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i Conglomerados: criam ou destroem valor? O caso português Setembro, 2012 Dissertação de Tese de Mestrado em Finanças Juliana Soares de Oliveira Orientação: Professor Miguel Augusto Gomes Sousa

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Conglomerados: criam ou destroem valor? O caso português

Setembro, 2012

Dissertação de Tese de Mestrado em Finanças

Juliana Soares de Oliveira

Orientação: Professor Miguel Augusto

Gomes Sousa

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Agradecimentos

A realização desta dissertação de Mestrado só foi possível graças à colaboração

e ao contributo, direto ou indireto, de uma instituição e de várias pessoas, às quais

gostaria de dirigir algumas palavras de agradecimento e de reconhecimento.

À Faculdade de Economia do Porto pelo rigor e qualidade exigida ambicionando

sempre mais dos seus alunos encorajando-os a encontrar a excelência.

Ao Professor Miguel Augusto Gomes Sousa, pela disponibilidade demonstrada,

pela exigência de método e rigor, pela incansável orientação científica, pela revisão

crítica do trabalho realizado, pelos úteis esclarecimentos e opiniões, pelos relevantes

conselhos, pela atenção, cordialidade e simpatia demonstradas, pelo perseverante

incentivo que, por vezes, se tornou decisivo em determinados momentos da elaboração

desta dissertação de tese, pelo interesse evidenciado, incluindo o útil acompanhamento

ao longo do meu percurso académico, como professor da disciplina de Aquisição e

Controlo de Empresas no 2º semestre curricular do Mestrado em Finanças ao longo do

qual me transmitiu pistas de reflexão úteis que acabaram por determinar o tema desta

dissertação de tese.

Ao Professor Francisco Vitorino da Silva Martins pelos esclarecimentos e pelos

oportunos conselhos.

Ao David Ribeiro pelo apoio e compreensão inestimáveis e pelo constante

encorajamento com o prepósito de prosseguir a elaboração deste trabalho.

Aos meus pais e ao meu irmão pelo apoio incondicional e atenção sem reservas.

E por fim, mas não menos importante, à Sara Rocha e à Susana Matos pelo

tempo e pelos sorrisos que me dedicaram, pela excelente amizade a apoio manifestado.

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Resumo

Nos finais da década de 60 surgiu nos Estados Unidos da América a chamada

“Terceira Onda” de fusões e aquisições, que se caracterizou pelo domínio dos

conglomerados. A recessão sentida na economia americana nos finais da década de 60

pôs término a esta fase. Embora um pouco mais tarde, também a Europa e o resto do

mundo começam a estender os braços a esta nova forma de fusões e aquisições.

Os conglomerados conheceram altos e baixos ao longo do tempo, mas

continuam a existir, pelo que a pergunta que me resta fazer é: Os conglomerados criam

ou destroem valor?

Esta dissertação é desenvolvida em torno desta pergunta, numa zona geográfica

específica, neste caso o universo português.

Para responder a esta questão foi selecionada uma amostra de empresas que

pertencem a conglomerados e a sua rendibilidade – financeira, económica e operacional

– foi comparada com a rendibilidade dos setores a que pertencem. Os indicadores

Return-on-Equity (ROE), Return-on-Assets (ROA) e a Margem EBITDA foram

utilizados como proxy da rendibilidade dessas empresas.

Os resultados obtidos mostram que as empresas detidas por conglomerados

obtêm uma performance operacional (medida pela margem EBITDA) inferior às

empresas do setor onde atuam. No entanto, surpreendentemente conseguem obter uma

rendibilidade financeira (ROE) superior. Estes resultados sugerem que apesar destas

empresas não serem tão eficientes ao nível operacional como as empresas do setor onde

atuam, conseguem mais que compensar este fato através de uma melhor performance

financeira, porventura beneficiando do fato de pertencerem a um conglomerado para

desse modo obterem sinergias significativas que não estão ao alcance das outras

empresas do setor.

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Abstract

In the late 60's emerged in the United States of America the "third wave" of

mergers and acquisitions, which was dominated by the creation of conglomerates. The

late 60’s recession put an end to this phase. Although a little later, also in Europe and

the in rest of the world the conglomerate phase also occurred.

