo. Por isso, considera-se muito importante o
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investimento na qualidade dos debates nos eventos locais e o envio das contribuições
produzidas.
O objetivo deste documento não é elaborar uma análise técnica ou acadêmica sobre os
temas, e sim apontar as bases políticas para as escolhas estratégicas. Dos debates internos
realizados, da visão de inúmeros especialistas, da literatura existente, do que é veiculado
na grande imprensa e apresentado nos fóruns que tratam dos temas abordados, foram
destacados os elementos considerados estratégicos para a atuação da Fisenge e de seus
Sindicatos. Trata-se de um documento executivo, que busca estimular a leitura, a
participação e, principalmente, escolhas conscientes de desafios prioritários que se
transformarão em diretrizes de ação para os próximos três anos.
Desejamos a todos um bom trabalho!
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I. Brasil: nação e projeto
1. Após 30 anos de desenvolvimento acelerado, no período que sucedeu ao fim da
Segunda Grande Guerra, a economia mundial, com exceção da China e poucos países
do Oriente, vem experimentando baixas taxas de crescimento econômico, em
concomitância com a concentração crescente da riqueza socialmente produzida. A
partir do início da década de 90, com a falência dos regimes socialistas nos países do
Leste Europeu, o modelo de produção capitalista tornou-se fortemente hegemônico.
Essa hegemonia acentuou uma tendência intrínseca desse modelo, qual seja a de
aumentar a velocidade de acumulação de riqueza por parte dos principais grupos
investidores, com um agravante: essa acumulação, que se fazia com predominância de
investimentos em atividades produtivas, paulatinamente foi transformando-se em
acumulação de natureza primordialmente financeira. Dessa forma, aprofundou-se o
processo de drenagem de recursos excedentes do trabalho produtivo para a esfera
financeira, o que explica em grande parte o empobrecimento relativo de parcelas
expressivas da população mundial, em contrapartida à formação ou ampliação de
poucas fortunas.
2. Há um grupo de analistas progressistas que entendem ser esta uma condição estrutural
e não conjuntural da nova ordem econômica e política que prevalece neste início de
século XXI. Por isso, muitas organizações que representam os interesses da
esmagadora maioria dos habitantes do planeta estão convictas da impossibilidade de
resolver seus problemas fundamentais nos marcos do sistema capitalista. Não é
propósito desse sistema, nem é compatível com seu caráter de acumulação de capital,
a universalização de padrões de vida dignos para as sociedades, a garantia de acesso a
sistemas de saúde, de ensino e segurança social à população mundial, a
democratização da cultura e, tampouco, a utilização de recursos naturais em ritmo que
não comprometa sua disponibilidade para as gerações futuras.
3. Sob o argumento de que a competição entre os agentes econômicos e sociais que dele
participam seria o principal motor do desenvolvimento, o capitalismo termina por
beneficiar apenas os mais fortes. Solidariedade é ideia vista como piegas pelos seus
líderes. Tratando os estados nacionais como empecilhos ao livre fluxo de capitais e
mercadorias, as grandes corporações buscam permanentemente enfraquecer os
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governos e as instituições nacionais, únicas com legitimidade e vocação para
promover ações visando ao atendimento das necessidades dos povos. Porém, o as
elites do capital que querem um Estado fraco, nas suas funções sociais, não abrem
mão de um Estado forte para o capital, "garantidor" das regras que entendem ser
necessárias ao desenvolvimento de suas atividades – como, por exemplo, o
fornecimento de créditos subsidiados, a garantia dos contratos, a proteção aos
investimentos e a livre circulação das mercadorias. No limite, demandam um Estado
"salvador", quando suas decisões levam a fracassos, cujo ônus deveria ser de sua
estrita responsabilidade. Na lógica da acumulação capitalista de riquezas, a
democracia, de fato, transforma-se em barreira à "ampla liberdade" de tomada de
decisões pelos grandes investidores, sem nenhuma conexão com os anseios da maioria
das pessoas. Por fim, mesmo atuando em escala multinacional, as grandes corporações
mantêm vínculos com os estados nacionais desenvolvidos e militarmente bem
equipados, particularmente os Estados Unidos, a potência imperial da atualidade.
Estados que atuam como defensores desses interesses corporativos. Para tanto,
exercem constrangimentos de toda ordem contra os demais países, inclusive, lançando
mão unilateralmente do uso da força política, econômica e militar.
4. Os sindicatos e movimentos sociais vislumbram ser essencial a construção de uma
nova ordem econômica e social. Uma nova ordem orientada por valores como a
soberania das nações na busca de seus próprios caminhos, no exercício da
solidariedade no âmbito de cada país e, internacionalmente, na busca pelo
desenvolvimento com distribuição justa das riquezas produzidas, na luta pela
consolidação de democracias que transcendam o exercício, importante, mas limitado,
do voto e pelo compromisso com as gerações futuras ao utilizar os recursos
naturais. Mais do que nunca e em que pese as enormes dificuldades de enfrentamento
dos poucos - mas extremamente fortes e bem organizados - beneficiários da atual
ordem mundial, continuam trabalhando com a convicção de que "OUTRO MUNDO É
POSSÍVEL!".
5. Tais considerações, porém, para não ficarem no campo das boas intenções, devem
levar em conta a necessidade de trilharmos um longo percurso até alcançarmos a
sociedade almejada. A própria construção dessa sociedade se fará caminhando no
terreno onde estão assentadas as sociedades dos nossos dias. Por isso é fundamental
trabalharmos na superação das contradições nelas embutidas, na busca de soluções dos
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problemas das maiorias, ainda nos marcos dessa sociedade imperfeita, que
entendemos sem futuro a longo prazo.
6. Com esse espírito, sem abrir mão do compromisso em lutar por uma forma evoluída
de organização social, fundada nos valores anteriormente apresentados, o texto que
segue focaliza algumas das grandes contradições do atual modelo de sociedade e de
desenvolvimento, ao mesmo tempo em que aponta para reformas de curto e médio
prazo, cuja viabilidade de implementação dependerá da capacidade de os sindicatos e
movimentos sociais lutarem de forma articulada. Certamente, ao longo dessa marcha,
os contornos do "novo mundo" irão se tornando mais claros e viáveis de serem
alcançados.
I.1. As possibilidades abertas pela democracia – a disputa de um projeto
7. A Fisenge e os Sindicatos de Engenheiros são atores sociais que participam e querem
ampliar sua participação na construção histórica do desenvolvimento do Brasil.
Entende-se que este país deve ser resultado daquilo que os brasileiros e as brasileiras
são capazes de construir no espaço da democracia real, com seus limites e
contradições. Atuar significa mobilizar a sociedade, promover movimentos sociais
diversos, favorecer e fomentar a atividade econômica por meio de empresas,
cooperativas, associações, criar e sustentar instituições. Nesta perspectiva, o Brasil é
uma história realizada que é resultante da correlação de força – atores sociais e
sujeitos coletivos - que disputam junto à nação, na democracia, diferentes projetos de
país e, deste mesmo ponto de vista, o Brasil é uma história futura que está em aberto e
sempre em disputa. A história é construída por homens e mulheres nas relações sociais
que estabelecem, nas lutas que travam e nas escolhas que fazem. O olhar retrospectivo
sobre a história das nações, inclusive a nossa, revela uma trajetória repleta de tragédias
econômicas, sociais, ambientais, culturais e políticas, o que reforça o pressuposto de
que cabe à sociedade a atuação e intervenção para dar o sentido aos caminhos a serem
trilhados. Aprender com a história, ganhar força e avançar. Assim, para onde deve
avançar o Brasil na segunda metade desta década?
8. A sociedade brasileira superou na luta social e política o regime que amordaçou nossa
democracia, encerrando a ditadura militar dos anos de 1960 a 1980, nos contornos
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finais da transição marcada pela Constituição Cidadã de 1988. Desde estão, luta-se
para fortalecer a democracia como regime político no qual a sociedade brasileira faz
suas escolhas, cria suas instituições (eleições, partidos, estado e seus poderes) e sua
forma de governo. Nos últimos 25 anos, vivemos o mais longo período contínuo de
regime democrático no Brasil, o que não é pouco considerando nosso padrão de
ruptura institucional autoritária em nossa história republicana.
9. A democracia, no caso brasileiro, deixa muito a desejar em diversos e significativos
aspectos. Apesar de todos os problemas inerentes a ela, é o melhor regime para uma
nação construir seu projeto de país. Ao mesmo tempo, a própria nação é uma
construção permanente e essencialmente política. Por isso, um desafio permanente
nessa trajetória recente da nossa história é investir no fortalecimento das instituições,
organizações e processos deliberativos que sustentem a democracia como regime no
qual a sociedade, pelo voto e demais instituições, faz suas escolhas e governa seu
destino. A experiência e o exercício democrático recente têm dado evidências de que a
sociedade demanda uma agenda de reforma política que modernize e melhore o
sistema democrático brasileiro, em especial aprimore o sistema partidário, o processo
eleitoral e a vitalidade das instituições para a constituição de maiorias. Nesta trajetória,
contudo, é preciso muito cuidado com alguns segmentos, que não têm logrado
ascender ao poder por intermédio do voto, mas têm desferido ataques crescentes à
democracia brasileira, em desrespeito frontal à soberania popular.
10. Nesse aspecto, uma das dimensões que favorece a qualidade da democracia está
relacionada ao direito à informação, à transparência da atividade do Estado e dos
governantes, ao debate público das ideias, ao direito de opinião e de divergência e ao
respeito aos grupos historicamente oprimidos. Desta forma, as instituições e
organizações da mídia são meios essenciais para promover esses direitos e, portanto,
considera-se fundamental a implantação de novo marco regulatório da comunicação
no Brasil o que inclui, entre outros, os limites à propriedade cruzada dos meios de
comunicação, a revisão das concessões públicas na área, ampliando o número e
espectro de concessionários, bem como o livre acesso à banda larga1.
11. Nessas últimas três décadas, a democracia brasileira vem sendo (re)construída. Houve
o resgate de instituições e da base constitucional para a sustentação das relações
1 Estas e outras propostas estão em linha com as resoluções aprovadas na 1ª. Conferência Nacional de Comunicação,
realizada em 2009.
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sociais, econômica e política; governantes foram eleitos e destituídos; a situação
estrutural de altas taxas de inflação foi superada; adequou-se a capacidade de atuação
do Estado brasileiro, com a melhora da situação fiscal, a recuperação da capacidade de
investimento e, mais recentemente, de forma inédita, a promoção de um vigoroso
processo de políticas distributivas e de inclusão econômica e social, tudo realizado em
um campo de muitas contradições, dúvidas e incertezas. Ainda assim, há que se
avançar muito em diversas frentes, democratizando, de fato, o acesso aos direitos
relacionados à educação, saúde, justiça, segurança, moradia, entre outros, para que
possamos falar em uma democracia substantiva.
12. Duas décadas de hegemonia do pensamento neoliberal no mundo, e no Brasil,
impactaram as escolhas das políticas econômicas, com graves rebatimentos para os
trabalhadores em termos de desemprego, insegurança e precarização do trabalho,
queda dos salários, entre tantos outros males que nos afligiram desde meados dos anos
1980. Nesse processo, o papel do Estado sempre esteve em disputa. Inicialmente,
prevalecendo uma visão de “Estado mínimo” e, posteriormente, fortalecendo-se a
visão de que cabe ao Estado um papel mais destacado, de induzir o desenvolvimento e
promover a redução das desigualdades.
13. Ao mesmo tempo, como parte desse processo, a sociedade brasileira fez algo
incomum na história mundial. Nossa jovem democracia propiciou à sociedade
brasileira eleger para presidente do país um operário, oriundo das bases do movimento
sindical. Eleito, governou durante dois mandatos, encerrando-os com altíssimo índice
de aprovação. Das bases do movimento operário brasileiro nasceu um estadista que
hoje é uma referência política mundial. A par de todas as divergências – e que não são
poucas - não é possível esquecer o papel que o movimento sindical dos trabalhadores
teve na construção da consciência coletiva dessa possibilidade, bem como no papel
que inúmeros dirigentes ativistas tiveram para a condução do governo do Presidente
Lula. Na esteira desse processo, a sociedade brasileira faz de uma mulher sua
sucessora, elegendo Dilma a primeira Presidenta do país. Trajetórias feitas na luta.
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I.2. Os governos populares - um balanço positivo
14. O padrão do desenvolvimento brasileiro mudou a partir da segunda metade dos anos
2000 propiciando, inclusive, a possibilidade de debater o seu rumo, numa superação
da conduta dos anos 1990 que afirmava que o desenvolvimento seria resultado do livre
fluxo das forças do mercado, ou seja, resultante da vontade e das escolhas do capital.
A crise de 2008 revelou, em escala mundial, do que essa lógica é capaz, os males que
causa e de que maneira o ônus recai sobre a sociedade. Em nosso país, um elemento
essencial dessa guinada para outro tipo de desenvolvimento foi a recuperação do papel
do Estado na condução do desenvolvimento, especialmente no que se refere às
políticas distributivas que ampliaram para a população de baixa renda a possibilidade
de inclusão econômica e de participação no amplo mercado de consumo de massa; a
ampliação das políticas sociais, em especial de educação; a fundamental afirmação da
centralidade da capacidade de investimento do Estado, em infraestrutura econômica
e produtiva – energia, transporte e logística, comunicação, entre outros -, bem
como em infraestrutura social – educação, saúde, assistência social, emprego,
habitação, saneamento, mobilidade urbana. Combinado com uma importante
participação no comércio exterior, especialmente pela exportação de produtos
primários, reequilibrou-se a balança comercial e adequou-se a capacidade fiscal do
Estado brasileiro para promover as políticas públicas e o investimento.
15. A partir da segunda metade dos anos 2000, dobrou-se o tamanho do mercado formal
de trabalho. Nos anos 1990, dizia-se que a carteira de trabalho assinada era coisa do
passado e, no entanto, logrou-se promover forte queda da informalidade; nos anos
1990, o arrocho salarial era promovido sob o argumento de que era um mal necessário,
mas nos anos recentes os salários cresceram e, na luta e negociação, o movimento
sindical foi protagonista da primeira política de longo prazo de valorização do salário
mínimo. Adicionalmente, promoveu-se a retomada do investimento em ciência,
pesquisa, tecnologia e inovação, a ampliação do crédito para a produção e consumo e
o fortalecimento de relações internacionais Sul-Sul, entre outras transformações.
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I.3. O momento atual e seus macros desafios
16. O momento presente, contudo, evidencia a necessidade de induzir um novo ciclo
econômico para sustentar o desenvolvimento. As baixas taxas de crescimento
econômico, observadas a partir de 2011; os pífios patamares de investimento, apesar
dos incentivos adotados pelo governo; as dificuldades da indústria em competir na
exportação e com os preços dos produtos importados; os enormes diferenciais
tecnológicos da base produtiva; a precária a infraestrutura física e a baixa qualidade da
educação são parte dos elementos que conformam as dificuldades internas do presente.
Ademais, a saída da crise internacional tem levado os países centrais a enxugar a
expansão monetária realizada nos anos recentes, o que poderá impactar nossas taxas
de câmbio e de inflação.
17. Se os efeitos da macroeconomia de estímulo ao emprego e das políticas distributivas,
promovidas até aqui, geraram um ciclo virtuoso animando a dinâmica produtiva para o
mercado interno, o desafio na conjuntura atual requer um novo e ousado passo que
aprofunde uma estratégia de crescimento com distribuição de renda que favoreça o
próprio crescimento. Há que constituir as bases para um novo ciclo de crescimento,
ampliando a capacidade produtiva e a oferta de serviços públicos que sustente de
maneira contínua o processo redistributivo em curso. Crescer é condição para o
desenvolvimento e, para isso, há que articular as metas de crescimento, inflação,
investimento e emprego; fortalecer o investimento na expansão da capacidade
produtiva instalada das empresas; recuperar as cadeias produtivas orientadas para a
agregação de valor com bases predominantemente de conteúdo nacional; animar e
coordenar a vigorosa capacidade de investimento público em infraestrutura logística,
produtiva e social; adotar uma política monetária que favoreça o crescimento e o
investimento, inclusive com a retomada da redução dos juros básicos em direção aos
padrões internacionais; investir na capacidade do poder público de elaboração e
execução de projetos, com reformas que promovam uma gestão pública orientada para
o desenvolvimento.
18. Em uma sociedade capitalista, na qual se faz a disputa regulatória da taxa de retorno
do capital (lucro), dos recursos fiscais e do uso e remuneração da força de trabalho,
uma dimensão essencial, complexa e repleta de contradições é de que maneira se
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mobilizam os recursos privados, inclusive no que se refere à produção privada de bens
e serviços públicos, para cumprir as metas do crescimento com distribuição,
considerando que a lógica do capital é a acumulação e concentração da renda e
riqueza.
19. Da mesma forma, a estratégia de crescimento requer instituições que aportem crédito
de longo prazo, capital de risco para a inovação, capital de giro para as operações.
20. Requer, também, estar conectado à economia internacional e, simultaneamente,
promover a redução da dependência, afirmando crescentemente a soberania nacional.
Para tanto, é preciso desenvolver capacidade de constituir cadeias agregadoras de
valor com elevado conteúdo nacional, distribuídas no território e com forte
componente inovador, portanto, de incremento da produtividade.
21. Em linhas gerais, o projeto de desenvolvimento deve estar orientado pelo objetivo
estratégico de que “é preciso igualar para crescer e é preciso crescer para igualar”. A
sustentação da dinâmica do crescimento deve ter a intencionalidade clara, bem como
reconhecer a dificuldade implícita de enfrentar o mais grave problema do país e o
maior desafio em termos de desenvolvimento: superar as graves desigualdades de
todas as ordens que marcam a sociedade brasileira. Somos um país com uma imensa
dimensão territorial e uma enorme população; com a unidade cultural de uma única
língua; com grande diversidade nos biomas; possuímos um enorme parque aquífero,
reservas de petróleo e gás, potencial de produção de energia limpa (solar fotovoltaica,
dos rios e ventos), com clima tropical, extensa costa marítima, entre inúmeros
“recursos disponíveis”; somos uma das dez maiores economias do planeta, com
diversidade e complexidade na indústria; com um setor de serviço e comércio muito
significativo; com crescente demanda para o setor da construção civil e
pesada/industrial; com grandes extensões de área agriculturável e para a produção
pecuária. Esses ativos, entre tantos outros, podem gerar uma riqueza coletiva maior e
melhor distribuída. A história mundial oferece várias evidências dessa possibilidade e
o faz revelando que sempre se trata uma construção política, é uma tarefa para a
nação.
