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10 RESENHAS DE FILMES QUE PODEM SERVIR DE RESPAUDO PARA O ENEM-2013 Doméstica [Brasil, 2013] Gênero: Documentário Sinopse: O diretor do filme entregou equipamentos para que sete adolescentes registrassem, durante uma semana, o cotidiano das mulheres que trabalham na casa deles como empregadas domésticas. (75 min.) Conteúdo: ciências humanas RESENHA O que se vê no documentário "Doméstica", do pernambucano Gabriel Mascaro, é uma prova da prática descrita pelo crítico literário Robert Schwarz sobre o Brasil escravocrata. "O favor é a nossa mediação quase universal - e (é) mais simpático do que o nexo escravista", ele escreveu. Nesse mesmo texto, "As ideias fora do lugar", sobre o país na época de Machado de Assis, Schwarz comenta um paradoxo: a importação das ideias europeias de liberalismo para uma sociedade escravocrata que aspirava a se desenvolver de

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10 RESENHAS DE FILMES QUE PODEM SERVIR DE RESPAUDO PARA O ENEM-2013

Doméstica [Brasil, 2013]

Gênero: DocumentárioSinopse: O diretor do filme entregou equipamentos para que sete adolescentes registrassem, durante uma semana, o cotidiano das mulheres que trabalham na casa deles como empregadas domésticas. (75 min.)

Conteúdo: ciências humanasRESENHA

O que se vê no documentário "Doméstica", do pernambucano Gabriel Mascaro,

é uma prova da prática descrita pelo crítico literário Robert Schwarz sobre o

Brasil escravocrata. "O favor é a nossa mediação quase universal - e (é) mais

simpático do que o nexo escravista", ele escreveu.

Nesse mesmo texto, "As ideias fora do lugar", sobre o país na época de

Machado de Assis, Schwarz comenta um paradoxo: a importação das ideias

europeias de liberalismo para uma sociedade escravocrata que aspirava a se

desenvolver de forma capitalista. Mais de 100 anos depois, o documentário

"Doméstica" mostra que não raro o favor continua sendo moeda de troca em

nosso país.

Realizado antes da PEC das Domésticas, o longa explora um terreno brumoso

de relações trabalhistas, sociais e culturais entre famílias empregadoras e

empregadas em diversos cantos do país. O filme entra em cartaz em São Paulo,

Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

O ponto de partida é simples: Mascaro deu uma câmera para sete adolescentes

de diversas regiões e classes sociais para filmar o cotidiano de suas domésticas.

O diretor não interferiu nessas filmagens, apenas pegou o material bruto e o

montou.

É nesse processo de montagem, de organização das ideias criando uma

narrativa, que o filme acontece. Uma vez que os próprios adolescentes estão

inseridos no contexto em que filmam, é praticamente impossível haver um

distanciamento e, consequentemente, um olhar minimamente crítico. Mas a

relevância do filme vem exatamente daquilo que não é dito explicitamente e

transpira nas entrelinhas.

Curiosamente, todas as famílias filmadas mantêm, ao menos nas aparências,

uma relação bastante cordial - em alguns casos de amizade - com seus

empregados.

Aí surge aquela famosa expressão que há muito parece ter-se tornado quase

senso comum: "É como se fosse da família."

Frequentemente, a afirmação mascara a verdadeira natureza de relações

trabalhistas que implicam na troca - trabalho e pagamento - e que devem reger,

como em qualquer outro emprego, essa interação.

"Doméstica" ilustra bem, em seu estudo de casos, como acumular funções se

torna uma prática quase imperceptível. A primeira das empregadas mostradas é

filmada por um adolescente simpático.

Com o tempo, além de seus afazeres dentro da casa, ela acumula a função de

motorista - e, consequentemente, também é ela quem lava o carro. Ao fazer

tarefas que não são eminentemente dela, seria necessariamente um caso de

exploração? Há outro elemento: ela diz gostar do que faz, sempre quis aprender

a dirigir, e com essa atividade realiza um sonho.

