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10 RESENHAS DE FILMES QUE PODEM SERVIR DE RESPAUDO PARA O ENEM-2013
Doméstica [Brasil, 2013]
Gênero: DocumentárioSinopse: O diretor do filme entregou equipamentos para que sete adolescentes registrassem, durante uma semana, o cotidiano das mulheres que trabalham na casa deles como empregadas domésticas. (75 min.)
Conteúdo: ciências humanasRESENHA
O que se vê no documentário "Doméstica", do pernambucano Gabriel Mascaro,
é uma prova da prática descrita pelo crítico literário Robert Schwarz sobre o
Brasil escravocrata. "O favor é a nossa mediação quase universal - e (é) mais
simpático do que o nexo escravista", ele escreveu.
Nesse mesmo texto, "As ideias fora do lugar", sobre o país na época de
Machado de Assis, Schwarz comenta um paradoxo: a importação das ideias
europeias de liberalismo para uma sociedade escravocrata que aspirava a se
desenvolver de forma capitalista. Mais de 100 anos depois, o documentário
"Doméstica" mostra que não raro o favor continua sendo moeda de troca em
nosso país.
Realizado antes da PEC das Domésticas, o longa explora um terreno brumoso
de relações trabalhistas, sociais e culturais entre famílias empregadoras e
empregadas em diversos cantos do país. O filme entra em cartaz em São Paulo,
Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
O ponto de partida é simples: Mascaro deu uma câmera para sete adolescentes
de diversas regiões e classes sociais para filmar o cotidiano de suas domésticas.
O diretor não interferiu nessas filmagens, apenas pegou o material bruto e o
montou.
É nesse processo de montagem, de organização das ideias criando uma
narrativa, que o filme acontece. Uma vez que os próprios adolescentes estão
inseridos no contexto em que filmam, é praticamente impossível haver um
distanciamento e, consequentemente, um olhar minimamente crítico. Mas a
relevância do filme vem exatamente daquilo que não é dito explicitamente e
transpira nas entrelinhas.
Curiosamente, todas as famílias filmadas mantêm, ao menos nas aparências,
uma relação bastante cordial - em alguns casos de amizade - com seus
empregados.
Aí surge aquela famosa expressão que há muito parece ter-se tornado quase
senso comum: "É como se fosse da família."
Frequentemente, a afirmação mascara a verdadeira natureza de relações
trabalhistas que implicam na troca - trabalho e pagamento - e que devem reger,
como em qualquer outro emprego, essa interação.
"Doméstica" ilustra bem, em seu estudo de casos, como acumular funções se
torna uma prática quase imperceptível. A primeira das empregadas mostradas é
filmada por um adolescente simpático.
Com o tempo, além de seus afazeres dentro da casa, ela acumula a função de
motorista - e, consequentemente, também é ela quem lava o carro. Ao fazer
tarefas que não são eminentemente dela, seria necessariamente um caso de
exploração? Há outro elemento: ela diz gostar do que faz, sempre quis aprender
a dirigir, e com essa atividade realiza um sonho.
Outro caso interessante: uma diarista que tem sua própria diarista em casa para
cuidar dos filhos e da casa enquanto trabalha, exatamente cuidando dos filhos e
da casa de outra pessoa.
Até que ponto isso representa uma repetição de um padrão social? A patroa que
também é empregada repete em sua casa com a sua doméstica os mesmos
comportamentos de sua patroa? Não há um paradoxo nessa questão? Mais no
fim do filme, conhecemos uma dona-de-casa que é amiga de infância de sua
empregada. Como estabelecer uma relação trabalhista com um vínculo afetivo
tão forte? Estas são algumas questões abordadas no filme.
Em um filme anterior, "Um lugar ao sol" (2009), Mascaro investigou como vivem
e pensam os moradores das coberturas de luxo de várias cidades do Brasil.
