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Mario Mario Possas Possas Sumário III.1. Inovações, processos cumulativos e trajetórias evolutivas em sistemas complexos Bibliografia: ALLEN (1988); ARTHUR (1994); SILVERBERG (1988); METCALFE, SAVIOTTI (1991); HODGSON (1996), caps. 3, 13 a 15; HODGSON (2002); NELSON (2006); POSSAS (2008), s. 1 e 2. III.2. Modelos evolucionários de inovação e dinâmica industrial endógena Bibliografia: NELSON, WINTER (1982), caps. 11 a 13; VROMEN (1995), caps. 4 e 6; SILVERBERG, DOSI, ORSENIGO (1988); DOSI, NELSON (2009); POSSAS, KOBLITZ et alii (2001); POSSAS (2008), s. 3. 2

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Page 1: 1 Mario Possas CONCORRÊNCIA E MUDANÇA TECNOLÓGICA Prof. Mario Possas, IE/UFRJ III – Indústria e Tecnologia (II): Inovações e Dinâmica Industrial (1)

Mario Mario PossasPossas

SumárioIII.1. Inovações, processos cumulativos e trajetórias

evolutivas em sistemas complexosBibliografia: ALLEN (1988); ARTHUR (1994);

SILVERBERG (1988); METCALFE, SAVIOTTI (1991); HODGSON (1996), caps. 3, 13 a 15; HODGSON (2002); NELSON (2006); POSSAS (2008), s. 1 e 2.

III.2. Modelos evolucionários de inovação e dinâmica industrial endógena

Bibliografia: NELSON, WINTER (1982), caps. 11 a 13; VROMEN (1995), caps. 4 e 6; SILVERBERG, DOSI, ORSENIGO (1988); DOSI, NELSON (2009); POSSAS, KOBLITZ et alii (2001); POSSAS (2008), s. 3.

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Mario Mario PossasPossasSumário (cont.)

III.3. Elementos de análise evolucionária aplicada às inovações e à dinâmica industrial

Bibliografia: PAVITT (1984); BELL, PAVITT (1993); DOSI (1988a); POSSAS (1988); DOSI (1997); MALERBA, ORSENIGO (1993).

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III.1. Inovações, processos cumulativos e trajetórias evolutivas em sistemas complexos

As bases do enfoque evolucionário neo-Schumpeteriano

Saviotti e Metcalfe (1991) identificam as origens do enfoque evolucionário atual (neo-Schumpeteriano) em Economia nas seguintes fontes:

i. o enfoque evolucionário na própria Economia;

ii. a tradição da pesquisa biológica;

iii. a teoria de sistemas, a análise de situações de irreversibilidade e operação fora do equilíbrio; e

iv. a teoria da firma e das organizações.

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i. Na Economia, sugestões de abordagem evolucionária remontam a Marshall, Veblen e Schumpeter (neste, de forma implícita porém mais rica). Neste, a perspectiva evolucionária se manifesta nos seguintes aspectos: a importância da mudança qualitativa, da produção interna de variedade (inovação), das trajetórias fora do equilíbrio e da destruição criadora.

ii. Da tradição biológica, desde Darwin, destaca-se a ênfase, por analogia, nos mecanismos de criação de variedade (mutação), de replicação e de seleção. A distinção fenótipo x genótipo, bem como a controvérsia Darwin x Lamarck, podem ter alguma importância econômica.

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iii. Da teoria de sistemas e da termodinâmica de não-equilíbrio destacam-se as contribuições da distinção entre sistemas abertos e fechados, a noção de entropia, as possíveis fontes de irreversibilidade, a operação fora do equilíbrio. A teoria do caos e seus atratores, assim como a presença de não-linearidades e bifurcações, trazem um acervo de linguagem técnica e de resultados utilizáveis como referência.

iv. Da teoria da firma e das organizações surgem as contribuições de Coase, Simon, Cyert & March, Penrose, formando um conjunto não-neoclássico de combinações de enfoques comportamentais, institucionalistas e Schumpeterianos (com ênfase na dinâmica inovativa da firma).

