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A escola que queremos: “Perspectivas nas transformações das escolas da Educação do Campo junto à agroecologia e a
soberania alimentaria”. Tatiane De Jesus Marques Souza, Universidad de Córdoba,
[email protected] Resumen: O artigo em questão visibiliza a busca por de movimentos sociais do campo por uma educação que valorize sua história e auxilie na promoção de mudanças que garantam uma melhoria de vida para o homem do campo. Trata de uma parte de uma oficina, onde a comunidade escolar avaliava sua situação escolar e visualizavam para onde querem avançar em relação a questão ambiental e a soberania alimentar, propiciando conhecimento para construções de projetos políticos e pedagógicos que ajudem a alcançar seus objetivos de escola do campo para o campo. Palabras clave: Educação do campo, agroecología, soberania alimentar
1. Objetivos o propósitos:
Este trabalho faz parte de minha pesquisa de tese do doutorado que ainda não foi
concluída e que tem como objetivo geral: Discutir as contribuições da inserção da
agroecologia na educação do campo em seu espaço escolar, na construção de uma
educação transformadora, que promova o cuidado e a valorização dos recursos naturais,
da cultura, da identidade dos povos do campo e da soberania alimentaria.
2. Marco teórico:
Uma das principais problemáticas do território brasileiro é a questão agrária. Brasil,
desde sua constituição apresenta algumas características marcantes, como o latifúndio, a
monocultura e a exploração de mão de obra escrava ou barata que deram origem a
maior parte dos problemas sociais e econômico que vivem grande parte da população
rural brasileira, com fortes consequências também para o setor urbano (Furtado, 1972).
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Uma das principais consequências do latifúndio foi excluir a maior parte da
população do campo, sendo eles, indígenas, escravos, descendentes livres da mescla
dessas origens e posteriormente os camponeses europeus trazidos para o novo território
português. Todos esses vão formar o que hoje conhecemos por agricultores familiares
(Altafin, 2001).
Esses grupos, segundo indica Cardoso (1987), excluídos do seu meio de produção e
reprodução vão organizar diversas revoltas e lutas pela permanecia ou ocupação da terra
e já no final da década de 80, vão organizar em movimentos sociais de luta pela terra.
Entre eles o Movimento dos trabalhadores rurais sem terra – MST , que vai iniciar o
processo de ocupação da terra com estratégias organizadas para além da posse da terra.
Através das ocupações, os trabalhadores são assentados e uma das primeiras
reivindicações para a constituição dos assentamentos são as escolas. No entanto para o
MST não serve a escola que o Estado fornece para a zona urbana, aqui se reivindica
uma escola que seja do campo para o campo, uma escola que valorize a cultura e o
trabalho camponês. Iniciando-se então, junto com outros movimentos sociais e
intelectuais uma luta por uma educação do campo (Caldart, 2012).
Essa proposta, ainda em construção, faz parte de um processo de luta principalmente
contra ao projeto de desenvolvimento da agricultura brasileira, adotado pela maior parte
dos países da América Latina, conhecido como agronegócio (Stedile & Oliveira, 2005),
que no estado de Mato Grosso, causaram o aumento do número de desmatamento,
diminuição da biodiversidade, aumento da poluição por uso de agrotóxicos, trabalho
escravo e diminuição da oferta de alimentos.
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A legislação brasileira de educação prevê a possibilidade das escolas do campo
adaptarem seus currículos as problemáticas da comunidade (Molina, 2012). As escolas,
principalmente as ocupadas pelo MST que tem como objetivo estratégico de sistema de
produção a agroecologia (Via Campesina, 2009) e como objetivo educacional uma
educação que valorize o trabalho campesino (Pistrak, 2011) tem o desafio de construir
estratégias para alcance dos objetivos dessas áreas que por muitas vezes se cruzam e se
complementam..
3. Metodología:
Fazemos em nossa pesquisa o uso de análises diretas e indiretas, que segundo
Alberich, Villasante, Montañes, Gil, y Martin (1998) a primeira considera fontes e
dados básicos para o tema de estudos como: bibliografias, documentos, censos,
estatísticas, mapas e pesquisas anteriores. E a segunda de forma direta como
ferramentas quantitativas como o questionário e de elementos qualitativos como
entrevistas chaves e oficinas participativas. Os grupos envolvidos foram os de
professores, funcionários e estudantes de cinco escolas do campo, localizadas em cinco
Assentamentos do programa de Reforma agrária, ocupados por integrantes do MST,
localizados em municípios do estado de Mato Grosso, Brasil. Para este artigo
utilizaremos as informações obtidas nas oficinas com professores e funcionários das
escolas, a percepção e objetivos da escola sobre cinco temáticas: participação, meio
ambiente, questão econômica, produção e bem estar. Aqui discutiremos um pouco dos
resultados referentes à questão ambiental e de produção de três dessas escolas.
