jornal fisenge nº58

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JORNAL DA Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros Pela demarcação das terras indígenas Página 3 www.fisenge.org.br Ano VII - nº 58 outubro / novembro - 2012 MCCE apresenta balanço sobre processo eleitoral Passadas as eleições, chega o momento de fiscalização. Cabe ao eleitor fiscalizar o seu candidato eleito e os que foram elei- tos por maioria. Existem instrumentos que podem facilitar o acesso à informação. “Hoje, o volume de informações dispo- níveis sobre o passado dos candidatos é muito grande com a internet”, afirma o representante da Fisenge no Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Maurício Garcia. Página 6 A organização não governamental ActionAid lançou o relató- rio “Situação da Terra”, cujo principal ponto trata da compra de terras por grupos estrangeiros em 24 países da América Latina, África e Ásia. Concomitante a esta situação, está na Câmara Federal uma proposta de substitutivo, de autoria da 69ª SOEA abre debate sobre legislação das profissões Entre os dias 19 e 23 de novembro, acontecerá a 69ª Sema- na Oficial de Engenharia e Agronomia (SOEA), em Brasília. A expectativa é que mais de três mil profissionais participem do evento. Na pauta de discussão, estão os projetos e as leis rela- cionados à Engenharia e Agronomia. Este é um momento impor- tante para que os profissionais e entidades de classe debatam com transparência e democracia. Página 4 e 5 bancada ruralista, ao PL nº 2.289/07, que abre uma imensa porteira beneficiando a entrada de empresas estrangeiras no país. O coordenador-executivo da ActionAid, Adriano Campo- lina - em entrevista ao Jornal da Fisenge – fala sobre as fa- lhas legislativas e os problemas das transações com o capital internacional. Página 8 Falhas legislativas abrem caminhos para bancada ruralista flexibilizar compra de terras por estrangeiros

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outubro / novembro - 2012

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Page 1: Jornal fisenge nº58

JORNAL DA

Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros

Pela demarcação

das terras indígenas

Página 3

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Ano VII - nº 58outubro / novembro - 2012

MCCE apresenta balanço sobre processo eleitoral

Passadas as eleições, chega o momento de fi scalização. Cabe ao eleitor fi scalizar o seu candidato eleito e os que foram elei-tos por maioria. Existem instrumentos que podem facilitar o acesso à informação. “Hoje, o volume de informações dispo-níveis sobre o passado dos candidatos é muito grande com a internet”, afi rma o representante da Fisenge no Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Maurício Garcia. página 6

A organização não governamental ActionAid lançou o relató-rio “Situação da Terra”, cujo principal ponto trata da compra de terras por grupos estrangeiros em 24 países da América Latina, África e Ásia. Concomitante a esta situação, está na Câmara Federal uma proposta de substitutivo, de autoria da

69ª SOEA abre debate sobre legislação das profi ssões

Entre os dias 19 e 23 de novembro, acontecerá a 69ª Sema-na Ofi cial de Engenharia e Agronomia (SOEA), em Brasília. A expectativa é que mais de três mil profi ssionais participem do evento. Na pauta de discussão, estão os projetos e as leis rela-cionados à Engenharia e Agronomia. Este é um momento impor-tante para que os profi ssionais e entidades de classe debatam com transparência e democracia. página 4 e 5

bancada ruralista, ao PL nº 2.289/07, que abre uma imensa porteira benefi ciando a entrada de empresas estrangeiras no país. O coordenador-executivo da ActionAid, Adriano Campo-lina - em entrevista ao Jornal da Fisenge – fala sobre as fa-lhas legislativas e os problemas das transações com o capital internacional. página 8

Falhas legislativas abrem caminhos

para bancada ruralista

fl exibilizar compra de terras por estrangeiros

Falhas legislativas

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F E D E R A Ç Ã O I N T E R E S T A D U A L D E S I N D I C A T O S D E E N G E N H E I R O S

GIRO PELOS SENGESEDITORIAL

DIRETORIA EXECUTIVA: Presidente: Carlos Roberto Bittencourt; Vice-presidente: Raul Otávio da Silva Pereira; Diretor Secretário Geral: Clovis Francisco Nascimento Filho; Diretor Financeiro: Eduardo Medeiros Piazera; Diretor Financeiro Adjunto: Roberto Luiz de Carvalho Freire; Diretor de Negociação Coletiva: Fernando Elias Vieira Jogaib; Diretora da Mulher: Simone Baia Pereira; Diretor Executivo: José Ezequiel Ramos; Diretora Executiva: Giucélia Araujo de Figueiredo; Diretora Executiva: Silvana Marília Ventura Palmeira; Jornalista responsável: Camila Marins MTB: 47-474/SP; Revisão: Beatriz Fontes; Diagramação: Ricardo Bogéa; Tiragem: 5000 exemplares; Impressão: Reproarte; Fisenge: Av. Rio Branco, 277 - 17º andar - CEP 20040-009 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Tel: (21) 2533-0836 - Fax: (21) 2532-2775 – E-mail: [email protected] Site: www.fisenge.org.br

