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Violações de direitos A mídia brasileira e os discursos anti-humanistas

I. CONTEXTO (OU O QUE FOI CONSTRUÍDO ATÉ MOMENTO, NAS FASES I E II)

Acabaram de pegar o cara, tá? Já acabou de ser preso... Então, a praga acabou de ser grampeada. Não seria o caso, né? Passa logo fogo num cara desse aí! Pra que é que nós queremos vagabundos do Rio aqui na nossa área? [...]. Então, é uma pena que ele não reagiu, porque a rapaziada passaria fogo nele de uma vez e 'tava' tudo certo. Então, o desgraçado já está preso... (VARJÃO; ANDI, 2015a: 16).

Esse tipo de narrativa constitui hoje um fenômeno de radiodifusão que vem preocupando autoridades públicas, especialistas, pesquisadores, jornalistas e lideranças comunitárias do Brasil, pelo grande impacto provocado na mentalidade social — notadamente, nos indivíduos em formação, instados diuturnamente a não respeitarem leis e a empregarem ou consentirem a violência física e os extermínios como forma de enfrentar a criminalidade no País.

Para dar uma noção da gravidade do fenômeno, em apenas 30 dias, programas “policialescos”1 de rádio e TV geraram 4.500 violações de direitos, como o “Discurso de ódio ou Preconceito" 2; infringiram 15.761 vezes leis brasileiras e multilaterais, como, respectivamente, a Constituição Federal e a Declaração Universal dos Direitos Humanos; e desrespeitaram 1.962 vezes normas autorregulatórias, como o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.

O raio de alcance e o volume constrangedor dos discursos anti-humanistas e antidemocráticos levaram organizações da sociedade civil e do Estado brasileiro a formarem uma aliança, com o propósito de monitorar, expor e combater as violações e as infrações, por meio, entre outras estratégias, do “Programa de monitoramento de violações de direitos na mídia brasileira”, por mim coordenado, como consultora, representando a ANDI — Comunicação e Direitos.

GUIA. No âmbito do referido programa de monitoramento, foi construída uma ferramenta inédita de pesquisa, registrada na publicação “Violações de direitos na mídia brasileira — Guia de monitoramento” (VARJÃO; ANDI, 2015a) e empregada em amplo trabalho de investigação, que incidiu sobre 28 produções “policialescas” de rádio e TV de todas as regiões brasileiras, abrangendo o período de 2 a 30 de março de 2015.

Com base em textos de 21 normas (11 leis brasileiras, 07 acordos multilaterais e 03 dispositivos de autorregulação), foram definidas nove (09) categorias de violações de direitos. E no período mencionado, 1.928 narrativas de rádio e TV cometeram pelo menos uma dessas violações, nas quantidades discriminadas a seguir, nos tópicos “Violações cometidas”, “Leis infringidas” e “Outras normas desrespeitadas”:

1 Por "policialescos" compreendem-se produções que, diferentemente dos noticiosos em geral, tratam majoritariamente de temas vinculados a ocorrências de ordem policial. 2 De “raça”, cor, etnia, religião, condição socioeconômica, orientação sexual, nível de escolaridade, idade ou procedência nacional. "Raça" aqui entendida não como categoria científica, mas como construção sociopolítica e cultural.

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Violações cometidas (total de 4.500):1. “Exposições indevidas de pessoas”: 1.704 vezes;2. “Desrespeitos à presunção de inocência”: 1.580;3. “Violações do direito ao silêncio”: 614;4. “Exposições indevidas de famílias”: 295;5. “Incitações à desobediência às leis ou às decisões judiciárias”: 151;6. “Incitações ao crime e à violência”: 127;7. “Identificações de adolescentes em conflito com a lei”: 39;8. “Discursos de ódio ou Preconceito" :17; e 9. "Torturas psicológicas ou Tratamentos desumanos ou degradantes": 09 vezes.

Leis brasileiras infringidas (total de 8.232 infrações)1. Constituição Federal de 1988: 1.928 vezes;2. Código Brasileiro de Telecomunicações: 1.928;3. Código Civil Brasileiro: 1.928;4. Regulamento dos Serviços de Radiodifusão: 1.866;5. Lei de Execução Penal: 300;6. Código Penal Brasileiro: 127;7. Estatuto da Criança e do Adolescente: 78;8. Estatuto do Idoso: 50;9. Lei 7.716/89 (define os crimes de preconceito de raça ou de cor): 17;10. Lei 9.455/97 (sobre tortura): 09;11. Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/73): 01.

Leis multilaterais afrontadas (total de 7.529 infrações)1. Convenção Americana sobre Direitos Humanos: 1.928 vezes;2. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos: 1.928;3. Declaração Universal dos Direitos Humanos: 1.849;4. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem: 1.801;5. Convenção sobre os Direitos da Criança: 13;6. Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou

Degradantes: 09;7. Convenção Internacional Sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação

Racial: 01.

Mecanismos de autorregulação (e outros parâmetros orientadores do campo) desrespeitadas — ou ignorados (total de 1.962):

1. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros: 1.928;2. Princípios de Camden sobre Liberdade de Expressão e Igualdade: 17;3. Declaración conjunta do Relator Especial de las Naciones Unidas para La Libertad de

Opinión y Expresión, el Representante de la Organización para la Seguridad y Cooperación en Europa para la Libertad de los Medios de Comunicación y el Relator Especial de la OEA para la Libertad de Expresión: 17.

FERRAMENTA. Para uma melhor visualização da estratégia usada para a identificação e quantificação das violações de direitos e infrações às normas, permitindo mensurar seu grau de precisão, reproduzo a seguir parte da estrutura do “Quadro de referência” que compõe a ferramenta de análise. Passível de ser replicado em qualquer nação democrática, o quadro que orientou os pesquisadores é composto, grosso modo:

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a. por normas que buscam proteger direitos humanos no campo da comunicação de massa;

b. por trechos de narrativas de rádio e TV que nitidamente as desrespeitam; e c. pelas descrições das categorias de violações construídas a partir da comparação entre

as normas e os trechos das narrativas.

Tomando como exemplo o “Desrespeito à presunção de inocência”, transcrevo a seguir os principais elementos empregados na estruturação da referida categoria de violação, a começar pelos dispositivos legais (nacionais e multilaterais) e as normas autorregulatórias (e outros parâmetros orientadores do campo) que versam especificamente sobre o direito em foco, a saber:

Legislação nacional:

Constituição Federal de 88, artigo 5º, incisos LIII e LVII

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.

LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória (BRASIL, 2016: 2).

Legislação multilateral:

Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 11, §1º

Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada, de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa (ONU, 1948: 3).

