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belsimonato.wordpress.com HISTÓRIA Profª Isabel Cristina Simonato 1 A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL e O IMPERIALISMO Por volta de 1860-1870 a economia capitalista ganhava um novo impulso e um ritmo crescentemente acelerado, o que possibilitou a progressiva superação do chamado Capitalismo Livre Concorrencial e sua substituição pelo Capitalismo Monopolista. Esse novo quadro está diretamente relacionado com o que alguns estudiosos denominaram de SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, momento em que significativos avanços no processo de industrialização – tanto à nível de produção como de circulação de mercadorias – possibilitaram profundas transformações na economia capitalista. Essas transformações, em linhas gerais, podem ser caracterizadas da seguinte maneira: 1. Um acentuado progresso técnico-científico, entendido como resultado dos investimentos em pesquisas; da utilização do aço como material industrial básico; da eletricidade e dos derivados do petróleo como força motriz em escala cada vez maior; do surgimento do motor a combustão interna; do aperfeiçoamento do dínamo; do desenvolvimento das indústrias automobilísticas; da construção naval; do desenvolvimento da indústria petroquímica etc. 2. Desenvolvimento dos meios de transporte, perceptível a partir da notável expansão do sistema ferroviário e da construção de navios a vapor, conforme se pode observar pela análise do quadro abaixo. Estradas de ferro e navios a vapor (1830-1876) Ano Km de estradas de ferro Toneladas de navios a vapor 1831 332 32.000 1841 3.591 105.121 1846 17.424 139.973 1851 38.022 263.679 1856 68.148 575.928 1861 106.886 803.003 1866 145.114 1.423.232 1871 235.375 1.939.089 1876 309.641 3.293.072 FONTE: F. X. Von Neumann Spallart, Ubersichten der Weltwirtschaft, Stuttgart, 1880 In: HOBSBAWM, Eric J. A Era do Capital, 1848-1875. 3. Expansão dos meios de comunicação, caracterizando uma verdadeira revolução também nessa área. O aperfeiçoamento do telégrafo, o desenvolvimento da imprensa escrita e a invenção do telefone são apenas alguns dos setores que atestam o avanço técnico em fins do século XIX e início do século XX. Observe os dados do quadro que se segue que você perceberá as transformações ocorridas. O progresso do telefone: algumas cidades do mundo

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belsimonato.wordpress.com HISTÓRIA

Profª Isabel Cristina Simonato

1

A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL e O IMPERIALISMO

Por volta de 1860-1870 a economia capitalista ganhava um novo impulso e um ritmo crescentemente acelerado, o que possibilitou a progressiva superação do chamado Capitalismo Livre Concorrencial e sua substituição pelo Capitalismo Monopolista. Esse novo quadro está diretamente relacionado com o que alguns estudiosos denominaram de SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, momento em que significativos avanços no processo de industrialização – tanto à nível de produção como de circulação de mercadorias – possibilitaram profundas transformações na economia capitalista.

Essas transformações, em linhas gerais, podem ser caracterizadas da seguinte maneira:

1. Um acentuado progresso técnico-científico, entendido como resultado dos investimentos em pesquisas; da utilização do aço como material industrial básico; da eletricidade e dos derivados do petróleo como força motriz em escala cada vez maior; do surgimento do motor a combustão interna; do aperfeiçoamento do dínamo; do desenvolvimento das indústrias automobilísticas; da construção naval; do desenvolvimento da indústria petroquímica etc.

2. Desenvolvimento dos meios de transporte, perceptível a partir da notável expansão do sistema ferroviário e da construção de navios a vapor, conforme se pode observar pela análise do quadro abaixo.

Estradas de ferro e navios a vapor (1830-1876)Ano Km de estradas de ferro Toneladas de navios a vapor1831 332 32.0001841 3.591 105.1211846 17.424 139.9731851 38.022 263.6791856 68.148 575.9281861 106.886 803.0031866 145.114 1.423.2321871 235.375 1.939.0891876 309.641 3.293.072

FONTE: F. X. Von Neumann Spallart, Ubersichten der Weltwirtschaft, Stuttgart, 1880 In: HOBSBAWM, Eric J. A Era do Capital, 1848-1875.

3. Expansão dos meios de comunicação, caracterizando uma verdadeira revolução também nessa área. O aperfeiçoamento do telégrafo, o desenvolvimento da imprensa escrita e a invenção do telefone são apenas alguns dos setores que atestam o avanço técnico em fins do século XIX e início do século XX. Observe os dados do quadro que se segue que você perceberá as transformações ocorridas.

O progresso do telefone: algumas cidades do mundo(número de telefones por 100 habitantes)

Cidade – País 1895 1911Estocolmo – Suécia 4,1 19,2,9Christiania (Oslo) – Noruega 3,0 6,9Los Angeles – Estados Unidos 2,0 24,0Berlim – Alemanha 1,6 5,3Hamburgo – Alemanha 1,5 4,7Copenhague – Dinamarca 1,2 7,0Boston – Estados Unidos 1,0 9,2Chicago – Estados Unidos 0,8 11,0Paris – França 0,7 2,7Nova York – Estados Unidos 0,6 8,3Viena – Áustria 0,5 2,3Filadélfia – Estados Unidos 0,3 8,6Londres – Inglaterra 0,2 2,8São Petersburgo – Rússia 0,2 2,2

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FONTE: Weltwirtschaftliches Archiv, 1913, p. 143 In: HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios, 1875-1914. RJ: Paz e Terra, 1988, p. 476.

