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belsimonato.wordpress.com HISTÓRIA Profª Isabel Cristina Simonato 1 O ORIENTE MÉDIO A região que chamamos de Oriente Médio se estende do mar Mediterrâneo até as fronteiras da Índia. Com cerca de 270 milhões de habitantes, os povos do Oriente Médio são formados por diferentes etnias. Na região, são falados seis idiomas e são professadas três grandes religiões: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. MAPA DO ORIENTE MÉDIO ATUAL O Islamismo é uma dessas religiões. São chamados muçulmanos os que seguem a fé islâmica. Entre eles há maneiras diferentes de compreender o poder das

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belsimonato.wordpress.com HISTÓRIA

Profª Isabel Cristina Simonato

1

O ORIENTE MÉDIO

A região que chamamos de Oriente Médio se estende do mar Mediterrâneo até as fronteiras da Índia. Com cerca de 270 milhões de habitantes, os povos do Oriente Médio são formados por diferentes etnias. Na região, são falados seis idiomas e são professadas três grandes religiões: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.

MAPA DO ORIENTE MÉDIO ATUAL

O Islamismo é uma dessas religiões. São chamados muçulmanos os que seguem a fé islâmica. Entre eles há maneiras diferentes de compreender o poder das autoridades religiosas. Para os muçulmanos xiitas1, sua autoridade é moral, social e política, ou seja, poder religioso e político se confundem. Para os muçulmanos sunitas2, sua autoridade deve 1 Xiitas: muçulmanos partidários de Ali, primo e genro de Maomé (‘o último Profeta’), que sustentam, em oposição aos sunitas,só serem autênticas as tradições do Profeta transmitidas através dos membros de sua família e que só aceitam as verdades contidas no Corão, para eles o único livro sagrado.2 Sunitas: no Islamismo, designação comum aos muçulmanos ortodoxos, que reconhecem a autoridade dos quatro primeiros califas e também a Suna, coletânea de preceitos de obrigação extraída das práticas do Profeta e dos quatro califas ortodoxos.

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ser restringida à dimensão religiosa. Nos países de maioria sunita o poder é laico, política e religião não se ‘misturam’. Calcula-se que, atualmente, 85% dos muçulmanos são sunitas, e os 15% restante é xiita.

O maior Império Islâmico do século XX, o Turco Otomano – aliado da Tríplice Aliança –, foi desmembrado com a derrota na Primeira Guerra Mundial. Pelo Tratado de Sèvres, em 1920, ficou decidido que os países até então sob domínio otomano teriam a independência reconhecida, mas ficariam sob controle europeu. Assim, a Grã-Bretanha ficou responsável pelo Iraque e pela Palestina, enquanto a França assumiu o controle da Síria e do Líbano. O Iêmen e a Arábia Saudita declararam a independência sem a interferência européia. A Turquia conservou a base administrativa e militar do ex-Império Otomano, embora com dimensões territoriais reduzidas.

Os povos que constituem o Oriente Médio possuem alguns elementos que lhes dão identidade comum. É o caso das sociedades que falam a língua e partilham os valores da cultura árabe. Outro fator de unificação é a religião islâmica. Mas existem árabes que não são muçulmanos, como também há muçulmanos que não partilham da cultura nem da língua árabe – caso dos turcos e iranianos, por exemplo.

Além disso, os povos da região compartilham a experiência de submissão a potências estrangeiras. O Egito e o Iraque, por exemplo, conheceram a dominação britânica. A Síria e o Líbano, por sua vez, durante séculos foram províncias do Império Turco, antes de passarem ao domínio francês, após a Primeira Guerra Mundial.

Não faltaram disputas políticas entre os povos do Oriente Médio, além da tradicional rivalidade entre sunitas e xiitas, agravadas no caso libanês, pela presença de uma minoria cristã. Mas o grande inimigo dos países árabes no Oriente Médio do pós-guerra foi, sem dúvida, o Estado de Israel.

O ESTADO DE ISRAEL

Desde o final do século XIX, existia a idéia de formar um Estado judeu na Palestina, dando forma a um movimento conhecido como sionismo3, criado e liderado pelo judeu austríaco Theodor Herzl (1860-1904).

O Primeiro Congresso Sionista, realizado na Basileia (Suíça), em 1897, decidiu buscar apoio internacional para a formação de um Estado judeu na Palestina, a ‘terra prometida’ dos antigos hebreus. O movimento sionista passou a incentivar a emigração de judeus europeus para a região. Ocorre que populações árabes já viviam naquelas terras: os palestinos.

Antes mesmo do final da Grande Guerra, a Grã-Bretanha – que dominaria a Palestina – admitiu a formação de uma pátria judaica na região, embora em termos muito vagos. Foi a chamada Declaração de Balfour, de 02 de novembro de 1917. Essa declaração inflamou os ânimos: dos árabes, contra, e dos judeus ‘do mundo’, a favor.

A Declaração foi muito mal recebida no mundo árabe que, desde 1916, se esforçava para criar um Estado árabe unificado no Oriente Médio, emancipado do Império Otomano. As lideranças árabes não estavam dispostas a ceder qualquer território aos judeus, caso se libertassem da dominação otomana.

O movimento sionista passou a arrecadar fundos para a aquisição de terras na Palestina e, desde o final do século XIX, judeus europeus iniciaram a migração para a região. Em 1921, ocorreu a primeira revolta dos palestinos contra a chegada dos judeus no seu terrritório. Durante os anos 1920, novas levas de judeus foram para a Palestina. O movimento aumentou na década de 1930, após a ascensão do nazismo na Alemanha à medida que a perseguição nazista aumentava. Em 1936, os palestinos promoveram nova revolta.

