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09/08/17 CAPA

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09/08/17 CAPA

09/08/17 BRASIL CONFIDENCIAL

Aval de TemerEsqueça o relatório do

deputado petista Vicente Cândido.Qualquer tentativa real de votaruma reforma política não passarápelo seu texto. O presidente daCâmara, Rodrigo Maia, negociacom líderes formais e informais avotação de um projeto sustentadoem dois pontos: a implantação doDistritão e a adoção de uma suavecláusula de barreira. Em maio de2015, o Distritão foi rejeitadopelo placar de 267 x 210. Masagora, os aliados de Maiatrabalham com o apoio do PSDB,que tem 47 votos. Há dois anos,os tucanos retiraram o apoio naúltima hora. No Distritão, sãoeleitos os mais votados de cadaestado. Pelo cronograma de Maia,a Câmara aprovaria as mudançasem agosto, para que o Senado voteem setembro. Se isso ocorrer, asmudanças serão aplicadas naseleições de 2018.

O caminhoPara aprovar o Distritão, Maia

se comprometeu com o PSDB queesse modelo será uma transiçãopara o voto distrital misto. Osdeputados seriam eleitos peloDistritão em 2018 e pelo sistemamisto a partir de 2022. O Distritãosepultará as coligações naseleições proporcionais, pois serãoeleitos os mais votadosindependente da votação dospartidos. Esse sistema favorece oscandidatos mais conhecidos.

Dindin

Os defensores do Distritãoargumentam que ele resultará naredução do número de candidatos.Os partidos não precisarão ter umaenormidade de candidatos paraatingir o quociente eleitoral. Commenos postulantes, será possívelfinanciar a eleição com um FundoPartidário de R$ 3,5 bilhões. Oúltimo pleito custou R$ 7 bilhõesna contabilidade oficial.

Rápidas* Apesar da gritaria dos que

votaram com o presidente Temer,o PSDB não perderá espaço naEsplanada. O Planalto espera apoeira baixar. Os tucanos sãoconsiderados votos garantidos nareforma da Previdência.

* Os líderes governistas estãoirados com o relator da MP doRefis, deputado Newton CardosoJunior. Ele incluiu em seu relatóriotantas concessões para as empresasque a receita prevista pelaFazenda, de R$ 13 bilhões, cai paracerca de R$ 1 bilhão.

* A Fazenda anuncia nestasemana nova medida desimplificação tributária. Ela vaipermitir que numa única guia, asempresas façam o pagamento deoito impostos, mais ascontribuições para o INSS e oFGTS. O novo sistema foidesenvolvido pelo Serpro comfinanciamento do Sebrae.

* O Planalto já definiu seuprimeiro desafio. Retomar opatamar de apoio na Câmara quetinha até 17 de maio, antes de

tornar-se público o conteúdo dadelação de Joesley Batista. Ogoverno calculava que, naquelaépoca, tinha 330 votos.

A turma do Bolsonaro

Nas manifestações peloimpeachment contra a presidenteDilma, em 2015, desfilou naAvenida Paulista o movimentoSOS Forças Armadas. Ele defendiao retorno dos militares ao podercomo um antídoto contra acorrupção. Há meses,simpatizantes da proposta colocamfaixas no Eixão Monumental deBrasília, a partir das 17 horas,quando os funcionários públicoscomeçam a sair do trabalho.Buzinas.

Retrato faladoO presidente do Sebrae, Afif

Domingos, esteve com opresidente da Câmara, RodrigoMaia, para tratar da reformapolítica. Filiado ao PSD, Afifapresentou a proposta para acabarcom a remuneração dosvereadores nos municípios commenos de 50 mil habitantes. Nestascidades, os vereadores se reúnema cada 15 dias. A mudança deverepresentar uma redução de custosentre R$ 8 e R$ 9 bilhões ano.

09/08/17

O custo políticoMuitos governistas estão

começando a ficar preocupadoscom a agenda do governo. Eles jávotaram a reforma trabalhista (296votos a favor), salvaram opresidente Temer (263 votos) eenfrentam a desconfiança ampla,geral e irrestrita por conta daoperação Lava Jato. E, ainda, terãode votar a reforma da Previdência.Eles reclamam que estãosangrando há um ano das eleiçõesem que vão disputar a reeleição.Por isso, há cientistas políticosprevendo que chamará a atenção aquantidade daqueles que não vãoconcorrer nas eleições de 2018.Para se safar de mais desgaste,alguns começam a dizer que sóvotam a reforma da Previdência seela for radical, sem concessões.

Toma lá dá cá

Ricardo Trípoli (SP), líder doPSDB

O PSDB condenou opresidente Temer?

Nós não julgamos o presidente,adotamos uma posição ética. Nãofaz sentido não permitir que oprocesso continue. Caberia ao STFjulgar os indícios e fazer seujulgamento. Nós apenas votamos

admitindo que isso fosse feito.

Qual sua opinião sobre aatitude dos demais aliadospedindo os cargos do PSDB?

Os ministros recebem umadelegação do presidente daRepública. Quem nomeia e quemdemite é o presidente. Ele é quemsabe o que é melhor para o governodele. O presidente do partido, osenador Tasso Jereissati, tem sidomuito claro quanto a isso. Nós nãoestamos atrás de cargos, nósestamos preocupados com oBrasil.

A linha adotada nessa votaçãoafeta o posicionamento dostucanos na reforma daPrevidência?

Não. De forma alguma. Nessetema a bancada está unida. Nóssomos a favor das reformasestruturantes, como a daPrevidência e a tributária. Sãoquestões que interessam ao país.Na Previdência, há itens queprecisamos negociar. Quemacompanha essa discussão é odeputado Marcus Pestana.

Baixando a bolaPelo menos três senadores do

PT não vão disputar a reeleição em2018. O escândalo da Petrobraslhes retirou qualquer condição dejogo: Gleisi Hoffmann (PR),

Lindberg Farias (RJ) e HumbertoCosta (PE) vão concorrer a umavaga na Câmara. Se depender davontade de Lula, o vereadorEduardo Suplicy (SP) tambémconcorrerá à Câmara, emboraqueira voltar ao Senado.

Pedro DiasSegurar a barra

A direção petista acredita queestes senadores seriam puxadoresde voto. Eles poderiam segurar abarra, pois ela avalia que abancada, de 58 deputados, deveficar menor na próximaLegislatura. As candidaturas aoSenado, em estados governadospelo PT, serão mantidas, como noCeará, onde José Guimarães, querdesbancar o senador JoséPimentel.

É a criseAdriano Machado / AG. ISTOEA CNI quer que o BNDES abra

uma linha de crédito especial paraa indústria. Pesquisa feita pelaentidade constatou que 47,7% dasempresas não tem dinheiro paraatender seus compromissos. Areivindicação será oficializada nasexta-feira, em São Paulo, pelopresidente da entidade, RobsonAndrade, em reunião com 44associações setoriais.

09/08/17 RICARDO BOECHAT

Falta compromisso

Médico, senador e ministro,Jamil Haddad fez muito pela saúdepública. Patrocinou a fabricaçãode remédios genéricos no País, porexemplo. No Rio de Janeiro, oInstituto de Traumatologia eOrtopedia que leva o seu nomenão honra o homenageado.Relatório do TCU revelou elevadasuspensão de cirurgias porqueanestesistas da unidadeprivilegiam o trabalho em clínicasparticulares. “Inominável descasocom o serviço público”, frisou oministro-relator Lucas Furtado,para quem o quadro se agrava pelademora do Ministério da Saúdeem processar os faltosos. Segundoo TCU, o problema vem de 2014,afeta a produtividade e prejudicaa população.

BrasilMarcha lentaResponsáveis por Pastas com

recursos cada vez mais escassos(diante das dificuldades dogoverno na área fiscal) e semprojetos de peso para executar, osministros de Michel Temer sãovistos em Brasília, apenas de terçaa quinta-feira – tal como muitosparlamentares. O quadro se agravaporque Temer, empenhado em sedefender, tem dado pouca atençãoaos Ministérios.

JBSNão consegueFez dois meses que a Advocacia

Geral da União tenta conhecer ostermos do acordo de leniênciaentre o Ministério Público Federale a JBS, envolvendo cerca de R$10,3 bilhões. Quer verificar ametodologia e se o valor assegurao ressarcimento de dano aos cofrespúblicos. A alienação departicipações acionárias daholding J&F, controladora da JBS,só aumentou a apreensão na AGU.Para o órgão não cabe ao MPFdefinir o destino do valorarrecadado.

Justiça do TrabalhoSecandoMinistros da Seção de

Dissídios Coletivos do TST estãoa cada dia com menos trabalho. Areforma da CLT, que vigora emnovembro, anulou os acordoscoletivos. Ao fim de um ano serãorefeitos de A a Z. Nada derenovação automática dascláusulas sociais, como eracomum. Além disso, o STF decidiuque agora será a Justiça comum enão a trabalhista a julgar aabusividade de greve deservidores públicos celetistas. Ouseja, a Seção de DissídiosColetivos atuará com ares deSTM, tribunal conhecido pelaspoucas sentenças que emite.

VarejoRecuperação lentaO comércio brasileiro deve

terminar 2017 com recuo de 0,4%

nas vendas, em relação ao anopassado, projeta a AssociaçãoComercial de São Paulo. Oresultado é mais otimista do que ode maio, quando a entidadeesperava retração de 1,4%. Ocálculo da entidade considera oitoramos do varejo restrito, comohipermercados, combustíveis einformática, desconsiderando avenda de automóveis e de materialde construção.