4. A concentração da produção e do capital, determinando uma verdadeira concentração econômica como resultado, em grande parte, das crises periódicas que o capitalismo iria conhecer a partir da segunda metade do século XIX, como a crise de 1873. Em função das crises, inúmeras empresas, incapazes de fazer frente à concorrência de empresas maiores, acabavam desaparecendo ou sendo absorvidas pelas empresas de maior porte, que passavam a exercer um verdadeiro monopólio, tanto da produção como também do próprio mercado (lembrem-se do exemplo dos peixes, onde o maior devora o menor!!). Ao mesmo tempo, o avanço técnico aplicado à produção implicava em crescentes recursos de capitais, inviabilizando ainda mais as pequenas empresas.

Por outro lado, a complexidade cada vez maior do processo produtivo fazia com que o setor industrial dependesse em escala crescente de investimentos e empréstimos bancários. Assim, a fusão do capital bancário com o capital industrial possibilitou o aparecimento do Capitalismo Financeiro, do Capitalismo Monopolista e a formação de empresas gigantescas – trusts. É também nessa época que se desenvolveram associações – holdings – que detinham o controle acionário de múltiplas empresas que passaram a atuar de forma coordenada. Finalmente, os cartéis também entraram em cena em fins do século XIX, podendo ser considerados como o resultado de acordos feitos entre empresas que, apesar de manterem plena autonomia na direção de seus negócios, definiam uma política comum a ser seguida por cada uma delas ao atuar no mercado, objetivando evitar os desgastes da concorrência, através da divisão do mercado e do ajustamento dos preços.

O esquema a seguir, exemplo típico de um trust, revela a maneira pela qual o processo de fusão de empresas que atuam em um mesmo setor (aço), possibilitou a concentração da produção e do próprio capital e, consequentemente, o controle absoluto do mercado. É importante ressaltar que, em 1901, o trust em questão (United States Steel Corporation) era responsável pela produção de mais de 95% do aço produzido nos Estados Unidos.

5. Ainda como resultado das transformações decorrentes da chamada Segunda Revolução Industrial, verificamos o aparecimento de uma verdadeira oligarquia financeira nos países de economia capitalista altamente desenvolvida. Este restrito grupo, autêntica plutocracia1 do mundo dos negócios, passou a ter controle exclusivo das atividades econômicas e financeiras exercendo influência direta ou indireta na direção política de seus respectivos Estados.

1 Denominamos plutocracia, o sistema político onde o poder é exercido pelo grupo mais rico – portanto, mais influente – da sociedade. No caso presente, refere-se à oligarquia financeira da época.

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6. Por fim, a divisão do mundo em áreas capitalistas altamente desenvolvidas – as chamadas economias centrais – localizadas na Europa Ocidental, Estados Unidos e Japão, que passaram a ter o controle absoluto das chamadas economias periféricas, coloniais ou semicoloniais, localizadas na América Latina (mesmo com seus governos teoricamente independentes), na África e na Ásia.

Paralelamente às transformações decorrentes do avanço da industrialização e do desenvolvimento do capitalismo monopolista, as potências europeias, acompanhadas pelos Estados Unidos e Japão, deram início a uma vigorosa política de anexações territoriais que atingiu seu auge no período compreendido entre 1875 e 1914. Essa política anexionista, dirigida principalmente para África e Ásia, ficou conhecida como Imperialismo e teve como fundamentos e justificativas os seguintes fatores:

- a incorporação de áreas onde fosse possível a aplicação de excedentes de capitais gerados pelo processo de industrialização. A exportação de capitais, aplicados na exploração de recursos minerais, na melhoria dos meios de transporte – ferrovias e portos, por exemplo – facilitava o escoamento da produção primária das áreas coloniais e a penetração dos produtos industrializados das potências capitalistas;

- a busca crescente de novos mercados consumidores como mecanismo capaz de superar as crises de superprodução das economias capitalistas e, ao mesmo tempo, encontrar alternativas para a competição entre os próprios países industrializados, que passaram a erguer barreiras alfandegárias2 aos produtos estrangeiros;

- a superação de problemas decorrentes da falta de matérias-primas (minérios, petróleo, borracha etc.), numa época em que a expansão industrial criava novas necessidades.

Pode-se acrescentar, por fim, razões de ordem ideológica, ético-religiosa e estratégica como justificativas para o Imperialismo. Teorias pseudocientíficas de uma suposta “superioridade racial” do homem branco procuravam embasar o direito à exploração. Do ponto de vista ético-religioso, o Imperialismo era justificado como uma espécie de “sacrifício” a que o homem branco3 devia se submeter para levar aos povos “incultos e atrasados” noções de civilidade e a “religião revelada” (leia-se: religião cristã). Também razões estratégicas determinaram a corrida imperialista e o seu alargamento. Tal foi o caso, por exemplo, dos ingleses: uma vez instalados na Índia, sentiram necessidade de se apossar das rotas do Mar Vermelho, que por sua vez levou à ocupação do Egito e a construção do Canal de Suez, encurtando a distância entre Oriente e Europa, seguiu-se a penetração no Sudão e assim sucessivamente, até chegar ao sul da África.

2 Barreiras alfandegárias: resultado da adoção de medidas protecionistas ou de Protecionismo Econômico, objetivando dificultar ou impedir a entrada de produtos estrangeiros, como forma de proteger e incrementar a produção nacional.3 Referência à expressão “o fardo do homem branco”, cunhada pelo poeta e escritor inglês Rudyard Kipling.