Instrumento de autorregulação:

Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros

Capítulo III — Da responsabilidade profissional do jornalista

Artigo 9º A presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística (FENAJ, 2016: 01).

A partir dos textos destas — entre outras — normas, a categoria de violação foi descrita e associada a trechos de narrativas, denominados “Indicadores de violações”, conforme exemplo a seguir reproduzido.

Descrição da violação “Desrespeito à presunção de inocência”:

Ocorre quando um jornalista, radialista ou apresentador afirma que determinado indivíduo ou grupo de indivíduos cometeu um crime, tratando-o não como suspeito, mas como culpado, sem expor provas e sem que o indivíduo/grupo tenha sido julgado e condenado pelo suposto crime, desrespeitando preceito constitucional de presunção de inocência.

A violação ocorre, em geral, quando o profissional de comunicação, com base apenas em boletim de ocorrência policial, ou em depoimento de policiais, divulga nome ou imagem do(s) acusado( s), afirmando a autoria de ato delituoso, sem que esta tenha sido comprovada e sem que seja

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mencionada, de modo transparente, a fonte da informação, relativizando-a, portanto (VARJÃO; ANDI, 2015a: 15).

O indicador da violação (ou trecho de um programa que exemplifica esse tipo de violação):

[Retranca]: “Sigo as informações com Paulo Rogério...”.

Trecho 1 da narrativa. [Âncora]: “Neto é suspeito de tentar roubar, aliás de roubar e matar. Tentar, não. Ele roubou e matou o próprio avô, lá no município de Alegre...”.

[Repórter]: “Policiais Civis de Alegre, no sul do Espírito Santo, realizaram uma operação e prenderam ‘Fulano de Tal’ , de 22 anos, suspeito de ser o autor do latrocínio, roubo seguido de morte, do próprio avô dele”.

_____________________

Meio: rádio; veículo: Gazeta AM (ES); programa: Rádio Patrulha (Vitória); data da ocorrência: 08/05/2014; data da veiculação: 20/05/2014; minutagem do trecho: 33:05 a 33:29 (VARJÃO; ANDI, 2015a: 42).

O mesmo procedimento foi empregado na estruturação das demais categorias de violações cotejadas com as narrativas dos 28 programas. Mas além de identificar e quantificar as violações e infrações, a pesquisa, registrada no volume III de “Violações de direitos[...]" (VARJÃO; ANDI, 2016), avaliou diferentes perspectivas do fenômeno, evidenciando o forte impacto provocado pelas narrativas em foco no tecido social e no sistema democrático de governança do Brasil.

PERSPECTIVAS. Entre outros aspectos, foram analisadas as consequências sobre os indivíduos indevidamente expostos nos programas “policialescos”; sobre a audiência — notadamente, crianças e adolescentes, sistematicamente submetidos a cenas de extrema violência física; e sobre a sociedade em geral, bombardeada com discursos favoráveis à resolução de conflitos por meio da violência e contrários às leis e instituições democráticas.

São também avaliados alguns dos fatores que contribuem para a operação desse modelo midiático, como os desajustes do sistema de regulação, que se resume a um controle institucional formal, de pouca efetividade; a ausência de monitoramento sistemático dos programas “policialescos”; e os baixos valores de multas, quando eventualmente aplicadas, em contraponto aos altos lucros auferidos com a exibição dos programas.

Enfim, são diversas, as perspectivas associadas ao fenômeno. Aqui, vou me limitar a expor algumas das mais nocivas recorrências flagradas nas narrativas sob análise: o estímulo à violência física; os discursos de ódio emitidos contra os personagens representados nos programas e contra o campo de defesa dos direitos humanos; os ataques reiterados às leis e às instituições democráticas; o contínuo desrespeito aos parâmetros técnicos e éticos que orientam a prática jornalística.

INCITAÇÃO AO CRIME E À VIOLÊNCIA. A título de ilustração desse tipo recorrente de violação, reproduzo adiante um pequeno extrato de um programa de rádio veiculado em 24 de março de 2015, no qual, após o repórter narrar uma prisão efetivada por policiais, o âncora defende, abertamente, o assassinato do acusado pelos crimes descritos — discurso semelhante a 127 outros identificados no curto espaço de tempo do monitoramento.

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[Âncora]: Olha só: o cara com 3 homicídios; 3 tentativas de latrocínio; tráfico de drogas; 35 roubos! O que que uma ‘miséra’... Ô bicho, eu vou perguntar não é se tá na rua não. O que que uma ‘miséra’ dessa tá fazendo vivo? Que bem que isso pode fazer pra sociedade? Que bem isso pode fazer pra sociedade? Ah, me desculpa que negócio de direitos humanos: ‘Ah, não, mas é humano’... Que humano desse aí presta pra que, um ‘porquêra’ desse? Só pra dar prejuízo. Agora vai ficar lá preso, a gente paga uns dois mil e tantos conto por cada preso desse e o idiota vai fizer comendo a nossas custas... Vá trabalhar, ‘miséra’. Seu ‘porquêra’, cheio de pulga3 (VARJÃO; ANDI, 2016: 44).

Como registrado no volume III de “Violações de direitos na mídia brasileira” (VARJÃO; ANDI, 2016), o campo da comunicação de massa tem o poder de incidir diretamente sobre a opinião pública, catalisando, fomentando ou legitimando comportamentos – positiva ou negativamente falando. E a emissão sistemática desse tipo de discurso ganha relevância a partir da realidade brasileira, em que as execuções extrajudiciais impactam significativamente o quadro de homicídios.

No relatório “Você matou meu filho”, por exemplo, a Anistia Internacional (2015) estima que, em média, nos últimos cinco anos, as mortes decorrentes de intervenção policial responderam por cerca de 16% dos homicídios registrados na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o que é considerado preocupante por estudiosos da psique humana, como Maria Luiza Moura, pesquisadora do Departamento de Psicologia da PUC Goiás.

“Os efeitos desses discursos são severos, pois a violência física é uma das mais consentidas na sociedade brasileira”, enfatiza Oliveira, explicando que esse tipo de programa acaba reforçando essa conduta, ao dar “quase que uma autorização pública” para o uso da violência física como forma de resolução de conflitos (VARJÃO; ANDI, 2016).

Em síntese, os dados do monitoramento, os depoimentos de especialistas e os aportes teóricos evidenciam a vinculação entre o campo simbólico e o campo físico, ou, em outros termos, entre narrativas sobre violências físicas e ocorrências de violências físicas, a partir do estímulo a execuções, linchamentos e tortura como formas de enfrentar o quadro de violências e criminalidades no Brasil.

