1 itbi teoria
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ITBI-IV - IMPOSTO SOBRE A TRANSMISSÃO "INTER VIVOS", A QUALQUER TÍTULO, POR ATO ONEROSO, DE BENS IMÓVEIS, POR NATUREZA OU ACESSÃO FÍSICA, E DE DIREITOS REAIS SOBRE IMÓVEIS, EXCETO OE DE GARANTIA, BEM COMO A CESSÃO DE DITREITOS À SUA AQUISIÇÃO.
ASSUNTO PÁGINA
1 - COMPETÊNCIA 2
2 - FUNÇÃO 2
3 - FATO GERADOR 4
4 - BASE DE CÁLCULO 10
5 - ALÍQUOTAS 13
6 - SUJEITO PASSIVO 14
7 - LANÇAMENTO 15
8 - PAGAMENTO 18
9 - NÃO INCIDÊNCIA 19
10 – ISENÇÃO 25
11 - OBRIGAÇÕES DOS NOTÁRIOS E OFICIAIS DE REGISTRO DE IMÓVEIS E SEUS PREPOSTOS
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ANEXOS: LEGISLAÇÃO
- Constituição Federal e Código Tributário Nacional- Lei n°11.154/91 (com posteriores alterações Lei nº13.107/00, Lei n°13.402/02 e
Lei nº14.125/05)- Decreto nº46.228 de 23 de agosto de 2005 (REGULAMENTO DO ITBI)- Portaria SF nº081/05 (Declaração de Transação Imobiliária - DTI e DAMSP)
1
1 – COMPÊTENCIA
A Constituição Federal de 1988, no artigo 156, estabeleceu a
competência para o Município instituir o ITBI-IV oneroso.
A Constituição vigente transferiu parcialmente a competência tributária
do imposto sobre a transmissão imobiliária, constante da Emenda Constitucional
nº 1/69, para o âmbito municipal. Coube aos municípios a instituição do imposto
sobre a transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens
imóveis. Mantendo a competência dos Estados e do Distrito Federal para as
transmissões causa mortis e por doações (ITCMD).
Para o jurista Hugo de Brito Machado o constituinte de 1988 não foi
feliz, pois melhor seria do ponto de vista da administração tributária, que também
as transmissões de imóveis em virtude de doações e heranças fossem tributadas
pelos Municípios, pela razão deste dispor de um cadastro imobiliário, que se faz
imprescindível à administração do IPTU.1
O requisito principal para que se verifique a incidência de ITBI-IV
Municipal é a onerosidade da transmissão, seja de bens, direitos reais, ou
cessões de direitos a sua aquisição.
2 – FUNÇÃO
A Lei Complementar que trata do imposto sobre a transmissão
imobiliária, por ato oneroso, nos termos em que exige o art. 146, III, a, da
Constituição é o Código Tributário Nacional. Por recepção, o CTN (Lei nº 5.172,
de 25 outubro de 1966) regula o tributo em seus artigos 35 a 42.
Sabe-se que, pela própria organização do CTN, o imposto sobre a
transmissão de imóveis está disposto no Capítulo que trata dos impostos sobre o
patrimônio e a renda: Imposto sobre a propriedade territorial rural (ITR), Imposto
sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) e Imposto sobre a renda e
proventos de qualquer natureza (IR), além do ITBI.
1 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros, p. 293.
2
Apesar da divisão proposta pelo Código Tributário Nacional não ter
maior valor, a não ser para efeitos didáticos, os tributos contidos neste Capítulo
são todos diretos, ou seja, aqueles que incidem sobre a renda e a riqueza das
pessoas (patrimônio).
Esses tributos têm a função predominantemente fiscal, ou seja, de
arrecadar recursos para o Estado desempenhar suas atividades; além da função
de distribuição de renda, visando torná-la mais homogênea, implementando
gastos que beneficiem a população de baixa renda, efetivando uma transferência
de recursos a favor destes, sempre para a obtenção do bem comum.
O imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação
independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte.
Essa é a definição do artigo 16 do CTN.
As duas características fundamentais do imposto estão implícitas
nessa definição: cobrança geral; não ser contraprestacional (tributo não-
vinculado). Não há contraprestação e vinculação do produto da arrecadação.
O imposto é a principal arma do estado na arrecadação tributária. É um
levantamento pecuniário junto aos particulares, baseado apenas em uma medida
geral de capacidade econômica ou contributiva e em virtude da competência
tributária.
Nota-se, que a tributação é o instrumento de que se tem valido a
economia capitalista para sobreviver. Sem ele não poderia o Estado realizar os
seus fins sociais, a não ser que monopolizasse toda a atividade econômica. O
tributo é inegavelmente a grande e talvez única arma contra a estatização da
economia.2
2 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros, p. 22.
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3 – FATO GERADOR
Como a edição do Código Tributário é anterior á promulgação de
Constituição vigente, que efetuou alterações da competência e da materialidade
do imposto, e considerando a falta de lei complementar para, nessa parte, alterar
o CTN, com o objetivo de adequação à Lei Maior, devem ambos dispositivos ser
estudados conjuntamente para entendimento do atual sistema.3
A Constituição Federal de 1988, no seu art. 156, estabelece a
competência aos Municípios para instituir o imposto sobre a transmissão inter
vivos, a qualquer título, por ato oneroso. O fato gerador do imposto Municipal é
a transmissão, a qualquer título, de bens imóveis.
Para alguns, como Sacha Calmon, o fato jurígeno se dá pela
transmissão jurídica da propriedade (transcrição do título aquisitivo no registro
próprio e pelas outras formas previstas em lei). Os institutos civis sobre imóveis e
transmissões conferem precisão ao fato jurígeno tributário.4
No entanto, para a maioria, o fato gerador ocorre por ocasião da
lavratura da escritura pública definitiva referente à negociação. Sendo o registro
da escritura um ato que compõe o conjunto de atos necessários à transmissão da
propriedade dos bens imóveis, e tem relevância específica para fins de direito
civil, no sentido de torná-lo público e oponível erga ommnes. Não havendo
impedimento que a lei tributária, escolha um dos atos ligados à hipótese de
incidência para considerar como sendo o do momento do fato tributável.5
Ainda nessa esteira, Odmir Fernandes, quando trata do ITBI, defende
que a transmissão se faz pela escritura pública lavrada no Tabelionato de Notas.