Senge-VR amplia número de mulheres na diretoria

Foi realizado no dia 9 de outubro, o processo eleitoral do Sindicato

dos Engenheiros de Volta Redonda (Senge-VR). O presidente reelei-to, João Thomaz acredita que um dos destaques foi a ampliação do número de mulheres na diretoria. “Tivemos uma eleição democrática e transparente. Agora, temos mais uma mulher na composição do sin-dicato, que segue a política de in-centivar e ampliar a participação da mulher”, afirmou. De acordo com a diretora eleita, Cecília Fuchs, sua

A responsabilidade da Engenharia

Discutir projetos e leis relacionados às profissões do Sistema Confea/Creas é fundamental no atual momento que vivemos. Isso porque o Brasil vive um crescimento econômico e social favorável. O PIB do Brasil, em 2011, foi de 4,1 trilhões de re-ais. Vivemos um período de crescimento econô-mico em que há distribuição de renda. Com este cenário, muitas obras estão em andamento, os investimentos aumentam nas áreas relacionadas a profissões, ligadas ao petróleo, à mineração e à engenharia de produção, por exemplo. Com esta expansão e aceleração do crescimen-to, que coadunam com a necessidade de mão de obra qualificada em nosso campo, lidamos com al-gumas questões: a pulverização e o aumento das modalidades acadêmicas no campo da engenha-ria e da agronomia, bem como a possível escas-sez de engenheiros. O primeiro ponto nos preo-cupa no que tange ao conflito de atribuições, haja vista que muitas das profissões não têm atribuição para o exercício profissional, embora existam rei-vindicações. É preciso criar uma definição ou um método de organização das modalidades.Em relação à possível escassez de engenheiros, podemos dizer que, se o Brasil seguir na expec-tativa de crescimento almejada, podemos vir a ter falta de mão de obra em determinadas áreas. É claro, que é fundamental pensarmos na qualidade do ensino, ao invés de pulverizar as grades aca-dêmicas e reafirmar a nossa campanha de valori-zação profissional. A responsabilidade de nossas profissões interfere diretamente no cotidiano dos trabalhadores e no desenvolvimento da socieda-de. Precisamos fortalecer nossas entidades, co-brar o cumprimento do Salário Mínimo Profissional (SMP) nas empresas, valorizar mão de obra nacio-nal e cobrar qualidade no ensino. Este debate não se esgota e não se restringe a uma mera questão corporativa. Temos todos res-ponsabilidade com a sociedade e a tarefa de cons-truir um projeto de nação solidário e igual.

participação no movimento sindical se deu de forma natural. “Cheguei, em 1976, a Volta Redonda e me sindicalizei em seguida, porque co-mecei a ter contato com amigos que entraram no sindicato. Foi uma ação natural, uma vez que não dava para ignorar o momento de estruturação das leis trabalhistas no Brasil. Embo-ra sempre com atuação participativa no sindicato, esta é a primeira vez que participo da diretoria”, ela con-tou. A chapa “Resiliência” foi eleita por maioria dos votos.

Fisenge subscreve documento sobre máfia do lixo no Distrito Federal

A Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fi-

senge) assinou um documento que aponta irregularidades na proposta de parceria público-privada (PPP) para os sistemas de coleta, trata-mento e destinação final dos resí-duos sólidos do Distrito Federal. O secretário-geral da Fisenge, Clovis

Nascimento, representa a federa-ção no movimento “Máfia do Lixo” e explicou que este é um instrumento de denúncia dos problemas relacio-nados à coleta de resíduos sólidos. “Esta parceria público-privada apre-senta números bilionários e não atende aos interesses da popula-ção”, explicou.

Senge-BA comemora 75 anos de fundação

A década de 1930 foi marca-da por uma forte ebulição na

política brasileira, haja vista as articulações de Getúlio Vargas para o golpe do Estado Novo. Foi neste contexto que o Sindica-to dos Engenheiros da Bahia foi fundado em 27 de setembro de 1937 pelo engenheiro civil e pro-fessor Alfredo Nogueira Passos. “O golpe do Estado Novo, em 10 novembro de 1937, provocou a suspensão temporária de emis-sões de carta sindical, sendo que a carta do Senge-BA foi emitada sete anos após a sua fundação, em 12 de janeiro de 1944”, ex-plicou o atual presidente do sin-dicato, Ubiratan Félix, durante a cerimônia de 75 anos de funda-ção da entidade.

Diversas autoridades participaram da comemoração. Representando o governador Jaques Wagner, o se-cretário estadual de Planejamento, José Sérgio Gabrielli; o deputado estadual e engenheiro agrônomo, Marcelino Galo; o presidente da Caixa Econômica Federal, arqui-teto Jorge Hereda; o presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisen-ge), Carlos Roberto Bittencourt; os diretores da Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea (Mútua--BA): Ineivea Farias, Rubem Bar-ros e Carlos Guaracy; o diretor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Luis Ed-mundo Campos; a vice-presidente do Senge-BA, engenheira de ali-mentos Marcia Ângela Nori.