Although with more and less importance over time, the conglomerates still exist

today and so, a question remains: Are the conglomerates creating or destroying value?

This dissertation is developed around this question, but on a specific region,

Portugal.

To answer this question a sample of firms that belong to conglomerates was

selected and their profitability - financial, economic and operational profitability – was

measured and compared with the sector profitability. Return-on-Equity (ROE), Return-

on-Assets (ROA) and EBITDA Margin were used as proxies for profitability.

The results show that firms that belong to a conglomerate achieved a worse

operating performance (measured by EBITDA margin) than other firms from the same

sector. However, surprisingly, they managed to achieve a better financial return (ROE).

These results suggest that even though these firms don’t perform as the same level of

other firms from the same sector, they more than compensate this fact through a better

financial performance, perhaps taking advantage from belonging to a conglomerate to

obtain synergies not available to other firms.

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Índice de Conteúdos

Agradecimentos ................................................................................................................ ii

Resumo ............................................................................................................................ iii

Abstract ............................................................................................................................ iv

Índice de Conteúdos .......................................................................................................... v

Índice de Ilustrações ....................................................................................................... vii

Índice de Tabelas ........................................................................................................... viii

Lista de Abreviaturas ....................................................................................................... ix

Capítulo I. Introdução ....................................................................................................... 1

Capítulo II. Revisão da Literatura ..................................................................................... 2

2.1. Vantagens ............................................................................................................... 3

2.2. Desvantagens .......................................................................................................... 5

2.3. Destruição de Valor ................................................................................................ 6

2.3.1. Diversificação não é a causa para a destruição de valor ............................... 9

2.4. Criação de Valor..................................................................................................... 9

2.5. Conclusão ............................................................................................................. 10

Capítulo III. Análise Empírica dos Conglomerados em Portugal .................................. 11

3.1. Introdução............................................................................................................. 11

3.2. Seleção da Amostra .............................................................................................. 11

3.2.1. Conglomerados .............................................................................................. 11

3.2.2. Empresas detidas por conglomerados ........................................................... 13

3.3. Metodologia Proposta .......................................................................................... 14

3.3.1. Indicadores .................................................................................................... 14

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3.3.2. Fontes de Informação e período de análise ................................................... 16

3.4. Análise Univariada ............................................................................................... 19

3.5. Análise Multivariada ............................................................................................ 27

Capítulo IV. Conclusão ................................................................................................... 38

Bibliografia ..................................................................................................................... 39

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Índice de Ilustrações

Ilustração 1 – Análise Dupont........................................................................................ 35

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Índice de Tabelas

Tabela 1 – Amostra de Conglomerados .......................................................................... 12

Tabela 2 – Amostra de Empresas detidas por conglomerados ....................................... 15

Tabela 3 – CAE’s das Empresas detidas por conglomerados ......................................... 18

Tabela 4 – Resultados Globais ....................................................................................... 19

Tabela 5 – Teste de Normalidade .................................................................................. 20

Tabela 6 – Teste de Mann-Whitney ............................................................................... 21

Tabela 7 – Resultados por ano - ROE ............................................................................. 21

Tabela 8 – Resultados por ano - ROA ............................................................................ 22

Tabela 8 – Resultados por ano – Margem EBITDA ....................................................... 23

Tabela 10 – Resultados por empresa .............................................................................. 24

Tabela 11 – Resultados por conglomerado ..................................................................... 26

Tabela 12 - Quadro síntese das variáveis explicativas ................................................... 30

Tabela 13 – Multicolinearidade entre variáveis .............................................................. 32

Tabela 14 – Resultados dos Modelos de Regressão ....................................................... 33

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Lista de Abreviaturas

CAE – Classificação Portuguesa de Atividades Económicas

EBIT - Earnings before Interest and Taxes

EBITDA - Earnings before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization

EUA - Estados Unidos da América

LOG - Logaritmo

ROA – Return on Assets

ROE – Return on Equity

SGPS – Sociedade Gestora de Participações Sociais

VAL – Valor Atual Liquido

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Capítulo I. Introdução

A existência de conglomerados tem sido um enigma desde a última metade do

século passado até à atualidade. O desafio que é criar um conglomerado, a sua dimensão

e influência na economia onde atua tem merecido a atenção do público em geral, e dos

teóricos e financeiros em particular.