Outro caso interessante: uma diarista que tem sua própria diarista em casa para

cuidar dos filhos e da casa enquanto trabalha, exatamente cuidando dos filhos e

da casa de outra pessoa.

Até que ponto isso representa uma repetição de um padrão social? A patroa que

também é empregada repete em sua casa com a sua doméstica os mesmos

comportamentos de sua patroa? Não há um paradoxo nessa questão? Mais no

fim do filme, conhecemos uma dona-de-casa que é amiga de infância de sua

empregada. Como estabelecer uma relação trabalhista com um vínculo afetivo

tão forte? Estas são algumas questões abordadas no filme.

Em um filme anterior, "Um lugar ao sol" (2009), Mascaro investigou como vivem

e pensam os moradores das coberturas de luxo de várias cidades do Brasil.

Nesse filme, o diretor é uma espécie de Eduardo Coutinho de sua geração e,

com perguntas que parecem banais, é capaz de deixar o entrevistado

confortável o bastante para confessar coisas que normalmente não diria.

Em "Doméstica", faz um pouco de falta a presença do diretor nas entrevistas,

mas ao mesmo tempo é bastante reveladora essa interação entre empregadores

e empregados sem a presença de um mediador.

"Doméstica" registra um período ainda coberto pela bruma do favor, pelas

aparências - a relação de amizade, de afeto é, nem que seja num plano

inconsciente, o véu que encobre o favor, a exploração do trabalho. Agora, um

"Doméstica II", feito pós-PEC, também seria muito revelador.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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Lincoln [EUA/Índia, 2012]

Gênero: drama

Sinopse: O premiado filme mostra o processo da abolição da escravidão nos Estados Unidos pelo presidente Abraham Lincoln, durante a guerra civil. (145 min.)Conteúdo: história geral

Filme de Spielberg mostra guerra civil e jogo político pela abolição. Daniel Day-Lewis, Tommy

Lee Jones e Sally Field destacam-se no elenco.

O título de “Lincoln”, que estreia nesta sexta-feira (25), pode ser

enganoso: o filme não oferece uma biografia do 16º presidente dos

Estados Unidos, mas um perfil, o retrato de um momento específico.

Faria até sentido se a versão no Brasil ganhasse um complemento

adicional apelativo, como é prática usual por aqui, algo na linha de

“luta pela igualdade” ou “um homem e seu sonho”.

Faria sentido – mas não faria justiça ao que é o longa dirigido por

Steven Spielberg. A começar pelo fato de que ele recusa, na maior

parte do tempo, a pieguice. A terminar pelo fato de que “Lincoln” não

quer ser maior que o personagem verdadeiro (vivido por um minucioso

Daniel Day-Lewis, candidato ao Oscar; ao todo, o filme teve 12

indicações ). E é de se imaginar o esforço que Spielberg fez com

relação aos dois aspectos: trata-se do vaidoso cineasta que sustenta a

justa reputação de manipulador dos sentimentos do público.

Cena de 'Lincoln', de Steven Spielberg, com ator Daniel Day-

Lewis ao centro (Foto: AP Photo/DreamWorks)

A trama apresenta uma época ruim para os Estados Unidos. É 1865, e

o país vive uma guerra civil que se arrasta há quatro anos. De maneira

simplória, pode-se descrever o conflito como sendo a briga entre

estados do norte industrializado e os estados do sul latifundiário. O

republicano Abraham Lincoln (1809-1865) acabava de se reeleger e

vivia um dilema quanto às suas prioridades: encerrar o combate ou a

escravidão – ele era a favor de suspender ambos.

O roteiro do longa concentra-se na articulação política pela aprovação

da 13ª emenda, precisamente a que instituiria a abolição. Conversa-se

muito em “Lincoln”: boa parcela do que se poderia chamar de “ação”

se passa no interior de gabinetes. Apoiador do atual Barack Obama e

de suas propostas (sendo a união civil entre homossexuais uma delas),

Spielberg não deixa dúvida de que lado está. Não erra o espectador

que estabelece analogias entre o presidente do filme e o presidente

atual.