Os compromissos particulares de compra e venda, com cláusula de
irretratabilidade e irrevogabilidade, registrados, também conferem o direito de
transmitir o imóvel ao adquirente. Portanto, o fato imponível ocorre com a
3 FERNANDES, Odmir. Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis de Direitos a eles Relativos. In: FREITAS, Vladimir Passos de (Coord.). Código Tributário Nacional Comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 101.4 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, p. 360. 5 CONTI, José Maurício. O Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI): Principais Questões. Obtida via internet.
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transmissão dos direitos sobre o imóvel e não com a transmissão do domínio, que
se faz pelo registro no Cartório Imobiliário.6
Defende, também, esta posição Hugo de Brito Machado. Para o jurista
o imposto de transmissão cobrado antes da lavratura da escritura de compra e
venda do imóvel é pago por vontade das partes interessadas na formalização de
um negócio jurídico já efetuado. Esclarece que não se pode confundir tanto o
negócio jurídico com sua formalização, quanto o ato com seu instrumento.
Para o autor, mesmo no âmbito do Direito Civil, não se pode considerar
a transcrição do título no registro imobiliário como ato isolado, sendo um ato final
de uma série. De toda forma, desde que as partes convencionaram o negócio, o
tributo já pode ser exigido, tendo em vista que os atos restantes constituem mera
formalização, para efeitos civis.7
Como se vê, o momento da ocorrência do fato gerado tem se revelado
contraditório na doutrina. O nascimento da obrigação tributária somente pode ser
dar com o ato ou negócio jurídico necessário e suficiente à transmissão dos
direitos sobre o imóvel. É neste momento que surge a obrigação tributária, com a
ocorrência do fato gerador do ITBI, vale dizer, com a materialização de todos os
atos necessários a operar-se a transmissão da propriedade do imóvel.8
De qualquer forma, a Emenda constitucional nº 3/93, que introduziu a
figura do fato gerador presumido, acrescentando o § 7º ao art. 150, encerra a
discussão, pois convalidou eventual vício que a exigência do tributo no momento
da escritura definitiva ensejaria.
O ITBI incide sobre a transmissão por ato oneroso. Estes são os atos
em que ambos os contratantes auferem vantagens correspondentes a uma
contraprestação, com objeto e preço contratado.
Diz-se a título oneroso o contrato quando uma das partes sofre um
sacrifício patrimonial, ao qual corresponde uma vantagem que pleiteia; assim, por
exemplo, na troca, um dos permutantes oferece uma coisa, para obter outra. No
6 FERNANDES, Odmir. Op.cit. p. 108.7 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros, p. 296.8 FERNANDES, Odmir. Op.cit. p. 108.
5
contrato oneroso, o sacrifício feito e a vantagem almejada estão em relação de
equivalência, equivalência esta de caráter subjetivo.9
Na compra e venda, por exemplo, a vantagem do comprador é
representada pelo recebimento da coisa, e o sacrifício, pelo pagamento do preço.
Para o vendedor, o benefício reside no recebimento deste, e o sacrifício, na
entrega da coisa. Ambos buscam um proveito, ao qual corresponde um
sacrifício.10
A transmissão prevista no art. 156 da Carta Constitucional incide sobre
bens imóveis, por natureza ou acessão física e direitos reais sobre imóveis,
exceto os de garantia.
Para tanto, o Direito tributário, com base nos fundamentos dos artigos
109 e 110 do Código Tributário Nacional, busca no Direito Civil a conceituação
destes institutos.
Bens imóveis. “São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe
incorporar natural ou artificialmente” (Novo Código Civil, art.79). São as coisas
que não se podem transportar, de um lugar para outro, sem destruição.11
Bens imóveis por natureza: “são o solo com a sua superfície, os seus
acessórios e adjacências naturais, compreendendo as árvores e frutos pendentes,
o espaço aéreo e o subsolo” (Código Civil de 1916, art. 43, I).
Bens imóveis por acessão física: “são tudo quanto o homem
incorporar permanentemente ao solo, como a semente lançada á terra, os
edifícios e construções, de modo que se não possa retirar sem destruição,
modificação, fratura ou dano” (Código Civil de 1916, art. 43, II).
9 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Dos Contratos e das Declarações Unilaterais de Vontade. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, p. 30.
10 GONÇALVES, Carlos R. Direito das Obrigações (parte especial). Vol 6. São Paulo; Saraiva, p. 27.
11 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Parte Geral. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, p. 115.
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Bens imóveis por destinação legal: “são tudo quanto no imóvel o
proprietário mantiver intencionalmente empregado em sua exploração industrial,
aformoseamento ou comodidade” (Código civil de 1916, art. 43, III). O Novo
Código Civil não contempla essas três definições.
Trata-se de uma ficção legal que permite a mudança da natureza de
um objeto, em virtude do destino que lhe atribui o proprietário. Esta destinação
gera conseqüências jurídicas, como se aqueles objetos, móveis por sua natureza,
fossem imóveis.
Estabelece o Novo código Civil em seu artigo 80: “Consideram-se
imóveis para os efeitos legais:
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta”.
Direitos reais sobre imóveis. Para o Direito Civil, os direitos reais
vêm arrolados no Novo Código Civil em seu art.1.225, I a X, assim disposto:
“Art. 1.225. São direitos reais:I - a propriedade;II - a superfície;III - as servidões;IV - o usufruto;V - o uso;VI - a habitação;VII - o direito do promitente comprador do imóvel;VIII - o penhor;IX - a hipoteca;X - a anticrese.
O direito real pode ser definido como o poder jurídico, direto e imediato,
do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. No pólo passivo inclui-
se a coletividade, pois todos devem abster-se de qualquer atitude que possa
turbar o direito do titular. Os direitos reais têm como elementos essenciais, o
sujeito ativo, a coisa e a relação ou poder do sujeito ativo sobre a coisa, chamado
domínio.12
12 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Coisas. Vol. 3, São Paulo; Editora Saraiva, p. 2.
7
Dos direitos reais, devemos distinguir aqueles que se constituem em
direitos de garantia, que são o penhor, a anticrese, e a hipoteca, não tributáveis
pelo imposto de transmissão, dos demais direitos acima arrolados.
