1. introdução; 2. oproblema do desemprego no brasil; · alcançou 32,1%) e a participação da...

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1. Introdução; 2. O problema do desemprego no Brasil; 3. Crescimento da produção agrfcola; 4. A baixa produtividade do setor agrfcola e a deterioração dos salários; 5. Modernização da agricultura e absorção de mão-de-obra; 6. O crescimento da demanda de produtos agricolas; 7. Viabilidade da modernização - uma discussão da tese de R. M Paiva. Walter Chaves Marim ** *Este artigo é um resumo da tese de mestrado do autor, recentemente aprovada pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, sob o mesmo título. ** Professor de teoria econômica da Fundação Armando Alvares Penteado -FAAP; mestre em administração, com área de concentração em economia aplicada à administração, pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é tentar conciliar duas p0- sições consideradas antagônicas por muitos estudiosos que se referem à modernização da agricultura e à absorção de mão-de-obra pelo setor agrícola. Em muitos países, atualmente subdesenvolvidos, a maioria de sua população encontra-se no setor agrícola; e grande parte de sua população economicamente ativa está desempregada e subempregada. Para que estes países pos- sam alcançar a condição de pleno emprego seriam necessá- rias taxas muito elevadas de industrialização para absorve- rem todo aquele contingente. de mão-de-obra. Esta situa- ção não é típica de alguns países, mas pode-se generalizá-la na maior parte do mundo. Atualmente, a maioria da popu- lação mundial vive em países subdesenvolvidos, e a maio- ria da população mundial depende da agricultura para subsistir. O rápido incremento da população nestes países agrava ainda mais o problema. De que maneira poderão resolver esta questão? Como conseguirão equilibrar o crescimento econômico com o crescimento demográfíco dentro de uma distribuição equitativa de renda? A idéia generalizada é de que a tecníflcação e a capita- lização agrícolas permitem produzir quantidades crescen- tes de alimentos, fibras e outras matérias-primas com um número cada vez mais reduzido de trabalhadores agrícolas. Como a expansão da indústria e dos serviços se faz em ritmo mais acelerado, a participação deste setor na eco- nomia toma-se cada vez menos expressiva. O nível de desemprego nos países subdesenvolvidos tem-se tomado uma preocupação geral não s6 dos econo- .mistas, como também dos dirigentes políticos. Suas preo- cupações estão voltadas para a execução de programas des- tinados à melhoria deste angustiante problema socio- econômico. Apesar dos esforços de diversos países em desenvolvímento.a situação é tão grave como antes. Esta situação não se traduz num baixo crescimento econômico destas nações, pois as regiões de diversas partes do mundo em desenvolvimento apresentam taxas de crescimento de seus Pffi provavelmente superiores às das regiões hoje desenvolvidas quando 'apresentavam o mesmo estágio de desenvolvimento, mas sim, numa maneira de difundir os benefícios criados pelo crescimento a toda população do país. Apesar do substancial aumento de renda per capita que muitos países menos desenvolvidos alcançaram nestas últimas décadas, observa-se que a maior parte desta renda está concentrada entre a minoria; apesar de que tais taxas de crescimento tenham sido particularmente elevadas, os .grupos mais pobres pouco se beneficiaram, tanto em ter- mos absolutos como em termos relativos. O problema não é essencialmente o da adoção de uma política que elimine a distorção na distribuição da renda nestes países, mas o da adoção de um plano de desenvol- vimento que proporcione a esta população empregos pro- dutivos com o objetivo de eliminar a pobreza reinante dando condições de sobrevivência ao menos dentro dos padrões mínimos indispensáveis a todo ser humano. O 16 (5): 33-47, set./out. 1976 Absorção de mão de obra e modernização da agricultura no Brasil

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Page 1: 1. Introdução; 2. Oproblema do desemprego no Brasil; · alcançou 32,1%) e a participação da mão-de-obra empre-gada no setor em relação ao total de mão-de-obra ocupada na

1. Introdução;2. Oproblema do

desemprego no Brasil;3. Crescimentoda produção agrfcola;

4. A baixa produtividade do setoragrfcola e a deterioração dos salários;

5. Modernização da agriculturae absorção de mão-de-obra;

6. O crescimento da demandade produtos agricolas;

7. Viabilidade da modernização - umadiscussão da tese de R. M Paiva.

Walter Chaves Marim **

*Este artigo é um resumo da tesede mestrado do autor, recentemente

aprovada pela Escola de Administraçãode Empresas de São Paulo da

Fundação Getulio Vargas,sob o mesmo título.

** Professor de teoria econômica daFundação Armando Alvares Penteado

-FAAP;mestre em administração,

com área de concentração emeconomia aplicada à administração,

pela Escola de Administração deEmpresas de São Paulo daFundação Getulio Vargas.

R. Adm. Emp., Rio de Janeiro,

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é tentar conciliar duas p0-sições consideradas antagônicas por muitos estudiosos quese referem à modernização da agricultura e à absorção demão-de-obra pelo setor agrícola.

Em muitos países, atualmente subdesenvolvidos, amaioria de sua população encontra-se no setor agrícola; egrande parte de sua população economicamente ativa estádesempregada e subempregada. Para que estes países pos-sam alcançar a condição de pleno emprego seriam necessá-rias taxas muito elevadas de industrialização para absorve-rem todo aquele contingente. de mão-de-obra. Esta situa-ção não é típica de alguns países, mas pode-se generalizá-lana maior parte do mundo. Atualmente, a maioria da popu-lação mundial vive em países subdesenvolvidos, e a maio-ria da população mundial depende da agricultura parasubsistir. O rápido incremento da população nestes paísesagrava ainda mais o problema. De que maneira poderãoresolver esta questão? Como conseguirão equilibrar ocrescimento econômico com o crescimento demográfícodentro de uma distribuição equitativa de renda?

A idéia generalizada é de que a tecníflcação e a capita-lização agrícolas permitem produzir quantidades crescen-tes de alimentos, fibras e outras matérias-primas com umnúmero cada vez mais reduzido de trabalhadores agrícolas.Como a expansão da indústria e dos serviços se faz emritmo mais acelerado, a participação deste setor na eco-nomia toma-se cada vez menos expressiva.

O nível de desemprego nos países subdesenvolvidostem-se tomado uma preocupação geral não s6 dos econo-

.mistas, como também dos dirigentes políticos. Suas preo-cupações estão voltadas para a execução de programas des-tinados à melhoria deste angustiante problema socio-econômico. Apesar dos esforços de diversos países emdesenvolvímento.a situação é tão grave como antes. Estasituação não se traduz num baixo crescimento econômicodestas nações, pois as regiões de diversas partes do mundoem desenvolvimento apresentam taxas de crescimento deseus Pffi provavelmente superiores às das regiões hojedesenvolvidas quando 'apresentavam o mesmo estágio dedesenvolvimento, mas sim, numa maneira de difundir osbenefícios criados pelo crescimento a toda população dopaís.

Apesar do substancial aumento de renda per capitaque muitos países menos desenvolvidos alcançaram nestasúltimas décadas, observa-se que a maior parte desta rendaestá concentrada entre a minoria; apesar de que tais taxasde crescimento tenham sido particularmente elevadas, os

.grupos mais pobres pouco se beneficiaram, tanto em ter-mos absolutos como em termos relativos.

O problema não é essencialmente o da adoção de umapolítica que elimine a distorção na distribuição da rendanestes países, mas o da adoção de um plano de desenvol-vimento que proporcione a esta população empregos pro-dutivos com o objetivo de eliminar a pobreza reinantedando condições de sobrevivência ao menos dentro dospadrões mínimos indispensáveis a todo ser humano. O

16 (5): 33-47, set./out. 1976

Absorção de mão de obra e modernização da agricultura no Brasil

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problema da desigualdade na distribuição de renda deveráser automaticamente amenizado quando toda a populaçãoestiver produtivamente ocupada. Somente com a escassezde mão-de-obra poder-se-á corrigir as disparidades nadistribuição de renda.

Pela experiência brasileira pode-se provar que a rela-ção crescimento de renda e criação de emprego foi insufi-ciente para resolver o problema da distribuição; pelo con-trário, a distribuição de renda tomou-se cada vez maisregressiva no Brasil.

As bases do atual "modelo de desenvolvimento brasi-leiro" foram lançadas no período 57/62, permitindo aentrada de grandes empresas multinacionais, manutençãode elevada taxa de crescimento e alto índice de concen-tração de renda.

Após o período de recessão 1962/67, o reconheci-mento da necessidade de ampliação de nossas exportaçõesfoi considerado um fator importante, pois, além de supriras necessidades de divisas e permitir o maior aproveita-mento da capacidade instalada na indústria elas propor-cionariam condições adicionais para um crescimento ace-lerado das atividades industriais e atingir escalas de pro-dução mais elevadas. Seria, então, a continuação do Mo-delo de Substituição de Importações com, ao mesmotempo, a abertura para o mercado internacional. Como aparticipação dos produtos das indústrias dinâmicas (pro-dutoras de bens de consumo duráveis) em nossa pauta deexportação tem crescido pouco, são as indústrias tradi-cionais (produtoras de bens de consumo não-duráveis) quetêm atendido aos apelos do Governo à sua ampliação. ocrescimento industrial brasileiro não está ligado às expor-tações, pois tem sido relativamente pequena a participaçãodas indústrias dinâmicas na obtenção de divisas. Em 1974,os itens material de transporte; máquinas e aparelhos elé-tricos; caldeiras, máquinas, aparelho de instrumentosmecânicos representaram apenas 6,5% do total de nossasexportações.