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Quanto à influência da biologia evolucionária na abordagem econômica, os autores destacam: geração endógena de variedade (mutações), não mais

aleatória, mas deliberadamente via inovação; atuação de mecanismos de seleção, não propriamente

“natural”, seja por processos (espontâneos) de mercado, seja por aprendizado, seja por meios institucionais;

transmissão de caracteres, via cópia ou imitação, aprendizado e introjeção de normas e rotinas;

adaptação a mudanças no ambiente, inclusive por eliminação de concorrentes pouco competitivos;

importância da dispersão e variedade de características na população, em detrimento dos valores médios.

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Quanto às interações elementares presentes entre os indivíduos, da analogia evolutiva biológica – competição, comensalidade e predação – são retidas a primeira e a terceira. A segunda equivaleria à cooperação econômica, mas que pode ser vista como variante da competição. No entanto, vale ressaltar que esta última passa a ser vista essencialmente como rivalidade, como na concepção de concorrência Schumpeteriana.

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Quanto ao processo (econômico) evolutivo resultante, são destacados os seguintes traços, característicos de sistemas complexos: presença forte de não-linearidades e feedbacks

positivos; irreversibilidade (sistemas dissipativos); path dependence; auto-organização (ordem fora do equilíbrio); previsibilidade na vizinhança de um “equilíbrio”,

mas não longe dele – situação mais comum em economia;

sensibilidade das trajetórias (bifurcações) frente a alterações de parâmetros.

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Propriedades dos processos cumulativos

A contribuição de Brian Arthur (1987, 94) se concentra na importância dos mecanismos cumulativos ( feedback positivo) em Economia, especialmente associados a inovações. São identificadas 4 propriedades básicas: equilíbrios múltiplos, com trajetória indeterminada; possível ineficiência: o resultado da seleção pelo mercado

pode não ser ótimo do ponto de vista tecnológico (e social);

path dependence: a trajetória já percorrida pela indústria influi na trajetória futura: sua dinâmica é a de um processo “não-ergódico”; e, em situações- limite,

lock-in de escolhas (soluções) ao longo da trajetória.

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O autor destaca que é a presença de importantes não-linearidades na Economia (e.g o aprendizado com inovações) o principal fator gerador de indeterminação e instabilidade nos processos econômicos.

Seu texto ilustra em particular a possibilidade de lock-in na escolha entre duas tecnologias alternativas numa indústria, na presença de efeitos não-lineares da sua adoção ao longo do tempo, utilizando um modelo estocástico simples. Considere duas tecnologias, A e B, e dois “tipos” de

usuários potenciais, R (que prefere inicialmente A) e S (que prefere B), distribuídos por igual nessa população. Sejam os payoffs associados a essa escolha tecnológica representados por funções lineares do número de adoções já feitas, como segue:

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Funções de “payoff”

agente tipo tecnologia A tecnologia B

R (50%) πAR = aR + r nA πB

R = bR + r nB

S (50%) πAS = aS + s nA πB

R = bS + s nB

onde, por hipótese, nA(B) é o número de adoções de A (B) no estágio (período) n; e aR > bR , aS < bS

.

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Definições:• Haverá “retornos”

crescentes ↔ r,s > 0;constantes ↔ r,s = 0;decrescentes ↔ r,s < 0.

• Seja xn o “market share” de A no estágio n , isto é,

xn = nA(n) / n .O processo será:

- previsível se {xn}: Pr [limn→∞| |= 0] = 1;- flexível se o subsídio para mudar a opinião inicial for crescente;

- ergódico se, para duas amostras de sequências {xn} e {x’n},

Pr [limn→∞ |x’n - xn| = 0] = 1; e

- eficiente se πA(m) ≥ maxj {πB(j)}, k ≤ j ≤ m.

ˆn nx x

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Resultados do modelo:

• Sob “retornos” constantes, obtém-se

xn = 0,5 + [nA(n) – nB(n)] / 2n ; ou seja,

limn→∞ xn = 0,5.