LEGITIMAÇÃO DA REPRESSÃO PELO ESTADO. Os dados da pesquisa evidenciam ainda que as narrativas são construídas a partir de um único ponto de vista: o do aparato repressivo de Estado, reduzindo o fenômeno das violências e criminalidades à esfera policial e fortalecendo as políticas de “mano dura”.

Violências e criminalidades constituem um fenômeno de múltiplas causas e vetores, que assume diferentes feições, a depender do contexto em que se manifesta. No Brasil, tem raiz na desigualdade social, o que é perceptível, entre outros indicadores, pelo perfil das “vítimas preferenciais” de homicídios no País: homens negros, pobres e jovens, como demonstrado, entre outros, por Waiselfisz (2014a; 2014b; 2015).

3 Meio: rádio; veículo: Clube FM (DF); programa: DF Alerta Clube; data da ocorrência: não foi possível identificar; data da veiculação: 24/03/2015. Minutagem do trecho completo: 05:42 a 09:02.

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Significa dizer que as manifestações dessa complexa problemática não devem ser tratadas como fatos isolados, mais próximos da psique humana do que da esfera socioeconômica e étnico-racial. E defender a repressão pura e simples ao indivíduo é ignorar o contexto de produção do fenômeno, conduzindo o debate público para soluções de eficácia duvidosa, como sinaliza estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

No “Informe Regional de Desenvolvimento Humano 2013-2014”, o órgão da ONU traça um diagnóstico da violência criminal na América Latina, atestando que as “políticas de mano dura — com um enfoque punitivo que privilegia a repressão, o endurecimento das penas e o uso da força — têm tido repercussões negativas, muitas das quais inesperadas”, como o aumento nos níveis de violência letal e o fortalecimento de redes criminosas (PNUD, 2013).

O estudo aponta para a perspectiva ética do debate público sobre o modelo de segurança pública majoritariamente adotado pelo mundo democrático. Estruturado em torno do conceito de “segurança cidadã”, prevê um sistema multidisciplinar, intersetorial, e que respeite os direitos humanos, tanto nas ações relacionadas à dimensão preventiva quanto à repressiva.

E o enfrentamento integral do fenômeno requer atuação conjunta não apenas das diferentes esferas de poderes do País, mas entre nações — principalmente, as que compõem uma identidade regional e enfrentam problemática comum, como recomendado no mencionado informe, que acusa “taxas de homicídio com níveis de epidemia” na maioria dos países da América Latina e Caribe, e conclama: “Este relatório exorta-nos a atuar em níveis local, nacional, regional e global para construir uma visão de segurança cidadã que priorize o desenvolvimento humano” (PNUD, 2013).

O importante informe acusa ainda níveis significativos de percepção de insegurança na vasta região, destacando a responsabilidade dos meios de comunicação de massa na abordagem do complexo tema e convocando as nações latino-americanas a uma prática midiática de qualidade:

Nossos países requerem um profissionalismo midiático que evite o sensacionalismo e a estigmatização de grupos em situação de vulnerabilidade — em particular, dos jovens. Para isso, é necessário contar com um jornalismo de investigação que contextualize os fatos, que apresente e respeite cabalmente os princípios da ética jornalística, como a presunção de inocência (PNUD, 2013: 16).

Exatamente o oposto do praticado nos programas “policialescos”, cuja defesa das políticas de “mano dura” vem surtindo efeitos concretos no Brasil.

CAMPANHA CONTRA ADOLESCENTES. Uma das consequências mais evidentes dos discursos raivosos dos programas “policialescos” no País são as reiteradas tentativas de redução da idade de responsabilização penal, que, no Brasil, é de 18 anos. Vejamos alguns extratos de um dos programas que mais violam direitos (o “Cidade Alerta”, da Rede Record), para ilustrar minimamente a “campanha” diuturna empreendida contra estes jovens.

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Os repórteres do citado programa narram diferentes ocorrências de ordem policial, com interferências do âncora e de um comentarista. No primeiro trecho, é comentado um crime praticado contra uma dentista, queimada viva por integrantes de um grupo, do qual participaria um adolescente.

[...] [Âncora]: [...] Pois eu quero dizer o seguinte: o que precisa ser feito é botar na cadeia não só pela idade, mas fundamentalmente pela característica do crime que pratica. Se a gente estabelecer que tem que ir pra cadeia aos quinze anos de idade... e com isso diminuir a idade penal, transformá-la pra quinze anos, tem que ter uma balança. Qual é? A grandeza do crime, o tamanho. Um sujeito de dezessete anos que toca fogo... Primeiro que eu não acredito nessa história. Já vou dizer de cara. Acho que ele assumiu porque é um menor, correto? É um menor... não dá nada pra ele... E ao não dar nada pra ele, ele assume no lugar dos outros e tá tudo certo. Ele daqui a três anos volta pras ruas. Volta pras ruas pra fazer o quê? A mesmíssima coisa. Então vou dizer uma coisa, eu acho que nós temos que ter: primeiro, acabar com essa história de menor; segundo, termos pena de morte com rigor... Rigor! E a punição... [...] (VARJÃO; ANDI, 2016: 116).

Como analisado no relatório da pesquisa, o âncora não desconhece o uso deliberado de menores de 18 anos não só para participar de delitos, mas para assumir a autoria, caso se chegue ao grupo executor dos atos (“Primeiro que eu não acredito nessa história [...]. Acho que ele assumiu porque é um menor, correto? É um menor... não dá nada pra ele... E ao não dar nada pra ele, ele assume no lugar dos outros...”).

Mas em vez de problematizar a cooptação do adolescente por adultos, o âncora ratifica o argumento falacioso da suposta impunidade que seria garantida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)4, usado pela criminalidade organizada no trabalho de convencimento dos mais jovens. Em outro trecho do mesmo programa, a busca desenfreada por adolescentes em conflito com a lei continua, com o âncora defendendo, escancaradamente, a Lei de Talião.

[Repórter 2]: Tentativa de assalto... ou melhor, assalto no semáforo. Três homens assaltaram, a polícia foi chamada. Dá pra gente ver, Marcelo, quem foi assaltado, olha aí... esticando o braço... tá alterada... porque... apontando inclusive para os homens que assaltaram ele armados, Marcelo.

[Âncora]: [...] Eu duvido que não tenha o tal menor de idade ali... é ou não é? Não tem menor, pela aparência?

[Repórter 2]: Tem. Tem razão. Tem! Tem menor. Tem menor... Veio a confirmação pra nós. Tem um menor, Marcelo” [tela dividida entre a batida policial e a imagem do Repórter 2 no helicóptero].

4 Instituído pela Lei 8.069, em 13 de julho de 1990, o ECA regulamenta os direitos de crianças e adolescentes, a partir das diretrizes da Constituição Federal do Brasil e internalizando normativas internacionais, como a Declaração dos Direitos da Criança, as Regras Mínimas das Nações Unidas para Administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing) e as Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da Delinquência Juvenil.