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MOMENTO HISTÓRICO

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Plataforma Operária e Camponesa de Energia restabelece diálogo com governo sobre as MPs do setor elétrico

REIVINDICAÇÃO

Dados de 2011, do Conselho Indige-nista Missionário (Cimi), revelam

que Mato Grosso do Sul é o estado onde mais morrem indígenas, com 55,5% dos assassinatos em todo o país. Ainda se-gundo o relatório, nos últimos oito anos, mais de 4 mil crianças indígenas sofre-ram por desnutrição no estado, sendo os anos mais críticos 2003, quando a taxa de mortalidade por desnutrição foi de 93 crianças para cada mil nascimentos e 2004, quando a taxa foi de 63 crianças. O documento ainda aponta que, de 2003 a 2010, o índice de assassinatos na Re-serva de Dourados foi de 145 para cada 100 mil habitantes – no Iraque, o índice é de 93 assassinatos para cada 100 mil. Comparado à média brasileira, o índice de homicídios da Reserva de Dourados é 495% maior.Mesmo com este contexto de violência aos povos indígenas, a Justiça Federal de Mato Grosso do Sul emitiu ordem de despacho pela “reintegração de posse” e retirada das comunidades Guarani-Kaio-wá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay. Ao todo, são 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças que resistem em solo tradicional, às margens do rio Hovy, onde já ocorreram quatro mortes, duas por suicídio e duas por espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas, de

Diversas reuniões em Brasília têm marcado a reaproximação da Plata-

forma Operária e Camponesa de Energia com o Governo Federal. Isso porque no momento da edição das Medidas Provi-

sórias (MPs) do setor elétrico, o governo não ouviu os movimentos sociais. “Agora, estamos construindo a reaproximação em nível federal com o objetivo de garantir as condições de trabalho e, principalmente, os empregos. Isso porque algumas das empresas já anunciaram uma série de demissões”, afirmou o representante da Fisenge na Plataforma, Ulisses Kaniak. De acordo com o diretor da Fisenge, José Ezequiel Ramos já existem mais de 400 emendas à medida provisória e a maior

Pela demarcação das terras indígenas da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS

acordo com documento divulgado pela comunidade. A única saída do acam-pamento é pelo rio Hovy (30 metros de largura e três de profundidade), com um improviso de arames e cipós que são ro-tineiramente cortados pelos pistoleiros.Desde 1991, apenas oito terras indí-genas foram homologadas para esses indígenas que compõem o segundo maior povo do país, com 43 mil indiví-duos, que vivem em terras diminutas. Por tudo isso, a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) pede a devida demarcação de terras, de acordo com reivindicação dos po-

parte advém do setor empresarial. “As empresas perceberam que precisariam superar a perda de receita e, consequen-temente, enxugar a folha de pagamento, por meio do Plano de Demissão Voluntá-ria (PDV). Isto significa que a conta vai ficar para os trabalhadores”, enfatizou.A MP propõe a renovação das conces-sões, a redução das tarifas de energia, entre outras medidas. O momento agora é de disputa para garantir os direitos dos trabalhadores e da sociedade.

A MP propõe a renovação das concessões, a redução das tarifas de energia, entre outras medidas.

Desde 1991, apenas oito terras indígenas foram homologadas para esses indígenas que compõem o segundo maior povo do país, com 43 mil indivíduos, que vivem em terras diminutas.

vos indígenas. Ainda com todas estas ameaças e o contexto de violência, os indígenas resistem e prometem resistir mais. Resistimos juntos, lado a lado pelo direito de realmente viver, e não apenas sobreviver, uma vez que estes povos vi-vem em situação extremamente limitada com alimentação e ameaças de pisto-leiros. Não podemos permitir a extinção de comunidades tradicionais, que são o Brasil. Não decretemos o genocídio de um povo. Pelo direito do bem viver. Pe-los direitos dos povos tradicionais e pela demarcação de terras.

... nos últimos oito anos, mais de 4 mil crianças indígenas sofreram por desnutrição no estado, sendo os anos mais críticos 2003, quando a taxa de mortalidade por desnutrição foi de 93 crianças para cada mil nascimentos e 2004, quando a taxa foi de 63 crianças.

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DEBATE DA ENGENHARIA

Brasil 1966. A TV Tupi exibia o concur-so Miss Brasil. A Taça Brasil de 1966

foi a oitava edição do Campeonato Bra-sileiro. O Cruzeiro sagrou-se campeão e a vitória fortaleceu os clubes de fora do eixo Rio-São Paulo. A Guerrilha do Capa-raó – inspirada em Sierra Maestra - fervi-lhava na divisa entre os estados do Es-pírito Santo e de Minas Gerais. Este foi, provavelmente, o primeiro movimento ar-mado de oposição ao regime militar bra-sileiro. Foram editados o Ato Institucional nº 3 e o Ato Institucional nº4. O AI-3 de-terminava que a eleição de governadores e vices seria indireta executada por colé-gio eleitoral estadual e que os prefeitos das capitais e das cidades de segurança nacional não seriam mais eleitos, e sim indicados por nomeação pelos governa-dores. Como medida de centralização do poder no Executivo, Castelo Branco, por meio do AI-4, convocou o Congresso Nacional para a votação e promulgação do projeto de Constituição, que revogava definitivamente a Constituição de 1946.