• Sob “retornos” decrescentes, haverá mudança de preferência - de agentes tipo R passando a preferir B, o que implica πB

R > πAR - sempre que

nA(n) – nB(n) > (aR – bR) / -r ; e de agentes tipo S preferindo A sempre que

nB(n) – nA(n) > (bS – aS) / -s .

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• Sob “retornos” crescentes, haverá, inversamente, mudanças de preferência de R e S, respectivamente, sempre que

nB(n) – nA(n) > (aR – bR) / r , e

nA(n) – nB(n) > (bS – aS) / s .

Note-se que aqui, ao contrário do caso anterior, haverá necessariamente lock-in em uma das duas tecnologias, A ou B, com o respectivo “market share” tendendo a 100% ao longo do tempo – só que não se sabe de antemão para qual das duas. O processo será, nesse caso, pelas definições adotadas, imprevisível, inflexível (ou “locked-in”), não-ergódico e potencialmente ineficiente.

O gráfico a seguir ilustra esse resultado.

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Gráfico da escolha (estocástica) de técnicas, B. Arthur

A R e S escolhem A

R escolhe A e S escolhe B n

B R e S escolhem B

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Por que evolução não implica otimização

Hodgson (1996, caps. 13, 14) aponta as contradições entre um enfoque centrado na evolução e a noção econômica convencional de otimização.

• Friedman, Hayek e Alchian são contra-exemplos: buscam na analogia biológica apoio para uma visão (neoclássica) de evolução econômica centrada na seleção de um comportamento racional maximizador – como sendo um critério equivalente ex post (Alchian), ou adotado implicitamente por imitação (Hayek), ou mesmo selecionado explicitamente (Friedman).

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• Essas posições foram questionadas por Schumpeterianos como Penrose e Winter, para quem a sustentação da analogia evolucionária biológica exige a explicitação de um mecanismo de replicação relativamente durável que possa ser objeto de seleção. Em suma, o quê, afinal, é “imitado”?

• Hodgson comenta em seguida uma série de pontos de conflito entre evolução e otimização. São eles, resumidamente:

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(i) o fato de argumentos evolucionários não serem suficientes para que soluções mais “eficientes” sejam necessariamente produzidas no mercado;

(ii) evolução não implica sobrevivência do “ótimo”, e sim do “mais apto”, o que depende das alternativas disponíveis à seleção e envolve erros. Citando Gould: “imperfeições são a prova básica de que ocorreu evolução, dado que projetos ótimos apagariam todos os sinais da história”;

(iii) a procriação de um mutante é um critério decisivo para a densidade populacional do seu tipo, tão ou mais que a adaptabilidade individual. Na economia, para aumentar a participação na população importa não só a imitação, mas a expansão das empresas e o ritmo de novas entrantes;

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(iv) a presença de path dependency é um motivo central para a rejeição de métodos baseados em equilíbrios ótimos. Condições iniciais, sensibilidade dos parâmetros e da trajetória a pequenas mudanças acidentais e “históricas” têm peso decisivo;

(v) no limite, como visto, a inflexibilidade gerada pela path dependency pode dar lugar às situações de lock-in, da qual existem inúmeros exemplos econômicos. Hiperseleção e “desenvolvimento creódico” (sem parâmetros estáveis) são conceitos pertinentes;

(vi) dependência de contexto e de freqüência (populacional) são característicos da evolução biológica e estão presentes na economia. O “valor seletivo” dos genes não é absoluto, da mesma forma que rotinas ou tecnologias em economia;

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(vii) o processo seletivo pode selecionar diversos “picos”, distintos mas interrelacionados, de adaptabilidade (“fitness”) – até porque as variáveis seletivas em operação podem ser várias -, destacando assim o papel determinante da história no resultado alcançado;

(viii) modelos de jogos evolucionários que podem gerar cooperação entre espécies mostram que soluções, cooperativas ou não, podem ser instáveis dependendo da massa crítica de um ou de outro tipo na população, impedindo uma solução unívoca ou “ótima”;

(ix) finalmente, o enfoque evolucionário não escapa da intencionalidade e da indeterminação que a acompanha, implicando uma combinação de “acaso e necessidade” (J. Monod).