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I.4. A promoção da igualdade – uma das bases do projeto
22. A história também revela que não se caminha “naturalmente” para esse destino. Ao
contrário, o capitalismo é uma experiência histórica de maximização da produção de
excedente econômico pela exploração da força de trabalho e de concentração de renda
e riqueza. Deixado ao livre fazer do mercado, diga-se, da hegemonia das forças do
capital, particularmente dos grandes conglomerados econômicos multinacionais e das
grandes potências militares, o capitalismo gerou e gera a exuberância da riqueza para
poucos e a exacerbação da miséria para os demais, bem como conflitos que destroem
economias e países. Em última instância, são sempre escolhas de natureza política e,
enquanto não se forja um novo patamar de sociabilidade, só possível nos marcos do
socialismo, cabe a nós a responsabilidade institucional – e sindical – de atuar para
transformar, desbravando os caminhos do crescimento com justiça social.
23. É parte da disputa o ato de conceber a função ética da economia como geradora de
bem-estar e qualidade de vida para todos, e que em uma economia de mercado isso
signifique empregos de qualidade, salários justos, boas condições nos postos de
trabalho, políticas públicas capazes de redistribuir a riqueza gerada, por meio de
educação, saúde, habitação, saneamento, mobilidade, cultura, esporte, vida social,
lazer e oportunidades para todos e com qualidade.
24. O desenvolvimento no capitalismo se dá na disputa regulatória, portanto, colocando
limites para sua atuação. Sob a hegemonia neoliberal, a crença é de que o
desenvolvimento se dá automaticamente, em decorrência da livre atuação das forças
de mercado. Ou seja, nega-se o desenvolvimento como fruto da ação política e da
regulação do capital.
25. Por termos experimentado na última década uma maneira diferente de promover o
desenvolvimento, reduzindo as desigualdades de maneira exemplar, é possível
reafirmar, agora baseados na experiência, que também no Brasil o caminho do
desenvolvimento pode ser trilhado como exigência da nação. O país dispõe de muitos
e valiosíssimos ativos, que precisam ser adequadamente politizados no sentido de
demandar da sociedade e do poder público – Executivo, Legislativo e Judiciário –
escolhas em nome do interesse coletivo para o bem comum. Há uma força de trabalho
fantástica com enorme capacidade de produzir, de criar e, pelo trabalho e pela luta, de
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transformar o Brasil em um país social, econômica, cultural e ambientalmente
desenvolvido.
I.5. Os Elementos da estratégia
26. Afirmar uma estratégia para promover esse desenvolvimento requer enfrentar a
desigualdade de maneira sistemática pela sustentação do emprego, crescimento dos
salários, incremento da produtividade; investimento em ciência, tecnologia e
inovação; favorecimento do investimento público e privado na infraestrutura produtiva
e social, na ampliação da capacidade produtiva das empresas e organizações;
construção de uma sofisticada política de desenvolvimento industrial integrada aos
setores de serviços, comércio e agricultura, capaz de gerar serviços públicos de
cultura, educação, saúde, habitação, saneamento, mobilidade de qualidade, bem como
o fortalecimento da coesão social por meio de diálogo e da negociação.
27. Isso exige melhorar a capacidade de atuação do Estado, sempre sob o controle e a
serviço do conjunto da sociedade, revendo a legislação de licitações que autorizam o
investimento e a atividade do Estado; reescrevendo as bases do pacto federativo, na
melhor distribuição e equilíbrio das atribuições da União, estados e municípios;
reestruturando a lógica de execução orçamentária e os instrumentos de gestão;
investindo no fortalecimento e equilíbrio entre o Executivo, o Legislativo e o
Judiciário, bem como nas atribuições dos órgãos de controle e fiscalização. Nessa
etapa de transição de uma economia capitalista a um sistema socialmente mais
desenvolvido, a concepção de modernização do Estado deve ser disputada no sentido
de conferir capacidade ao Estado de induzir, fomentar e promover o desenvolvimento
do país, coordenando as ações entre os entes públicos e o setor privado, bem como
regulando as atividades para que os resultados sejam alcançados e, de maneira justa,
distribuídos.
I.6. Uma premissa – sustentabilidade ambiental
28. Está também em disputa como a nação e sua estrutura econômica se relacionam e
utilizam a base material e natural de que dispõem. O mundo revela, de maneira
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dramática por meio dos cientistas e institutos nacionais e internacionais de pesquisa,
que já se ultrapassou os limites aceitáveis de desgaste ambiental decorrente da
atividade econômica. O planeta “reclama” e já apresenta inúmeros sintomas deste
desgaste. Os chefes de Estado reconhecem a dramaticidade dos problemas nas
conferências sobre o clima, mas pouco se consegue pactuar em termos de realizar
mudanças e ações para mitigar efeitos. O Brasil é um grande ator nesse cenário, pois
seus ativos podem fazer diferença na forma de atuar na arena político institucional dos
marcos regulatórios. O que será feito com as riquezas naturais, com o solo, rios, mar,
biomas e ar, deverá, no projeto de desenvolvimento, gravar o atributo de
desenvolvimento social com equilíbrio ambiental, ou não. Esse é um enorme e
ousadíssimo desafio, ainda mais se observado como concomitante à superação da
desigualdade social. Dependendo da maneira como o desenvolvimento econômico e
social for promovido no país, a dimensão de equilíbrio ambiental poderá simplesmente
ser “esquecida”. O desafio é justamente mostrar ao mundo, e a nós mesmos, que é
possível promover a transformação de uma sociedade desigual com base em um
projeto igualitário, com bem estar e qualidade de vida para todos e com equilíbrio
ambiental exemplar. Mas não se trata de tarefa trivial.
29. Nesse aspecto, que reúne crescimento econômico e equilíbrio ambiental, cabe a
ousadia de questionar o princípio de um crescimento permanentemente mobilizado
pela ansiedade do consumismo desenfreado, da obsolescência programada dos
produtos, da produtividade espúria das extensas jornadas de trabalho ou péssimos
salários e condições de trabalho, da ganância pela riqueza patrimonial, do dinheiro e
pela obtenção de maiores lucros. A riqueza material a ser promovida deve levar todos
a viver melhor, trabalhar jornadas menores, possibilitar a convivência com familiares
e amigos, o desenvolvimento cultural, a manutenção do equilíbrio entre trabalho e as
demais atividades da vida, de maneira a promover a felicidade de todos e de cada um.
Para isso é preciso mudar o atual paradigma de crescimento, correlacionando-o de
maneira intrínseca à centralidade da relação entre o desenvolvimento, o equilíbrio
ambiental, o bem estar e a qualidade de vida. Isto é, outro mundo é possível, uma nova
lógica, que requer novos fundamentos econômicos, materiais e culturais. O novo ciclo
de desenvolvimento proposto deve ser impregnado pela intencionalidade de enfrentar
essas questões.
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I.7. A importância das instituições e atores sociais
30. Considerando-se que o desenvolvimento aborda a regulação e disposição dos recursos
em todas as dimensões da atividade econômica, suas inter-relações, os limites
existentes e as diferentes opções de caminhos que podem ser trilhados, entende-se que
um projeto para o Brasil exige o sujeito da ação, portanto, requer uma nação em
projeto, uma nação que se promove como sujeito coletivo que conduz seu projeto. A
própria nação é uma construção, portanto, também um projeto, ou seja, expressa de
que maneira o povo brasileiro se coloca como sujeito da sua história em cada contexto
e por meio de quais instituições. Expressar, como sujeito coletivo, sua capacidade de
afirmar o que quer, escolher quem governará e como o fará. Portanto, a disputa pelo
desenvolvimento, diga-se, pela regulação das relações sociais e econômicas, requer o
investimento no desenvolvimento dos sujeitos coletivos capazes de mobilizar e
construir nos espaços das instituições os interesses coletivos que promovam o bem
comum.
31. O movimento sindical é parte do arranjo institucional que promove e expressa a
vontade dos brasileiros como nação. Essa não é uma equação simples, pelo contrário,
é complexa e difícil. Basta ver, para refrescar nossa memória, a chamada Primavera
Vermelha dos países árabes que descambaram para graves crises institucionais,
conflitos e mortes de civis e para regimes autoritários e de exceção.
32. No Brasil, em meados do ano passado, viveu-se um movimento inédito em tempos
recentes. Mobilizações nacionais, promovidas pelo Movimento Passe Livre,
evidenciaram uma agenda de inúmeros problemas, de insatisfação com as políticas
sociais e urbanas, com os gastos públicos, entre outros. Essa mobilização trouxe
principalmente a juventude para as ruas e revelou a existência de milhares de
organizações de jovens, em especial moradores das periferias das metrópoles. Esses
jovens denunciaram com sua indignação os graves problemas das desigualdades e
exigiram outra atitude do Estado na construção do serviço e do bem público. O susto
das instituições foi em seguida arrefecido e pouco do que se demandou foi
encaminhado. A ausência de resposta institucional a este clamor é uma fenda que se
abre e que pode ter graves consequências futuras. Cabe às instituições, como aos
nossos sindicatos e à Fisenge, serem agentes de mudança, agentes que sustentem a
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transformação porque se renovam e exigem que as instituições do país também sejam
renovadas para ouvir e viabilizar a satisfação da vontade das maiorias.
33. Por isso, parte da tarefa do movimento sindical é fortalecer as instituições, em especial
nossos sindicatos, nossa Federação e nossas centrais sindicais. É urgente que se faça
da nossa atual trajetória de desenvolvimento uma oportunidade de modernização da
vida sindical. Modernização significa sindicatos fortes e representativos, com
representação desde o local de trabalho, com respeito à diversidade político sindical,
bem como enorme capacidade de construção de unidade na luta; com grande
capacidade de organização e mobilização, projeto de formação de militantes, quadros
e dirigentes; indutores de um sistema de relações de trabalho centrado na negociação
coletiva, na ágil solução dos conflitos, no direito de greve e na participação nos
espaços institucionais de representação.
34. Deve-se dizer em alto e bom som: é preciso abrir espaço para a juventude se apropriar
das instituições, que devem ser espaços educativos de luta e transformação. Mais
ainda, nesse nosso meio predominantemente masculino, é preciso abrir espaço para a
participação das engenheiras na vida sindical. A desigualdade também está entre nós e
devemos encontrar os caminhos para superá-la.
35. A transformação deve ser pensada como estratégia que conduz o processo pelo qual se
quer promover o desenvolvimento do Brasil. Da situação presente e da visão
prospectiva, considerando-se o escopo da atuação dos profissionais de engenharia e
das suas organizações sindicais, destacam-se dois grandes eixos aglutinadores de
desafios: (a) a disputa sobre o papel e o caráter do Estado como indutor do
desenvolvimento e (b) o fortalecimento do movimento sindical como ator social que
luta pela transformação na democracia. Esses dois eixos serão tratados nas duas seções
seguintes deste documento.
II. Estado e Desenvolvimento
36. O desenvolvimento é um campo em disputa sobre a regulação das relações sociais de
produção, da distribuição dos recursos e da riqueza e do papel do Estado como agente
econômico. A modernidade na história humana é caracterizada pelas transformações
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econômicas promovidas pelo surgimento e consolidação do modo capitalista de
produção, pelos valores da liberdade e da democracia, fortemente veiculados pelo
liberalismo político e econômico, e pela formação dos Estados nacionais. Nesse
processo, ganharam força as empresas, hoje enormes conglomerados econômicos que
dominam a produção de riqueza no mundo, e o Estado como força política que
controla e coordena as regras (leis), exerce a coerção (força de polícia) e atua como
agente econômico pela oferta de bens e serviços, como demandante pelo poder de
compra e empreendedor por meio de empresas estatais ou públicas. Ao mesmo tempo,
a democracia formal consolidou-se como regime predominante nas sociedades
desenvolvidas para a escolha dos governos (Executivo) e dos legisladores e, portanto,
de diferentes alternativas de caminhos e resultados.
37. Na sociedade moderna sem Estado não há mercado, pois é por meio dele que se
constituem e se asseguram as regras para seu funcionamento. Entretanto, ao mesmo
tempo os agentes econômicos procuram colocar limites para o poder regulador do
Estado, visando à máxima liberdade para produzir e acumular riqueza, bem como
limites na atuação do Estado como agente econômico, seja comprador, provedor de
serviços e bens públicos ou empreendedor. Essa lógica que busca limitar a ação do
Estado mudou o paradigma de produção material de produtos e serviços forjado no
pós Segunda Guerra Mundial, especialmente com a privatização de empresas estatais e
públicas e de bens e serviços urbanos, com a entrada do setor privado em muitos
serviços públicos (saúde, educação, água e saneamento, transporte urbano, entre tantos
outros), fazendo crescer ainda mais a capacidade de produzir riqueza e, ao mesmo
tempo, aumentando a desigualdade social.
38. Neste período, sob o estímulo crescente das forças do capital, vem mudando, também,
a visão das pessoas sobre o que dá sentido à sua própria existência. O padrão de
consumo desenfreado e a aspiração à sua elevação sem limites têm ganhado relevância
cada vez maior na vida contemporânea. O que tem contribuído para exercer uma
gigantesca pressão sobre a natureza, colocando um enorme desafio à existência com
qualidade de vida das futuras gerações. Por isso, o próprio sentido do que venha a ser
desenvolvimento está em disputa e não apenas as vias pelas quais se pode promovê-lo.
39. Considerando que no capitalismo a exploração do trabalho é constituinte do sistema, a
luta social daqueles que buscam outro modo de distribuir a riqueza e colocar limites à
exploração na esfera da produção é travada, além do enfrentamento direto, por
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intermédio da disputa sobre o papel que se quer atribuir ao Estado. Busca-se ampliar a
capacidade do Estado de regular o sistema de produção e distribuição, de exercer o
poder de compra do Estado como indutor da cooperação e de promoção da igualdade
de oportunidades e condições, bem como investir na sua capacidade de agente
econômico empreendedor por meio das empresas estatais / públicas e da oferta de
bens e serviços públicos de qualidade. Regular os limites da exploração do trabalho,
ampliar as possibilidades de produção com uma determinada intencionalidade
distributiva e inibir as oportunidades de acumulação privada e de produção que
ampliem as desigualdades, são tarefas permanentes de uma nação que coloca a
promoção da igualdade como função essencial do Estado.
40. Para os neoliberais, o Estado deve ser mínimo, deixando as forças de mercado atuarem
livremente, ocupando o máximo das atividades econômicas. A competição e a
capacidade competitiva das empresas e de cada economia definirão a capacidade de
produção e a forma de distribuição da riqueza gerada. Sob esta acepção, quanto menos
Estado, melhor funciona o mercado. Desta perspectiva da atividade econômica e do
empreendimento, cabe ao setor privado e ao Estado tão somente criar as condições
favoráveis para tal. As décadas de hegemonia de tal concepção no Brasil tiveram
como resultado, por um lado, muita concentração de renda e riqueza e, por outro, um
forte déficit de qualidade nos produtos, custos unitários elevados, perda de capacidade
de gestão, de controle, de conhecimento, riscos de perda da autonomia, riscos à saúde
e segurança dos trabalhadores, entre tantos outros problemas.
41. Antes que formas de organização social fundadas na igualdade prevaleçam, a
perspectiva de uma menor desigualdade como uma possibilidade em uma economia de
mercado passa pela imposição de limites ao capital, limites à sua liberdade de explorar
o trabalho, e pela promoção de outras formas de distribuir a renda e riqueza geradas
neste modo de produção. A legislação de proteção trabalhista e o incentivo à
negociação coletiva, entre outros, são elementos importantes da regulação das relações
de trabalho e sua taxa de exploração. Por outro lado, a regulação da atividade
econômica e a própria atuação do Estado como agente econômico são formas de
promover e disputar a regulação da distribuição e acumulação. Para tanto, cabe ao
Estado o papel de: (a) regulador geral das relações econômicas e sociais; (b) indutor
de linhas e estratégias de crescimento; (c) promotor e regulador do uso racional e
ambientalmente sustentável dos recursos naturais; (d) animador de relações de
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cooperação, de concorrência e de aprimoramento da capacidade de produção; (e)
fomentador da pesquisa, da ciência e da tecnologia; (f) incentivador da inovação; (g)
investidor na expansão e manutenção da infraestrutura produtiva e social; (h) executor
de políticas sociais de oferta de bens e serviços públicos; (i) dinamizador de políticas
distributivas; (j) promotor e condutor de empresas estatais e de economia mista; (l)
articulador de bancos públicos; (k) provedor de crédito, especialmente de longo prazo,
e regulador da taxa de juro; (l) fomentador econômico de empresas nacionais, de
qualidade dos produtos e serviços privados, especialmente por meio do poder de
compra do Estado; (m) regulador dos serviços públicos concedidos às empresas, em
especial garantidor do equilíbrio entre a remuneração do capital e a modicidade das
tarifas e a qualidade dos serviços.
42. Considera-se que no atual contexto do desenvolvimento econômico brasileiro, ganha
destaque o papel do Estado na oferta de infraestrutura para a atividade produtiva e
social. A expansão da atividade econômica e a sustentação do crescimento são fatores
essenciais para prosseguir na perspectiva da geração do emprego, do incremento da
renda e da redução das desigualdades, inclusive aquelas observadas entre as regiões do
país. O aumento da produção pode, também, impactar positivamente a qualidade dos
bens e serviços oferecidos às pessoas, bem como o nível de preços. E pode permitir,
ademais, uma inserção em melhores condições da economia nacional no comércio
internacional.
43. Contudo, crescer demandará a ampliação da capacidade produtiva com o incremento
da capacidade instalada, bem como dos ganhos sistêmicos de produtividade,
elementos que devem compor uma política de desenvolvimento industrial articulada
com os setores de serviço, comércio e agropecuária. Isso exige que a infraestrutura
produtiva seja adequada em termos de capacidade de oferta e de qualidade.
Adicionalmente, esse crescimento dependerá, em grande medida, da oferta de
qualidade de infraestrutura social (educação, saúde, mobilidade, habitação,
saneamento).
