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belsimonato.wordpress.com HISTÓRIA Profª Isabel Cristina Simonato 1 O IMPERIALISMO DO SÉCULO XIX Na segunda metade do século XIX, como resultado de grave crise capitalista, intensificou-se o processo de expansão imperialista que se estenderia até o início do século XX. Irradiando-se a partir dos países europeus industrializados, especialmente da Inglaterra, esse processo levou à partilha – entre diversas nações europeias – dos continentes africano e asiático. Na mesma época, também Estados Unidos e Japão exerceram atividades imperialistas especialmente em suas regiões de influência: os Estados Unidos na América Central e o Japão, na Ásia. O colonialismo do século XIX foi profundamente diferente do colonialismo do século XVI, pois este último se restringiu ao capitalismo comercial, que tinha como meta principal, a obtenção de especiarias, de produtos tropicais e de metais preciosos, e concentrou- se no continente americano 1 . Nesse período, o Estado impulsionou a expansão, segundo os moldes mercantilistas. O Imperialismo ou Neocolonialismo do século XIX, por sua vez, necessitava de mercados consumidores de produtos manufaturados e mercados fornecedores de matérias primas, além de as grandes potências buscarem colônias para a colocação de seu excedente populacional e novas áreas de investimentos de capitais. Sua intervenção ocorreu principalmente na África e na Ásia, motivada pelo capitalismo industrial e financeiro, sendo as empresas burguesas e não o Estado seu principal agente e beneficiário. Grandes beneficiários do colonialismo, os banqueiros e industriais uniram-se, dando origem a grandes monopólios. O capitalismo preparava-se para entrar na fase financeira: as atividades produtivas e comerciais foram submetidas às instituições financeiras através de empréstimos e financiamentos, ou ainda do controle acionário. Assim, no final do século XIX, o capitalismo industrial transformou-se em capitalismo financeiro, que originou o capitalismo monopolista, e surgiram grandes conglomerados econômicos, que lançaram mão de toda a estrutura política nacional para conquistar e explorar as áreas coloniais 2 . Esse fato 1 Lembre-se que o principal objetivo dos países colonizadores europeus no período, era a transferência do maior volume possível de riquezas das regiões coloniais para as metrópoles. 2 “O Estado à serviço do capitalismo.”

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belsimonato.wordpress.com HISTÓRIA

Profª Isabel Cristina Simonato

1

O IMPERIALISMO DO SÉCULO XIX

Na segunda metade do século XIX, como resultado de grave crise capitalista, intensificou-se o processo de expansão imperialista que se estenderia até o início do século XX. Irradiando-se a partir dos países europeus industrializados, especialmente da Inglaterra, esse processo levou à partilha – entre diversas nações europeias – dos continentes africano e asiático. Na mesma época, também Estados Unidos e Japão exerceram atividades imperialistas especialmente em suas regiões de influência: os Estados Unidos na América Central e o Japão, na Ásia.

O colonialismo do século XIX foi profundamente diferente do colonialismo do século XVI, pois este último se restringiu ao capitalismo comercial, que tinha como meta principal, a obtenção de especiarias, de produtos tropicais e de metais preciosos, e concentrou-se no continente americano1. Nesse período, o Estado impulsionou a expansão, segundo os moldes mercantilistas. O Imperialismo ou Neocolonialismo do século XIX, por sua vez, necessitava de mercados consumidores de produtos manufaturados e mercados fornecedores de matérias primas, além de as grandes potências buscarem colônias para a colocação de seu excedente populacional e novas áreas de investimentos de capitais. Sua intervenção ocorreu principalmente na África e na Ásia, motivada pelo capitalismo industrial e financeiro, sendo as empresas burguesas e não o Estado seu principal agente e beneficiário.

Grandes beneficiários do colonialismo, os banqueiros e industriais uniram-se, dando origem a grandes monopólios. O capitalismo preparava-se para entrar na fase financeira: as atividades produtivas e comerciais foram submetidas às instituições financeiras através de empréstimos e financiamentos, ou ainda do controle acionário. Assim, no final do século XIX, o capitalismo industrial transformou-se em capitalismo financeiro, que originou o capitalismo monopolista, e surgiram grandes conglomerados econômicos, que lançaram mão de toda a estrutura política nacional para conquistar e explorar as áreas coloniais2. Esse fato originou rivalidades entre as potências pela divisão de mercados que, juntamente com outros fatores, culminariam na Primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914.