PolíticaQuem mandaHoras antes da sessão histórica

da Câmara dos Deputados querejeitou a denúncia da PGR contraMichel Temer, o senador OttoAlencar (PSD-BA) falou com opresidente, graças ao ministroGilberto Kassab, de seu partido.Foi sobre a paralisação deempréstimo do Banco do Brasilpara o Estado da Bahia, da ordemde R$ 600 milhões. Ouviu que onegócio melou a pedido do DEM– legenda do prefeito de Salvador,ACM Júnior, e do deputadoRodrigo Maia. O governadorPaulo Souto é filiado ao PT.

Lava JatoA especialistaA prisão pela Lava Jato do ex-

secretário de Obras do RioAlexandre Pinto não é o único fiodesencapado para Eduardo Paes.Na cadeia há mais de um mês,Jacob Barata Filho, dono da maiorfrota de ônibus da cidade,contratou os serviços dacriminalista carioca FernandaTórtima, especialista em delações

09/08/17

premiadas e que já advoga paracelebridades como Eduardo Cunhae Sergio “Transpetro” Machado.Os procuradores federais queconduzem as investigações estãoconvencidos de que o ex-prefeitofoi favorecido pelo esquema decorrupção mantido peloempresário.

MedicamentosQuanto?Um mistério ronda o lançamento

no Brasil do Spinraza, primeiroremédio no mundo para otratamento da síndrome de atrofiamuscular espinhal. Quanto cobraráa Biogen Produtos Farmacêuticos?A Anvisa vai liberar o registro já,já. Estima-se que 7 mil pessoastomariam o Spinraza aqui. NosEUA, cada dose custa R$ 430 mil.Como são necessárias seis noprimeiro ano e, depois, três a cadaquatro meses, o valor ficaastronômico. Ou seja, omedicamento só terá grande uso emnosso País se o laboratório, talcomo fazem outros fabricantes deprodutos inovadores, der gordodesconto ao Ministério da Saúde.O preço dos remédios modernosassusta todos os sistemas de saúdedo mundo. Calcula-se quedesenvolver uma nova moléculacuste U$ 1 bilhão – bem menos doque a Biogen lucraria apenas nomercado brasileiro.

EscândaloRio-LisboaTambém caçado pela Operação

Ponto Final, que expôs as relações

promíscuas entre políticos emagnatas do transporte público noGrande Rio, o português JoséCarlos Lavouras é pressionado porfamiliares a voltar de Lisboa, ondese esquiva do mandado de prisãoexpedido contra ele em julho. Tema opção de ficar na terra natal parasempre, mas isso o afastaria docomando das muitas empresas quepossui no Brasil. Os parentesquerem que ele se entregue e aceitecontar o que sabe em troca depenas reduzidas.

STFReta finalTodas as ações envolvendo o

uso do amianto no Brasil serãojulgadas pelo STF na quinta-feira10. Mais de 60 países já banirama produção e o consumo da fibra,considerada cancerígena pelaOMS, independentemente deexposição e da espécie geológica.Aqui já se fabrica em larga escalao material sintético substituto, oque favorece o banimento. Em2008, o supremo julgou legal o fimdo amianto por lei estadual, aoanalisar decisão do Governo deSão Paulo. O placar foi 7 x 3. Masações sobre o tema tramitam naCorte desde 2005.

Rio de JaneiroMarketing políticoA julgar pelos gastos da

Assembleia Legislativa, o estadodo Rio saiu da crise. Os deputadosacabam de autorizar a contrataçãode uma empresa de publicidadepara cuidar da imagem da Casa.

Gastarão R$ 12 milhões nainutilidade. “Como se comunicarcom um público que não estádisposto a nos ouvir?”, pergunta orespeitável presidente da Alerj,Jorge Picciani, citado na OperaçãoQuinto do Ouro, que investigafalcatruas no Tribunal de Contasdo Estado.

PlanaltoCom fôlegoEliseu Padilha foi decisivo para

Michel Temer. Ao contrário doperíodo recente, quando pareciamais na dele, talvez em função dacirurgia a qual se submeteu, nasemana passada foi vital paraconvencer deputados a ficaremcom o Governo. Vigor notadotambém quando Michel Temer foijantar na casa do primeiro vice-presidente da Câmara dosDeputados, Fábio Ramalho. Osdois elevadores de acesso aoapartamento funcional quebraram:Padilha e o presidente subiramrápido, chegando com fôlegoinvejável para o papo político, quevarou a noite.

PoderExplicadinhoMuitos deputados não sabiam

que, se votassem “não”, MichelTemer sairia da Presidência daRepública. achavam que ele apenasresponderia ao processo. Coube amembros do PSDB, dentre os quaiso ministro Aloysio Nunes Ferreira,esclarecer que, se o voto fosse“não”, o peemedebista sairia depronto do Planalto.

09/08/17

Maduro perdeu os limites

Carlos José MarquesO que ocorre na Venezuela nos últimos tempos é

de uma aberração sem tamanho. Um alerta dramáticode como ditadores – de qualquer vertente política –ainda podem impor, na base da força, regimes insanose sanguinolentos à população. Mais de uma centenade pessoas já morreram covardemente, abatidas a tirospor policiais e tropas de choque, por gritar contra asbarbaridades de Nicolás Maduro. Assassinatosautorizados à luz do dia, nas ruas, sem punições, como endosso do Estado. É a aniquilação completa dademocracia naquele país. Os flagrantes chocam.Revoltam. Hordas de habitantes em filas sem fim paracomprar remédio, comida, bens essenciais que já nemexistem para todo mundo. Empresas batendo emretirada, receosas de terem seus negóciosincorporados ao espólio estatal, sem aviso. Se nadafor feito, com a intervenção da ONU, do Mercosul ede outros organismos multilaterais, a nação caminhapara a inviabilidade. Social, política e econômica. Omarco definitivo do autoritarismo perverso deMaduro se deu na semana passada com a imposiçãode uma constituinte falsa para rasgar direitos gerais.Representou, na prática, a destruição das liberdadescivis, acompanhada da perseguição à imprensa e dadissolução do Congresso legitimamente escolhido.Uma vergonha que chocou o mundo civilizado eprovocou justas retaliações. Criada na base deeleições ilegítimas, inconstitucionais e impopulares– com uma participação ínfima de votos, arrancadosna base da chantagem e da ameaça junto a massas demanobra -, a constituinte serviu de pretexto para novosabusos. Com ela Maduro tenta, na verdade, sufocar aresistência a um governo que faliu. Ele extrapolou devez nesse último movimento. Destituiu as forçasopositoras. Prendeu os líderes adversários quecondenam seus métodos. Colocou a mulher e o filhopara legislar. Fez o diabo. Passa, daqui por diante, aadministrar sem qualquer suporte que não o das armas.Passeatas, greves gerais, quebra-quebra nas ruas dão

o tom da ebulição vivida ali. Empresários,trabalhadores, financistas e autoridades internacionaisse colocaram contra as decisões tomadas. Nem umplebiscito simbólico, realizado recentemente, e quelevou mais de sete milhões de venezuelanos a dizerem“Não” à constituinte demoveram o mandatário. Nessecontexto o país se aproxima perigosamente de umaguerra civil. Maduro atua como um déspota, umfascista sórdido que só mira o poder,independentemente das consequências caóticas quevem causando à população. A inflação anual, até ondeé possível realmente medir, ultrapassou os 700%.Aeroportos não funcionam mais. As companhiasaéreas estão suspendendo linhas regulares por temorde incidentes. O desemprego é gigantesco e o ritmode fechamento de empresas está batendo recorde sobrerecorde. A moeda local formalmente não existe mais.E a máquina pública parou por falta de recursos. Sómesmo obtusos governantes e partidários cegoscontinuam apoiando o sucesso de Chávez. Na esferaglobal, apenas Bolívia, Nicarágua e El Salvadorconcordaram com a medida. No Brasil, a líder petistaGleisi Hoffmann, que dá caudalosas demonstraçõesde ter perdido o senso sobre o que é democracia, nãoapenas aplaudiu Maduro como escreveu artigofavorável a suas decisões. Gleisi, para quem comandauma agremiação chamada de Partido dosTrabalhadores, desconsidera a vontade da maioria.Fecha os olhos aos crimes notórios do venezuelano.Usa de alegação furada e distorcida a ideia de quequalquer votação é válida, mesmo aquelas que nãopassam de torpe encenação. Há de se perguntar àilustríssima senadora: era exatamente isso que asenhora e os seus correligionários sonhavamimplantar no Brasil? A verdade é que escapamos porpouco. Na toada em que os governos Dilma e Lulasaquearam os cofres nacionais e implodiram com aeconomia, logo, logo chegaríamos lá. O impeachmentda petista interrompeu, no último minuto, um destinosemelhante e terrível também para os brasileiros.

EDITORIAL

09/08/17

Fabíola Perez, de Frankfurt,Alemanha

Especialista sênior emeducação do Fundo das NaçõesUnidas para a Infância (Unicef), obritânico Dominic Richardson, de41 anos, atua desde 2015 noInnocenti, o departamento daentidade dedicado a estudos sobreas relações entre educadores,escolas e as condições de vida dascrianças. Ele foi um dosconvidados para debater asconclusões do estudo global“Crianças na Terceira Idade –Uma visão de longo prazo para asaúde e o bem-estar”, realizadopela Economist Intelligence Unit(EIU) e apresentado recentementeem Frankfurt, na Alemanha. ParaRichardson, a geração que nascehoje com a expectativa de vivermais de cem anos – algo inéditona história da humanidade –, estáameaçada de sofrer com a falta deacesso à saúde e à educação dequalidade em todo o mundo. Naentrevista a seguir, ele diz que obem-estar das crianças é a grandepreocupação da atualidade epropõe ações dos governos, das

escolas e dos pais para mudar essecenário.

É possível afirmar que ascrianças que nascem hoje viverãocem anos ou mais?

