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02 a 05 setembro 2013
Faculdade de Letras UFRJRio de Janeiro - Brasil
EIXO TEMÁTICO -Linguagem em uso: cognição, mudança e história
A lexia do diabo no falar dos municípios de Pinheiro e Alto Parnaíba Bruno Mancêbo Araújo; Luan Passos Cardoso;Tammys Loyola Rolim
A determinação de um continuum de monitoração estilística em gêneros textuais da mídia impressa: um olhar sociolinguístico sobre a ordem dos clíticos pronominais Daniel do Vale Bernardo
INDÍCE DE TRABALHOS(em ordem alfabética)
A construção do discurso político a partir da modalidade deôntica Aliny da Silva Portela
Página 07
A ordem do sujeito em cartas do século XX: um estudo de gênero e posição social Stephanie Valle de Souza
A presença do “estrangeiro” formando a memória da história de um povo Seila Marisa da Cunha Islabão; Rafael dos Santos Lemos
A variável configuração sintática em construções de topicalização e de deslocamento à esquerda em peças teatrais portuguesas do século XX João Pedro Abraham Tosta; Isabela de Campos Mourão
Página 14
Página 15
Página 17
Página 11
A interferência da fala na escrita dos alunos de séries iniciais Viviana de Souza; Ana Cláudia de Souza Página 10
Página 06
Página 09
A gramaticalização do verbo chegar: a definição de um percurso de (inter)subjetivização Vânia Gomes de Almeida; Michele Cristina Ramos Gomes
Página 12
A negação sentencial na fala culta carioca: um caso de mudança ou variação estável?Karen Pereira Fernandes de Souza
Página 16
A realização variável da harmonia vocálica verbal no português: uma análise quantitativaMarcella Karoline Belo Rodrigues
Análise da língua: o uso linguístico do português no cotidiano e redes social Vilma Vaz Monteiro Página 19
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Análise discursiva com princípios foucaultianos e bakhtinianos: o dialogismo entre os discursos sócio-políticos produzidos antes e pós rio+20 com o documento oficial da conferência Danielle Marques Gomes
Coesão sequencial: uma análise de textos de alunos do quarto ano do Projeto Acelera de uma Escola Pública de Amargosa Adriana Mendes Andrade
As conjunções coordenativas em redações escolares Mateus Goncalves Santos, Elane Santos de Jesus, Lindiana Oliveira
Descrevendo a variação prosódica mineira: as orações interrogativas totais Leandro da Silva Moura
As vozes da Voz Passiva: forma e significado Francisco Pereira da Silva Neto
Estudo sobre lexicalização em construções binominais qualitativas Nuciene Caroline AmphilóphioFumaux
Mecanismos interdiscursivos e posicionamento na interlíngua no romance “A confis-são da leoa” de Mia CoutoGiselle de Morais Lima
Página 21
Página 27
Página 20
Página 25
Página 24
Página 29
Página 28
Página 35
Linguagem e ensino: uma análise múltiplas formas de interação na sala de aula Jéssica Cristina Gonçalves de Carvalho; Ildo Emmanuel Ribeiro da Silva Santos;Francielle Santos Araujo Página 33
Página 26
Descendo do salto: analisando o ethos discursivo e a disseminação do estereótipo da mulher consumidora em anúncios de sapatos Cibely Silva Freire; Paulo Bruno Lopes da Silva
Página 31
Frames e construções: a anotação das construções da família para infinitivo Ludmila Meireles Lage; AdrieliBonjourLaviola da Silva; Carina Bedendo Silveira; Marcela de Jesus
Página 22
As sibilantes espanholas sob um olhar centrado no uso: uma análise pancrônica Davidson Martins Viana Alves
Estudo sobre as construções de temporalidade com a preposição “de” Samara Moura; Thaís Pedretti
Locuções adverbiais temporais: uma análise semântico-discursiva em documentos oficiais do século XIX Dennis da Silva Castanheira Página 34
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O alinhamento do pico da F0 nas assertivas do Maranhão: um estudo preliminarGizelly Fernandes Maia dos Reis
Mudança paramétrica no português brasileiro: a marcação do Parâmetro do Sujeito Nulo Jéssica da Silva de Melo
Página 39
Página 37
Página 36
Página 38
Norma Culta e padrões variáveis de concordância verbal de terceira pessoa em con-texto de avaliação de desempenhoJuliana Cristina de Paula Pires
Motivações morfossemânticas do uso das preposições no português brasileiro: “de”, “em” e “entre” em diacronia Jorge Lisboa; ThaianeEspíndola
Página 40
O rotacismo em falares dos moradores do pé de serra Amanda Almeida de Jesus; Andréia Teixera Mota; Paulo Sérgio Cerqueira Nogueira Junior
O comportamento comunicativo de um professor universitário: estudo de caso Cosendey,M.S.; Chaves, T.
O uso dos pronomes TU e VOCÊ na escrita digital de cariocas Yalis Duarte Rodrigues Lima
O gênero gráfico e o processamento leitor: uma abordagem de cunho interdisciplinarPriscila Cruz de Sousa
O uso da sintaxe para compreensão leitora de textos acadêmicos em língua inglesa Antonio José Maria Codina Bobia
Ordenação dos adverbiais temporais no português do século XVIII Rosana Azevedo Martins
Página 44
Página 43
Página 48
Página 41
O sujeito nulo de referência indeterminada na fala culta: um estudo de tendência Diana Silva Thomaz Página 45
Página 49
Página 42
Página 47
Página 51
O neologismo verbal nos tempos da Internet Natival Almeida Simões Netoa
O uso de Sintagmas Nominais Complexos e o Gênero Artigo AcadêmicoDebora Carvalho de Almeida
O apagamento do R pós-vocálico no falar de crianças fortalezensesJoice Girão Lopes
Os róticos no Nordeste do Brasil: o apagamento em coda final e medial Aline de Jesus Farias Oliveira; Ingrid da Costa Oliveira Página 52
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Os verbos climáticos e o padrão de concordância no português brasileiro Natival Almeida Simões Neto
Particípios: dimensões de eventos ou de indivíduos? Um estudo de corpus Suelen FontelesLyszy
Pesquisa de Campo para o Levantamento e Análise de Ocorrências de VariaçõesLinguísticas de Falantes Residentes na Comunidade dos Barreiros, Zona Rural de Amargosa-Ba Illysandra Cerqueira Ribeiro;Lorena Cerqueira Ribeiro
Perspectiva sociolinguística da variação de registro: Características do contexto e do grau de formalidadeFidelainy Sousa Silva
Página 53
Página 55
Página 59
Página 58
Página 57
Página 61
Pedido de desculpas e seus efeitos de sentido: Uma análise pragmático-discursiva no contexto diplomáticoLaissy Barbosa
Por uma pedagogia da variação linguística na escola Joseli Rezende Thomaz
Página 62
Quantificadores polilessêmicos de pequena quantidade: uma abordagem construcionista Davidson dos Santos; Élida Ramos Costa; Fátima Bittar Oliveira e Souza
Página 64
Repertório semântico-lexical de falantes de Amargosa: vestuário e fenômenos atmosféricos Anastácia Amorim Santana; Robevaldo Correia dos Santos
Página 65Variação no uso de ‘tu’ e ‘você’ genérico em conversas no meio digital Maria Julia Nascimento Sousa Ramos
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O discurso político por representar o palco onde ideologias e obrigações são apresentadas, estas
sempre pautadas no consenso social, vale-se como estratégia de persuasão da modalidade deôntica,
a modalidade do dever. Tendo isso em vista, o presente artigo analisou as formas de expressão da
modalidade deôntica nos discursos políticos do senador baiano João Durval. Para tanto, através de
uma concepção funcionalista dos estudos linguísticos, verificamos como se apresentam as variáveis
de valor deôntico (proibição, permissão sugestiva, permissão autorizada, permissão concessiva,
obrigação) e as formas de expressão (verbo pleno, verbo auxiliar modal, adjetivo, substantivo, advérbio)
com que se manifestam no corpus selecionado.
Esse, por sua vez, consiste de três discursos (Habilitação para motoboys e mototaxistas; Revitalização
dos portos da Bahia; Regulamentação da profissão de vendedor ambulante) proferidos, respectivamente,
nos anos de 2007, 2009 e 2010 no Senado Federal. Como resultado, encontramos o valor deôntico
obrigação como preponderante. Tal fenômeno pode ser explicado a partir da finalidade pragmática do
discurso, que pretende convencer os ouvintes a aderirem aos posicionamentos propostos pelo político.
Tendo em vista a temática abordada, o presente trabalho se localiza nas propostas de discussões
levantadas pelo eixo temático “Linguagem em uso: cognição, mudança e história”.
Por apresentar as estratégias utilizadas no discurso para exprimir pontos de vista e tentar promover
persuasão, a partir da análise das escolhas lexicais e modais estabelecidas no corpus analisado, este
trabalho promove a discussão acerca das relações entre estruturas gramaticais e estratégias cognitivas
de construção do significado. Com o estudo dos conceitos anteriormente citados, como as escolhas
lexicais e uso da modalidade deôntica, a partir de textos oficialmente políticos poderemos trilhar
caminhos ou pistas para o possível desvelamento de questões ideológicas e persuasivas no discurso
político analisado.
Palavras-chave: valores modais; modalidade deôntica; discurso político.
A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO POLÍTICO A PARTIR DA MODALIDADE DEÔNTICA
Aliny da Silva Portela
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A investigação ora proposta ocupa-se da análise da colocação pronominal em lexias verbais simples
nos gêneros textuais editorial, notícia e crônica, extraídos do domínio jornalístico, no âmbito do
Português do Brasil.Pretende-se estabelecer o padrão de ordenação dos clíticos pronominais e seus
condicionamentos linguísticos e extralinguísticos, considerando-se textos do veículo de comunicação
carioca endereçado à classe média-alta, o jornal O Globo.
Com o propósito de investigar o comportamento e o condicionamento das variantes em
questão,considerando um continuum de monitoração estilística (cf. BORTONI-RICARDO, 2005)
a partir dos gêneros textuais controlados, a presente pesquisa baseia-se em orientações teórico-
metodológicas da Sociolinguística de orientação laboviana, também conhecida como Teoria da
Variação e Mudança (WEINREICH, LABOV, HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 1994, 2003).
O trabalho pauta-se na hipótese de que os gêneros textuais de domínio jornalístico detêm
comportamentos dessemelhantes no que se refere à posição em que os clíticos pronominais são
alocados em lexias verbais simples e complexos verbais. Tal suposição se baseia na postulação de um
continuum de formalidade segundo o qual, no domínio jornalístico, haveria gêneros textuais com
maior compromisso com os modelos idealizados para o que se convencionou chamar de norma padrão
culta e outros com menor compromisso. Em outras palavras, pressupõe-se a heterogeneidade dessa
norma no veículo jornalístico em análise, o que demonstra que, na esfera da suposta “norma culta” em
uso, ocorreria na realidade uma pluralidade de padrões.
Pretende-se, portanto: (i) instrumentalizar-se da Sociolinguística Variacionista com o intuito de
fundamentar a análise do corpus em busca do padrão de colocação pronominal e seus condicionamentos
linguísticos e extralinguísticos; (ii) por meio da análise, testar a hipótese de que haveria diferenças no
uso da ordem dos clíticos consoante ostrêsgêneros textuais selecionados; e (iii) identificar o modo
como se dá a materialização da(s) norma(s) de que se utiliza o domínio jornalístico.
Baseando-se na metodologia utilizada nostrabalhos de orientação sociolinguística, a
presenteinvestigação desenvolverá os seguintes procedimentos: 1º) coleta de dados; 2º) estabelecimento
das variáveis linguísticas e extralinguísticas a serem investigadas; 3º) codificação dos dados
segundotaisvariáveis; 4º) tratamento dos dadossegundo o instrumental técnico-computacional do
A DETERMINAÇÃO DE UM CONTINUUM DE MONITORAÇÃO ESTILÍSTICA EM GÊNEROS TEXTUAIS DA MÍDIA IMPRESSA: UM OLHAR
SOCIOLINGUÍSTICO SOBRE A ORDEM DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS
Daniel do Vale Bernardo
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pacote de programasGOLDVARB-X;e 5º) análise e interpretação dos resultados.
Para o tratamento quantitativo dos dados, o estudo utiliza o pacote de programas GOLDVARB-X,
responsável pelo índice de aplicabilidade da regra variável de colocação pronominal, pelas frequências
absolutas, pelos valores percentuais e pelos pesos relativos de cada variante. Este programa também
indica, com base em análise estatística multivariada, as variáveis linguísticas e extralinguísticas que
favorecem o fenômeno, quando ele se mostra efetivamente variável.
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O presente trabalho consiste em um recorte de uma ampla pesquisa intitulada “A gramaticalização
de construções com verbos modais no português brasileiro” e tem como intuito discutir os usos do
verbo chegar. Como aporte teórico, assumimos a perspectiva da gramaticalização de construções
(TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b, 2009, 2012), uma vez que partimos do princípio de que as
construções seriam as unidades básicas da língua, instanciadas a partir do pareamento entre forma
e sentido, e consideramos que a emergência de novos padrões construcionais se daria através do
tempo e dos falantes. Neste trabalho, adotamos a perspectiva de gramaticalização como processo de
(inter)subjetivização (TRAUGOTT, 1995, 2010; TRAUGOTT & DASHER, 2005). Buscamos, nesse
sentido, evidenciar como a instanciação dos diferentes usos de “chegar” revelam um processo de
expansão semântico-pragmático uma vez que consideramos que o verbo chegar seguiria o seguinte
cline de mudança: [- subjetivo] > [+ subjetivo]> [+(inter) subjetivo]. Consideramos, portanto, que a
gramaticalização pode ser concebida como um processo através do qual as construções – que primeiro
expressam significados concretos/lexicais/objetivos – passariam, a partir da reiteração de seu padrão
de uso, a indicar funções abstratas/pragmáticas/interpessoais baseadas na crença dos falantes. A fim
de cumprir os objetivos estabelecidos neste trabalho, realizamos uma análise com dados do projeto
“NURC/RJ”, que tem como objetivo fundamental documentar a variedade culta da língua portuguesa
falada na cidade do Rio de Janeiro. O corpus conta com entrevistas gravadas nas décadas de 1970 e
1990 do século XX, com informantes com nível superior completo, nascidos no Rio de Janeiro e filhos
de pais preferencialmente cariocas. Como acreditamos o levantamento sistemático da frequência de
uso (BYBEE, 2003; VITRAL, 2006; MARTELOTTA, 2010) pode atuar como um subsídio importante
para verificar a gramaticalização de novos padrões construcionais na língua. A partir deste trabalho,
esperamos contribuir para um conhecimento mais efetivo acerca da gramaticalização de construções
com verbo “chegar” no português brasileiro.
A GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO CHEGAR: A DEFINIÇÃO DE UM PERCURSO DE (INTER)SUBJETIVIZAÇÃO
Vânia Gomes de Almeida; Michele Cristina Ramos Gomes
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Este trabalho tem como objetivo verificar até que ponto a língua falada interfere nas escritas dos alunos
das séries iniciais, partindo da seguinte questão: Qual a Interferência da Fala na Escrita dos alunos de
séries iniciais? Para a realização da pesquisa, utilizamos 15 textos coletados da Escola Deolinda Maia
Sales, da 3ª série, localizada na zona rural, do município de Amargosa-BA. As variações linguísticas
presentes em diversas comunidades fazem com que ocorra, em alguns casos, interferência da fala na
escrita, devido à complexidade que há entre os sons e a sua representação gráfica. Existem fenômenos
fonológicos que explicam como ocorre essa interferência. Ao analisarmos os textos, encontramos
alguns desses fenômenos, tais como: harmonização vocálica (ocorre quando há no segmento uma
combinação das vogais, que antecedem as vogais altas); Desnasalização(ocorre quando há supressão das
consoantes nasais na palavra); Iotização (ocorre a despalatalização da consoante representada por LH
na escrita, sendo substituído pela vogal [i]); Rotacismo (ocorre a troca do segmento [l], pelo segmento
[r]); Comutação (ocorre quando há troca da posição do segmento [r]); Supressão (ocorre quando há
neutralização do segmento [x], no final e medial e no gerúndio) e Aférese (ocorre o apagamento da vogal
[a], no início de palavras). Diante do que foi analisado, podemos perceber que a fala realmente interfere
na escrita, sendo que vários fatores contribuem nessa interferência, pois, de fato, foram encontrados
traços de variações linguísticas nos textos dos alunos, devido à variação dialetal daquela comunidade
que está localizada na zona rural. Dessa forma, cabe à escola discutir as variações linguísticas com
os alunos, explicando suas causas e consequências, levando-os a compreender a língua como uma
atividade social, sujeita a diferentes regras nas modalidades escrita e oral. Assim sendo, não dá para
conceber o ensino de línguas, como se elas fossem estáveis, pois a língua falada apresenta variações
que não podem ser simplesmente esquecidas no contexto da sala de aula.