69ª SOEA debate projetos de lei relacionados às profissõesAcontece, entre os dias 19 e 23 de novembro, em Brasília, a 69ª Semana Oficial da Engenharia e da Arquitetura

Diante deste cenário - um período som-brio da história do Brasil – foi promulgada a lei nº 5194 que dispõe sobre a regula-mentação do exercício profissional da en-genharia, arquitetura e agronomia. Com a recente saída dos arquitetos do Sistema Confea/Creas, torna-se necessária uma alteração na legislação. Ponto que abre um vasto caminho rumo a uma reforma da lei. Este será um dos assuntos da 69ª Semana Oficial de Engenharia e Arquite-tura (SOEA), cujo tema tergiversa sobre “O aperfeiçoamento do Sistema Confea/Crea e Mútua – Os profissionais como agentes de transformação na sociedade”. A SOEA acontece entre os dias 19 e 23 de novembro, em Brasília, e espera mais de três mil profissionais. Uma das questões no âmbito da refor-ma da Lei 5.194 dispõe sobre o aumento de conselheiros federais de acordo com o número de estados. “Hoje, temos 15 conselheiros representando os estados (mais três eleitos por escolas), ou seja, não há uma proporção entre o número de

estados no país e o número de conselhei-ros. Por isso, o ideal seria a garantia de, no mínimo, um conselheiro federal por estado” afirmou o presidente da Fisenge e engenheiro agrônomo, Carlos Roberto Bittencourt.A presidente do Crea-PB, Giucélia Araújo aponta que o fundamental neste proces-so é a participação das entidades. “Não podemos perder a oportunidade de cons-truir um marco legal para o exercício pro-fissional. Esta construção deve garantir a mobilização de profissionais e entidades de todo o país, de modo que seja trans-parente e assegure legitimidade ao pro-cesso”, enfatizou. Hoje, a engenharia nacional vive um mo-mento protagonista no desenvolvimento social e econômico do país. De acordo com Bittencourt também é necessária uma revisão e regulamentação na quantidade de modalidades acadêmicas no campo da engenharia e da agronomia. “Atualmente, são mais de 400 modalidades, que se pul-verizam cada vez mais pelas instituições de ensino. Precisamos encontrar uma forma de organizar este processo com a finalidade de evitar conflitos de atribuição entre as categorias”, explicou.

Questões polêmicas

O presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, acredita que transparência é fundamental no pro-cesso de debate

Segundo o presidente do Crea-RJ, Agos-tinho Guerreiro, uma questão polêmica, que vem surgindo nos grupos do Con-fea é a saída do Tribunal de Contas da União (TCU) da prestação de contas da autarquia. “Hoje, existem auditorias no Confea e as prestações de contas vão parar no TCU. Mas nós não vemos pro-blemas com a fiscalização do tribunal”, comentou. Outro ponto questionado foi a votação para a escolha dos conselhei-ros do Confea e dos Creas. Atualmen-te, a votação no Confea e Creas não é obrigatória e não causa qualquer tipo de punição por meio de taxa ou justificativa. “A maioria dos profissionais não compa-rece ao processo eleitoral e quase nun-ca chegamos a 15% dos eleitores. Por isso, defendo o voto obrigatório, princi-palmente, quando comparamos com ou-tros conselhos que usam esta prática e que funciona muito bem, chegando a 70 ou 80% dos eleitores. Consequentemen-te, a prática aumenta a democracia nos processos eleitorais, uma vez que pode ampliar a participação dos profissio-nais”, argumentou Agostinho. “Seguindo uma tendência moderna e mundial, po-deríamos utilizar a Internet. É uma forma democrática e abrangente de votação, já

realizada por grande número de conse-lho”, ratificou.O Conselho Federal de Farmácia im-plantou um projeto piloto ano passado de votação pela internet em seis esta-dos e houve um aumento considerável da participação configurando um quadro favorável e de ampliação para o próximo processo eleitoral. Já o Conselho Fede-ral de Administração utiliza o sistema há

três anos e houve um aumento de mais de 30% de participação dos profissionais. Conjuntamente ao sistema de votação pela internet, o Conselho Federal de Administração implantou uma ouvidoria para esclarecer dúvidas e atender o elei-tor. Com esta prática, pretendem aperfei-çoar ainda mais o sistema de votação e continuar no próximo processo eleitoral em 2014.