É uma grande ambição. Oaumento na expectativa de vidadepende de fatores como o avançoda ciência e o desenvolvimentosocial. Muitas nações não possuemum sistema de saúde que atenda atodas as parcelas da população.Por isso, viver até os cem anos nãoserá uma realidade possível paratodas as pessoas.

As instituições estãopreparadas para absorver asdemandas dessa longevidade?

As oportunidades dedesenvolvimento foram muitodiferentes nos últimos anos. Ageração que viver por mais tempoenfrentará muitos desafios, e asinstituições não estão preparadaspara atender as necessidades desaúde, educação e bem-estar quese projetam para os próximostempos. Elas não estavampreparadas nem para atender asgerações anteriores. Em paísescomo o Brasil, manter um convêniode saúde é muito custoso. Oshospitais não conseguirãoabsorver toda a gama de pessoasque precisará desses serviços. Aspessoas não terão recursos paraarcar com os custos da saúde. Serápreciso pensar em soluções paraproblemas que nunca foram

solucionados. Precisamos de maishospitais. O nível de mortalidadeainda é muito alto em muitospaíses do mundo.

Como melhorar a expectativade vida em naçõessubdesenvolvidas?

Investindo em igualdade. Aomelhorar as oportunidades haveráaumento na expectativa de vida. Seo Brasil tivesse melhores escolas,melhores condições de saúde e ummaior nível de engajamento dospais na vida das crianças, aexpectativa de vida seria melhor.A desigualdade gera baixos níveisde educação e afeta a relação entrepais e filhos. Estudos mostram queem regiões mais pobres do Brasilhá maiores índices de gravidez. Àsvezes, crianças repetemcomportamentos dos pais. Se umdeles fuma por anos,provavelmente a criança tende arepetir esse comportamento e setornar um fumante. Alguns paismais participativos podem ser achave para que as crianças sedesenvolvam melhor. As escolastambém deveriam fazer campanhasmassivas para prevenção dedoenças. O engajamento entreescolas e responsáveis poderia serum bom caminho.

O contexto social influencia aeducação das crianças?

Sim. Na América Latina, porexemplo, crianças assistem àsaulas estressadas por causa da

ENTREVISTA

DOMINIC RICHARDSON

Não estamos preparados para viver 100 anos

09/08/17

violência. As escolas precisam serseguras. Se não forem, as criançasnão irão às aulas. Sem ir às aulas,elas não aprendem. A violênciafecha as escolas. As crianças dealgumas regiões do mundo sentemmedo de sair de casa. Em termosde educação, a segurança é muitoimportante. Em termos de saúde, ainsegurança gera uma condição deestresse. É uma situação muitofrequente em favelas, em áreasdominadas por conflitos ou pelotráfico. Para aprenderem bem,crianças precisam ao menos ter otrajeto casa-escola assegurado – ehoje isso não é possível. Asegurança deveria ser a principalpreocupação das escolas.

Como o senhor avalia aspolíticas de bem-estar social nasescolas em países emdesenvolvimento?

As evidências mostram que ogrande problema é a continuidade,porque essas iniciativas não sãoavaliadas ou monitoradassistematicamente. No longo prazo,ter escolas e um ambiente segurosignifica progresso social. A chaveestá em educar e prover trabalho,segurança e saúde para as novasgerações. Quando temos todosesses elementos significa que asociedade vive um processoevolutivo. Na Alemanha, porexemplo, não se fala em violêncianem em gangues nas escolas. OBrasil é um país rico, mas há umnível de desigualdade profundoque impede a evolução do bem-estar social. Não se pode pensarsomente em políticas contra aviolência, mas também em comocriar um sistema de prevençãoeficiente.

Os pais estão preparados paracriar essa nova geração do pontode vista da educação e da saúde?

Muitos pais são céticos sobre aqualidade do sistema de saúde eeducação nas escolas. Éimportante, porém, trabalharconceitos de educação e saúdefora dos centros de ensino. Emcasa, os pais são importantesinfluências na vida das criançaspara dar suporte à educação, e issopode ser um grande diferencial.Alguns comportamentos saudáveistambém podem ser passados paraos filhos. Quanto antes esse tipode influência for praticada dentrode casa, mais interessante seráconscientização da criança para asaúde.

Apesar da expectativa parauma vida com mais de cem anos,ainda existem altas taxas demortalidade infantil. Quais osfatores que ainda levam a isso?

O sedentarismo e a obesidadecolaboram para aumentar as taxasde mortalidade infantil, aumentama incidência de diabetes e doençascardiovasculares. As criançassofrem com a falta de qualidadedos alimentos. A má nutriçãotambém é um problema. É precisopensar em como melhorar asegurança alimentar, incentivar aprática de exercícios e esportesnas escolas. Por um lado, existempaíses como a África do Sulsofrendo com a desnutrição e poroutro, países como os EstadosUnidos, com um elevado númerode pessoas acima do peso. Existemaltos níveis de obesidade nosEUA, Canadá e Reino Unido. Namaioria dos casos, as populações

apenas compram alimentosprocessados, baratos e de máqualidade.

No caso de países emergentes,como o Brasil, como o senhoravalia o processo dedesenvolvimento social?

O Brasil conseguiu dar algunspassos na direção certa com oprograma Bolsa Família. Ascondições de acesso às escolasmelhoraram. O programaconseguiu prover o acesso àescola, mas, em termos dequalidade, o salto ainda não foisuficiente. O Brasil deveriacontinuar criando programas parainvestir em pessoas. É evidente queexistem diferentes condições emdiferentes estados brasileiros, masé preciso melhorar a qualidade daeducação nacionalmente. Épreciso criar uma segunda fase doBolsa Família, uma segundapolítica de assistência social. Nospaíses mais desenvolvidos, ossistemas dão ênfase à educação eà saúde e investem em estruturasociais.

Qual o papel do Estado nessaagenda?

Os países precisam investir empolíticas sociais e em capitalhumano para promover aigualdade. As campanhas decomunicação voltadas paracrianças e adolescentes precisamser mais bem direcionadas e atrairmais a atenção do público-alvo.Elas são necessárias, mas sozinhasnão serão suficientes. No sistemapúblico de saúde é precisopromover oportunidades paraquem não pode arcar com osgastos. Em relação à educação, a

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solução passa pelo treinamento deeducadores. O primeiro passo éconscientizar e convencer osgovernos a investir recursos eregulamentar políticas de saúde eeducação com impactos positivos.

As crianças conseguemimaginar o próprio futuro?

Crianças são muito criativas.Mas é importante ressaltar que nãoexiste igualdade de condiçõesentre muitos países. Não acho queas crianças tenham boas condiçõesno futuro. Se nada for feito, adesigualdade continuará . Algumascrianças não têm chances de vivernem metade de cem anos. Outrasnão conseguem sequer ir às escolaspor questões de segurança. Assim,ficam ainda mais distantes dascondições ideais dedesenvolvimento.

Televisão, jogos eletrônicos eredes sociais influenciam oestilo de vida das crianças. Comousar esse potencial?

Trata-se de um grande desafiopara pais e educadores. Os jovensutilizam esses espaços muito bem.O espaço online gerou muitasoportunidades, chances para

melhorar o aprendizado e estimulara criatividade. Existem muitospontos positivos nessas formas deentretenimento. Mas existemaspectos considerados perigososnessas atividades, como o bullying,que se propaga rapidamente nasredes. Para lidar com esses pontosnegativos, o primeiro passo éengajar todos – pais e educadores– para usar essas ferramentas.Estamos fazendo um trabalho comcrianças da Argentina, em que elasmesmas falam sobre podemosaproveitar e conhecer melhor esseespaço. Mas ainda é algo queprecisa funcionar melhor comouma ferramenta de inclusão e paramelhorar a qualidade da educação.

O estudo “Crianças naTerceira Idade” afirma que ascrianças que nascem hoje terãomenos saúde aos 65 anos do quea geração atual nessa faixaetária. Esse é o grande problemaque enfrentamos?

A saúde das crianças é o grandeproblema da atualidade. É precisoprestar mais atenção àsnecessidades demandadas porelas. Há 30 anos, fazíamos amesma pergunta sobre onde

falhamos e quase nada mudou. Nãoacredito que conseguiremosevoluir na proteção à saúde dascrianças até que cheguem aos 65anos. Atualmente, esse cuidadoainda é muito superficial, sem adevida atenção.

Como enfrentar esse desafionos próximos anos?

A grande mensagem é que avida custa dinheiro. As pessoas têmde pagar por uma forte educação epor um sistema de saúde. Paísesnão desenvolvidos terão de fazerescolhas, mudanças em suasposições e investir no futuro. Seráum longo processo. Ou enfrentamisso ou as consequências serãodrásticas. Eles precisam consertaro telhado. O mundo não estápreparado para que as pessoasvivam mais de cem anos. Ossistemas não estão preparados paraatender a essas demandas, paraoferecer cobertura. O mundoprecisa de igualdade. As criançasnão escolhem onde irão nascer, porisso seus direitos precisam serrespeitados. A pobreza continualatente e são necessáriosprogramas que interrompam esseciclo.