Nesse filme, o diretor é uma espécie de Eduardo Coutinho de sua geração e,
com perguntas que parecem banais, é capaz de deixar o entrevistado
confortável o bastante para confessar coisas que normalmente não diria.
Em "Doméstica", faz um pouco de falta a presença do diretor nas entrevistas,
mas ao mesmo tempo é bastante reveladora essa interação entre empregadores
e empregados sem a presença de um mediador.
"Doméstica" registra um período ainda coberto pela bruma do favor, pelas
aparências - a relação de amizade, de afeto é, nem que seja num plano
inconsciente, o véu que encobre o favor, a exploração do trabalho. Agora, um
"Doméstica II", feito pós-PEC, também seria muito revelador.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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Lincoln [EUA/Índia, 2012]
Gênero: drama
Sinopse: O premiado filme mostra o processo da abolição da escravidão nos Estados Unidos pelo presidente Abraham Lincoln, durante a guerra civil. (145 min.)Conteúdo: história geral
Filme de Spielberg mostra guerra civil e jogo político pela abolição. Daniel Day-Lewis, Tommy
Lee Jones e Sally Field destacam-se no elenco.
O título de “Lincoln”, que estreia nesta sexta-feira (25), pode ser
enganoso: o filme não oferece uma biografia do 16º presidente dos
Estados Unidos, mas um perfil, o retrato de um momento específico.
Faria até sentido se a versão no Brasil ganhasse um complemento
adicional apelativo, como é prática usual por aqui, algo na linha de
“luta pela igualdade” ou “um homem e seu sonho”.
Faria sentido – mas não faria justiça ao que é o longa dirigido por
Steven Spielberg. A começar pelo fato de que ele recusa, na maior
parte do tempo, a pieguice. A terminar pelo fato de que “Lincoln” não
quer ser maior que o personagem verdadeiro (vivido por um minucioso
Daniel Day-Lewis, candidato ao Oscar; ao todo, o filme teve 12
indicações ). E é de se imaginar o esforço que Spielberg fez com
relação aos dois aspectos: trata-se do vaidoso cineasta que sustenta a
justa reputação de manipulador dos sentimentos do público.
Cena de 'Lincoln', de Steven Spielberg, com ator Daniel Day-
Lewis ao centro (Foto: AP Photo/DreamWorks)
A trama apresenta uma época ruim para os Estados Unidos. É 1865, e
o país vive uma guerra civil que se arrasta há quatro anos. De maneira
simplória, pode-se descrever o conflito como sendo a briga entre
estados do norte industrializado e os estados do sul latifundiário. O
republicano Abraham Lincoln (1809-1865) acabava de se reeleger e
vivia um dilema quanto às suas prioridades: encerrar o combate ou a
escravidão – ele era a favor de suspender ambos.
O roteiro do longa concentra-se na articulação política pela aprovação
da 13ª emenda, precisamente a que instituiria a abolição. Conversa-se
muito em “Lincoln”: boa parcela do que se poderia chamar de “ação”
se passa no interior de gabinetes. Apoiador do atual Barack Obama e
de suas propostas (sendo a união civil entre homossexuais uma delas),
Spielberg não deixa dúvida de que lado está. Não erra o espectador
que estabelece analogias entre o presidente do filme e o presidente
atual.
Em termos de conteúdo, o filme é fiel a esse jogo de bastidores
liderado por Lincoln, que previa convencer adversários e ganhar seus
votos em favor da libertação dos negros. Na forma, foram tomadas
liberdades, para garantir um nível razoável de tensão ao longo dos 150
minutos de projeção.
Apesar dessa aplicação da equipe, “Lincoln” não é irreparável e se
equivoca em dado momento, preocupando-se mais em registrar
pontos essenciais da história verdadeira – em discussões protocolares
e confusas – do que em fazer a narrativa progredir. Em lugar de ficar
densa, ela gira em falso. Neste particular, “A rede social” (2010),
também repleto de diálogos em escritórios, está níveis acima.