Sílvio Venosa, em sua obra “Direitos Reais”, trata da tipicidade estrita
dos direitos reais. A idéia central está no enunciado que somente a lei pode criar
direitos reais, sendo eles em número fechado (numerus clausus).13
Modernamente, a Lei nº9.514/97 instituiu nova modalidade sui generis
de garantia sobre imóveis, a alienação fiduciária, imune do ITBI, e até então,
prevista só para bens móveis. A alienação fiduciária é o negócio jurídico pelo qual
o devedor, com a finalidade de garantia, contrata a transferência ao credor, da
propriedade resolúvel do imóvel. Vencida e não paga a dívida e constituído em
mora o devedor, consolidar-se-á a propriedade do imóvel em nome do credor.
Neste caso, incidirá o imposto de transmissão devido pelo credor fiduciário,
normalmente, na pessoa do agente financeiro.
Já no direito real de superfície o proprietário pode conceder a outrem o
direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado,
mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de
Imóveis (artigo 1.369 do Novo Código Civil).
O art. 1º da Lei Municipal nº11.154/91 (institui o ITBI no âmbito do
Município de São Paulo) trata da incidência do tributo e repete o estabelecido pela
Constituição Federal, com pequenas alterações, no que tange ao fato gerador do
tributo. Preceitua que o fato gerador é a transmissão a qualquer título, por ato
oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, de direitos reais sobre
imóveis, exceto os de garantia e as “servidões”. Inclui, também como hipótese de
incidência as cessões de direito relativos à aquisição de bens imóveis.
O parágrafo único estabelece a competência espacial do ITBI, sendo
que o imposto incide nos atos e contratos relativos a imóveis situados no território
do Município de São Paulo, sendo irrelevante aonde a escritura é celebrada.
13 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direitos reais. São Paulo: Atlas, p. 33.
8
Estabelece o art. 2º da Lei nº11.154/91 os atos que estão
compreendidos no campo de incidência do ITBI-IV (HIPÓTESES DE
INCIDÊNCIA).
As hipóteses de incidência previstas na Lei Municipal são meramente
exemplificativas, pois mesmo que não estejam elencadas dentre as hipóteses
constantes nos incisos de I a XIII, do artigo 2º, o próprio inciso XIII estende a
tributação a “todos os demais atos translativos de imóveis, por natureza ou
acessão física, e de direitos reais sobre imóveis”.
Alguns incisos têm caráter peculiar. É o caso do mandato em causa
própria, constante no inciso IV. Está o instituto previsto no artigo 685 do Novo
Código Civil. É aparentemente uma espécie de mandato (procuração), a fim de
que o mandatário execute atos em nome do mandante, mas na verdade,
aproxima-se de um negócio jurídico bilateral, pois o mandatário atua em interesse
próprio e não presta contas de seus atos ao mandante.
O mandato em causa própria tem como característica ser irrevogável,
não se extinguindo pela morte do mandante ou mandatário; o procurador não fica
sujeito a prestação de contas; O mandatário tem contra o mandante todas as
ações redibitórias, quando houver alienação; seus poderes podem ser
substabelecidos; pode ser constituído por instrumento público ou particular;
quando envolver bem imóvel há incidência tributária.14
A grande maioria de nossos doutrinadores vê no mandato em causa
própria um instrumento de cessão, venda ou doação. Esse instrumento tem dupla
função: de mandato, em virtude dos poderes conferidos; e de cessão ou
transferência, quando nele estiverem consubstanciadas as condições necessárias
e as exigências legais relativas a estes contratos jurídicos.15 A procuração em
causa própria irrestrita caracteriza a transmissão do bem imóvel, por
equiparação.16
14 BALBINO Filho, Nicolau e outros. Doutrina do Mandato e Prática das Procurações. São Pulo: Atlas, p. 38/39.15 BALBINO Filho, Nicolau e outros. Op.cit. p.38.16 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, p. 514.
9
O inciso VI, do artigo 2º, da Lei nº 11.154/92 prevê a incidência do ITBI
no chamado “excesso” de meação ou quinhão. Nesse caso a tributação ocorre
sobre o valor dos imóveis, recebidos na partilha, decorrente de separação ou
herança, acima da respectiva meação ou quinhão, de forma onerosa. A
transmissão imobiliária ocorre sobre o “excesso”, pois sobre a parte que cabe a
cada um não há transmissão, visto que é apenas uma atribuição de patrimônio.
O usucapião não foi enumerado no artigo 2º dentre as hipóteses de
incidência do imposto sobre transmissão, e nem poderia, já que é forma originária
de aquisição da propriedade, não há transmissão de propriedade.
4 – BASE DE CÁLCULO
Base de cálculo é o quantum (valor) sobre o qual incidirá a alíquota,
normalmente, um percentual, que resultará no imposto devido.
Aliomar Baleeiro define valor venal como aquele que o imóvel
alcançaria para compra e venda á vista, segundo as condições usuais de
mercado de imóveis. Esclarece, ainda, que esta definição foi elaborada em face
das possibilidades de fraude comumente encontradas.
Não é o preço de venda, mas o valor venal. O preço é fixado pelas
partes, que em princípio são livres para contratar. Já o valor é determinado pelas
condições de mercado (lei da oferta de da procura). De toda forma, o valor
declarado pelo contribuinte pode ser aceito, ou não, pelo Fisco. Caso não aceita,
aplicando-se o disposto no art. 148 do CTN, arbitra um valor para o imóvel em
questão.17
Do exposto, depreende-se que a base de cálculo do ITBI-IV não é
necessariamente o preço pelo qual se efetuou a transação. Conclui-se, ainda, nos
casos em que o preço de venda é superior ao valor de mercado, a base de
cálculo será este último.
O Fisco Municipal reserva-se o direito de avaliar os imóveis e os
direitos imobiliários e de dizer o “preço fiscal” dos mesmos, o qual não poderá
17 MACHADO, Hugo de Brito. Op.cit. p. 295.
10
nunca exceder o valor venal (real), sob pena de confisco.18
Cumpre salientar que o valor do imóvel deve ser aquele ao tempo da
compra e venda, e não da promessa. Esta tese é consubstanciada pela Súmula
nº 108 do STF que dispõe:
“É legítima a incidência do imposto de transmissão inter vivos sobre o valor do imóvel ao tempo da alienação, e não da promessa, na conformidade da legislação local”.