09/08/17

O furacão Doria

Maior revelação da políticabrasileira dos últimos tempos,o prefeito de São Paulo deixapara trás os velhos hábitos do

poder, foca na gestão deresultados, passa a ser

reverenciado dentro e fora doBrasil e se consolida como o

anti-Lula. Sua trajetóriaascendente nos índices de

preferência do eleitorado ocredencia a qualquer coisa em

2018

SOBREVIVENTE DESIGNADODoria, segundo as mais recentespesquisas, é o principal nome capaz de

bater Lula nas urnas

Carlos José Marques eGermano Oliveira

Aconteceu de novo há algunsdias. João Doria, o políticosensação dos últimos tempos,percorreu a passos milimétricos olongo circuito de embarque doaeroporto de São Paulo para maisuma viagem internacional. Destavez à China, onde estaria comfinancistas, dirigentes estatais,prefeitos de províncias comoXangai (também conhecida comoShanghai) e empresários. Cena

inusual: o alcaide de São Pauloteve que parar a cada pequenoavanço, tamanho o número decumprimentos a que era submetido.Vários ali queriam parabenizá-lo,rogar seu nome a candidatopresidencial, incentivá-lo àdisputa. A cena se repetiu no avião.Na escala em Dubai. E mesmo dooutro lado do mundo, em terrasorientais, nas quais foi recebidocom tapete vermelho e faixas deboas vindas, tal qual um chefe deEstado. Desde que assumiu, comrotineira frequência, Doria éovacionado por onde passa,enquanto seus pares ouvemapupos. Tiram selfies com ele, obeijam, o abraçam. Doria foiconvertido em um verdadeiroavatar da sorte na administraçãopública, um pop-star da política,ramo de atuação que anda mais embaixa que o de ladrão de galinhas.Aos olhos dos brasileiros ele temse diferenciado por exibir um novojeito de governar – mais emsintonia com os anseios demoralidade, eficiência e seriedadealmejados pela população nos diasde hoje. Em poucos meses demandato na prefeitura da maiorcidade brasileira, Doria virou ojogo. Coleciona epítetos de bomgestor, reconhecimentos, apoios.Segue, como nenhum outro, em altapara as eleições de 2018. Em todasas pesquisas é apontado como ode menor rejeição. Uma espécie desobrevivente designado em umambiente infestado de candidatos

corruptos, parlamentaresencrencados e líderes metidos emesquemas escabrosos. Dentro dopróprio ninho tucanopeessedebistas de carteirinhaadmitem não ter como frear a ondaDoria.

E seria de fato um tremendoerro. O empresário-apresentador,que entrou no Executivo pela portada frente e projetou-se como umoutsider das corriolas fisiológicas,transformou-se numa alternativaviável fora das velhas edesgastadas panelas de conchavosdos políticos de sempre. Seuspotenciais adversários dentro doPSDB, o senador Aécio Neves, ogovernador Geraldo Alckmin e oex-ministro José Serra foram ouestão sendo abatidos a golpes deescândalos, que vão de desvios emobras do metrô do Estado aparticipação nas tramoias da LavaJato. Alckmin, criador da criatura,viu seu pupilo ir muito além delena preferência popular – emboratenha tido seu nome testado emescrutínio presidencial, compropaganda nacional intensa parase eleger. Sem sucesso. Doria hoje,antes de entrar em campo, já seposiciona à frente de Aécio eAlckmin nas pesquisas e só umadisposição insana de repetirpropostas do passado levaria aesquadra tucana a desconsideraresse cenário. Analistas e cientistaspolíticos concordam sobre odiagnóstico: as ambições de cada

MATÉRIA DA CAPA

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um no PSDB não podem – ou nãodeveriam – se sobrepor às chancesefetivas de levar a disputa de 2018com um candidato que mostrougrande poder de convencimentonas urnas e que galgou prestígio demaneira acelerada em váriossegmentos. “Se Doria chegar nocomeço do ano que vem com 20%e Alckmin se mantiver nos atuais7%, quero ver quem no partido vaiescolher o governador”, diz umdirigente tucano. Nesse contexto,seria na verdade um ato degrandeza política do governadorpaulista o recuo de suaspretensões, cedendo espaço eabençoando a ascensão doapadrinhado. A data para o gesto,inclusive, já está definida. Emconversa na última semana, osenador Tasso Jereissati (CE)acertou com Alckmin que opresidenciável do PSDB seráescolhido até o mês de dezembro.Tudo converge para Doria. Emevento com empresários na quinta-feira 3 em Curitiba, o prefeito deSão Paulo foi paparicado como sejá fosse o candidato a presidentedo partido.

Refundação

Os arquirrivais Aécio e Serraaquiesceram e sinalizam simpatiapela escolha do novo fenômenocomo a melhor opção. Tudo emprol de um projeto ideológico e dopartido, que teve sua imagemamarrotada e hoje é consideradotão permissível a falcatruas comoos demais. Para o PSDB, que agoratem Doria como estrela fulgurante,é vital a retomada do poder pararecuperar o prestígio que deixouescapar entre os dedos, de maneiraseguida, nas quatro últimas

eleições presidenciais. Em cartadivulgada na última semana,economistas ligados ao PSDB,como Edmar Bacha, GustavoFranco e Elena Landau, clamarampor uma espécie de “refundação dopartido”. Se a ideia é retomar osprincípios que levaram à criaçãoda legenda, hoje quem melhor ospersonifica é Doria, na avaliaçãode tucanos emplumados. “Alckmin,Aécio ou Serra perderam odiscurso da ética. Só vai ganharquem não estiver envolvido nessasconfusões”, concorda a diretora doIbope, Márcia Cavallari.

Na oposição um pacto destinadoa poupar Alckmin de ataques,fechando temporariamente osolhos às denúncias que o cercam,foi acertado. A avaliaçãopredominante entre os quadros doPT, PSOL, Rede e agregados é queAlckmin constitui uma opção maisfácil de ser abatida, uma vez queele estaria tão comprometidoquanto os demais em acusações deirregularidade, o que lhe tira odiscurso da ética. Doria, por suavez, não possui telhado de vidronessa seara e é temido pordeclarações belicosas e deindignação que lança contra osmalfeitos de seus rivais. Em umareunião recente da cúpula petista,a trégua de ataques ao nomeAlckmin e o temor sobre a ameaçaDoria foram discutidas. Ali ficouacertada a estratégia: blindar oprimeiro e desacreditar o segundo.

Por declarações, atitudes eresultados, Doria já se converteu,na essência e na prática, no anti-Lula. Representa a figura que seopõe a todos os equívocos ehábitos abomináveis de

administração que deitaram raízesno País, especialmente na era demando do cacique petista. Moldouum conceito de atuação e discursocom foco em Lula, comoadversário preferencial,praticamente quebrandoparadigmas. “Eu sou o anti-Lulapor formação. E para isso nãopreciso ser candidato em 2018. Sercontra Lula é ser a favor doBrasil”, disse João Doria à ISTOÉ,em seu gabinete na prefeitura deSão Paulo. Até então, boa parte daclasse política evitava confrontaraquele que era tido como mito entreseus pares. Ninguém ousava lançarfarpas sobre ele. Doria, aocontrário, não se intimidou. Desdeos seus primeiros movimentos,ainda em campanha, chamava Lulade “vagabundo”.

Apontava o dedo o acusando deter destruído o País. Alertou, emvárias ocasiões, para as manobrasmatreiras e nada republicanas dolíder petista. Quando recebeu deLula o troco, com a alegação denunca ter trabalhado, Doria não sefez de rogado. Voltou à ofensiva.Mostrou a carteira de trabalho comvários registros e ainda tachou orival de “covarde” e “mentiroso”.“O Lula trabalhou oito anos na vidae tem aposentadoria, tríplex,fazendinha, sitiozinho e é por issoque cada vez que vejo esse semvergonha falar mentira na televisãoeu ponho mais uma hora detrabalho e dedico a ele”.

O tom ácido de suas falasmuitas vezes vem acompanhado defina ironia. “Curitiba é aprazível.Os petistas sabem disso.Frequentam com constância ealguns estabeleceram endereço

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fixo por lá”, tripudiou em certaocasião, fazendo referência aospresos da Lava Jato. Disse,inclusive, que visitaria Lula emCuritiba. Sobre os resultadosalcançados pelo governo petista,Doria fez troça: “Durante os 13anos de Lula e Dilma, eles sóconseguiram fazer duas reformas:a do tríplex e a do sítio deAtibaia”. Por convicção ou faropolítico, Doria acertou em cheiono seu alvo. Ele não anseia a prisãode Lula. Quer derrotá-lo nas urnas.Diz que não se trata debenevolência, mas depragmatismo. No seu entender,Lula precisa ser julgado primeiropelo povo para depois sofrer ascondenações da Justiça. Docontrário vira vítima e vai tentarmobilizar a sociedade com a velhaladainha do golpe. É munido desarcasmo que Doria apela:“deixem Lula concorrer e serderrotado. É assim que ele tem deentrar para a historia”. Na suametralhadora giratória, não poupaninguém. Outro dia foi o ex-ministro, Ciro Gomes, do PDT,também presidenciável, quemexperimentou o poder de sua ira.Ao ser chamado de “farsante”respondeu dizendo que o cearenseestava com a saúde mental abalada.Nenhum ataque fica sem revide.Outro dia, durante discurso em umquase comício, ouviu ummanifestante chamá-lo de“golpista”. Indignado, mandou orapaz procurar a turma emCuritiba. “Golpista é quem roubacomo os petistas”, esbravejou.

A virulência de seus rompantesagrada e mobiliza adeptos. Doriaconsegue, com essa postura,verbalizar muito da indignação que

prevalece entre os brasileiros. Daí,talvez, ele galvanizar as atençõesde hordas de eleitores nas maisrecônditas localidades do País. Jáentrou para os anais ascondecorações, comendas echaves como Cidadão Honorárioque recebeu de ao menos oitocapitais ao longo deste ano,mostrando que sua popularidadeultrapassou em muito as cercaniaspaulistas. Nesta segunda-feira 7,inclusive, o tucano receberá o títuloem Salvador e, no próximo dia 18,em Fortaleza. Enquanto perdura acrise, Doria vai angariandoprojeção nacional na base daeficiência. Seu conceito de“prefeitar” virou “benchmarking”.Na prática, muitos políticosaspirantes ao poder, em qualquernível, passaram a mirar o modeloDoria, a copiar seu estilo e a colarna sua imagem. Estão indo às ruasde pá e enxada para mostrarserviço, incorporaram a ideia daprivatização em escala e dosaneamento nas contas públicas.Mandam mensagens e telefonam devárias partes do País. Querementender a fórmula. No gabinete doprefeito, diariamente, sãoregistradas solicitações de dicas einformações vindas de municípiosdo Amapá, Piauí, Pará, Rondônia,Bahia, Paraná, Santa Catarina, RioGrande do Sul, Goiás e Paraná, emgrande quantidade.