Tommy Lee Jones
Vale, contudo, tentar superar o acidente. Passado o impasse, vêm
sequências dirigidas com uma perícia que faz falta em superproduções
épicas que se perdem diante da própria pretensão. A fotografia feita
de contrastes, os cenários e os figurinos são de uma correção
incontestável. E há as atuações.
O obsessivo Daniel Day-Lewis, por exemplo, dedica-se nos quesitos
voz e sotaque (o ator é britânico), mas transmite rigor mesmo quando
fica mudo e apenas caminha dando as costas à câmera. Seu Lincoln
vai do quase nerd inocente e sofrido – que conta anedotas de um
humor infantiloide – ao político ambicioso, disposto à troca de favores
em nome do objetivo. A esse tipo de postura, pode-se dar o nome de
“pragmática” ou “conciliadora”. “Lincoln” deixa claro que se trata de
mentira, mesmo.
Sally Field e Tommy Lee Jones contracenam em 'Lincoln' (Foto:
Divulgação)
O filme mostra ainda detalhes da vida doméstica do protagonista. O
convívio com a esposa era respeitoso e por vezes hostil. Responsável
por interpretar a atormentada e dedicada mulher, Sally Field no
princípio surge incômoda, porque excessivamente histérica. Mas ela
melhora, conforme se abre espaço para a ambiguidade da
personagem.
Nesse decisivo elenco secundário, sobressai Tommy Lee Jones, na pele
de um austero político republicano, da ala radical do partido. São dele
as falas mais violentas e sarcásticas, e é dele a cena que mais
francamente quer despertar a emoção e o choro da audiência. Que
essa passagem não tenha sido confiada a Daniel Day-Lewis, eis um
sinal da proposta de Spielberg: compor um filme que – a despeito de
facilidades como a música chorosa e clichê, de certa militância – existe
para contar uma história. E não apenas para santificar alguém que era,
de antemão, tido por santo.
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O dia que durou 21 anos [Brasil, 2011] Gênero: Documentário
Sinopse: O documentário investiga documentos que permaneceram sigilosos durante décadas e que mostram a participação dos Estados Unidos no golpe militar de 1964 no Brasil. (78 min.)
Conteúdo: história do Brasil
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A cidade é uma só [Brasil, 2012]
Estreia: 'A cidade é uma só?' investiga passado de Brasília
Gênero: documentárioSinopse: Os moradores de Brasília são os personagens deste documentário que tenta contar a história da capital do país e mostrar sua luta por uma cidade mais justa com seus habitantes.(73min.)Conteúdo: história do BrasilRESENHA
Filme mistura documentário e ficção com pessoas obrigadas a deixar casas. Roteiro questiona ideia de unidade que governantes venderam nos anos 70.
Cena do documentário 'A cidade é uma só' (Foto:
Divulgação)
Premiado no Festival de Tiradentes de 2012, "A cidade é uma só?"
combina documentário e ficção para recontar memórias de pessoas
que foram obrigadas a deixar suas casas e os reflexos disso nos dias
atuais. O filme estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e
Brasília.
O nome da cidade-satélite Ceilândia deriva de CEI - Campanha de
Erradicação de Invasões -, que, no começo dos anos de 1970, tentava
disfarçar a remoção violenta de cerca de 80 mil pessoas do lugar
onde hoje é o Guará e parte do Park Way para um local a 40 km do
Plano Piloto, em Brasília.
Dirigido por Adirley Queirós, o filme elege como personagens Nancy
Araújo, que era moradora da região, Zé Antônio, que vende terrenos,
e seu cunhado, Dildu, faxineiro da Ceilândia, candidato na eleição
distrital pelo PCN - Partido da Correria Nacional. Seu jingle pegajoso
("Vamô votá, votá legal, 77223 pra Distrital. Dildu!") é criado por seu
marqueteiro, que o define como "agradável, legal e gângster". O
longa transita nesse cruzamento de passado e presente, mapeando
as diferenças sociais que marcam Brasília, e, claro, também o resto
do país.