44. Tal esforço, por um lado, dependerá da capacidade do Estado de arrecadar os recursos
fiscais necessários. Sobre este aspecto, é preciso alterar as bases da arrecadação,
através de uma redistribuição da carga tributária, de modo a torná-la progressiva em
relação à capacidade contributiva dos cidadãos e das empresas. Por outro lado,
dependerá da capacidade de alavancar recursos para financiar os investimentos. A
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infraestrutura é demandante de altos investimentos, que têm longo prazo de
maturação, o que, por vezes, afasta o interesse privado. É da lógica do capital buscar
investimentos que tenham baixo risco, alto retorno, no menor prazo possível. Ao
mesmo tempo, é esse tipo de investimento, em infraestrutura e com longo prazo de
maturação, aliado à tecnologia e à formação da força de trabalho, que permite a
obtenção de ganhos expressivos de produtividade. Nestes termos, os investimentos em
infraestrutura exigem a presença do Estado, ainda que com a participação privada, seja
porque compreende sua função econômica e seu caráter estratégico para a nação; seja
por sua função social, garantindo o provimento do serviço e o acesso aos bens nas
regiões com menor taxa de retorno ou mais distantes.
45. Cabe ao Estado investir na infraestrutura econômica, que apoia a produção e a
circulação, e na infraestrutura social e urbana que desempenha importante papel na
estruturação dos domicílios e na qualidade de vida das famílias. Cabe também ao
Estado investir em infraestrutura que permita a integração regional com os países
latino-americanos, com todos os aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais
que daí derivam. Tais investimentos englobam os segmentos de energia, transporte e
logística (portos, rodovias, aeroportos e ferrovias), petróleo, gás e biocombustíveis,
telecomunicações, água e saneamento, habitação, coleta de resíduos, tecnologia da
informação e comunicações, e transporte urbano.
46. Nessa perspectiva destacam-se como desafios gerais:
a. Ampliar a capacidade do Estado como financiador / investidor em
infraestrutura econômica / produtiva e social e urbana, especialmente a atuação
do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e dos Bancos de
Desenvolvimento Regional (BRDE, BASA, BNB etc.).
b. Rever e aprimorar os marcos regulatórios da relação entre o setor público e a
iniciativa privada nas concessões e regulação da atividade empresarial nos
serviços ao público.
c. Aperfeiçoar a capacidade institucional do Estado para promover e executar os
investimentos, especialmente com a celeridade dos processos de licenciamento
das obras, garantida a segurança ambiental e social do projeto.
d. Rever o pacto federativo redefinindo as atribuições entre os entes federados no
que tange ao investimento, à elaboração e à execução de projetos e de
licenciamento.
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e. Fomentar os elos que unem o desenvolvimento da tecnologia e a inovação
empresarial, especialmente no apoio à constituição de empresas nacionais, que
dominem e desenvolvam tecnologia.
f. Ampliar a capacidade de elaborar projetos.
47. Essas diretrizes gerais devem promover a capacidade do Estado de: 1) estruturar a
sustentação e ampliação da oferta de energia para a atividade econômica e o consumo
social; 2) ampliar, coordenar e integrar a estrutura de comunicação e transporte; 3)
promover reformas urbanas capazes de elevar a qualidade de vida nas cidades e 4)
incentivar e promover condições adequadas para a produção alimentar. Esses são
quatro destaques que propomos priorizar na atuação das nossas entidades para disputar
o sentido do desenvolvimento brasileiro.
II.1. Energia e Desenvolvimento
48. A energia tornou-se fator constituinte da forma de vida e de produção da sociedade
moderna. A urbanização do modo de vida – mais de 80% das pessoas já vivem em
cidades no Brasil -, a industrialização das atividades econômicas, as tecnologias de
informação e comunicação, as complexas redes integradas de diferentes modais de
transporte, a tecnologia associada diretamente à vida na medicina e nas inúmeras
outras dimensões sociais e econômicas, colocam a produção de energia como
elemento estratégico para o desenvolvimento e a segurança das nações. Grande parte
das guerras que se propagam no mundo atualmente ocorre pela disputa sobre a
energia, especialmente de origem fóssil.
49. Recentemente o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2022) foi aprovado pelo
Ministério de Minas e Energia. Nele, estão previstos investimentos da ordem de R$
1,1 trilhão nas áreas de petróleo, gás natural, energia elétrica e bicombustíveis. O setor
de petróleo e gás concentrará R$ 835 bilhões, quase 73% dos investimentos, sendo R$
625 bilhões para a exploração e produção e R$ 201 bilhões para a área de derivados de
petróleo. Isso deve elevar a produção a 5,5 milhões de barris/dia em 2022 e a 189
milhões de metros cúbicos de gás/dia. Para o mesmo período, estima-se investimento
de R$ 56 bilhões em biocombustíveis.
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Petróleo e Gás
50. O petróleo e o gás foram fontes energéticas indutoras de um padrão de
desenvolvimento tecnológico, de materiais e de equipamentos e máquinas que
transformaram a humanidade no último século. Associadas às outras fontes de energia
transformaram-se em fator essencial da atividade econômica. A dependência do
combustível fóssil como fonte básica de energia2 adquire cada vez mais dimensões
dramáticas pelo que representou, e continua a representar, nos conflitos bélicos e pelo
que promove de impactos ambientais sobre o clima, a poluição atmosférica e de
biomas. A urbanização acelerada aumenta de forma significativa a demanda por
energia. Cada vez mais, o planejamento energético se torna uma dimensão estratégica
na política de desenvolvimento e um aspecto central na soberania das nações.
51. No Brasil, a história da indústria nacional de petróleo e gás é, em grande medida, a
história da Petrobrás, uma decisão de governo, tomada em meados do século XX, que
deu ao Estado brasileiro a responsabilidade de monopólio no cuidado das reservas e
do seu uso. Como riqueza essencial esteve, e está, no centro das disputas pelos
vultosos ganhos que gera. A partir dos anos 1990 enfrentou-se o debate da
privatização do segmento e até hoje continuamos a enfrentar no Brasil o debate sobre
a interação entre o capital estatal e privado no setor. As descobertas e operação da
camada do pré-sal abriram novas alternativas para o país, consolidando um patamar
expressivo de reservas que permitem, potencialmente, promover muitas realizações.
Mas quais?
52. Trata-se de um recurso finito e mundialmente estratégico. Não há segunda safra.
Extrair as reservas deve estar associado ao sentido e perspectivas estratégicas do seu
uso aplicado (usar no que e para que?), bem como sobre a destinação da riqueza
gerada na comercialização. Como patrimônio da nação, o sentido deve ser na
perspectiva de uso no longo prazo para geração de riqueza com alta densidade de
agregação de valor e a riqueza gerada usada para criar e sustentar um padrão de
desenvolvimento igualitário, promover a educação de qualidade para todos, investir na
capacidade de desenvolvimento tecnológico e inovação, nas novas fontes de energia e
2 Segundo estimativas da Abrelpe (2011) a força motriz em termos energéticos está assim distribuída no Brasil: 39% petróleo e gás; 10% gás natural; 16% biomassa de cana-de-açúcar; 15% hidráulica; 10% lenha e carvão vegetal; 5% carvão mineral; 4% Lixívia e outros renováveis; 1% urânio.
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na recuperação e preservação do meio ambiente. Esse recurso deve ser usado para
ampliar / preservar velhos e novos recursos naturais, promover o desenvolvimento
humano, cultural e tecnológico, e preservar as diferentes formas de vida,
considerando-se que essa concepção do uso do recurso é em si um ativo político
estratégico para a geopolítica e de relações internacionais, inclusive comerciais, que o
país realiza. Por isso, é fundamental ter o controle social sobre o recurso, adequando a
legislação nesse sentido, submetendo a velocidade de seu uso ao debate público e ao
interesse do desenvolvimento nacional. Para tanto, é fundamental considerar, e não se
pode subestimar, a capacidade de influência dos grupos de interesses, econômicos e
geopolíticos internacionais, sobre os países produtores.
53. Outra dimensão estratégica para uma perspectiva de desenvolvimento é a articulação
dos investimentos orientados e apoiados para a constituição da capacidade de
produção nacional, incluindo principalmente a internalização e o desenvolvimento de
tecnologia. Isso deve ser central na estratégia de conformação da cadeia de
fornecedores do sistema. Deve-se ter cuidado especial para uma possível maquiagem
que as empresas multinacionais fazem para cumprir as metas de conteúdo nacional,
contidas atualmente na legislação e na regulação. Essas questões devem ser
trabalhadas desde a pesquisa, extração, desdobrando-se para toda a cadeia
(plataformas, refinarias), setor metalúrgico, naval, indústria de plásticos, no setor da
construção, entre outros.
54. Essa indústria, e aqui se destaca o papel da Petrobrás, tem papel estruturante na área
de pesquisa, tecnologia e inovação de produtos e processos com taxas superiores a
quatro vezes a média da indústria brasileira, ainda assim abaixo do padrão
internacional do setor.
55. A Petrobrás, de maneira exemplar nessa perspectiva, já desenvolveu tecnologia,
repassando às empresas, criando rede de milhares de empresas industriais, de serviços
e fornecedores, que difundiam inovação para os demais segmentos da economia, com
robustos impactos para o desenvolvimento da engenharia nacional. Há que recuperar
essa política, seguida por todos aqueles países que se desenvolveram, apostando na
constituição de grandes, médias e pequenas empresas nacionais, articuladas na cadeia
produtiva e com apoio para tal. É preciso distinguir o capital nacional do internacional
e dar tratamento diferenciado.
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56. Nos anos 1990, esse modelo foi alterado e a garantia da preferência nacional foi
revisada, observaram-se mudanças que transformaram as empresas em importadoras
de equipamentos produzidos no exterior, outras foram incorporadas às multinacionais.
Os efeitos perversos são inúmeros e ainda se fazem sentir, apesar das mudanças já
implementadas a partir da segunda metade dos anos 2000: perda de capacidade
tecnológica, dependência externa, remessa de recursos para o exterior e impactos
negativos sobre as contas externas. Ampliar a produção sem uma forte capacidade da
indústria de transformação nacional pode significar ampliar a desnacionalização da
produção e a dependência tecnológica. É urgente criar capacidade de fiscalizar as
empresas que atuam no setor e exigir o pleno cumprimento dessas diretrizes.
57. Do ponto de vista da agregação de valor e da geração de empregos, cabe investir na
capacidade de desenvolver e produzir produtos finais, fazendo dessa atividade uma
alavanca para a geração de emprego e renda. São, principalmente, as pontas da extensa
cadeia produtiva do petróleo e gás que geram a maior quantidade de empregos, como
é o caso dos setores naval e metalúrgico, a montante, e da indústria plástica, a jusante.
Não basta explorar e produzir petróleo e gás, voltando a produção meramente à
exportação. Apesar de sua importância na geração de divisas, o que há de estratégico,
e pode ser um passaporte para o futuro, é o arco de possibilidades que se abrem para a
indústria nacional no fornecimento de máquinas e componentes, bem como na
transformação das matérias-primas derivadas dos hidrocarbonetos.
58. O país carece de bons empregos, com elevada produtividade e que paguem bons
salários. Esta pode ser uma oportunidade, mas, para tanto, é preciso propagar as
melhores práticas em termos de remuneração, duração do vínculo, condições de saúde
e segurança no trabalho, dentre outras dimensões. Neste aspecto, preocupa
sobremaneira o atual padrão no setor de petróleo e gás, baseado intensivamente na
terceirização das atividades, visando à redução de custos por meio de condições de
trabalho precarizadas e remuneração rebaixada nas empresas terceiras.
59. Diretrizes sugeridas:
a. Ampliar de maneira vigorosa os sistemas de controle pelo Estado brasileiro das
reservas e de seu uso.
b. Criar mecanismos sociais de controle sobre as reservas de petróleo e seu uso,
articulando organizações sociais, inclusive sindicais, para processos e
movimento de controle autônomo dessas reservas.
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c. Conquistar ampla participação no uso e controle do Fundo Social para a
aplicação dos royalties e demais participações.
d. Conquistar participação no Conselho Nacional de Política Energética.
e. Ampliar a capacidade de extração e refino, modernizando os parques de refino.
f. Avaliar a perspectiva do biodiesel em termos de escala de produção, oferta de
matéria prima, crédito, tecnologia, processamento e armazenamento, e os
impactos sobre o preço da terra e a produção alimentar.
g. Promover a racionalização do consumo.
Energia Elétrica
60. Considerando a dimensão do território brasileiro, o tamanho populacional e a
complexidade da economia, colocados sob a perspectiva do desenvolvimento, há forte
demanda, o que exige sólida estratégia de geração energética. No Brasil, 87% da
geração elétrica é baseada em fontes renováveis. As empresas estatais são
responsáveis por 67% da oferta de eletricidade.
61. O desafio é garantir a oferta de energia para atender à demanda nos padrões correntes,
em especial aquela decorrente do crescimento, de sorte a sustentá-lo e incentivá-lo,
bem como para atender ao padrão de desenvolvimento desejável – o que diz respeito
não apenas à segurança energética, como também ao modelo de matriz energética que
se quer.
62. O Plano de Desenvolvimento Energético estima investimento da ordem de R$ 260
bilhões até 2022 na geração, distribuição e transmissão de energia elétrica (R$ 200
bilhões somente na geração de energia), atingido 183,053 mil megawatts em 2022, o
que representa um aumento de 53%. Há, ainda, a previsão de investimento de R$ 60 bi
na transmissão (aumento de 104 para 158 mil quilômetros de extensão). Estima-se
também o crescimento da ordem de 12% a.a. das fontes alternativas de geração de
energia. Mais de 80% da energia é gerada por hidroelétricas. Estima-se que a
participação das hidroelétricas cairá para 76% na matriz, ao passo que as fontes
alternativas dobrarão, chegando a 16% na matriz.
63. A produção de energia solar fotovoltaica, embora ainda não seja expressiva no país,
vem obtendo investimentos que permitem vislumbrar a possibilidade de uma trajetória
semelhante àquela percorrida pela energia eólica. Ambas requerem ganhar escala,
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especialmente com o desenvolvimento em pesquisa, tecnologia e inovação, e podem
ser indutoras de uma cadeia produtiva nacional. Especificamente na energia eólica, o
país vem obtendo importantes avanços, inclusive no provimento de equipamentos, e
pode se consolidar como a segunda fonte mais importante de geração de energia.
64. A fronteira de expansão em curso ocorre na Região Norte, o que coloca relevantes
questões ambientais que exigem solução técnica, social e ambiental adequadas e
inovadoras. Assim foi, por exemplo, a escolha das grandes hidroelétricas a fio d’água,
que dispensam a construção de grandes reservatórios, mas que, de outro lado, não
“reservam” energia e exigem estratégia de complemento. Nesse sentido, as usinas
térmicas passam a ter importância renovada e se abre a possibilidade das usinas a gás
e nuclear. Desta forma, amplia-se a necessidade de complementaridade com outras
fontes primárias de energia.
65. Uma das questões que aparece no debate é a contradição existente entre os baixos
custos na geração da energia e as altas tarifas praticadas no país, uma das mais caras
do mundo. É uma constante na fala empresarial o peso do preço da energia na
formação dos custos da economia. Observando-se países com alta capacidade de
produção energética baseada na hidroeletricidade como, por exemplo, o Canadá, o
nosso custo é elevado. O Brasil é um dos poucos países que tem capacidade de
gerenciar seus níveis de reservas e produção. Desde a mudança do modelo
desencadeada nos anos 1990, baseada na experiência inglesa, as funções de geração,
transmissão, distribuição e comercialização foram reorganizadas. Tais mudanças
foram decisivas na ocorrência do racionamento de energia, em 2001, e levaram a uma
série de alterações no marco regulatório a partir de 2003. Contudo, a despeito das
mudanças introduzidas, o preço da energia para o consumidor quase dobrou em termos
reais. Ademais, o modelo que regula o setor elétrico brasileiro não reflete suas
características físicas: sistema interligado nacionalmente; cerca de 80% de geração
hídrica; e operação otimizada segundo situação hidrológica. Procura mimetizar uma
situação de mercado, sendo um monopólio natural. Coloca-se a necessidade de
enfrentamento do debate sobre a revisão do modelo, pois a experiência tem mostrado
que o mesmo não é técnica e economicamente sustentável.
66. Dada a dependência da energia para o modo de vida presente e prospectado para o
futuro, torna-se estratégico, ainda, a formação da consciência do consumidor,
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informado sobre as fontes de energia renováveis, custos e possibilidades, bem como
no uso responsável.
67. Diretrizes sugeridas:
a. Repensar estrategicamente a matriz energética brasileira, considerando,
também, os aspectos relacionados à qualidade e não somente aos preços.
b. Sustentar os investimentos na ampliação da capacidade com predominância
nas fontes renováveis.
c. Investir em projetos que articulem as dimensões de engenharia, financeira,
jurídica, ambiental e regulatória, para dar mais segurança política e social, bem
como mais celeridade e probidade às obras.
d. Investir na formulação de projetos voltados a melhorar a eficiência do sistema,
inclusive no que se refere à sua interligação.
e. Favorecer o desenvolvimento de tecnologia e inovação em energia solar
fotovoltaica, eólica, de biomassa e gás natural, estimulando o surgimento de
empresas nacionais que desenvolvam e internalizem tecnologia.
f. Apoiar o desenvolvimento tecnológico para buscar a eficiência de máquinas e
equipamentos e de toda estrutura produtiva em todos os setores econômicos da
produção e para o consumidor final.
g. Elaborar estudos aprofundados sobre o atual modelo regulatório do sistema
elétrico brasileiro.
h. Elaborar proposta de novo modelo que reflita as reais características físicas do
sistema e permita a apropriação dos seus benefícios potenciais pela sociedade
brasileira.
i. Realizar uma análise criteriosa das medidas que visaram à redução da tarifa e
seus impactos em cada situação específica e concreta.
j. Acompanhar e atuar criticamente nos processos de relicitação das usinas
devolvidas.
k. Ampliar a oferta de energia nuclear.
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II.2. Políticas urbanas: saneamento e habitação
Saneamento
68. No saneamento, a presença do Estado é fundamental. A oferta de água tem função
social e é um monopólio; não deve ser tratada como uma mercadoria, pois é um bem
essencial à vida e de caráter público. Além disso, é fundamental a participação do
Estado, porque tal setor combina complexas atividades, da coleta, transporte,
tratamento à destinação final do esgoto e resíduos sólidos, passando pelo
abastecimento de água tratada e drenagem urbana, com forte impacto sobre a
qualidade dos recursos naturais do país, especialmente dos recursos hídricos.