As referências

Desde criança, Doria

acompanhava o pai João Doria (aolado) em seu local de trabalho,uma agência de publicidade. Aconvivência dos dois precisou serinterrompida por quase dez anosporque o pai, então deputadofederal, foi forçado a se exilar emParis em razão do golpe militar noBrasil, contra o qual se rebelou. Opai morreu em 2000. Outrainspiração para Doria foi o ex-governador Mário Covas, falecidoem 2001. Covas é seu modelo depolítico honesto e trabalhador. Embaixo e à esquerda, Doria e afamília

As mil faces de DoriaAos finais de semana, Doria se

veste de gari e ajuda na limpezado programa Cidade Linda.Também visita hospitais eparticipa de operações derecuperação de calçadas

O entorno mais próximo doprefeito também está empolgadocom o seu modo de comandar. “Osvereadores, por exemplo, estãocontagiados”, diz a parlamentarRute Costa, do PSD. “Seguir ele

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pega bem”, endossa opeemedebista Ricardo Nunes. Oempresário Flávio Rocha,presidente da Riachuelo, a segundamaior rede de moda do País, achaque a candidatura de João Doria apresidente em 2018 seria nãoapenas “muito plausível” comorepresentaria “a melhor coisa quepoderia acontecer ao Brasil”.Doria parece ser de fato uma figuracapaz de arrebatar ânimos. Emvárias frentes. Inclusive nareligiosa. Católicos, espíritas,umbandistas e, em númerosignificativo, evangélicos. Quatrograndes líderes do segmento jádeclinaram apoio a ele. Pastorescomo Silas Malafaia e ValdemiroSantiago apontaram o tucano comoa solução para o País. “Faria umbem danado a nós”, afirmaMalafaia. “Tiro o chapéu devaqueiro (sua marca registrada)para o católico Doria. Ele éexatamente o que o Brasil e omundo precisam”, reforçouSantiago, meses atrás, durante atoda Igreja Mundial do Poder deDeus, enquanto as câmeras de TVda congregação enquadravam fiéisàs lágrimas gritando aleluia. “Fuio primeiro a profetizar que eleseria prefeito e, se fizesse uma boaadministração, teria tudo para serpresidente dessa Nação”,reivindica Ezequiel Pires, líder daCatedral da Bênção.

Por pragmatismo, Doria nãotorce pela prisão de Lula. O tucanoquer enfrentá-lo nas urnas em 2018

Lei do silêncio

Hábil articulista, no plano da

promoção pessoal Doria se colocacomo o “novo” contra os velhospersonagens de sempre. Notabuleiro de adversáriospotenciais, os concorrentes àalternativa Doria seriam naverdade outsiders como ele queainda não apresentaram as cartas.Nomes como o do ministroHenrique Meirelles, o dopresidente do TSE, GilmarMendes, e de seu colega demagistrado, Joaquim Barbosa,estão no páreo. Há umacontradição latente entre o desejomal velado de concorrer e anecessidade que Doria expõecomo vital de ser bem aceito porquem, como ele, postula a vaga nopartido. A avalanche depreferência que se coloca a seufavor curiosamente o assustou. Eleteme melindrar a relação comaliados e recentemente determinouuma espécie de lei de silêncio

sobre 2018. Defende-se dizendoque não faz proselitismo. “Tenhoque prefeitar”, esquiva-se. Sabeque a fogueira das vaidades nesseambiente pode ser um venenomortal e por precaução adotou atática da defesa. As circunstâncias,evidentemente, são favoráveis aoseu nome. Doria é um candidatopret à Porter, feito sob medida,para essa eleição. Deixou de serum enigma e se preparouarduamente para a façanha dogrande enfrentamento contra Lula.

É instigante verificar como eleveio erigindo, paulatinamente, atrajetória de arrancada. Criado ecurtido em um ambiente político,onde seu pai, João Agripino daCosta Doria, foi cassado e viveuexilado por obra e repressão doregime militar, o jovem Doriamirou desde cedo a atividadepública como meta. Encaminhado

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pelas mãos do ex-governadorMario Covas, virou presidente daPaulistur e a seguir da Embratur.Seu sonho sempre foi resgatar amissão do pai, bruscamenteinterrompida, mas primeiramenteamealhou sucesso na iniciativaprivada, onde se firmou comogrande aglutinador derelacionamentos empresariais.Criou o LIDE, com mais de trêsmil associados, que promoveseminários e eventos arrastandoparticipantes renomados de váriossetores. Ganhou muito dinheiro,mas nunca abandonou a ambiçãoda carreira política, tida por elequase como uma sina. Impassívele tenaz, mesmo diante dos apelosde familiares e amigos paradesistir do objetivo, seguiu emfrente e entrou com o pé direito,viabilizando-se por conta própriapara a prefeitura, sem escala noLegislativo.

Hoje, a despeito da sua própriaação, o nome dele tem circuladocada vez com mais força, de bocaem boca, entre simpatizantes. Oinstinto de sobrevivência do PSDBfalará mais alto ao final. Só nãopode demorar na definição da linhaa ser traçada para não ficar areboque dos demais –especialmente da oposição.Recentemente, a repercussão sobrea propaganda partidária do PSDB,na qual os caciques falavam emrenovação, não foi das melhores.Sem mostrar caras novas – nemDoria apareceu – ela teria deixadono ar dúvidas sobre o realengajamento dos comandantesnessa direção. Certamente não irãoadiantar promessas que nãovenham acompanhadas de uma

opção autenticamente fora dasvelhas saídas. Alckmin aindaacredita piamente que a suacandidatura tem fôlego.Movimenta-se nos bastidores paramanter a postulação à Presidência.

Doria, por sua vez, avisou quenão irá disputar prévias. Ele teriade ser ungido por preferência damaioria, com indicação direta daagremiação, ou nada feito. Umaposição bem distinta da que tomouquando concorreu à prefeitura.Naquele momento encarou umaqueda-de-braço com figurinhascarimbadas do partido e foiescolhido. Saiu a seguir vitoriosoao romper o cinturão vermelho dospetistas nas localidades menosfavorecidas enquanto arrebanhava,ao mesmo tempo, a quasetotalidade dos votos nas classes Ae B. Cravou um feito levando pelaprimeira vez na história a eleiçãona capital paulista em primeiroturno.

Nos salões internacionais suasconquistas têm sido tão ou maisreverenciadas. Em maio passado,as vésperas de pipocar o escândaloque devastaria quase toda a classepolítica – com a delação tsunâmicado empresário Joesley Batista –Doria recebeu a distinção de“Homem do Ano”, em Nova York,concedida pela Câmara deComércio Brasil/EUA. Em meioao evento, o creme de la crème daclasse produtiva nacional e figurasde proa do mundo dos negóciosglobais. Nos elegantes salões daBig Apple, a plateia saudou oprefeito em êxtase. Bill Rhodes,ex-presidente do Citibank e ex-secretário de economia dos EUA,

disse que Doria trouxe novos aresao Brasil. O ex-prefeito de NY,Michael Bloomberg, o classificoucomo “referência”. Outro de seusadmiradores, o ex-governador daCalifórnia e ator hollywoodiano,Arnold Schwarzenegger, fezquestão de vir a São Paulocumprimentá-lo pessoalmente comum “hello, mr. President”.

O fato é que, em meio à crise,esse aspirante ao Planalto temganho muita projeção nacional einternacional. Participa dasgrandes decisões sobre os rumosdo País. Posicionou-se contra odesembarque tucano da nau deTemer, defendeu as reformas,reclamou dos juros altos. Desde aeclosão do escândalo da JBS,Doria participou de mais de 20encontros nacionais. Enfrentou oschamados “cabeças-pretas” doPSDB, jovens radicais quepregavam o rompimento puro esimples com o governo, sem planoalternativo. Abriu guerra às drogas,desfazendo o circuito daCracolândia no centro da cidade,debaixo de críticas e desconfiançados especialistas. Inventou oCorujão da Saúde – talvez o seuprojeto mais bem sucedido.Conquistou doações do setorprivado. Também com tudo issoreforçou a simpatia e a torcida dosseus eleitores. Doria sabe ondepisa e a postura de confiança temlhe aberto portas. O resultado desuas investidas o credencia aqualquer coisa. A viabilidade desua candidatura a Brasília porcerto não depende nem mesmo desua filiação partidária. “O apoio aDoria está sendo organizado alémdas fronteiras do partido”, disse

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um deputado vinculado ao grupode Serra. Ele encontra legenda eentusiasmo ao seu nome inclusiveentre peemedebistas, democratas eoutras grandes agremiações. Doriasoube entender os anseios sociais,captou o Zeitgeist – termo alemãousado para designar o “espírito dotempo”, e quem levantar seu nomedeve sair com vantagem em 2018.