Nancy foi quase uma garota-propaganda do processo de remoção
ocorrido há mais de 40 anos. Ainda criança, ao lado de outras
meninas, participou da campanha, na qual elas cantaram uma
musiquinha em que um dos versos dizia: "A cidade é uma só". Era
essa a ideia que tentava ser vendida, por isso, ela nunca conseguiu
esquecer a música.
O filme recria o ambiente em que se deu essa gravação - com direito
a uniforme escolar bastante parecido, segundo as instruções de
Nancy. Zé Antônio, por sua vez, aponta para as contradições da
especulação imobiliária numa cidade que, como ele mesmo diz, não
tem para onde crescer.
Deste trio, apenas, Nancy não está representando, mas contando sua
própria história. Os outros dois são representações, mas que bem
poderiam ser reais. Queirós articula esses elementos, assim como as
linguagens do documentário e da ficção, levantando uma discussão
importante sobre a ocupação urbana.
A interrogação no final do título não fazia parte da frase original - da
música da campanha de 1971 -, mas eficientemente questiona a ideia
que os governantes tentavam vender na época. Hoje, vemos que a
capital do país jamais poderá ser uma só enquanto houver uma
discrepância social tão gritante.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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Uma garrafa no mar de Gaza [França/Canadá/Israel, 2011]
Gênero: drama
Sinopse: Uma adolescente francesa e judia vive em Jerusalém, e começa a se aproximar de um jovem palestino que mora em Gaza por meio de uma carta em uma garrafa jogada ao mar. (100 min.) Conteúdo: ciências humanas
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Dossiê Jango [Brasil, 2013]Gênero: documentário
Sinopse: Nesse documentário, a vida e
a morte do presidente João Goulart, o
Jango, é discutida com base em fatos da
história brasileira que permanecem
pouco conhecidos. (102 min.)
Conteúdo: história do Brasil
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O Impossível [Espanha, 2012]Gênero: drama
Sinope: O longa conta a história de uma
família que passa férias na Tailândia e é
atingida pelo tsunami que devastou
diversos países da Ásia em 2004 e
deixou centenas de milhares de mortos.
(107 min.)
Conteúdo: ciências humanas
RESENHA
Estreia: 'O impossível' reconstitui a tragédia do tsunami de 2004
Longa é estrelado pelos atores Naomi Watts e Ewan McGregor.Trabalho de diretor espanhol é obra contundente, com drama e tensão.
Embora a roupagem aponte para mais um filme-catástrofe, "O
impossível" é uma obra contundente do diretor catalão Juan Antonio
Bayona (de "O orfanato") com base no tsunami que devastou a costa
asiática em 2004, deixando mais de 230 mil mortos.
Inspirado no drama de uma família espanhola – no filme, britânica –
que passava férias na Tailândia, Bayona vai além do registro e traz à
tela uma história humanista de sobrevivência sem perder a tensão.
Naomi Watts e Tom Holland em cena do filme 'O impossível', que
retrata o tsunami de 2004' (Foto: Divulgação)
Maria (Naomi Watts, indicada por este papel ao Globo de Ouro de
melhor atriz em drama) e Henry (Ewan McGregor ) descansam
tranquilamente com seus três filhos, Lucas (Tom Holland), Thomas
(Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast), em um paradisíaco
resort à beira-mar. Pouco depois estão lutando pela própria vida, ao
serem arrastados por ondas de até 30 metros de altura, através de
lugares onde antes existiam ruas, lojas e hotéis.
Nesse ponto, é possível dividir o filme em três grandes partes. A
primeira é esta, em que os efeitos especiais e a técnica da produção
falam mais alto e o espectador acompanha a força destruidora do
tsunami em si. Imagens rápidas, com movimentos aleatórios sob a
superfície e tentativas de emergir das águas. Quando se vê Maria
agarrada ao topo de um coqueiro submerso, aterrorizada, percebe-se
a gravidade do que está acontecendo.