A crise financeira e de valores vivida nos últimos tempos têm levado a um

intenso escrutínio sobre os conglomerados devido à sua grande influência na economia.

A prática corrente na avaliação de conglomerados tende a simplificar a questão em

torno dos conglomerados atribuindo-lhe um “desconto conglomerado” e augura o seu

desmantelamento.

Nos últimos 50 anos tem-se estudado e criado modelos de evolução dos

conglomerados de forma a compreender a sua justificação estratégica. Por forma a

contribuir para essa compreensão, esta dissertação tem como principal objetivo

responder a uma das questões mais relevantes da temática dos conglomerados, ou seja,

se estes criam ou destroem valor. Para tal irá analisada uma amostra de empresas

portuguesas que pertencem a conglomerados.

Esta dissertação está organizada da seguinte forma: após a revisão da literatura

será apresentado um estudo empírico onde será analisada a realidade portuguesa,

através da amostra selecionada. Neste capítulo será explicada a metodologia utilizada e

serão apresentados e analisados os resultados obtidos nesta investigação e as suas

implicações. Por fim, são expostas as conclusões.

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Capítulo II. Revisão da Literatura

Entre 1965 a 1969 surgiu, nos Estados Unidos da América, a denominada

“Terceira Onda” de fusões e aquisições caracterizada por um nível histórico na

atividade das fusões, onde os conglomerados dominaram. Neste período, observava-se

empresas de pequena dimensão a adquirirem empresas de grande dimensão, ao

contrário das outras duas ondas de fusões e aquisições registadas anteriormente. A

diversificação como forma de crescer noutras áreas de negócio teve um impacto

significativo nesta década. Servaes (1996) demonstrou que em 1961, 55% das empresas

analisadas operavam numa só linha de negócio, enquanto em 1976 essa proporção era

de apenas de 28%. Segundo o mesmo autor, neste período de tempo, as empresas a

operar em quatro ou mais segmentos de negócio aumentaram de 8 para 30.

Esta onda coincidiu com boom económico nos Estados Unidos da América e

com a diminuição das fusões e aquisições verticais e horizontais devido à aprovação de

uma legislação que tornava desvantajoso este tipo de operações. A onda termina com a

recessão sentida na economia americana nos finais da década de 60 agravada pela crise

do petróleo.

De acordo com Jensen (1987), houve uma pressão muito forte sobre a regulação

nos Estados Unidos da América para que os legisladores e órgãos reguladores

impusessem mecanismos para “acalmar” as fusões e aquisições.

De acordo com Shleifer e Vishny (1990), esta onda de fusões desfez-se na

década de 80. Não era invulgar nesta década os ativos de uma empresa-alvo

diversificada serem vendidos à gestão ou a empresas de setores relacionados (Bhagat et

al.,1990), ou conglomerados alienarem empresas independentes (Kaplan e Weisbach,

1992). Segundo alguns autores como Liebeskind, Opler e Hatfield (1992) o movimento

de diversificação tinha terminado e assistia-se a um retorno à especialização. Matsusaka

(1993) apresenta três explicações para esta reversão de sentimento quanto à

diversificação. A primeira passa pela realização de regimes antitrust na década de 60

que foram executadas na década de 80 sob a administração Reagan. A segunda

explicação sugere a inovação financeira. Para este autor, a teoria dos conglomerados

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serviu para internalizar determinadas operações de mercado de capitais. Se estes

evoluíram e inovaram-se financeiramente, a necessidade de internalizar o mercado de

capitais deixou de existir. A terceira e última é a de que “o mercado simplesmente

cometeu um erro sobre a diversificação, e isto não implica irracionalidade ou uso menos

eficiente da informação”. Isto significa, para este autor, a não existência de precedentes

históricos relativamente aos conglomerados implicando que as informações existentes

fossem muito limitadas e as previsões racionais tivessem bastante ruído.

Não obstante, esta reversão na década de 80 da onda de conglomerados, estes

não deixaram de existir, não se extinguiram, nem se deixou de assistir ao nascimento e

expansão de outros como é exemplo a General Electric que durante a década de 80

mudou-se para o financiamento e serviços financeiros.