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[Âncora]: Tem um menor de idade... aí é ele quem vai tá segurando a arma. Moral da história, tocou fogo na dentista? Toca fogo no cara que tocou fogo na dentista e nos comparsas dele também! Tem que ser, é o seguinte, tem que ser pagar na mesma moeda! [...] (VARJÃO; ANDI, 2016: 116).

DEMOCRACIA EM XEQUE. Outros padrões do modelo “policialesco” evidenciam como esses programas extrapolam as violações de direitos contra os personagens diretamente neles retratados, chegando a colocar em xeque a própria democracia brasileira, com o combate reiterado às suas regras, personagens e instituições. À hiperexposição descontextualizada de adolescentes em conflito com a lei, anteriormente demonstrada, seguem-se, por exemplo, os ataques ao Congresso Nacional, como adiante exposto:

[...] [Âncora]: Mas tem uma questão... que eu vou te dizer... que eu acho também. Ok, impõe-se a pena de morte. Mas pra se impor a pena de morte no Brasil, tem que ter uma questão do meu ponto de vista central. Qual é? Ter pena de morte também pro Congresso Nacional! Ter julgamento e cadeia. Não podemos nós pegarmos só o menor de idade que mata e que aí... ‘cabô’ esse negócio de menor de idade e tem pena de morte e bota na cadeia... Ok. Vai julgado, é pena de morte... Ok. Mas vem cá... e esse monte de político que todo mês mete a mão no nosso bolso? E esse Congresso Nacional que custa, a mim e a você, por ano, nove bilhões de reais? A pergunta é: são menos de seiscentos homens lá... Se fechar aquela joça lá, correto? [...] (ANDI, 2016: 118).

Recorro a outra narrativa, para ilustrar os ataques contra os indivíduos que integram o campo de defesa dos direitos humanos — tão reiterados, raivosos e indiscriminados quanto os direcionados ao grupo de personagens aos quais se atribui ações criminosas. Como se pode observar pelo trecho a seguir, os comunicadores chegam a acusar, levianamente, os humanistas de integrarem o crime organizado:

[Chamada]: Ancuri: preso jovem que participou de execução.

[...]. [Âncora]: Ainda vai ter gente criticando a ação da polícia, porque deixou o bichinho com a cara no chão. Eu gostaria de saber como é que trata bandido, como é que age com bandido? Porque a gente pede pra parar, o cara não para. Pede pra desarmar, ele não desarma. Como é que a polícia age com carinho, ô ‘burrocratas’ de plantão, que adoram criticar a ação da polícia? Eu acho que por trás desses ‘burrocratas’ está o crime organizado. Porque eu nunca vi tanta gente defender bandido em detrimento da sociedade, da população. Porque, veja aqui: o Major Eudásio, não sei se tem aqui o áudio. Daqui a pouco coloca aqui. A polícia tá fazendo seu papel, coloca atrás das grades... Agora, quem deveria manter um preso atrás das grades e recuperado não é a polícia, é o judiciário. Essa é a verdade, doa a quem doer, que eu tenho que dizer. A Secretaria de Justiça, eu não consigo entender... [...]5 (VARJÃO; ANDI, 2016: 40).

Esse tipo de discurso difamatório vem sendo alvo de repúdio e combate de lideranças e agentes de Estado, uma vez que “quando você declara que quem defende os direitos humanos defende bandidos, você cria um estigma em relação aos defensores de direitos humanos, que hoje sofrem bullying por todos os cantos, como se fossem os responsáveis pela própria violência”, sintetiza o Procurador Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público do Brasil, Aurélio Rios.

Em outro trecho do programa “Cidade Alerta”, é possível visualizar fragmentos da “campanha” 5 Meio: TV; veículo: TV Cidade (CE); programa: Cidade 190; data da ocorrência: não foi possível identificar; data da veiculação: 02/03/2015; minutagem do trecho completo: 22:00 a 27:09.

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promovida contra os dispositivos legais em geral, e de outra recorrência discursiva relevante, que aponta para o combate frontal, público, aos parâmetros que regem o campo da imprensa, ao qual os âncoras dos “policialescos” dizem pertencer.

[...]. [Âncora]: “Eu falo aqui todo dia! E os repórter não consegue entender que eu e você, nós dois, já não suportamos mais essa hipocrisia de dizer ‘os menores foram apreendidos’... Eles são criminosos! E foram presos! É assim que se fala, correto? Dá o nome certo. O que a lei diz lá é problema da lei! Porque a lei no Brasil não funciona... Não bota o criminoso na cadeia...6 (VARJÃO; ANDI, 2016: 120).

O discurso do âncora do programa “Cidade Alerta” contra os critérios noticiosos é direto, mas, na maioria das vezes, o embate entre os astros dos “policialescos” e os profissionais de imprensa que compõem as equipes de produção é mais sutil, sendo perceptível apenas por aqueles que têm alguma intimidade com a esfera legal e o com o modo de operação do campo da comunicação de massa.

Entre outras evidências, a diferença de comportamento e de discurso entre repórteres e apresentadores pode ser percebida pelo emprego de termos neutros em relação aos personagens retratados (“suspeito”, “acusado”, etc.), e da tentativa de distanciamento em relação à(s) fonte(s) de informação (“segundo a polícia...”, “de acordo com as investigações...”, etc.), como manda a prática jornalística.

DISTÂNCIA DO JORNALISMO. A pesquisa demonstra ainda que além de graves violações de direitos e níveis elevados de desrespeito e combate a normas legais e autorregulatórias, essas produções midiáticas caracterizam-se por discursos unidirecionais, excessivamente opinativos, que carecem de diversidade de fontes de informação e pluralidade de pontos de vista, entre outros atributos qualitativos vinculados à imprensa.

A estas características, somam-se uma informação factual precária, marcada pela insuficiência de dados e contexto, e uma particularidade marcante, que torna ainda mais difusas as fronteiras que separam o jornalismo de outras produções midiáticas: a inserção de recursos sem finalidade informativa, com o propósito único de entreter, provocar o riso, divertir a audiência. Um pequeno extrato:

[Contexto]: O âncora abre o programa de rádio apresentando os personagens que o ajudam a comentar as narrativas sobre violências e criminalidades, usando vários apelidos.

[Âncora]: Seis horas, nove minutos. Seis e nove... ‘Queijinho’, ‘cabeçudinho’, ‘caixa d’água da Ceilândia’, ‘pulguento’, bom dia.

[Voz infantilizada]: [voz do comentarista simula a de bonecos, com forte apelo lúdico] Ai, ai... Não! ‘Pulguento’ não, né? [...].