Em um segundo ponto, é o esforço de sobrevivência de Maria e seu
filho Lucas, seja durante o maremoto, seja para encontrar socorro
quando a água baixa. Um trabalho delicado, mas não menos
poderoso da dupla Watts e Holland, ao mostrar que as feridas
emocionais eram, naquela hora, tão dolorosas quanto as graves
lesões físicas.
Ewan McGregor, Oaklee Pendergast e Samuel Joslin em cena de 'O
impossível', que retrata o tsunami de 2004 (Foto: Divulgação)
Por fim, o drama pós-catástrofe, em que os personagens buscam não
apenas seus familiares sobreviventes como também um pouco de
sentido sobre o seu próprio destino. O rompante de desespero de
Henry ao confessar a um parente na Inglaterra – com quem fala por
meio de um celular emprestado – que não tem ideia de onde está sua
família, ou mesmo como encontrá-la, aflige não pela impotência, mas
pela sinceridade com que McGregor transmite um sentimento real.
De forma integral, o catalão Juan Antonio Bayona entrega um filme
forte, tenso e bem produzido, que, amparado por um elenco afiado,
envolve e emociona. Embora a dramatização da cena de destruição
do tsunami já tenha sido retratada em um filme de Clint Eastwood,
"Além da vida" (2010), esta produção espanhola vai além, ao mostrar
que edifícios podem ser reconstruídos, ferimentos sanados, mas uma
tragédia como esta é um ponto de ruptura forte demais para ser
reparado.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
*As opiniões são responsabilidade do Cineweb
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Hoje [Brasil, 2011]Gênero: drama
Sinopse: Uma mulher que foi militante
na época da ditadura recebe do governo
uma indenização porque seu marido
desapareceu durante o regime militar.
Porém, o homem retorna assim que ela
compra um novo apartamento. (90 min.)
Conteúdo: história do Brasil
RESENHA
Estreia: Denise Fraga vive ex-presa política no premiado drama 'Hoje'
Atriz conhecida por veia cômica se destaca com atuação dramática. Filme retoma memória dos desaparecidos na ditadura brasileira de 1964.
Denise Fraga é Vera em 'Hoje' (Foto: Divulgação)
"Hoje", um intimista drama político da diretora paulista Tata Amaral,
foi o grande vencedor do 44º Festival de Brasília, em 2011. De várias
maneiras, trata-se de um filme urgente e oportuno, ao retomar a
questão de memória e dos desaparecidos políticos na ditadura
brasileira (1964-1985) sob um ponto de vista pessoal.
No caso, o da protagonista, Vera (Denise Fraga), que procura superar
as dolorosas consequências de sua militância, depois de receber uma
indenização que lhe permitiu comprar um pequeno apartamento no
centro de São Paulo, no ano de 1998.
Atriz de teatro e televisão conhecida especialmente por sua veia
cômica - como a revelada na bem-sucedida peça "Trair e coçar é só
começar", em que atuou por seis anos -, Denise Fraga domina a cena
numa atuação intensamente dramática.
A atuação lhe rendeu o prêmio de melhor atriz em Brasília. "Hoje"
também obteve o principal prêmio do festival, melhor filme, além dos
de melhor direção de arte (Vera Hamburger), fotografia (Jacob
Solitrenick), roteiro (Jean-Claude Bernardet, Rubens Rewald e Felipe
Sholl) e melhor longa para a crítica.
O pano de fundo da história, adaptada da novela "Prova contrária", de
Fernando Bonassi, é a tortura, sofrida no passado tanto por Vera
quanto pelo seu companheiro Luiz (o ator uruguaio Cesar Troncoso,
de "Cabeça a prêmio") - e que fazem relatos arrepiantes da dolorosa
experiência.