A INTERFERÊNCIA DA FALA NA ESCRITA DOS ALUNOS DE SÉRIES INICIAIS
Viviana de Souza; Ana Cláudia de Souza
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O fenômeno da tabuização é decorrente de questões de natureza social cultural e contribui, sobre
maneira, para a variação e mudança linguística, no nível Lexical. Nessa estreita relação língua/cultura,
a tabuização é um dos aspectos mais notáveis. Para efeito deste estudo, entendemos o tabu como
a abstenção ou proibição de atos, como: matar, comer, ver, dizer qualquer coisa sagrada ou temida.
Ao cometer tais ações o resultado envolve desgraças que pairam sobre a coletividade, comunidade
e individuo. A fim de investigarmos a tabuização religiosa escolhemos as cidades de Pinheiro e
Alto Parnaíba. Para elucidar o estudo fizemos uma pesquisa bibliográfica em livros, artigos, teses
e dissertações, acerca dos campos: língua, cultura, tabu, tabu linguístico, lexicologia, léxico e
sociolinguística. Fizemos uso do questionário semântico-lexical, bem como as gravações referentes
aos informantes das localidades citadas. Além do uso dos questionários e gravações, nos utilizamos
também as fichas dos informantes buscando levantar questões do âmbito social (sexo, escolaridade,
idade e religião) objetivando atrelar estes dados sociais as respostas obtidas pelo questionário semântico
lexical de forma a compreender como os aspectos sociais podem influenciar na pronunciação da
lexia tabuizada. As questões geográficas entre essas cidades apresentam relevância para o trabalho
desenvolvido dado o fato de que a cidade de Pinheiro localiza-se ao norte do estado do Maranhão,
aproximando-se da capital São Luís, e Alto Parnaíba mais ao sul, se distanciando dos centros políticos,
econômicos e sociais. As questões de aproximação ou distanciamento do centro político, econômico
e social refletem diretamente no comportamento e no falar destas cidades o que é e deve ser levado
em consideração na pesquisa disposta. O estudo não pretende se esgotar por meio desta pesquisa,
pois apresentamos uma pequena faceta do tema em pauta que é o tabu linguístico, mais precisamente
o tabu religioso. Trabalhamos com as visões de língua e cultura de Câmara Junior, Almeida Filho e
Dino Preti e nos baseamos nos estudos de tabu apresentado por Mansur Guérios, a fim de embasar e
explicar a compilação de dados do projeto ALiMA no que cerne ao léxico do diabo.
Palavras chave: Interdições linguísticas, Tabu, Lexia do Diabo.
A LEXIA DO DIABO NO FALAR DOS MUNICÍPIOS DE PINHEIRO E ALTO PARNAÍBA
Bruno Mancêbo Araújo; Luan Passos Cardoso;Tammys Loyola Rolim
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Atualmente, muitos autores estão pesquisando o processo de negação sentencial no português falado
brasileiro (PB), e este trabalho tem como tema o estudo da alternância entre os três tipos de negação
sentencial (pré-verbal, dupla negação e pós-verbal) na fala culta carioca.
Há duas visões para a alternância: (A) essas três estratégias têm sido analisadas como estágios de
gramaticalização do mesmo modo pelo qual passou o francês, chamado Ciclo de Jespersen, como
mostra o esquema (FURTADO DA CUNHA, 2001; CAMARGOS, 1998; SCHWEGLER, 1991;
RAMOS, 2006): Negplena-V > Negreduzida-V > Negreduzida-V-Negplena > V-Negplena; (B) As três
estratégias não são formas variantes por haver uma diferença no estatuto informacional do que está
sendo negado: a Neg-V nega informação nova e velha, e Neg-V-Neg e Neg-V negam apenas informação
velha (SCHWENTER, 2005; MENUZZI, 2008; LIMA, 2010).
As hipóteses levantadas para este trabalho foram duas: (a) Hipótese 1, se a visão (A) está certa e (B)
está errada, esperamos observar que a estrutura Neg-V-Neg aumentará, com uma taxa maior nos
indivíduos mais jovens capturando uma mudança em curso; e (b) Hipótese 2, se a visão (A) está errada
e (B) está correta, não esperamos encontrar uma diferença quantitativa significativa entre Neg-V e
Neg-V-Neg, pois a sua distribuição no corpus será determinada pelo estatuto informacional do que
está sendo negado.
Assim, este trabalho tem como objetivo: (a) analisar o comportamento das estratégias em um estudo
de painel e de tendência relacionando-as ao estatuto informacional da sentença (discurso novo/velho)
levando em consideração não só condicionamentos linguísticos como também os fatores sociais e
pragmáticos; e (b) fazer um estudo quantitativo destas estratégias a fim de verificar se estamos diante
de um processo de variação estável ou mudança em tempo real;
A linha principal de investigação deste trabalho está baseada nos pressupostos teórico-metodológicos
da sociolinguística laboviana através do corpus do Projeto NURC/RJ numa amostra de fala constituída
por dezoito entrevistas com informantes escolarizados (Amostra 70; Amostra Recontato e Amostra
90), divididos por faixa etária e sexo.
Foram codificadas 1.381 sentenças desenvolvidas para serem submetidas ao programa Goldvarb X
(SANKOFF, TAGLIAMONTE, SMITH 2005). O tipo de negação sentencial é a variável dependente
e como condicionadores dividimos em dois grupos: (a) Linguístico: Tempo verbal, Tipo de oração e
A NEGAÇÃO SENTENCIAL NA FALA CULTA CARIOCA: UM CASO DE MUDANÇA OU VARIAÇÃO ESTÁVEL?
Karen Pereira Fernandes de Souza
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Realização da negação; (b) Extralinguístico: Estatuto informacional da sentença, Faixa etária, Data do
inquérito e Sexo.
O resultado da pesquisa foi uma curva em “V” tanto no Estudo de Tendência quanto no Estudo de
Painel, em que a faixa 1 não alcança nem 10% de Neg-V-Neg em relação à pré-verbal. Não encontrei
nenhuma ocorrência de V-Neg. O percentual geral de uso de Neg-V-Neg foi de 9% dos dados na
Amostra 70, 5% na Amostra Recontato e 5% na Amostra 90. Há um equilíbrio entre informação
nova e velha para Neg-V-Neg. Refutamos a análise de que o PB está passando por um processo de
gramaticalização, confirmando a visão de que há apenas uma variação nas estratégias de negação.
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O Português Brasileiro (PB) vem sendo descrito, por muitos autores, como sendo uma gramática que
apresenta uma ordem SV rígida, alto índice de sujeitos plenos e ordem VS restrita às construções
apresentativas e construções com verbos inacusativos; ao passo que o PE se caracteriza por uma maior
mobilidade do sujeito. Valle de Souza (2012) em seu estudo variacionista, e analisando a posição do
sujeito em cartas do século XIX e XX, aponta para a existência de duas gramáticas: uma característica
das missivas dos remetentes do gênero masculino em que a ordem VS é condicionada por fatores
“discursivos”, como nas construções apresentativas e por fatores gramaticais, como nas sentenças
subordinadas e interrogativas; e outra gramática característica das missivas das remetentes do gênero
feminino em que a ordem VS está restrita em construções com verbos inacusativos e quando esses não
são verbos inacusativos se tratam de uma possível tradição discursiva.
Motivados por esses estudos, objetivamos nesse trabalho analisar a posição do sujeito em cartas do
século XX, a fim de detectar (i) aspectos da gramática brasileira (Kato, Cyrino, Duarte, Berlinck,
2006), (ii) padrões sociais que possam interferir na ordem da posição do sujeito (Valle de Souza,
2012) e (iii) um caso de competição entre gramáticas (Kroch, 1989). Observamos fatores linguísticos
e extralinguísticos como condicionadores para a preferência de uma determinada ordem em relação
à outra, por acreditamos que haja diferença na maneira dos indivíduos se expressarem, levando em
conta os pressupostos da Teoria do Poder e da Solidariedade (Brown e Gilman, 1960) e o conceito das
tradições discursivas (cf. Kock, 1997; Osterreicher, 1997; Kabatek, 2006).
Para tanto, utilizamos a metodologia da sociolinguística quantitativa e utilizamos o programa
Goldvarb X (Sankoff; Tagliamonte; Smith, 2005) para análises estatísticas. O corpus é composto por
31 cartas pessoais/de teor pessoal, escritas por Fernando Pedreira de Abreu Magalhães (professor,
missionário, escritor, Fundador da Associação dos Cavaleiros de São Paulo, nascido em 1893) e sua
irmã Maria Elisa Pedreira de Abreu Magalhães (Irmã da Congregação Santa Dorotéia, nascida em
1877), no período compreendido entre 1919 e 1942.
Portanto, analisamos a posição do sujeito e a posição social dos indivíduos nessa amostra específica,
partindo da análise das cartas, mas, para além da observação do padrão de ordem do sujeito e da
possível emergência de uma gramática brasileira, observamos como essa mudança pode ter sido
implantada ao longo do século XX, na medida em que estamos levando em consideração a posição
social e as relações sociais dos missivistas.
A ORDEM DO SUJEITO EM CARTAS DO SÉCULO XX: UM ESTUDO DE GÊNERO E POSIÇÃO SOCIAL
Stephanie Valle de Souza
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É notória a presença do espanhol no léxico do português do sul do Brasil, mais precisamente no
estado do Rio Grande do Sul, como elemento constituinte, modificador e facilitador ao aprendizado
deste idioma, ao mesmo tempo irmão, por sua origem, e estrangeiro, por consequência, às pessoas
nascidas aqui.Não é por acaso que os sujeitos nascidos neste Estado, são chamados ‘gaúchos’ e, não é
por acaso também que, pessoas advindas de outros estados da Federação, principalmente da região
nordeste, encontrem aqui, tanta diversidade linguística e lexical, tantas ‘palavras estranhas’ e, ao se
disporem aprender o espanhol como língua estrangeira, encontrem dificuldades na aprendizagem
desta, pois além de adquirir um novo idioma, estão expostos também, à linguagem do povo gaúcho,
considerada distinta de todos os outros estados do Brasil, inclusive dos da região à qual pertencem.
Apesar das fronteiras e dos limites físicos e espaciais entre os países do Rio da Prata com o Brasil, é
clara, perceptível e dinâmica a presença do idioma vizinho nas construções frasais; no léxico rico e
variado, distinto do restante do país; na construção privilegiada de um contexto histórico-social e
particular sulista, e na formação identitária do sujeito nascido neste Estado. Pode-se estabelecer um
limite entre cidades, estados, países, e nações, mas nunca um limite linguístico. Apesar das fronteiras,
a língua, como elemento vivo, em constante mudança e como um elo de comunicação entre os povos,
indubitavelmente e incontrolavelmente, propaga-se, invadindo, transformando, caracterizando
sujeitos e, principalmente, cristalizando sentidos numa sintonia identitária suficiente para reafirmar
a nacionalidade do gaúcho “brasileiro” e no tipo social e especial do sujeito nascido no extremo sul
do Brasil.A língua, como objeto fundamental tanto na construção do sujeito, quanto na formação da
identidade de um povo, está diretamente relacionada com a enunciação histórica, social e ideológica
que conduz a efeitos estéticos, linguísticos e fundamentais na materialização do discurso, formando
indiscutivelmente, a memória da história de um povo.
A PRESENÇA DO “ESTRANGEIRO” FORMANDO A MEMÓRIA DA HISTÓRIA DE UM POVO
Seila Marisa da Cunha Islabão; Rafael dos Santos Lemos
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A harmonia vocálica, aplicada a primeira pessoa do presente do indicativo e a todo o presente do
subjuntivo dos verbos de 3ª conjugação do português moderno, constitui uma regra categórica, isto é,
não é variável (ex: s[e]vir>s[i]rvo; d[o]rmir>d[u]rmo). Entretanto, mostra-se, na passagem do português
arcaico para o português moderno, uma regra variável.Neste trabalho propomo-nos a investigar o
processo de mudança linguística que se operou nos verbos portugueses direcionando à consolidação
de um fenômeno que, após um período de variação, pôde se estabelecer nos contextos já referidos.
O intuito é exatamente uma busca pelo momento histórico em que as variantes harmonizadas e
as variantes não harmonizadas competiram (ex: sérvio vs. sirvo, dórmio vs. durmo), ou seja, pelos
momentos intermediários da mudança.
Para tanto, buscaremos realizar uma análise quantitativa das ocorrências de formas verbais
harmonizadas e não harmonizadas no percurso da língua, desde a fase histórica referente ao Português
Arcaico em direção às primeiras décadas do Português Moderno (sobre a classificação das fases do
português, cf. MATTOS E SILVA, 2007). Tomaremos, portanto, o século como um dos fatores, numa
tentativa de acompanhar quando surgem os primeiros verbos harmonizados, como se deu o processo
de variação temporal, e por fim, quando se processou, de fato, a mudança linguística. Não obstante,
investigaremos a relevância e a repercussão no uso das variantes de outros fatores, linguísticos e
extralinguísticos, como a qualidade da vogal do radical, a presença ou não de coda na penúltima
sílaba, o gênero textual e a origem do texto (ambiente de circulação).
Nosso corpus será composto de textos, tanto em poesia quanto em prosa, produzidos no intervalo de
tempo que começa no século XII e se estende até o século XVI, isto é, basicamente, todo o período
do Português Arcaico e início do Português Moderno. Consultaremos, portanto, o Cancioneiro da
Ajuda e o da Biblioteca Nacional (séc. XII – XIV), o Cancioneiro Geral (XV – XVI), o Testamento de
D. Afonso II (1214), o Testamento de Elvira Sanchez (1193), a Gramática da Língua Portuguesa (1540),
de João de Barros, entre outros, pertencentes ao intervalo de tempo citado e que podem contribuir na
quantificação de dados.
A REALIZAÇÃO VARIÁVEL DA HARMONIA VOCÁLICA VERBAL NO PORTUGUÊS: UMA ANÁLISE QUANTITATIVA
Marcella Karoline Belo Rodrigues
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Este trabalho apresenta atividades que vêm sendo realizadas no projeto A pedagogia da variação
linguística na escola, patrocinado pela UFJF e desenvolvido no núcleo de pesquisa FALE, da Faculdade
de Educação dessa Universidade. É uma pesquisa-ação que objetiva investigar problemas comuns
da fase escolar do ensino fundamental, relativos à variação linguística e suas consequências no
desenvolvimento de competências dos alunos no uso das variedades cultas da língua, na modalidade
oral e na escrita, dentre eles, a crença equivocada de que só é correta a variedade da língua ensinada
pela escola, devendo os alunos, nesse caso, reconhecerem-se como maus usuários de sua própria língua
e aprenderem o que a escola ensina através de regras e de classificações (FARACO, 2008). Com alunos
de escola pública, usuários de uma variedade linguística desprestigiada, o problema é mais grave,
devendo-se, então, adotar uma pedagogia culturalmente sensível (BORTONI-RICARDO, 2004), que
reconheça a legitimidade dos padrões culturais da comunidade a que pertencem. A metodologia
adotada tem sido a pesquisa-ação, com a participação direta dos pesquisadores envolvidos no campo
de pesquisa, desenvolvendo-se em turmas do 7º. ano de uma escola pública do município de Juiz
de Fora (MG), que recebe alunos com história de sucessivas reprovações e grande defasagem nas
competências de leitura e escrita. São, em geral, jovens moradores de bairros da periferia, com acesso
restrito às práticas de letramento prestigiadas. Vivem, além disso, em quase permanente situação de
risco e recebem, por essa razão, cuidado especial da administração da escola e dos professores. Apesar
disso, ainda apresentam certa rejeição à escola, por causa de seu passado difícil nas instituições de
ensino de onde provieram. O trabalho de inserção nas práticas de letramento tem sido feito através de
gêneros textuais. Nas atividades, os alunos aprendem o porquê do uso da língua, o que ela significa no
espaço em que vivem e como relacioná-la com seus cotidianos, sabendo qual a importância de aprendê-
la e utilizá-la: “Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva
ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”
(FREIRE, 1996). Estamos na fase de reconhecimento das ações escolares, auxiliando as professoras
no processo de ensino/aprendizagem. Observou-se que esses alunos, embora no 7º ano, ainda não
dominam as normas do código escrito e, na maioria dos casos, não conseguem ler e escrever pelo
menos razoavelmente. Na escola, têm tido contato com situações reais de uso da língua portuguesa
A VARIÁVEL CONFIGURAÇÃO SINTÁTICA EM CONSTRUÇÕES DE TOPICALIZAÇÃO E DE DESLOCAMENTO À ESQUERDA EM PEÇAS
TEATRAIS PORTUGUESAS DO SÉCULO XX
João Pedro Abraham Tosta; Isabela de Campos Mourão
18
para se tornarem capazes de fazer reflexões linguísticas necessárias ao seu bom desempenho nas duas
diferentes modalidades, preparando-se para serem, um dia, leitores maduros e escritores competentes
nas variedades cultas, sem considerarem, no entanto, que falam errado, enquanto não adquiriram
essa competência. Nesse caso, os conceitos de correção e erro serão substituídos pelo de adequação.