69. O Brasil convive com 38%, em média, de perdas no sistema de distribuição de água e
metade das cidades não faz controle da qualidade da água. Atualmente, 105 milhões
de brasileiros não têm acesso a sistema de esgoto tratado; 48% têm coleta de esgoto,
mas somente 38% do esgoto são tratados e 85 milhões de habitantes não dispõem de
nenhuma coleta. De acordo com o Atlas da Agência Nacional de Águas, 55% dos
municípios podem sofrer desabastecimento de água nos próximos quatro anos se não
forem investidos R$ 70 bilhões na ampliação e adequação nos sistemas de tratamento
de água, uso de novos mananciais e tratamento de esgoto para evitar contaminação de
mananciais já em uso. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), de cada R$
1 investido em saneamento há um retorno de R$ 4 em saúde.
70. Embora o quadro atual seja ainda desolador, o setor de saneamento vem passando nos
últimos anos por importante processo de transformação, principalmente em razão do
Plansab e da Lei de Consórcios Públicos, que possibilita a gestão associada do
saneamento. Em razão dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC3). Para que as metas contidas no Plansab sejam cumpridas, por exemplo, em 20
anos 93% das áreas urbanas terem esgotos coletados e tratados, é preciso um sistema
amplo de cooperação entre os entes federados (União, estados e municípios) e a
iniciativa privada (atualmente 75% da população é atendida por empresas estatais,
20% pelas prefeituras e 10% pela iniciativa privada).
3 De fato, desde a criação do Ministério das Cidades, dos Conselhos das Cidades e com a aprovação da Lei 11.445/2007, vem sendo erigida uma estrutura institucional para o enfrentamento deste enorme desafio.
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71. Apesar de nos últimos anos ter ocorrido aumento expressivo dos recursos disponíveis
para o investimento no setor, os mesmos não se convertem em obras por ausência ou
baixa qualidade dos projetos, morosidade no planejamento, falta de pessoal capacitado
e déficit na gestão das empresas. Muitos investimentos estão paralisados por erros nos
projetos, problemas no licenciamento ambiental e na regularização fundiária. Há
recurso, mas há necessidade de bons projetos, pois 45% do dinheiro disponível
ficaram parados nos cofres públicos, uma vez que os municípios não conseguem
apresentar projetos de saneamento. Há total carência nos municípios de especialistas
nessa área.
72. O Plansab estima em R$ 500 bilhões o investimento necessário para universalizar o
atendimento de saneamento básico no país até 2033. Há metas em termos de melhora
da qualidade e eficiência da perda de água (em determinadas regiões a perda é de
60%). De outro lado, é necessário ampliar a capacidade de restringir os desperdícios
nas atividades produtivas, inclusive na produção agrícola.
73. Diretrizes sugeridas:
a. Garantir o atendimento das metas de universalização.
b. Incentivar acordos de cooperação para a transferência de tecnologia entre as
empresas públicas.
c. Investir no apoio à elaboração de planos municipais de saneamento e projetos
nos pequenos municípios.
d. Incentivar a cooperação entre os municípios (consórcios).
e. Ampliar o conhecimento em novas tecnologias para o segmento.
f. Atuar no Fórum Mundial da Água em 2018.
g. Implementar políticas de conscientização sobre o uso racional da água e sobre
sistemas de esgotamento sanitário e resíduos sólidos.
h. Desenvolver incentivos às empresas para serem eficientes no uso dos recursos
hídricos.
i. Incentivar a participação crescente da sociedade civil para o exercício do
devido controle social sobre este processo.
74. Mais de 80 % da população brasileira vive nas cidades, concentração que se acentuou
nas últimas três décadas do século passado. As cidades se formaram e cresceram com
a expansão da economia capitalista e todas suas contradições. Produzem e reproduzem
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a pobreza, concentrando-a no espaço urbano, e difundem as desigualdades na medida
em que incrementam de maneira extraordinária a produção da riqueza. As cidades são
constructos que expõem o cerne contraditório do sistema, os extremos da desigualdade
e, ao mesmo tempo, evidenciam que é possível outro caminho e novos sentidos para a
vida humana. O encontro que a cidade promove permite pensar novas possibilidades
para laços de cooperação e solidariedade.
75. As cidades se constituem em um complexo desafio na medida em que favorecem a
concentração de renda e de poder, a degradação do meio ambiente, a privatização do
espaço e dos serviços públicos, a geração da exclusão, pobreza, segregação social e
espacial. Ao mesmo tempo, em princípio, a cidade é essencial para um
desenvolvimento igualitário ao oferecer, potencialmente, condições para a igualdade
ou, dito de outra maneira, igualdade de condições de acesso. Mas, ao privar a maioria
da população da possibilidade de atender suas necessidades básicas, aqui entendidas
como direitos à moradia, à mobilidade, à educação e à saúde, à cultura e ao trabalho,
entre outros, as cidades brasileiras não oferecerem condições e oportunidades
minimante equitativas.
76. Na democracia e no Estado de direito e liberdade, essas contradições favorecem o
surgimento de lutas sociais urbanas como aquelas que acompanhamos há décadas nas
associações de moradores, nos movimentos pelo transporte, pela creche, pelo posto de
saúde, pela moradia e pelo saneamento. No ano passado, eclodiu um amplo
movimento de massa nas ruas das cidades brasileiras. Esse movimento talvez tenha
evidenciado, especialmente pela ampla participação da juventude, a indignação com a
desigualdade que as cidades brasileiras promovem, seja pelas carências, seja pela
baixa qualidade dos serviços. O espaço urbano reúne e segrega. Desenvolver o Brasil
é transformar os espaços urbanos.
77. Desde o Fórum Social Mundial, realizado em 2001, os movimentos sociais no Brasil e
no mundo colocam o desafio de construir um modelo sustentável de sociedade e vida
urbana, baseado nos princípios da solidariedade, da liberdade, da igualdade, da
dignidade e da justiça social, com respeito às diferenças culturais, com o equilíbrio
entre o urbano e o rural e com o cumprimento da função social da cidade e da
propriedade.
78. Com expressa a Carta Mundial pelo Direito à Cidade:
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i. “... o direito à cidade democrática, justa, equitativa e sustentável pressupõe o
exercício pleno e universal de todos os direitos econômicos, sociais,
culturais, civis e políticos previstos em Pactos e Convênios internacionais de
Direitos Humanos, por todos os habitantes tais como: o direito ao trabalho e
às condições dignas de trabalho; o direito de constituir sindicatos; o direito a
uma vida em família; o direito à previdência; o direito a um padrão de vida
adequado; o direito à alimentação e vestuário; o direito a uma habitação
adequada; o direito à saúde; o direito à água; o direito à educação; o direito
à cultura; o direito à participação política; o direito à associação, reunião e
manifestação; o direito à segurança pública; o direito à convivência pacifica
entre outros.
ii. Entretanto, além de garantir os direitos humanos às pessoas, o território das
cidades, seja urbano ou rural, é espaço e lugar de exercício e cumprimento
dos direitos coletivos como forma de assegurar a distribuição e
uso equitativo, universal, justo, democrático e sustentável dos recursos,
riquezas, serviços, bens e oportunidades das cidades. Dessa forma, é
relevante ressaltar que a Carta de direitos coletivos que estão sujeitos os
habitantes das cidades: o direito ao meio ambiente; o direito a participação
no planejamento e na gestão das cidades; o direito ao transporte e
mobilidade pública; o direito a justiça”.
79. Destacaremos três dimensões que consideramos urgentes e que devem ser objeto de
atuação articulada da Fisenge: mobilidade urbana, habitação e saneamento.
Habitação
80. A cidade foi privatizada, no sentido em que sua lógica de organização e
funcionamento e a própria ocupação do espaço urbano foram capturados pelos
interesses privados e do capital. Este fato acarreta em graves consequências para a
vida em sociedade, dada a quase total predominância do espaço urbano como locus de
convivência e de produção de bens e serviços. A disputa sobre o papel do Estado nas
funções de provedor de bens e serviços públicos ou de regulador da atividade privada
que presta esses serviços, está no centro da vida política da modernidade. Nas últimas
décadas do século passado, ganhou predominância a visão neoliberal de que cabia ao
Estado delegar ao setor privado a realização desses serviços e prover os bens,
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regulando e fiscalizando. No espaço urbano se observa, de maneira dramática, as
contradições entre as dimensões públicas e a ação privada no provimento de serviços e
no acesso aos bens.
81. A terra e a habitação fizeram parte desse processo. Prover moradia passou a ser
atribuição do mercado fortalecido pela lógica de que a propriedade privada é a melhor
alternativa para todos. Partindo-se desse princípio, as políticas públicas subsidiaram
essa lógica. Entretanto, isso pressupõe capacidade econômica para acessar o direito –
o direito será comprado – com a capacidade econômica decorrente do emprego ou da
ocupação e das ofertas de crédito colocadas pelo Estado e pelo mercado. Na esteira
dessa lógica emergiram as políticas de habitação de interesse social público, hoje
vistas pela sociedade, predominantemente, como a moradia para os pobres, aqueles
que não têm capacidade de adquirir seu direito no mercado.
82. A terra urbana no Brasil foi toda privatizada e criou um setor econômico que promove
o grande negócio do setor imobiliário urbano. O espaço físico para existir e viver
precisa ser comprado, ser propriedade privada.
83. Essa lógica também transformou em grande negócio a produção das habitações de
interesse social, bem como as regras dos inquilinos se constituíram para possibilitar o
acesso ao espaço/bem do outro. Aqueles que estão totalmente à margem do núcleo dos
proprietários, pobres, miseráveis ou sem renda, ocupam terrenos e, muitas vezes, são
despejados, constroem moradias precárias, ocupam e adensam cortiços e outras
inúmeras formas de existir no espaço urbano.
84. O Estado tributa as propriedades, financia a construção e a compra de terreno e
moradia. E abre-se o campo de disputa sobre a posse, a propriedade, os critérios de
acesso – juros e prazos de financiamento – bem como qual a estrutura tributária
arrecadará impostos para financiar as atividades públicas. Tudo está em disputa,
inclusive a qualidade dos serviços e bens públicos.
85. A posse dos imóveis é “valorizada” pelo conjunto de benfeitorias urbanas que, de
forma geral, cabem ao poder público prover: acesso à água, saneamento e energia, vias
públicas e transporte coletivo, iluminação pública, coleta de resíduos, oferta de creche,
saúde, escola, segurança pública, espaços de lazer, esporte e cultura, entre outros.
86. A história da política habitacional no Brasil estruturou-se nos moldes que temos hoje a
partir da década de 40, desde os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) e, no
regime militar, com a primeira política nacional de habitação com o Banco Nacional
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de Habitação (BNH - 1964 a 1986), que financiou 25% das moradias construídas no
país, o que representava 4,3 milhões de novas moradias, das quais quase 60%
financiadas pelo FGTS. Nesse período, o Brasil se urbanizou, saindo de 11 milhões de
pessoas vivendo em cidades (1950) para mais de 125 milhões (2000).
87. A luta pela moradia ganha base social e os movimentos populares que emergem na
década de 70, trazem a centralidade da luta pela moradia, associada à luta por
transporte público, creche e escola, posto de saúde, posto policial, saneamento e
acesso à água, a regularização de loteamentos. A participação social na formulação
das políticas públicas ganhou nova envergadura com a constituição do Conselho
Nacional das Cidades e da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, bem como
das Conferências das Cidades. Criou-se o Crédito Solidário (2004), o PAC
Urbanização de Favelas (2007) e o Programa Minha Casa Minha Vida (2009), entre
outras medidas.
88. O IPEA estimou para 2012 um déficit habitacional de 8,5%, o que representa 5,2
milhões de residências (em 2007 estimava-se um déficit de 10%), sendo 85%
localizados em espaço urbano.
89. As atribuições entre os entes federados colocam diversos problemas e desafios para
executar políticas nesse campo, o que, muitas vezes, agravam as desigualdades no
acesso aos recursos para promover essas políticas. São os municípios mais pobres que
enfrentam graves dificuldades para acessar aos programas. Por outro lado, são as
regiões metropolitanas que concentram os maiores problemas em termos quantitativos
– espaço e pessoas – e que exigem aporte de recursos expressivos – financeiros e de
poder de regulação – para enfrentar o problema.
90. Diretrizes sugeridas:
a. Garantir condições equitativas para o acesso à moradia com todos os subsídios
para tal - esta é uma política redistributiva essencial.
b. Garantir equidade no acesso e qualidade de todos os bens e serviços públicos
relacionados ao espaço urbano da moradia e da vida social.
c. Regular o espaço urbano por meio de planos diretores e política tributária
urbana que enfrentem o problema da especulação.
d. Apoiar políticas de autoconstrução condizentes com o acesso digno ao direito à
moradia.
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e. Promover participação social de qualidade em todos os Fóruns e Conselhos
para disputar a regulação e os recursos destinados à política habitacional.
f. Assegurar a implementação da lei de assistência técnica gratuita na produção
habitacional
II.3. Infraestrutura de Transporte, Mobilidade Urbana e Telecomunicações
91. O investimento em infraestrutura de logística e transporte, em todos os modais,
repercute diretamente sobre a produtividade e a formação dos custos de produtos e
serviços, pela capacidade de escoamento da produção, pela possibilidade de realização
dos serviços e pelo deslocamento da população. Na área de comunicação, além das
inúmeras possibilidades de colocar pessoas, governos e empresas em contato, o
investimento é fundamental para possibilitar a difusão dos produtos e serviços, bem
como favorecer a comercialização e propiciar a difusão de tecnologia, a gestão e os
processos educacionais e culturais, além de ser fundamental à segurança nacional.
Essas duas dimensões são de grande importância para a obtenção de incrementos na
produtividade e redução nos custos de produtos e serviços, assim como na difusão
tecnológica.
Mobilidade Urbana
92. É urgente, porque é dramática, a situação de colapso das condições de deslocamento
das pessoas e dos produtos nas cidades brasileiras. Com o incremento da renda e do
emprego, o problema aumentou pois, sem sistema público de transporte coletivo
decente, a alternativa do transporte individual faz, cada dia mais, as cidades travarem.
A cidade espraiada, que concentra emprego, o provimento de serviços essenciais e as
opções de lazer no centro e a moradia na periferia, entrou em colapso. Urge a
concepção de planos que reorientem os investimentos no espaço urbano, favorecendo
a heterogeneidade na ocupação do espaço.
93. Após transitar por 17 anos, finalmente, entrou em vigor a Lei de Mobilidade Urbana,
que dá prioridade ao transporte coletivo (por exemplo, estabelecendo a ocupação das
vias proporcional à demanda), atribui maiores responsabilidades às Prefeituras e exige
planos a serem elaborados em três anos. Trata-se de um enorme desafio, considerando
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o estado atual dos executivos municipais e sua capacidade para elaborar ou mesmo
contratar a elaboração de tais planos junto a consultorias especializadas.
94. No Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), há vários investimentos previstos
e em andamento para a construção de corredores de ônibus, monotrilhos e metrô,
inclusive com recursos ampliados depois das manifestações de junho de 2013. Há
obras de expansão de avenidas, ligações viárias, sistemas de ônibus rápido (BRT) e
veículos leves sobre trilhos (VLTs). É preciso apostar em planos que desenvolvam
uma rede integrada de transporte público com os diferentes modais disponíveis. O
paradigma precisa mudar para uma concepção de estruturação do sistema de
transporte em rede, que integre a mobilidade às dimensões da moradia, do trabalho, da
escola e do lazer. Além disso, é preciso alterar a lógica mercadista atual que preside a
oferta do transporte coletivo imputando ao usuário, em geral, as pessoas de mais baixa
renda, o ônus maior de seu financiamento. Trata-se de um serviço essencial e como tal
deve ser encarado.
95. A oferta de sistema de transporte coletivo exigirá medidas polêmicas como a restrição
para uso e acesso a áreas com o automóvel, limite de garagens, menos vagas nas ruas,
por exemplo. De outro lado, favorecer os modos não motorizados de transporte, como
o uso de bicicletas, com ciclovias e proteção ao ciclista; como os deslocamentos a pé,
com a disponibilidade de calçadas em boas condições de uso e com acessibilidade. Por
sua vez, o uso de hidrovia nos rios urbanos soma-se aos exemplos da capacidade de
imaginar transformações na mobilidade.
96. Esses investimentos exigem continuidade com perspectiva de longo prazo para
transformar a situação presente do transporte público. Vale destacar o papel que esses
investimentos têm sobre a indústria, em especial se estiverem acoplados ao programa
de conteúdo nacional, seja para o emprego, seja para o domínio e desenvolvimento de
tecnologia para uma questão estrutural da vida moderna. O (des)arranjo atual, em
torno do transporte individual motorizado, com todos os interesses que envolve,
precisa ser alterado.
97. A questão da mobilidade está associada a outros problemas e desafios: a questão do
tempo diário gasto (desperdiçado) no deslocamento moradia / trabalho / escola /
moradia; os efeitos sobre a poluição atmosférica (de 70% a 90% dos poluentes do ar
são produzidos por veículos) e sobre o clima; a poluição sonora; as vítimas da
violência no trânsito; todos estes elementos que impactam a saúde, como doenças
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respiratórias, problemas cardíacos, aumento da pressão arterial, depressão e problemas
reprodutivos, além das lesões e mortes causadas por acidentes.
98. Há que processar uma mudança de cultura que desprivatize o espaço urbano, seja
reocupando o centro, seja descentralizando as atividades econômicas, investindo em
espaços e transporte públicos e incentivando as caminhadas e o uso da bicicleta. Estas
são algumas maneiras de incentivar as pessoas a se movimentarem mais, recuperando
as ruas como um espaço público e prazeroso.
99. Infelizmente, a experiência das obras urbanas de mobilidade associadas à realização
da Copa do Mundo tem evidenciado vários exemplos de descaso e falta de
compromissos efetivos com essa política de mobilidade urbana. Ao final, com atrasos
e cancelamentos, vários dos projetos efetivados irão beneficiar o transporte individual.
Esta é mais uma questão para a qual faltou controle social efetivo e compromisso dos
gestores públicos com as metas e políticas públicas que transformariam a realidade
atual. De toda sorte, as enormes pressões sociais para a melhora da mobilidade urbana
colocam a oportunidade para o enfrentamento efetivo desse desafio.