Em termos de conteúdo, o filme é fiel a esse jogo de bastidores

liderado por Lincoln, que previa convencer adversários e ganhar seus

votos em favor da libertação dos negros. Na forma, foram tomadas

liberdades, para garantir um nível razoável de tensão ao longo dos 150

minutos de projeção.

Apesar dessa aplicação da equipe, “Lincoln” não é irreparável e se

equivoca em dado momento, preocupando-se mais em registrar

pontos essenciais da história verdadeira – em discussões protocolares

e confusas – do que em fazer a narrativa progredir. Em lugar de ficar

densa, ela gira em falso. Neste particular, “A rede social” (2010),

também repleto de diálogos em escritórios, está níveis acima.

Tommy Lee Jones

Vale, contudo, tentar superar o acidente. Passado o impasse, vêm

sequências dirigidas com uma perícia que faz falta em superproduções

épicas que se perdem diante da própria pretensão. A fotografia feita

de contrastes, os cenários e os figurinos são de uma correção

incontestável. E há as atuações.

O obsessivo Daniel Day-Lewis, por exemplo, dedica-se nos quesitos

voz e sotaque (o ator é britânico), mas transmite rigor mesmo quando

fica mudo e apenas caminha dando as costas à câmera. Seu Lincoln

vai do quase nerd inocente e sofrido – que conta anedotas de um

humor infantiloide – ao político ambicioso, disposto à troca de favores

em nome do objetivo. A esse tipo de postura, pode-se dar o nome de

“pragmática” ou “conciliadora”. “Lincoln” deixa claro que se trata de

mentira, mesmo.

Sally Field e Tommy Lee Jones contracenam em 'Lincoln' (Foto:

Divulgação)

O filme mostra ainda detalhes da vida doméstica do protagonista. O

convívio com a esposa era respeitoso e por vezes hostil. Responsável

por interpretar a atormentada e dedicada mulher, Sally Field no

princípio surge incômoda, porque excessivamente histérica. Mas ela

melhora, conforme se abre espaço para a ambiguidade da

personagem.

Nesse decisivo elenco secundário, sobressai Tommy Lee Jones, na pele

de um austero político republicano, da ala radical do partido. São dele

as falas mais violentas e sarcásticas, e é dele a cena que mais

francamente quer despertar a emoção e o choro da audiência. Que

essa passagem não tenha sido confiada a Daniel Day-Lewis, eis um

sinal da proposta de Spielberg: compor um filme que – a despeito de

facilidades como a música chorosa e clichê, de certa militância – existe

para contar uma história. E não apenas para santificar alguém que era,

de antemão, tido por santo.

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O dia que durou 21 anos [Brasil, 2011] Gênero: Documentário

Sinopse: O documentário investiga documentos que permaneceram sigilosos durante décadas e que mostram a participação dos Estados Unidos no golpe militar de 1964 no Brasil. (78 min.)

Conteúdo: história do Brasil

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A cidade é uma só [Brasil, 2012]

Estreia: 'A cidade é uma só?' investiga passado de Brasília

Gênero: documentárioSinopse: Os moradores de Brasília são os personagens deste documentário que tenta contar a história da capital do país e mostrar sua luta por uma cidade mais justa com seus habitantes.(73min.)Conteúdo: história do BrasilRESENHA

Filme mistura documentário e ficção com pessoas obrigadas a deixar casas. Roteiro questiona ideia de unidade que governantes venderam nos anos 70.

Cena do documentário 'A cidade é uma só' (Foto:

Divulgação)

Premiado no Festival de Tiradentes de 2012, "A cidade é uma só?"

combina documentário e ficção para recontar memórias de pessoas

que foram obrigadas a deixar suas casas e os reflexos disso nos dias

atuais. O filme estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e

Brasília.

O nome da cidade-satélite Ceilândia deriva de CEI - Campanha de

Erradicação de Invasões -, que, no começo dos anos de 1970, tentava

disfarçar a remoção violenta de cerca de 80 mil pessoas do lugar

onde hoje é o Guará e parte do Park Way para um local a 40 km do

Plano Piloto, em Brasília.