- O Imperialismo ou NeocolonialismoAlém da necessidade de matérias primas (ferro, cobre, petróleo, manganês, trigo, algodão, etc.) e de

outros mercados consumidores para a crescente produção industrial, as principais causas da expansão imperialista do século XIX foram:

o crescimento demográfico europeu e a consequente necessidade de novas regiões para receber o excedente populacional. Como colonos, essa população continuaria a pagar impostos, contribuindo para a receita do Estado, além de constituir um grande contingente para os exércitos metropolitanos;

a necessidade de aplicação dos capitais excedentes da economia industrial; a obtenção de bases estratégicas visando a segurança do comércio marítimo nacional.A política colonizadora imperialista fundamentou-se na “diplomacia do canhão”, ou seja, foi

conseguida pela força, embora travestida de ideais que a justificavam: os colonos eram portadores de uma “missão civilizadora, humanitária, filantrópica e cultural” e estavam investidos de altruísmo, já que abandonavam o conforto da metrópole para melhorar as condições de vida das regiões para onde se dirigiam. A missão civilizadora era considerada o “fardo do homem branco”, nova versão do pretexto

1 Lembre-se que o principal objetivo dos países colonizadores europeus no período, era a transferência do maior volume possível de riquezas das regiões coloniais para as metrópoles.2 “O Estado à serviço do capitalismo.”

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ideológico do século XVI, que era: “levar a fé cristã aos infiéis da América”. Tanto no século XVI como no século XIX, o que ocorreu, na verdade, foi a intensificação dos mecanismos de exploração internacional.

Também o escritor inglês Rudyard Kipling (1865-1936) forneceu amplo material de apoio ao imperialismo de seu país. Para ele, a Inglaterra podia suportar como nenhuma outra nação o “fardo do homem branco”; em sua obra The White man’s burden3, destaca o dever a filantropia da ação colonizadora inglesa, como se constata nos versos:

“Assumi o fardo do homem branco,Enviai os melhores dos vossos filhos,Condenai vossos filhos ao exílio,Para que sejam os servidores de seus cativos.”

Kipling, o maior poeta do imperialismo chegou a receber em 1907 o prêmio Nobel de literatura.

O darwinismo socialO colonialismo do século XIX, permeado pelo ideal de supremacia econômica e cultural, formulou o mito da

superioridade racial, incluindo concepções pseudocientíficas que enalteciam os brancos e a exploração imperialista. Por esse motivo destacou-se a doutrina racista do filósofo H. Spencer, conhecida como darwinismo social.

Segundo Spencer, a Teoria da Evolução, de Darwin, podia ser perfeitamente aplicada à evolução da sociedade: assim como existia uma seleção natural entre as espécies, com o predomínio dos animais e plantas mais capazes, ela existia também na sociedade: “A luta pela sobrevivência entre os animais correspondia à concorrência capitalista; a seleção natural não era nada além da livre troca dos produtos entre os homens; a sobrevivência do mais capaz, do mais forte era demonstrada pela forma criativa dos gigantes da indústria, que engoliam os competidores mais fracos, em seu caminho para o enriquecimento”.

BRUIT, Héctor H. O imperialismo.

Quanto à forma de dominação, era realizada através da administração direta, com a ocupação dos principais cargos governamentais ocupados por agentes metropolitanos, ou indireta, por meio de alianças com as elites locais. Em ambas as formas, o que se esperava e o que se obteve foi a exploração de terras e de mão de obra e o controle da produção e do consumo. Moldando as estruturas econômicas e sociais dessas regiões em função das necessidades externas, as potências hegemônicas contaram com o apoio quase irrestrito das classes dirigentes locais, embora sob uma aparente independência política, transformando a maior parte do planeta em áreas dependentes.

Além da Inglaterra, país europeu mais industrializado e o primeiro a entrar na corrida imperialista do século XIX, participaram também a França, Rússia, Holanda, Alemanha e Itália, entre outras. Além desses países, Portugal e Espanha já possuíam colônias na África desde o século XVI.

As disputas entre as potências por áreas coloniais agravaram conflitos e estimularam o armamentismo, o que levou à formação de blocos de países rivais, criando a conjuntura tensa e propícia à confrontação geral que aconteceria em 1914, na Primeira Guerra Mundial.

3 “O fardo do homem branco”.

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Divisão da África de acordo com os interesses europeus no final do século XIX.

Os interesses de europeus, japoneses e norte-americanos na Ásia resultou na divisão acima.