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O debate sobre o alcance da teoria evolucionária

Hodgson (2002) propõe um “Darwinismo universal” englobando a Economia e outras ciências sociais, com base na hipótese de que os seus três princípios básicos – variação, replicação (hereditariedade) e seleção – estariam necessariamente presentes nessas outras áreas de conhecimento.

Segundo o autor, “há um núcleo de princípios darwinianos que, juntamente com explicações auxiliares específicas a cada domínio científico, pode aplicar-se a um amplo espectro de fenômenos” (itálico original).

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Mario Mario PossasPossas O impacto é algo atenuado pela afirmação de que

“embora princípios darwinianos sejam sempre necessários para explicar sistemas populacionais complexos e evolutivos, nunca são suficientes por si sós. É sempre requerida atenção a mecanismos específicos, detalhados”; mas note-se a posição subalterna desses complementos.

O autor procura afastar possíveis rejeições com base em: uma suposta superioridade da “auto-organização”; o caráter “artificial” da seleção na sociedade; a suposta extensão “imperialista” da biologia

evolucionária no âmbito das ciências sociais (genes culturais, Dawkins).

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Mario Mario PossasPossas E aponta alguns possíveis problemas específicos:

os replicadores sócio-econômicos (hábitos, rotinas, instituições) produzem “cópias altamente imperfeitas de si mesmos”;

a seleção sócio-econômica não se dá principalmente entre gerações sucessivas, “mas também dentro do tempo de vida das unidades sócio-econômicas”;

enquanto as linhagens típicas da evolução natural separam-se e divergem, as da sociedade, mediante transmissão de informação entre elas, podem combinar e convergir (Gould, 1987);

“o ambiente da seleção sócio-econômica está mudando rapidamente, em comparação com as épocas longas” da seleção natural ;

“na esfera sócio econômica existe a possibilidade da herança ‘lamarckiana’ de caracteres adquiridos, o que é ampla ou completamente excluído da evolução genética”. 24

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Mario Mario PossasPossas Mas Hodgson não enfrenta os problemas a meu ver

centrais, que são três: Um dos problemas mais sérios da analogia evolucionária

biológica para a Economia é o da unidade de seleção (e de variedade e replicação): qual é o “gene” econômico? A referência inicial do autor à imperfeição das cópias dos replicadores é um aspecto apenas parcial da questão. Nelson & Winter tiveram muitas dificuldades nessa questão.

Ainda mais importante é o da intencionalidade da ação humana nos ambientes sócio-econômicos, envolvendo cognição, desejos e criatividade, ausentes nos processos naturais de variação evolutiva e na teoria darwiniana.

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O terceiro problema , e talvez o mais grave, é que a proposta faz tabula rasa não só da teoria econômica em geral, mas da própria teoria não-ortodoxa em particular, que obviamente não se reduz a uma dinâmica populacional sujeita a processos seletivos. No mínimo os seguintes ingredientes fundamentais ficam de fora (só para citar alguns poucos):

• No nível micro: formação de preços, formação de expectativas sob incerteza, decisões de investimento;

• No nível macro: demanda efetiva, teoria monetária, efeitos multiplicadores e aceleradores, ciclos econômicos.

É claro que nada disso é redutível, mesmo indiretamente, a mecanismos darwinianos.

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Só resta, como recomenda a prudência, optar abertamente pela analogia em lugar de algum darwinismo Universal. Como observa Nelson (2006), “...analogias úteis deveriam provir principalmente de investigação empírica cuidadosa (...) e identificação de algumas similaridades potencialmente interessantes a aspectos da evolução biológica, em vez de correr atrás de, ou construir, analogias na presunção de que elas deveriam estar ali” (...) “De fato, parece-me que as diferenças são tão interessantes quanto as similaridades, e eu gostaria de insistir numa visão ampla e flexível das teorias evolucionárias da mudança” .

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