Que sejam, ao final do projeto, competentes usuários da sua língua, entendendo-a não como pedra no
caminho, mas como instrumento para o sucesso em suas atividades escolares e também em outros
setores da vida.
19
O objetivo deste trabalho é fazer uma abordagem a respeito dos usos linguísticos presentes nas
redes sociais, suas origens, como essa linguagem tem se dinamizado, influenciado os demais grupos
sociais a utilizá-la e quais os seus aspectos positivos e negativos com relação à norma culta da língua
portuguesa. Para isto, com bases teóricas que serão utilizadas, discutiremos essa presença linguística,
como a forma de se expressar através das redes sociais vem se modificando, em busca da facilidade,
acesso e rapidez no ato de se comunicar, nos dias atuais. Veremos como essas formas expressivas têm
influenciado na comunicação social entre as pessoas, no âmbito escolar, profissional, etc, além de
analisarmos os seus reflexos diante da norma culta da linguagem, buscando identificar os níveis de
compreensão, respeito e valorização da língua portuguesa. Abordaremos também a sua inserção nos
meios escolar, social, profissional etc., visualizando os seus impactos na comunicação, nas relações
sociais e pessoais e na educação. Para finalizar, apresentaremos como contribuição para o nosso
saber os benefícios e malefícios dessa usualidade, além de exemplos cotidianos para que as mesmas
clarifiquem as ideias trabalhadas.
ANÁLISE DA LÍNGUA: O USO LINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS NO COTIDIANO E REDES SOCIAIS
Vilma Vaz Monteiro
20
O presente trabalho trata-se de uma análise dialógica entre discursos políticos produzidos antes e
pós a realização da Rio + 20, relacionando os mesmos com o documento oficial que foi produzido
no encerramento desta importante conferência entre as nações. Esta investigação tem como intuito
analisar as principais falas produzidas neste contexto e divulgadas pelas mídias.A presente pesquisa
esta vinculada ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica 2012-2013-PIBIC/CNPQ/
UEAP. O estudo em questão tem como objetivos:Analisar o discurso sócio-político do documento
oficial da Rio+20, diagnosticar as intenções persuasivas nas notícias veiculadas referentes à importância
da conferência, utilizar os princípios foucaultianos e baktinianos para inter-relacionar os discursos e
o contexto no qual eles foram produzidos, descrever as estratégias discursivas e os mecanismos que
configuram o documento final da conferência.
Para a abordagem do dialogismo e a análise dos discursos sócio-políticos, estão sendo usados como
embasamento teórico os princípios foucaultianos e baktinianos. A investigação é do tipo exploratória,
este caso ocorrerá pois,a pesquisa visa o aprimoramento de ideias, analisando criticamente a temática
ambiental por meio de estudo bibliográfico que recorram de maneira primordial aos pressupostos de
estudiosos da linguagem discursiva como Bakhtin e Foucault. Esse trabalho também é classificado
como explicativo, já que a análise do dialogismo dos discursos e interesses supostamente ambientais
servirá como fundamento para explicar a redação final do documento resultante da Rio +20.
A pesquisa proposta possui relevância, porque além de oportunizar aos sujeitos receptores do
discursoem questão uma formação política na sociedade, também fará com que os mesmos percebam
de maneira eficaz a importância do conhecimento discursivo.Portanto, espera-se com a investigação
resultados científicos que contribuam para a formação social e construção ideológica dos estudiosos
da linguagem.
ANÁLISE DISCURSIVA COM PRINCÍPIOS FOUCAULTIANOS E BAKHTINIANOS: O DIALOGISMO ENTRE OS DISCURSOS SÓCIO-POLÍTICOS PRODUZIDOS ANTES E PÓS RIO+20 COM O DOCUMENTO OFICIAL DA CONFERÊNCIA
Danielle Marques Gomes
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Neste trabalho, apresenta-se uma análise do uso dos articuladores coordenativos em redações
escolares de alunos concluintes do 3° ano do Ensino Médio da rede pública da cidade de Jequié/BA,
com a finalidade de comparar o quadro das conjunções coordenativas apresentado nas gramáticas
normativas da língua portuguesa com as que são usadas com mais frequência nas produções escritas
dos alunos. Entende-se aqui o processo da coordenação como um mecanismo sintático de estruturação
das orações dentro do período que estabelece relações lógicas e não apenas a ligação de frases, em
outras palavras, é um processo sintático de encadeamento de ideias (GARCIA, 2003). Discute-se a
disparidade semântica no uso dos conectivos, isto é, quando o aluno utiliza um conectivo que traz
uma relação outra que não aquela estabelecida pelos gramáticos, por exemplo, iniciar a segunda oração
com um conectivo explicativo quando a primeira, por razões lógicas, pede um conectivo de valor
adversativo.Nessa perspectiva, adotar-se-á como orientação teórico-metodológica, principalmente,
os pressupostos de Rodrigues (1999), que trata do comportamento dos articuladores subordinativos
na linguagem jornalística com a finalidade de detectar se aconteceram alterações no quadro das
conjunções geralmente encontrado nas gramáticas tradicionais e se estão sendo usadas efetivamente
em textos escritos formais. A pesquisa justifica-se pela escassez da análise do comportamento dos
articuladores coordenativos na estruturação de textos escritos formais de alunos. Embora reconheçam
os conectivos coordenativos, ou seja, apenas identifiquem os articuladores sintáticos, os alunos não
estabelecem a relação lógica de sentido entre as orações, em outras palavras, usam de modo aleatório
os articuladores sintáticos sem estabelecer relações de sentido. Não se discutirá o fato de as gramáticas
normativas não incluírem na análise dos processos sintáticos a correlação, pois não constitui, aqui,
objeto de análise, mesmo porque os pares prototípicos aditivos,por exemplo,não só...mas também não
são usados com tanta frequência pelos alunos.
Palavras-chave: Articuladores sintáticos. Coordenação. Redação escolar.
AS CONJUNÇÕES COORDENATIVAS EM REDAÇÕES ESCOLARES
Mateus Goncalves Santos, Elane Santos de Jesus, Lindiana Oliveira
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O presente trabalho é fruto de uma inquietação no que concerne às sibilantes espanholas que têm,
na sua trajetória linguística, variados processos formadores de fonemas, tais como a fonologização,
a transfonologização e a desfonologização. Será apresentado o percurso das manifestações das
sibilantes linguointerdental [θ] e apicoalveolar [s], segundo a classificação proposta por Quilis (1953;
1993). Investigam-se, também, os mais variados aspectos desses sons, tais como suas classificações
articulatórias e a análise feita por intermédio da matriz de traços. Descrevem-se pelo estudo pancrônico,
os fatores linguísticos e, sobretudo, os extralinguísticos relacionados aos fenômenos do seseo, ceceo
e distinção, com base na reorganização do quadro das consoantes espanholas que ocorreu entre os
séculos XVI e XVII e que originou o sistema consonântico do espanhol atual.
Sobre o reajuste consonântico do Espanhol antigo, ou Castelhano, menciona-se que os alofones
principais das três sibilantes do espanhol do século XVI concentravam-se em um espaço articulatório
reduzido, pois seu contraste fonético era pequeno. Depois da mudança, o contraste ficou mais evidente.
O objetivo específico deste trabalho é mostrar a evolução dos fenômenos seseo e ceceo, baseando-se no
pressuposto de William Labov (1976, p. 190): “Pode-se considerar que o processo de variação linguística
se desenrola em três etapas. Na origem, a mudança se reduz a uma variação, entre milhares de outras,
no discurso de algumas pessoas. Depois ela se propaga e passa a ser adotada por tantos falantes que
doravante se opõe frontalmente à antiga forma. Por fim, ela se realiza e alcança a regularidade pela
eliminação das formas rivais”. Nesta perspectiva, formula-se um continuum entre seseo e ceceo,
estando a distinção entre esses extremos. Deste modo, classificar-se-á as regiões espanholas em
comunidades de fala seseante e/ou comunidades de fala ceceante, com base no referencial teórico da
Teoria da Difusão Lexical de Cristófaro-Silva (2011) e da Fonologia de Uso preconizada por Bybee
(2001a). A referida teoria estabelece que a produtividade de um padrão está estritamente relacionada
com sua frequência de tipo (type frequency) e de ocorrência (token frequency) que, por sua vez, estão
vinculadas à competência pragmática e aos propósitos comunicativos do falante. Logo, postula-
se que sons, em quaisquer línguas, cuja função opositiva seja pequena têm maior possibilidade de
desaparecer, porque são menos estáveis. Verifica-se que os dados provenientes dos mapas e textos
- tanto do espanhol arcaico quanto do espanhol contemporâneo - corroboram alguns pressupostos
dos modelos de uso, como (1) a frequência de ocorrência exerce impacto sobre a mudança sonora
AS SIBILANTES ESPANHOLAS SOB UM OLHAR CENTRADO NO USO: UMA ANÁLISE PANCRÔNICA
Davidson Martins Viana Alves
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(palavras mais frequentes são afetadas primeiro por mudanças redutivas); (2) o detalhe fonético é
relevante para a análise multirrepresentacional, advinda de fatores comprovados pela mudança efetiva
de determinados usos, ou seja, a mudança está para o uso assim como a variação está para a real prática
linguística e (3) o uso linguístico promove a alteração imediata das representações, que são dinâmica.
PALAVRAS-CHAVE: fonologia de uso; fonética articulatória; variação e mudança; pancronia; língua
espanhola.
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A voz constitui uma faceta verbal frequentemente analisada, principalmente do ponto de vista
semântico. Este trabalho trata das vozes verbais e seus efeitos semânticos. Sabe-se que a Gramática
Normativa (essencialmente a escolar) iguala os valores sintático e semântico das duas articulações da
apassivação: sintética e analítica. A grande maioria dos compêndios assume esse posicionamento e
chega a comparar explicitamente as duas estruturas, atribuindo-lhes um mesmo sentido. Esta pesquisa
tem como objetivo analisar os limites dessa aproximação de valor semântico do enunciado em razão
da própria mudança estrutural, haja vista que a língua apresenta situações que vão de encontro a tal
preceito normativo e generalizador. Em O funcionário demitiu-se, por exemplo, há distinções em
relação à forma desenvolvida da voz verbal – O funcionário foi demitido. A segunda oração, com o
verbo na voz passiva analítica, possui uma conotação diferenciada em relação à primeira; casos que
apresentam essa distinção refutam o princípio de igualdade semântica entre tais estruturas sugerida
pela Gramática Normativa. O presente trabalho procura estabelecer a relação entre estrutura verbal e
construção dos significados dos enunciados que se encontram na voz passiva, observando, também,
outros elementos que possam contribuir para a significação desses enunciados. Para a realização desta
pesquisa, serão extraídas ocorrências de enunciados na voz passiva de edições semanais da revista Época
veiculadas durante o primeiro trimestre de 2013. Após o levantamento dos dados, serão observados e
relacionados os enunciados, suas situações comunicativas e estruturais. Visamos à contribuição para
o II Congresso Internacional da Faculdade de Letras da UFRJ (CIFALE), a partir da exposição e da
discussão de novos olhares sobre este eixo temático dentro das inúmeras possibilidades de se expressar
a língua, pois há necessidades prementes acerca das delimitações de sentido nas estruturas que devem
ser analisadas a serviço da prática comunicativa e de estudos da área em geral.
AS VOZES DA VOZ PASSIVA: FORMA E SIGNIFICADO
Francisco Pereira da Silva Neto
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Partindo do pressuposto que os alunos no período de aquisição da escrita, já fazem uso de certos
elementos de coesão sequencial, o presente artigo buscará analisar tais elementos, a partir de seis
textos produzidos por alunos do quarto ano do Projeto Acelera de uma Escola Pública do Município
de Amargosa. Os textos foram analisados Sob a ótica da linguística textual, mas precisamente o que
diz Ingredore Koch que um texto é um “todo significativo” dotado de fatores de textualidade como:
Coerência, Situacionalidade, Aceitabilidade, Intencionalidade, Informatividade, intertextualidade e
entre eles está á coesão dereferenciação e sequenciação como fator de suma importância para que o
texto não seja um amontoado de frases.A análise foi feita com um corpus de seis textos produzidos
em sala de aula, mediante estudos realizados sobre a fábula: “a cigarra e a formiga”. Analisaram-se
tais produções textuais e, a partir disso, alcançaram-se os seguintes resultados: Os alunos fazem uso
das duas modalidades de coesão, a referencial e a sequencial, porém os mais encontrados foram os
elementos de sequenciação, visto que esse tem por objetivo garantir a tessitura do texto.Além disso,
verificou-se que os elementos de sequenciação mais encontrados foram os mecanismos de conexão
(aí, então). Acredita-se que os usos frequentes desses conectivos se explicam pelo fato de serem esses
recorrentes na fala, visto que a criança no período da aquisição da escrita tem uma grande facilidade
de realizarem uma transcrição fonética da própria fala, pois, não são capazes ainda de distinguir a fala
da escrita. E também por ser elementos de coesão sequencial mais simples, acessível á criança e marcar
com clareza as sequências dos fatos.Desse modo, verifica-se que apesar dos textos apresentarem alguns
“problemas”, e serem de alunos no período da alfabetização, esses apresentam elementos de coesão e
coerência e até mesmo outros fatores de textualidade que garantem a tessitura e o sentido do texto.
COESÃO SEQUENCIAL: UMA ANÁLISE DE TEXTOS DE ALUNOS DO QUARTO ANO DO PROJETO ACELERA DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE AMARGOSA
Adriana Mendes Andrade
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Centrado sobre as bases do consumismo, o capitalismo dominante em nossa sociedade é cada vez mais
eficaz no momento de produzir e vender não só produtos e serviços, mas também colocar à disposição
de um comprador possíveis valores simbólicos e ideias que acompanham determinada mercadoria.
O desenvolvimento do sistema publicitário, grande aliado da produção em massa, auxilia e alavanca a
disseminação de valores sociais. Sempre associados a estratégias de sedução, persuasão e manipulação,
os discursos publicitários (novos e antigos) Trabalham com fantasias, desejos e a imaginação em geral.
Desta forma influenciam, criam e recriam conceitos e tendências que estão presentes ou que pairam
sobre a sociedade a fim de estabelecer relações entre clientes e produtos e incentivar, muitas vezes, a
manutenção do consumo massivo. Dentre diversos valores e modelos amplamente explorados está a
relação entre as mulheres e sapatos, quase sempre presente na história dos calçados desde suas origens.
É constante a exposição e associação de perfis femininos e a compra de sapatos e a divulgação de
marcas famosas.Apoiados sobre conceitos e premissas da Análise do Discurso e da Semiótica Social,
o objetivo deste simpósio é analisar a produção dos discursos publicitários em campanhas de duas
marcas de sapatos, evidenciando a construção e disseminação do estereótipo da mulher consumista
em diferentes pontos de vista, problematizando valores de nossa sociedade e o papel da mulher no
seio de nossa cultura.Pretende-se também demonstrar o ethos dos discursos publicitários de sapatos
e qual a sua influência sobre a produção de gêneros discursivos e como podem representar o sujeito
enunciador. Para conseguir realizar tais objetivos, o trabalho consiste em uma coleta de alguns anúncios
de sapatos de duas marcas, a fim de que possamos estabelecer possíveis relações de efeitos de sentido
decorrentes da criação de campanhas publicitárias e suas condições de produção, destacando a forma
como a mulher é representada dentro de um contexto histórico e das condições sociais que envolvam
compradores e produtos, além do poder de propagação de valores e ideologias de nossa sociedade.
Isso é de extrema relevância para que se entenda como esses discursos são produzidos e a geração de
sentidos determinados. O presente simpósio visa contribuir com os estudos sobre uma abordagem
pragmático-discursiva acerca da linguagem presente nos discursos publicitários, demonstrando a
variedade de sentidos possíveis em campanhas de sapatos, presentes em nosso cotidiano e como elas
ainda conseguem criar e recriar valores na mente dos consumidores, além de identificar as possíveis
características dos enunciadores e, principalmente, questionar e por em xeque tais valores difundidos
sobre a figura da mulher e a simples modelagem feminina como consumidora.
DESCENDO DO SALTO: ANALISANDO O ETHOS DISCURSIVO E A DISSEMINAÇÃO DO ESTEREÓTIPO DA MULHER CONSUMIDORA
EM ANÚNCIOS DE SAPATOS
Cibely Silva Freire; Paulo Bruno Lopes da Silva
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Os estudos prosódicos, relegados durante muito tempo dentro dos estudos Linguísticos, têm
despertado interesse de pesquisadores no que tange aos estudos acústicos e organização dos atos de
fala. A prosódia pode ser entendida como um conjunto de variações suprassegmentais, que dizem
respeito às questões temporais, organizações melódicas/da entonação e intensidade. Atualmente,
dois projetos objetivam esses estudos: o ALiB (cujo intuito é entender como falam os brasileiros) e o
AMPER (que busca investigar as variações do português no espaço dialetal românico). Nesse sentido,
esta pesquisa corrobora estudos de outros autores, ampliando trabalhos que estão sendo desenvolvidos
referentes à variação prosódica no estado de Minas Gerais. Para este trabalho, nosso corpus constitui-
se de questões interrogativas totais (com resposta “sim” ou “não”), retiradas de gravações realizadas
pelos projetos ALiB e AMPER, nas cidades de Belo Horizonte, Lavras, Montes Claros e Uberlândia
(constantes do primeiro projeto) e Ipatinga (que figura entre as cidades contempladas pelo segundo).