A Portaria SF nº999/92, para melhor elucidar o tema e não deixar
dúvidas, definiu valor venal como sendo:
“o valor pelo qual o bem ou direito seria negociado, em condições normais de mercado, para compra e venda à vista”.
Como se vê, esta definição vai de encontro ao pensamento da maioria
dos doutrinadores. Contrariamente, Kiyoshi Harada considera o valor venal do
imóvel urbano aquele determinado pela legislação municipal para tributar o IPTU,
enquanto para o imóvel rural o valor da terra nua. Não se justificando, apuração
de outro valor venal só para efeito de ITBI.19
Há que ser ponderado, que o valor venal para efeito do IPTU é apurado
genericamente, por meio de uma planta genérica de valores, não se levando em
consideração características peculiares de cada imóvel. Cumpre esclarecer que o
Município de São Paulo conta, atualmente, com mais de 3.000.000 (três milhões)
de imóveis.
Como exemplo, poder-se-ia ter dois apartamentos idênticos
localizados no mesmo edifício, com valores venais (valor real) absolutamente
diversos. Não seria justo tributá-los de maneira idêntica, pois estaria sendo
ferindo o princípio da isonomia, tratando-se igualmente situações desiguais.
Quanto aos imóveis rurais sujeitos ao ITR mais grave, ainda, é a
situação tendo em vista que o valor da terra nua é atribuído pelo próprio
18 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Op.cit. p. 514.
19HARADA, Kiyoshi. Sistema Tributário do Município de São Paulo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 146/147.
11
contribuinte. Teríamos, na prática, casos em que o valor recolhido, a título de
ITBI, seria irrisório.
O art. 8º, da Lei n11.154/91 estabelece um patamar mínimo para ser
tomado como base de cálculo do imposto de transmissão, qual seja, o valor venal
para efeito de IPTU, referente ao exercício da transação. É uma garantia, pois
mesmo que o valor declarado no contrato seja vil, deverá o contribuinte recolher o
tributo sobre o valor venal que serviu como base do Imposto sobre a Propriedade
Predial e Territorial Urbana.
Prevê a legislação municipal que, na determinação da base de cálculo
do ITBI-IV não serão abatidas do valor venal quaisquer dívidas que onerem o
imóvel transmitido, nem serão considerados descontos eventualmente concedidos
sobre o valor fiscal apurado para efeito de cálculo do IPTU.
Exceção ao § 2º, do art. 7º da Lei nº11.154/91 que prevê para as
cessões de direito à aquisição e na cessão do direito de superfície, a dedução da
base de cálculo dos valores ainda não pagos pelo cedente. Parece lógico, pois o
valor ainda não pago pelo cedente não é um direito deste, contudo uma obrigação
assumida pelo cessionário, no momento da cessão.
As hipóteses previstas no art. 9º da mesma Lei são relativas às
transmissões de direitos reais (uso, usufruto e enfiteuse) e nua-propriedade, que
se sujeita ônus reais. Todas têm restrições quanto ao direito de propriedade
plena, devendo, com razão, ter sua base de cálculo reduzida, na medida da
restrição. O valor mínimo fixado no artigo 8º da Lei nº11.154/91 será reduzido, da
seguinte forma:
- na instituição de usufruto e uso, para 1/3 (um terço);
- na transmissão de nua propriedade, para 2/3 (dois terços);
- na instituição de enfiteuse e de transmissão dos direitos do
enfiteuta, para 80% (oitenta por cento);
- na transmissão de domínio direto, para 20 % (vente por cento).
O imposto será devido na instituição do direito real e na consolidação
da propriedade plena na pessoa do proprietário. No caso do usufruto ocorre a
12
consolidação, na maioria das vezes, apenas, quando da morte do usufrutuário,
incidindo o ITCMD, estadual.
Cumpre salientar que o Novo Código Civil proíbe qualquer forma de
alienação do usufruto, permitindo, apenas sua renúncia (ato gratuito):
“art.1.393. Não se pode transferir o usufruto por alienação; mas o seu exercício pode ceder-se por título gratuito ou oneroso. ...”
5 – ALÍQUOTAS
As alíquotas do imposto inter vivos, por ato oneroso, são definidas por
lei ordinária Municipal, não prevendo o texto constitucional atual um teto como
acontecia na Constituição anterior. Previa o art. 23, § 2º, que a alíquota do
imposto de transmissão imobiliária não poderia exceder os limites estabelecidos
em Resolução do Senado Federal, por proposta do Presidente de República, na
forma prevista em lei.
Não prevalece o art. 39 do Código Tributário Nacional, que repetiu o
disposto no texto constitucional de 1967, para o ITBI Municipal, prevalecendo a
Constituição de 1988. Apenas para a transmissão causa mortis permanece em
vigor a disposição do CTN, ou seja, o percentual das alíquotas máximas é
estabelecido pelo Senado Federal.
No Município de São Paulo foi estabelecido uma alíquota de 2% (dois
por cento) como regra geral (artigo 10 da Lei nº11.154/91).
Nas transmissões compreendidas no Sistema Financeiro da Habitação
– SFH aplica-se a alíquota de 0,5% (meio por cento) sobre o valor efetivamente
financiado, até o limite de R$42.800,00 e a alíquota de 2% (dois por cento) sobre
o valor restante.
13
6 – SUJEITO PASSIVO (CONTRIBUINTE)
Estabelece o CTN que o contribuinte do imposto pode ser qualquer
uma das partes na operação tributária. Não define objetivamente o sujeito passivo
ou contribuinte do imposto de transmissão imobiliária, deixando a critério da
legislação ordinária estabelecer o sujeito passivo da obrigação tributária.
O Novo Código Civil em seu art. 490 dispõe: “salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas da escritura e registro a cargo do comprador...”. Parece lógico concluir, do dispositivo do Código Civil, que as despesas ali aludidas incluem o imposto de transmissão de bens imóveis inter vivos.