Por outro lado, as empresas multinacionais ao produ-zirem bens de consumo para o mercado interno têm ge-rado demanda complementar por bens intermediários ebens de capital importados e conseqüentes pressões sobreo balanço de pagamentos. Para aliviar as pressões do ba-lanço de pagamentos, incentivos são. oferecidos aos ban-queiros e empresários internacionais para uma canalizaçãocada vez mais intensiva de divisas para nossa economia.

Sendo a acumulação de capital função do excedenteeconômico, são as indústrias dinâmicas ou as grandes em-presas multinacionais que controlam grande parte destaacumulação, sendo, portanto, responsáveis pela alta taxade crescimento da economia brasileira. O capital não éhomogêneo e, obviamente, não pode ser dirigido a outrossetores produtivos da economia. Ele pertence a um setoraltamente produtivo e de rentabilidade elevada. Se houverameaças, por parte do Governo, de reduzir o índice delucratividade destas empresas, elas responderão com umaqueda nos investimentos. O crescimento da economiabrasileira está, em grande parte, condicionado aos interes-ses dos capitalistas internacionais. Mas não é somente o

Revista de Administração de Empresas

perigo na retração dos investimentos a ameaça que se fazao atual "modelo brasíleíro", Ele vê-se ameaçado, tam-bém, por uma futura saturação no mercado consumidorde produtos de luxo. A crise econômica que ocorreu noinício da década passada poderá repetir-se e talvez emproporções mais desastrosas. A abertura. que houve nomercado consumidor com a ascensão dos tecnoburocratasaos poderes econômico-político, a partir de 1964, nãotomou o modelo, indefmidamente, auto-sustentável, istoé, sem tendências à estagnação. Esta distribuição de rendano topo da pirâmide mantém considerável percentagem dapopulação do País marginalizada do processo de desenvol-vimento econômico. Há necessidade de um processo redis-tributivista mais intensivo com conseqüentes alterações naestrutura da demanda e mudanças de "valor" no processoprodutivo. As indústrias tradicionais de hoje passariam aditar as taxas de crescimento da economia; ou seja, pas-sariam a ser as indústrias "dinâmicas". Haveria uma in-versão de valores: a estrutura da oferta estaria condicio-nada à estrutura da demanda.

A análise do "modelo brasileiro de desenvolvimentoeconômico" nos mostra uma política de desenvolvimentovoltada para um setor extraordinariamente dinâmico epouco absorve dor de mão-de-obra com conseqüênciasdesagradáveis para o sistema: desemprego e concentraçãode renda.

Eis o impasse: desenvolver esforços no sentido deelevar a economia à condição de pleno emprego ou utilizar"modelo de desenvolvimento econômico" que satisfaça osdesejos de consumo sofisticado.

2. O PROBLEMA 00 DESEMPREGO NO BRASIL

Pode-se defmir um processo de desenvolvimento econô-mico como aquele que se caracteriza pela transição con-tínua da força de trabalho do setor tradicional da eco-nomia para o setor capitalista, como no conhecido modelode Arthur Lewís.! Para Lewis, essa passagem de mão-de-obra pode-se dar pela movimentação física intersetorial,como no caso do movimento migratório do setor primáriotradicional para o setor secundário, ou, simplesmente, pelaelevação dos níveis de produtividade no setor tradicional,transformando-o, conseqüentemente, num setor modernoda economia. Ambos os casos são acompanhados por umprocesso de acumulação de capital e expansão de merca-dos. Assim, teríamos a eliminação do setor tradicional,abolindo, portanto, o dualismo estrutural da economia.

Na realidade brasileira, ocorreu o primeiro caso, ouseja, a transferência contínua de mão-de-obra do setorrural para o urbano, gerando desemprego crescente, emvirtude da reduzida absorção de mão-de-obra pelo setorsecundário, considerada, proporcionalmente, uma dasmais baixas do mundo.

Observa-se pela tabela 1 a importante participação donosso produto industrial em relação ao PIB. Esta partici-pação chega a percentagens típicas de países desenvolvidos(em 1971, conforme dados da FGV, esta participação

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alcançou 32,1%) e a participação da mão-de-obra empre-gada no setor em relação ao total de mão-de-obra ocupadana economia alcançou taxa irrisória. Enquanto os paísesdesenvolvidos apresentam taxas de participação seme-lhantes entre produto secundário/pIB e emprego no setorsecundário/população ocupada, o Brasil apresenta umacentuado desequilíbrio.

Tabela 1Participação do setor secundário no emprego e no PIB. em1971, para diversos países

Setor secundário EmpregoPaíses setor secundário

(PIB) (população ocupada)

Áustria 38,1 38,8Bélgica 43,8 44,2Canadá 37,0 31,0Dinamarca 38,7 37,2Finlândia 42,3 35,2França 48,4 38,6Alemanha 53,5 50,1Itália 40,5 44,1Japão 44,3 36,0Suécia 39,3 37,6Portugal 44,3 36,3Estados Unidos 33,1 31,0Brasil- 29,8 17,8

epara 1970.Fonte: OCDE. Grudes Economiques, Ao11t1974. Statistiques deBase: Comparaisons Internationales e Fundação IBGE.

No período 1950/1960 a taxa de absorção da popula-ção economicamente ativa pelo setor secundário foi. deapenas 10% em relação ao crescimento da população eco-nomicamente ativa total (o setor secundário absorveusomente 600 mil pessoas, para um incremento de 5.500mil). Para o período 1960/1970 a situação melhorou con-sideravelmente, chegando a aproximadamente 32% dototal do acréscimo no período. É plenamente justificadapela grande dinamização do processo de índustríalízaçâono período 1967/1970 e acentuada participação da indús-tria de construção. A participação da indústria de transfor-

mação em relação à população economicamente ativapassou de 7,2 em 1940 para 10,9% em 1970, e em termosabsolutos isto significa, aproximadamente, um acréscimode apenas 2 milhões de pessoas.

Os fenômenos do desemprego e do subemprego ur-bano podem ser atribuídos às migrações rurais-urbanas,que se têm processado de maneira relativamente inten-,siva no período do processo de industrialização brasileira,criando uma acelerada taxa de urbanização em ritmo bas-tante superior ao da própria industrialização.

Se levarmos em consideração como população urbanasomente aquela em aglomerações superiores a 5 mil habi-tantes, notamos que, atualmente, metade da populaçãobrasileira vive no setor rural.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domi-cílios a taxa de desemprego declarado no Brasil é relati-vamente baixa (tabela 2). É tão baixa que somente ospaíses plenamente desenvolvidos têm condições de exibi-la. Então, qual a situação real do Brasil? Poderíamosmedir a taxa de participação, ou seja, a participação per-centual da população economicamente ativa em relação àpopulação total e compará-la em países desenvolvidos.Para os anos de 1940, 1950, 1960 e 1970, a taxa departicipação foi, respectivamente, de 35, 33, 32 e 31%.Em termos internacionais, esta taxa de participação émuito baixa, já que há países em que ela chega a quase50%. É baixa até mesmo em relação aos padrões da Amé-rica Latina, apesar de nossa pirâmide etária contribuir par-cialmente para este achatamento, pois mesmo aí chega acerca de 35%. no período de 1950 a 1965.

Quais as causas que poderiam justificar esta baixataxa de desemprego declarado no Brasil? Sem dúvidaalguma, a causa mais importante a ser considerada é ogrande desempenho do setor terciário em absorver mão-de-obra; grande parte dos indivíduos encontra trabalhocom facilidade em atividades como: lavador de carros nasruas, guardador de carros, engraxates, vendedores de fru-tas e de outros diversos produtos ambulantes e diversasoutras formas de "biscate" que lhes proporcionam remu-neração abaixo do desejável para atender ao mínimo de 35subsistência. Desta maneira pode-se ter reduzido o desem-prego declarado e ter aumentado consideravelmente o

Tabela 2Brasil: pessoas desocupadas e sua proporção na força de trabalho total de cada região (1.000)

1968 1970 1972Região (3.o trimestre) (l.o trimestre) (4.0 trimestre)

Absoluto 1 % Absoluto I % Absoluto I %

I - GB e RJ 75 1,3 96 1,6 154 2,1U - SP 153 1,4 171 1,5 228 1,6III - PR, SC e RGS 154 1,6 138 1,3 164 1,3IV - MGeES 128 1,6 131 1,6 177 1,8V - MA, PI, CE, RN, PB,PE, AL, SE, BA. 244 1,6 189 1,3 299 1,5

Ols.: Os dados não cobrem os estados do Norte, Centro-Oeste e Distrito Federal e territ6rios.Fonte: Fundação IBGE. PNAD_

Absorção de mão-de-obra

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desemprego disfarçado (termo empregado por Joan Ro-binson, ainda durante a depressão dos anos 30, para des-crever as atividades daqueles que tendo perdido empregosde alta produtividade e remuneração aceitavam trabalhosinferiores, gerahnente de forma autõnoma, como alter-nativas ao desemprego completojê urbano.

Tabela 3Brasil: desemprego não-agrícola (percentual)

Para efeito comparativo vamos apresentar as taxas dedesemprego declarado de mão-de-obra no setor não-agrí-cola referentes aos anos de 1968 (terceiro trimestre) e1972 (quarto trimestre) em relação à força de trabalhonlo-agrícola, de acordo com os dados de Pesquisa Nacionalpor Amostra de Domicílio (PNAD).

Região I 11 III IV V-_.GB PR MG MA,PI,e SP se e RN,CE, TotalRJ RGS ES PB,fE:,

AL,SE,BA

Desemprego declarado (1968)Desemprego declarado (1972)

2,83,0

2,92,5

4,52,6

4,73,2

5,43,3

4,03,0

Fonte: Fundaçlo IBGE.