Inicialmente, as frases foram analisadas perceptivamente.
Nesta primeira etapa, foi possível observar que, perceptivamente, nas cidades de Uberlândia e Montes
Claros a melodia utilizada era mais elevada, em relação às demais cidades. Posteriormente, realizamos
análises acústicas, através do software PRAAT, com o intuito de verificar se as diferenças observadas
na etapa anterior seriam relevantes para a caracterização dos falares. Durante essa análise, foram
realizadas medições dos pontos descritivos de F0 (frequência fundamental, percebida como melodia).
Nesta etapa, calculamos as médias, em semitons/100Hz, dos valores obtidos nos pontos mínimo,
máximo, inicial e final. Além dessa análise, nos atemos, também, aos movimentos que, como descrito na
literatura prosódica, caracterizam enunciados dessa natureza: ascendente e ascendente-descendente.
Obtivemos, então, os gráficos referentes a essas medições e pretendemos apresentar, neste trabalho,
os resultados, então, obtidos. Conforme havia sido notado na primeira etapa, foi possível verificar
que nas cidades de Montes Claros e Uberlândia há uso de melodias mais altas durante a produção de
tais enunciados. Os níveis melódicos mais baixos encontram-se entre os informantes das cidades de
Lavras e os informantes do sexo masculino da cidade de Ipatinga. Acreditamos, portanto, que a partir
dessas descrições, é possível contribuir com uma caracterização do falar brasileiro, apresentando,
especialmente, a variação prosódica do mineiro, nessas regiões do estado.
DESCREVENDO A VARIAÇÃO PROSÓDICA MINEIRA: AS ORAÇÕES INTERROGATIVAS TOTAIS
Leandro da Silva Moura
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Neste estudo, colocam-se em foco as construções variantes de temporalidade em que há substituição
da preposição canônica por “de”, como se evidenciam nos dados extraídos da amostra de Natal do
Discurso&Gramática, disponível em http://www.discursoegramatica.letras.ufrj.br/, a exemplo de
ele chegou de oito horas e elas acordavam lá de cinco horas da manhã. Nesses casos, observa-se
que “de” substitui a contração do artigo “as” com a preposição “a”, que forma “às”, prevista pela
tradição gramatical nas locuções indicativas de horas, a exemplo de eu saí às seis horas A partir de
ocorrências do tipo, vai de onze horas da manhã e volta às quatro horas, verificamos que a variante
regional, marcada, alterna com a forma não marcada. Com base nos dados do corpus em questão
fez-se o levantamento das ocorrências marcadas e não marcadas, cujo resultado foi de 66,6% para
33,3%, da variante regional em relação à variante standard. Esse resultado indica que o falante tem
conhecimento da forma prevista pela tradição gramatical, mesmo fazendo uso frequente da variante
regional. Com isso, suscitam-se as seguintes questões (a) a preposição “de” nas construções marcadas
seria equivalente semanticamente ao seu emprego na construção não marcada? (b) sendo o uso das
formas marcadas próprio do dialeto nordestino, seria esse um caso de orientação para a identidade
(Labov 1966), uma vez que as ocorrências demonstram que os falantes têm conhecimento da forma
canônica? Os resultados iniciais apontam para confirmação de (b), enquanto (a) ainda não pode ser
confirmada. O uso da variante regional pode configurar mudança em gradiência, nos termos de
(Mollica et alii, 2013) que consiste na simplificação paradigmática, na qual a preposição “de” assume
a posição prototípica. A partir dessa hipótese, pode-se projetar um continuo de construções menos
afetadas para as mais afetadas a partir do qual um gradiente de exemplares tem importante repercussão
na representação mental da gramática em permanente dinamismo. No caso das construções de
temporalidade, a inovação/mudança parece estar situada regionalmente e, por consequência, torna-se
um desafio a mais buscar comprovar o avanço da mudança.
ESTUDO SOBRE AS CONSTRUÇÕES DE TEMPORALIDADE COM A PREPOSIÇÃO “DE”
Samara Moura; Thaís Pedretti
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A presente pesquisa tem como objetivo analisar as construções binominais qualitativas. As construções
em foco são consideradas binominais por apresentarem a forma N1 de N2, como nos exemplos baqueta
de bar, palito de dente, garrafa de vinho e banho de mar, e são qualitativas por apresentarem uma
relação de especificação. Em banho de mar, por exemplo, mar especifica o tipo de banho.
Pressupostos teóricos: Esta pesquisa foi realizada de acordo com os pressupostos da corrente chamada
Linguística Funcional Baseada no Uso. Segundo esta teoria, o contexto sempre deve ser observado,
pois uma situação comunicativa específica poderá motivar o uso de uma forma linguística por parte
de um falante. No que tange à lexicalização, Martelotta (2011) a define como um processo criador de
novos elementos lexicais, modificando ou combinando elementos já existentes.
Metodologia: A pesquisa foi realizada com base no livro de crônicas “Em algum lugar do paraíso”,
de Luis Fernando Verissimo. O livro possui uma linguagem menos formal, com toques de oralidade.
Neste trabalho, estamos analisando dados coletados a partir do livro, assim, verificaremos se a
linguagem menos formal favorece o uso das construções que fazem parte deste estudo. Buscaremos
identificar fatores formais e pragmático-discursivos que influenciaram o processo de lexicalização das
construções binominais qualitativas, procederemos à avaliação dos níveis de lexicalização e, por fim,
definiremos os padrões desde os mais prototípicos até os mais periféricos.
Análise de dados: Partimos da análise de Brinton e Traugott (2005), que diz que os itens do léxico
podem enquadrar-se em uma escala que varia de um nível mais transparente (L1) até o mais
idiossincrático (L3). Identificamos no corpus sintagmas parcialmente fixos, classificados no nível L1,
que não são construções idiomáticas, por exemplo, “pelo amor de Deus”. No nível L2, encontramos
exemplos como “fim de semana”, sintagma mais complexo que L1, cujos elementos são mais coesos
e semi-idiossincráticos e a possibilidade de inserção ou deslocamento na construção é improvável. Já
o nível L3 difere de L2 apenas no fato de os sintagmas serem formas idiossincráticas não analisáveis,
como no exemplo encontrado, “Cara de pau”.
Conclusão: Na presente pesquisa, ainda em fase inicial, algumas tendências foram reveladas.
Construções com a presença de um determinante em contração com a preposição de são menos
lexicalizadas do que construções sem determinante. O exemplo catalogado, “compras de natal” é uma
ESTUDO SOBRE LEXICALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÕES BINOMINAIS QUALITATIVAS
Nuciene Caroline AmphilóphioFumaux
30
expressão geral, designada para expressar as compras de uma época do ano, portanto lexicalizada.
No entanto, se fosse “compras do Natal”, o artigo definido o especificaria qual o natal e este não seria
genérico e sim determinado. A presença de um adjetivo foi considerada um forte indicador do grau de
lexicalização das construções, pois se o adjetivo qualificar toda a construção como em “banho de mar
perfeito”, indicará que os elementos já não são analisados separadamente, sendo, portanto, altamente
lexicalizados.
31
Este trabalho está inserido no projeto Frames e Construções (TORRENT, 2013), o qual pertence ao
macroprojeto FrameNet Brasil – FN-Br – (SALOMÃO, 2009), sediado na Universidade Federal de Juiz
de Fora. Tal projeto objetiva descrever Unidades Lexicais (ULs) a partir dos frames que estas evocam,
bem como criar um Constructicon para o Português do Brasil, da mesma forma como tem sido feito
para o Inglês pela FrameNet Americana – com sede na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Para
desenvolver essas pesquisas, tomamos como base conceitos da Semântica de Frames (FILLMORE,
1982) e da Gramática das Construções (FILLMORE & KAY, 1999; GOLDBERG, 2006), sustentando
as análises por meio de evidência de corpus. A intenção deste trabalho, em particular, é descrever os
padrões construcionais que vêm sendo analisados no âmbito do projeto, os quais compõem a família
de construções em Para Infinitivo do Português do Brasil (LAGE, 2013).
Essas construções compartilham um SV infinitivo regido por para e, em relação ao sentido, os padrões
evocam, em geral, elementos do frame de Finalidade, ou outros relacionados a este, devido ao fato de
o verbo no infinitivo indicar um objetivo a ser realizado ou alcançado. Os padrões descritos são os
seguintes [Vdar para Vinf], o qual evoca o frame de Possibilidade; [SN Vdar para Vinf], o frame
de Iniciar_atividade_iterativa; [Vser para Vinf], os frames de Ser_obrigado e Ser_obrigatório; [SN
Vestar para Vinf], os frames de Ação_preparada ou Evento_preparado; [SN Vser doido para Vinf], o
frame de Desejar e [(SN) Vter/haver/faltar/dar SN para Vinf], o frame de Habilitação. Nosso objetivo,
portanto, através deste estudo, é apresentar a descrição dos padrões construcionais da família de
Para Infinitivo, mencionados acima, apresentando o trabalho que vem sendo desenvolvido para a
implantação do recurso sintático do PB – o Constructicon. Além disso, intencionamos demonstrar
como se dá o processo de anotação de construções no FrameNet Desktop, seguindo a metodologia da
FrameNet para a anotação lexicográfica (RUPPENHOFER et al., 2010) e construcional (FILLMORE,
LEE-GOLDMAN & RHODES, 2012), utilizada para o tratamento de construções gramaticais.
Referências Bibliográficas:
FILLMORE, C. J. Frame Semantics. In: THE LINGUISTIC SOCIETY OF KOREA (org.). Linguistics
in the morning calm. Seoul: Hanshin, 1982.
FRAMES E CONSTRUÇÕES: A ANOTAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES DA FAMÍLIA PARA INFINITIVO
Ludmila Meireles Lage;AdrieliBonjourLaviola da Silva; Carina Bedendo Silveira; Marcela de Jesus
32
FILLMORE, C. J.; KAY, P. Grammatical Constructions and Linguistic Generalizations: the What́ s X
Doing Y Construction. Language, vol. 75, nº 1, 1999.
FILLMORE, C. J.; LEE-GOLDMAN R.; RODHES, R. The FrameNet Constructicon. In: BOAS, H. C.;
SAG, I. Sign-Based Construction Grammar. Chicago: CSLI, 2012.
GOLDBERG, A. Constructions at Work: The nature of generalization in language. Oxford: Oxford
University Press, 2006.
LAGE, L. M. Frames e Construções: a implementação do Constructicon na FrameNet Brasil.
Dissertação de Mestrado em Linguística. Juiz de Fora: UFJF/FALE, 2013.
SALOMÃO, M. M. M. FrameNet Brasil: um trabalho em progresso. Calidoscópio, São Leopoldo:
UNISINOS, vol. 7 n. 3, p. 171-182, set/dez 2009.
TORRENT, T. T. Frames e Construções: a anotação de esquemas construcionais na FrameNet Brasil.
In: Anais do I Congresso Internacional de Estudos do Léxico. Salvador: UFBA, 2013.
33
Os estudos linguísticos, como já se sabe, fornecem subsídios para a pesquisa descritiva/analítica das
línguas naturais, em seus aspectos estruturais, cognitivos, funcionais, pragmáticos e interacionais
(BEZERRA; REINALDO, 2013). Partindo dessa premissa, queremos dizer que este trabalho tem como
objetivo apresentar resultados parciais de um estudo feito com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental
do Colégio Estadual Presidente Costa e Silva,em Aracaju/SE. Apresentaremos, aqui, uma experiência
de ensino-aprendizagem da leitura/escritura com o propósito de evidenciarmos as múltiplas formas
de comunicação,ocorridas entre os alunos e seu educador (no ambiente escolar), por meio da análise
dos diálogos estabelecidos, interativamente, entre o texto-base trabalhado em sala de aula e os textos
produzidos pelos discentes. Para isso, aplicamos questionários e gravamos entrevistas, tentando assim,
um contanto direto com as produções de cada um. Partindo desse propósito,percebemos como eles
usam maneiras diversas para expressar seus pontos de vista sobre a mesma coisa.
Podendo observar com clareza que as ideias dos sujeitos do discurso são bem diversificadas e,
consequentemente, bem variadas. Buscamos, também,expressar nesse trabalho que as variações
sociais, culturais, linguísticas, cognitivas, interacionais são de grande importância à vida do ser
humano. Já que não somos iguais, porque seria preciso se comunicar de forma igual? É respondendo a
essa indagação que resolvemos investigar a esse respeito. Pautamos teoricamente nossa argumentação
em uma concepção de língua como interação, heterogeneamente construída (CORRÊA, 2004), já que
o caráter constitutivo da linguagem (FRANCHI; FIORIN; ILARI, 2011) é uma característica com a
qual todo linguista acaba por defrontar-se cedo ou tarde, independentemente do campo em que atua.
A língua é, portanto, um fator extremamente importante na identificação de grupos sociais, em
configuração, como também uma possível maneira de demarcar diferenças sociais no seio de uma
comunidade (TARALLO, 2007).
É preciso indispensavelmente ensinar a cada aluno maneiras diversas de comunicação, informando
e praticando como ocorrem as múltiplas variações. Não se quer formar alunos acomodados, pelo
contrario, tentamos inovar nas maneiras de ensino para assim obter qualidade nessa tão esperada
“forma correta de falar”. Tomamos como base teórica os estudos de Marcuschi (2008); Cristóvão e
Nascimento (2011); Morato (2005), entre outros.
LINGUAGEM E ENSINO: UMA ANÁLISE MÚLTIPLAS FORMAS DE INTERAÇÃO NA SALA DE AULA
Jéssica Cristina Gonçalves de Carvalho; Ildo Emmanuel Ribeiro da Silva Santos; Francielle Santos Araujo
34
A presente pesquisa consiste numa investigação acerca das relações que as locuções adverbiais de
tempo (como “por ano”, “neste instante” e “para o futuro”) estabelecem, tanto semanticamente como
sintaticamente, com as orações em que se encontram. O corpus utilizado para esse trabalho é composto
por documentos oficiais do século XIX oriundos do projeto Para História do Português Brasileiro
(PHPB). Os dados dessa pesquisa foram submetidos ao programa Statistical Package for the Social
Scienses (SPSS) para obtenção de frequência e cruzamento.
Os principais objetivos dessa análise são: (i) caracterizar as posições assumidas pelas locuções,
apresentando a frequência de ocorrência de cada uma; (ii) analisar a relação entre a continuidade
tópica e ordem da locução na oração; (iii) relacionar o papel discursivo assumido pela locuçao e sua
ordem na oração; (iv) analisar o papel sintático do elemento ligado ao verbo e à locução na oração
em que estão presentes para fins quantitativos; (v) relacionar a ordem da oração em que a locução se
encontra e a posição da mesma. Algumas de nossas hipóteses: (a) quando há continuidade de tópico,
a locução tende a ocorrer fora da margem, ou seja, o comportamento do fator “continuidade tópica”
influenciaria a posição do adverbial, determinando-o; (b) a função discursivo-textual da oração
influencia na posição dos seus sintagmas. Portanto, sintagmas com função discursiva de especificador
temporal, por exemplo, tendem a ocupar as posições pós-verbais, já os sintagmas com essa função
discursivo-textual ocorrem em posições pré-verbais, principalmente na margem esquerda da cláusula.
Para tanto, foram considerados os pressupostos teóricos da Linguística Funcional Baseada no Uso.
Esta corrente consiste no estudo da linguagem humana, relacionando as estruturas gramaticais
seus contextos de uso e o papel da interação.O principal pressuposto aplicado à presente pesquisa
é a iconicidade. Tido como a correlação natural entre código linguístico e função, esse princípio
está relacionando à noção de que as línguas, de alguma forma, refletem o pensamento. Seu emprego
ocorreu através de um dos seus subprincípios testados na pesquisa, o da proximidade. A noção de
que estará mais próximo sintaticamente o que estiver mais próximo cognitivamente foi aplicada na
hipótese de que “quando há continuidade do referente-sujeito, a locução tende a não estar na margem”.