[Âncora]: Venha pra cá, velho ‘pafoso’ e cheio de pulga, todo amassado, Honorato, bom dia....

6 Meio: TV; veículo: Record (SP); programa: Cidade Alerta (SP); data da ocorrência: 26-04-13; data da veiculação: 29-04-13; minutagem do trecho completo: 00:00 a 25:10.

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[Voz em tom cômico]: [a voz é claramente forçada para dar um tom cômico, típico de comediantes caricatos] Rapaz, eu acho que dormi dentro de uma garrafa [...].

[Âncora]: Cala a boca!

[Voz em tom cômico]: Ninguém vai te ajudar nada não... [risada gravada, de tom agudo, típica de programas de humor].

[Âncora]: Essa foi muito ruim! Essa foi muito ruim... [som similar a um arroto; risadas] [...].

[Contexto] Após o diálogo entre o âncora e os outros dois comunicadores, de vozes caricaturadas e entremeadas com recursos de sonoplastia, a narrativa sobre as ocorrências violentas começa.

[Âncora]: Vamos nessa... seis horas e onze minutos... Seis e onze... Deixa eu falar de um homem, rapaz, que atirou na própria perna durante uma fuga lá no Guará Dois ...7 (ANDI, 2016: 122).

O trecho reproduzido a seguir, extraído do monitoramento piloto realizado para construir a ferramenta de análise, ilustra melhor o uso desse tipo de recurso para narrar dramas humanos extremados, evidenciando a imprecisão de fronteiras desse modelo midiático, operado numa espécie de "entrelugar", por "entretenedores-periodistas", para usar a (in)definição cunhada por Omar Rincón (2010).

Durante cerca de 8 minutos (um tempo consideravelmente longo, em se tratando de narrativas de TV), a repórter do programa “Brasil Urgente Bahia” (Rede Bandeirantes) promove uma espécie de “entrevista-interrogatório” com um custodiado, para forçá-lo a confessar um suposto crime, afirmando, reiteradamente, que ele tentara estuprar uma mulher, durante uma tentativa de roubo, a ponto de levá-lo às lágrimas e a suplicar ajuda a familiares.

É relevante dar transparência ao pano de fundo do desespero do acusado, que admite a tentativa de roubo, mas não a de estupro: a violência sexual sofrida por aqueles que são presos como estupradores. A prática, recorrente no sistema prisional e tolerada pela sociedade brasileira, é o que, notadamente, infringe maior sofrimento ao suspeito.

O jogo de acusações e negativas é entremeado com risos da equipe de produção, recursos de sonoplastia e intervenções humorísticas, transformando a pretensa entrevista numa seção degradante de horror, deboche e tortura psicológica. O elemento central da zombaria é a ignorância do rapaz, que não sabe articular corretamente o idioma, tampouco conhece o exame de próstata, que ora chama de “estropa”, ora de “prósta”.

Reproduziremos apenas alguns pequenos trechos, para evidenciar a perspectiva aqui focada. A narrativa completa está registrada no relatório da pesquisa.

[Chamada]: Chororô na delegacia: acusado de estupro alega inocência.

7 Meio: rádio; veículo: Clube FM (DF); programa: DF Alerta (DF); data da ocorrência: não foi possível identificar; data da veiculação: 24/03/2015; minutagem do trecho: 00:00 a 02:36.

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[Repórter]: Você atacou a mulher, né, ‘Fulano’?.

[Acusado]: Não, não fiz nada com ela não... tá entendendo? Cheguei, tomei só o celular, tomei a corrente de ouro e, quando eu ia ganhar, veio dois cara e me segurou, me levou pra Estação Mussurunga e me quebraram no pau. ‘Num’... ‘num’ ‘estrupei’ ela não, e pode chamar ela e botar ela na minha cara aqui, ó... E pode perguntar! Eu viro até pra lá... a senhora pergunta se eu ‘estrupei’ ela... Pode fazer to...

[Repórter]: ‘Cê’ não estuprou, mas queria estuprar! [música de fundo similar a filmes de ação]. [...].

[Acusado]: Não ia... Pelo amor de Deus, não ia ‘estrupar’ não... [foco no rosto do acusado, que chora]. Não sou ‘estrupador’, ‘rapá’, nunca ‘estrupei’ ninguém, ‘rapá’... Já caí em delegacia, mas nunca... [engasga, chora]. Nunca com negócio de ‘estrupador’, nunca caí não ‘véi’... Pode fazer exame de ‘estropa’ nela, ‘ni’ mim, e vai ver que eu...

[Repórter]: Exame do quê?

[Acusado]: De ‘estropa’... Esses negócio aí, que faz aí pra ver se a mulher foi ‘estrupada’ mesmo [chora].

[Repórter]: Exame de quê? [efeito sonoro utilizado em programas de humor, imitando choro de criança]. [...].

[Repórter]: Fala aí o nome do exame de novo...

[Acusado]: ‘Estropas’, senhora. Sei lá... porque eu não sei falar direito não. [...].

[Acusado]: Eu... mas... Tomara que minha mãe ‘teja’... [foco no rosto do acusado, que chora]. Ô, ‘Fulana’, ‘cê’ ‘teja’ me escutando que... Ou ‘Fulana’ ou minha avó, ‘Fulana’... ou meus primo que... não deixa eu ir pra detenção não que eu nunca... eu nunca ‘estrupei’ ninguém, quem bem sabe é você o que eu já fiz, ‘pô’... Algum de vocês deve tá me assistindo e sabe que eu ‘num’ ‘estrupei’ ninguém, pô... Eu nunca ‘estrupei’ ninguém na minha vida... Nunca, ‘véi’!

[recurso sonoro imitando choro de criança].

[Repórter]: E agora, quando ela fizer o exame, como é o nome do exame?

[Acusado]: É que eu não sei falar direito, não. É ‘prósta’, alguma coisa dessa... [...].

[Repórter]: De ‘prósta’? [recurso sonoro de gargalhadas típicas de programas de humor; repórter ri]. Tá bom... Ô, Uziel, depois ‘cê’ não quer que o vídeo não vá pro YouTube [refere-se a Uziel Bueno, âncora do programa]. Quando ela fizer o exame de corpo delito, vai dizer se foi você ou não...

[Acusado]: É, vai dizer... [...].

[Repórter]: Estuprador! ‘Fulano de Tal’, estuprador! [...].

[Repórter]: Agora, ó, só pra resumir aqui a situação... O exame de próstata é homem que faz, viu?.

[Acusado]: Ah, eu pensei que era... eu pensei que era... Eu também vou fazer, né?

[Repórter]: Hã?

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[Acusado]: Eu também tenho que fazer... eu também tenho que fazer, né? Pra ver se fui eu, né?