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Dois projetos relacionados à agronomia se destacam na discussão. Um deles dispõe sobre a regulamentação da pro-fi ssão de zootecnista e retira as atribui-ções e competências dos engenheiros agrônomos na área. A Fisenge encami-nhou ao deputado Onix Lorenzoni e de-mais parlamentares das comissões, um documento solicitando parecer contrário ao Projeto de Lei nº 7607/10. “Somos a favor da regulamentação da profi ssão, mas contrários à retirada das atribuições dos engenheiros agrônomos. Suprimir um direito estabelecido em lei representa um retrocesso. A contribuição do enge-nheiro agrônomo é enorme no âmbito do desenvolvimento da pecuária brasileira, uma vez que esta área é um dos princi-pais pontos de sua formação. A retirada destas atribuições signifi ca um grande prejuízo ao desenvolvimento do país”, ar-gumentou Bittencourt.Outro Projeto de Lei n° 3.423/12, do de-putado Ricardo Izar, autoriza o biólogo a exercer a responsabilidade técnica por produção, benefi ciamento, reembalagem ou análise de sementes em todas as suas fases. Atualmente, os responsáveis técnicos por essas atividades são os en-genheiros agrônomos e fl orestais. “O re-lator retirou a proposta, mas precisamos fi car atentos, pois existe uma preocupa-ção direta quando uma categoria inter-fere na atribuição de outra. A formação do biólogo não contempla, por exemplo, a questão de sistema de produção de plantas, fertilidade do solo, engenharia da mecanização agrícola, fi topatologia, entomologia e tantas outras. A produção de sementes e mudas - que não difere

Em uma iniciativa pioneira, o Senge-RJ lançou, em 1º de novembro, o Vota Sen-ge, um sistema de votação eletrônica pela internet. “Esta é uma das discussões que existem no campo Confea/Crea. A votação via internet vem modernizar e trazer transparência ao processo eleito-ral. Além disso, possibilita o aumento da participação”, disse o presidente do sindi-cato, Olímpio Alves dos Santos.O Senge-RJ adquiriu, em outubro, o cer-tifi cado digital GoDaddy, garantindo, que todos os dados que trafegam no sistema, entre o navegador do usuário e o servidor da aplicação, sejam criptografados. Isto assegura a integridade e o sigilo da in-formação.O Vota Senge facilitará a participação dos associados nas pesquisas de opi-nião, enquetes, votações sobre diversos

assuntos e eleições realizadas pelo sindi-cato “As enquetes e pesquisas de opinião ajudarão a direcionar as ações do Senge

Rio. O sistema já será usado nas próxi-mas eleições da diretoria do sindicato”, fi nalizou Olímpio.

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çãoAgronomia

muito da produção de qualquer alimento - exige conhecimentos técnico-científi cos tratados em inúmeras disciplinas da área da agronomia, que não são da grade da

biologia”, explicou o presidente do Sea-gro-SC e engenheiro agrônomo, Jorge Dotti Cesa.

plS 58/2008 sobre obras públicas inacabadas

pl 2177/2011 Código Nacional de Ciência e Tecnologia

pEC 2/2010 Piso salarial nacional das diversas categorias

plS 439/2009 Cadastro unifi cado de todas as obras de engenharia

plS 561/2009 Fiscalização de contratos de obras de engenharia, arquitetura e agronomia

pl 5155/2009 Divulgação de informações referentes a obras ou serviços de engenharia

pl 3423/2012 Autoriza o biólogo a exercer a responsabilidade técnica por produção, benefi ciamento, reembalagem ou análise das sementes em todas as suas fases

pl 3792/2012 Altera a lei que cria os Conselhos Federal e Regionais de Química

pl 6699/2002 Criminaliza o exercício ilegal das profi ssões de engenheiro, arquiteto e agrônomo

pl 559/2007 Exame de sufi ciência para obtenção de registro profi ssional

Alguns projetos relacionados à engenharia

4º Fórum de Valorização Profi ssional acontece em Brasília

No dia 21, durante a SOEA, acontecerá o 4º Fórum Nacional de Valorização Pro-fi ssional. Entre os temas a serem debatidos está o Salário Mínimo Profi ssional (SMP – Lei nº 4.950-A). Coordenado pelo advogado e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Raimundo Cezar Britto, o painel contará com a presença do presidente da Fisenge, Carlos Roberto Bittencourt como um dos de-batedores, ao lado de outros presidentes de federações. “Muitas empresas e go-vernos ainda não cumprem o pagamento de 8,5 salários mínimos ao engenheiro. Precisamos intensifi car a fi scalização e pressionar pelo cumprimento do SMP. Uma forma comum de escamotear o piso salarial é o registro diferenciado de denominações para engenheiro. Ao invés de ser contratado como engenheiro, muitas vezes, as empresas e os governos registram como analista. Esta é uma forma clara de precarização do trabalho”, alertou. O painel terá início às 14 horas.