Após colocar os dados no programa SPSS, foram obtidos resultados que confirmaram as hipóteses
aqui colocadas. Uma proposta que obteve confirmação foi o conjunto de dados onde havia presença
de continuidade tópica, nesses, o adverbial esteve fora da margem, o que totalizou considerável
percentual estatístico
LOCUÇÕES ADVERBIAIS TEMPORAIS: UMA ANÁLISE SEMÂNTICO-DISCURSIVA EM DOCUMENTOS OFICIAIS DO SÉCULO XIX
Dennis da Silva Castanheira
35
O presente artigo busca utilizar-se dos conceitos de mecanismos interdiscursivos, posicionamento e
interlíngua, propostos por Dominique Maingueneau em Discurso Literário, publicado em 2006 pela
Editora Contexto, na análise do romance A Confissão da Leoa, publicado no Brasil em 2012 pela
Companhia das Letras, do escritor moçambicano Mia Couto, representativo do campo discursivo
da literatura moçambicana da atualidade. O objetivo é trazer à tona a natureza dos postulados que
Maingueneau propõe para a abordagem do texto literário, utilizando o corpus para exemplificar a
teoria. Para tanto, teço algumas considerações de natureza explanatória a respeito dos postulados
de Maingueneau, explorando os conceitos de interdiscurso, mecanismos interdiscursivos, universo
discursivo, campo discursivo, espaço discursivo, formação discursiva, posicionamento e interlíngua,
bem como sobre a importância da análise do discurso para as análises literárias da atualidade,
situando-a historicamente no percurso das formas de abordagem do texto literário. Busca-se, a partir
de aspectos relativos ao código linguageiro utilizado pelo autor, compreender como Couto organiza seu
posicionamento na interlíngua, as estratégias enunciativas e interdiscursivas utilizadas para mobilizar
a linguagem em favor do universo de sentidos necessário para garantir a qualidade estética da obra,
diferenciando-a de textos não literários, e adesão do leitor. Percebe-se que, ao escrever seu texto
literário, o autor em questão mobiliza - respeitando determinadas regras discursivas - uma série de
discursos para transmitir uma ideologia, amparando-se em discursos artísticos, políticos e filosóficos
para torná-lo argumentativo e garantir a compreensão e o envolvimento do leitor (que também
participa do processo de enunciação, é co-enunciador), além de dotar o texto de certa particularidade
que o distingue de uma comunicação verbal qualquer e o torna literário. Conclui-se assim que o autor,
através de um leque de estratégias discursivas (especialmente baseadas nas marcas de subjetividade
produzidas através da língua) transmite aspectos relativos às imagens de mulher no contexto social
explorado. Os postulados de Maingueneau mostram-se pertinentes à análise.
MECANISMOS INTERDISCURSIVOS E POSICIONAMENTO NA INTERLÍNGUA NO ROMANCE “A CONFISSÃO DA LEOA” DE MIA COUTO
Giselle de Morais Lima
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O presente trabalho insere-se na linha “Linguagem, Cognição e Mudança” e visa a apresentar
o conjunto de processos morfológicos e semânticos das preposições “de”, “em” e “entre”, mais
especificamente, seus processos de morfologização e semanticização segundo o arcabouço teórico da
Gramática Multissistêmica (CASTILHO, 2010).Para tal, usamos os dados que constituem o corpora
do PHPB, que é estratificado por lugar, tipo de texto e século (do século XVII ao XX).A classe de
preposições grosso modo é tratada como uma categoria de elementos linguísticos estáticos,pouco
semantizados e de meros nexos gramaticais. Aqui, argumentamos que as preposições são “estruturas
dissipativas” que estão emlarga e contínua evolução, motivadas por mecanismos cognitivos ou
estratégias de conceptualização, ativando esquemas imagéticos oriundos de padrões constRucionais ou
proposicionais abstratos que podem favorecer ao avanço da polissemia (LAKOFF, 1987; SWEETSER,
1990, SILVA 2006) ou a sua contenção por heterossemia (LICHTENBERK, 1991; ENFIELD 2006).
Outrossim, evidenciamos as complexas operações morfológicas também presentes nas preposições
que são objetos de análise.
Questiona-se de que maneira distribuem-se as preposições em foco na constituição de outras palavras
(funcionando como prefixos), em diacronia, desde o uso mais básico. Em paralelo, investigam-se
as várias instâncias de significado ativadas pelas preposições a depender da estrutura vocabular ou
sintagmática em que estejam inseridas.
Levando-se em conta que Morfologia e Semântica não constituem sistemas modulares ou separados,
isto é, não são componentes estanques, antes estão em constante interação e tensão, atentamos, por
exemplo, para o uso das preposições como formas livres e como formas adjungidas a uma base na
estruturação de outras palavras (entre>entrevista) e para as implicações de sentido em jogo nas
manifestações morfológicas como a polissemia, a homonímia e a tensão homonímica (SOARES, 2006).
Este estudo poderá ser útil, dado o seu foco no mapeamento das transformações linguísticas, sejam
de caráter morfológico ou semântico, bem como o papel da cognição como elemento propulsor da
mudança linguística.
MOTIVAÇÕES MORFOSSEMÂNTICAS DO USO DAS PREPOSIÇÕES NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: “DE”, “EM” E “ENTRE” EM DIACRONIA
Jorge Lisboa; Thaiane Espíndola
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Muitas pesquisas sobre o Português Brasileiro (PB) apresentam uma mudança na marcação do
Parâmetro do Sujeito Nulo: de uma língua de sujeito nulo para uma de sujeito pleno, como consequência
de reduções nos paradigmas pronominal e flexional (Duarte, 1993, 2003). Línguas de sujeito nulo, como
o Português Europeu, apresentam preferencialmente a posição de sujeito vazia, tanto para os sujeitos
definidos quanto arbitrários e obrigatoriamente a posição de sujeito vazia para os não referencias.
Em contra partida, o PB apresenta uma preferência pelo preenchimento da posição de sujeito com
formas pronominais, tanto de referência indeterminada quanto de referência definida (Cavalcante,
2006; Cyrino, Duarte e Kato, 2000; Duarte, 2000).
Neste trabalho, pretendemos observar o comportamento do sujeito nulo e o preenchimento do sujeito
pronominal em sentenças finitas numa amostra de cartas de amor trocadas entre um casal mais
culto, “o médico do Brasil” Oswaldo Cruz e a esposa Emília, do fim do século XIX, e um casal menos
letrado, “o casal dos anos 30” Jayme e Maria, do início do século XX, comparativamente. O objetivo
do trabalho é: (1) encontrar evidências da mudança na marcação do Parâmetro do Sujeito Nulo, (2)
verificar o quadro de mudança e variação do sujeito no PB e (3) detectar quais fatores estruturais e
sociais atuam no favorecimento do preenchimento do sujeito pronominal. O trabalho se sustenta na
Teoria Variacionista (Weinreich, Labov e Herzog, 2006), associada a pressupostos teóricos da Variação
Paramétrica (Tarallo e Kato, 1989).
Esperamos encontrar, no PB, um comportamento distinto ao do Português Europeu, uma língua de
sujeito nulo, com relação à frequência de ocorrência da categoria vazia. Acreditamos, por hipótese,
encontrar índices de preenchimento do sujeito pronominal bem superiores aos apresentados pelas
chamadas línguas românicas de sujeito nulo, como o Espanhol, o Italiano e o Português Europeu. Por
se tratarem de cartas escritas por indivíduos de gêneros e posições sociais diferentes, acreditamos que
haja diferença em relação à maneira dos indivíduos se expressarem (LOPES, 2008), principalmente no
que diz respeito ao comportamento do sujeito.
Os primeiros resultados revelam características já de uma gramática brasileira, na preferência por
sujeitos plenos e uma ordem SV rígida. O casal mais culto, Oswaldo Cruz e Emilia, apresenta taxas
mais elevadas de sujeito nulo e ordem VS que o casal menos letrado, Jayme e Maria, possivelmente
pelo nível de estudo mais elevado (Melo, 2012).
MUDANÇA PARAMÉTRICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: A MARCAÇÃO DO PARÂMETRO DO SUJEITO NULO
Jéssica da Silva de Melo
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Tomando por base o tratamento do fenômeno variável da concordância verbal de terceira pessoa do
plural no português brasileiro na modalidade escrita (textos dissertativo-argumentativos) em contexto
de avaliação de desempenho em concurso – circunstância que prevê um maior cuidado com a língua
em relação ao uso de variantes consideradas cultas –, o estudo em questão prioriza a investigação
acerca dos problemas da avaliação subjetiva das variantes linguísticas e das restrições (WEINREICH,
LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972).
Vinculado ao projeto do programa de pós-graduação da UFRJ “Estudo comparado dos padrões
de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias do português”, no que se refere à
concordância de terceira pessoa, o estudo objetiva (i) identificar as normas praticadas por estudantes,
verificando se o fenômeno em estudo se caracteriza como variável ou não no corpus em análise;
(ii) identificar e sistematizar fatores estruturais que influenciem o uso de uma ou outra variante,
identificando contextos mais favoráveis à utilização da variante mais inovadora; (iii) correlacionar as
notas dos textos aos índices de uso variável das formas alternantes, a fim de verificar se os resultados
indicam relação entre avaliação textual do uso quanto ao padrão culto escrito e concordância verbal.
Tendo em vista o tratamento da regra variável – e também a análise do problema das restrições e
a reflexão sobre a avaliação subjetiva das variantes, que se relacionam ao uso de diferentes formas
linguísticas em um mesmo contexto –, o trabalho pauta-se no arcabouço teórico-metodológico da
sociolinguística quantitativa, uma vez que essa teoria oferece metodologia apropriada e preceitos que
possibilitam alcançar os objetivos da pesquisa.
Para a realização da referida análise, utilizaram-se 400 redações de vestibular, dispostas em quatro
grupos, a depender da nota recebida pelo texto no quesito “norma culta”, que faz parte da grade
avaliativa das redações. Os diferentes grupos são: 0,5 (meio); 1,0 (um); 1,5 (um e meio); ou 2,0 (dois);
e os textos foram extraídos do corpus Rio acadêmico-escolar, organizado por Rodrigues-Coelho
& Vieira (2010).As etapas do trabalho, em termos metodológicos, consistem em coleta de todas as
ocorrências com sujeitos plurais de terceira pessoa; codificação e tratamento dos dados com o auxílio
do programa Goldvarb-X; e interpretação das variáveis consideradas relevantes pelo programa.
Os resultados obtidos permitem estabelecer, em linhas gerais, relação proporcionalmente inversa entre
não-marcação morfológica da concordância e avaliação positiva atestada no quesito “norma culta”.
NORMA CULTA E PADRÕES VARIÁVEIS DE CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA EM CONTEXTO DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
Juliana Cristina de Paula Pires
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O presente trabalho objetiva descrever a entoação em enunciados assertivos realizados por informantes
maranhenses. Para tanto, pretende-se observar o comportamento da frequência fundamental no
domínio de I (sintagma entoacional), enfocando-se especialmente a questão do alinhamento da F0 nas
sílabas que compõem os acentos prenuclear e nuclear. A questão do alinhamento vem se mostrando
importante para a caracterização de alguns dialetos brasileiros, como afirmam Silva (2011) e Silvestre
(2013), e, análises prévias da fala maranhense apontam que este também pode ser um aspecto relevante
na distinção de falares locais. O corpus analisado, constituído por dados de fala, é fruto da recolha
do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), nos municípios: São Luís, Brejo, Bacabal, Imperatriz
e Alto Parnaíba, por meio do Questionário do Projeto já mencionado. Propõe-se, então, investigar
o comportamento da sílaba de proeminência entoacional, nas assertivas, e apresentar análises
preliminares do corpus. Este é constituído por cento e dez enunciados assertivos, realizados por
informantes de ambos os sexos e naturais dos municípios relatados anteriormente. Para a descrição
entoacional dos diferentes municípios maranhenses, utilizaremos os preceitos teóricos presentes
no modelo autossegmental métrico e no modelo IPO. O primeiro ocupa-se do aspecto fonético-
fonológico comparativo e o segundo, do aspecto fonético individual. O modelo autossegmental
métrico considera prioritariamente a representação formal dos contornos. Além disso, é bastante
produtivo para representação abstrata dos padrões fonológicos. Já o modelo IPO abarca as minúcias
do contorno entoacional para fins de síntese de fala. Utilizam-se os dois modelos para que a descrição
e a interpretação dos dados seja bem explorada com o que de melhor há nas teorias. A análise acústica
será feita por meio do programa computacional PRAAT, onde segmentaremos e transcreveremos
todas as sílabas dos enunciados coletados. Trabalhos anteriores (ATTERER & LADD, 2003; CUNHA,
2005; LIRA, 2009; ANTUNES, 2011; SILVA, 2011; SILVESTRE, 2013) atestam a importância de nossa
análise, pois também apontam à posição do alinhamento do pico como um marcador relevante
na identidade regional do falante. Assim como estes estudos contribuem para uma ampliação da
descrição prosódica, o nosso também visa a descrever os contrastes fonológicos e nuances fonéticas
mais complexas a fim de colaborar no mapeamento prosódico regional que se tem desenvolvido nas
últimas décadas.
O ALINHAMENTO DO PICO DA F0 NAS ASSERTIVAS DO MARANHÃO: UM ESTUDO PRELIMINAR
Gizelly Fernandes Maia dos Reis
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Os estudos realizados pela Sociolinguística variacionista possibilita-nos um maior conhecimento
de nossa própria língua, permitindo-nos transpor, irmos além do que está escrito nos manuais de
gramática, pois os corpora utilizados são de pessoas reais, ou seja, a observação se dá a partir da
língua em situações de pleno uso. Dessa maneira os falares e dialetos das diversas regiões em que
uma determinada língua é falada, são prezados, podendo ser analisados de maneira científica, livre
de preconceitos. O presente trabalho, embasado na Sociolinguística variacionista, visa observar a
presença do apagamento do r pós- vocálico na fala de crianças fortalezenses cujas idades giram em
torno de 6 a 9 anos.O corpus é composto de seis crianças que contam a história da Chapeuzinho
Vermelho.Esse corpus nos foi cedido pela professora Doutora Ana Célia.Ele é proveniente do projeto
PIBIC, tendo sido coletado pela aluna Juliana Karla Gusmão, orientanda da já referida professora. É
interessante observar que a grandeza desse corpus dá-se pelo fato de as crianças contarem uma estória
na qual estão familiarizadas possibilitando, assim, a fluência no falar, fato que aproxima do falar
corriqueiro das delas. Na conclusão deste trabalho será possível observar claramente que a grande
maioria das palavras cujo final se deu com um r pós-vocálico, independente de sua classe,seja um
verbo ou substantivo, por exemplo, o apagamento esteve presente, possibilitando-nos concluir que
a permanência desse apagamento no falar corrente é uma variação cuja tendência de permanência é
possivelmente certa.
Palavras-chave: Sociolinguística Variacionista; Crianças fortalezenses; Apagamento do r pós-vocálico.
O APAGAMENTO DO R PÓS-VOCÁLICO FINAL NO FALAR DE CRIANÇAS FORTALEZENSES
Joice Girão Lopes
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Nos últimos anos tem crescido o interesse em se investigar a aula na universidade, porém, a maioria
das pesquisas tem se atentando pouco para o estudo da linguagem e para as formas de interação que
acontecem em sala de aula e sobre como influenciam no processo de ensino aprendizagem. Este trabalho
tem por objetivo estudar o comportamento comunicativo de um professor universitário no contexto
de sala de aula, nas suas múltiplas dimensões expressivas (voz,fala,gestos), a fim de caracterizar a
forma que este professor faz uso da linguagem, descrever as estratégias verbais e não verbais que foram
utilizadas, observar as possíveis correlações entre as formas de comunicação utilizadas e as interações
presentes na sala de aula, sem desconsiderar o estilo comunicativo do professor. Método:A pesquisa
teve um desenho qualitativo, partindo da gravação de vídeo de situações autênticas de sala de aula, que
detalharam as ações comunicativas desenvolvidas por um professor. Resultados:Observou-se que o
professor utiliza e articula, idiossincraticamente, variados modos em suas interações com os estudantes.
As estratégias comunicativas mais utilizadas pelo professor foram : estratégias paraverbais – pausas e
variações de intensidade ; estratégias não verbais – contato visual, deslocamento do professor em sala
de aula e uso de gestos, principalmente icônicos e metafóricos. Este comportamento comunicativo
facilita as interações em saula de aula, visto que os alunos mantem-se atentos, em silêncio e tomam
notas. Eles estão envolvidos na atividade proposta pelo professor, facilitanto então, o progresso
intelectual dos mesmos, além do processo de produção de conhecimentoConclusão :O trabalho
apresentado não tem o propósito de ser conclusivo, nem gerar dados passíveis de generalização, mas
sim, apresentar elementos importantes da comunicação e interação de um professor e seus alunos que
possam influenciar positivamente no processo de aquisição de conhecimento.A análise demonstra a
importância de diferentes facetas do ato de comunicação, como a fala, os gestos e o olhar. Além disso,
é possível perceber que a articulação desses modos semióticos potencializa a interação e a construção
de significados em sala de aula.
O COMPORTAMENTO COMUNICATIVO DE UM PROFESSOR UNIVERSITÁRIO: ESTUDO DE CASO
Cosendey,M.S.; Chaves, T.