Dirigido por Adirley Queirós, o filme elege como personagens Nancy

Araújo, que era moradora da região, Zé Antônio, que vende terrenos,

e seu cunhado, Dildu, faxineiro da Ceilândia, candidato na eleição

distrital pelo PCN - Partido da Correria Nacional. Seu jingle pegajoso

("Vamô votá, votá legal, 77223 pra Distrital. Dildu!") é criado por seu

marqueteiro, que o define como "agradável, legal e gângster". O

longa transita nesse cruzamento de passado e presente, mapeando

as diferenças sociais que marcam Brasília, e, claro, também o resto

do país.

Nancy foi quase uma garota-propaganda do processo de remoção

ocorrido há mais de 40 anos. Ainda criança, ao lado de outras

meninas, participou da campanha, na qual elas cantaram uma

musiquinha em que um dos versos dizia: "A cidade é uma só". Era

essa a ideia que tentava ser vendida, por isso, ela nunca conseguiu

esquecer a música.

O filme recria o ambiente em que se deu essa gravação - com direito

a uniforme escolar bastante parecido, segundo as instruções de

Nancy. Zé Antônio, por sua vez, aponta para as contradições da

especulação imobiliária numa cidade que, como ele mesmo diz, não

tem para onde crescer.

Deste trio, apenas, Nancy não está representando, mas contando sua

própria história. Os outros dois são representações, mas que bem

poderiam ser reais. Queirós articula esses elementos, assim como as

linguagens do documentário e da ficção, levantando uma discussão

importante sobre a ocupação urbana.

A interrogação no final do título não fazia parte da frase original - da

música da campanha de 1971 -, mas eficientemente questiona a ideia

que os governantes tentavam vender na época. Hoje, vemos que a

capital do país jamais poderá ser uma só enquanto houver uma

discrepância social tão gritante.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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Uma garrafa no mar de Gaza [França/Canadá/Israel, 2011]

Gênero: drama

Sinopse: Uma adolescente francesa e judia vive em Jerusalém, e começa a se aproximar de um jovem palestino que mora em Gaza por meio de uma carta em uma garrafa jogada ao mar. (100 min.) Conteúdo: ciências humanas

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Dossiê Jango [Brasil, 2013]Gênero: documentário

Sinopse: Nesse documentário, a vida e

a morte do presidente João Goulart, o

Jango, é discutida com base em fatos da

história brasileira que permanecem

pouco conhecidos. (102 min.)

Conteúdo: história do Brasil

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O Impossível [Espanha, 2012]Gênero: drama

Sinope: O longa conta a história de uma

família que passa férias na Tailândia e é

atingida pelo tsunami que devastou

diversos países da Ásia em 2004 e

deixou centenas de milhares de mortos.

(107 min.)

Conteúdo: ciências humanas

RESENHA

Estreia: 'O impossível' reconstitui a tragédia do tsunami de 2004

Longa é estrelado pelos atores Naomi Watts e Ewan McGregor.Trabalho de diretor espanhol é obra contundente, com drama e tensão.

Embora a roupagem aponte para mais um filme-catástrofe, "O

impossível" é uma obra contundente do diretor catalão Juan Antonio

Bayona (de "O orfanato") com base no tsunami que devastou a costa

asiática em 2004, deixando mais de 230 mil mortos.

Inspirado no drama de uma família espanhola – no filme, britânica –

que passava férias na Tailândia, Bayona vai além do registro e traz à

tela uma história humanista de sobrevivência sem perder a tensão.

Naomi Watts e Tom Holland em cena do filme 'O impossível', que

retrata o tsunami de 2004' (Foto: Divulgação)

Maria (Naomi Watts, indicada por este papel ao Globo de Ouro de

melhor atriz em drama) e Henry (Ewan McGregor   ) descansam

tranquilamente com seus três filhos, Lucas (Tom Holland), Thomas

(Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast), em um paradisíaco

resort à beira-mar. Pouco depois estão lutando pela própria vida, ao

serem arrastados por ondas de até 30 metros de altura, através de

lugares onde antes existiam ruas, lojas e hotéis.