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MCCE

Em 1824, foi criada a primeira Constitui-ção do Império do Brasil por D. Pedro

I. As regras estabelecidas para o processo eleitoral eram bem restritas, uma vez que apenas a parcela mais abastada da socie-dade podia votar. Agora, todos têm direito de voto e a população brasileira dá exem-plo com a criação e aprovação da Lei da Ficha Limpa. A mobilização da socieda-de teve início há 10 anos com a criação do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), uma rede formada por entidades da sociedade civil, movimentos, organizações sociais e religiosas, aparti-dário e que tem como objetivo combater a corrupção eleitoral.

Processo eleitoral marca força da lei da Ficha Limpa nas urnasMovimento de Combate à Corrupção Eleitoral completa 10 anos de atuação

O MCCE mobilizou a sociedade e con-quistou a aprovação das duas únicas leis de iniciativa popular anticorrupção no Brasil: a Lei nº 9.840/99 (da Compra de Votos), que permite a cassação de re-gistros e diplomas eleitorais pela prática da compra de votos ou do uso eleitoral da máquina administrativa e a Lei Com-plementar nº 135/2010 (da Ficha Limpa), que impede o registro, junto à Justiça Eleitoral, de candidaturas de quem já foi condenado por órgãos colegiados. “A sociedade brasileira é constantemente atingida com noticiário sobre corrupção na administração publica. Desde a dis-cussão no Congresso Nacional, que cul-minou com o impeachment do presidente Collor (1990), que se tenta incriminar os corruptos e os corruptores (iniciativa do senador Pedro Simon) sem resultados positivos. Já que, no Congresso, esta iniciativa se distanciava da prática, a so-ciedade, por meio de sua organizações civis, começou, então, um movimento pela moralidade pública. Foi aí que to-mou corpo e sentido o MCCE”, explicou o representante da Fisenge no MCCE, Maurício Garcia.O juiz e coordenador do MCCE, Marlon Reis, lembra que, graças à lei, inúmeros candidatos, sabendo-se inelegíveis, se-quer chegaram a pedir o registro de suas

candidaturas. “Segundo levantamento feito pelo Correio Brasiliense, até o pri-meiro turno mais de 1.000 pessoas ha-viam tido o registro indeferido com base na Lei da Ficha Limpa”, afi rmou.Passadas as eleições, chega o momento da fi scalização. Cabe ao eleitor fi scalizar o seu candidato eleito e os que foram eleitos por maioria. Existem instrumentos que podem facilitar o acesso à informa-ção. “Hoje, com a internet, o volume de informações disponíveis sobre o pas-sado dos candidatos é muito grande. É possível obter informações em sites de Tribunais de Justiça e Tribunais de Con-tas, por exemplo. Além disso, há jornais e entidades da sociedade civil realizan-do levantamentos aos quais os eleitores devem estar atentos. Até aplicativos para smartphones, como o Transparência (para iPhone) já estão disponíveis para uso gratuito”, exemplifi cou. Ainda existem 3.681 processos sobre impugnação de candidaturas para serem julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral, dentre os 6.916 que foram recebidos pelo tribunal desde o mês passado. O indefe-rimento dos registros pode se dar por vá-rios motivos, inclusive pela Lei da Ficha Limpa – que é responsável por 2.247 pro-cessos que aguardam decisão. Os minis-tros darão prioridade a esses processos para tentar evitar que no dia da diploma-

Art. 93. Os que não podem votar nas Assembléas Primarias de Parochia, não podem ser Membros, nem votar na nomeação de alguma Autoridade electiva Nacional, ou local.

Art. 94. Podem ser Eleitores, e votar na eleição dos Deputados, Senadores, e Membros dos Conselhos de Província todos, os que podem votar na Assembléa Parochial. Exceptuam-se

I. Os que não tiverem de renda liquida annual duzentos mil réis por bens de raiz, industria, commercio, ou emprego.

II. Os Libertos.

III. Os criminosos pronunciados em queréla, ou devassa.

Art. 95. Todos os que podem ser Eleitores, abeis para serem nomeados Depu-tados. Exceptuam-se

I. Os que não tiverem quatrocentos mil réis de renda liquida, na fórma dos Arts. 92 e 94.

II. Os Estrangeiros naturalisados.

III. Os que não professarem a Religião do Estado”.

Fonte: Presidência da República / Casa Civil Subchefi a para Assuntos Jurídicos

“Segundo levantamento feito

pelo Correio Brasiliense, até o

primeiro turno mais de 1.000

pessoas haviam tido o registro

indeferido com base na Lei da

Ficha Limpa”

Trecho da carta constitucional de 1824 sobre o processo eleitoral

“Hoje, o volume de

informações disponíveis sobre

o passado dos candidatos é

muito grande com a internet. É

possível obter informações em

sites de Tribunais de Justiça e

Tribunais de Contas.

ção, em 19 de dezembro, a situação so-bre o resultado das eleições ainda esteja indefi nida nesses municípios. De acordo com Maurício Garcia, nas eleições gerais de 2010, muitos candidatos já foram pu-nidos, considerando os artigos da Lei e, recentemente, nas últimas eleições mu-nicipais inúmeros foram os processos ba-seados na Lei. Mas é bom frisar que só a Lei não resolve tudo, pois a vigilância constante do eleitor e cidadão é que po-derá por um fi m nessa mácula mundial da corrupção”, alertou.