100. Diretrizes sugeridas:
a. Priorizar, efetivamente, o transporte coletivo.
b. Assegurar a transparência e os espaços de participação necessários ao exercício
do controle social.
c. Cobrar das Prefeituras os Planos de Mobilidade Urbana, conforme prevê a Lei
de Mobilidade Urbana.
d. Cobrar das Prefeituras a elaboração ou atualização do Plano Diretor coetâneo
com a desprivatização do espaço urbano.
e. Promover o debate sobre as alternativas de mobilidade urbana, as novas
concepções de planejamento urbano associado ao objetivo de recuperar o
espaço e sobre serviço público que integre e favoreça a cooperação e a
solidariedade.
f. Investir na capacidade interna das empresas de produzir tecnologia para o
desenvolvimento de diferentes modais de transporte.
g. Rever as atribuições dos entes federados com a questão do transporte urbano.
h. Criar novos mecanismos de financiamento aos investimentos e manutenção
dos sistemas. Pode-se considerar que parte dos recursos deveria provir de
quem ocupa o espaço (via) público - proprietários de automóveis, por exemplo.
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Transporte
101. O tamanho do território brasileiro impõe o grande desafio de integrá-lo, por
meio de uma malha de transporte que permita deslocar pessoas e levar mercadorias.
Observado a partir da perspectiva do enfrentamento das desigualdades, a dimensão do
transporte deve propiciar condições de acesso às diversas regiões, interligando as
pessoas e propiciando o escoamento e circulação da produção em todo o país. Além
disso, por razões econômicas e geopolíticas, entre outras, impõem-se o desafio
adicional de acelerar e a construção da infraestrutura necessária à integração física aos
demais países do continente sul-americano.
102. Durante décadas, privilegiou-se o modal de transporte rodoviário, gerando uma
situação de desfuncionalidade e irracionalidade econômica não mais sustentável.
Doravante, o planejamento estratégico do sistema de transporte deve considerar a
complementaridade dos modais aéreo, ferroviário, rodoviário, aquaviário e navegação
de cabotagem, desenvolvendo, segundo as disponibilidades da natureza e de seus
obstáculos, cada modal segundo suas vantagens específicas.
Aéreo
103. O tamanho do território define esse modal como essencial para a integração
nacional, integrando por pontos, vencendo obstáculos, com velocidade. Com essas
características, trata-se de um fator essencial de segurança com repercussões
importantes de ordem geopolítica.
104. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em 2013, o transporte
aéreo nacional – empresas nacionais - foi responsável pelo deslocamento doméstico de
mais de 90 milhões de pessoas, 500 mil em voos internacionais, e transportou 360 mil
toneladas no mercado interno e 179 mil toneladas no mercado internacional.
105. A mobilidade social, decorrente do incremento da renda e do emprego, fez
crescer o uso desse meio de transporte pela população. Em um país como o Brasil,
com a dimensão territorial e com o incremento das atividades econômicas nas suas
diversas regiões, o aumento da capacidade de transporte por aeronave e o aumento da
produtividade do trabalho, inclusive com uso intensivo das Tecnologias da Informação
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e Comunicação (TICs), são fatores que colaboraram para o crescimento acentuado
desse segmento de transporte.
106. A visão prospectiva indica um aumento vigoroso do uso desse tipo de
transporte que já vem crescendo de forma acentuada nos últimos 40 anos. O
crescimento da demanda, em si, associado ao crescimento do tamanho das aeronaves,
requer o ajuste de toda a infraestrutura, dos sistemas de controle de tráfego aéreo, dos
segmentos industriais e de serviços fornecedores deste setor. Não se deve esquecer
que a própria renovação da frota é uma oportunidade estratégica para nossa indústria
aeronáutica.
107. No Brasil, há mais de 4.200 aeroportos e aeródromos, o que o coloca como a
segunda maior rede do mundo (EUA tem quase 14.500). A Infraero opera quase 70
aeroportos, alguns com concessão para gestão da iniciativa privada, 80 unidades de
apoio à navegação e mais de 30 terminais de carga.
108. Há um conjunto de desafios relacionados às questões da aviação regional. O
governo vem anunciando investimentos para recuperar a malha dos aeroportos
regionais, indicando projetos para investir em 270 aeroportos públicos, injetando mais
de R$ 7,3 bilhões. O PAC 2 mantém a perspectiva de expansão da capacidade
aeroportuária no Brasil, por meio da ampliação ou construção de novos terminais de
passageiros e cargas, reforma e construção de pistas, pátios para aeronaves, torres de
controle e modernização tecnológica de sistemas operacionais - transporte de
bagagens e pontes de embarque, entre outros. Isso representa 106 obras em andamento
ou realizadas.
109. Há, contudo, inúmeros desafios para serem enfrentados no setor: a
modernização e recuperação da infraestrutura, passando pelas estratégias de apoio ao
setor, considerando as necessidades estratégicas de cobertura em todo território em
termos de acessibilidade; as decorrentes questões de rentabilidade das empresas; a
formação dos preços e custos, especialmente para renovação e manutenção da frota; a
modernização tecnológica; custos dos combustíveis e impactos cambiais; as questões
tributárias; a pressão pela abertura do mercado interno para empresas internacionais e
as questões relacionadas ao transporte de carga.
110. De outro lado, a perspectiva de um desenvolvimento que enfrente as
desigualdades requer, pelas características desse modal de transporte, o investimento
público no setor. As recentes medidas que transferem a operação dos serviços
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aeroportuários para a iniciativa privada nos grandes aeroportos brasileiros marcam
uma nova etapa da gestão desse serviço, complexa e polêmica.
111. Diretrizes sugeridas:
a. Investir na ampliação, melhoria e manutenção da estrutura de transporte aéreo
regional.
b. Fortalecer a Infraero para coordenar a estrutura regional e nacional de
transporte aéreo.
c. Debater as diretrizes que devem orientar a política pública de incentivo ao
transporte aéreo, especialmente o regional.
d. Incentivar e apoiar o desenvolvimento da indústria e do setor serviços
nacionais para o fornecimento de bens e serviços para o setor aéreo.
Rodoviário
112. Segundo a Empresa Brasileira de Logística (EBP), esse modal responde por
quase 90% do transporte de cargas no Brasil (excluído transporte de minério de ferro e
combustível transportados por ferrovias e dutos). Considerando o tamanho do
território e a história da política de transporte no país, que destruiu a estrutura
ferroviária e aquaviária e de navegação de cabotagem em favor do transporte
rodoviário, criando excessiva dependência para o transporte de carga, há um grande
desafio para transformar essa realidade. Hoje, dentre os mais de 170 mil quilômetros
de rodovias pavimentadas mais de 60 mil quilômetros são de rodovias federais.
113. A opção pela pavimentação asfáltica tem custo menor que a de concreto.
Entretanto esta chega a representar um custo de manutenção cerca de 80% inferior
àquela, oferece mais segurança e reduz o consumo de combustível. Para uma malha
com grandes problemas de manutenção, abandonada nos anos 1990, há um enorme
esforço para recuperar e manter, bem como melhorar a estrutura já existente e ampliá-
la. O IPEA estimou em mais de R$ 180 bilhões os investimentos necessários para
sanar as deficiências no sistema rodoviário, 80% em obras de recuperação. A
Confederação Nacional de Transporte (CNT) acompanha as condições das estradas e
avalia que quase 20% estão em estado ruim, 9% péssimo, 33% regular e 37%
encontram-se em condições satisfatórias. Indicam que o custo operacional dos
caminhões aumenta 41% quando as estradas estão em condições regulares, 65%
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quando são ruins e 91% quando são péssimas.
114. Sabe-se dos impactos que o sistema de transporte tem sobre a produtividade
geral da economia, sobre a rentabilidade das empresas e as taxas de retorno do setor
agrícola, este dependente do transporte rodoviário. O grande desafio é reconstruir uma
malha de modais integrados de transporte.
115. Em 1995, teve início o Programa Nacional de Concessões e, hoje, já são mais
de 11 mil quilômetros concedidos pelo governo federal à iniciativa privada. O
equivalente foi realizado nas rodovias estaduais.
116. Ainda segundo a EBP, a frota de caminhões é composta por 2,7 milhões de
veículos com idade média de 18 anos (nos EUA a idade média é de sete anos). A idade
média da frota das empresas transportadoras é de nove anos e a dos caminhoneiros
autônomos é de 22 anos. Muita carga é transportada acima do peso permitido e os
motoristas fazem jornadas diárias acima de 12 horas. Cabe destacar o papel relevante
que têm programas como o Moderfrota, que apoia a substituição dos veículos,
especialmente para o autônomo. Isso se aplica também à modernização das frotas de
ônibus, inclusive de transporte escolar rural e de máquinas e equipamentos agrícolas.
117. Diretrizes sugeridas:
a. Manter e ampliar os investimentos no setor.
b. Rever o sistema de contratos de concessão e melhorar a gestão dos atuais.
c. Aperfeiçoar os investimentos públicos para ampliar a capacidade para atender
à demanda, inclusive nas rodovias com concessão, integrando aos mais amplos
investimentos na multimodalidade.
Ferroviário
118. O Brasil conta com mais de 28 mil quilômetros de ferrovias, mas menos de 23
mil quilômetros estão em operação (os EUA têm 225 mil quilômetros em ferrovias).
Segundo estimativas da Associação Nacional dos Transportes Ferroviários, o Brasil
precisaria chegar a 52 mil quilômetros para atender à demanda atual. A defasagem
entre a estrutura atual e a demanda existente, que requer a duplicação da malha
ferroviária, é um dos principais problemas desse segmento de transporte. Apenas 19%
do transporte de carga é feito por ferrovias, sendo que 74% destes são ocupados por
minério de ferro. No caso do aumento da utilização do modal ferroviário, haveria
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alívio da sobrecarga no modal rodoviário, redução dos custos, diminuição dos efeitos
sobre o meio ambiente e aumento da conservação das estradas. São apontados pelo
empresariado como fatores para a não utilização deste modal: a indisponibilidade de
rotas, a baixa flexibilidade das operações, baixa velocidade, os custos ainda elevados e
a indisponibilidade de vagões. No entanto, estudos indicam que os modais aquaviário
e ferroviário são os mais eficientes para distâncias maiores e com maior volume de
carga.
119. Em 2012 o governo federal lançou o Programa de Investimentos em Logística
(PIL) visando ao desenvolvimento de sinergias entre os modais rodoviário, ferroviário,
aquaviário e navegação de cabotagem e aeroviário. No setor ferroviário, prevê
investimentos de R$ 99,6 bilhões em construção e/ou melhoramentos de 11 mil
quilômetros de linhas férreas e visa à disponibilização de uma ampla e moderna rede
de infraestrutura, à obtenção de uma cadeia logística eficiente e competitiva e à
modicidade tarifária.
120. A operação do sistema prevê que a Valec comprará a capacidade integral de
transporte da ferrovia e fará a oferta pública, assegurando o direito de passagem dos
trens em todas as malhas e buscando a modicidade tarifária.
121. Novamente, os investimentos nesse modal dependem do Estado e, conforme
diretrizes da política em curso, de mobilizar, com regras específicas, os recursos
privados. Os impactos sobre a indústria são substantivos. Segundo a Associação
Brasileira de Indústria Ferroviária (Abifer), o país tem capacidade para produzir 12
mil vagões de carga por ano, com índice de nacionalização de quase 100%, mil carros
de passageiros e 250 locomotivas anuais, ou seja, uma capacidade instalada muito
superior à atual demanda. Novamente, vemos a possibilidade de conjugar como
estratégico o enfretamento de um gargalo da infraestrutura com a geração de demanda
que ativa a produção industrial e o setor da construção, gerando emprego e ampliando
a capacidade de reduzir custos, incrementando a produtividade geral da economia,
entre tantos outros efeitos positivos.
122. Diretrizes sugeridas:
a. Incentivar o desenvolvimento de uma indústria de trilhos, vagões e
locomotivas de última geração.
b. Formar profissionais de engenharia voltados a esta indústria, nos moldes da
indústria aeronáutica brasileira.
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c. Interligar as grandes metrópoles por intermédio do trem rápido para o
transporte de passageiros, aproveitando a malha existente.
Aquaviário / Cabotagem / Portos
123. O amplo território brasileiro, com uma costa navegável de 8,5 mil quilômetros,
dos quais 7 mil com potencial para transporte, e cerca de 40 mil quilômetros de rios
navegáveis, bem como a forte concentração populacional ao longo da costa, coloca o
desafio de desenvolver o modal de transporte aquaviário e de cabotagem como parte
de um sistema integrado de mobilidade de carga e de passageiros. Atualmente, o setor
portuário movimenta mais de 700 milhões de tonelada em mercadorias, sendo
responsável pelo escoamento 90% das exportações.
124. Trata-se de um modal que possui baixo custo, que conta atualmente com 37
portos públicos, 34 marítimos e três fluviais. Segundo a Secretaria Especial dos Portos
(SEP), 14 encontram-se delegados, concedidos ou têm sua operação autorizada aos
governos estaduais e municipais. Os outros 23 marítimos são administrados
diretamente pelas Companhias Docas, sociedades de economia mista, que têm como
acionista majoritário o Governo Federal e, portanto, estão diretamente vinculadas à
Secretaria dos Portos. Os portos fluviais e lacustres são de competência do Ministério
dos Transportes.
125. Segundo a SEP, há um novo marco regulatório dos portos que entrou em vigor
em 2013 (Lei nº 12.815) e que dispõe sobre a exploração direta e indireta, pela União,
de portos e instalações portuárias e sobre as atividades desempenhadas pelos
operadores portuários. A exploração indireta dos portos organizados e instalações
portuárias será feita por meio de concessões (cessão onerosa do porto) e
arrendamentos (cessão onerosa de área dentro do porto). Para áreas localizadas fora
dos portos organizados, a exploração privada ocorrerá por meio de autorização
(outorga de direito à exploração formalizada por contrato de adesão) à pessoa jurídica
que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.
126. Os desafios apresentados pelo setor para aumentar a competitividade são: 1)
adequar o calado para navios de grande porte; 2) capacidade e especialização para
movimentar cargas; 3) mecanização e automação; 4) controles e sistema de
informação. Diretamente associados estão o sistema integrado de cargas (caminhões e
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ferrovia) e os conhecidos congestionamentos; os limites da operação da Receita
Federal; a logística de carga, elementos que repercutem no tempo médio de espera
para atracação nos portos.
127. Se agregarmos às demandas industriais do setor aquelas decorrentes, por
exemplo, dos investimentos da Petrobrás no pré-sal, deduz-se que a demanda certa
induz a um incremento considerável da produção industrial para o setor, para a qual
políticas de componentes nacionais e fortalecimento de empresas nacional, como
estaleiros, fazem parte de uma estratégia de desenvolvimento econômico com
incremento da capacidade tecnológica, a geração de emprego e de renda.
128. Diretrizes sugeridas:
a. Desenvolver a cabotagem e sistema de hidrovias.
b. Atuar na fiscalização tarifaria praticado pelos operadores portuários.
c. Fortalecer as Agências Reguladoras.
d. Fortalecer a participação e controle social.
e. Profissionalizar a gestão das empresas.
f. Promover a adaptação e reestruturação interna do setor portuário em relação à
nova Lei dos Portos.
Telecomunicações
129. As transformações tecnológicas nesse setor são enormes, ampliando o seu
escopo ao deixar de ser somente relacionado aos serviços de telefonia, passando a ser
um setor denominado de Tecnologia de Informação e Comunicação (TICs), e de
conteúdo de informação, ampliando ainda mais seu impacto sobre o desenvolvimento
econômico e social.
130. Principalmente com a expansão da informática e da internet, tais mudanças
tecnológicas têm levado à convergência dos serviços de comunicação de imagem,
som, dados e dos equipamentos associados. Os serviços em rede ampliaram de
maneira inimaginável as potencialidades dos serviços de comunicação voltados às
empresas e às pessoas. O Brasil tem, hoje, mais de 350 milhões de pontos de acesso à
rede nacional e estima-se perto de 50 milhões de acessos à banda larga nos próximos
anos.
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131. A privatização do sistema de telecomunicações trouxe inúmeras empresas
estrangeiras para operar no setor e está em curso um processo de reconcentração do
mercado. O sistema integra para o consumidor final, empresas, governos,
organizações e pessoas, os provedores de equipamentos, hardware e software para
computadores e equipamentos eletrônicos em geral, as operadoras das redes e os
provedores de plataformas, conteúdos e aplicações. Há um campo relativamente novo
em processo de profundas e rápidas transformações, com impactos inclusive na
geopolítica.
132. As TICs propiciam também expressivas mudanças nas atividades econômicas
e no processo de trabalho. Como um vultoso e rentável negócio em si, são inúmeros os
impactos sobre todos os demais segmentos do sistema produtivo, a governança do
Estado e a vida das pessoas. Acelerou-se o ritmo das mudanças dos processos
produtivos, ampliaram-se as possibilidades de customização de produtos e serviços,
aumentou-se a velocidade, reduziram-se os custos de transações, expandiram-se as
possibilidades de desenvolver conhecimento e de compartilhá-lo, de intensificação do
uso do capital e, de maneira complementar, de controle e de uso intensivo da força de
trabalho.
133. No que se refere à infraestrutura e aos investimentos, as TICs têm altíssimo
impacto sobre todas as dimensões da infraestrutura econômica e social, bem como
pode ser um recurso inestimável para atuar favoravelmente na dimensão da
sustentabilidade ambiental, criando oportunidades para tal. De outro lado, pode
favorecer a ampliação da degradação, pela extrapolação do consumismo e do
esgotamento dos recursos naturais. Tudo depende da maneira de como a sociedade
fará uso desse conhecimento.
134. A tendência para o setor reúne requisitos de mobilidade, capacidade, custo,
qualidade, segurança, interatividade, tudo orientado pela demanda de ubiquidade, o
que significa que tudo pode ser usufruído em qualquer lugar e a qualquer momento.
Isso coloca como elemento estratégico a existência no território e capacidade para
fazer escoar o fluxo de informação, o que significa a necessidade de redes e do acesso
à banda larga em todas as áreas do país.