[Repórter]: Se você quiser... [ri, debochadamente].

[Acusado]: Eu faço... Tenho que fazer o que, senhora? Arrumar uma cadeia por causa disso, ué?

[Repórter]: Você vai fazer o exame de próstata? [rindo e olhando para os lados].

[Acusado]: Faço.

[Repórter]: Mas ‘cê’ tá muito novo!

[Contexto]: Novo corte brusco de cena; microfone da emissora apontado para dois citados homens.

[Homem 1]: Resolvam! Resolvam! [em tom afetado, de deboche].

[Contexto]: Novo corte. Foco outra vez no acusado e na repórter. [...].

[Acusado]: Rapaz, de qualquer jeito eu faço, ‘véi’...

[Repórter]: Você gosta... [tom de deboche].

[Acusado]: Não, gosto não... [olhando desconfiado para a repórter].

[Repórter]: Você já fez? [risos]. [...].

[Contexto]: [efeito sonoro de voz distorcida pronunciando o termo ‘Oxente’, em tom de humor. Repórter se contorce de rir].

[Acusado]: Ô senhora, mas pra comprovar que eu não fiz tem que fazer, né, ‘véi’...

[Repórter]: Pois é, Uziel, o sistema é bruto pra ‘Fulano de Tal’. Ele vai ficar aqui à disposição da Justiça. E vai tentar fazer o exame de próstata, né? [...].

[Repórter]: Ô... ‘Cê’ não disse que queria? Tava com vontade... [efeito sonoro com o termo ‘Epa!’, simulando espanto e reprovação, em tom de comédia]. [...].

REGULAÇÃO E LIBERDADE DE IMPRENSA. O caso ilustra ainda a dificuldade que a sociedade brasileira vem enfrentando para coibir os abusos dos “policialescos”, com rara responsabilização pelas infrações cometidas, em função de obstáculos estruturais (traduzidos na ausência/insuficiência de fiscalização do setor, por exemplo) e ferramentais — entre esses, os valores das multas, considerados insignificantes frente ao lucro auferido com a exibição dos "shows de horrores".

Somente após ampla repercussão da “entrevista-interrogatório” acima transcrita, o Ministério das Comunicações aplicou à emissora responsável (TV Bandeirantes, do estado da Bahia) uma multa de parcos R$ 12.794,08 — a qual, além de baixa, não arranha a imagem da emissora, uma vez que as sanções não são divulgadas, diferentemente do que ocorre em outras nações democráticas.

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Na Inglaterra, por exemplo, além de pagarem multas proporcionais ao lucro da emissora, os canais têm a sanção divulgada pelos instrumentos de comunicação do órgão fiscalizador, de modo que acabam também pagando, indiretamente, com o dano à imagem — uma estratégia vinculada ao sistema de regulação da mídia, cujo debate é frequentemente interditado, no Brasil, sob o argumento de restrições à liberdade de imprensa — não sem reações, porém.

“A liberdade de imprensa foi uma dura conquista da sociedade brasileira e não se pode admitir que seja usada de forma cínica e maniqueísta para legitimar crimes”, indigna-se o jornalista Mauri König, detentor, entre outros, do “Prêmio Maria Moors Cabot”, um dos mais antigos e prestigiosos do setor. Para ele, “nada justifica quebrar as regras, infringir as leis e desafiar as boas práticas do jornalismo para conseguir uma história ou obter uns pontos a mais na audiência” (VARJÃO; ANDI, 2016).

O posicionamento é corroborado pelo presidente da Associação de Juízes para a Democracia, André Bezerra, para quem “há uma interpretação equivocada da liberdade de expressão. Isso teve origem na ditadura. Existe uma preocupação muito grande em impedir a censura, o que gerou uma interpretação extrema, oposta, da liberdade de expressão, como se fosse o único direito entre tantos outros em jogo”, avalia o magistrado, lembrando que a referida prerrogativa “é um direito fundamental, democrático, mas tem que ser exercido sob certos parâmetros” (varjão; ANDI, 2016).

O debate sobre o fenômeno estende-se, inevitavelmente, às fronteiras que separam a imprensa de outras esferas do campo midiático, como faz o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, ao dar visibilidade à diluição, ou reconfiguração, de fronteiras entre informação e opinião — ou, em outros termos, entre jornalismo informativo e propaganda ideológica, ou simplesmente entre jornalismo e propaganda.

Schröder argumenta que “a função do jornalismo é relatar o cotidiano da maneira mais próxima ao que aconteceu e não há outra maneira de fazer isso a não ser ouvindo fontes. Eu me retiro da narrativa, permitindo que as fontes falem”. E alerta que “quando o jornalismo deixa de fazer isso, começa a ser 'não jornalismo'. Começa a ficar essencialmente entretenimento, ou propaganda" (VARJÃO; ANDI, 2016).

Na mesma linha de raciocínio, König diz que “o jornalismo tem a função de informar sobre a realidade; o entretenimento distrai para mascarar a realidade”. E enfatiza: “Embora se autoproclamem jornalísticos, os programas ‘policialescos’ estão mais para entretenimento, uma vez que fazem da desgraça alheia um show midiático. Eles subvertem os limites entre diversão, propaganda e informação” (VARJÃO; ANDI, 2016).

Em síntese, qualquer que seja o subcampo que melhor traduza os “policialescos”, o debate público travado sobre o fenômeno expõe a resistência que parte dos profissionais de imprensa brasileiros e latino-americanos tem em inserir o modelo em foco no campo da imprensa. Resistência essa evidenciada por termos como “entretenedores-periodistas”, “jornalismo-porta-de-cadeia”, “jornalismo ornamental”, “não-jornalismo”, "jornalismo mínimo" e “jornalismo sensorial”, entre outros.

E este debate aponta para a necessidade inadiável de, em consonância com as recomendações do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, se promover uma aliança além

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fronteiras, para combater um fenômeno midiático impactante, em franco processo de expansão, que opera sem regras socialmente acordadas e se constitui numa ameaça não apenas aos cidadãos brasileiros, mas à democracia latino-americana.

II. PROPOSTA (OU O QUE PRECISA SER FEITO - FASE III)

O trabalho descrito foi desenvolvido em duas fases, graças a aportes financeiros de dois parceiros, a partir de dois projetos por mim estruturados, como consultora da ANDI e coordenadora geral do “Programa de monitoramento de violações de direitos na mídia”. Na primeira fase, apoiada pela Fundação Ford, foi construída a citada ferramenta de análise; na segunda, apoiada pela Petrobras, foi realizado o monitoramento, igualmente mencionado.