A Mitsubishi, a General Electric, a LG Group, a Tyco International, são alguns

dos exemplos de conglomerados mundialmente conhecidos.

Na Europa, os conglomerados têm um maior destaque a partir de 1999 com a

criação da União Monetária, onde se pôde assistir a grupos económicos a tirar partido

da integração económica estendendo a sua área de influência aos mercados europeus e

mundiais. Esta alteração nos mercados europeus modificou a sua organização e o seu

funcionamento, tendo mesmo obrigado alguns mercados a rever a sua regulação e

supervisão com reflexos ao nível fiscal e do controlo da concorrência.

2.1. Vantagens

A pergunta que se impõe é do porquê da existência deste tipo de fusões e

aquisições, ou seja, dos conglomerados. Quais serão as vantagens, os motivos, que

levam uma empresa ou grupo de empresas a formar um conglomerado?

Do ponto de vista das finanças clássicas a resposta principal a esta questão

deveria ser a criação de valor para o acionista. E esta ocorre quando o valor para este é

reforçado pela implementação inteligente da capacidade financeira e de gestão da

empresa para detetar oportunidades de negócio financeiramente atrativas. Mas será que

assim é? Ou serão motivos que seguem os interesses dos gestores?

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Maksimovic e Phillips (2007) questionaram “quando é que a diversificação de

uma empresa afeta o seu valor? E quando isso acontece, como é que ela faz isso?”. A

criação de valor para o acionista pode ocorrer através de várias vertentes, e aquela mais

vezes mencionada é a redução do risco através da diversificação. Esta motivação será

tanto maior quanto mais concentrada estiver a atividade da empresa numa indústria que

pode ser vulnerável no médio/longo prazo. Apesar de a empresa entrar num negócio não

relacionado, esta está a assumir riscos adicionais com este investimento. No entanto, o

resultado para a empresa como um todo é uma redução na variabilidade dos lucros e,

portanto, uma redução de risco global dos ciclos de negócio pelo investimento num

portfolio diversificado de negócios, (Kaplan e Norton, 2006);

A procura por altas rendibilidades é outra das vantagens da criação de um

conglomerado. Empresas com excedentes financeiros significativos ou empresas

inseridas em indústrias maduras, com poucas perspetivas de crescimento, vêm no

conglomerado uma oportunidade de investimento que irá aumentar a rendibilidade

global da empresa.

A existência de sinergias parece ganhar consenso no seio dos autores que

investigaram as fusões e aquisições como um dos motivos que levam uma empresa a

adquirir ou a fundir-se com outra. Segundo Gaughan (2002) é de se esperar um valor

atual liquido positivo no processo de aquisição ou fusão, ou seja, a existência de

sinergias deverá possibilitar às empresas incorrerem em despesas de aquisição e

oferecerem ao acionista da empresa adquirida um prémio sobre o seu valor de mercado.

O efeito das sinergias para este autor incluem a alavancagem das receitas decorrentes

das vendas cruzadas e/ou do cross-branding; a redução de custos através do

aproveitamento das economias de escala; a redução de ativos, resultado da combinação

das empresas; redução de impostos decorrentes do usufruto das vantagens fiscais

associadas; e por fim, a redução do custo de capital. No que diz respeito a este último

benefício apresentado, Lewellen (1971) argumenta que a combinação de negócios com

fluxos perfeitamente não correlacionados poderá criar valor para o acionista através da

redução do custo de capital. Este poderá ser alcançado pela criação de uma maior

capacidade de endividamento do que a que resulta da soma das empresas isoladas,

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devido a uma maior estabilidade dos fluxos, que possibilita o aproveitamento dos

benefícios fiscais do endividamento.

Para Weston (1970), Williamson (1975) e Stein (1997), a criação de um grande

mercado interno de capitais vazio de assimetrias de informação permite as empresas

alocarem mais eficientemente os seus recursos levando a um aumento da eficiência do

investimento.

Os académicos apontam ainda economias de escala e acesso a novas linhas de

negócio rentáveis, (Chandler, 1977; Teece, 1980); poder de mercado e poder de

negociação junto do mercado; maior eficiência operacional e menor incentivo para

renunciar a projetos de investimento com valor acrescentado líquido positivo (Berger e

Ofek, 1995).