Afirma Aliomar Baleeiro que pelo fato do imposto ser pago antes do
negócio torna-se perfeito, na prática, pagar o tributo a parte que tiver maior
interesse ou aquela que aceitou o encargo no contrato.20
No mesmo sentido, Hugo de Brito Machado entende que sendo o ITBI
ato entre vivos, a questão é meramente contratual. Somente, em casos
excepcionais em que não ficar estabelecido no contrato quem arcará com o
imposto de transmissão e, havendo divergência entre as partes aplica-se o
estabelecido na lei.21
Apesar do notório saber dos doutrinadores citados há que ser
respeitado o disposto no art. 123, do CTN que preceitua:
“Salvo disposição de lei em contrário, as convenções entre particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes”.
Portanto, apesar de ser plenamente válida, entre as partes, a cláusula
contratual que estabelece quem pagará o imposto de transmissão, esta não
exonera o sujeito passivo da obrigação de pagar o imposto. Será deste que o
Fisco exigirá a satisfação do crédito tributário.
A legislação municipal definiu os seguintes contribuintes do imposto:
20 BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, p. 278.
21 MACHADO, Hugo de Brito. Op.cit. p. 295.
14
- Os Adquirentes dos bens ou direitos;
- Os cedentes, nas cessões decorrentes de compromissos de
compra e venda;
- Os transmitentes, nas transmissões exclusivamente de direitos à
aquisição de bens imóveis, quando o adquirente tiver como
atividade preponderante a compra e venda desses bens ou direitos,
a sua locação ou arrendamento mercantil;
- 0s superficiários e os cedentes, nas instituições e nas cessões do
direito de superfície.
O legislador do Município de São Paulo entendeu por bem tributar o
adquirente em relação às hipóteses previstas nos incisos de I a VIII, X a XIII, do
art.2º, da Lei nº 11.154/91 (compra e venda, dação em pagamento, permuta,
arrematação, adjudicação, remição, instituição do direito de superfície, etc.). Por
exceção, o cedente nas cessões dos direitos decorrentes de compromisso de
venda e compra, hipótese prevista no inciso IX, do mesmo artigo e nas cessões
do direito de superfície.
Difícil é a tributação do ITBI-IV na de cessões de direitos decorrentes
de compromissos de compra e venda, em que o cedente (contribuinte) edifica
sobre o terreno às próprias expensas. Sobre as benfeitorias o contribuinte é o
cessionário, contudo o momento de recolher o tributo é na lavratura da escritura
definitiva de venda e compra. Na maioria das vezes, isto ocorre muitos anos
depois do instrumento de cessão e não é declarado pelo contribuinte.
7 – LANÇAMENTO
Desde sua instituição pelo Município de São Paulo, com a edição da
Lei n°10.729/89, o ITBI-IV é um imposto cujo lançamento dar-se-á por
homologação.
O lançamento por homologação é aquele em que o sujeito passivo
antecipa o pagamento do tributo, sem prévio exame do fisco, e no momento em
que a autoridade administrativa toma conhecimento da atividade exercida pelo
15
obrigado a homologa, operando-se simultaneamente a constituição definitiva do
crédito tributário e a sua extinção22.
Dispõe o art. 150, § 1º e § 4º do CTN:
“O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja
legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da
autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento
da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa.
§ 1º O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste artigo extingue
o crédito, sob condição resolutória da ulterior homologação do lançamento.
§ 4º Se a lei não fixar prazo à homologação, será ele de cinco anos, a contar
da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha
pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se
comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação”.
Estabelece o artigo 7º, do Decreto nº31.134/92 o ITBI dar-se-á por
homologação quando:
- a administração manifestar-se expressamente pela exatidão dos
recolhimentos efetuados;
- decorridos 5 (cinco anos), contados da ocorrência do fato gerador, a
Administração não se tenha pronunciado, ressalvada a
comprovação de dolo, fraude ou simulação.
Estabelece, ainda, o artigo 8º do mesmo diploma legal que serão
lançados de ofício, apurados mediante ação fiscal:
- o valor do imposto ou de sua diferença e dos acréscimos legais
devidos, quando não houver recolhimento ou este for feito a menor;
- o valor do imposto arbitrado, na forma da Lei;
- o valor das multas previstas para os casos de descumprimento de
obrigações acessórias.
Esta sistemática foi alterada com a edição do Decreto nº42.228/05 de
23 de agosto de 2005, que aprovou o Regulamento do ITBI-IV.
22 HARADA, Kiyoshi. Lançamento por homologação. Exigência de notificação prévia do contribuinte para inscrição na dívida ativa. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 846, 27 out. 2005. Texto retirado da Internet.
16
Instituiu-se a Declaração de Transação Imobiliária - DTI (artigo 12 do
anexo ao Decreto nº42.228/05), instrumento pelo qual o contribuinte o
responsável informa à Administração Tributária a ocorrência do fato gerador do
ITBI.
Deverá constar da declaração, dentre outros, dados do imóvel
transmitido, dados do adquirente, dados do transmitente, data da transação, valor,
etc.
A Secretaria Municipal de finanças instituiu no artigo 8º do
Regulamento os valores venais atualizados dos imóveis inscritos no Cadastro
Imobiliário Fiscal para efeitos de ITBI-IV. Estes valores têm presunção relativa, a
qual será afastada sempre que:
- o valor da transação for superior;
- a Administração Tributária aferir base de cálculo diferente, em
procedimento de pedido de avaliação especial, processo de
arbitramento fiscal, processo de impugnação a lançamento ou outro
procedimento no exercício de suas atribuições;
- a ação fiscal constatar erro, fraude ou omissão, por parte do sujeito
passivo ou terceiro em benefício daquele, na declaração dos dados
do imóvel inscritos no cadastro Imobiliário Fiscal e utilizados no
cálculo do valor venal publicado.
Conclui-se do exposto que não mais prevalece o lançamento por
homologação para o ITBI, pois a partir da edição do Regulamento o pagamento
do tributo do tributo é feito com prévio exame do fisco. Fica o ITBI mais próximo
do lançamento por declaração.
O lançamento do imposto de transmissão é feito mediante declaração
do contribuinte. A autoridade administrativa procede à avaliação do bem e calcula
o tributo, expedindo a respectiva guia para recolhimento. Como acontece nos
tributos em geral, também esse imposto pode ser objeto de lançamento de
ofício.23
23 MACHADO, Hugo de Brito. Op.cit. p. 295
17
8 – PAGAMENTO (ARRECADAÇÃO)
O imposto será pago por meio de Documento de Arrecadação do
Município de São Paulo – DAMSP (artigo 13 do Regulamento e item 6 da Portaria
SF nº081/05), após o preenchimento da Declaração de Transação Imobiliária –
DTI, ambos pela internet.