Observa-se que no período considerado houve umaqueda acentuada na taxa de desemprego declarado para

todas as regiões, com exceção da região I.-Dois técnicos 90 IPEA,Q'Brien e Salm," utilizando

Tabela 4Brasil: desemprego e subemprego não-agrícola - 3.0 trimestre de 1968 (% da força de trabalho não-agrícola)

Região I 11 III. IV V

GB PRo MG MA, PI, CE,e SP se, e RN,PB,PE, TotalRJ RGS ·ES AL,SE, BA

1. Desemprego declarado2. Subemprego visível1+2

2,83,46,2

2,93,66,5

4,57,612,1

4,77,1u.s

5,4i2,618,0

47

11

Fonte: Fundação IBGE. PNAD. 1968.

Tabela 536 Brasil: desemprego e subemprego não-agrícola - 4.0 trimestre de 1972 (% da força de trabalho não-agrícola)

'RegiãO I 11 III IV V

GB PRo MG MA, PI, CE,e SP SC, e RN,PB,PE, Total

RJ RGS ES AL,SE, BA

1. Desemprego declarado2. Subemprego visível1+2

3,03,96,9

2,52,44,9

2,64,87,4

3,26,39,5

3,39,2

12,5

3,05,38,3

Fonte: Fundaçlo IBGE. PNAD. 1972.

dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio(PNAD), estimaram o subemprego no Brasil numa tenta-tiva de apurar com maior cuidado a subutilização da forçade trabalho não-agrícola. Os autores incluíram no estudouma categoria adicional e chamaram de "subempregovisível". Esta categoria inclui aquelas pessoas que traba-lham em tempo parcial (menos de 40 horas por semana)

Revista de Administração de Empresa«

quando prefeririam trabalhar em tempo integral, e maisaquelas que normalmente trabalham em tempo integral,mas que por ocasião da pesquisa ocupavam-se em tempoparcial por "motivoseconômicos"," Desta maneira não s6estavam disponíveis para o trabalho aquelas pessoas que sedeclararam desempregadas como também aquelas queconstam com tempos disponíveis para exercerem outraatividade. 5

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Utilizando o método de O'Brien e Salm, vamos le-vantar as taxas de desemprego declarado e subempregovisível para os anos de 1968 (terceiro trimestre) e 1972(quarto trimestre) em relação à força de trabalho não-agrícola.

O confronto entre os dados de 1968 e 1972 revelarazoável diferença. A queda verificou-se não somente parao desemprego declarado como também para o subempregovisível, com exceção da região L Tal desempenho justifi-ca-se pelo acelerado processo de industrialização do pe-ríodo e pelas grandes obras de infra-estrutura. Mesmo paraa região V, que inclui os estados do Maranhão, Piauí,Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Ala-goas, Sergipe e Bahia, onde as taxas de desemprego decla-rado e subemprego visível alcançavam 18% da força detrabalho não-agrícola em 1968, no período comparadocaíram para 12,5%. Esta redução percentual poderia seratribuída à crescente oferta de emprego pelo setor indus-trial? O surto de industrialização do período parece-nosmuito tímido em termos de absorção de mão-de-obraquando comparado com a volumosa taxa de desemprego esubemprego desta região. Outros fatores devem ter con-tribuído para esta redução. Dentre eles, o mais expressivofoi a grande seca verificada no Nordeste, em 1970. A eva-810 de mão-de-obra não se verificou somente para os esta-dos do Sul, como também para os estados do Norte, emrazão do apressamento da construção da rodovia Trans-amazônica e também devido à construção de outras obrasde infra-estrutura <tue faziam parte do plano de empregolevado pelo Governo na região, a fim de absorver todo

aquele excedente de mão-de-obra, liberado pelo setor desubsistência e que se aglomerava nos centros urbanos, ge-rando, inclusive, um princípio de comoção social. Apesarde o salário pago ser relativamente baixo (girava em tomode 70 e 80% do salário mínimo da região), esta políticateve resultado satisfat6rio uma vez que conseguiu ameni-zar o problema, como mostram as tabelas 4 e 5.

Outro fator que deve ser levado em consideração é apr6pria mobilização de mão-de-obra dentro de região. Noperíodo 1970/1972, as atividades não-agrícolas da regiãoV aumentaram em 5% a mão-de-obra empregada enquantoas atividades agrícolas apresentaram um incremento de20%.

Para a região m (compreende os estados do Paraná,Santa Catarina e Rio Grande do Sul), a queda das taxas dedesemprego declarado mais subemprego visível de 12,1%para 7,4% da força de trabalho não-agrícola pode ser ex-plicada pela crescente participação do setor agrícola naabsorção de mão-de-obra. No período 1968/1972 as ocu-pações em atividades não-agrícolas evoluíram de 3.043 milpara 3.172 mil pessoas ocupadas, enquanto o total de em-pregos no setor agrícola, no mesmo período, passou de3.082 mil para 3.895 mil pessoas empregadas.

Além do "subemprego visível" O'Brien e Salm fíze-ram uma estimativa do "desemprego disfarçado" levandoem consideração o nível de renda das pessoas incluídas nogrupo "empregadores e trabalhadores por conta pr6pria".Nesta estimativa está implícita que a remuneração é umindicador razoável de produtividade e que a baixa produ-tividade decorre da subutílízação da força de trabalho.

Tabela 6Brasil: desemprego disfarçado não-agrícola - 1968 - 3.0 trimestre (% dos empregadores e trabalhadores por contapr6pria que ganham até CrS 49,99* mensais, em relação ao total de empregadores e trabalhadores por conta própria},

Região, I 11 III IV VGB PR, MG MA, PI, CE,e SP se, e RN,PB,PE Total

RJ RGS ES AL,SE, BAEmpregadores e trabalhadoresp/conta própria que ganham atéQ$ 49,99 mensais. 8,2 7,1Total de empregadores etrabalhadores por conta própria,

10,5 24,9 41,7 23,4

• Para o período considerado, Q$ 49,99 equivalem de uma maneira aproximada a meio salário mínimo.Fonte: Fundaçlo IBGE. PNAD.1968.

Utilizando este método, vamos comparar a participa-ção dos "empregadores e trabalhadores por conta pr6pria"que ganham até meio salário mínimo em relação ao totalde empregadores e trabalhadores por conta pr6pria refe-rente aos anos de 1968 (terceiro trimestre) e 1972 (quartotrimestre).

Ao analisar as tabelas 6 e 7, observa-se.que é substan-ciabnente crescente a participação da mão-de-obra subo-cupada nas atividades nlo-agrícolas para as regiões com-paradas. Como o setor secundáJ:.io tem apresentado uma

taxa de absorção de mão-de-obra muito pequena em rela-çãc à demanda de emprego total, como conseqüência cres-ce assustadoramente a participação relativa da mão-de-obra subocupada no setor terciário, de 23,4% do total deempregadores e trabalhadores por conta pr6pria em 1968,para 27,7% em 1972.

Dando seqüência ao modelo de O'Brien e Salm, va-mos determinar conjuntamente as taxas de desempregodeclarado, subemprego visível e desemprego disfarçado emrelação ao setor não-agrícola para os anos de 1968 (ter-

Absorção de mão-de-obra

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Tabela 7Brasil: desemprego disfarçado não-egncola -1972 - 4.0 trimestre (% dos empregadores e trabalhadores por conta própriaque ganham até meio salário mínimo, mensal, em relação ao total de empregadores e trabalhadores por conta própria)

Regíão I 11 III IV V

GB PRo MG MA, PI, CE,

e SP se, e RN,PB,PE, Total

RJ RGS ES AL, SE, BA

Empregadores e trabalhadorespor conta própria 'que ganhamaté meio salário mínimomensal 15,1 9,0

Total de empregadores etrabalhadores por conta pr6pria.

15,3 30,0 49,3 27,7

Fonte: Fundaçlo IBGE. PNAD.1972.

ceiro trimestre) e 1972 (quarto trimestre). Uma vez que ascifras de "desemprego disfarçado" não podem ser sim-plesmente somadas às de "subemprego visível", levandoao perigo de contagem dupla, pois uma pessoa pode estarpercebendo, mensalmente, uma remuneração abaixo demeio salário mínimo e ao mesmo tempo seu trabalho estarsendo utilizado parcialmente. Para resolver este problemaos autores adotaram o artifício de supor que todos os

"trabalhadores por conta própria" em tempo parcial re-cebiam menos de meio salário mínimo ao mês, e só acres-centaram às suas estimativas uma cifra correspondente a"desemprego disfarçado" quando havia um saldo positivodepois de subtraídos das cifras de "empregadores e traba-Ihl\dores por conta própria" que tinham até meio saláriomínimo ao mês os valores correspondentes a essa mesmacategoria nos ocupados em tempo parcial.

'Tabela 8Brasil: desemprego declarado, subemprego visível e desemprego disfarçado no setor não-agrícola - (% da força de tra-

balho não-agrícola) - 3.0 trimestre - 1968

Região I 11 III IV V

GB PR, MG MA, PI, CE,

e SP SC, e RN,PB,PE, Total

RJ RGS ES AL,SE, BA

Desempregados + tempo parcial+ autônomos com até meio salá-rio mínimo. mensal .. 6,4 6,8

Força de trabalho nio-agrícola.

11,7 14,8 26,6 13,6

38 Fonte: Fundaçlo IBGE. PNAD.1968.

Tabela 9Brasil: desemprego declarado, subemprego visível e desemprego disfarçado no setor não-agrícola (% da força de trabalhonão-agrícola) - 4.0 trimestre - 1972

Regifo' I 11 III IV V

GB PR, MG MA, PI,CE,

e SP se, e RN,PB,PE, Total

RJ RGS ES AL, SE, BA

Desemprego + tempo parcial+ autônomos com até meio salá-rio mínimo mensal 7,6 5,5

Força de trabalho nio-agrícola

9,0 13,4 24,9 11,9

Fonte: Fundaçlo IBGE. PNAD. 1972.