O que dizem os aliados

“Doria é um bom nome paradisputar a presidência” – FernandoHenrique Cardoso, ex-presidenteda República

“Não sei se o Doria será ocandidato do PSDB. Se for, seráum ótimo candidato” – GeraldoAlckmin, governador de São Paulo

“O Doria sempre me surpreende

por sua capacidade de trabalho,talento e coragem para enfrentardesafios e vencê-los” – MarconiPerillo, governador de Goiás

“As qualidades do Doria são afirmeza dos posicionamentos, aclareza dos pensamentos e acontundência nos enfrentamentos”– Cássio Cunha Lima, vice-presidente do Senado

“Doria é um empresário e gestorcompetente. É um dos grandesquadros que temos no PSDB” –Beto Richa, governador do Paraná

Dando as cartasJoão Doria tem participado

ativamente das reuniões da cúpulado PSDB. Em São Paulo, se reúnecom moradores para tratar dosproblemas da Cracolândia

09/08/17

O prefeito “The Flash”Metódico e disciplinado, Doria usa três celulares, carrega blocos de anotações para onde vai

e cultiva o hábito de cronometrar o tempo de compromissos e reuniões. Tudo para manter uma rotina de quase 20 horas diárias de trabalho, sem desperdiçar tempo

Germano Oliveira

O “João Trabalhador” daspropagandas políticas não é sófruto de um bem sucedidomarketing eleitoral. João Doriatrabalha, gasta sola de sapato eamassa barro mesmo, como diz agíria. É um obstinado cumpridorde tarefas. Para tanto adota umarotina fatigante, mas apenas paraquem olha de fora. Para ele, Doria,é tão somente mais um dia comumde trabalho. O tucano encarna comperfeição o epíteto deadministrador “The Flash”,atribuído a ele pelo ministro daDefesa, Raul Jungmann: dorme emmédia três horas por dia (não deitaantes das 3h da manhã e acordaentre 6h e 7h), anda sempre comtrês aparelhos celulares e temsempre à mão bloquinhos, ondeanota sugestões e conselhos queconsidera pertinentes. Sem contaros já famosos despertadores, osquais aciona para limitar o tempode reuniões. O perfil metódico eobsessivo é velho conhecido detodos que o cercam. Claro, comonem o “The Flash” é de ferro,tomar seis cápsulas de vitaminas,como Ômega 3 e Vitamina C,hábito que ele cultiva há 15 anos,faz parte do ritual destinado amanter a saúde sempre em dia. Seucafé da manhã não dispensa frutasvariadas e pães, organizado comrequinte pela governanta Sandra.A essa altura a mulher Bia já estáa caminho de seu atelier. Entre um

gole de café e outro, ele semprefaz a leitura dos jornais do dia. Oprimeiro que ele folheia é o“Estado de S.Paulo”, o diáriopredileto do tucano.

Rádio escuta

Para ganhar tempo, antes de sairde casa no Jardim Europa para umcompromisso, Doria escova osdentes no lavabo da sala mesmo.Ao entrar no carro, pede para omotorista sintonizar o rádio naBand News. Atento ao noticiário,anota as reclamações dos ouvintese já aciona os subordinados,determinando celeridade naresolução de eventuais problemas.Por exemplo, se, no caminho, eleobserva uma placa de trânsitoprostrada na avenida, o secretárioda área recebe um desaforadotelefonema. Na ligação, eleestabelece prazos para o conserto.

Quando Doria desembarca emseu gabinete, a internet já estáligada. Ele coloca um fone deouvido, acoplado a um microfone,para atender as ligaçõestelefônicas, enquanto digita nocomputador. Diariamente, o tucanoresponde a dezenas de emails emensagens, além de abastecer asredes sociais, onde se tornou umfenômeno. Quase tudo o que Doriaposta na rede viraliza.

Hoje, seu perfil atualizadoconstantemente no twitter e

Facebook é seguido por 3,5milhões de pessoas. Oscomentários “bombam”

Desde um simples e inofensivocomentário até um discurso numasolenidade oficial. Os preferidossão os eventos em que ele encarnade gari a pintor ou as postagens emque ele polariza com Lula. Estes“bombam” ao receber milhões decomentários. Em geral, positivos.Hoje, seu perfil atualizadoconstantemente no twitter e noFacebook é seguido por 3,5milhões de pessoas. Na sala dereuniões da prefeitura há um amplotelão com câmeras da CET ligadasnos principais pontos da cidade,onde são registrados acidentes eengarrafamentos. Quando não estáem reuniões ou em eventosexternos, Doria sabe depraticamente tudo o que aconteceno trânsito da cidade em temporeal. Como se nota, a atuação deDoria é baseada na organização ena disciplina. Seu irmão mais novo,Raul Doria, contou recentementeque, na adolescência, o atualprefeito de São Paulo odiava quealguém avançasse sobre suacoleção de chaveiros. Para tercerteza de que não seriam tiradosdo lugar, Doria media a distânciaentre eles. Óbvio, na única vez emque o irmão alterou a disposiçãodos itens, foi descoberto.

Na sexta-feira 21, acompanhado

BRASIL

09/08/17

pela reportagem de ISTOÉ, Doriachegou ao primeiro compromissopor volta das 7h50, dez minutosantes do combinado. Na Praça dosLibaneses, situada na zona Sul deSão Paulo, um grupo de moradorese autoridades estavam à suaespera. O processo de recuperaçãoda praça é ilustrativo do jeitoDoria de administrar. O localestava abandonado, tomado pelomato e ocupado por moradores derua. Em 10 dias, o panorama mudoupor completo. Com a ajuda da

iniciativa privada, recuperou olocal, limpou o matagal, instaloubrinquedos e ergueu um jardim.Durante o evento, cumprimentouum a um dos que estavam na praça,brincou com uma criança nocarrinho de bebê, tirou dezenas deselfies com moradores e concedeuentrevistas. De uma hora paraoutra, apertou o passo. Partia Doriapara a sede da Prefeitura, ondetinha várias audiências agendadas.A última estava marcada paradepois das 22h. Chegava ao fim de

mais um dia na atribulada agendado prefeito? Não. Até às 3h eleestaria debruçado sobre asquestões mais prementes dacidade. Segundo um dos principaispensadores indianos, GurcharanDas, “a Índia cresce à noite,quando o governo dorme”. Na SãoPaulo de Doria, acontece oinverso: o prefeito (quase) nãodorme. Por isso, segundo as maisrecentes pesquisas de opinião, acidade funciona. No ritmo “TheFlash”.

09/08/17

O procurador-geral do PT

RODRIGO JANOT Ele foirepreendido publicamente pelo ministrodo STF Gilmar Mendes. Convenhamos,leitor, o procurador fez por merecer arepreensão

Antonio Carlos Prado

Nunca, na história republicanado Brasil, um ministro do SupremoTribunal Federal esculhamboutanto um procurador-geral como seviu na semana passada. Masconvenhamos, leitor, orepreendido estava pedindo arepreensão…

No crepúsculo de seu tempo àfrente da Procuradoria-Geral daRepública, o procurador RodrigoJanot, que deixa o cargo no mêsque vem, parece estarnegligenciando uma importantecaracterística colada ao homempúblico: o que fica em suabiografia é o final da trajetória, ocomeço todo mundo esquece.Começa-se discreto, termina-seruidoso. É um descuido. É o ruidoque entra para a posteridade. Poisbem, o fim da jornada de RodrigoJanot tem sido melancólico – elesonha com bambu e flecha massequer sabe, ao certo, em quem

pode atirá-la. Tudo isso acabaexpondo a constrangimentos oMinistério Público em geral, vitalinstituição para a operação dodireito. Janot parece estarobsessivo, e uma de suas maisrecentes obsessões teve como alvo,novamente, o senador AécioNeves. Em fato inédito, a mais altaautoridade do Ministério Públicopediu três vezes a prisão da mesmapessoa, três vezes ao mesmotribunal, três vezes sem ter um fatonovo em mãos, três vezes sabendoque o pedido de tal prisão éinconstitucional. O flechado nessecaso, se bambu houvesse, como jáfalamos acima seria o senadorAécio Neves.

Janot e a “readequação”

A Constituição Brasileira de1988, promulgada após o Paísemergir do arbítrio e da exceçãode duas décadas de ditaduramilitar, é clara quanto à garantiada liberdade que se fazimprescindível para que deputadose senadores exerçam suas funçõesàs quais chegaramdemocraticamente pelo votopopular. Isso se traduz no artigo53, parágrafo 2º, do textoconstitucional: “desde adiplomação, os membros doCongresso Nacional não poderãoser presos, salvo em flagrante decrime inafiançável”. Não há amenor dúvida de que Janotconhece profundamente a

Constituição. Como ele pede entãoa prisão de Aécio que não foi pegoem flagrante cometendo crimeinafiançável? E como a pede portrês vezes? Claro que o STF, emdecisão do ministro EdsonFacchin, rechaçou tal pretensãoinconstitucional, embora tenhacometido o erro de entrar noterreno legislativo ao afastar Aéciodo Senado – equívoco sanadoposteriormente pelo ministroMarco Aurélio Mello. Cabe aoMinistério Público zelar pelocumprimento incondicional daConstituição, assegurando a“defesa da ordem jurídica, doregime democrático e dosinteresses sociais e individuaisindisponíveis”. É o que Janot nãoestá seguindo à risca no lusco-fusco de sua jornada naProcuradoria-Geral. Com aConstituição é assim: não segui-laem um ponto é não segui-la porinteiro.

Antes da esculhambação,vamos à outra obsessão de Janot:o presidente Michel Temer. Oprocurador o denunciou por crimede corrupção passiva com pífiosargumentos, e a Câmara dosDeputados votou na quarta-feira 2por não dar ao STF autorizaçãopara julgar o presidente. Enquantoa derrota de Janot se consolidavano plenário, ele foi outra vez àCorte pedindo que Temer e osministros Eliseu Padilha e MoreiraFranco sejam incluídos em um

BRASIL

09/08/17

inquérito já instaurado contra oPMDB, no âmbito da Lava Jato.Separadamente, pediu também queTemer responda por obstrução deJustiça. Na ausência de novoconjunto probatório que sustente asua ação, Janot inovou na ciênciado direito: disse tratar-se de uma“readequação”. Vale observar queDilma Rousseff, ainda antes desofrer impeachment, teve a sortede ver arquivado pelaProcuradoria-Geral as acusaçõesque contra ela pesavam na comprada refinaria de Pasadena. Isso simsoou, à época, como inadequação.Tanto que, por essas e outras, elacaiu. E Janot ficou com o mico daacusação de ter atuadoideologicamente a favor do PT.Decerto, o eminente procuradorparece mesmo se comportar maiscomo uma espécie de procurador-geral do PT. Talvez como formade retribuição pelos préstimos deDilma ao colocá-lo no cargo.