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Esta pesquisa tem por objetivo estudar o gênero gráfico, sua apresentação e proposta metodológica em
livros didáticos dos 3º e 5º anos do Ensino Fundamental. Partimos do pressuposto de que o gráfico
é um texto e, como tal, tem uma proposta de significação. Defendemos, sobretudo, o gráfico como
uma ferramenta interdisciplinar; assim, podendo ser o fio condutor em propostas de compreensão
leitora para as áreas do saber: ciências, geografia, história, matemática e português; e mais, como
é um texto presente no dia a dia, podendo ampliar leituras em sala de aula, integrado a notícias e
demais gêneros que contenham estatísticas de fatos ou eventos. Para desenvolvermos o estudo,
identificamos no Guia de Livros Didáticos – PNLD – 2013-2015, os títulos indicados para os 3º e
5º anos do Ensino Fundamental compreendendo as disciplinas escolares. O processo da pesquisa
envolve as seguintes etapas: (1) verificação dos livros por áreas do saber; (2) identificação da presença
do gráfico nos livros didáticos e sua incidência nesses materiais por área; (3) abordagem metodológica;
(4) o gráfico como gênero discursivo e o emprego de estratégias para a construção de sentidos. Ao
final da pesquisa, pretendemos estabelecer um perfil da presença do gráfico como objeto de ensino e
de aprendizagem, evidenciando o seu funcionamento discursivo interdisciplinar. Nosso referencial
teórico compreende não só o gráfico como uma apresentação de dados sobre uma realidade descrita e
pontual, porque depende de uma situação real (COSTA NETO, 1997), mas também como um projeto
de dizer (KOCH, 2005). Os dados são apresentados em composições figurativas, conforme contextos
de uso e estabelecem-se a partir de associações com o conteúdo com o qual se relaciona por meio
de processos cognitivos, linguísticos e sociais (KOCH, 2012). Argumentamos, ainda, que alguns
tipos de gráficos, apesar de associarem-se a outro texto, como (re)apresentação de conteúdos neles
constituídos, possuem uma natureza independente, para a qual se constrói uma interpretação, que
além de ser uma sumarização do conteúdo informacional do texto, o qual ele é associado, trata-se
de uma complementação de sentidos. Assim exposto, afirmamos que o gráfico constitui-se em uma
leitura esclarecedora para o texto a que ele se refere, ao tempo em que também se apresenta como mais
um texto, considerado como uma leitura facilitadora, mas não necessariamente fácil. Pois ao processar
sentidos para um gráfico, o leitor, de maneira rápida, apreende a imagem e, consecutivamente, busca
construir sua significação. Entretanto, nem sempre os recursos de que o gráfico provém, esclarecerão
as informações nele contidas, pois dependerá da proficiência de cada leitor. (KLEIMAN, 2000).
O GÊNERO GRÁFICO E O PROCESSAMENTO LEITOR: UMA ABORDAGEM DE CUNHO INTERDISCIPLINAR
Priscila Cruz de Sousa
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A renovação lexical das línguas é um fenômeno constante e, segundo Quemada (1971), fundamental
para que elas se mantenham não só como línguas vivas, mas como instrumentos de comunicação
nacional, ou até mesmo internacional. Essa renovação, segundo Alves (1984, 2004, 2007) pode tanto
se dar por processos autóctones, caso dos neologismos vernáculos, quanto por processos alógenos,
caso dos neologismos por empréstimo. Carvalho (1989, 2009) estuda os empréstimos linguísticos
ao longo da história do português - desde os tempos da sua constituição a partir do latim vulgar,
passando pelas relações de contato linguístico com povos germânicos e árabes, até os tempos atuais -
e observa que a área da tecnologia sempre foi a que mais concedeu itens lexicais estrangeiros à língua
portuguesa. No contexto atual, como observa Carvalho (2009), as áreas relacionadas à Informática
e à Internet têm fornecido às línguas uma grande quantidade de palavras da língua inglesa, fonte de
quase todos os empréstimos dessa área no português brasileiro. Exemplos dessa constatação são as
formas já dicionarizadas mouse, software, spam, login e scanner (cf. Novo Dicionário Aurélio, 2009 ;
Dicionário Houaiss Eletrônico, 2009).O foco deste trabalho é analisar, com base em bibliografia que
contempla as questões do neologismos (cf. STEINBERG, 2003 ; ALVES, 2007) e dos empréstimos
(cf. CARVALHO, 2009 ; VIARO, 2011), o neologismo verbal de origem inglesa referente às áreas de
Informática e Internet. Para isso, foram coletados, durante o ano de 2012, textos oriundos de redes
sociais, como Facebook, Twitter e Orkut, além de outros espaços virtuais informais. Essa escolha
de corpus se justifica pela possibilidade de analisar uma amostra de língua coloquial, espontânea e
aproximada da língua falada, como sugere Marcuschi (2006). Nesse corpus, observa-se não apenas
que o processo de formação desses verbos atende às Regras de Formação de Palavras (RFPs), nos
termos em que são definidas por Basílio (1980, 2011) e Rocha (1998), mas também que a produtividade
desses processos é bastante significativa. O que se percebe, além disso, é que, ao lado de formações
mais regulares, são encontrados verbos que parecem se formar por processos não tão recorrentes, por
assim dizer, como palavras-valise e outros.
O NEOLOGISMO VERBAL NOS TEMPOS DA INTERNET
Natival Almeida Simões Neto
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A heterogeneidade linguística é fato notável em qualquer língua natural falada, o que permite que
o falante possa realizar de várias maneiras um mesmo enunciado, dando a língua características
próprias, portanto, falar em homogeneidade linguística é algo que foge à realidade da língua. Essa
variabilidade linguística não impede que a comunicação se efetive entre os membros da comunidade,
pois, ainda que a variabilidade possa resultar em mudanças, essas nunca afetam o todo do sistema
lingüístico, ou seja, apesar das particularidades que cada falante agrega a língua, ela continua sendo a
mesma. A possibilidade de diversas realizações para um mesmo contexto linguístico se dá em vários
níveis da língua: morfossintático, pragmático-discursivo, fonético-fonológico, lexical. Todos esses
níveis de variação servem de base para diferentes estudos acerca da língua. A pesquisa linguística
que ora se apresenta, objetivou estudar um fenômeno fonético bastante estigmatizado socialmente:
o rotacismo, troca do –l- pelo –r- ou vice-versa em palavras como “planta”, “bloco”, “cloro”, presente
na língua falada por moradores do povoado Pé de Serra, que está situado na Zona Rural de Mutuípe,
cidade do interior da Bahia. Para isso, foram entrevistadas quatro pessoas, sendo dois homens e duas
mulheres, com baixa escolaridade, pertencendo a faixas etárias diferentes. O trabalho tem como
base a teoria sociolinguística proposta por William Labov (1972), que pressupõe a variação como um
princípio natural a todas as línguas, estando correlacionada a fatores de ordem estrutural ou linguística
e social ou extralinguística. Para a sociolinguística, a variação lingüística não deve ser desmerecida
nem desrespeitada, nem deve considerada como erro, uma vez que essas construções linguísticas
podem ser explicadas cientificamente, levando-se em consideração fatores diatópicos, diastráticos e
diafásicos. Desse modo, o estudo das variações lingüísticas usadas por moradores da comunidade de
Pé de Serra, demonstrou que as variações linguísticas presentes na fala da comunidade de moradores
de tal região podem ser atrelados a fatores socioculturais como escolaridade e idade, uma vez que os
moradores daquele local pertencem a uma classe social desfavorecida, e possuem um baixo índice
de escolaridade. Constatou-se ainda, que os mais jovens, que convivem diariamente com falares de
outras áreas, por freqüentarem a escola da zona urbana ou trabalharem fora da comunidade, utilizam
menos as variações mais estigmatizadas da língua.
O ROTACISMO EM FALARES DOS MORADORES DO PÉ DE SERRA
Amanda Almeida de Jesus; Andréia Teixera Mota; Paulo Sérgio Cerqueira Nogueira Junior
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O presente trabalho é um estudo de tendência do sujeito nulo de referência indeterminada na fala
culta de três capitais brasileiras: Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre.Estamos analisando duas
variáveis para a expressão do sujeito de referência indeterminada: o sujeito nulo de terceira pessoa do
singular (1) e o pronome se (2), que contém um traço semântico [+humano, -definido] que garante a
interpretação arbitrária da posição de sujeito.
(1) eu (es)tive em outros lugares... não só no Rio de Janeiro que usa muita moeda, não é... [Nurc/
SSA]
(2) então sevia assim que a pessoa está realmente alinhada. [NURC/SSA]
O corpus utilizado para análise consiste em amostras de fala de informantes do Projeto NURC (Norma
Urbana Culta) de Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, divididos em três faixas etárias (Faixa 1, de
25 a 35; Faixa 2, de 36 a 55 e Faixa 3, de 56 em diante) e gravados em duas épocas distintas anos 1970
e anos 1990. Cavalcante (2007), analisando o mesmo fenômeno na fala culta carioca, observou dois
quadros distintos entre as amostras dos anos 1970 e 1990: nos anos 1970, há um quadro de variação
estável entre as três faixas etárias pela preferência do SE em relação ao sujeito nulo de referência
arbitrária, ao passo que nos anos 1990, há um de mudança em tempo aparente, com preferência pelo
sujeito nulo na fala dos indivíduos mais jovens.Na fala culta soteropolitana o quadro é um pouco
diferente do da carioca: Thomáz (2012) observa um quadro de variação estável tanto nos anos 1970’s
quanto 1990’s. As conclusões parciais a que podemos chegar indicam um quadro diferente para a
implementação do sujeito nulo de referência arbitrária: enquanto na fala culta carioca os índices de
sujeito nulo de referência indeterminada aumentam tanto entre os anos 1970’s e 1990’s quanto nos
indivíduos mais jovens; a fala culta de Salvador apresenta ainda um quadro de variação estável, em
que os maiores índices de sujeito nulo se encontram na fala de indivíduos da Faixa 2.
Neste trabalho, analisamos o fenômeno também na fala culta de Porto Alegre a fim de atestar a
implementação da mudança em direção ao sujeito nulo nesta capital. Pretendemos verificar se estamos
diante de um caso de mudança ou de variação estável (Labov, 1994). E partimos dos resultados
encontrados para as falas cultas carioca e soteropolitana a fim de comparar como se dá a distribuição
dessa “nova variante” na fala culta de Porto Alegre. Consideramos, portanto, as gravações do Projeto
NURC-Porto Alegre realizadas nos anos 1970 e depois nos anos 1990.Levamos em consideração fatores
O SUJEITO NULO DE REFERÊNCIA INDETERMINADA NA FALA CULTA: UM ESTUDO DE TENDÊNCIA
Diana Silva Thomaz
46
linguísticos que, apesar de não estarem diretamente relacionados com o sujeito nulo de referência
indeterminada,podem estar influenciando ou condicionando o comportamentode tal fenômeno,
sendo eles: Tempo (presente, perfeito, imperfeito ou futuro) e a presença de Auxiliares (aspectuais,
temporais, modais). Os fatores extralinguísticos considerados são as faixas etárias (grupo 1, 2 ou 3),
sexo e ano da gravação. Utilizamos o programa Goldvarb X (Sankoff; Tagliamonte; Smith, 2005) para
as análises estatísticas.
Referências:
CAVALCANTE, S. R. O. . O sujeito nulo de referência indeterminada na fala culta carioca. Diadorim
(Rio de Janeiro), v. 2, p. 63-82, 2007.
SANKOFF, D.; TAGLIAMONTE, S.; SMITH. E.Goldvarb X: A variable rule application for Macintosh
and Windows. Department of Linguistics, University of Toronto, 2005.
LABOV, W. Principles of linguistic change.Volume 1: Internal factors (Language in Society 20). Oxford:
Blackwell, 1994.
Palavras-chave: sujeito nulo; referência indeterminada; fala culta; mudança em tempo real
47
Embora o ensino de Inglês com Fins Específicos (IFE) – também chamado de “Inglês Instrumental”
– já seja uma área reconhecida e amplamente difundida no Brasil, não se pode deixar de perceber
que a maioria dos materiais didáticos para compreensão leitora, produzidos no país, quase não
abordam a questão das estruturas sintáticas. Isto, logicamente, se reflete na metodologia usada pelos
professores de IFE, que tendem a focar em aspectos lexicais e abordagens gerais de leitura – bottom-
up, top-down, técnicas de skimming e scanning, entre outros. Esta conjuntura também ocorre na
área da leitura de textos acadêmicos em língua inglesa: Inglês com Fins Acadêmicos (IFA). Em geral,
os estudantes de IFA têm sérias dificuldades para identificar a estrutura frasal, reconhecer o verbo
principal da oração, e os vários sintagmas que a formam, quando lidam com períodos mais longos.
Estes são problemas recorrentes e não podem ser resolvidos somente com análise léxico-morfológica.
O conceito de sintagma é outro aspecto importante que deveria ser levado ao conhecimento dos
estudantes. Saber que a oração é constituída por sintagmas, e não por palavras, é um dos fatores que
ajudam os estudantes a entender a organização frasal e, portanto, a outorgar sentido. Neste trabalho,
enquadrado no marco teórico da Gramática Gerativa chomskiana, e mais especificamente, da Simpler
Sintax Hyphotesis (CULICOVER; JACKENDOFF, 2006) faz-se um levantamento de alguns materiais
didáticos de IFE, no Brasil, para comprovar se neles constam partes dedicadas ao estudo de sintaxe
funcional, e, em caso positivo, qual a importância dessas partes em relação ao conteúdo geral do livro,
módulo, entre outros. Em um segundo momento, se apresenta um dos poucos estudos que relacionam
o conhecimento de sintaxe à compreensão leitora: The Role of Syntax in Reading Comprehension: A
Study of Bilingual Readers (MARTOHARDJONO et al., 2005). A partir dos resultados desse estudo,
e de observações em sala de aula de IFA para alunos de pós-graduação, propor-se-á uma metodologia
de trabalho que inclua, não somente técnicas de skimming, scanning, etc., mas também formas de
ensino-aprendizagem que ajudem o aprendiz a reconhecer melhor as estruturas frasais em língua
inglesa.
Palavras-chave: Sintaxe. Inglês com Fins Acadêmicos. Compreensão leitora.
O USO DA SINTAXE PARA COMPREENSÃO LEITORA DE TEXTOS ACADÊMICOS EM LÍNGUA INGLESA
Antonio José Maria Codina Bobia
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Este trabalho tem como objetivo investigar o uso de sintagmas nominais (doravante SNs) complexos
em artigos acadêmicos publicados em periódicos da área de Letras. Entendemos como SNs complexos
aqueles com mais elementos que o determinante e o nome núcleo, ou seja, SNs formados por mais de
três elementos, havendo pelo menos um encaixe. O corpus aqui analisado é constituído por 20 artigos
acadêmicos publicados em periódicos conceituados (por exemplo: ANPOLL E Veredas).A motivação
para o estudo desse corpus vem do fato que artigos acadêmicos possuem SNs bastante complexos
e alta carga informativa, expressando atividades e processos, o que leva ao uso de nominalizações.
Nossos fundamentos teóricos se baseiam no funcionalismo americano, especialmente no princípio da
informatividade (PRINCE, 1981 e 1992, CHAFE, 1987) e no princípio do peso final (WASOW, 2004),
e ainda em conceitos da análise de gêneros.
A metodologia de trabalho consiste em relacionar forma e função do SN. Desse modo, relaciona-se a
estrutura do SN, sua densidade lexical (número de itens lexicais), o uso ou não de encaixes e a presença
ou ausência de nominalizações, com a função sintática (sujeito ou objeto) e o status informacional
(informação velha, nova ou inferível, cf. PRINCE, 1981 e 1992). Utilizamos a hipótese de Chafe (1987)
sobre o Ponto de Partida Leve, ou seja, o autor tende a colocar a informação mais leve à esquerda
na posição de sujeito. Nos artigos analisados, 66% dos SNs complexos estavam à direita do verbo,
confirmando a hipótese de que geralmente se parte de algo já mencionado anteriormente, ou de
fácil entendimento, para introduzir uma informação nova. Comprovando essa hipótese, no corpus
analisado 77% das informações novas vieram à direita do verbo e 63 % das informações velhas vieram
à esquerda do verbo. Outro dado importante é que 70% dos SNs possuem encaixes, que são uma
forma de estendê-lo. Nesse sentido, utilizam-se nominalizações, que são próprias da escrita e marcam
o discurso formal, principalmente o acadêmico. Elas contribuem para a extensão do SN à direita e
podem projetar argumentos. Assim, foram encontrados 58% de SNs com nominalizações.
Desse modo, a pesquisa procura contribuir para a caracterização do gênero artigo acadêmico, através
da caracterização de SNs complexos.