Revista de Administrtzç60 de Empre8ll8

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Apesar de ter reduzido o percentual total (de 13,6para 11,9%) nos períodos considerados, a situação não éanimadora, pois em termos absolutos são aproximada-mente 2.300 mil pessoas desempregadas, subempregadas ecom remuneração até 50% do salário mínimo vigente naregião, para uma força de trabalho não-agrícola de quase19 milhões de pessoas.

Seria interessante assinalar que segundo a PNAD, parao quarto trimestre de 1972, 7 milhões de pessoas nas ativi-dades agrícolas e não-agrícolas gostariam de trabalhar emtempo integral recebendo salário mínimo.

A redução percentual do contingente de mão-de-obrano setor agrícola através das correntes migratórias temaumentado consideravelmente as pressões demográficasnos centros urbanos, fazendo com que os investimentosem infra-estrutura tomem-se cada vez mais acentuados,pois grande parte da poupança governamental é canalizadapara este setor e, por ser insuficiente, canalizam-se aindapoupanças do exterior acelerando fortemente as dívidasexternas do País.

O crescimento demográfico à taxa de 2,9% ao ano,como o verificado na última década, significa que a deman-da de jovens no mercado de trabalho deverá crescer aritmo idêntico. Como o crescimento da ocupação ruralestá-se processando a uma taxa de 0,7% (última década) aoano e o aumento do emprego industrial é decepcionante-mente pequeno (exceção feita à indústria de construçãoque cresceu a ritmos elevados, gerando um milhão de novosempregos no período 1960/1970), são os serviços urbanosque estão sendo chamados a absorver, a níveis de subocupa-ção e baixa produtividade, a maior parte da população queatinge a idade de trabalho, uma vez que, nas duas últimasdécadas os centros urbanos mantêm um ritmo de cresci-mento de aproximadamente 6%, anualmente.

3. CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Em termos de tendência, a evolução da produção de todaa agricultura foi satisfatória para a última década, apesarde os anos de 1963, 1964, 1966 e 1970 terem sido afeta-dos por fortes adversidades climáticas e conseqüente redu-ção na produção total de nossas lavouras. Estas quedas naprodução das lavouras reduziram o produto total da agri-cultura.

Com relação à importação de produtos da agricultura,podemos notar um leve incremento no período considera-do (tabela 10), com exceção de 1973/74 em que houveum comportamento anormal, devido à participação ex-pressiva de cereais. O caso do trigo, o produto agrícola im-portado de mais alto valor, reflete a expansão do consumo ea dificuldade da produção nacional em substituir este pro-duto em nossa pauta de importação. Entre 1960 e 1974, aparticipação dos produtos agrícolas no total das importa-ções apresentou, percentualmente, tendência declinante.

Por outro lado, a exportação de produtos de toda aagricultura mostrou evolução acentuadamente positivapara o período em análise. A forte predominância dos

produtos da agricultura no total das exportações brasi-leiras persistiu por todo o período, apesar de apresentaremparticipação relativa declinante. Em 1960, esta participa-ção girava em torno de 90'Yr, e em 1973 era aproximada-mente 80%. No transcurso da segunda metade da décadapassada, o percentual tendeu a declinar à medida que pro-dutos de origem extrativo-mineral e produtos industriaisforam sendo incorporados à pauta das exportações.

Apesar deste forte incremento, em valores absolutos,em nossas exportações deve-se notar que o Brasil aindaocupa posição bastante modesta no comércio internacio-nal (quando comparada com alguns países desenvolvidos).À exceção dos produtos tradicionais, o Brasil participou,no período em análise, com menos de 1% das exportaçõestotais de todos os demais produtos de sua pauta no merca-do internacional, percentual este extremamente reduzidoem face do potencial produtivo da nossa agricultura.

Os dados referentes ao crescimento dos produtos dis-poníveis para o mercado interno (produto total da agricul-tura mais importações menos exportações), quando com-parados ao crescimento populacional no período1960/1974, indicam certa intranqüilidade, porque o incre-mento no produto disponível para o mercado interno es-teve bem abaixo do incremento populacional. Isto sim-plesmente nos informa que a disponibilidade interna percapita está em declínio, como nos mostra a tabela 11.

Com o acentuado crescimento de nossas exportações,observa-se que a produção destinada à exportação é a prin-cipal responsável pelo crescimento deste setor.

Como se pode notar, a queda na disponibilidade inter-na per capita, tanto para produtos alimentícios quantopara matéria-prima, é uma realidade incontestável. ó

Durante este período a agricultura brasileira perdeuacentuada importância relativa, em termos de renda, emrelação ao PNB. Apesar de a agricultura apresentar duran-te o processo de desenvolvimento perda de sua impor-tância relativa, em termos de renda e de população empre-gada, em conseqüência do conhecido fenômeno "declíniosecular da agricultura", esta perda de importância estáalém daquilo que a economia pode sustentar.

O processo de modernização da agricultura brasileiradeve ser encarado com maior seriedade pelos governantes,pois se hoje não temos uma escassez generalizada de diver-sos produtos é devido, exclusivamente, à liderança de seuspreços na corrida inflacionária, gerando real perda depoder aquisitivo para grande parte da população de menorpoder aquisitivo.

Por que a elevação dos preços dos produtos agrícolasnão tem funcionado como estímulo para a elevação daoferta no mercado interno? Como veremos, o aumento daprodutividade do setor como um todo tem sido insignifi-cante (com exceção de alguns produtos de exportação).Uma vez muito baixo o índice de produtividade da agri-cultura brasileira, quando comparado com outros países, oaumento da oferta tem-se processado basicamente atravésda incorporação de novas terras ao cultivo. Esta incorpo-ração de novas terras ao cultivo traz consigo inúmerosproblemas: investimento de infra-estrutura em estradas,

Absorção de mâo-de-ohra

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Tabela 10Brasil: exportações e importações de produtos da agricultura - valores em termos reais em Cr$ de 1965·67*

Exportações (milhões de Cr$) bnportações(milhõesdeCr~)

Mat&ia- Matéria· Õleos, Bebidas, Matéria· Mat&ia- 01eos, Gênerosprima de prima de gorduras produtos de prima de prima de gorduras alimentícios

Ano origem origem de matadouros, Totais origem origem de e bebidas Totaisanimal vegetal origem açúcar, café, animal vegetal origem

animal e cacau,chá, vegetalwgetal .especiárias e animal

pesca, frutasI

1960 44 363 79 1.274 1.760 6 147 1 364 5181961 41 628 113 1.361 2.143 7 108 1 476 5921962 30 402 77 1.157 1.666 6 81 3 558 6481963 30 520 77 1.219 1.846 15 67 4 548 6341964 87 537 94 1.169 1.887 3 42 9 634 6881965 108 632 115 1.546 2.401 4 36 6 543 5891966 127 585 81 2.418 3.211 4 52 8 600 6641967 98 506 74 2.083 2.761 7 47 8 664 7261968 91 623 114 2.673 3.501 11 74 25 719 8291969 155 892 136 3.006 4.189 8 71 18 668 7651970 130 745 130 2.404 3.409 10 72 23 574 6791971 378 828 142 2.469 3.817 40 94 35 438 6071972 588 982 184 3.229 4.983 31 97 40 455 6231973 586 1.668 278 4.046 6.578 31 74 54 969 1.1281974 490 1.766 278 4.230 6.764 37 148 100 1.129 1.414

• Detlator utilizado: Indíce geral de preços agrícolas por atacado. Conjuntura Econômica, FGV, v. 29, n. 1, p. 106-10, jan. 1975.Fonte: Fundaçlo IBGE. Anu4rios Estat(sticos de 1961 a 1975.

Tabela 11Brasil: valor real da produção da agricultura, importação, exportação e disponibilidade interna, em cruzeiros de 1965-67*

Valor real Exportações bnportações Disponibilidade Popu1açlo Disponibilidadedaproduçlo . de produtos de produtos total p/ interna

Ano da agricultura da agricultura da agricultura consumo percapitainterno

(milhões (milhões (milhões (milhões (milhares) (em Cr$)de Cr$) de Cr$) de Cr$) de Cr$)

(1) (2) (3) (4) (5) (6)

1960 8.899 1.760 518 7.657 70.119 109,201961 9.473 2.143 592 7.922 72.153 109,79

40 1962 10.697 1.666 648 9.679 74.245 130,371963 9.948 1.846 634 8.736 76.398 114,351964 10.384 1.887 688 9.185 78.614 116,841965 11.915 2.401 589 10.103 80.893 124,891966 10.215 3.211 664 7.668 83.239 92,121967 11.171 2.761 726 9.136 85.653 106,661968 11.840 3.501 829 9.168 88.137 104,021969 12.479 4.189 765 9.055 90.693 99,841970 10.377 3.409 679 7.647 93.139 82,101971 11.781 3.817 607 8.571 95.840 89,431972 12.231 4.983 623 7.871 98.619 79,811973 13.744 6.578 1.128 8.294 101.479 81,731974 14.871·· 6.764 1.414 9.521 104.422 91,17

• Detlator uti1izad~: índice gerai de preços agrícolas poratacado. Conjuntura ,Econômica, FGV, v. 29, n. 1, p. 106-10, jan. 1975 .•• Para 1974 a estimativa de crescimento do setor foi de 8,2%, conforme ConjunturtiEconômic., v. 29, n. 2, fev. 1975.Fontes:(1) Contas nacionais do Brasil. FGV, 1972, v. 2: Quadros estatísticos, para os anos 1960/1969.