Os notários, oficiais de Registro de imóveis e seus prepostos ficam
obrigados, nos atos que intervierem, a verificar, na DTI ou na DAMSP, a exatidão
e a suprir as eventuais omissões dos elementos de identificação do contribuinte
ou do imóvel. Caso não cumpram com a determinação estarão incursos nas
penalidades previstas no artigo 29 do Regulamento (multa de R$50,00 por item
descumprido e de R$1.000,00 lavrar ou registrar o instrumento sem a prova do
recolhimento do tributo).
PRAZO DE PAGAMENTO (artigos 12, 13 e 14 da Lei nº11.154/91)
- antecipado - transmissão por instrumento público (escritura);
- 10 (dez) dias – transmissão por instrumento particular;
- 15 (quinze) dias – arrematação, adjudicação e remição. Caso a
carta de arrematação, adjudicação ou remição seja expedida antes
de 15 (quinze) dias, o vencimento dar-se-á na data da carta. Caso
oferecidos embargos o prazo será e 10 (dez) dias, a contar do
trânsito em julgado da sentença que os rejeitar ;
- 10 (dez) dias do trânsito em julgado da sentença ou da
homologação do cálculo, o primeiro que ocorrer, nas transmissões
por termo judicial.
Caso o pagamento seja efetuado fora dos prazos acima estabelecidos
incidirá multa de 20% (vinte por cento), quando recolhimento espontâneo e 50%
(cinqüenta por cento), quando o débito for apurado pela fiscalização, além da
correção monetária e juros de 1% (um pó cento) ao mês, em ambos os casos..
O débito vencido, ou seja, aquele não pago e esgotada a instância
administrativa, será encaminhado para cobrança. Numa primeira fase pela
18
cobrança amigável, após a inscrição na dívida ativa. Numa segunda ocasião
judicialmente, após ser ajuizada a execução fiscal.
9 – NÃO-INCIDÊNCIA
O artigo 3º, da Lei nº 11.154/91 enumera hipóteses de não-incidência e
isenções propriamente ditas.
Mandato em causa própria: Como bem observa Kiyoshi Harada, esta
regra é meramente explicativa, porquanto o mandatário receber a escritura do
imóvel, neste momento incidirá o tributo, não fazendo sentido exigir a exação á
época do mandato. Não sendo, portanto, hipótese de não incidência, pois não há
transmissão imobiliária.24
Retrovenda: “O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de
recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço
recebido e reembolsando as despesas do comprador...” (art. 505, do Novo Código
Civil). Na retrovenda não há nova alienação, apenas desfazimento do negócio
original. Por este motivo, não há incidência do imposto de transmissão inter
vivos.25 É uma condição resolutiva expressa.
Pacto de melhor comprador: “O contrato de compra e venda pode ser
feito com a cláusula de se desfazer, se, dentro de certo prazo, aparecer quem
ofereça maior vantagem”...“O pacto de melhor comprador vale por condição
resolutiva, salvo convenção em contrário”.
O pacto de melhor comprador estatuído nos artigos 1.158 do Código
Civil de 1916 deixou de constar do texto do novo Código.
Retrocessão: “Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou
utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se
desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao
expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa” (art. 519 do Novo
Código Civil).
24 HARADA, Kiyoshi. Op.cit. p. 144. 25 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Dos Contratos e das Declarações Unilaterais de Vontade. Vol. 3. São Paulo: Saraiva. p. 190.
19
Como se depreende, a não incidência prevista para as três hipóteses
acima mencionadas é medida de inteira justiça, visto que a retrovenda e o pacto
de melhor comprador são condições resolutivas da venda e compra, e a
retrocessão é uma hipótese de preferência legal, na medida em que ao imóvel
não é dada finalidade de interesse público ou social.
Os incisos III e V, do art. 3º, da Lei Municipal são apenas transcrições
das hipóteses de imunidade previstas no art. 156, § 2º, I, da CF. Já o inciso III é a
transcrição do parágrafo único, do art. 36 do CTN.
O art. 4º da Lei nº 11.154/91 repete o que preceitua o artigo 37 do
Código Tributário Nacional, quanto às ressalvas referentes à imunidade.
Estabelece que nas hipóteses dos incisos III a V, há que se proceder à análise do
mérito, ou seja, a verificação da atividade preponderante do adquirente do imóvel.
Cumpre observar que o § 3º, do art. 4º, da LM foi revogado pela Lei
nº13.107/00, que estabelece, a partir de então, a obrigatoriedade da “análise da
preponderância”, mesmo no caso de transmissão realizada conjuntamente com a
totalidade do patrimônio do alienante.
A legislação estabelece o dever do Fisco realizar o levantamento da
“receita operacional”, quando da análise do mérito da imunidade. Como é sabido,
o conceito de receita operacional é exclusivo das pessoas jurídicas. Aufere a
pessoa natural, no entanto, renda ou provento.
A Constituição de 1988 estabeleceu, como na anterior, hipóteses de
não-incidência decorrente da transmissão imobiliária entre pessoas jurídicas. Mais
precisamente, na incorporação ao capital social, de bens ou direitos, e na
transmissão de bens ou direitos decorrentes de fusão, incorporação, cisão ou
extinção de pessoa jurídica.
A diferença presente na Constituição atual esta centrada na figura de
cisão, ausente tanto na Constituição anterior como no CTN, em que figurava as
demais situações societárias amparadas pela não-incidência: fusão, incorporação
e extinção.
20
Havia muita polêmica no período anterior a Constituição de 1988, visto
que os Estados tributavam a transmissão por meio de cisão, apesar de ser figura
de mesma natureza da fusão, incorporação ou extinção de sociedades.
A cisão só foi regulamentada no Brasil a partir da Lei nº 6.604/76, Lei
das Sociedades Anônimas, e como não constava expressamente como hipótese
de não incidência na Constituição de 1967, emendada em 1969 e nem no Código
Tributário Nacional, os Estados tributavam-na. No entanto, a jurisprudência era no
sentido de enquadrar a cisão, apesar de não prevista na Carta Constitucional de
1967 e no CTN, na imunidade prevista para as demais figuras societárias.