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MULHERES

Foi assinado no dia 10 de outubro, o acordo de cooperação, entre a Ele-

trobras Eletronorte e a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), para a realização de ações educacionais em atendimento ao Programa Pró-Equi-dade de Gênero e Raça, incentivado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM). A coordenadora-geral de Progra-mas e Ações do Trabalho da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presi-dência da República, Gláucia Fraccaro explicou que o objetivo geral é impulsio-nar políticas e ações para as mulheres no mercado de trabalho e promover a igualdade no ambiente organizacional. “A partir do momento que a empresa faz a adesão e apresenta um plano de ação, a SPM acompanha todo o processo e, ao final, se a empresa atingir, pelo menos, 70% das ações previstas, conquista o selo Pró-Equidade de Gênero e Raça”, afirmou.De acordo com a coordenadora do Comi-tê e Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça da CPRM, Sandra Schneider o pla-no de ação trabalha com duas diretrizes: gestão de pessoas e cultura organizacio-nal. “Temos pautado e dado visibilidade interna e externa às questões de gênero e raça por meio de nossos meios de co-municação e também temos conquistado uma aproximação nas mesas de nego-ciação, pois conseguimos apresentar o nosso plano de ação”, contou. Dados apontam que, em 2006, eram 73% de homens e 27% de mulheres na CPRM. Em 2008, 69% de homens e 31% de mu-lheres e em 2010 65% de homens e 35% mulheres. A CPRM é uma das empresas do Co-mitê Permanente para as Questões de Gênero do Ministério de Minas e Energia (MME) e Empresas Vinculadas e do Pro-grama Pró–Equidade de Gênero e Raça.

Eletrobras e CPRM assinam acordo de cooperação com ações pró-equidade de gênero

Impulsionar políticas e ações para as mulheres no mercado de trabalho e promover a igualdade no ambiente organizacional são alguns dos objetivos do programa

O presidente da CPRM, Manoel Barretto esteve presente na assinatura do acordo

A empresa aderiu formalmente ao pro-grama na sua 3ª edição 2009/2010, ten-do recebido um selo e, em 2011, aderiu a 4ª edição 2011/2012.Dentre as ações propostas nas empre-sas, Glaucia Fraccaro destacou a impor-tância da ampliação das licenças-mater-nidade e paternidade; a adaptação de equipamentos de segurança e vestuário; a instalação de salas de aleitamento; a adoção da linguagem inclusiva nos cra-chás, entre outras. “Também estimula-mos as empresas a incluírem as traba-lhadoras terceirizadas e prestadoras de serviços, fazendo com que as ações de promoção da igualdade atinjam toda a cadeia produtiva”, complementou.A Eletrobras Eletronorte já conquistou o selo Pró-Equidade de Gênero e Raça por três anos consecutivos e caminha em busca do Selo de Ouro. Dados referen-tes a junho de 2012 mostram que, em relação a empregadas efetivas, são 740 mulheres, num total de 3776 empregados (as). “Nas três edições da conquista do Selo Pró-Equidade pela Eletrobras Ele-tronorte foram observadas mudanças, especialmente na sensibilização e mo-bilização das pessoas para a promoção e construção da equidade. O Programa é responsável por grande parte das res-postas positivas que a empresa tem dado em relação à sustentabilidade e à mu-dança cultural do país. A experiência tem possibilitado ainda o reconhecimento da grandeza de seus desafios, que refletem as desigualdades estruturais enfrentadas pelas mulheres brasileiras no mercado de trabalho”, enfatizou a coordenado-ra do Comitê de Gênero da Eletronorte, Gleide Almeida Brito.

A diretora da mulher da Fisenge, Simone Baía acredita que, quando uma empre-sa desperta para ações sociais e de re-lacionamento entre seus colaboradores, ela ajuda a criar um ambiente melhor de trabalho, dando ao seu trabalhador e tra-balhadora uma política de qualidade de vida. “A profissão da engenharia sempre é lembrada como o ‘Engenheiro’, e não como ‘Engenheiros e Engenheiras’. Hoje, temos um grande número de engenhei-ras e a expectativa é de que, a cada ano, o número aumente. Com isso, a organi-zação das engenheiras nas empresas aumenta e contribui com a organização dos trabalhadores em geral”, disse.

Sobre o Programa O Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça é uma iniciativa do Governo Fe-deral, que, por meio da Secretaria de Políticas para as Mulheres e do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, reafirma os compromissos de promoção da igualdade entre mulheres e homens inscrita na Constituição Federal de 1988, conta com o apoio da Entidade das Na-ções Unidas para Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres) e da Organização Internacio-nal do Trabalho – (OIT - Escritório Brasil).A primeira edição, ocorrida em 2006, teve a participação de 15 empresas. Em 2007-2008, foram 23 corporações participantes e, nos anos 2009-2010, 58 empresas. De lá para cá, mais de 80 empresas estive-ram envolvidas e mobilizaram 830.000 homens e mulheres para combater as desigualdades de gênero no mundo do trabalho.