Conjuntura Econômica, v. 29, fi. 1, jan. "t975, p. 73, para os anos 1970/1973.(2) Fundaçlo IBGE. Anu4rios Estatfsticos 1961/1975.(3) Fundaçlo IBGE. Anuâno« Estatfstico. 1961/1975.(4) (1) + (3) - (2).(5) Fundaçlo IBGE para os anos 1960 e 1970. Para os demais estimou-se uma taxa de crescimento de 2,9% ao ano.(6) Dividiu·se (4) por (5).

Revista de Admini.rraçtio de Empresas

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armazéns e meios de transporte; deslocamento de popu-lações e expansão de assistência técnica e fmanceira, alémda inevitável supervalorização das terras, elevando de ma-neira acentuada os custos de produção.

Nestes últimos cinco anos, em virtude dos preços emascendência dos produtos agrícolas, as terras de melhorqualidade foram disputadas numa corrida que contou coma participação de agricultores tradicionais, que pro-curavam ampliar suas lavouras, depois que determinadosprodutos alcançaram altos preços, e de investidores desilu-didos com as aplicações na Bolsa de Valores.

Considerável aumento na oferta de alimentos só po-derá ser realizado por meio de aumento da produtividade,mediante uso de fertilizantes, eliminação de acidentes geo-gráficos, execução de obras de drenagem e irrigação, se-mentes geneticamente preparadas, pessoal técnico e capi-tal.

4. A BAIXA PRODUTIVIDADE DO SETORAGR(COLA E A DETERIORAÇÃO DOS SALÁRIOS

A baixa produtividade do setor agrícola brasileiro é umarealidade incontestável. Como vimos, a expansão da ofertade produtos agrícolas tem-se dado a taxas muito baixasnão acompanhando nem mesmo o crescimento vegetativoda população. Este crescimento teria de ser muito elevado,pois além de cobrir a demanda proveniente de crescimentopopulacional deveria cobrir ainda aquela referente ao graude subalimentação de grande parte da população, desdeque seu preço se compatibilizasse com os baixos níveis derenda das camadas menos favorecidas.

Pela comparação entre a área total com lavouras e ovalor real da produção de todas as culturas verifica-se quepara o período 1959/1963 e 1968/1972 enquanto o valorda produção agrícola cresceu em 30% a área total incor-porada ao cultivo cresceu em 32%. Esta comparação provaque a relação produto/área tem sido mais ou menos cons-tante; poderíamos afirmar, também, que a relação produ-to/área é o melhor indicador como medida de índice deprodutividade. Enquanto o índice para a área total comlavouras evoluiu de 100 para 132, no período conside-rado, o índice do valor real da produção de todas as cul-turas evoluiu de 100 para 130.

No Brasil, o arroz ocupa, entre todas as lavouras, oprimeiro lugar, em relação ao valor da produção, suplan-tando as culturas do café, milho e cana, que ocupam osegundo, terceiro e quarto lugares, respectivamente. Comreferência à área cultivada, a cultura do arroz só perde oprimeiro lugar para a cultura do milho, ocupando a se-gunda colocação,

No período 1959/63, 3.179 mil hectares destinavam-se à cultura do arroz, representando 11,6% da área totalcultivada com lavouras. No período 1959/63 a 1968/72 aárea destinada ao cultivo do arroz foi ampliada em 49%,enquanto o valor real de sua produção foi acrescido emapenas 11%. Lamentavelmente, este é o comportamentodo cultivo do mais importante produto agrícola brasileiro,

cuja cultura reveste-se de caráter prioritário, pois cons-titui-se num alimento básico para o consumo de nossapopulação.

O rendimento médio (kg/área) da cultura do arroz noBrasil é muito baixo em relação a diversos pafses.? Estefato ocorre devido à incorporação de novas áreas de me-nor fertilidade ao processo produtivo. A incorporação denovas áreas menos produtivas é a solução encontrada pelosagricultores brasileiros para ampliação da produção, ge-rando, conseqüentemente, menor remuneração aos fatores.de produção, principalmente da mão-de-obra empregadano cultivo destes produtos.

Para o trigo, cacau, cana-de-açúcar, batata inglesa,mandioca e banana, conseguiu-se aumentar o índice deprodutividade destes produtos na década passada; passou'por um nível estacionário a produtividade do milho,laranja e amendoim; entretanto, para as culturas comocafé, arroz, feijão e algodão, a produtividade caiu. Essesprodutos, em conjunto, somam mais de 90% do valor daprodução agrícola total,

Estes dados refletem muito bem a causa da fuga demão-de-obra do setor agrícola para o setor não-agrícola:baixa remuneração do fator trabalho como conseqüênciada queda da produtividade média do setor. Este afluxo demão-de-obra para o setor urbano tem provocado declíniona produtividade média do setor serviços. Como a políticagovernamental tem sido voltada para a criação do maiornúmero possível de empregos urbanos, os reajustes sa-lariais nestes últimos 10 anos têm Sido inferiores (comexceção de 1975) aos índices inflacionários mais os ín-dices de produtividade provocando uma queda no custode mão-de-obra por volume de produção, concomitan-temente a um aumento dos lucros das empresas, amplian-do de maneira satisfatória os investimentos no País.

O problema fundamental da economia brasileira é aoferta elástica de emprego em virtude de baixa produ-tividade da mão-de-obra no setor agrícola. Este excedentena oferta de emprego tem proporcionado subsídios a umapolítica de achatamento dos níveis reais salariais para asclasses menos favorecidas. Evidentemente, o problema doBrasil diante da modernização para melhoria da produ ti-vidade não é de fácil solução, apesar de os mercados inter-no e externo apresentarem perspectivas crescentes de capa-cidade de absorção, uma vez que possamos produzir comíndices de produtividade em condições competitivas.

Uma comparação entre a evolução histórica dos salá-rios e a evolução do custo de vida mostra-nos uma realperda de poder aquisitivo de grande parte da populaçãobrasileira. Tal perda de poder aquisitivo gera como conse-qüência o atrofiamento de um potencial mercado con-sumidor tanto para produtos agrícolas como para pro-dutos industriais. Com relação aos produtos agrícolas oefeito é duplo: queda dos salários e aumento excessivo dospreços dos produtos agrícolas devido à redução do índicesde produtividade dos alimentos básicos.

. Pela tabela 12, observa-se a disparidade entre o cresci-mento dó salário mínimo médio nominal e o crescimentodos preços dos produtos agrícolas, mostrando a real perda

Absorção de mão-de-obra

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Tabela 12fndice de preços por atacado e índice do salário mínimo médio • no período 1961 a 1975 (1965/67 = 100)

Ano Oferta global Salário mínimo

Prod. agr{colas Prod. industriais ml5dioGeral

1961 9,53 9,56 9,56 11,921962 14,6 15,3 13,9 16,4· •1963 25,4 25,3 25,3 25,61964 48,6 50,5 46,6 49,41965 73,5 71,9 75,2 76,21966 101 102 99,5 99,31967 126 127 125 1241968 156 149 163 1531969 188 181 196 1801970 229 233 229 2121971 276 292 269 2611972 327 357 312 3121973 381 425 358 3651974 492 550 463 4361975 627 682 599 589

* Salário mínimo médio correspondente à Guanabara.•• A partir de 1962, índuí-se.o 13.0salário.Fonte: Conjuntura Econômica, FGV (para as três primeiras colunas).

de poder aquisitivo de mais de 50% da população comatividades remuneradas.

Com relação ao preço dos produtos industriais ocomportamento foí mais ou menos semelhante. Na rea-lidade, esta comparação é desprezível pois a parcela darenda desta faixa da população destinada ao consumo deprodutos industrializados é irrisória.

5. MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA EABSORÇÃO DE MÃO-DE-OBRA

42

A nossa tese central é de que dado o baixo desempenhodo setor industrial como absorvedor de mão-de-obra nodecorrer do período do processo de substítuíção de im-portações ê durante o período de acelerada industriali-zação (a partir de 1967), toma-se necessário uma po-lítica de emprego objetivando eliminar as dístorções''criadas pelo "modelo de desenvolvimento econômicobrasileiro". Uma vez que a maior percentagem da popu-lação economicamente ativa n.o Brasil encontra-se nosetor agrícola, pertence a este setor a responsabilidade dedar os primeiros passos no sentido de eliminar as distor-ções verificadas.

Não se trata, obviamente, de canalizar o excedente demão-de-obra dos centros urbanos para o setor rural. Apalavra "absorvedor" está sendo empregada no sentido deproporcionar ao setor agrícola condições de reduzir, demaneira acentuada, o expressivo movimento migratório,em direção aos centros urbanos, verificado nas últimasdécadas, através de aumento da produtividade, e, conse-qüentemente, melhor remuneração à mão-de-obra empre-gada no setor. Por pressuposto, não se pode deixar de lado

Revista de Administração de Empresas

o progresso tecnológico e um elevado índice de moderni-zação será necessário, procurando conciliar os interessesindividuais dos agricultores com as necessidades da comu-nidade, seguindo uma política mais seletiva e oportuna demecanização e aplicando programas de incremento doemprego a nível regional.

Apesar de o Brasil contar com mais de 40% de suapopulação no setor rural, não significa que toda aquelapopulação esteja empregada de forma produtiva e inte-grada no sistema de mercado. A economia de subsistênciaainda assume proporções consideráveis, notadamente nosestados do Nordeste, Norte e Centro-Oeste. A situaçãot~ma-se mais crítica quando notamos que tem aumentadoconsideravelmente tanto a existência de maquinarias e deoutros tipos de equipamentos como seu grau de utilizaçãoindiscriminada na agricultura, fazendo com que o setorcontinue a desempenhar seu papel histórico de liberadorde mão-de-obra.