Quanto a Michel Temer, oprocurador-geral vale-se agora deuma estratégia para tentarcompensar a ausência deelementos que levem à algumaprova. Só que, ainda assim, nãochegará absolutamente a nada,porque não há nada para chegar.Janot quer privilegiar a acusaçãode que Temer obstruiu a Justiçaquando o empresário JoesleyBatista lhe disse no Palácio doJaburu, em palavras escorregadias,que estava comprando o silênciodo ex-presidente da CâmaraEduardo Cunha, preso em Curitiba.Temer deveria nesse exatomomento, segundo o procurador,ter-lhe dado voz de prisão, e, aonão fazê-lo, emprestou a sua

anuência à tentativa de barrar asinvestigações da Lava Jato.Ocorre, no entanto, que tal diálogosequer existiu, não está nagravação feita clandestinamentepor Joesley e exaustivamenteexibida ao público. Isso não constada conversa, só Janot, maisninguém, ouviu. Pois bem, a partirdaí e de um fato inexistente, eleteima em querer denunciar, e paratanto pediu ao ministro EdsonFachin que isole a investigaçãosobre esse diálogo do restante doprocesso. É uma tática nadademocrática, a mostrar aanimosidade pessoal que mantémcontra Temer.

Com tal separação, ainvestigação gerada pela delaçãopremiada de Joesley Batistaguardaria somente a denúncia deobstrução da Justiça. Já ainvestigação de eventual formaçãode quadrilha pelo PMDB, da qualTemer seria o líder, o próprioJanot, que montou essa tese, sabeque ela não prosperará de tãoabsurda que é. Aliás, se algodeveria ir para a frente, esse algoseria a cobrança à qual Janotprecisa ser submetido por ter ditoque, “por meio convencional deinvestigação” (sem infiltrarJoesley e armar flagrante), não seobteriam informações. Ademocracia e o Estado de Direitotremem cada vez que ouvem frasesdesse tipo. Convém indagar: qualé o limite, para Janot, na utilizaçãode meios excepcionais parainvestigar um caso? Mais: éextremamente heterodoxo nas leisbrasileiras o emprego de infratorinfiltrado quando se tenta descobrircrimes. E, sempre que isso foi

tentado, a coisa acabou mal. Emvez de concordar com tal método,o procurador-geral deveria, pordever de ofício, ter sido o primeiroa combatê-lo.

Valter Campanato/AgênciaBrasil/André Dusek/ Fabio Motta

É tudo isso que desaguou, agorasim falemos dela, naesculhambação que GilmarMendes deu publicamente emJanot. Não houve meias-palavras.O ministro disparou, e por tabelasobraram críticas à sua própriaCorte: “espero que a Procuradoria-Geral da República volte a ter ummínimo de decência, denormalidade, de sobriedade (…)O STF ficou a reboque dasloucuras do procurador”, estáinventando um “direitoconstitucional criado namalandragem (…), foi muitoconcessivo e contribuiu para essabagunça completa. Certamente aCorte vai ter de se reposicionar”.Como se vê, as expressões foramduras mesmo: “decência”,“loucura”, “sobriedade”,“malandragem”, “volta ànormalidade”…

Volta à normalidade? Eis defato um importante ponto. O ritmoimpresso por Janot naturalmente setransmite à instituição como umtodo. Exemplo disso foi o pedidodos procuradores da Lava Jatopara que o juiz Sergio Morodeterminasse a prisão por tempoindeterminado de AldemirBendine, ex-presidente daPetrobras e do Banco do Brasil.Em um País tão polarizado comoé o nosso, nunca é demais frisar

09/08/17

que defender a presunção da nãoculpabilidade, prevista naConstituição, não implica a defesada corrupção nem odesmerecimento do MinistérioPúblico Federal, da PolíciaFederal e do juiz Sergio Moro nacondução da Lava Jato. O que sequer dizer é o seguinte: o Estadode Direito sai arranhado quandouma pessoa acaba de ser presa e,sem que haja indícios concretos desua culpa, já se pede a sua prisãopreventiva – com carga psicológicaainda mais forte ao se usar aexpressão “tempo indeterminado”,o que justifica a preocupação dejuristas no País com o excesso deprisões alongadas e com a não

fixação de prazo à prisão cautelarpreventiva. Constitucionalmente,ninguém no Brasil pode sersubmetido a tratamento desumanoe degradante. A prisão preventivaeterna é, sim, cruel, é, sim,desumana, é, sim, esfaceladora dofísico e da alma de um indivíduo.O Brasil ficará melhor semcorrupção, isso é óbvio. Masficará melhor ainda se o bomcombate contra ela se der semobsessão por denúncias e prisões.

O final da jornada de Janot naPGR tem sido melancólico – elesonha com bambu e flecha massequer sabe, ao certo, em quempode atirá-la

09/08/17

A segunda chance deTemer… e o circo de horrores

Com a vitória na Câmara,Temer conquistou uma nova

oportunidade para reorganizara base e seguir na aprovação

das reformas.Resta saber como se

comportará daqui em dianteum Congresso que só se move

ao sabor de suas conveniênciase interesses mais mesquinhos

Eduardo Militão

O presidente Michel Temerganhou muito mais do que umasobrevida. Ao vencer o embate noplenário por 263 votos a 227 emandar para o arquivo a denúnciaapresentada pelo procurador-geralda República, Rodrigo Janot,contra ele por corrupção passiva,o governo exibiu musculaturapolítica para reaglutinar as forçasno Congresso e conseguir manter-se na trilha da aprovação dasreformas necessárias ao País,como a da Previdência, aTributária e a Política. Por isso, otriunfo na Câmara constituiu maisdo que uma simples vitória. Foi avitória da responsabilidade contraaqueles interessados em manter oPaís debaixo da névoa oportunistada instabilidade. Tudo parapoderem voltar em 2018 nacondição de salvadores da Pátria– de araque. “Pela votação quetivemos (263 votos), falta poucopara chegar ao quorumconstitucional (308 votos)”,comemorou o ministro Moreira

Franco. Ao contrário do quealardeia a oposição, em seu alaridorenitente, o governo demonstrouser capaz de domar as rédeas dagovernabilidade. A sensação entreos governistas é que Temer, hábilna ação de bastidor e mestre na arteda articulação política, soubemedir o pulso do Parlamentoconseguindo, com isso, pavimentaro terreno para as próximasbatalhas.

Vencida a primeira etapa, oPlanalto já prepara o queinternamente chama de segundafase do governo. Nos próximosdias, serão traçadas metasdestinadas a solucionar a crisefiscal – prioridade zero do governono momento. No campo político,onde todo cuidado é pouco, a ideiaé apressar as votações da agendaeconômica, estabelecida desde oinício do mandato. Evidente, nohorizonte, ainda se descortina umapossível segunda denúncia doprocurador-geral contra Temer.Mas os aliados do governocalculam que ela virá com um pesobem menor – na verdade, a peçajurídica perde força a cada átimode tempo, na ritmada contagemregressiva para a despedida deJanot do cargo. Entre os auxiliaresdo presidente, reina a convicçãode que Temer não apenasconquistou um resultadoexpressivo, ao enterrar a primeiradenúncia contra ele formulada pelaPGR, como saiu da votação na

Câmara muito maior do que entrou.

Ajuda da oposição

A sessão da Câmara transcorreuem clima de tensão. Afinal, paraque o relatório do deputado PauloAbi-Ackel (PSDB-MG), favorávelao encerramento da investigação,fosse aprovado, o governoprecisava manter em plenário 342parlamentares. A oposição fez odiabo para derrubar o quórumnecessário para a votação. Apesarde estarem na Câmara e atédiscursarem da tribuna, os petistase seus aliados insistiam em nãoregistrar presença na Casa. Essejogo, contudo, não funcionou porum grave erro de cálculo dosoposicionistas: em dado momentoda discussão, produziu-se aimpressão entre os partidoscontrários a Temer de que elespoderiam vencer a queda-de-braçocom o governo. Não foi o queaconteceu. E, ao fim e ao cabo,como eles resolveram participardo exame do relatório, garantindoo quórum qualificado, mesmo queindiretamente, acabaram porcontribuir para o êxito da estratégiagovernista.

NO BRAÇO Deputados da oposição

BRASIL

09/08/17

e da situação discutem no plenário

Independentemente de quemtenha se sagrado vitorioso, oprocesso de votação foi umverdadeiro circo de horrores.Escancarou a todos a face maistenebrosa do Congresso brasileiro:a de um colegiado composto porparlamentares que só se move aosabor de suas conveniências einteresses mais mesquinhos.Desprovidos de qualquer decoro,deputados da oposição chegarama arremessar para o alto uma notade US$ 100 que estampava o rostodo presidente da República. Sobreela estava gravada a frase: “ForaTemer Golpista”. A pantomima, noentanto, não escolheu coloraçõespartidárias. O deputado governistaWladimir Costa (SD-PA),celebrizado por tatuar o nome deTemer no ombro, fez do plenárioseu picadeiro particular. Apareceucom dois pixulecos do ex-presidente Lula nas mãos, dirigiu-se à bancada do PT e começou abater um boneco contra o outro. Aconfusão se instalou quando odeputado petista Paulo Teixeira(SP), da tropa de choque lulista,

partiu para cima de Costa eestourou um dos bonecos infláveis,dando-lhe uma dentada. E o piorainda estava por vir. Na hora davotação, o deputado da tatuagemprotagonizou outro papelão: foiflagrado mantendo uma conversapor whatsapp com uma mulher naqual pedia “nudes” a ela. “Mostraa tua bunda. Vai lá, põe aí garota”,escreveu. Durante a votação, maisbizarrices: enquanto um deputadodo PMDB afirmava votar pela“colisão” – ato de colidir –querendo dizer “coalizão”, petistasantecediam seu voto com o bordão“Diretas, Já” ou “Lula 2018”,como se sobre um palanqueestivessem.