O fato de o co-protagonista ser uruguaio, que cria uma estranheza
pelo sotaque, a princípio, acaba servindo como lembrete de que os
países do Cone Sul, como Uruguai, Chile e Argentina, igualmente
viveram ditaduras militares - além de participarem da famigerada
Operação Condor, consistindo de uma cooperação estreita entre as
forças repressivas dos respectivos países.
Dedicado a Luiz Carlos Alves de Souza Jr., o filme incorpora também
um componente autobiográfico da diretora. Trata-se de seu ex-
companheiro, pai de sua filha Caru - uma das produtoras do filme -, a
quem Tata não teve, por muitos anos, coragem de contar que ele
havia se suicidado. Uma dificuldade semelhante de enfrentar o
próprio passado marca o perfil da personagem Vera e permite a
oscilação de versões e climas ao longo da narrativa, criando dúvidas
sobre o personagem de Luiz.
Uma opção clara foi não recorrer a flashbacks. Em alguns momentos,
usam-se projeções de imagens para materializar o passado dos
personagens, fugindo deliberadamente de qualquer tentativa de
reconstituição, já que a intenção é evocar apenas suas memórias dos
fatos vividos a partir de seus relatos.
Esta insistência na palavra cria, em alguns momentos, um clima algo
teatral - o que contribui para colocar a ênfase na emoção,
evidenciando a ótima atuação de Denise e Cesar.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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Adeus, minha rainha [França/Espanha, 2012]Gênero: drama
Sinopse: Às vésperas da Revolução
Francesa, em 1789, os moradores do
palácio de Versalhes ignoram a
mobilização e a agitação das ruas de
Paris e seguem vivendo como nos dias
de bonança e estabilidade. (100 min.)
Conteúdo: história geral
RESENHA
Estreia: Léa Seydoux injeta vida em drama de época 'Adeus, minha rainha'
Revolução Francesa é vista pelos seus bastidores em filme vibrante.Produção levou três César, considerado como 'Oscar francês'.
A atriz Léa Seydoux em cena de 'Adeus, minha
rainha' (Foto: Divulgação)
A Revolução Francesa é vista pelos seus bastidores no vibrante
drama de época francês "Adeus, minha rainha", de Benoît Jacquot.
Protagonizado por Léa Seydoux ("Meia-Noite em Paris"), o filme
concorreu no Festival de Berlim 2012 e venceu três César na França –
melhor fotografia, figurino e cenografia.
A produção estreia no Rio e tem pré-estreias em São Paulo, Belo
Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Goiânia.
O uso da câmera na mão em várias sequências é perfeito para
retratar a instabilidade dos quatro dias em se passa a história, de 14
a 17 de julho de 1789. Filmado quase inteiramente em locações no
Palácio de Versalhes, "Adeus, minha rainha" ganha um clima de
realidade, seguindo os passos de Sidonie Laborde (Léa Seydoux), a
leitora particular da rainha Maria Antonieta (Diane Kruger).
Optando por um mergulho na intimidade do núcleo central da
monarquia nos seus últimos dias, o veterano diretor Jacquot sacode a
poeira habitual dos filmes de época, focalizando os sentimentos de
Sidonie, da rainha, da nobreza e dos serviçais à sua volta.
Sidonie é a encarregada de entreter a rainha, lendo para ela trechos
de livros de sua biblioteca e também revistas de moda, quando ela se
entedia – o que ocorre com frequência. Quando isso acontece, a
diligente camareira real, madame Campan (Noémie Lvovsky),
encarrega-se de retirar Sidonie do quarto. Mas ela sempre deve ficar
por perto. Sua missão, como a de outras serviçais, é estar ao alcance
dos chamados, que não têm hora para ocorrer.
Esta ordem rígida é rompida no dia 14 de julho. Não se sabe ainda
muito bem o que aconteceu fora dos muros de Versalhes, mas a
inquietação nos corredores é visível. Sidonie usa os seus melhores
contatos para descobrir a causa da agitação, como o sempre bem-
informado arquivista do palácio, o velho sr. Moreau (Michel Robin).