A característica histórica do comportamento do setoragrícola tem sido a da incorporação de novas terras, inclu-sive menos férteis, ao processo produtivo com a neces-sidade de maiores investimentos à incorporação destas ter-ras para prepará-las de forma razoavelmente. produtiva,elevando, em conseqüência, os custos de produção ecomercialização dos produtos. Além do mais, os investi-mentos em máquinas e equipamentos pelo setor têm-setomado cada vez mais sensíveis e a mão-de-obra liberadapela agricultura não tem encontrado ocupação satisfatórianas atividades absorventes dos centros urbanos, o quetende a agravar a situação social da população urbana mar-ginal.

Ao efetuarmos investimentos de capital, mecanizandoas tarefas agrícolas e eliminando a mão-de-obra, e o pes-soal assim liberado não encontrando ocupação nas ativi-dades absorventes, estamos desperdiçando o escasso ca-pital da coletividade, e aumentando os custos fíxos do

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setor. Deve-se levar em conta que modemizaçlo é dife-rente de mecanizaçlo; enquanto a primeira visa aumentona produçlo, a segunda visa substituiçlo do fator de pro-duçlo trabalho; a primeira implica um aumento da relaçãoproduto/terra e a segunda implica um aumento da relaçloproduto/homem, sendo que ambas as ímplícações 510 dis-tintas. A escolha dos métodos para aumentar a produti-vidade Dlo deve ser deixada exclusivamente ao jogo dosinteresses particulares, quando a capacidade absorvedorade mão-de-obra do setor Dlo-agrícola é insuficiente, con-forme o fator prevalecente no Brasil. :e necessário, então,dar preferência àquelas formas de tecnologia que elevem aprodutividade e conseqüente aumento da renda do setor.através da utilização intensiva de mão-de-obra, do que fa-zê-lo através de investimentos poupadores de mão-de-obra.

O descompasso entre o desenvolvimento econOmicobrasileiro e a taxa de absorção de mão-de-obra pelo setorsecundário é sensível. Este descompasso é característica dautilizaçlo de diversos níveis tecnológicos entre setores;esta ausência de uniformidade nos níveis tecnológicos veri-fica-se até no mesmo setor como é o caso da agriculturabrasileira. Temos regiões agrícolas empregando alto níveltecnológico, adotando técnicas modernas recomendadaspelos centros experimentais e de pesquisa, incluindo-sedesde as mâquínas mais avançadas tecnicamente até adu-bos químicos e demais insumos que caracterizam a agrí-'cultura moderna, e temos, também, agricultores utilizandotécnicas produtivas das mais rudimentares, tio .rudímen-tares que a adiçlO de mais um fator de produção (o traba-lho) conduz a uma produtividade marginal zero. :e o casotípico de uma agricultura de subsistência.

O acelerado crescimento da produtividade poderáproporcionar empregos mais produtivos à populaçâo, epelo aumento da produtividade do setor conseguir-se-iamreduções reais nos preços dos alimentos. O aumento daprodução seria absorvido pela expansão de nossas expor-tações e pelo aumento do consumo interno mediante aselasticidades preço e renda da demanda destes produtos. Oaumento do consumo por meio da elasticidade-preço -dademanda seria devolver ao trabalhador brasileiro a suacapacidade anterior de poder aquisitivo deteriorada emconseqüência da liderança dos preços dos produtos agrí-colas na corrida inflacionária. Este efeito passaria a fun-cionar como agente distribuidor, pois beneficiaria aquelafaixa de população de menor poder aquisitivo. O efeitoelasticidade-renda da demanda de produtos agrícolas de-verá ocorrer num estágio mais avançado, uma vez que todaa população economicamente ativa esteja empregada deforma produtiva, a escassez de mão-de-obra deverá ge-neralizar-se e, em conseqüência, os salários reais deverãoaumentar, forçando a abertura do mercado consumidorinterno não somente para produtos agrícolas como tam-bém para produtos industrializados.

A argumentação normal admite adicionalmente quemodernízação é praticamente sinônimo de mecanízaçãoem detrimento do nível de emprego. Mas, na verdade,modernizaçlo significa utílízação de técnicas produtivasmais eficientes que a tradicional, tais como: uso de fertí-

lizantes e defensivos, uso de sementes selecionadas e gene-ticamente preparadas às características ecológicas dasdiversas regiões, uso intensivo e Dlo extensivo da terra etc.Ainda, a mecanização poupadora de mão-de-obra não éaplicável a qualquer tipo de cultura agrícola, seja pelanatureza do produto, seja pela natureza do terreno. Amecanização, quando poupadora de mão-de-obra, deveriaser adotada justamente naquelas regiões em que a mão-de-obra tende a ser escassa e não abundante, o que significaque sua adoção é, antes de tudo, função da necessidade depreencher com máquinas a sua falta.

A utilização de inovações técnicas na agricultura estáligada à utilização de capital no setor. Somente por meiode inversões de capital pode-se melhorar a produtividadedo setor agrícola, dependendo essa melhoria do nível detécnica que está associada a cada tipo de inversão.

Bstevam Strauss,? técnico das Nações Unidas, classi-fica as inversões na agricultura em três grupos:

1. inversões socíaís em' educação, capacitação e pesqui-sas. Tais inversões melhoram a produtividade do setor'agrícola através de educação e da aprendizagem do agricul-tor - que terá assim condições de utilizar mais racional-mente os recursos disponíveis - da organização mais efi-ciente da produção, da rotação de solos-e culturas etc.

2 inversões em fertilizantes, inseticidas, sementes sele-cionadas etc.

3. inversões em bens de produção, tais como arados, tra-tores, obras de irrigação, drenagem, cercas etc.

Dos três grupos, o primeiro não implica maioresgastos diretos dos agricultores, pois, na maioria dos casos,as inversões sociais estão nas mãos do Estado, enquanto osoutros dois tipos derivam de gastos diretos efetuados pelosagricultores. A intensidade dos gastos em tais tipos deinversões é que irá determinar o grau de utilização deinovações tecnológicas na agricultura.

Basicamente, o primeiro tipo de técnica - ou seja, osinvestimentos em sementes selecionadas, fertilizantes,inseticidas etc. - tende a melhorar o rendimento da terra,sem, entretanto, deslocar os empregados. São técnicas quevisam aumento da produtividade da terra.

O segundo tipo - investimentos em bens de produção(como tratores, máquinas agrícolas, arados, ceifadeirasetc.) - tem o poder de substituir mão-de-obra: são téc-nicas desenvolvidas com essa fmalidade, em centros ondeexistem problemas de suprimento adequado de trabalha-dores. São técnicas mecânicas que exigem grande dis-pêndio de capital fixo e que aumentam consideravelmenteos custos fixos do setor.

Pode-se, portanto, classificar esses dois tipos detécnicas como poupadoras de mão-de-obra e de ter-ra.

Sempre que a modernização implicar o uso de fertili-zantes, sementes selecionadas, etc., ao contrário de gerardesemprego, sua adoção implica a necessidade de maior

Abllorção de mão-de-obra

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absorção de mão-de-obra em todas as fases da cultura -do preparo da terra ao condicionamento da colheita. Istose dá pelo fato de ser necessário certa quantidade de ho-mens para operar as máquinas polvilhadeiras de inse-ticidas, espalhar o adubo, efetuar o plantio com as semen-tes selecionadas etc.

O alcance de elevados índices de produtividade nosetor agrícola não está necessariamente condicionado aqualquer regra de proporcionalidade entre população totale população rural de uma região. O uso indiscriminado deuma tecnologia intensiva de capital leva a um falso au-mento de produtividade: eleva-se a produção por homem edeve-se lembrar que foi adicionado ao processo produtivooutro fator de produção (capital). Na realidade, a utili-zação desta tecnologia está conduzindo a uma substituiçãodo fator de produção mão-de-obra pelo capital. Esteaumento da produtividade de mão-de-obra em função dasubstituição de fator di, produção não traz "considerá-veis" aumentos de salários, já que se mantém no sistemaoferta elástica de mão-de-obra. O aumento da produtivi-dade deve ser visto sob a crescente relação produto/área.O aumento desta relação reflete o grau de modernizaçãoda agricultura.

O aumento da, relação produto/área depende funda-mentalmente de variáveis como qualidades de sementes,utilização de fertilizantes, grau de educação da mão-de-obra empregada no setor agrícola, irrigação etc. O incre-mento na relação área/homem empregado depende funda-mentalmente da mecanização agrícola. Se se eleva o graude mecanização da economia não significa, necessaria-mente, que haverá um incremento na relação produto/área, por ser esta relação muito pouco sensível ao nível demecanização. Em resumo, teríamos duas formas de elevara produção por homem, dependendo da tecnologia que seutilize. Ou investir em tecnologia que aumente a produçãopor ul"Lade/área (sementes, fertilizantes, educação, irri-gação etc.), ou investir em mecanização na agricultura,fazendo com que cada homem cultive uma quantidade deterra maior, ainda que a produtividade por hectare nãocresça.

A utilização de uma ou outra tecnologia depende dadisponibilidade relativa dos fatores utilizados no processoprodutivo. Basicamente, vamos encontrar dois fatores queditam a tecnologia a ser utilizada. Muitos dos países quepossuem uma alta relação produto/área são países que têma terra como fator estritamente escasso, como Japão,China e Coréia, e, por outro lado, com uma abundânciarelativa de mão-de-obra bastante grande. Esses países tive-ram que desenvolver tecnologia de aumento da produçãoagrícola que utilizasse um fator abundante, que seria amão-de-obra, e poupasse o fator escasso, que seria o fatorterra. A tecnologia que foi induzida para poder aumentara produtividade da agricultura nesses países foi exata-mente a tecnologia poupadora de terra.