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4. Discusión de los datos, evidencias, objetos o materiales
As escolas nos assentamentos rurais de reforma agrária, sempre desempenharam um
papel muito maior que o de simplesmente oferecer a educação formal. Essas instituições
são espaços de socialização, é por onde passam todas as informações dos
acontecimentos da comunidade, e é onde as pessoas tem a possibilidade de se
encontrarem e trocarem suas experiências, se organizarem e construírem conhecimento
para além dos muros da escola.
A possibilidade de usar a construção do conhecimento agroecológico como
ferramenta das escolas do campo para propor o trabalho e a organização coletiva como
prática pedagógica para transformação da realidade foi discutida em cinco unidades
escolares específicas da região de Mato Grosso:
Escola Madre Cristina/Assentamento Roseli Nunes, região de Mirrasol do Oeste.
Escola Florestan Fernandes/ Assentamento 12 de outubro, região de Sinop.
Escola Dority Stang/ Assentamento Keno, região de Claúdia.
Mapa de localização das regiões
Cláudia
Sinop
Barra do Bugres
Tangará da Serra
Mirassol do Oeste
Cuiabá
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Fonte: Google, 2015. Essas escolas apresentam algumas características1:
Escola Quant. de
estudantes
Quant. de
funcionários
Experiências
produtivas
Área da
escola.
Fonte de
recursos
Madre Cristina 336 48 Horta 2,5 ha Estado
Florestan
Fernandes
185 34 Horta 2 ha Estado
Dority Stang 135 18 - 0,5 ha Estado Fonte: Elaboração própria a partir de relatório de oficinas de Diagnóstico, 2012.
Através do quadro acima podemos observar que todas as escolas possuem áreas em
potenciais para prática de agricultura, sendo que algumas já iniciaram o processo e
outras ainda estão por dar continuidade.
Em relação à questão ambiental, as escolas apresentam sua demanda conforme suas
dificuldades em atingir seus objetivos nessa área:
QUADRO 1. Desafios apresentados pelas escolas em relação ao Ambiente
Desafios Madre Cristina Florestan
Fernandes Dority Stang
Ambiente
Projetos de Reciclagem Fazer chegar a consciência na casa dos estudantes
Arborização; Reflorestamento Ter um espaço definitivo;
Trabalhar na prática com a comunidade as discussões sobre as questões ambientais (rios, matas, reservas)
Projeto meio ambiente;
Expandir e consolidar o comitê do luta contra o agrotóxico;
Estudos para conhecer a floresta;
Manejo de florestas;
1 Informações cedidas pelos professores e pela SEDUC-MT.
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Potencializar a produção agroecológica.
Fonte: Elaboração própria a partir de relatório de oficinas de Diagnóstico, 2012.
Desse panorama observamos que algumas temáticas são chaves para o
desenvolvimento de trabalhos relacionados a qualquer curso ambiental ou produtivo que
se queira desenvolver nas escolas, sendo eles:
Reciclagem, Reflorestamento, Arborização e Paisagismo e Saneamento Básico.
A Escola Florestan Fernandes apresenta demanda específica em relação às demandas
ambientais visto que se encontra inserido no Bioma Amazônico e tem a necessidade de
trabalhar a sustentabilidade florestal.
Em relação à questão produtiva os desafios apresentados em busca da auto-
sustentabilidade e soberania alimentar das escolas foram:
QUADRO 2. Desafio apresentado pelas escolas em relação à Soberania Alimentar
Fonte: Elaboração própria a partir de relatório de oficinas de Diagnóstico, 2012.
Desafios Madre Cristina Florestan Fernandes Dority Stang
Produção agrária
Melhorar a horta Iniciar horta
Implantar plantas frutíferas
Construção de um viveiro Granjas e porcos;
Ter auto-sustentabilidade
Transporte para produção;
Potencializar a pecuária leiteira;
Comprar dos agricultores do assentamento para merenda escolar
Assistência técnica.
Falta de recursos; Organização dos funcionários e pais;
Formação técnica e política;
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No quadro 2 percebemos que as escolas Madre Cristina, Florestan Fernandes
apontam a necessidade de melhorar a horta, seja em variedade ou gestão de trabalho. Já
a escola Dority Stang, apresenta dificuldades de inicia-la.
Todas apontam como desfio a introdução de árvores frutíferas. Também apontam a
necessidade da construção de viveiros para não dependerem da compra de sementes e
mudas que pressupõe um gasto adicional para a escola. Para Madre Cristina o grande
sonho a ser alcançado seria o da auto sustentabilidade, para não depender tanto dos
recursos do Estado, ou seja, que toda alimentação oferecida pela escola fosse produzida
na própria escola pelos pais, alunos e professores.
Na escola Florestan Fernandes apontam dificuldades referentes a própria estrutura do
assentamento e da escola como a falta de transporte para trazer os materiais de insumos
para a produção.