As notícias da queda da Bastilha e da revolta popular que toma conta
das ruas da França não entusiasmam Sidonie. Bem ao contrário. A
devotada leitora preocupa-se com a sorte de sua rainha, por quem
nutre uma afeição extrema, que pode ser vista como uma forma de
amor. O fato de que Maria Antonieta tem uma amante e protegida, a
duquesa de Pontignac (Virginie Ledoyen), abala Sidonie, mas não o
bastante para abandonar a rainha, coisa que nobres e plebeus estão
fazendo a cada dia. Especialmente os primeiros, cujos nomes
frequentam a lista daqueles que em breve serão guilhotinados.
Ao assumir o ponto de vista de Sidonie, o diretor Jacquot – que
adaptou, com Gilles Turand, um romance da autora Chantal Thomas –
permite-se humanizar a figura da rainha, do rei Luís 16 (Xavier
Beauvois) e dos nobres apavorados. Nem por isso, os idealiza, nem
toma seu partido. Apenas se permite olhar para o período com o
distanciamento que o tempo permite, injetando vida em cada
personagem.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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As hiper mulheres [Brasil, 2012]Gênero: documentário
Sinopse: Um índio pede a realização de
um grande ritual indígena feminino no
Alto Xingu, para proporcionar à esposa
idosa a chance de cantar uma última
vez. O filme mostra os ensaios e a
doença grave da idosa, a única
conhecedora de todas as músicas do
ritual. (80 min.)
Conteúdo: ciências humanas
RESENHA
Documentário sobre ritual indígena abre mostra competitiva em Brasília 'Hiper mulheres' retrata cerimônia realizada em 2010 no Alto Xingu. Indígenas participaram das filmagens, edição e até direção do longa.Dirigido pelo antropólogo e cineasta Carlos Fausto, o documentário
“Hiper Mulheres” abre a mostra competitiva da 44ª edição do Festival
de Brasília de Cinema Brasileiro nesta terça-feira (27). O longa retrata
o Jamurikumalu, cerimônia realizada em setembro do ano passado
pelas índias da tribo Kuikuro, do Alto Xingu.
De acordo com Fausto, o ritual não era realizado na tribo há quase 30
anos. A doença de uma das moradoras da aldeia fez com que o
Jamurikumalu fosse novamente encenado. Os familiares da índia
doente pediram que a cerimônia fosse realizada para que ela pudesse
novamente participar.
“O ritual tem um mito em sua base: em determinado momento, as
mulheres começam a se queixar dos homens que não iam buscar
peixe para uma festa. Elas começam a cantar, criticando os homens.
Eles saem para pescar e não voltam. Um menino vai atrás e descobre
que eles estão se transformando em seres monstruosos", explica o
diretor.
De acordo com a lenda, as mulheres resolvem, então, se transformar
em hiper mulheres. "É uma espécie de mito das amazonas, elas criam
uma sociedade só de mulheres, onde assumem os papéis masculinos.
O ritual tem toda uma questão da confrontação de gêneros."
'Hiper mulheres' abre mostra competitiva do Festival de Brasília
nesta terça (27) (Foto: Divulgação)
O documentarista Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, um dos índios
que trabalhou na produção do filme e que atualmente estuda cinema
no Rio de Janeiro, também assinam a direção. Fausto desenvolve um
trabalho cinematográfico com as aldeias do Alto Xingu desde 2002 e
já tinha feito vários curtas na região.
“Há anos venho trabalhando especialmente com música, rituais e a
transmissão desse conhecimento. O meu interesse era mostrar a
riqueza dessa cultura e as questões complicadas para se transmitir
um conhecimento tão complexo", afirma o antropólogo e cineasta.
Também serão exibidos pela mostra competitiva os curtas “A
fábrica”, que conta a história de um presidiário que convence sua
mãe a levar um celular para dentro da penitenciária; “Ser tão
cinzento”, que relembra um trabalho do cineasta Olney São Paulo