135. Nesse aspecto, é essencial o papel do Estado no investimento e no
financiamento, visando à promoção do acesso dos cidadãos e empresas aos serviços de
banda larga, por meio da ampliação das redes e da redução dos custos. Dadas as
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características pós-privatização do sistema, é papel do Estado atuar de maneira firme
na regulação do sistema como o proposto nas recomendações e deliberações da
Conferência Nacional de Comunicação, especialmente proibindo a propriedade
cruzada dos meios de comunicação, e investindo na expansão da rede e regulação
geral do sistema. Diferentemente do passado, quando chegamos a possuir e a operar
quatro satélites, hoje, no Brasil todos os satélites são controlados por empresas
estrangeiras, situação que o fragiliza sob vários aspectos, inclusive na segurança
nacional. Atualmente, o país contrata serviços de satélites estrangeiros, como é o caso
do norte-americano Landsat, para receber imagens de sensoriamento remoto. A
necessidade de desenvolver um programa espacial brasileiro autônomo faz-se presente
por várias razões: o sigilo e a maior velocidade das comunicações estratégicas dentro
do território nacional; o monitoramento das fronteiras; o acesso à tecnologia espacial e
a melhoria do Plano Nacional de Banda Larga do Brasil (PNBL). Existe a estimativa -
que deve ser acompanhada pelos sindicatos e movimentos sociais - de que o governo
brasileiro lançará o seu primeiro Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações
Estratégicas (SGDC) em 2016, com o objetivo de levar a banda larga a regiões
isoladas e carentes, bem como de proteger as informações estratégicas do país.
136. Considerando-se o papel estratégico que as comunicações têm no
enfrentamento das desigualdades regionais e sociais, é fundamental a atenção e
promoção do marco regulatório do setor, que promova o acesso em massa ao sistema,
com qualidade e baixo custo, na cidade e no campo.
137. As TICs são demandantes de energia e aceleram as possibilidades de consumo
e, por isso, tem um impacto ambiental negativo. Entretanto, as possibilidades que
geram em termos de redução de gastos com transporte, bem como as inúmeras
possibilidades de troca de conhecimento e controle sobre o ambiente e sua
degradação, são fatores que, de outro modo, concorrem para um impacto positivo da
TICs sobre o meio ambiente, favorecendo mudanças no escopo produtivo para uma
economia sustentável.
138. O papel do Estado nesse campo exigirá, além de acompanhar a evolução
tecnológica no setor, observar e prospectar a evolução da demanda e os tipos de
serviços requeridos, regular o ambiente de competição do setor, observando a
perspectiva almejada de massificação do serviço. Considera-se fundamental, ainda,
que o Estado recupere a capacidade de atuação no setor por meio de empresa pública
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que, dominando a tecnologia e atuando para desenvolvê-la, permita ao país não
depender de capital estrangeiro e proteger a nação dos controles externos, bem como
garantir o acesso à banda larga a todas as áreas do país.
139. As políticas públicas devem orientar e incentivar os investimentos, inclusive
com apoio fiscal; dar prioridade na área educacional para a formação básica (ciências
e matemática) e técnica voltada para o setor; investir em ciência e tecnologia voltadas
para a inovação; apoio às empresas nacionais e a produção com e de conteúdo
nacional com internalização de domínio tecnológico.
140. Especial atenção deve ser dada à convergência entre as políticas das TICs e a
política de desenvolvimento industrial pelos efeitos retroalimentadores que se observa.
Uma das questões está associada ao ciclo de vida dos produtos e a reciclagem e a
indústria reversa dos equipamentos.
141. Outra dimensão fundamental está associada ao uso da TICs na governança do
Estado, especialmente no que se chama de governo eletrônico, integrando informações
e aumentando os controles, fazendo revoluções na gestão pública que promovam
qualidade aos serviços. Ao mesmo tempo, promovendo a massificação do acesso que
permita a inclusão digital, especialmente daqueles que mais tem dificuldade para tal.
Para isso é fundamental o acesso à banda larga, conforme as diretrizes do Plano
Nacional de Banda Larga, bem como os cuidados de incentivar a diversidade de
iniciativas na produção de conteúdo, na rede de suporte e manutenção. Cabe ainda ao
Estado promover o ambiente de competição no setor, atentando para as questões da
qualidade, do preço, acesso e inovação.
142. É necessário que se faça a revisão das regras para o uso do Fundo de
Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) para que atue, de fato, nos
objetivos propostos e seja um instrumento poderoso de combate às desigualdades.
143. Diretrizes sugeridas:
a. Implantar as deliberações da Conferência Nacional de Comunicação, com
destaque para o Marco Regulatório revisado do setor.
b. Proibir a propriedade cruzada dos meios de comunicação.
c. Apoiar a diversidade de organizações provedoras de conteúdo, em especial
aquelas voltadas para educação e cultura.
d. Investir na estrutura de acesso à banda larga e na disponibilização a baixo
custo.
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e. Fortalecer empresas nacionais e públicas no setor.
f. Investir sistematicamente no desenvolvimento do governo eletrônico como
meio de melhorar a gestão pública, a qualidade dos serviços, os controles e a
fiscalização.
II.4. Políticas agrária e agrícola sustentáveis para o desenvolvimento
144. A qualidade e extensão do território em clima tropical coloca o Brasil na
posição de um dos principais produtores agrícolas do mundo. A estimativa para 2014
é de nova safra recorde, de 195 milhões de toneladas de grãos. Atualmente menos de
15% da população vive no campo. O incremento da produção e, em especial, da
produtividade na produção de grãos, é resultado da expansão da grande propriedade
monocultora voltada à exportação, do uso da tecnologia, do acesso à energia elétrica e
do acesso a serviços urbanos, pesquisa e inovação, crédito, estocagem,
comercialização, entre outros. De outro lado, há a importante presença da produção
alimentar assentada na agricultura familiar.
145. A produção agrícola enfrenta desafios associados à questão ambiental pelos
efeitos da destruição do solo, da poluição dos rios e do ar, com decorrências deletérias
para a questão climática. Há, ainda, a questão da qualidade dos produtos e dos efeitos
nocivos para a saúde humana (dos trabalhadores no campo e dos consumidores) dos
agrotóxicos largamente utilizados na agricultura ou dos hormônios na pecuária, para
citar somente dois exemplos.
146. No campo também convivem extremos da riqueza e da pobreza na condição de
vida e uma diversidade expressiva de sistemas de produção. A produção agrícola no
Brasil resulta da coexistência de formas modernas de assalariamento combinada com
utilização de tecnologias modernas de produção em grandes extensões de terra de um
lado e, de outro, complexos sistemas de manejo dos ecossistemas desenvolvidos por
comunidades que associam a agricultura com o extrativismo. Entre esses dois polos
existem inúmeras combinações na grande produção e na agricultura familiar, inclusive
a incidência de trabalho degradante ou análogo ao escravo.
147. O modelo de desenvolvimento rural brasileiro, sob a égide do agronegócio
empresarial, é resultado de uma complexa articulação entre o capital financeiro, o
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capital industrial, especialmente o multinacional, e a grande propriedade territorial,
com forte apoio estatal. Neste modelo, há o uso combinado e intensivo de insumos
modernos, como máquinas e tratores, fertilizantes químicos e corretivos, controle
químico de pragas e doenças, irrigação, sementes geneticamente modificadas, rações e
suplementos alimentares, mudanças organizacionais e de processo de produção, com
fortíssimos impactos sobre o incremento da produtividade. Esse modelo faz do Brasil
um grande fornecedor de produtos agrícolas e pecuários para o mercado interno e para
o mundo, contribuindo para o saldo comercial na pauta exportadora. O país está entre
os maiores exportadores mundiais de soja, milho, açúcar, café, álcool, carne de frango
e carne bovina.
148. Deve ser dado destaque para o papel do crédito no fomento da atividade e
compra de maquinários, dos mecanismos de garantias e seguro agrícolas, de preços
mínimos, de capacidade de estocagem, bem como o papel da pesquisa e inovação
promovidas pela Embrapa, associadas à extensão rural. Produz-se muito, porque o
Estado sustenta e incentiva a atividade econômica.
149. Mas, a tentativa de predominância deste modelo de agricultura como único e
viável é de alto risco, uma vez que provoca enormes impactos sociais e ambientais, é
altamente dependente de insumos externos, de energia fóssil, onde a produção de
alimentos passa a depender dos interesses e da dinâmica do capital, comprometendo
em consequência a soberania e segurança alimentar de nossa nação.
150. Essa dinâmica só fez aumentar a já elevada concentração de terra no Brasil: em
2010, 85,9% dos imóveis rurais eram minifúndios com até 100 ha e representavam
21,4% da área ocupada, enquanto os latifúndios (com área superior a 1.000 ha)
somavam apenas 1,0% dos imóveis rurais, mas representavam 44,0% de toda a área.
151. Na longa história de luta pelo acesso à terra, a reforma agrária sempre foi
interditada no Brasil. Atualmente, considerando-se o papel central nacional e mundial
que o Brasil desempenha na segurança alimentar, como provedor estratégico de
alimentos em nível mundial, pela qualidade e extensão do solo, pelo avanço da
produtividade, esse setor coloca-se no centro da disputa capitalista, objeto de interesse
e cobiça de grandes empresas multinacionais e investidores, oferecendo enormes
ganhos na produção e na especulação financeira nos mercados futuros e nas bolsas de
valor. Por isso, a questão de reforma agrária popular ganha contornos ainda mais
complexos.
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152. Do outro lado desse modelo está a agricultura familiar, organizada na pequena
propriedade rural, em sistemas de manejo agroextrativistas, garantem o fornecimento
de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros e responsável por ocupar
mais de dois terços da força de trabalho ocupada no campo. A agricultura familiar é
responsável pela produção de 87% da mandioca e de 70% do feijão, por exemplo, ou
mais de 1/3 do valor da produção agropecuaria. Ademais, a agricultura familiar pode
desempenhar um papel central na promoção de uma alimentação mais saudável,
menos impregnada de agrotóxicos.
153. Os desafios da agricultura familiar são muitos e começam pelo reconhecimento
da existência de uma diversidade de sistemas agrícolas que exigem respostas
diferenciadas, pela secular demanda de acesso à terra, por resistir à pressão do grande
latifúndio para a venda; também perpassam pela estruturação de mecanismos de
organização e gestão que favoreçam a cooperação e solidariedade na produção,
visando a obtenção de ganhos de escala e produtividade; pelo incremento no
desenvolvimento e uso de tecnologias de manejo dos ecossistemas, de
desenvolvimento ou aperfeiçoamento dos processos de beneficiamento e de acesso aos
mercados que resultam nos produtos típicos da agricultura familiar; pelo aumento da
qualidade do produto (por exemplo, com a produção orgânica); e pela industrialização
dos produtos, agregando valor, como parte articulada da produção familiar. Há, no
entanto, necessidade de desenvolver sistemas próprios de tributação e de normas
sanitárias, de apoio em termos de pesquisa e inovação, de pesquisa e extensão rural
que reconheçam os conhecimentos tradicionais, de acesso ao crédito, de apoio ao
escoamento da produção, entre outras.
154. Há, também, a dívida para com milhares de agricultores sem terra que lutam
pelo acesso à terra combinado a uma política agrícola que apoie efetivamente a
atividade produtiva sustentável. Os avanços do Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf) constituído, além do crédito, pelo Seguro da
gricultura amiliar eaf , o rograma de arantia de re os da Agricultura Familiar
(PGPAF), o Garantia-Safra, têm sido fundamentais. Entretanto, há que fortalecer a
estratégia de apoio do Estado à agricultura familiar, seja por meio das políticas
diretamente associadas à produção, como já enunciado, como também nas questões
relativas ao transporte, à estocagem, ao beneficiamento dos produtos in natura
permitindo agregação de valor, às estratégicas de comercialização, bem como ainda,
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às políticas que levam para o campo o acesso à energia, água e saneamento, escola,
saúde, bens e serviços culturais, como a proteção social durante e após a vida laboral.
155. Mesmo tendo havido avanços substantivos para a agricultura familiar, a
disputa com o agronegócio é permanente. Só para citar um exemplo, tome-se o caso
do crédito rural: no período de 2003/2004 a 2013/2014, os recursos disponibilizados
para a agricultura empresarial saltaram de R$ 27,2 bilhões para R$ 136 bilhões (cerca
de 400%), enquanto para a agricultura familiar os recursos evoluíram de R$ 5,4
bilhões para R$ 21 bilhões no período (crescimento de 289%), sendo que 25% destes
recursos não foram utilizados.
156. Continua em curso o processo de redução da população que vive e trabalha no
campo: atualmente 14% da população vivem no campo e projeções indicam, para
2050, redução a 8%. Esse fenômeno é acompanhado pelo “envelhecimento”
decorrente de transformações da composição etária da população rural - entre 2004 e
2012 diminuiu em 1,1 milhões o número de jovens entre 15 e 24 anos e, de outro lado,
a população com mais de 50 anos cresceu 1,3 milhões. Isso decorre, dentre outros
fatores, da imigração para as cidades, da queda na taxa de fecundidade e do aumento
na esperança de vida.
157. Por fim, mas não menos relevante, há que destacar o fato de a produção
agropecuária no país ser feita com base no assalariamento predominantemente sem
carteira de trabalho assinada. As altas taxas de informalidade e carência de proteção
social associam-se a um expressivo contingente de população pobre.
158. Diretrizes sugeridas:
a. Promover a reforma agrária com a garantia de acesso à terra aos agricultores
familiares, e demarcação e titulação da terra dos povos e comunidades
tradicionais.
b. Investir no desenvolvimento tecnológico voltado para a sustentabilidade
ambiental, social e econômica em todos os sentidos e adequado à produção dos
produtos típicos da agricultura familiar.
c. Integrar a industrialização da produção da agricultura familiar como parte da
cadeia de agregação de valor e de geração de renda.
d. Fortalecer as políticas públicas para a agricultura familiar (PAA, PNAE).
e. Ampliar a proteção social aos trabalhadores do campo.
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III. Desenvolvimento e o papel do movimento sindical
159. A sociedade se transforma em nação pela sua capacidade de constituir sujeitos
coletivos capazes de expressar interesses de grupos sociais, mediá-los nos espaços de
negociação, conceber processos de escolha com a participação de toda a sociedade,
tudo operado sob as regras básicas definidas na Constituição do Estado. A democracia
é um regime que, potencialmente, favorece o governo por meio do debate, incentiva a
participação e a escolha com a participação de todos, e a governança orientada pela
justiça e por instituições que a operam. A força desses fatores está assentada na
legitimidade das instituições, na igualdade de todos diante das leis, nas oportunidades
e condições que se oferecem.
160. Entretanto, na sociedade capitalista, a vertiginosa capacidade de produzir
riqueza é acompanhada pela ilimitada propensão a gerar desigualdades. Submeter essa
dinâmica à democracia é um desafio central, constituindo o campo de disputa para o
sentido da produção e da distribuição, bem como formar os sujeitos coletivos que irão
realizar a disputa. O desenvolvimento é processo e resultado de sujeitos coletivos,
capazes de constituírem maiorias que escolhem caminhos que favorecem a geração do
bem-estar, da qualidade de vida e do equilíbrio ambiental. Nada é dado ou alcançado
de forma natural, tudo é construído e é, essencialmente, político.
161. Desta perspectiva, a democracia brasileira, construída a partir da Constituição
de 1988, recuperou a liberdade de organização partidária, sindical, de expressão e
indicou a igualdade de oportunidades e de condições de vida como elemento
estruturante das bases do Estado Democrático de Direito. Há muito que se fazer para
que isso se torne efetivo e predominante.
162. O papel do movimento sindical brasileiro é representar os trabalhadores,
inseridos na economia como força de trabalho, nas relações sociais de produção
concretas, nos diferentes setores da economia. O sindicato, e sua respectiva estrutura,
têm a tarefa de regular as relações de trabalho nos contextos concretos de produção,
aperfeiçoando e ampliando os marcos já definidos pela Constituição e pelas normas
inscritas na Consolidação das Leis do Trabalho. Ao mesmo tempo, nos espaços
institucionais existentes no âmbito do Estado, o movimento sindical representa os
interesses dos trabalhadores em Fóruns e Conselhos que fazem a gestão de políticas e
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de recursos públicos, bem como normatizam procedimentos, definem diretrizes de
ação para o Estado e para a iniciativa privada.
163. A força do movimento sindical para materializar esse papel institucional no
espaço do regime democrático está diretamente associada à sua capacidade de
evidenciar a vontade coletiva dos trabalhadores, que se expressa na capacidade de
mobilização e de organização da base, de articulação sindical entre as categorias e
correntes presentes no seio do movimento e de atuação nos espaços institucionais. A
resposta a estes desafios se faz por meio da formação de quadros, ativistas, militantes
e dirigentes, para que exerçam com competência essas atribuições, assim como com a
vitalidade organizativa enraizada na base de representação e com capacidade de
interação em diferentes níveis. Trata-se, de um lado, de levar o sindicato para o local
de trabalho e, de outro, animar a participação dos trabalhadores nos espaços de
atuação sindical.
164. Mas quem são os engenheiros no Brasil? Segundo dados referentes a 2012, da
Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, do Ministério do Trabalho e Emprego:
a. No Brasil havia 256.537 ocupações da engenharia no mercado formal de
trabalho, o que representava 0,54% do total das ocupações.
b. No período entre 2004 e 2012, observou-se um crescimento de 74% dos
empregos formais dos profissionais da engenharia. O crescimento do mercado
formal da engenharia foi maior que o do mercado de trabalho formal geral, que
expandiu o número de vagas ocupadas em 51%.
c. No Brasil, as especialidades que se destacavam no mercado formal da
engenharia eram a dos engenheiros civis, seguidos dos engenheiros de
produção e dos engenheiros eletricistas. engenharia de produ ão é uma
especialidade que vem aumentando a sua participação dentre as ocupações da
categoria no período entre 2004 e 2012.
d. categoria dos profissionais de engenharia é majoritariamente masculina. Em
2012, no Brasil, apenas 18% das vagas eram ocupadas por mulheres. Contudo,
no período 2004-2012, houve um crescimento importante na participação de
postos de trabalho ocupados por mulheres no mercado formal da área.
e. A faixa etária entre e anos é a que concentrava a maior parcela (35%)
dos empregos da engenharia no mercado formal de trabalho em 2012.