No entanto temos países, como os Estados Unidos, aNova Zelândia e a Austrália, onde existe abundância rela-tiva de terra e escassez relativa de mão-de-obra, alcan-çando nível de mecanização bastante elevado. Mesmo

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sendo países com abundância relativa de terra, possuemalta relação produto/área.

A difusão e a adoção de tecnologia moderna depen-dem de uma série de fatores: facilidade de crédito, capaci-dade gerencial dos empresários agrícolas e disponibilidadede conhecimentos técnicos e de recursos materiais dosagricultores. São estes fatores imprescindíveis ao processode modernização da agricultura de qualquer país em fasede desenvolvimento. Quais os canais que deverão ser utili-zados pelo Governo no sentido de eliminar estas barrei-ras? Evidentemente, só poderão ser eliminadas pela uti--lízação intensiva e eficiente dos institutos de pesquisas(como: orientação técnica, suprimento de bens de produ-ção, prestação de serviços, fiscalização e controle), créditoagrícola, assistência, educação etc.

A modernização da agricultura pode-se constituirnum instrumental extremamente valioso no sentido decorrigir os desequilíbrios regionais e promover um desen-volvimento econômico harmônico. Deve funcionar, tam-bém, eomo instrumental valioso na distribuição de rendacom conseqüente incorporação ao mercado interno consu-midor do homem do campo, hoje marginalizado do pro-cesso de desenvolvimento econômico, pois um setor agrí-cola forte será capaz de formar a base para o crescimentoauto-sustentável pela indução a um grande segmento daindústria que lhe supra as necessidades de bens de pro-dução e insumos às indústrias de bens de consumo paraque forneçam à população rural as utilidades que se tor-nam indispensáveis no nosso tempo. Para que se possa.alcançar este objetivo, há necessidade de aumento da pro-dução através do aumento de produtividade, que poderáser alcançado com a modernização dos meios e instru-mentos de produção. Quanto maior a produtividade dosetor, maior será o poder aquisitivo, maior o mercado paraos produtos não-agrícolas, maior a taxa de crescimento doemprego urbano.

6_ O CRESCIMENTO DA DEMANDA DEPRODUTOS AGRfCOLAS

O modelo "clássico" de desenvolvimento econômico ba-seado na hipótese de que a expansão do setor capitalistageraria uma absorção crescente de mão-de-obra excedentedo setor agrícola tradicional a níveis mais elevados de salá-rios foi incompatível com a realidade brasileira. Temos,hoje, excedente de mão-de-obra e em conseqüência níveisde salários muito baixos. A oferta de mão-de-obra man-tém-se elástica nas zonas rurais e o desemprego e o subem-prego são marcantes nos centros urbanos, pois a taxa decrescimento do emprego no setor secundário está muitoaquém da taxa de crescimento dos centros urbanos, istoporque não existe uma relação proporcional entre cresci-mento da produção e crescimento do emprego. Se tal re-lação existisse o emprego na indústria manufatureira esta-ria crescendo em tomo de 15% ao ano. Esta relação nãoexiste em conseqüência da adoção de processos produtivosmais evoluídos tecnicamente e pouco absorvedores de

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mão-de-obra. A própria indústria manufatureira compor-ta-se como agente desempregador ao substituir a capaci-dade instalada por processos produtivos mais modernos emais eficientes.

O resultado desta excessiva teeniflcação caracteri-zou-se pelo restrito mercado consumidor, pois, em 1972,mais de SO% da população ocupada do País ganhavam atéum salário mínimo mensal. Apesar de o mercado consu-Imidor brasileiro ser relativamente pequeno, em termos:absolutos é bastante expressivo. Conseqüentemente, aaceleração do progresso econômico tem-se dado num pro-cesso de diversificação de produtos para as classes màísfavorecidas ao invés da difusão dos produtos existentes.

Enquanto os salários das classes trabalhadoras menosfavorecidas têm sido flexíveis para baixo (caracterizan-do-se por uma excessiva perda de poder aquisitivo), ossalários dos trabalhadores qualificados têm apresentadocrescimentos reais acentuados fazendo com que o "dife-rencial salarial" entre os dois níveis de qualificação tor-ne-se ainda mais evidente.

Por que este achatamento nos níveis salariais dos tra-balhadores menos qualificados? O seu único objetivo seriao da contenção da espiral inflacionária ou tal políticaestaria ligada a um programa de emprego? Seria desne-cessário uma política de achatamento salarial dos traba-lhadores menos qualificados, para contenção de uma in-flação de demanda, uma vez que o poder aquisitivo destafaixa de população estaria voltado para aquisição de bensde consumo ao nível de sobrevivência. O máximo quepoderia ser feito seria a estagnação destes salários. Pareceque esta política de declínio da taxa salarial do traba-lhador estava voltada, realmente, para um "programa deemprego", pois a taxa de desemprego caiu, mas o empregodisfarçado aumentou, no período 1968/1972.

Diante desta política salarial dois "mercados consu-midores" específicos foram criados: o primeiro, consti-tuído pela minoria, beneficiada pela concentração derenda e consumidora de produtos industrializados, permi-tindo uma aceleraçlo na taxa de crescimento do Pffi e osegundo, constituído pela máioria, não participando domercado de produtos industrializados e conseqüentementealheios aos benefícios criados pelo "modelo de desenvol-vimento econômico brasileiro".

Vários estudiosos têm apresentado sugestões para oproblema de desemprego no Brasil. Evidentemente, o pro-blema não se prende, exclusivamente, ao desemprego, poisacreditamos ser o subemprego e o emprego disfarçado osmaiores problemas porque são estes os fatores limitativosdo mercado consumidor interno, gerando baixo poderaquisitivo para a maioria da população.

Na realidade, o setor agrícola nunca proporcionou ummercado em expansãO para os produtos não-agrícolas. Umaumento da produtividade do setor agrícola iria gerar sa-lários mais elevados em virtude de uma utilização maisprodutiva da mão-de-obra, criando, assim, um mercadopara compra de bens do setor nlo-agrícola.

O atrofíado mercado consumidor interno não só deprodutos ·industrializados mas, também, de produtos agrí-

colas é uma conseqüência dos baixos salários da maiorparte da população ocupada no País. A ampliação dasclasses médias urbana e rural constitui, hoje, uma neces-sidade imperiosa para a aceleração do processo de indus-trialização e criação de economias de escala.

A dinamização da produção de diversas culturas pro-porcionará ao País economia de divisas (como o caso detrigo) e maiores entradas de divisas (como o milho, arroz,.soja, cacau, mate, frutas, açúcar etc.), mediante um esfor-ço de aumento de produtividade do setor, gerando podercompetitivo. no mercado internacional e ampliando asoportunidades de empregos mais produtivos na economia.A ampliação das oportunidades de empregos mais produ-tivos na economia é o fator mais relevante para a dinami-zação do mercado consumidor interno para produtosindustrializados e produtos agrícolas.

A insuficiência de mercado consumidor foi conse-qüência de uma política voltada, em potencial, para a di-namização do parque industrial altamente absorvedor decapital e pouco absorve dor de mão-de-obra, deixando aocompleto abandono uma política de aumento de produ-tividade e criação de uma eficiente infra-estrutura de co-:mercialização e modernização do setor agrícola.

Não se pode negar a notória exclusão das massas ru-rais e grande parte da população urbana do mercado deprodutos manufaturados e que dentro das condições pre-valecentes dificilmente a industrialização brasileira p0-derá alcançar elevados índices de produtividade através decriação de economia de escalas para ter condição de com-petição, sem protecionismo, no mercado internacional.

A expansão da procura é o fator expressivo e inerenteà aceleração do nível de atividade econômica para os di-versos setores do sistema. Daí a necessidade de se manterem nível crescente a capacidade de poder aquisitivo damassa populacional.

7. VIABILIDADE DA MODERNIZAÇÃO - UMADISCUSSÃO DA TESE DE R. M. PAIVAIO

Paiva reconhece a necessidade de modernização do setoragrícola, mas estabelece algumas restrições quanto à di-fusão do processo:

"O processo de modernização está preso a um meca-nismo de autocontrole, pois os elementos de desestímulo(quedas nos preços do produto e dos fatores) são criadospelo próprio crescimento da modernização (end6genos aoprocesso); existe um limite ou "grau máximo" na di-fusão da modernização, imposta pelo mecanismo de auto-controle; a difusão da modernização, após alcançar o graumáximo, fica basicamente na dependência do crescimentodo setor não-agncola."!'

Sua análise desenvolve-se num campo de competiçãoentre as vantagens e desvantagens da'utílízação de técnicasmodernas versus técnicas tradicionais. "Havendo difusãode tecnologia moderna, ocorre aumento de produção,queda de preços dos produtos (os produtos exportáveisconstituem um caso especial, pois seus preços, sendo esta-

Absorção de mêo-de-obr«

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belecidos pelo mercado externo, não sofrem queda) e,posteriormente, com maior difusão, queda também de.preços dos fatores tradicionais (mão-de-obra e terra); aoocorrer a queda dos preços dos produtos, a vantagem da'tecnologia moderna toma-se menor; e, a seguir, ao ocorrertambém a queda dos preços dos fatores tradicionais, avantagem da tecnologia moderna toma-se ainda menor,podendo mesmo tomar-se desvantajosa.".12

"Apesar das quedas de preços dos produtos e dosfatores tradicionais, que fazem com que a técnica moder-na torne-se economicamente menos vantajosa (ou desvan-tajosa) em relação à tradicional, tem-se um 'freio' oudesestímulo do processo, uma vez que se reduz o númerode agricultores interessados em modernizar." 13

"Face a esses elementos, toma-se forçoso reconhecerque a difusão da modernização não pode processar-se li-vremente pelos agricultores. Se o crescimento da produçãoe da força de trabalho na agricultura estão de certo modopresos ao crescimento do setor não-agrícola, a difusão damodernização (com aumento de produção e redução demão-de-obra) não poderá deixar de estar também presa aodesenvolvimento desse setor,"!"