Nesse ponto, é possível dividir o filme em três grandes partes. A

primeira é esta, em que os efeitos especiais e a técnica da produção

falam mais alto e o espectador acompanha a força destruidora do

tsunami em si. Imagens rápidas, com movimentos aleatórios sob a

superfície e tentativas de emergir das águas. Quando se vê Maria

agarrada ao topo de um coqueiro submerso, aterrorizada, percebe-se

a gravidade do que está acontecendo.

Em um segundo ponto, é o esforço de sobrevivência de Maria e seu

filho Lucas, seja durante o maremoto, seja para encontrar socorro

quando a água baixa. Um trabalho delicado, mas não menos

poderoso da dupla Watts e Holland, ao mostrar que as feridas

emocionais eram, naquela hora, tão dolorosas quanto as graves

lesões físicas.

Ewan McGregor, Oaklee Pendergast e Samuel Joslin em cena de 'O

impossível', que retrata o tsunami de 2004 (Foto: Divulgação)

Por fim, o drama pós-catástrofe, em que os personagens buscam não

apenas seus familiares sobreviventes como também um pouco de

sentido sobre o seu próprio destino. O rompante de desespero de

Henry ao confessar a um parente na Inglaterra – com quem fala por

meio de um celular emprestado – que não tem ideia de onde está sua

família, ou mesmo como encontrá-la, aflige não pela impotência, mas

pela sinceridade com que McGregor transmite um sentimento real.

De forma integral, o catalão Juan Antonio Bayona entrega um filme

forte, tenso e bem produzido, que, amparado por um elenco afiado,

envolve e emociona. Embora a dramatização da cena de destruição

do tsunami já tenha sido retratada em um filme de Clint Eastwood,

"Além da vida" (2010), esta produção espanhola vai além, ao mostrar

que edifícios podem ser reconstruídos, ferimentos sanados, mas uma

tragédia como esta é um ponto de ruptura forte demais para ser

reparado.

(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)

*As opiniões são responsabilidade do Cineweb

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Hoje [Brasil, 2011]Gênero: drama

Sinopse: Uma mulher que foi militante

na época da ditadura recebe do governo

uma indenização porque seu marido

desapareceu durante o regime militar.

Porém, o homem retorna assim que ela

compra um novo apartamento. (90 min.)

Conteúdo: história do Brasil

RESENHA

Estreia: Denise Fraga vive ex-presa política no premiado drama 'Hoje'

Atriz conhecida por veia cômica se destaca com atuação dramática. Filme retoma memória dos desaparecidos na ditadura brasileira de 1964.

Denise Fraga é Vera em 'Hoje' (Foto: Divulgação)

"Hoje", um intimista drama político da diretora paulista Tata Amaral,

foi o grande vencedor do 44º Festival de Brasília, em 2011. De várias

maneiras, trata-se de um filme urgente e oportuno, ao retomar a

questão de memória e dos desaparecidos políticos na ditadura

brasileira (1964-1985) sob um ponto de vista pessoal.

No caso, o da protagonista, Vera (Denise Fraga), que procura superar

as dolorosas consequências de sua militância, depois de receber uma

indenização que lhe permitiu comprar um pequeno apartamento no

centro de São Paulo, no ano de 1998.

Atriz de teatro e televisão conhecida especialmente por sua veia

cômica - como a revelada na bem-sucedida peça "Trair e coçar é só

começar", em que atuou por seis anos -, Denise Fraga domina a cena

numa atuação intensamente dramática.

A atuação lhe rendeu o prêmio de melhor atriz em Brasília. "Hoje"

também obteve o principal prêmio do festival, melhor filme, além dos

de melhor direção de arte (Vera Hamburger), fotografia (Jacob

Solitrenick), roteiro (Jean-Claude Bernardet, Rubens Rewald e Felipe

Sholl) e melhor longa para a crítica.

O pano de fundo da história, adaptada da novela "Prova contrária", de

Fernando Bonassi, é a tortura, sofrida no passado tanto por Vera

quanto pelo seu companheiro Luiz (o ator uruguaio Cesar Troncoso,

de "Cabeça a prêmio") - e que fazem relatos arrepiantes da dolorosa

experiência.