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f. Os dados de faixa etária e sexo apontam que, dentre as faixas etárias mais
jovens, as ocupações femininas eram, em 2012, proporcionalmente maiores
que as masculinas, indicando que um possível processo de aumento da
participação feminina na categoria estaria associado à entrada de jovens
mulheres para o mercado de trabalho.
g. uanto atividade econômica, os empregos da engenharia se encontravam
distribuídos, majoritariamente, no setor de serviços e na indústria de
transformação, cada um com cerca de 28% do total.
h. Os dados mostram que, em 2012, os setores de Serviços (22%) e
Administração Pública (25%) eram aqueles em que havia maior participação
proporcional de engenheiras.
i. A maior parte dos vínculos da engenharia no mercado de trabalho formal
(41%) estava em estabelecimentos de médio porte, ou seja, entre 100 e 999
vínculos ativos.
j. No que se refere natureza jurídica desses estabelecimentos, é possível notar,
também, uma grande concentração das ocupações em entidades empresariais
(estatais ou privadas): 85% dos vínculos encontravam-se nesses tipos de
estabelecimentos.
165. Isto posto, cabe declarar que nossa visão normativa e estratégica da atividade
sindical para os engenheiros, no contexto do brasileiro, se expressa em quatro grandes
desafios para os próximos anos: 1) fortalecer a política sindical nas atividades de
representação; 2) incrementar a negociação da regulação das relações laborais; 3)
investir na formação política e de inclusão dos trabalhadores na vida sindical e 4)
influenciar na formação profissional.
III.1. Política sindical e suas interfaces
166. Na democracia a luta pela transformação social que promova bem-estar,
qualidade de vida e sustentabilidade ambiental exige sujeitos coletivos capazes de
influenciar a governança por meio do debate e da participação nas escolhas. Os
trabalhadores desenvolveram seus movimentos e constituíram os sindicatos como
instrumento de luta, por meio dos quais tiveram, ao longo da história, papel central em
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muitas mudanças promovidas em nosso país e mundo afora, disputando ideias e
formulando projetos.
167. Os trabalhadores se constituem em sujeitos coletivos ao longo da história por
meio dos movimentos que desencadearam em cada contexto concreto. Lograram
promover, homens e mulheres colocados sob a condição de trabalhadores para outro –
produzem riqueza e ficam com pequena parte do que produzem –, sujeitos políticos
capazes de representar o interesse coletivo como classe e com capacidade de provocar
e participar do debate local ou público, realizar lutas e construir processos efetivos
para melhorar as condições de trabalho e de vida. Ao mesmo tempo, no bojo desses
processos, este sujeito coletivo em movimento constrói seus instrumentos de luta, os
sindicatos, a estrutura sindical e as outras formas de organização, com seu aparato
organizativo e institucional que deve estar a serviço do fortalecimento das lutas dos
movimentos dos trabalhadores.
168. Da perspectiva da relação entre a estrutura sindical e o movimento dos
trabalhadores e da sua permanente renovação, um grande desafio é promover e
fortalecer a organização dos trabalhadores desde o local do trabalho, criando as formas
organizativas capazes de reunir e unir os trabalhadores em torno das questões do dia a
dia nas relações de trabalho; legitimando-os a atuarem para promover as lutas e
reivindicações locais; realizando as negociações e definindo as regras das relações de
trabalho na empresa ou organização. A organização sindical no local de trabalho é
uma maneira concreta de disputar e promover a democracia, e compreender muitas
das dificuldades existentes para efetivá-la, desde o chão da empresa ou da
organização. É nesse exercício concreto de organizar, articular e mobilizar os
trabalhadores que todos se defrontam com os desafios e, na busca de enfrentar, superar
e resolver problemas, desenvolvem a consciência da complexidade das relações
sociais, e também sobre o papel do movimento e da organização sindical dos
trabalhadores para enfrentar e superar problemas e conduzir lutas específicas e gerais
de transformação.
169. No local de trabalho, há diferentes maneiras de promover e buscar a
organização. Há aquelas previstas em lei, como as Comissões de Prevenção de
Acidentes, que podem ser ampliadas para tratar das questões gerais e específicas da
saúde do trabalhador, incluindo os aspectos da segurança. Nos grandes investimentos
em infraestrutura, por exemplo, conforme já acordado no Compromisso Nacional de
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Promoção das Condições de Trabalho no Setor da Construção, deve-se atuar para
constituir comissão única ou formas de articular as comissões em torno de um único
plano de saúde e segurança para todo o canteiro da obra, independentemente da
empresa contratante e das contratadas. O mesmo pode e deve ser feito no âmbito das
empresas. Há, de outro lado, o direito de representante previsto na Constituição, ainda
não especificado em lei ordinária, ou as várias experiências de comissões de fábrica,
comissão sindical no local de trabalho, representante sindical, entre outros. Esta é, sem
sombra de dúvidas, uma das mais ousadas formas de promover a representatividade
sindical e a renovação dos quadros militantes e dirigentes. Por isso, cabe uma ação
permanente para colocar nos Acordos e Convenções Coletivas o direito de
organização sindical dos trabalhadores desde o local de trabalho, bem como participar
dos esforços para uma regulação geral em Lei desse direito.
170. Uma das maneiras de incentivar, articular e fortalecer essas organizações é
criar nas empresas nacionais e multinacionais, que tenham mais de uma unidade no
território brasileiro, o trabalho em rede por empresa. Dessa maneira, busca-se a
articulação de uma agenda comum de trabalho, a partir da identificação dos problemas
e desafios enfrentados pelos trabalhadores na empresa, a construção de acordos que
promovam a padronização de normas, direitos e condutas da empresa em diferentes
unidades no país e no exterior, bem como incentivando, entre os trabalhadores, o
exercício da representação, do pensamento estratégico e de laços de solidariedade
nacional e internacional, a partir e para além do local de trabalho.
171. Outra dimensão relevante da política sindical é promover processos que
incentivem a participação dos trabalhadores nas diferentes dimensões da ação sindical
cotidiana. De um lado, a organização no local de trabalho é um instrumento poderoso
nesse sentido, de outro, a organização do sindicato e o trabalho do dia a dia devem ter
como diretriz estratégica promover a participação dos trabalhadores em todas as ações.
Isso pode ocorrer por meio de eventos que mobilizem os trabalhadores e que
promovam a sua interação; por meio de comissões ou grupos de trabalho criados para
desenvolver uma ação ou luta; por meio das próprias lutas, das campanhas na época da
renovação das convenções ou acordos coletivos; ou mesmo por meio de diferentes
maneiras de organizar o sindicato, a diretoria, e desenvolver os trabalhos. Há que
colocar intencionalidade participativa nos processos organizativos, visando atrair os
trabalhadores para a vida sindical.
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172. A própria estrutura sindical e as práticas de gestão e transparência podem
favorecer a participação, distribuindo a responsabilidade de sustentar e dirigir a
organização sindical como instrumento de apoio ao movimento e às lutas dos
trabalhadores.
173. A política de formação sindical é outro elemento essencial para que os
trabalhadores conheçam a história das lutas já realizadas, adquiram consciência da
complexidade da sociedade e dos desafios para promover o bem estar para todos.
Desenvolver o sentido da justiça, da igualdade, da liberdade como valores que
precisam ser concretizados em processos sociais, nas leis, nas relações de produção,
entre outros, é papel da formação sindical orientada para formar quadros dirigentes,
ativistas e militantes que atuam na mobilização, organização e condução das lutas dos
trabalhadores.
174. A mobilização, inclusive as greves, além de serem instrumentos essenciais
para a qualidade e os resultados das lutas dos trabalhadores, são espaços e momentos
essenciais de formação sindical e política. Há que promover o planejamento
estratégico no desenvolvimento e condução das mobilizações, favorecendo inclusive,
e principalmente, a possibilidade de atuação intercategoria e intersindical, de maneira
que o sentido de classe se desenvolva entre os trabalhadores.
175. A força dos trabalhadores está diretamente relacionada à capacidade de
construir sua unidade como classe, como grupo social que, na diferença, constrói
unidade de ação em torno de projetos e é capaz de criar e desenvolver estratégias para
promovê-lo. Elemento essencial para a construção das estratégias de unidade pode ser
desempenhado pela estrutura sindical vertical materializada nas Federações e
Confederações e, especialmente, pelas Centrais Sindicais, instrumentos que devem
favorecer a luta articulada dos trabalhadores, mobilizar a participação, o enfretamento
unitário das grandes questões, promover e participar de negociações complexas e
promover macro acordos sindicais e sociais. Os sindicatos são, na estrutura sindical
brasileira, peças-chave para desenvolver todas as dimensões acima e toda política
sindical deve orientar-se para fortalecer seu papel.
176. Nestes termos, cabe uma atuação que ultrapasse as questões meramente
corporativas e imediatas, que certamente não podem ser descuidadas, mas que não
podem, por outro lado, ser o único eixo orientador da ação, se o objetivo maior é a
própria transformação social. Ademais, também como requisito para uma atuação
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mais abrangente, é importante promover a articulação junto aos movimentos sociais
que estejam igualmente comprometidos com a construção de uma nova sociedade,
mais justa e fraterna.
177. Uma reflexão estratégica deve ser promovida para orientar processos de
mudança que coloquem a estrutura sindical coetânea com as transformações no mundo
do trabalho, de uma economia que amplia o setor de serviços, integra cada vez mais as
atividades econômicas, que expande as tecnologias que substituem a força de trabalho,
que cria novos modos de gestão dos processos produtivos, entre tantos outros
aspectos.
178. Do mesmo modo é importante enfrentar com ousadia as inúmeras mazelas
existentes no seio sindical, tais como a fragmentação da representação, a baixa
representatividade, a burocratização, a desarticulação das ações e processos, entre
outras. Atenção especial deve ser dada às formas autônomas e permanentes de
financiamento da estrutura sindical diante das inúmeras ações do Ministério Público
do Trabalho e da Justiça do Trabalho, além daquelas realizadas por empresários,
diretores de empresas e governos, que questionam e impedem a sustentação financeira
das atividades e estrutura sindical, muitas vezes a inviabilizando, atitude esta que pode
ser caracterizada muitas vezes como prática antissindical.
179. Há que pensar estrategicamente em projetos que renovem a estrutura sindical e
em processos de transição que adequem mudanças que favoreçam a ampliação da
representatividade, o direito de organização desde o local de trabalho, as formas de
financiamento, entre outros aspectos. Também é preciso trabalhar para promover esse
pensamento estratégico no seio do próprio movimento, favorecendo inclusive a
possibilidade de autorregulação de inúmeros aspectos que, hoje, incentivam a disputa,
a divisão e o fracionamento da capacidade de luta entre os próprios trabalhadores. As
diferentes visões sindicais devem ser mediadas pela possibilidade da construção do
interesse geral dos trabalhadores e pelo exercício radical da democracia na base do
movimento.
180. O movimento sindical dos engenheiros enfrenta esses desafios, porque é parte
de um mesmo movimento e processo histórico. Por isso, deve-se ter atenção na
maneira como se organiza o modo de interagir com toda a estrutura sindical, na
relação que se estabelece com as entidades de representação majoritária dos
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trabalhadores, buscando-se maneiras de dar tratamento às questões específicas e
favorecendo as ações conjuntas no seio da classe trabalhadora.
181. É necessário construir meios de identificar a presença do profissional da área
de engenharia no interior das empresas e organizações, enfrentando e superando as
dificuldades existentes, porque as empresas registram os engenheiros de diferentes
maneiras e em diferentes cargos, criando obstáculos para sua representação por meio
das suas organizações sindicais. Por isso, mais uma vez, destaca-se a necessidade de
buscar meios e regras que permitam interações no âmbito sindical, que favoreçam o
conjunto dos trabalhadores, sem descuidar dos interesses e aspectos específicos das
categorias.
182. A política sindical deve estar articulada em torno de desafios que favoreçam a
unidade dos trabalhadores para atuar na transformação da realidade com o propósito
de promover o bem-estar social, a qualidade de vida e a sustentabilidade ambiental.
Há que se investir em uma agenda orientada para:
a. Disputar o sentido do desenvolvimento como resultado de um crescimento
econômico que distribui a renda e a riqueza gerada, promovido pela atuação do
Estado e pela capacidade da sociedade regular as relações sociais e de
distribuir os ganhos de produtividade.
b. Promover a centralidade do trabalho para a produção do desenvolvimento com
condições dignas de trabalho, seja por meio de instituições e instrumentos que
favoreçam a justa distribuição da renda e da riqueza produzida, seja por meio
de políticas sociais universais de qualidade (educação, saúde, habitação,
saneamento, etc.).
c. Enfrentar as várias manifestações de desigualdade.
d. Disputar na sociedade a concepção sobre a função social das empresas.
e. Enfrentar aspectos essenciais das relações de trabalho, tais como: conceber os
fundamentos e instrumentos de uma lógica de promoção e proteção ao
emprego; enfrentar a terceirização, atuando para restringir e regular o seu uso;
reduzir a rotatividade, inibir a dispensa imotivada e a formas precárias de
contrato de trabalho; superar a informalidade criando e promovendo a proteção
social universal de todos os trabalhadores, assalariados e outras formas de
ocupação; reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais.
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183. Diretrizes sugeridas:
a. Promover a organização dos trabalhadores desde o local de trabalho, garantido
esse direito nos acordos, nas convenções ou na Lei.
b. Incentivar e participar da articulação das organizações sindicais de base em
rede por empresa (nacional e internacional).
c. Trabalhar permanentemente o desenvolvimento de formas de participação dos
trabalhadores nos processos e lutas sindicais.
d. Realizar programas permanentes de formação sindical.
e. Articular e participar de mobilizações locais e nacionais.
f. Criar formas de relação entre as entidades sindicais que favoreçam a unidade
dos trabalhadores.
III.2. Projetos de inclusão sindical e formação política
184. Há muitas transformações em curso, algumas pelas quais os trabalhadores
lutaram e lutam por décadas, ou séculos, que transformam o mundo do trabalho e as
relações sociais, ora no sentido que se propugna no meio sindical, ora em sentido
oposto. Há amplos processos sociais e tecnológicos que estão transformando as formas
de comunicação, convivência e interação entre as pessoas, bem como possibilitando
realizações que no passado eram inimagináveis. A política sindical exige compreender
essas questões e processos para incorporá-los ao cotidiano sindical, recepcionando-os
no contexto presente e futuro e atualizando as práticas de maneira a tornar a estrutura
sindical compatível com os novos tempos e desafios.
185. Uma das grandes e relevantes mudanças ocorrida na segunda metade do século
passado foi o direito de igualdade conquistado pelas mulheres. Por incrível que pareça,
essa desigualdade fundou e ainda sustenta, em inúmeras situações e contextos, a
subordinação ou exclusão das mulheres em termos de direito, condições e
oportunidades. Superar essa iniquidade é ainda um enorme desafio presente na
sociedade brasileira, inclusive no seio dos profissionais de engenharia. Observando a
crescente presença das mulheres nos cursos de engenharia e nos postos de trabalho, é
evidente que há um longo caminho a percorrer para que essa profissão e seu exercício
deixem de ser predominantemente masculina. Da mesma maneira, há que criar
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condições que favoreçam a participação das mulheres nas diferentes atividades
sindicais, na composição das diretorias, das comissões e grupos de trabalho. Essa
prática é fundamental para que as questões das mulheres na vida profissional sejam
contempladas nas lutas e negociações das condições de trabalho.
186. Há que desenvolver a reflexão da abordagem da vida profissional e vida
familiar de maneira a ampliar a visão sobre o compartilhamento das responsabilidades
nos cuidados com os filhos, com os idosos e com as demais tarefas que estão
culturalmente associadas às tarefas das mulheres e que são, de maneira geral,
menosprezadas em relação à valoração das responsabilidades profissionais. Trazer as
mulheres para a vida sindical significa também debater com os homens um novo
modo de compartilhar e valorar as importantes atribuições relacionadas aos cuidados
familiares. É importante ressaltar que a desigualdade entre homens e mulheres não
brota a partir de escolhas individuais. A perpetuação da desigualdade de gênero é
determinada por práticas sistemáticas definidas pelo Estado, pelos meios de
comunicação, pelas empresas e outras organizações sociais. Portanto, a luta das
mulheres trabalhadoras transcendem as questões profissionais, sendo parte de um
processo mais amplo de luta pelo fim do machismo em toda a sociedade.
187. As transformações contemporâneas na comunicação, a ampliação da cultura da
democracia em todos os espaços, o acesso ampliado à informação e ao conhecimento,
o enfretamento e superação de preconceitos, entre tantos outros aspectos, têm levado a
novos padrões de relação entre homens e mulheres, e entre gerações. Da mesma
forma, ainda que num sentido contrário, também têm contribuído para o aumento da
velocidade das mudanças culturais e comportamentais das novas gerações a
exacerbação do consumismo, do individualismo, da busca do imediato, do presente
instantâneo promovido pelas conexões mediadas pelas mídias e pela internet.
188. É preciso cuidado. As conquistas obtidas ao longo da história, que são fruto de
muitas lutas, sacrifícios e de milhares de mortes, hoje podem aparecer como
“dádivas”, como uma situa ão natural, e não como tendo sido conquistadas. Perder o
sentido histórico do passado no presente pode levar a que essas conquistas também
sejam perdidas no futuro, em decorrência da inobservância do papel das lutas para sua
preservação e ampliação, bem como da condição processual das disputas
(continuidade no tempo de longos processos de luta). Nada está dado, tudo precisa ser
permanentemente renovado, principalmente aquilo que é objeto da disputa que
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materializa um determinado padrão de distribuição da riqueza e da renda. A história dá
mostras de que a desigualdade e a concentração de renda e riqueza são fenômenos e
processos que são da natureza da sociedade capitalista. Combatê-los está na base da
luta social e política daqueles que buscam erigir uma sociedade justa e igualitária.
Essa concepção não está dada, precisa ser permanentemente (re)construída.
189. Por isso, há que criar um ambiente favorável para a interação entre as gerações
de maneira que cada um, ao seu modo, tome consciência da história e dos desafios que
a cada momento se têm pela frente, para fazer avançar o padrão civilizatório em
termos de bem estar social, qualidade de vida e sustentabilidade ambiental.
190. Por isso, é fundamental uma concepção sindical aberta à participação da
juventude e que esta ocupe seu espaço ao seu modo. Nesse sentido, cabe à organização
sindical renovar-se por meio da própria juventude, tornando a estrutura sindical
permeável à nova cultura e às práticas sociais que a juventude inventa e propaga. Se a
juventude afirma-se por meio da negação do velho e do estabelecido, é nessa tensão e
relação que vai assumindo suas novas responsabilidades, inovando e renovando as
instituições, as regras e o modo de vida.