Em 1939, a Grã-Bretanha deu um sério golpe no movimento sionista, restringindo duramente a imigração judaica para a Palestina. Os britânicos não queriam desagradar as 3 Sionismo: palavra derivada de Sion, denominação judaica de Jerusalém, onde há um monte com este nome – Monte Sion. O sionismo foi um movimento político e religioso judaico iniciado no século XIX, que objetivava o restabelecimento, na Palestina, de um Estado judeu, fato que se concretizou em maio de 1948, quando foi proclamado do Estado de Israel.

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lideranças árabes no Oriente Médio, no início da Segunda Guerra Mundial, sobretudo porque algumas delas apoiavam a Alemanha nazista. Os judeus que viviam na Europa foram impedidos de se instalarem na Palestina.

Após a Segunda Guerra, o movimento sionista atingiu o apogeu. A imigração para a Palestina desafiou os britânicos, com desembarques clandestinos de milhares de judeus sobreviventes do holocausto4. Eles se instalaram na Palestina e se armaram para resistir contra as autoridades inglesas.

A Grã-Bretanha, cujo império colonial estava sendo desafiado em todo o mundo, foi obrigada a recuar. Em novembro de 1947, a ONU propôs a formação de dois Estados na Palestina: um judeu e outro árabe. Este último teria como território principalmente a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. A cidade de Jerusalém seria território internacional. Os judeus aceitaram a proposta, mas os palestinos a recusaram, alegando que todo o território da Palestina era deles. Para os árabes, tratava-se do retorno do colonialismo. Os palestinos representavam dois terços dos habitantes da região e ficaram com 43% do território.

A guerra se instalou entre judeus e árabes, enquanto os britânicos abandonavam o Oriente Médio definitivamente. Em 14 de maio de 1948, David Bem Gurión liderou a fundação do Estado de Israel. Os países árabes imediatamente atacaram o novo país. Mais bem preparado, o exército israelense saiu vitorioso e ampliou seus territórios, avançando sobre as terras onde viviam milhares de palestinos. Calcula-se que, dois anos depois, em 1950, metade de toda a população árabe tinha sido expulsa da Palestina pelos israelenses. No total, 957 mil palestinos passaram a viver em campos de refugiados da ONU. Os EUA deram total apoio a Israel, que se transformou, em contrapartida, no mais importante aliado dos norte-americanos no Oriente Médio.

- O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSECom a Guerra Fria, os conflitos na região

tomaram novo impulso. A URSS defendeu a causa palestina, enquanto os EUA e Israel mantiveram sua aliança. Os países árabes se uniram contra Israel dando origem à Liga Árabe. Destacou-se o presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, que impulsionou o nacionalismo árabe. Os palestinos também reagiram, criando em 1964, a Organização para Libertação da Palestina (OLP), com seu braço armado, a Fatah (Al Fatah), sob a liderança de Yasser Arafat. A OLP escolheu a estratégia da luta armada com o objetivo de destruir Israel e expulsar todos os judeus da Palestina.

Uma nova guerra entre árabes e israelenses voltaria a eclodir em junho de 1967. Sentindo-se ameaçado pelo líder egípcio Nasser, o governo de Israel reagiu: em um ataque fulminante destruiu a Força Aérea do Egito e neutralizou a frente árabe formada principalmente pela Síria e pela Jordânia. Tomou a península do Sinai, a Cisjordânia, as colinas de Golan (pertencente à Síria) e anexou Jerusalém ao seu território. O conflito ficou conhecido como a Guerra dos Seis Dias.

Com a humilhação sofrida, os países árabes aumentaram ainda mais as hostilidades contra os israelenses. Além disso, os novos territórios conquistados eram habitados por milhares de palestinos. Perdendo suas terras e casas, eles recorreram a atentados armados na luta contra os israelenses. A possibilidade de paz ficava cada vez mais difícil e distante. Para os árabes, o Estado de Israel tinha de ser destruído. Israel, por sua vez, não aceitava que os palestinos tivessem um Estado próprio. Não havia, nesse momento, qualquer

4 Holocausto: denominação atual das práticas nazistas adotadas na década de 1930 e durante a Segunda Guerra Mundial que objetivava exterminar os judeus da Europa.

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possibilidade de diálogo. Grupos árabes radicais passaram a recorrer ao terrorismo na luta contra Israel. Nas olimpíadas de Munique, em 1972, atletas israelenses foram mortos.

A ONU votou a resolução 242, exigindo a retirada das tropas israelenses das regiões ocupadas, mas sem resultados devido ao veto dos Estados Unidos. Tentando recuperar os territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias, em 1973 Egito e Síria atacaram Israel no dia do Yom Kippur – Dia do Perdão, no calendário judaico. Sofrendo inicialmente grandes baixas, somente com a ajuda militar dos EUA os israelenses conseguiram vencer. Em retaliação, os países árabes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) aumentaram o preço do barril em 300% no fim daquele ano, prejudicando os EUA e toda a economia ocidental.

A partir daí, a política externa norte-americana passou a promover negociações de paz entre árabes e israelenses. Em 1978, o presidente Jimmy Carter conseguiu firmar a paz entre os governos de Israel e do Egito. Pelos Acordos de Camp David, assinados em Washington, Israel se comprometeu a devolver a região do Sinal ao Egito e a conceder autonomia aos palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Mas os palestinos e diversos países árabes rejeitaram o acordo.