O USO DE SINTAGMAS NOMINAIS COMPLEXOS E O GÊNERO ARTIGO ACADÊMICO
Debora Carvalho de Almeida
49
Este trabalho tem como objetivo apresentar o estado atual do uso dos pronomes referentes à segunda
pessoa do singular entre jovens, e, comparando os resultados com pesquisas anteriores, verificar
uma possível mudança em curso no sistema pronominal do português brasileiro. O pronome tu, em
contexto não padrão, isto é, não acompanhado de flexão verbal correspondente, vem ocupando um
espaço cada vez maior no português carioca, apresentando-se assim, em disputa com o pronome você.
Por se tratar de formas variantes, adotamos os pressupostos teóricos da Teoria Variacionista Laboviana
(Labov, 1972), que assume a língua como um sistema heterogêneo, de modo que tal heterogeneidade
pode levar a mudanças, que são influenciadas por fatores externos e internos. Adotamos também o
funcionalismo linguístico, que admite que a língua é um instrumento de interação social e, por isso,
tem seu mecanismo moldado pelo uso. Ambas as abordagens convergem, no sentido de que levam
em conta o uso real da língua, reconhecendo que as regras gramaticais são motivadas pelo contexto
discursivo.
O corpus é constituído de conversas online da ferramenta Facebook. Foram selecionados vinte
informantes jovens, com idade entre 19 e 24 anos, de ambos os sexos, com nível de escolaridade
entre ensino médio completo e ensino superior incompleto. Para o tratamento estatístico dos dados,
foi utilizado o programa Goldvarb. Procuramos estabelecer quais são os contextos linguísticos que
favorecem a escolha de uma variante em detrimento da outra. Os fatores internos analisados foram
tipo de oração -afirmativas, negativas e interrogativas-; natureza do ato de fala (cf. Searle, 1987), função
sintática no enunciado, o tipo sintático de oração e a natureza semântica do verbo (cf. Halliday, 1994).
Do ponto de vista interacional, analisamos se a interação era entre pessoas do mesmo gênero/sexo
ou de homem para mulher e vice e versa. A hipótese de preferência pelo pronome tu se baseia na
necessidade de o falante mostrar ao seu interlocutor que a interação está sendo mantida (cf. Paredes
Silva, 2003). Devido à cliticização do pronome você, que passa a ce, o falante recorreria ao pronome
tônico tu, destacando assim a referência ao interlocutor. Há também a hipótese de que os homens
detêm o predomínio no uso do tu seguido de verbo na 3ª pessoa do singular. Tal resultado estaria
de acordo com estudos sociolinguísticos, que mostram que os homens estão à frente das mulheres
quando a mudança é em direção ao não padrão. (Labov, 2001, apud Scherre & Yacovenco, 2011).
Os resultados deste estudo apontam que o uso do pronome tu, com flexão verbal não padrão, continua
O USO DOS PRONOMES TU E VOCÊ NA ESCRITA DIGITAL DE CARIOCAS
Yalis Duarte Rodrigues Lima
50
presente, o que vai ao encontro de pesquisas anteriores, como a de Paredes Silva (op. cit). A autora
levantou dados que indicaram que a variável gênero/sexo se mostrou relevante, comprovando a
hipótese de Labov (op. cit).
Verificamos também que o pronome tu aparece, de forma significativa, e em mais contextos linguísticos,
como na posição de objeto. Portanto, há indícios de expansão desse uso, o que sinaliza uma possível
mudança em curso.
51
O presente trabalho tem por objetivo investigar as possíveis motivações na ordenação das locuções
adverbiais de tempo, como por exemplo: “pelos muitos anos”, “no dia vinte hum de outubro”, etc. Para
nossa pesquisa preliminar, o corpus foi composto por documentos oficiais do Rio de Janeiro do século
XVIII (parte dos corpora do projeto PHPB). Dentre os vários aspectos a serem abordados na pesquisa,
estaremos focando na posição da locução adverbial em relações aos outros fatores aplicados. Na análise
das adverbiais, estas foram analisadas em relação ao verbo. Consideramos as posições imediatas ao
verbo e as não imediatas (com presença de material interveniente).
Sendo assim, os principais objetivos foram (i) caracterizar as posições assumidas pelas locuções
adverbiais de tempo, apresentando a frequência da ocorrência de cada posição estudada; (ii) analisar a
relação entre continuidade tópica e a ordem destes adverbiais; (iii) analisar os fatores que influenciam
a ordenação dos adverbiais em contextos em que podem ocupar posições diferentes na oração, como
a função discursiva. Com isso, postulamos as hipóteses de que:
(a) há uma posição prototípica para as adverbiais na oração, pois tendem a ocupar a margem esquerda
quando o sujeito está presente em posição pós-verbal (VS). Quando o sujeito está presente em posição
pré-verbal (SV), as locuções tendem a ocorrer nas posições pós-verbais;
(b) tais construções tendem a ocupar a margem esquerda quando o sujeito não é tópico. Em
contrapartida, ocorrerem em posição fora da margem esquerda quando o sujeito é tópico;
(c) os adverbiais temporais grandes apresentam maior frequência nas margens das orações (à esquerda
ou à direita da oração) para não interromperem a ligação entre sujeito, verbo e complemento, deixando,
assim, o texto mais leve; (d) as construções adverbiais com função discursiva anafórica, contrastiva
ou de introdução de novo assunto ocorrem com maior frequência nas posições à esquerda, enquanto
as locuções com o papel de coordenadas temporais, isto é, aquelas com uma função mais restrita à
cláusula, que se referem somente ao tempo do evento, privilegiam as posições à direita.
Utilizamos os pressupostos teóricos da Linguística Funcional Baseada no Uso para fundamentar a
pesquisa sobre as locuções adverbiais de tempo. Essa corrente, cujo termo usage-based foi introduzido
por Langacker (1987), refere-se aos modelos teóricos que privilegiam o uso da língua. Abordaremos,
especificamente, questões e conceitos levantados pela linguística funcional, como o princípio da
iconicidade. Visto que a pesquisa está apenas no início, com os fatores já analisados percebemos que
as locuções adverbiais tendem a ocupar as posições marginais da oração.
ORDENAÇÃO DOS ADVERBIAIS TEMPORAIS NO PORTUGUÊS DO SÉCULO XVIII
Rosana Azevedo Martins
52
Este trabalho focaliza o apagamento variável do R, em posição de coda medial e final de palavra, a
partir de amostras de fala de indivíduos nascidos em João Pessoa (VALPB) e em Salvador (PROJETO
NURC). A análise alia o aparato teórico-metodológico da sociolinguística quantitativa laboviana
(Labov, 1994) ao da teoria da hierarquia prosódica (Selkirk, 1984; Nespor&Vogel, 1986), com o objetivo
de mostrar que, em alguns dialetos, o apagamento do R não se restringe à coda silábica final. Parte-se,
para tal, de trabalhos anteriores sobre os róticos, em que vários aspectos já foram comprovados.
Na análise do processo de apagamento do R, é necessário considerar os contextos em que ocorre
o segmento -- coda externa ou interna à palavra -- e seu tipo de realização -- [+/-vibrante] e [+/-
anterior]: o apagamento do segmento é mais frequente em posição de coda final que em coda medial e
o fenômeno ocorre preferencialmente nos dialetos em que a consoante mantém ainda o seu caráter de
vibrante ápico-alveolar (Callou, Leite & Moraes, 1996; Monaretto, 2010; Leite, 2011). Estudos recentes
(Callou & Serra, 2012) demonstraram que o apagamento do R em posição de coda final apresenta,
na sua implementação, além de condicionamentos morfo-fonológicos e sociais, condicionamentos
prosódicos. Trata-se de um processo gradiente, sensível ao tipo de realização do rótico -- por sua vez,
diretamente relacionado à origem geográfica dos falantes -- à classe morfológica do item lexical e ao
tipo de fronteira prosódica em que o segmento se encontra, sendo possível postular, três regras, de
caráter regional, que mapeariam o cancelamento do R no Português do Brasil: 1) regra categórica de
apagamento sensível à classe morfológica, 2) regra variável de apagamento e 3) regra categórica de
apagamento, que atua, independentemente de classe morfológica, em variedades em que a realização
frequente é uma fricativa posterior, laríngea – aspiração, como em Salvador e João Pessoa.
O fato de serem observados altos índices de apagamento do segmento em final de vocábulo em
contraste com os baixos valores de apagamento no interior de vocábulo tem levado à interpretação de
que o fenômeno de apagamento do R estaria relacionado com o tipo de fronteira prosódica em que este
segmento se encontra. Em variedades como as do Nordeste, entretanto, em que o apagamento do R em
coda final já é categórico, pelo menos, entre os indivíduos mais jovens (Serra &Callou, 2012), o tipo
de fronteira prosódica já não é mais um fator atuante, em final de palavra, e o cancelamento já atinge,
inclusive, a coda silábica interna à palavra. Dessa forma, nossa hipótese é a de que os falares da região
Nordeste do país já apresentem índices significativos de cancelamento em posição de coda medial, em
contraposição aos da região Sudeste e Sul.
OS RÓTICOS NO NORDESTE DO BRASIL: O APAGAMENTO EM CODA FINAL E MEDIAL
Aline de Jesus Farias Oliveira; Ingrid da Costa Oliveira
53
Com base na Teoria de Princípios e Parâmetros, proposta por Chomsky nos anos 80, estudos como
os empreendidos por Duarte (1996), Galves (1996, 2001) e Kato (2002), evidenciaram que o português
brasileiro (PB) é uma língua que tende a não licenciar o sujeito nulo. Em função desse comportamento,
têm sido encontradas construções em que os verbos climáticos, como chover, nevar, ventar e fazer
frio, estão preenchendo o sujeito, indo de encontro às proposições tanto da Gramática Tradicional e
da Gramática Gerativa, que sempre os consideraram, respectivamente, verbos sem sujeito e verbos
que não selecionam argumento. Simões Neto (2012) apresenta construções com verbos climáticos
veiculadas nas redes sociais e sites informais da Internet, meios em que a língua escrita se aproxima
da língua falada, conforme Marcuschi (2006), o que permite a extração de um vernáculo. Nessas
construções, esses verbos selecionam sujeito.
Com base nisso, duas hipóteses foram levantadas. A primeira é a inversão locativa, conforme os estudos
de Avelar & Cyrino (2008) e Avelar (2009). Segundo esses autores, a inversão locativa acontece quando
um sintagma locativo, argumental ou adjunto, ocorre na posição canônica de sujeito, desencadeando
ou não a concordância com o verbo. Essa proposta justificaria exemplos como: I) Algumas cidades
nevam no inverno, outras fazem frio. II) Natal faz sempre sol, mesmo que chova. A segunda hipótese
é baseada nos estudos de Galves (1998, 2000) e se norteia pela noção de tópico-sujeito proposto pela
autora: o sintagma nominal topicalizado, ao invés de ir para uma camada mais externa da oração (cf.
RIZZI, 1995), vai para uma camada mais interna, a camada da flexão TP/IP e entra em concordância
com o verbo, o que lhe dá estatuto de sujeito, conforme Duarte (1996, 2007).
É preciso lembrar, além disso, que não só os sintagmas locativos podem entrar em concordância com
o verbo, mas também os temporais, o que fica evidenciado nos exemplos a seguir: III) Todos os meus
quatro últimos aniversários choveram. IV) Uns verões chovem mais, outros fazem calor. As duas
hipóteses se interceptam na ideia proposta por Avelar & Galves (2011) de que, no PB, a posição de
Spec TP/IP é uma posição A’, ou seja, que pode ser preenchida por termos não argumentais. Apesar
disso, agora, uma nova hipótese norteia essa pesquisa. Baseada na Teoria do Minimalismo, proposta
por Chomsky (1995), levanta-se a possibilidade de os verbos climáticos estarem passando por um
processo de mudança na sua configuração sintática e começaram a selecionar argumentos, implicando
preenchimento de um sintagma nominal pleno, que desencadeia concordância com esses verbos. Isso
OS VERBOS CLIMÁTICOS E O PADRÃO DE CONCORDÂNCIA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Natival Almeida Simões Neto
54
é diferente do que ocorreu com o inglês e o francês, visto que, nestas línguas, o preenchimento do
sujeito com esses verbos ocorre com um sujeito expletivo, que não faz parte da grade argumental.
No português brasileiro, entretanto, conforme os exemplos apresentados, observa-se não um sujeito
expletivo, mas um sujeito com carga semântica, o que levanta a possibilidade de um argumento, e o
disparo da concordância com o verbo.
55
Nosso trabalho consiste em analisar de que forma se comportam os particípios quando intensificados
por ‘bem’, ‘muito’ e ‘bastante’ e de que forma a interpretação muda quando eles estão nessas condições.
O corpus analisado é constituído dos particípios retirados da coluna de cinema da Revista Veja Rio,
suplemento da Revista Veja. Para isso, nos utilizamos da Teoria de Kennedy e McNally, que vê adjetivos
de grau como funções de medida que associam seu argumento (o indivíduo denotado pelo sintagma
nominal — SN — com que concordam) a certo grau na escala de uma dimensão. A metodologia do
trabalho consiste na realização de testes de intensificação e comparação para verificar quais particípios
são ou não de grau, onde sentenças bem formadas são consideradas como de grau.
Os testes nos mostram que particípios mais verbais estão a um evento do tipo duração, completude ou
a respeito de frequencia, já os de indivíduo, ligados a um nome, trazem dimensões ou características
do indivíduo a que está ligado. Durante a realização desses testes, observamos que alguns particípios
ganhavam ou perdiam grau a medida que mudávamos seus argumentos, o que nos leva a crer que o
grau do verbo está relacionado com seus argumentos; porém estamos utilizando para esse trabalho o
mesmo sentido contido no corpus. Vale ressaltar também que, estamos utilizando apenas os particípios
considerados de grau segundo os testes propostos pelos autores, assim como os autores fizeram em
seu estudo. Descartados os particípios que não possuíam grau, montamos a rede argumental desses
verbos que apresentavam grau para verificar as diferentes interpretações entre os auxiliares e a perda
de argumento do agente da passiva. Após isso, separamos os verbos ligados a dimensões de eventos e
dimensões indivíduos.
E constatamos, no corpus, que os particípios mais adjetivais estão ligados a uma dimensão de
indivíduos e os que têm uma natureza mais verbal estão ligados a uma dimensão de eventos.
Depois desse passo, estamos separando os verbos classificados como de grau, segundo os testes de
intensificação e comparação, de acordo com as classes de verbos propostas por Vendler em achievement,
accomplishment, estados e atividades, que são classificados em relação a sua duração e culminância,
utilizando os testes com advérbios de tempo para essa verificação. Com isso, tentaremos traçar uma
generalização entre as dimensões já colocadas e a teoria proposta por Vendler, para então generalizar
em quais condições os particípios tem mais características verbais e nominais.
PARTICÍPIOS: DIMENSÕES DE EVENTOS OU DE INDIVÍDUOS? UM ESTUDO DE CORPUS
Suelen FontelesLyszy
56
Referências Bibliográficas:
KENNEDY, Christopher; MCNALLY, Louise. Scale structure, degree modification, and the semantics
of gradable predicates. Language, v.81, n.2, 2005. p. 345-381.
57
No dia 02 de março de 2012, o secretário geral da FIFA, o francês JérômeValcke, em um evento na
Inglaterra pronunciou que “o Brasil merece levar um chute no traseiro”,referindo-se aos atrasos nas
obras para a Copa de 2014. Considerando a importância do discurso e da argumentação, o foco
deste trabalho é analisar, sob a ótica da Pragmática, os dois pedidos oficiais de desculpas enviados
na forma de cartas pelo referido secretário gerale pelo presidente da FIFA, Joseph Blatter, ao governo
brasileiro, especificamente ao Ministro de Esportes Aldo Rebelo; e, as respectivas reações a cada
pedido de desculpas. Procuramos, em nossa pesquisa, recortar os principais aspectos pragmático-
discursivos nas cartas em relação a elementos contextuais que cooperaram para o início e a solução
do problema, a partir dos pressupostos da Teoria dos Atos de Fala, da Polidez e das Máximas
Conversacionais, que tem por objetivo o estudo do uso da língua. Com efeito, é possível inferir que a
relação de poder entre o presidente e o secretário geral da FIFA seja colocado em evidência, pois sendo
Blatter a figura representante da associação de futebol FIFA, a ameaça à face pública dele é maior que a
ameaça à face de Valcke. Por isso, entendemos que os pedidos de desculpas analisados tratam de tema
recorrente e relevante do ponto de vista social e linguístico, uma vez que implicam no mantimento
ou não das relações sociais entre o Brasil e a FIFA, e na imagem brasileira perante o mundo. Nesse
sentido, percebemos que os elementos linguísticos e pragmático-discursivos são compostos por
elementos criativos e inovadores, que se alteram durante a interação, por isso a necessidade de haver
uma comunicação completa, para que os interlocutores não compreendam o enunciado de maneira
inadequada, a ponto de comprometer relações políticas e econômicas entre nações.
Palavras-chave: Pragmática, Pedido de desculpa, Efeitos de sentido.