191. A política sindical deve estar atenta para deixar as portas abetas à participação
dos jovens - sejam eles profissionais recém-formados ou estudantes. E, mais, deve
intencionalmente colocar toda a estrutura sindical atenta ao desafio de trazê-los para a
vida sindical, enfrentando de maneira inteligente a ideologia dominante que
desqualifica as instituições, a política e a atividade sindical.
192. Buscar de maneira permanente e ousada a abertura ao novo é desafio
estratégico e urgente da política sindical, visando à promoção da participação dos
jovens e das mulheres. É fundamental investir na formação sindical e cidadã. Por um
lado, oferecendo aos jovens o acesso ao conhecimento socialmente acumulado, a
história das lutas, o papel da política na organização da vida em sociedade, as
transformações que ocorrem cada vez em velocidade mais acelerada no mundo do
trabalho. Aqui, o desafio é formar os novos militantes e ativistas que desenvolverão o
conteúdo das novas práticas sindicais do futuro próximo. Da mesma maneira, é
preciso investir na capacidade crítica dos atuais dirigentes e ativistas para que se
preparem para abrir espaço para a juventude e para as mulheres, com todas as
contradições existentes, diante dos paradoxos que se apresentam frente aos
paradigmas que instruíram e sustentaram nossas escolhas. Nas próximas décadas serão
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eles que conduzirão as lutas e a qualidade delas dependerá também da maneira e do
espaço que encontrarão nas instituições.
193. A formação tem sempre um desafio instrumental para a luta. Mas,
essencialmente, a formação adquire um sentido geral de formação política, fornecendo
as bases que favoreçam os valores da solidariedade entre os trabalhadores e as
trabalhadoras, a cooperação como base para as relações de produção, a liberdade e a
fraternidade como valores que presidem as relações sociais e a igualdade como projeto
de sociedade.
194. A formação deve estar sempre vinculada à ação, às lutas dos sindicatos para
alterar a realidade. Portanto, um programa de formação voltado à construção de um
projeto de nação para o Brasil deve voltar-se à compreensão da realidade brasileira,
retomando reflexões sobre os problemas estruturais do Brasil: formação histórica,
social, cultural e econômica do seu povo. Nesse sentido, é importante resgatar
pensadores que contribuíram com reflexões sobre o Brasil, como Florestan Fernandes,
Darcy Ribeiro, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, entre outros.
195. Diretrizes sugeridas:
a. Promover intencionalmente a participação das mulheres na vida sindical.
b. Realizar ações visando abrir espaço para a participação dos jovens e futuros
profissionais na vida sindical.
c. Vincular a formação sindical a uma formação política mais abrangente, voltada
para uma compreensão histórica da realidade brasileira e o enfrentamento de
seus problemas estruturais para a construção de um projeto de nação
democrática e popular para o Brasil.
III.3. Ambiente de negociação: realidade e perspectivas
196. Uma das finalidades dos sindicatos como forma de organização do movimento
dos trabalhadores é disputar a regulação das relações e condições de trabalho. No
sistema de relações de trabalho brasileiro isso ocorre por meio das negociações
coletivas que podem celebrar convenções e acordos coletivos de trabalho, que têm
força legal impositiva e abrangem de forma universal todos os trabalhadores da base
sindical da categoria. Esse direito vale para todo o setor privado e para as empresas
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estatais, de economia mista, públicas, bem como para autarquias (excetuando-se os
órgãos da administração pública direta).
197. Entretanto, há milhões de servidores públicos, trabalhadores de órgãos
públicos nos municípios, estados e da União que, desde a Constituição de 1988,
adquiriram o direito de organização sindical, mas que ainda não tiveram o direito de
negociação regulado em lei. Regulamentar o direito de negociação no espaço do
direito administrativo que rege as funções e atividades do Estado é um desafio
presente em nossa realidade.
198. O movimento dos trabalhadores nos processos negociais tem na greve seu
principal instrumento para o estabelecimento da correlação de força visando à
construção das bases e conteúdos para o acordo. A divergência e a disputa sobre a
alocação dos recursos entre o empregador e os trabalhadores podem resultar em
impasse e extrapolar para conflitos que levem os trabalhadores a promoverem a
interrupção do trabalho. Esse direito está consagrado nas normas internacionais e deve
ser garantido a todos os trabalhadores. Há no Brasil, a necessidade de regular o direito
de greve para os servidores públicos, bem como garantir o direito de organização dos
trabalhadores nos seus movimentos, em especial acabar com o instrumento do
interdito proibitório que impede a ação autônoma dos trabalhadores e das entidades
sindicais.
199. Em uma sociedade democrática os conflitos inerentes às relações de trabalho
exigem mecanismos ágeis de solução que sejam capazes de mediar interesses
divergentes, estabelecendo procedimentos e normas que atuem para a regulação das
relações de trabalho.
200. No âmbito das negociações coletivas que envolvem os engenheiros, o desafio é
desenvolver organização e articulação sindical que permitam e promovam a
representação desse segmento de trabalhadores no seio das relações de trabalho e
negociação em cada empresa e no conjunto delas. Há que enfrentar os conflitos
existentes com as entidades sindicais majoritárias e construir um tipo de solidariedade
sindical que amplie a representatividade do movimento e sua capacidade de conquistar
direitos e melhorias.
201. No aspecto específico das negociações cabe o investimento para tornar essa
atividade mais profissionalizada, seja com assessorias específicas, seja com
planejamento e integração dos trabalhos, articulando as campanhas, investindo na
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formação dos negociadores que compõem as comissões. Uma diretriz é ampliar o
investimento na coordenação das negociações em nível nacional, para a qual a
Federação pode apoiar a elaboração e unificação das pautas mínimas dos engenheiros.
202. Os resultados das negociações indicam que o movimento sindical vem
conseguindo recuperar as perdas salariais e conquistar aumentos salariais em 95% dos
processos, segundo pesquisa do Dieese. A pesquisa também revela que as negociações
abordam as diferentes formas de compor os salários de maneira direta (o piso salarial,
a PLR, adicionais, entre outros), ou indireta (auxílio-saúde, escola e creche, transporte,
entre outros), bem como avançando em aspectos relacionados às condições de
trabalho. Há pouco avanço relacionado à organização sindical no local de trabalho.
203. São aspectos do conteúdo e objetos da negociação que precisam estar no centro
das prioridades para o enfrentamento e superação: terceirização e todas as
consequências sobre a organização e representação, bem como os efeitos sobre as
condições de trabalho e a precarização; formas de remuneração, com destaque para o
piso profissional e a regras para a distribuição da Participação nos Lucros e Resultados
(PLR); condições de saúde e segurança nos locais de trabalho, em especial nas
empresas terceirizadas.
204. Diretrizes sugeridas:
a. Atuar para a regulamentação do direito de negociação e de greve dos
trabalhadores do setor público.
b. Apoiar as iniciativas do movimento sindical para favorecer o surgimento de
organização sindical de base nos locais de trabalho.
c. Favorecer, por meio de articulações com o movimento sindical, a participação
dos Sindicatos de Engenheiros e da Fisenge nas negociações nacionais,
regionais e setoriais.
d. Atuar para ampliar a observância/efetividade da legislação do salário mínimo
profissional.
III.4. Formação Profissional
205. Na última década reverteu-se a tendência acentuada, observada nos anos 1980
e 1990, de desvalorização da área de engenharia. Contribuíram para isso diversos
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fatores, entre eles, a retomada do crescimento econômico e a perspectiva do
desenvolvimento assentada no investimento público em infraestrutura econômica e
social, no fortalecimento do setor de petróleo e gás, energia e transporte, bem como
em decorrência dos investimentos privados. A desvalorização profissional e a falta de
oportunidades, contra a qual se lutou nos anos 1980 e 1990, teve como consequência a
queda na procura pelos jovens dos cursos da área de engenharia, falta de investimento
na atualização dos cursos e na criação de novos, entre outros. No momento presente, o
problema é a carência de profissionais na área de engenharia na faixa etária entre 35 e
49 anos, muitas vezes apontada na grande mídia como um fenômeno generalizado de
apagão de mão de obra. Alguns estudos (IPEA, IEA-USP) indicam que há carência
tópica de profissionais “maduros” capazes de assumir responsabilidades de gerência,
liderança e direção, o que é corroborado pelas manifestações das empresas e
organizações, todos indicando que não há uma carência estrutural de engenheiros no
país e que a perspectiva quantitativa de formação de novos profissionais deve
responder à demanda. Observa-se demanda mais acentuada e carência de engenheiros
especializados no setor de petróleo e gás, minério e naval. Há também descompasso
na distribuição no território, não havendo um balanceamento adequado entre a
demanda e a oferta, movimento de ajuste que leva tempo para ocorrer e depende das
condições ofertadas em termos de condições de trabalho, salário e qualidade de vida
na comunidade.
206. Vinte anos de destruição de um campo de conhecimento essencial para
sustentar estratégias de crescimento e desenvolvimento não ficariam incólumes.
Recuperar os desinvestimentos exige continuidade e tempo, bem como a atenção para
a qualidade da formação oferecida, especialmente nas escolas privadas.
207. Mas tudo começa na educação infantil e na educação básica. Para a área de
engenharia, com os jovens obtendo uma sólida formação em matemáticas e em
ciências. Nesse campo avançou-se no Brasil nos últimos anos. Segundo o Censo
Escolar da Educação Básica 2013, a ampliação dos investimentos em educação dão
mostras quantitativas relevantes. São, hoje, mais de 50 milhões de matrículas em
educação básica, podendo-se afirmar que foi superado o desafio de universalizar o
acesso – ainda que existam desafios para populações remotas e em condições de
extrema pobreza. Desse universo, 46% estão matriculadas na rede municipal e 36%
nas redes estaduais. Observa-se um crescimento de 7,5% nas matriculas em creches
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(2,73 milhões de crianças) para o qual o Programa Proinfância prevê a entrega de seis
mil escolas até o final do ano para essa faixa etária. Há destaque para a criação em um
ano de mais de um milhão de novas vagas, atingido 3,17 milhões alunos em tempo
integral, sendo 97% deles em escolas públicas. No ensino médio há 8,3 milhões de
matrículas, sendo 1,44 milhão no ensino profissionalizante.
208. Se houve de fato a expansão da oferta para a universalização (educação básica)
ou encontra-se em expansão a oferta (educação infantil e escola em tempo integral), há
o deslocamento para o problema da qualidade da educação fundamental, fato
evidenciado por especialistas e profissionais da área.
209. O problema da qualidade é observado especialmente quando do ingresso no
ensino médio profissionalizante nas boas escolas. Há déficits estruturais de
habilidades na língua portuguesa, em matemática e ciências, déficits que impedem os
jovens de acessar os cursos ou de neles permanecer, o que é indicado de forma
contínua nos exames internacionais dos quais o Brasil participa (PISA). No que se
refere à educação técnica de nível médio, houve também uma mudança importante na
estratégica do MEC, criando o PRONATEC, que centraliza e amplia a oferta federal
de educação técnica, ampliando a rede dos CEFETS, realizando cooperação com os
estados, o Sistema S, bem como organizando a oferta de educação profissional inicial
e continuada.
210. O mesmo problema se observa no acesso aos cursos das engenharias, nos quais
os índices de abandono estão acima de 50%, em muitos dos casos por dificuldades de
acompanhá-los pelas carências de conhecimento básico em matemática e ciências. Há,
portanto, problemas relacionados à não inclusão no nível superior, mas, também, à
evasão e à retenção, em grande medida relacionados à baixa qualidade do ensino
fundamental e médio no país.
211. Investir na formação de um contingente de jovens no campo de conhecimento
das engenharias significa coordenar as trajetórias / preferências individuais com a
estratégia de desenvolvimento do país. Este é um desafio complexo. Primeiro, porque
envolve múltiplas dimensões dos indivíduos, suas relações familiares, situação de
inserção socioeconômica e sua distribuição no território. Segundo, porque a oferta de
educação inclui inúmeros aspectos, como a distribuição no território, a capacidade
cognitiva disponível nos conteúdos a ensinar, a qualidade da educação, a quantidade
ofertada. Em terceiro lugar, porque há a relação de todos esses aspectos com a
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trajetória recente das oportunidades de emprego influenciando as decisões de
formação profissional.
212. Contudo, esse conjunto de fatores mencionados, que dizem respeito à oferta e à
demanda por formação profissional na engenharia, pode estar desconectado das
apostas que os agentes econômicos, privados e públicos, fazem no presente e farão no
futuro, para sua decisão de investir. É preciso tentar coordenar processos educativos e
trajetórias educacionais, as transições e as escolhas que se fazem e as mediações com
o mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, de maneira integrada, com todos os
aspectos da gestão das escolas de formação profissional, em muitos níveis, desde o
local até o nacional.
213. No mundo economicamente globalizado, a divisão internacional do trabalho e
do conhecimento colocam enormes desafios à engenharia nacional como componente
estratégico para as transformações no sentido do desenvolvimento. A promoção do
desenvolvimento exige mobilizar a juventude para que invista no campo de
conhecimento das engenharias e dele faça um campo de atuação capaz de produzir a
competência técnica que transforma nossa realidade. Para que as trajetórias
individuais se cruzem com os interesses do país, é fundamental despertar essas
competências, desde a educação básica, com o gosto pela matemática e pelas ciências,
com método de ensino-aprendizagem que oriente o árduo trabalho de estudar.
214. Desse ponto de vista, é essencial que a ciência e a pesquisa para a inovação
tecnológica estejam no centro de toda a formação da área de engenharia, sendo esta a
frente aplicada de parte significativa de muitos campos de conhecimento, desde o
nível macro, das grandes obras de engenharia, ao micro, da nanotecnologia.
215. Há também o desafio de formar o novo profissional que trabalha em equipe e
em rede. Há que desenvolver um ensino orientado por projetos, capaz de reunir todas
as disciplinas envolvidas e trabalhar de forma integrada. Será preciso reestruturar as
escolas e capacitar os professores. Há o desafio da relação entre universidade, os
centros de desenvolvimento tecnológico voltados para a inovação e a estrutura
produtiva. Sem descuidar dos riscos de uma possível subordinação, deve-se procurar
favorecer a formação dual no espaço das escolas/universidades e nos locais de
produção. O estágio deve ser melhor estruturado, inclusive prevendo maior interação
dos professores com o setor produtivo.
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216. Existe um enorme descompasso de qualidade entre as escolas públicas e as
escolas privadas, estas sem a prática da engenharia, sem laboratórios, baseada somente
em livros, em textos. Por isso, é preciso ampliar fundamentalmente a oferta de vagas
nas escolas públicas de qualidade. A qualidade dos formandos, segundo o Enade,
indica que não mais de 30% são oriundos das melhores escolas.
217. Outro problema é a quantidade de especialidades nos cursos de engenharia. A
tendência na produção do conhecimento é exatamente a oposta à especialização direta,
onde a integração cada vez maior entre as áreas e uma interdisciplinaridade crescente
é a base de uma formação sólida e aberta ao vasto campo de conhecimento da
engenharia. Deve-se voltar à experiência passada quando a primeira parte do curso era
comum e a escolha da especialização era feita posteriormente.
218. Há, também, uma inadequação entre os métodos tradicionais de ensino ao
perfil dos jovens estudantes de engenharia. Esses jovens podem ter acesso a
praticamente toda informação produzida sobre os mais diversos assuntos. Podem ter
acesso às tecnologias de ponta desenvolvidas em qualquer parte do mundo
globalizado. São bombardeados simultânea e ininterruptamente por uma enorme gama
de estímulos (distrações) informacionais. Estão habituados a colocar em operação os
novos equipamentos (“gadgets”) antes mesmo de procurar saber como fazê-lo. Como
motivá-los, conseguir sua atenção, a dose necessária de disciplina para o aprendizado?
Por exemplo, a combinação entre as disciplinas teóricas e as práticas também poderia
mudar. Atualmente, nos dois primeiros anos, o curso é basicamente teórico (cálculo,
física, química, etc.). Há experiências em alguns países (Alemanha, por exemplo) de
distribuir o conhecimento aplicado e prático ao longo dos cinco anos sem a separação
como é feito hoje entre curso básico (teórico e prático) e o profissionalizante, o que
aumenta o interesse e ajuda a reduzir a evasão. Nosso grande desafio para contribuir
como profissionais para um projeto de nação é formar o engenheiro transformador
(uma bela experiência nesse sentido, desenvolvida na França, desde 1999, é a dos ISF
– Engenheiros sem fronteira http://www.isf-france.org/). O engenheiro não deveria
forma-se para ser apenas um burocrata, tecnicista, que adere acriticamente aos
processos produtivos e regras já existentes nas organizações empregadoras. O espírito
crítico deve ser a base dessa nova formação, na qual o engenheiro deve ser formado
para transformar a sociedade.
219. Diretrizes sugeridas:
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a. Assegurar e investir os recursos necessários à ampliação da oferta do ensino
médio e na melhoria da qualidade do ensino básico e médio, especialmente nas
disciplinas de matemática e ciências.
b. Investir num sistema de projeções ocupacionais ligado à área de engenharias,
de sorte a orientar a oferta e demanda por formação profissional de
engenheiros, a partir da evolução e perspectivas do mercado de trabalho.
c. Reestruturar os cursos de engenharia de forma a torná-los mais atraentes aos
alunos e compatível com o estado científico e tecnológico do atual mundo
globalizado
d. Introduzir dentre os componentes centrais na estruturação dos cursos de
engenharia:
i. Interdisciplinaridade;
ii. integração à pesquisa e à inovação tecnológica;
iii. utilização da tecnologia como instrumento relevante no ensino-
aprendizagem;
iv. trabalho em grupo, em rede, por projetos;
v. formação de profissionais com perfil transformador da realidade
socioeconômica do país.
e. Promover dentre os professores na área da engenharia a importância de uma
formação mais integrada, voltada à inovação tecnológica e ao papel
transformador da engenharia.
f. Estimular uma maior integração entre a universidade, centros de pesquisa e o
setor produtivo nacional.
g. Ampliar a quantidade de vagas nas escolas públicas de engenharia e
desenvolver programas voltados à melhoria e à fiscalização da qualidade das
escolas privadas
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