PICADEIRO Deputado petista mordepixuleco, enquanto aliado que tatuouTemer no ombro quer nudes no whatsappe outro chega tarde ao presídio porque

sessão demorou para terminar

Deputado presidiário

Tão ou mais lamentável foi acircunstância da participação dodeputado Celso Jacob (PMDB-RJ). Ele encontra-se preso naPapuda, em Brasília, e obteveautorização judicial para trabalharde dia no Congresso e se recolherdepois das 18h ao presídio. Porconta da votação, no entanto, queterminou depois das 20h30, eleteve que chegar mais tarde àcadeia. Surreal, para dizer omínimo.

Atuando como bedel decolegiais, o presidente da Câmara,Rodrigo Maia, dava puxão deorelhas em seus colegas a cadaconfusão ou declaração maisexacerbada. “Aqui não existemorganizações criminosas, existempartidos políticos”, afirmou Maiano começo da votação. “É essaimagem que vocês queremtransmitir à opinião pública?”,berrava aos microfones Maia,enquanto mais uma deprimenteconfusão irrompia no plenário.

09/08/17

A faxina na CâmaraMaior crise moral da história recente do Brasil deve fazer com que a renovação dos

deputados alcance mais de 60%, índice só comparável ao período Collor

SEM MORAL Envolvidos emdenúncias de corrupção, a maioria dosatuais deputados não deverá se reeleger

(Crédito: Brazil Photo Press)

Ilimar Franco

O escândalo da Petrobras. Asdelações envolvendo políticos detodos os partidos nas doaçõeseleitorais irregulares de empresas.O pagamento de propinas parapolíticos e autoridades, sobretudodo PT. A denúncia contra opresidente Michel Temer. Aimpactante condenação do ex-presidente Lula. A crise ética. Ocrescimento do sentimento daantipolítica. Esse ambiente indicaque haverá uma renovação naCâmara acima dos 62%registrados em 1990, nas eleiçõesque se seguiram à posse deFernando Collor de Melo. Opartido mais atingido naquelaocasião foi o PMDB, que elegeu amaior bancada nas eleições daConstituinte (1987-1988). Agora,a previsão é de que todas asgrandes legendas sejam afetadas ese aprofunde a fragmentação naCâmara, a exemplo do que jáocorreu nas eleições municipais de2012, como avalia o cientistapolítico Antônio Carlos Queiroz,do DIAP (DepartamentoIntersindical de Assessoria

Parlamentar).

Para manter seus mandatos, osatuais 513 deputados terão umavantagem comparativa: acesso arecursos orçamentários do governoTemer, leia-se emendasparlamentares, o que lhe poderãoassegurar mais visibilidadepública em seus redutos eleitorais,e maior manipulação das verbas doFundo Partidário. Isso nãosignifica, no entanto, umaconversão automática em votos.Não bastassem as denúncias decorrupção envolvendo a classepolítica, a polêmica reformatrabalhista e o congelamento dosgastos públicos, provocado peloaumento do déficit, são elementoscatalisadores da rejeição dapopulação. “Os números apontamque haverá um congelamento dosgastos, o serviço público vai parare há ainda uma repulsa muitogrande aos que são identificadoscomo integrantes da base de apoioao governo”, constata AntônioCarlos Queiroz.

Renovação sujaRenovação não significa,

necessariamente, a ascensão denovos políticos. Pode representar,por exemplo, o regresso à Casa depolíticos que já cumprirammandatos no passado. O retorno deex-parlamentares, segundodefinição do cientista políticoMurilo Aragão, da Arko-Advice,constituiria “uma renovação suja”.Aragão elenca outros fatorescapazes de ameaçar a reeleição dosatuais deputados federais. São elesa ilegalidade do financiamentoempresarial, que reduz o poder dequem cumpre o mandatoatualmente, o crescente peso dasredes sociais e o ambientefavorável à antipolítica. “O climacriado pela corrupção nas recentescampanhas eleitorais atrapalha osvelhos políticos”, resume Aragão.A renovação tende a aprofundaroutro fenômeno já verificado noúltimo pleito: a fragmentaçãopartidária. Hoje são 25 partidosrepresentados na Câmara. Novospartidos nanicos devem emergirdas urnas. Ou seja, o horizonte sedescortina a partir de um cenáriosombrio para todo mundo. Asurnas serão implacáveis: nãopouparão ninguém.

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09/08/17

A desfaçatez de LulaO petista freqüenta o sítio de Atibaia desde quando era presidente. Esteve

no local 270 vezes. Reformas foram realizadas por empreiteiras a seu pedido. Mesmodiante de provas irrefutáveis, Lula insiste no discurso de que nada sabia

Germano Oliveira

Dezembro de 2010. Lula aindaera presidente. Dona Marisa,falecida no início deste ano,procurou Emílio Odebrecht, donoda Construtora Odebrecht, e pediupara que a empreiteira reformasseo sítio de Atibaia, onde o entãopresidente passaria a descansardepois que deixasse a Presidência.“Vou para o meu sítio”, contouLula a amigos. O patriarca daempreiteira ordenou, então, queAlexandrino Alencar, diretor dacompanhia, se encarregasse dasbenfeitorias. Com a propriedademoldada a seu feitio, o petista esua família passaram a frequentaro local religiosamente. Em seisanos, esteve no sítio por 270ocasiões. Até a eclosão dasdenúncias contra ele, ao semanifestar sobre o paradeiro doex-presidente, sua assessoriaemitiu pelo menos 12 notas oficiaisem que afirmava com todas asletras que o petista passaria os finsde semana “em sua casa deveraneio em Atibaia”. Ou seja, atéser acossada pela Lava Jato, afamília Lula não tinha o menorconstrangimento em reconhecer oimóvel como seu. A retórica seajustou à luz dos novos fatos.Agora, perto de ser condenado denovo em primeira instância, Lula,que se tornou réu pela sexta vez

na última semana, recorre asubterfúgios para negar o óbvioululante: que o sítio lhe pertence efoi repaginado pelas empreiteirasOAS e Odebrecht comocontrapartida a obtenção decontratos na Petrobras.

No total, as empreiteirasgastaram R$ 1,025 milhão nasreformas do sítio, conformeconcluiu o juiz Sergio Moro, aoaceitar, na terça-feira 1, a denúnciacontra Lula por corrupção elavagem de dinheiro. Em seudespacho, Moro afirmou que o ex-presidente “teria participadoconscientemente do esquemacriminoso. Como parte de acertosde propinas destinadas à suaagremiação política, o grupoOdebrecht e o grupo OAS teriampago vantagem indevida ao ex-presidente Lula consubstanciadaem reformas no sítio de Atibaia porele utilizado”. Formalmente, o sitioestá registrado em nome de JonasSuassuna e Fernando Bittar, sóciosde Lulinha. Mas extraoficialmente,“a propriedade é de Lula”, diz ojuiz. “O sítio passou a sofrersignificativas reformas ainda em2010, durante o mandatopresidencial e que prosseguiramaté 2014”, lembrou Moro. Lá,foram feitos investimentos “semprecom o conhecimento de LuizInácio”.

CABEÇA FRESCA Lula desfruta de

bons momentos em seu sítio de Atibaia

Para comprovar que Lula é overdadeiro dono do sítio, o MPFanexou ao processo mensagenseletrônicas trocadas entre o caseiroda propriedade, conhecido comoMaradona, com seguranças do ex-presidente. Uma delas falava que“um pintinho” havia sidoatropelado pela “perua”. O MPFainda incluiu na denúncia que,quando a PF fez buscas no local,roupas e bens pessoais do petistae de dona Marisa estavamguardadas no quarto do casal. Atéuma camisa do Corinthians, escritoLula nas costas, foi apreendida.Também foram encontradas notasfiscais de compra de material deconstrução – em nome de Marisa.Em outra devassa feita no imóvelde Lula em São Bernardo, a PFapreendeu uma minuta da escriturade compra e venda do sítio. Estavalá a digital do advogado de Lula,Roberto Teixeira, a quem coubepreparar o documento de comprae venda em nome de FernandoBittar. Um verdadeiro “batom na

BRASIL

09/08/17

cueca”, como se diz no jargãopolicial quando há provasirrefutáveis de um crime.

A reforma de R$ 1 milhão

• O MPF afirma que Lula é overdadeiro dono do sitio de Atibaia

• A propriedade, no entanto,está em nome de Fernando Bittar eJonas Suassuna, sócios de seu filhoLulinha

• O imóvel está avaliado em R$1, 5 milhão

• Mas, a pedido de Lula, aOdebrecht, a OAS e seu compadreJosé Carlos Bumlai, gastaram R$1,025 milhão para reformar apropriedade

• Lula diz que não é dono dolocal, mas nos últimos 6 anosesteve lá 270 vezes

• Em emails, o caseiro do sítio,Maradona, comunicava osseguranças de Lula até sobre amorte de “pintinhos” napropriedade

• Em buscas em seuapartamento, a PF encontrou umaminuta da escritura do sítio