O fato de o co-protagonista ser uruguaio, que cria uma estranheza

pelo sotaque, a princípio, acaba servindo como lembrete de que os

países do Cone Sul, como Uruguai, Chile e Argentina, igualmente

viveram ditaduras militares - além de participarem da famigerada

Operação Condor, consistindo de uma cooperação estreita entre as

forças repressivas dos respectivos países.

Dedicado a Luiz Carlos Alves de Souza Jr., o filme incorpora também

um componente autobiográfico da diretora. Trata-se de seu ex-

companheiro, pai de sua filha Caru - uma das produtoras do filme -, a

quem Tata não teve, por muitos anos, coragem de contar que ele

havia se suicidado. Uma dificuldade semelhante de enfrentar o

próprio passado marca o perfil da personagem Vera e permite a

oscilação de versões e climas ao longo da narrativa, criando dúvidas

sobre o personagem de Luiz.

Uma opção clara foi não recorrer a flashbacks. Em alguns momentos,

usam-se projeções de imagens para materializar o passado dos

personagens, fugindo deliberadamente de qualquer tentativa de

reconstituição, já que a intenção é evocar apenas suas memórias dos

fatos vividos a partir de seus relatos.

Esta insistência na palavra cria, em alguns momentos, um clima algo

teatral - o que contribui para colocar a ênfase na emoção,

evidenciando a ótima atuação de Denise e Cesar.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

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Adeus, minha rainha [França/Espanha, 2012]Gênero: drama

Sinopse: Às vésperas da Revolução

Francesa, em 1789, os moradores do

palácio de Versalhes ignoram a

mobilização e a agitação das ruas de

Paris e seguem vivendo como nos dias

de bonança e estabilidade. (100 min.)

Conteúdo: história geral

RESENHA

Estreia: Léa Seydoux injeta vida em drama de época 'Adeus, minha rainha'

Revolução Francesa é vista pelos seus bastidores em filme vibrante.Produção levou três César, considerado como 'Oscar francês'.

A atriz Léa Seydoux em cena de 'Adeus, minha

rainha' (Foto: Divulgação)

A Revolução Francesa é vista pelos seus bastidores no vibrante

drama de época francês "Adeus, minha rainha", de Benoît Jacquot.

Protagonizado por Léa Seydoux ("Meia-Noite em Paris"), o filme

concorreu no Festival de Berlim 2012 e venceu três César na França –

melhor fotografia, figurino e cenografia.

A produção estreia no Rio e tem pré-estreias em São Paulo, Belo

Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Goiânia.

O uso da câmera na mão em várias sequências é perfeito para

retratar a instabilidade dos quatro dias em se passa a história, de 14

a 17 de julho de 1789. Filmado quase inteiramente em locações no

Palácio de Versalhes, "Adeus, minha rainha" ganha um clima de

realidade, seguindo os passos de Sidonie Laborde (Léa Seydoux), a

leitora particular da rainha Maria Antonieta (Diane Kruger).

Optando por um mergulho na intimidade do núcleo central da

monarquia nos seus últimos dias, o veterano diretor Jacquot sacode a

poeira habitual dos filmes de época, focalizando os sentimentos de

Sidonie, da rainha, da nobreza e dos serviçais à sua volta.

Sidonie é a encarregada de entreter a rainha, lendo para ela trechos

de livros de sua biblioteca e também revistas de moda, quando ela se

entedia – o que ocorre com frequência. Quando isso acontece, a

diligente camareira real, madame Campan (Noémie Lvovsky),

encarrega-se de retirar Sidonie do quarto. Mas ela sempre deve ficar

por perto. Sua missão, como a de outras serviçais, é estar ao alcance

dos chamados, que não têm hora para ocorrer.

Esta ordem rígida é rompida no dia 14 de julho. Não se sabe ainda

muito bem o que aconteceu fora dos muros de Versalhes, mas a

inquietação nos corredores é visível. Sidonie usa os seus melhores

contatos para descobrir a causa da agitação, como o sempre bem-

informado arquivista do palácio, o velho sr. Moreau (Michel Robin).