Encontram-se as hipóteses de não-incidência relativa às transmissões
imobiliárias, da análise conjunta deste dispositivo com o § 2º do art. 156 da
Constituição Federal. Especificamente, a CF/88 instituiu a não-incidência em
relação ao ITBI-VI, tornando insuscetível de tributação, por parte dos Municípios,
as transmissões decorrentes de conferência de bens ao capital, de fusão, de
cisão, de incorporação e extinção de pessoas jurídicas.
Esta regra tem com objetivo, dentre outros, facilitar a mobilização dos
bens de raiz e sua posterior desmobilização, não embaraçando com o ITBI a
movimentação dos imóveis, quando comprometidos com tais situações.26 Do
ponto de vista econômico, contém esta imunidade várias disposições de política
fiscal endereçadas às modificações conscientes da conjuntura e das estruturas,
visando, assim, o desenvolvimento econômico.27
O Direito Comercial empresta os conceitos de incorporação, fusão e
cisão, que são procedimentos de reorganização das empresas, por meio da
definição estabelecida na Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas).
Incorporação. “É a operação pela qual uma ou mais sociedades são
absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações”.
Fusão. “É a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades
26 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Op.cit. p. 361.
27 BALEEIRO, Aliomar. Op.cit. p. 271.
21
para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e
obrigações”.
Cisão. “É a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu
patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já
existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu
patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão”.
Transformação. “É a operação pela qual a sociedade passa,
independentemente de dissolução e liquidação, de um tipo para outro”. Esta
mudança se dá de sociedade limitada para anônima, ou vice-versa.
Tais conceitos são aplicáveis subsidiariamente às demais formas de
sociedade mercantis ou civis e não podem ser alterados pela lei para efeitos de
tributação. O próprio art. 110 do Código Tributário Nacional esclarece que a lei
tributária não pode alterar a definição, o conteúdo, e o alcance de institutos,
conceitos e formas de direito privado para definir ou limitar sua competência.28
Na transformação de sociedades, o imposto não incide, simplesmente
porque não ocorre transmissão de propriedade de bens ou direitos, implicando
apenas mudança de tipo societário.
Dentre as hipóteses em que não é devido o imposto de transmissão, o
parágrafo único, do art. 36 do CTN dispõe sobre o desmembramento do capital de
uma empresa, à qual havia sido antes incorporado um imóvel. Ocorre
analogamente, também, nos casos de extinção, cisão ou retirada do sócio.
Interpreta a não-incidência de forma mais abrangente o jurista Sacha
Calmon N. Coelho. Considera o autor, se não houver o intuito de fraude, cujo dolo
haverá de ser demonstrado, não há inconveniente do particular entrar para a
sociedade aportando dinheiro ao capital e sair com bens imóveis aplicando-se
para este caso a imunidade prevista.29
28 MACHADO, Hugo de Brito. Op.cit. p. 294.
29 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Op.cit. p. 361/362.
22
– ANÁLISE DO MÉRIDO DA NÃO-INCIDÊNCIA
Especificamente, o legislador excluiu, do benefício, o adquirente ou
cessionário que tiver atividades preponderantes de compra e venda, cessão de
direitos, locação ou arrendamento mercantil de bens imóveis.
A Constituição de 1988 incluiu a atividade de arrendamento mercantil
dentre as hipóteses não beneficiadas pela imunidade constitucional. Esta hipótese
já analisada neste trabalho, anteriormente.
A preponderância é determinada de forma objetiva pelo Código, ou
seja, se mais de 50% de receitas operacionais da empresa adquirente forem
oriundas de atividade imobiliária, não fará jus à empresa ao benefício.
Para definir o conceito de “receita” constante do Código Tributário
Nacional há necessidade de socorrer-se da Ciência Contabilidade, que
regulamenta tal instituto. Existem, para a Contabilidade, duas espécies de
receitas decorrentes das atividades das empresas:
Receita Operacional. É a decorrente da atividade principal ou
acessória da empresa, a finalidade ou objeto social pelo qual a pessoa jurídica foi
criada. Compreende o produto da venda de mercadorias, produtos ou serviços
prestados.30
Receita Não-Operacional. São os ingressos provenientes de
transações atípicas ou extraordinárias não incluídas nas atividades principais ou
acessórias da empresa, com, por exemplo, a receita obtida com a venda de bens
ou direitos do ativo permanente. 31
Caso contrário, se a empresa tiver mais de 50% de sua receita não-
operacional, ou seja, oriunda da venda de imóveis do ativo permanente, não
haverá incidência do imposto de transmissão imobiliária.
A imunidade é condicional e desde o momento da aquisição do imóvel.
Analisam-se as atividades da adquirente no período, que se inicia 2 (dois) anos
30 VICECONTI, Paulo E. V. e NEVES, Silvério das. Contabilidade Básica. São Paulo: Frase. p. 204 31 VICECONTI, Paulo E. V. e NEVES, Silvério das. Op.cit. p. 204.
23
antes e termina 2 (dois) anos depois da referida aquisição. Verificando-se a
preponderância imobiliária das atividades da adquirente, será ela tributada. Caso
contrário, gozará da imunidade.
Da mesma forma, se o início das atividades da sociedade adquirente
datar de menos de 2 (dois) anos do momento da aquisição, ela gozará do
benefício fiscal, caso se nos três anos posteriores verificar-se a ausência de
preponderância de negócios imobiliários.
Por fim, embora não gozem as empresas dedicadas a negócios
imobiliários, de compra e venda ou sua locação, e, atualmente, arrendamento
mercantil, como exploração principal, todavia não pagam o imposto se a
transmissão envolver a totalidade dos bens de tais firmas.32
Nesse caso, quando envolver a totalidade dos bens da empresa
adquirida, não se faz análise para verificar qual a atividade preponderante da
empresa adquirente. Os procedimentos de reorganização de empresas
enquadrados nessa situação são a fusão, cisão total, a incorporação de empresas
e a extinção propriamente dita. Ao contrário, a análise deve ser feita nos casos de
incorporação de bens ao capital da sociedade e na cisão parcial.