Todo o processo de articulação e a tecnologia social de monitoramento de violações de direitos no campo da comunicação de massa dele decorrente foram registrados nos três volumes da já citada publicação. O conhecimento construído, porém, precisa ser amplamente disseminado, na perspectiva de mobilizar as diferentes esferas sociais e enfrentar essa gravíssima problemática social.

É para isso que venho solicitar o apoio dos promotores do desafio "Direitos Humanos na América Latina: impulsionando a transformação". A proposta é viabilizar a terceira fase do “Programa de monitoramento de violações de direitos na mídia”, ampliando a articulação da sociedade civil, por meio de uma coalizão de entidades de renome do Brasil e da América Latina — esta, inevitavelmente atingida pelos impactos negativos do fenômeno dos “policialescos”.

O presente projeto (ou terceira fase do “Programa de monitoramento[...]”) será desenvolvido em duas etapas. A primeira será destinada à estruturação da coalizão. A segunda, à implementação de um debate público qualificado sobre o fenômeno, impulsionado pela coalizão. Seguem as atividades a serem desenvolvidas:

ETAPA 1.

a) Elaboração de documento com estudo sobre o modelo de gestão e de operação da coalizão a ser formada por entidades de sociedade civil;

b) Elaboração de lista com os contatos dos representantes de 30 organizações que serão convidadas a participar da aliança, entre as quais: Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Conselho Federal de Psicologia (CFP), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Instituto Patrícia Galvão, Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), Conectas Direitos Humanos, Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Instituto Ethos

c) Elaboração de Plano de Ação a ser apresentado às entidades que serão convidadas a integrar a coalizão, incluindo estratégias de incidência sobre diversos campos, entre os quais:

- Governo Federal: Ministério das Comunicações, Ministério da Justiça e Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos

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- Congresso Nacional: Comissões de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal + Frentes Parlamentares de Promoção e Defesa do Acesso à Justiça; em Defesa dos Direitos Humanos; da Segurança Pública; de Enfrentamento ao Racismo; em Defesa das Políticas Públicas de Juventude; pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação; pelo Controle de Armas, pela Vida e Paz; dos Direitos da Criança e Adolescente

- Conselhos Nacionais: de Direitos Humanos, dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Juventude, dos Direitos da Mulher, da Igualdade Racial

- Entidades multilaterais: Unicef, Unesco, ONU Mulheres e Unfpa; Comissão Interamericana de Direitos Humanos; Comissión Niñ@Sur; Reunião das Altas Autoridades em Direitos Humanos do MercoSul

- Poder Judiciário: Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP), Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)

d) Realização em Brasília de reunião de planejamento, de um dia de duração, reunindo dez pessoas, entre as quais consultor especializado, técnicos envolvidos no processo de monitoramento de violações de direitos cometidas pelos programas policialescos e representantes de organizações do campo dos direitos humanos.

e) Impressão do volume III de “Violações de direitos na mídia brasileira”.

ETAPA 2.

a) Realização, em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, de reuniões para apresentar a 30 entidades de grande relevância no campo dos direitos humanos e da comunicação a proposta de formação de uma coalizão com foco no enfrentamento do fenômeno dos programas policialescos. Ao mesmo tempo, nas reuniões será discutido, aperfeiçoado e validado um Plano de Ação, desenhado na fase anterior do projeto.

b) A partir dessas reuniões, será formalmente estruturada a coalizão, que implementará mecanismos de incidência e acompanhamento sobre instâncias prioritárias, como Governo Federal, Congresso Nacional, Conselhos Nacionais de Políticas Públicas, Entidades Multilaterais, Poder Judiciário, Ministério Público, Organizações do Setor da Mídia e Empresas Anunciantes.

c) De forma similar, as entidades integrantes da coalizão identificarão espaços em seminários, congressos ou conferências nos quais estejam envolvidas, para que se possa garantir pelo menos 10 lançamentos de maior impacto dos resultados do monitoramento de violações, durante o período maio-julho de 2016.

d) Também no escopo da presente proposta serão realizados pela Coalizão de Entidades da Sociedade Civil dois encontros para a apresentação dos resultados do monitoramento de violações e demanda pela adoção de medidas capazes de coibir a perpetuação do fenômeno: um junto ao Ministério das Comunicações e outro junto ao Ministério da Justiça.

e) De maneira a garantir acesso às principais informações sobre o fenômeno dos programas policialescos, facilitando o processo de tomada de decisão das organizações convidadas a

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tomar parte da coalizão, os seguintes insumos serão elaborados no âmbito da presente proposta e utilizados durante as três reuniões de articulação:

Apresentação, em Power point, com o histórico projeto, das propostas de desdobramentos e os resultados esperados;

Apresentação, em Power point, dos principais resultados do processo de monitoramento dos 28 programas de rádio e televisão;

Conjunto de vídeos-demonstração de alto impacto, exemplificando os nove tipos de violações de direitos monitorados;

Proposta com principais diretrizes para o modelo gestão da coalizão, incluindo a estruturação de um núcleo diretivo;

Modelo de Termo de Adesão à coalizão.

III. IMPACTOS ALCANÇADOS E FUTUROS — MENSURAÇÃO

Impactos alcançados

O impacto positivo das duas primeiras fases do "Programa de monitoramento[...]" pode ser avaliado pelo empoderamento de atores de diferentes e estruturantes esferas sociais, que vêm demandando o compartilhamento, por meio de oficinas de capacitação, da tecnologia social construída no âmbito do citado programa; criando núcleos/grupos de monitoramento do fenômeno; e usando a ferramenta de identificação de violações e infrações às leis. Alguns exemplos:

Grupo de Comunicação da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (FDC/MPF), para o qual ministrei oficina de capacitação (http://quintoandar.fa7.edu.br/blog/fa7-informa/oficina-midia-e-direitos-humanos-e-tema-de-evento-realizado-em-fortaleza/), e que ora planeja uma grandeação, provisoriamente denominada "Dia D' dos Policialescos";

Ministério Público na Paraíba, que absorveu a tecnologia, empregando-a no recém-criado Observatório de mídia (http://www.mpf.mp.br/pb/sala-de-imprensa/noticias-pb/coordenadora-da-andi-participa-de-seminario-midia-e-violencia); organizações sociais do Brasil e da AL; (http://www.andi.org.br/pauta/jornalista-suzana-varjao-apresenta-estudo-em-caravana-na-bolivia);

Academia de comunicação, que vem demandando a apresentação da tecnologia social em seus espaços de debate, como o Intercom Centro-Oeste, na PUC-Goiás (http://www.intercomcentrooeste2016.com/#!Responsabilidade-Social-da-M%C3%ADdia-%C3%A9-tema-da-confer%C3%AAncia-de-abertura/y6pn1/573a0e7f0cf23f57cc6689ad);

Redações, como as da Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo, com oficinas de capacitação marcadas para, respectivamente, dias 13/09/16 e 22/09/16.