Quanto à participação no mercado internacional,Paiva acredita que "os produtos de exportação oferecemmelhores possibilidades para a ampla modernização dosetor agrícola dos países em desenvolvimento. Esses pro-dutos estão menos sujeitos ao mecanismo de autocontrole,pois seus preços não caem com a difusão da modernizaçãoe o aumento de produções (considerando a ação individualde um país pequeno exportador). Pode-se, assim, ampliara modernízação sem prejudicar o nível de renda dos agri-cultores que se modernizam." 15

''Não é fácil, porém, incrementar as exportações agrí-colas. Os preços no mercado internacional refletem a efi-ciência de produção dos principais países exportadoresque, em geral, são países economicamente desenvolvidos ecom agricultura altamente produtiva. É o caso dos EstadosUnidos, Canadá, Austrália e outros, que dispõem de umeficiente setor industrial capaz de fornecer insumos mo-dernos a baixo custo e de uma infra-estrutura comercialque permite colocar seus produtos no mercado a preçosbaixos." 16

Ap6s a apreciação das hipóteses básicas de Paiva,vamos tecer alguns comentários a respeito daqueles fatores.que consideramos de caráter primordial. O primeiro delesseria o que se refere ao problema da absorção da mão-de-obra pelo setor agrícola. Paiva salienta o processo hístó-rico de liberação de mão-de-obra como fator crttico queimpede o processo de modernização, pois "a capacidadedesse setor de absorver os acréscimos da produção agrícolae os excedentes de mão-de-obra rural toma-se, em certomomento, o elemento controlador da difusão da novatecnologia". 17

O problema da absorção de mão-de-obra, para o casobrasileiro, vem associado a dois outros problemas que sereferem à estrutura agrária e à demanda de produtos agrí-colas, tanto nos centros urbanos quanto na zona rural.

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Devido ao esforço de generalização que Paiva apresenta noseu modelo (deveria ser aplicado a qualquer país subde-senvolvido), ele se torna parcial e estático quando adapta-do à nossa economia.

A modernização da agricultura brasileira deve ser ana-lisada dentro de um processo dinâmico e integrado. Àmedida que se introduz o mecanismo de autocontrole equeda dos salários no setor agrícola a análise toma-se par-cial, pois está-se considerando de maneira independente osetor. Na realidade, o setor agrícola está integrado a ou-tros setores produtivos e conjuntamente formam o sis-tema. Quando ocorre um aumento de renda no setor agií~cola esta população passa a consumir mais, não somenteprodutos agrícolas como também produtos industriali-zados. Euma vez que tenhamos uma estrutura produtivaindustrial que satisfaça as necessidades de consumo destapopulação ao seu nível de renda, estamos dinamizando osetor industrial tradicional e conseqüentemente a taxa decrescimento de emprego na zona urbana, devido a umpotencial mercado consumidor, se levarmos em conside-ração que, em 1972,52% da população economicamente.atíva do País recebem até um salário mínimo18 mensal eque grande parte desta percentagem encontra-se nas zonasrurais. Ainda mais, o forte aumento da produtividade agrí-cola engendrará massa substancial de recursos a serem uti-lizados na ampliação do emprego urbano.

Esses incrementos na renda não se destinam somenteao consumo de bens industrializados, mas também ao con-sumo de produtos alimentícios se levarmos em conside-ração a insuficiência alimentar não somente qualitativacomo também quantitativa de grande parte de nossa popu-lação. Portanto, as elasticidades renda e preço não devemser tão baixas como afirma Paiva, principalmente quandoconstatamos que a disponibilidade interna per capita deprodutos da agricultura apresentou acentuado declínio noperíodo 1960/74. Este acentuado declínio prova que aagricultura mostrou-se impotente na manutenção de umaoferta de produtos a níveis de preços compatíveis com onível de remuneração de grande parte da população eco-nomicamente ativa. A liderança do índice de preços dosprodutos agrícolas tem sido notória, principalmente nosúltimos anos. Esta liderança do índice de preços dos pro-dutos agrícolas gerou sensível perda de poder aquisitivopara aquela faixa de população de menor remuneração.

Esta análise seria válida mesmo para países que man-tivessem uma estrutura equitativa da distribuição da terra.Para a economia brasileira ela se mantém reforçada, umavez que existe excessiva concentração de terra. Para o úl-timo Censo, as propriedades com menos de 10ha absor-viam 40% da mão-de-obra empregada no setor e detinhamapenas 3% da área ocupada por estabelecimentos. Paratodos os grupos de estabelecimentos com áreas superioresa 10ha houve queda na participação relativa da absorçãode mão-de-obra, no período entre 1950/1970. Existe, por-tanto, uma correlação inversa entre tamanho do estabele-cimento e absorção de mão-de-obra. Quanto maior o esta-belecimento menos mão-de-obra, percentualmente, eleabsorve. Esta correlação inversa mostra-nos a utilização

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intensiva de técnicas de capital nos médios e grandes esta-belecimentos em substituição à mão-de-obra.

Dada esta estrutura da propriedade da terra, parece-nos bastante difícil a incidência do mecanismo de auto-controle em virtude de um acelerado processo de moderni-zação. Poderíamos dividir em dois grandes grupos a estru-tura da propriedade da terra, ou seja, os estabelecimentoscom menos de 10ha e os estabelecimentos com mais de10ha e verificar os resultados posteriores à modernização.Havendo um aumento de produtividade, por área, igual a100% para o primeiro grupo (estabelecimentos com menosde lOha) o produto total irá aumentar em taxa percentualrelativamente baixa, pois este grupo detém apenas 3% daárea ocupada e, por outro lado, 40% da mão-de-obra em-pregada do setor se beneficiariam de maneira sensível. Pa-ra o segundo grupo (estabelecimentos com mais de lOha),que reflete uma substancial área cultivada modernizada,além de acelerar o processo de modernização para os esta-belecimentos restantes, deve-se eliminar os incentivos parautilização de máquinas e equipamentos substituidores demão-de-obra nas regiões onde esta seja abundante. Destamaneira, a difusão da modernização para o segundo gruponão geraria incrementos violentos no produto total e osacréscimos no produto total decorrentes da difusão damodernização seriam absorvidos pela expansão do mer-cado consumidor interno e por maior volume nas exporta-ções, em decorrência da redução nos preços.

Quanto ao mercado internacional, nossa pauta de ex-portações poderá ser amplamente diversificada, levando-seem consideração as perspectivas favoráveis da demanda dediversos produtos. Evidentemente,tal expansão s6 poderáser realizada a níveis de produtividade bastante elevados,pois são os países desenvolvidos os maiores concorrentesneste mercado. É este mais um fator estimulante para adifusão do processo de modernização e uma grande fontegeradora de emprego. •

I Tendo em mente as noções de dualismo e de desemprego dios-farçado na agricultura, é este um modelo clássico de crescimento.de dois setores em que a economia se divide: um setor capitalista eum setor de subsistência. O setor capitalista expande-se medianteo emprego de mão-de-obra barata que extrai da agricultura.

I..ewis, Arthur. Desenvolvimento econômico e oferta limitada demão-de-obra, In: Agarwala, A. N. A economia do subdesenvol-vimento. Forense, 1969.

2 O'Brien, F. S. & Salm, C. L. Desemprego e subemprego noBrasil Revista Brasileira de Economia, v. 24, n. 4, p. 94, 1970.

3 O'Brien, F. S. & Salm, C. L. op. cito

4 Para fins de computação de regime de tempo de trabalho, sãoconsiderados "motivos econômicos" pelo PNAD: escassez detrabalho, falta de material, reparo nas instalações de equipa-mentos, etc. .

5 Obs: Para toda a análise exclui-se a faixa de população de10/14 anos e não são consideradas as pessoas que trabalharam hámais de cinco anos e nem aquelas que nunca trabalharam e estãodesempregadas.

6 Considerando-se somente os produtos das lavouras, a disponi-bilidade interna per capita caiu de CrS 69,21, em 1960, paraCrs 54,96, em 1970, em cruzeiros de 1965/67.

7 O rendimento médio da cultura de arroz no Brasil, em 1972,era de 1,47t/ha enquanto que na China era de 3,09t/ha e noJapão 5,85t/ha. Conjuntura Econômica, v. 28, n. 7, p. 126,jUl./74.

8 Estas distorções referem-se ao desemprego, à perda de poder'aquisitivo por grande parte da população ocupada do País e oconseqüente aumento no grau de concentração de renda pela mi-noria, citados em itens anteriores.

9 Strauss, Estevam. Metodologia de evaluación de los recursosnaturales. Antecipos de Investigación. 1969 (Cuadernos delILPES, série 11, n.o 4 ).

10 Paiva, Ruy Willer. Modernização e dualismo tecnológico naagricultura: uma reformulação. Revista lPEA, v. 5, n. 1, jun./75.

11 Paiva, Ruy Willer. op. citop. 130/1.

12 Id. ibid. p. 131.

. 13 Id. ibid. p. 131.

14 Id. ibid. p. 132.

15 Id. ibid. p. 157.

16 Paiva, Ruy Willer. op. citop. 158.

17 Id. ibid. p. 131.

18 Dados originais extraídos do PNAD - 4.0 trimestre de 1972(Fundação IBGE).

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