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outubro / novembro - 20128

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ENTREVISTA AdriAno CAmpolinA

Quais são os países que mais com-pram terras no Brasil?

Temos um déficit no registro de dados. A Lei nº 5.709, de 1971, que regulamenta a compra de terras por estrangeiros com determinação de limites e preenchimento de um formulário de comunicação com detalhes da compra, mas, em 1997, a Ad-vocacia Geral da União (AGU) emitiu um parecer que desobrigava este tipo de in-formação. Por isso, temos uma limitação de dados de 1997 até 2010, período que a AGU mudou sua interpretação. Mesmo com esta defasagem, sabemos que os países que mais compram terras no Bra-sil são: Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, Holanda e Austrália.

No Brasil, quais as regiões que mais possuem terras adquiridas por grupos estrangeiros?

Embora com defasagem de dados, te-mos informações de que 36,7% das aqui-sições de imóveis estão em São Paulo (cana de açúcar); seguido por Paraná, Minas Gerais e Bahia. Já, em relação à área, o Mato Grosso vem na frente com 19,4%, seguido por Minas Gerais (11,3%), São Paulo (11,3%) e Mato Gros-so do Sul (10,9%).

Diante desta falha legislativa, o que pode ser proposto?

Antes de mais nada, temos outro proble-ma a enfrentar: as empresas brasileiras sustentadas pelo capital internacional e as empresas estrangeiras que abrem fi-liais no Brasil e se tornam “brasileiras”, utilizando as mesmas prerrogativas das

Aumenta compras de terras por estrangeiros em países da América Latina, Ásia e África

empresas nacionais. Atualmente, está na Câmara Federal uma proposta de subs-titutivo ao PL nº 2.289/07, que abre uma imensa porteira beneficiando a entrada de empresas estrangeiras no país.

A agricultura familiar hoje no Brasil é a principal responsável pela produção de alimentos, ao mesmo tempo em que o agronegócio aumenta. Como li-dar com esta situação?

Esta é a grande contradição. O Brasil vem trilhando o caminho pelo fortale-cimento da agricultura familiar, mesmo apoiando o agronegócio. Mais de 70% dos alimentos consumidos pelos brasilei-ros são produzidos pela agricultura fami-liar. 85% das propriedades agrícolas são destinadas aos produtores, que ocupam apenas 24% da área. A concentração fundiária ainda é muito alta. Junto com os programas destinados à agricultura fami-liar, é importante destacar os programas de diminuem a concentração de renda, a pobreza e a fome, como, por exemplo, o Fome Zero. O Brasil conquistou uma sé-rie de políticas públicas importantes para diminuir o nível de pobreza.

A aceleração do agronegócio, conse-quentemente, aumenta o uso de agro-tóxicos?

Certamente, ainda mais considerando que o Brasil é o campeão mundial no uso de agrotóxico. É preciso fazer uma taxa-ção proibitiva, como as do cigarro e do álcool. Existe uma proposta no Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Con-sea) de criação do Plano Nacional de Redução do Uso de Agrotóxico, além da criação de medidas fiscais, campanhas educativas e ampliação da informação ao consumidor com as informações so-bre uso do veneno e quantidade nas eti-quetas dos produtos. Já temos tecnologia para produzir alimentos sem veneno.

16 de outubro foi Dia Mundial da Alimentação, data em que a organização não governamental ActionAid divulgou o relatório “Situação da Terra”. Um dos principais pontos abordados pela ONG é o aumento de compras de terras por grupos estrangeiros em 24 países da América Latina, África e Ásia. O coordenador-executivo da ActionAid, Adriano Campolina - em entrevista exclusiva para o Jornal da Fisenge - aponta as falhas legislativas que permitem este avanço de aquisição de terras no Brasil e os problemas que as transações com o capital internacional trazem aos povos tradicionais e à produção de alimentos no mundo. Está na Câmara Federal uma proposta de substitutivo, de autoria da bancada ruralista, ao PL nº 2.289/07, que abre uma imensa porteira beneficiando a entrada de empresas estrangeiras no país.

Podemos dizer que a aceleração das compras de terras se deu por conta da crise econômica?

Desde a crise econômica de 2008, foi dada a largada para uma verdadeira corrida ao ouro. Até 2008, o volume de transações de terra era de 4 milhões de hectares por ano. Já em 2009, contabili-zamos 45 milhões de hectares por ano, sendo 75% deles na África e 3,6% no Brasil e na Argentina. Na África, o marco regulatório é ainda mais frágil que o nos-so. O modelo de produção alimentar com a retirada do Estado e o fortalecimento do latifúndio e das multinacionais - criado e estimulado no período neoliberal que se instala em meados dos anos 1980 – é completamente falho, uma vez que, em 2008, vivemos uma das piores crises com a alta do preço dos alimentos. É o Estado que vai resolver, e não o mercado.

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