Impactos futuros / mensuração

O que se espera da terceira fase do "Programa de monitoramento de violações de direitos na mídia brasileira" é ampliar a aliança e o empoderamento dos atores e esferas sociais em relação ao impactante fenômeno, visando seu enfrentamento. E os resultados imediatos da ação serão mensurados,objetivamente, em curto prazo, a partir:

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da quantidade e da qualidade das organizações sociais que se aliarem à coalizão (no sentido de importância e inserção social).

da quantidade e da qualidade dos debates travados (seminários, oficinas, mesas-redondas, audiências públicas, reuniões setoriais, conferências etc.)

de ações/estratégias de enfrentamento implementadas a partir da iniciativa, como ocorreu com a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal; com o MP na Paraíba; e com o Comitê Cearense pela Prevenção de homicídios na Adolescência.

Em longo prazo, o desafio é reduzir significativamente os índices alarmantes de violações de direitos humanos e infrações às leis nestes programas, o que significa fazê-los cumprirem as normas legais, supralegais e autorregulatórias ou eliminá-los da programação das emissoras, como fez o Uruguai. O cotejamento da quantidade de programas "policialescos" ou de horas de emissão verificados na Fase I com os da fase III servirá de elemento de mensuração de impacto.

IV. SUSTENTABILIDADE

O "Programa de monitoramento[...]" é modular, com cada fase resultando, concretamente, em um produto ou ação, de modo a evitar descontinuidades que possam afetar seus objetivos. Para cada fase é estruturado um projeto de captação, com valor estimado suficiente à sua conclusão, somente após o que uma nova fase é iniciada. Em síntese, as fases são articuladas, mas têm independência em relação a resultados (outra perspectiva no anexo "Proposta...")

Outra perspectiva de sustentabilidade da proposta é o processo, em curso, de empoderamento de atores / esferas sociais, que vem resultado no estabelecimento de um padrão de conhecimento sobre o fenômeno e a tecnologia de identificação de violações e infrações que garante a continuidade do enfrentamento, independentemente daqueles que iniciaram este rico processo.

V. RECURSOS FINANCEIROS

Etapa 1. Total de 45.890,00, como abaixo discriminado.

Itens ValoresAlimentação (diárias, lanches, almoço, jantar) R$ 2.100,00Honorários R$ 20.600,00Publicações (impressão) R$ 10.450,00Despesas administrativas R$ 3.950,00Custos de viagens e deslocamentos R$ 6.040,00Hospedagens R$ 1.200,00Aluguel de equipamento e espaço para a atividade R$ 1.550,00TOTAL A R$ 45.890,00

Etapa 2. Total de R$ 31.300,00, como abaixo discriminado.

Serviços de logística

Passagens coordenadores/facilitadores (3 reuniões de formação da coalizão) 4.500,00

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Custos deslocamentos coordenadores/facilitadores para 3 reuniões 1.000,00

Hospedagens coordenadores/facilitadores para 3 reuniões 2.500,00

Alimentação coordenadores/facilitadores para 3 reuniões 1.200,00

Coffee-breaks 3 reuniões (15 pessoas por reunião / 1 coffee break por reunião) 2.350,00

Equipamentos/insumos para 3 reuniões 2.100,00

Subtotal 1 13.650,00

Serviços de produção de insumos e eventos

Edição de vídeos demonstração (9 tipos de violações de direitos) 4.700,00

Produção de Power Point c/ histórico do projeto + propostas de desdobramentos 1.800,00

Produção pesquisa modelo gestão + elaboração proposta adesão à coalizão 4.550,00

Coordenação e facilitação 3 reuniões 3.600,00

Serviço de produção das 3 reuniões (seleção entidades + convites + logística) 3.000,00

Subtotal 2 17.650,00

TOTAL B 31.300,00

Total geral da proposta = R$ 77.190,00

_________________________

IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANISTIA INTERNACIONAL. Você matou meu filho: homicídios cometidos pela polícia militar na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Anistia Internacional, 2015. Disponível em: <https://anistia.org.br/wp-content/uploads/2015/07/Voce-matou-meu-filho_Anistia-Internacional-2015.pdf>; Acesso em: 04 jan. 2016.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 14 mar. 2016

FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Disponível em: <http://www.fenaj.org.br/materia.php?id=1811>. Acesso em: 14 mar. 2016.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. ONU, 1948. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2016.

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVLVIMENTO. Informe Regional de Desarrollo Humano 2013-2014. Seguridad Ciudadana con rostro humano: diagnóstico y propuestas para América Latina.

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Nova Iorque, 2013. Disponível em: <http://www.undp.org/content/undp/es/home/librarypage/hdr/human-development-report-for-latin-america-2013-2014.html>. Acesso em: 08 fev. 2016.

RINCÓN, Omar. Me gusta la chica mala del periodismo. In: LANZA, Cecilia. La chica mala del periodismo — Crónica roja en Bolivia. La Paz: FES, 2010.

UNESCO. Modelo curricular da UNESCO para o ensino do jornalismo. UNESCO, 2010. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001512/151209POR.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2016.

VARJÃO, Suzana; ANDI. Violações de direitos na mídia brasileira: guia de monitoramento. Vol. 1. Brasília: ANDI, 2015a. Disponível em: <http://www.andi.org.br/publicacao/guia-de-monitoramento-violacoes-de-direitos-na-midia-brasileira-i>. Acesso em: 26 jun. 2016.

______. Violações de direitos na mídia brasileira: guia de monitoramento. Vol. 2. Brasília: ANDI, 2015b. Disponível em: < http://www.andi.org.br/publicacao/guia-de-monitoramento-violacoes-de-direitos-na-midia-brasileira-ii>. Acesso em: 26 jun. 2016.

______. Violações de direitos na mídia brasileira: guia de monitoramento. Vol. 3. Brasília: ANDI, 2016. Disponível em: <http://www.andi.org.br/publicacao/guia-de-monitoramento-violacoes-de-direitos-na-midia-brasileira-iii-0>. Acesso em: 26 jun. 2016.

WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2014a: os jovens do Brasil. Rio de Janeiro: FLACSO, 2014. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/mapa2014_jovens.php>. Acesso em: 11 jan. 2016.

______. Mapa da Violência 2014b: os jovens do Brasil. Rio de Janeiro: FLACSO, 2014. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/mapa2014_jovens_sumario%20executivo.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2016.

______. Mapa da Violência 2015. Juventude viva — Mortes matadas por arma de fogo. Rio de Janeiro: FLACSO/CEBELA, 2015. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/mapaViolencia2015.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2016.

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