PEDIDO DE DESCULPAS E SEUS EFEITOS DE SENTIDO: UMA ANÁLISE PRAGMÁTICO-DISCURSIVA NO CONTEXTO DIPLOMÁTICO
Laissy Barbosa
58
A sociolingüística proporciona conhecimento sobre a estrutura da língua em contexto de uso, e
considerando tais situações percebemos que a linguagem esta em constante processo de mudança
e reconstrução seja em sentido ou em forma. As variações regionais, social e de registro são campos
de estudo que consideram o grau de utilidade da língua e como ocorre o processo comunicativo.
Nesse sentido, na presente pesquisa analisaremos a variação de registro, buscando provas de como
elas ocorrem, suas implicações e principalmente se ela interfere negativamente ao entendimento
do diálogo. O presente estudo tem a Língua Inglesa como objeto já que parto de uma graduação na
referida língua. O objetivo da pesquisa realizada e encontrar provas de que os falantes utilizam a
variação de registro sem perder o caráter comunicativo da língua. A partir dos estudos lingüísticos e
de sua preocupação sobre o caráter de realização desta no contexto de uso é que norteou a pesquisa.
Observamos então uma conversa entre dois amigos usando mensagens de texto pelo telefone celular,
investigamos as razões por quais os personagens modificaram a maneira “padrão” da língua inglesa
e para isso consideramos três itens relevantes, o grau de intimidade entre os personagens, o meio
de comunicação utilizado, e se houve prejuízo na troca de informações decorrentes das alterações
linguísticas utilizadas. A situação analisada é de um seriado americano chamado Heroes, produzido
em 2006 pela NBC (National Broadcasting Company), utilizar o vídeo em questão ajuda a ter provas
físicas de que ocorre tal fenômeno. Na pesquisa foi concluído que as características da situação
analisada, mensagens de texto, grau de informalidade entre dois amigos, alteram diretamente a forma
com que a linguagem será utilizada, ocorrendo uma adequação do código línguístico, mas não a
perda de seu o ponto principal, a comunicação. A presente análise ajuda em futuros estudos sobre
as aplicabilidades da sociolinguísticas, e pode ser um ponto de referencia para futuros estudos dos
simpatizantes da área.
Palavras-chave: Sociolinguísticas, Variação de Registro, Comunicação.
PERSPECTIVA SOCIOLINGUÍSTICA DA VARIAÇÃO DE REGISTRO: CARACTERÍSTICAS DO CONTEXTO E DO GRAU DE FORMALIDADE
Fidelainy Sousa Silva
59
Trata-se de uma investigação empírica que visa confrontar os referencias teóricos de autores como José
Luiz Fiorin e Marcos Bagno à realidade linguística da comunidade do Barreiros, zona rural do Município
de Amargosa, no agreste baiano. Nas palavras de Bagno, “[...]no Brasil, embora a língua falada pela
grande maioria da população seja o português, esse português apresenta um alto grau de diversidade
e de variabilidade, não só por causa da grande extensão territorial do país [...], mas principalmente
por causa da trágica injustiça social que faz do Brasil o segundo país com a pior distribuição de renda
em todo o mundo.” (BAGNO, 2007, p.16) Infere-se, portanto, do trecho supracitado, extraído da obra
Preconceito Linguístico, que a língua é diversa e variável e que esta variabilidade está intrinsecamente
relacionada à fatores sociais, econômicos, culturais, políticos e geográficos.
O Brasil é um país de dimensões continentais e, portanto,é natural que a língua falada nas suas
diversas regiões se revistam de especificidades, tanto no que concerne ao uso dos vocábulos, como em
outros aspectos da língua, tais como, construções sintáticas e fonéticas. Já Fiorin em sua Introdução
à Linguística alerta que “[...] há muito que se pesquisar sobre as relações entre usos de variantes e
fatores extralinguísticos, tais como, idade, escolaridade e nível econômico do falante, a fim de se
entender melhor de que modo diferenças sociais contribuem para a formação de comunidades de
fala diferentes.” (FIORIN, 2002, p.138). Levando em consideração as ponderações da sociolinguística
variacionista acerca da relação entre variação linguística e aspectos extralinguísticos, bem como o
fato de a região nordeste do país apresentar baixo nível de desenvolvimento econômico e precárias
condições de escolarização, o estudo visa levantar, analisar e discutir variações no uso do português
na localidade dos Barreiros à luz do arcabouço teórico de autores variacionistas, os quais concebem
a língua como viva, dinâmica, variável e em estreita relação com fatores extralinguísticos no seu
processo de diferenciação em relação às outras variedades linguísticas.
A pesquisa opera com informações de cunho qualitativo e quantitativo e utiliza-se de questionários
para a coleta de dados junto aos moradores da comunidade. A amostragem é selecionada seguindo
critérios como faixa etária e tempo de residência na localidade. Ao todo são selecionadas quatro
pessoas, sendo que, duas são mulheres, analfabetas, pertencentes à faixa etária dos 50 e 60 anos e as
outras duas são homens, sendo um analfabeto e outro com baixo nível de escolaridade, cuja idade
PESQUISA DE CAMPO PARA O LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE OCORRÊNCIAS DE VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS DE FALANTES RESIDENTES NA COMUNIDADE
DOS BARREIROS, ZONA RURAL DE AMARGOSA-BA
Illysandra Cerqueira Ribeiro;Lorena Cerqueira Ribeiro
60
está entre 60 e 80 anos. Todos os diálogos são gravados e transcritos. As transcrições são tabuladas
e sintetizadas visando observar a ocorrência de aspectos como rotacismo, acréscimos de sons nas
palavras, diminuição das regras gramaticais como plural e concordância, assimilação, desnasalização
das vogais, presença de palavras arcaica. Por fim, as diferentes ocorrências de variação linguísticas
encontradas são analisadas tendo por base um referencial teórico constituído de obras de autores da
linguística variacionista.
Palavras-chaves: Variacionistas, Linguísitica, Amargosa, empírico, Comunidade
61
O presente trabalho está centrado numa investigação sobre o papel do professor na educação linguística
de seus alunos, bem como na importância de se adotar, em sala de aula, uma pedagogia culturalmente
sensível aos saberes dos educandos (BORTONI-RICARDO, 2004). Sendo assim, o professor deve
estar atento às diferenças entre a cultura dos alunos e a cultura escolar, conscientizando-os sobre essa
lacuna. Infelizmente, o que tem se visto em muitas escolas é a negação dessas reflexões linguísticas e
a permanência do ensino focado no conceito de certo e errado. Essa postura se dá, muitas vezes, pela
precária formação dos professores (FARACO, 2008), que provoca, nos alunos, uma postura inibidora
diante dos fatos da língua.
Tal formação não passa pela reflexão sobre os fenômenos da variação presentes no uso da língua e
se assenta em práticas seculares, sustentando as aulas de Língua Portuguesa na exposição da teoria
gramatical. No entanto, hoje é de relevância indiscutível desenvolver, nos educandos, competências
de uso na variedade culta do português brasileiro. Dessa forma, o papel da escola é fazer com que os
alunos tomem consciência sobre a necessidade de adequar sua linguagem ao contexto de produção,
ao interlocutor, ao tema, tomando consciência da variação. A partir da pedagogia proposta por
(BORTONI-RICARDO, 2004) de se trabalhar a variação linguística, partindo do dialeto do aluno,
desenvolvemos uma pesquisa-ação com alunos do 7° ano de uma escola da rede privada de ensino, na
cidade de Juiz de Fora (MG), falantes da variedade urbana comum.
O trabalho tem como foco observar, nesses alunos, os resultados de uma educação linguística, visto
que a professora de Língua Portuguesa é adepta da pedagogia proposta acima. Os resultados do
estudo têm nos revelado que o professor que tem consciência sobre a necessidade e a viabilidade da
pedagogia da variação linguística, não como uma simples teoria, mas como implementação de uma
atitude científica frente aos fenômenos da variação e da mudança, leva seus alunos a construírem
crenças positivas sobre o seu e sobre os demais dialetos e os motiva a ampliar sua competência no
uso das modalidades falada e escrita de sua língua. Além disso, os alunos estão percebendo que essa
aprendizagem exige reflexão sobre diferentes usos linguísticos. Portanto, é importante salientar a
necessidade de formação do professor no desenvolvimento da pedagogia da variação linguística em
seus alunos (FARACO, 2008).
POR UMA PEDAGOGIA DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA ESCOLA
Joseli Rezende Thomaz
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Associando-se ao macro projeto da FramenetBrasil(FN-Br), que busca criar um recurso lexical
onlinepara o Português do Brasil (PB), este trabalho objetiva apresentar uma das vertentes do
trabalho de descrição da Construção de Quantificação com Determinantes Polilexêmicos no PB sob
a perspectiva da Gramática das Construções (Goldberg, 1995; ) da Semântica de Frames (Fillmore,
1982) e dos Estudos sobre a Metonímia (KÖVECSES, 2002; LAKOFF; JOHNSON, 2002). Em especial,
este estudo é parte do projeto de implementação do Constructicon para o PB, nos mesmos padrões do
que vem sendo implementado pela equipe da FrameNet, coordenada por Fillmore e Baker (Fillmore;
Lee-Goldman; Rhodes, no prelo). Tal construção pode ser exemplificada pelos seguintes sintagmas:
uma enxurrada de críticas, um mar de problemas, uma enchente de mentiras, uma gota de lágrimas,
um ponta de ciúmes, um dedo de juízo.
Nesse sentido, a construção em questão pode se configurar pelo esquema: UM(A) N1 de N2, em que
N1 representa a núcleo da construção, ou seja, o quantificador e N2 o objeto quantificado. Dentre
os elementos que podem assumir a posição de N1 encontram-se enxurrada, montão, montanha,
caminhão, vendaval, porrada, gota e pingo, bocado, dedo, cisco, ponta e migalha. Acompanhando uma
tendência contemporânea da Linguística Cognitiva, qual seja a análise Baseada no Uso (BYBEE, 1985,
1995 apud CROFT; CRUSE, 2004), na qual se utiliza sentenças reais de uso da língua. As ocorrências
analisadas foram coletadas no corpus da FN-Br, através do SketchEngine (www.sketchengine.co.uk/).
Focalizando os Quantificadores de pequena quantidade, foram identificadas onze instanciações da
construção, provando que a CQIDP de pequena quantidade é produtiva no PB, devido a sua alta
frequência de tipo. Observando-se ainda os elementos que podem assumir o lugar de núcleo da
construção, N1, percebeu-se que o entendimento da mesma como evocadora de pequena quantidade se
dá por um processo metonímico, no qual uma parte específica do todo é selecionada para quantificar.
Nessa perspectiva, N1 é entendido como a menor parte de um todo.
Desta maneira, agrupamos estas instanciações em três grupos: precipitações de água (gota e pingo);
parte do corpo (bocado, bocadinho, dedo e dedinho); parte de artefatos (cisco, fiapo, ponta, pontinha
e migalha). Nossas análises iniciais apontam também para a existência de motivações metafóricas na
sistematicidade das combinações entre o quantificador e o elemento quantificado.
QUANTIFICADORES POLILESSÊMICOS DE PEQUENA QUANTIDADE: UMA ABORDAGEM CONSTRUCIONISTA
Davidson dos Santos; Élida Ramos Costa; Fátima Bittar Oliveira e Souza
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CROFT, W.; CRUSE, D.A. Cognitive Linguistics. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.
FILLMORE, C. J.; LEE-GOLDMAN, R. & RHODES, R.The FrameNetConstructicon. In: BOAS, H. &
SAG, I. Sign-Based Construction Grammar. No prelo.
FILLMORE, C. J. Frame Semantics. In: The Linguistic Society ok Korea (Org.). Linguistics in the
Morning Calm. SEOUL: HANSHIN, 1982.
GOLDBERG, A. E. Constructions: A Construction Grammar approach to Argument Structure.
Chicago: University Of Chicago Press, 1995.
KÖVECSES, Z. Metaphor: A Practical Introduction. New York: Oxford University Press, 2002.
LAKOFF, G.; JOHNSON M. Metaphors we live by. Coordenação da tradução: Mara Sophia Zanotto.
Campinas: Mercado de Letras, 1980 [2002].
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Partindo de princípios da Dialetologia pluridimensional (CARDOSO, 2010), o trabalho apresenta uma
pequena análise acerca do repertório semântico lexical de falantes da cidade de Amargosa, localizada
no Vale do Jequiriçá, no Recôncavo da Bahia. A pesquisa procurou identificar formas variantes do
léxico em dois campos semânticos: 1) vestuários e acessórios e 2) fenômenos atmosféricos. Levando
em conta que, no município, as pessoas em geral costumam estabelecer uma distinção entre as pessoas
da “roça” e as pessoas da zona urbana, e que é comum, nas escolas, o relato de professores de que os
estudantes das áreas rurais são estigmatizados seja por sua vestimenta, seja por sua fala, o seguinte
problema foi levantado: se essa distinção do ponto de vista social acontece, haverá uma diferença, do
ponto de vista lexical, entre falantes de áreas rurais e urbanas da cidade? A hipótese de que partiu o
trabalho afirmou que haveria diferenças entre o falar da zona rural e o da zona urbana, levando em
conta a ideologia dominante que circula no meio social, mesmo numa cidade de pouco mais de 20.000
habitantes. Para a recolha dos dados, foram aplicados 20 itens do Questionário semântico lexical do
ALiB, nos campos semânticos acima indicados, com dois homens e duas mulheres, com idades de 50
a 65 anos, naturais do município e residentes nas zonas rural e urbana de Amargosa. Resultados gerais
apontaram diferenças e semelhanças ocorridas no falar do campo e da cidade em questão que podem,
de algum modo, estar relacionadas aos estereótipos que permeiam as relações sociais estabelecidas
entre esses grupos.
Palavras-chave: Dialetologia pluridimensional. Variação lexical. Falar rural e urbano.
REPERTÓRIO SEMÂNTICO-LEXICAL DE FALANTES DE AMARGOSA: VESTUÁRIO E FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS
Anastácia Amorim Santana; Robevaldo Correia dos Santos
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Este trabalho é parte do projeto da ProfªDrª Vera Paredes - UFRJ, sobre variação na representação do
sujeito. O principal objetivo é observar a variação no uso dos pronomes que fazem referencia a segunda
pessoa do singular, “tu” e “você”, de valor genérico em conversas de falantes cariocas nos grupos
de discussão de redes sociais, mais especificamente do Facebook. Portanto, foram investigadas as
características da segunda pessoa gramatical e do gênero e tipo textual em questão, a fim de identificar
os contextos de uso que favorecem o uso da forma “tu” ou “você” do tipo genérico.
Sabe-se que o pronome de segunda pessoa pode ter um emprego referencial específico, mas muitas
vezes é usado para uma generalização. Os dados que foram considerados como genéricos prototípicos
apresentavam uma não direcionalidade a um participante da conversa. Ao tratar de ocorrências como
“(...) Tipo, povo não idiota, tu é vereador/deputado.. não mete essa que tu tem um patrimônio menor
do que um cidadão comum.”, concluiu-se que os “genéricos (prototípicos)” são aqueles que, apesar de
terem forma de segunda pessoa, são pronomes que não estão direcionados a nenhum interlocutor e
carregam um sentindo mais geral e abrangente.
É preciso destacar que foi analisado o emprego genérico e não-padrão, ou seja, o pronome de segunda
pessoa acompanhado de verbo na terceira pessoa do singular ( “tu viu”, “tu vai”). Trata-se de um
estudo da língua em uso e, como envolve um fenômeno variável, tem como base teórico-metodológica
a Teoria da Variação e da Mudança Linguística de Labov. O corpus foi construído com conversas que
se formaram no grupo de discussão da Faculdade de Letras da UFRJ noFacebook, que é integrada por
alunos de tal instituição que são participantes de ambos os sexos (fator gênero), que têm entre 18 e 24
anos (fator idade) e graduação de Letras em curso (fator escolaridade). A escolha dessa fonte de dados
se deve ao fato de que há uma quantidade significativa de exemplificações em função da característica
argumentativa dessas conversas. Isso propicia o aparecimento de segunda pessoa com valor genérico.
Para o tratamento estatístico da variação, levou-se em conta aspectos linguísticos como o tipo sintático
da oração, a semântica do verbo e o ato de fala realizado.
Nesse sentido, tomamos como base a Teoria dos Atos de Fala, principalmente com relação às
contribuições de John R. Searle (1987), buscando correlacionar os valores semânticos, sintáticos e
pragmáticos. Além disso, foi investigado se a sequência ou tipo textual em que se insere a ocorrência
influencia a escolha do falante por um dos pronomes.Os primeiros resultados apontam que os homens
VARIAÇÃO NO USO DE ‘TU’ E ‘VOCÊ’ GENÉRICO EM CONVERSAS NO MEIO DIGITAL
Maria Julia Nascimento Sousa Ramos
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usam mais o pronome “tu” ( com um peso relativo de 0.58), pois como se trata da implementação de
um uso não-padrão é natural que isso aconteça. Acrescenta-se ainda que “tu” não está fortemente
associado a uma leitura mais genérica, já que “você” está mais estabilizado na língua.