Deste último tópico, cabe salientar que o Município de São Paulo
editou a Lei n° 13.107 de 30 de dezembro de 2000, alterando o dispositivo do
CTN. A partir da promulgação da referida Lei, é necessária a analise da
preponderância em todo e qualquer caso, mesmo na incorporação e extinção de
sociedades.
10 – ISENÇÃO
Quanto ao ITBI-IV, a legislação do Município de São Paulo dispõe de
quatro hipóteses de isenção, quais sejam:
32 BALEEIRO, Aliomar. Op.cit. p. 271.
24
a) contida no art. 19, da Lei n°11.632, de 22 de julho de 1994, expressa
no Decreto nº47.006 de 16 de fevereiro de 2006 (Consolidação da Legislação
Tributária do Município de São Paulo), da seguinte forma:
Art. 87. Fica isento do imposto o ato relativo à primeira aquisição de unidades habitacionais financiadas pelo Fundo Municipal de Habitação, na forma da Lei nº 11.632, de 22 de julho de 1994.
b) aquisições relativas a imóveis situados na zona de uso Z7-001, em
que estejam ou venham a ser instaladas atividades industriais, de comércio ou de
serviços, e que estejam de conformidade com as Legislação Estadual e Municipal
pertinentes, nos prazos e condições legais (Lei Municipal nº11.790, de 26 de maio
de 1995).
c) as transmissões de bens ou de direitos a eles relativos para:
(art.3, da Lei nº13.402/02)
- imóveis de uso exclusivamente residencial;
- cujo valor total seja igual ou inferior a R$30.000,00;
- contribuinte pessoa física.
d) as transmissões de bens ou direitos relativos a imóveis adquiridos
pela Caixa Econômica Federal – CEF por meio do Fundo de arrendamento
residencial para o programa de arrendamento residencial (art.4º, da Lei
n°13.402/02
11 – OBRIGAÇÕES DOS NOTÁRIOS E OFICIAIS DE REGISTRO
DE IMÓVEIS E SEUS PREPOSTOS
A instituição e respectiva regulamentação do documento de
arrecadação - DAMSP do ITBI-IV, foi estabelecida pela Portaria SF nº 081/05.
25
O disposto no art. 11, parágrafo único, da lei nº11.1254/91 prevê
penalidade nos casos de inexatidão ou omissão de elementos no documento de
arrecadação. A multa é extensiva aos notários e aos oficiais de Registro de
Imóveis.
O artigo 13 do Regulamento do ITBI-IV impõe aos notários e seus
prepostos a responsabilidade de verificar a exatidão e a suprir as eventuais
omissões dos elementos de identificação do contribuinte ou do imóvel, quando do
preenchimento da DTI ou da DAMSP. Caso não cumpram com a determinação
estarão incursos nas penalidades previstas no artigo 29, I, do Regulamento (multa
de R$50,00 por item descumprido).
Estabelece o artigo 19 da Lei nº11.154/91 que não serão lavrados,
registrados, inscritos ou averbados, pelos notários, oficiais de Registro de Imóveis
ou seus prepostos, os atos e termos relacionados à transmissão de bens imóveis
ou de direitos a eles relativos, sem a prova do pagamento do imposto ou do
reconhecimento administrativo da imunidade, da não-incidência ou da concessão
da isenção.
Por este dispositivo, estão proibidos de praticar os atos nele
enumerados, os notários e oficiais de Registro de Imóveis ou seus prepostos, sem
a respectiva comprovação do recolhimento, do reconhecimento da não incidência,
da imunidade ou isenção do ITBI-IV. Caso não cumpram com a determinação
prevê artigo 21, II, da Lei nº11.154/91 a multa de R$1.000,00.
Ao contrário do que estabelece o art. 19, no primeiro momento, e para
que possa o interessado lavrar o instrumento público ou registra-lo no Cartório de
Registro de Imóveis, afastando a incidência do tributo em questão, não fará prova
do reconhecimento da imunidade, não incidência ou isenção, quando
enquadradas nos art. 150,VI e art. 156, § 2º da CF, art. 3º, I, III, IV e V da Lei nº
11.154/91.
Por meio de requerimento, em formulário próprio, o contribuinte
formulará o pedido, com a precisa indicação dos elementos da transação e a
prova documental da condição de imune ou do preenchimento dos requisitos da
26
não incidência ou da isenção. Após a autuação do requerimento, o setor
competente expedirá “Declaração”, indicando a circunstância em que está sendo
analisado e a observação de que, se indeferido, será efetuado o lançamento do
imposto, nos termos dos artigos 15 e 16 da Lei nº 11.154/91 e art. 8º do Decreto
nº 31.134/92.
A Portaria SF nº999/92 estabelece procedimento simplificado nas
hipóteses de retrovenda, retrocessão e pacto de melhor comprador, previstas no
art. 3º, II da LM nº 11.154/91, bastando aposição, no translado original da
escritura, do carimbo, autorizando seu registro na Circunscrição Imobiliária
competente, independente da apresentação de qualquer guia relativa ao imposto
de transmissão.
O art. 20 está em harmonia com o art. 197 do CTN que estabelece,
mediante intimação escrita, a obrigatoriedade, dentre outros, dos tabeliães,
escrivães e demais serventuários de ofício, de prestar à autoridade administrativa
todas as informações de que disponham com relação aos bens, negócios ou
atividades de terceiros.
Por este dispositivo os notários, oficiais de Registro e Imóveis ou seus
propostos ficam obrigados:
I – a facultar, aos encarregados da fiscalização, o exame em cartório
dos livros, autos e papéis que interessem à arrecadação do imposto;
II – a fornecer aos encarregados da fiscalização, quando solicitada,
certidão dos atos lavrados ou registrados, concernente a imóveis ou
direito a eles relativos;
III – a fornecer, na forma regulamentar, dados relativos às guias de
recolhimento.
O descumprimento deste dispositivo implica na penalidade prevista no
artigo 21, II, da Lei nº11.154/91 (multa de R$1.000,00).
Além das penalidades previstas, podem os tabeliães, escrivães e
demais serventuários de ofício serem responsabilizados pela totalidade do crédito
tributário, respondendo pelos atos que intervierem ou pelas omissões que forem
27
responsáveis e pelos atos praticados com infração de lei, na conformidade com
os art. 134, I ou 135, I do CTN, dependendo, sua aplicação, do caso concreto.
28