As notícias da queda da Bastilha e da revolta popular que toma conta

das ruas da França não entusiasmam Sidonie. Bem ao contrário. A

devotada leitora preocupa-se com a sorte de sua rainha, por quem

nutre uma afeição extrema, que pode ser vista como uma forma de

amor. O fato de que Maria Antonieta tem uma amante e protegida, a

duquesa de Pontignac (Virginie Ledoyen), abala Sidonie, mas não o

bastante para abandonar a rainha, coisa que nobres e plebeus estão

fazendo a cada dia. Especialmente os primeiros, cujos nomes

frequentam a lista daqueles que em breve serão guilhotinados.

Ao assumir o ponto de vista de Sidonie, o diretor Jacquot – que

adaptou, com Gilles Turand, um romance da autora Chantal Thomas –

permite-se humanizar a figura da rainha, do rei Luís 16 (Xavier

Beauvois) e dos nobres apavorados. Nem por isso, os idealiza, nem

toma seu partido. Apenas se permite olhar para o período com o

distanciamento que o tempo permite, injetando vida em cada

personagem.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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As hiper mulheres [Brasil, 2012]Gênero: documentário

Sinopse: Um índio pede a realização de

um grande ritual indígena feminino no

Alto Xingu, para proporcionar à esposa

idosa a chance de cantar uma última

vez. O filme mostra os ensaios e a

doença grave da idosa, a única

conhecedora de todas as músicas do

ritual. (80 min.)

Conteúdo: ciências humanas

RESENHA

Documentário sobre ritual indígena abre mostra competitiva em Brasília 'Hiper mulheres' retrata cerimônia realizada em 2010 no Alto Xingu. Indígenas participaram das filmagens, edição e até direção do longa.Dirigido pelo antropólogo e cineasta Carlos Fausto, o documentário

“Hiper Mulheres” abre a mostra competitiva da 44ª edição do Festival

de Brasília de Cinema Brasileiro nesta terça-feira (27). O longa retrata

o Jamurikumalu, cerimônia realizada em setembro do ano passado

pelas índias da tribo Kuikuro, do Alto Xingu.

De acordo com Fausto, o ritual não era realizado na tribo há quase 30

anos. A doença de uma  das moradoras da aldeia fez com que o

Jamurikumalu fosse novamente encenado. Os familiares da índia

doente pediram que a cerimônia fosse realizada para que ela pudesse

novamente participar.

“O ritual tem um mito em sua base: em determinado momento, as

mulheres começam a se queixar dos homens que não iam buscar

peixe para uma festa. Elas começam a cantar, criticando os homens.

Eles saem para pescar e não voltam. Um menino vai atrás e descobre

que eles estão se transformando em seres monstruosos", explica o

diretor.

De acordo com a lenda, as mulheres resolvem, então, se transformar

em hiper mulheres. "É uma espécie de mito das amazonas, elas criam

uma sociedade só de mulheres, onde assumem os papéis masculinos.

O ritual tem toda uma questão da confrontação de gêneros."

'Hiper mulheres' abre mostra competitiva do Festival de Brasília

nesta terça (27) (Foto: Divulgação)

O documentarista Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, um dos índios

que trabalhou na produção do filme e que atualmente estuda cinema

no Rio de Janeiro, também assinam a direção. Fausto desenvolve um

trabalho cinematográfico com as aldeias do Alto Xingu desde 2002 e

já tinha feito vários curtas na região.

“Há anos venho trabalhando especialmente com música, rituais e a

transmissão desse conhecimento. O meu interesse era mostrar a

riqueza dessa cultura e as questões complicadas para se transmitir

um conhecimento tão complexo", afirma o antropólogo e cineasta.

Também serão exibidos pela mostra competitiva os curtas “A

fábrica”, que conta a história de um presidiário que convence sua

mãe a levar um celular para dentro da penitenciária; “Ser tão

cinzento”, que relembra um trabalho do cineasta Olney São Paulo

sobre a ditadura militar; e as animações “Bomtempo” e “Céu, inferno

e outras partes do corpo”.