A falta de assistência técnica, também foi apontada, visto que os professores mesmo
que em sua maioria de famílias são provenientes do campo e vivem nele, tiveram como
professores uma formação pedagógica referente ao processo de ensino e aprendizagem
sem formação agrária. Além disso, para todas as escolas, os recursos financeiros são
pouquíssimos, falta de condições estruturais, como cadeiras, salas, computadores,
material didáticos, livros e até salas de aulas. A escola funciona quase somente com
professores e alunos e o pouco dinheiro que chega é justo para garantir a merenda e as
vezes não chega nem para isso. Lembramos que muitas das crianças chegam de manhã
sem comer porque saem de madrugada de suas casas.
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Outra questão levantada foi em relação à organização de pais junto à escola e a
organização do MST que desde o principio do assentamento estiveram muito unidos
para conquista da terra e construção da escola, mas que atualmente se notavam menos
presente os pais nas reuniões. Dessa maneira apontam que um dos desafios é a formação
politica e técnica da comunidade escolar. A primeira tem que ver com a conscientização
das problemáticas agrárias, da condição de agricultores familiares e da importância de
organização, a segunda se relaciona com as técnicas agroecológicas de produção,
porque avaliam que necessitam conhecer experiências práticas, desenvolve-las e tentar
criar experiências modelos que sensibilizem e incentivem outros agricultores.
Para a escola Dority Stang, a criação de granjas de galinha e porcos e a pecuária
leiteira poderiam contribuir com o processo de soberania alimentar.
5. Resultados y/o conclusiones
As problemáticas apresentadas como desafios em relação à soberania alimentar pelas
escolas são reflexos do processo de construção do próprio assentamento e das condições
de sobrevivência do próprio agricultor sob a posse da terra. Também reflete a realidade
das condições das propriedades destinadas a reforma agrária, geralmente, altamente
degradada em seus recursos naturais. Assoma-se a isto o fato, que a maioria das pessoas
que passam fome no mundo são agricultores, sendo também o que mais sofrem com o
desequilíbrio ambiental. O processo de uma educação critica passa primeiramente pela
construção de um autoconhecimento sobre si mesmo, suas origens, seu papel no mundo
e seus objetivos.
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Pistrak (2011) nos expõe que o espaço escolar pode estimular o desenvolvimento do
trabalho como uma atividade que faz parte de nossas vidas, não como um sacrifício,
mas como algo prazeroso onde se possam desenvolver as potencialidades e a
criatividade. Também é um meio pelo qual o educando do campo, no campo possa
conhecer melhor seu entorno, aprender sobre os limites na relação homem-terra, para
que ambos possam se beneficiar.
6. Contribuciones y significación científica de este trabajo:
A presente pesquisa pode possibilitar um melhor conhecimento das escolas do
campo sobre a utilização de seus espaços produtivos, o que pode ajudar na construção
de estratégias educativas para a formação dos educandos e educadores, de forma que
esses tenham a possibilidade de desenvolver teoria e práticas de forma conciliadora
promovendo técnicas sustentáveis de agricultura que possibilite a conservação e a
valorização do seu entorno ambiental, além de estimular sua soberania alimentar.
7. Bibliografía
Alberich, T., Villasante, T., Montañés, M., Gil, M.A. y Martín, P. (1998) Métodos y
Técnicas de Investigación y Participación. Cuadernos de la Red, nº 5. Red CIMS.
Altafin, I. (s.f.). Reflexões sobre o conceito de agricultura familiar. Portal da cidadania
Recuperado de:
http://portal.mda.gov.br/dotlrn/clubs/extensouniversitaria/contents/photoflow-
view/content-view?object_id=1635678
Organizado por:
Caldart, R. (2012). Educação do campo. Dicionário da Educação do campo (pp.257-
264). Rio de Janeiro, São Paulo: Escola politécnica de Saúde Joaquim Venâncio,
Expressão Popular.
Cardoso C. (1987). Escravo ou Camponês? O Protocampesinato Nero nas Américas.
São Paulo: Brasiliense.
Furtado, C. (1972). Análise do "modelo" brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira.
Molina, M. (2012). Legislação Educacional do Campo. Dicionário da Educação do
campo (pp.451-457). Rio de Janeiro, São Paulo: Escola politécnica de Saúde
Joaquim Venâncio, Expressão Popular.
Pistrak, M. (2011). Fundamentos da escola do trabalho. São Paulo: Expressão Popular.
Stedile, J. P., & Oliveira, A. (2005). A natureza do agronegócio. Brasília, Via
Campesina.
Via Campesina. (2009) Relatorio do encontro. In. Encuentro continental de formadores
y formadoras en agroecología. Venezuela, Instituto Agroecológico Latino americano
Paulo Freire (IALA).