2.2. Desvantagens

No entanto, diversos autores também apresentam várias desvantagens, sendo que

a principal desvantagem apontada e aquela que ganha maior relevo são os problemas de

agência e os custos associados. Para Jensen e Meckling (1976) os gestores são

contratados para defender os interesses dos acionistas de maximização do valor da

empresa, e considerando que os indivíduos são racionais e procuram maximizar as suas

utilidades individuais, existe motivos para se crer que os gestores nem sempre agirão de

acordo com os interesses dos acionistas, principalmente quando existem relações

contratuais mal especificadas. Estes conflitos de agência geram custos incorridos com o

alinhamento dos interesses dos gestores ao dos acionistas que diminuem o valor da

empresa.

No entanto, há quem defenda que as atividades de fusões e aquisições funcionam

como mecanismos de correção de problemas de agência derivados da ineficiência da

gestão. Martin e McConnel (1991) defendem que a ameaça da tomada de controlo por

uma potencial empresa adquirente trabalha no sentido de reduzir comportamentos

contrários à maximização da riqueza do acionista. Contudo, poderá existir casos em que

a ameaça não resulte e que se verifique a aquisição ou fusão por parte da referida

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potencial empresa. Assim, a redução dos custos de agência poderá dar-se pela tomada

de controlo da empresa adquirente e eventual substituição da equipa de gestão.

Amihud e Lev (1981) estudaram as motivações dos gestores para a constituição

e expansão dos conglomerados, e através de uma amostra de 309 empresas industrias

(Fortune 500), existentes no período entre 1961 e 1970, concluíram que as empresas

com maior liberdade ao nível da gestão (manager-controlled) na tomada de decisão

eram as empresas onde se verificava um maior número de aquisições por

conglomerados e eram as mais diversificadas face às que tinham menor manager-

controlled. A explicação a que estes autores chegaram para os resultados encontrados

prende-se com o facto de uma menor monotorização da gestão poder implicar que estes

alarguem o leque de atividades com menor risco em benefício próprio.

Entre os principais custos relacionados com a diversificação encontramos os

problemas de agência entre os insiders e os pequenos acionistas, (Jensen, 1986; Stulz,

1990; Meyer, Milgrom e Roberts, 1992), lutas de poder entre empresas, (Rajan e

Zingales, 1998; Rajan, Servaes, e Zingales, 2000), o facto de os insiders poderem

alargar o leque de atividades da empresa para obterem ganhos privados, (Jensen e

Meckling, 1976) e influenciarem o volume de atividades (Scharfstein e Stein, 2000),

originando problemas de negociação (Rajan et al., 2000) ou rigidez burocrática (Shin e

Stulz, 1998), o uso discricionário de recursos em investimentos de “valor decrescente” e

subsídios cruzados que permitem aos segmentos mais pobres drenar recursos de

segmentos com melhor desempenho (Berger e Ofek, 1995).

2.3. Destruição de Valor

A literatura mais recente tem sido muito negativa quanto às conclusões da

criação de valor de um conglomerado. Vários estudos realizados tentam responder à

questão fulcral desta dissertação: Os conglomerados criam ou destroem valor?

A maior parte desses estudos comparam o valor de mercado das empresas que

operam em várias linhas de negócio com o valor de um portfolio de “stand-alone”

empresas que operam nas mesmas linhas de negócio que as empresas que constituem o

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conglomerado. Berger e Ofek (1995) encontraram um desconto médio de 13 a 15% no

valor das empresas que constituem os conglomerados dos Estados Unidos da América

para o período entre 1986 a 1991. Estes autores argumentam que a diversificação da

empresa vai levar a um investimento ineficiente por causa de “subsídios cruzados” entre

as linhas de negócios, nomeadamente financiamento por parte de segmentos com

melhor performance a segmentos com performances mais pobres. O excesso de

investimento (overinvestment), é a outra causa apontada por estes autores para a perda

de valor, ou seja, os gestores não agem de acordo com os interesses dos acionistas e

tendem a investir em projetos com valor líquido atualizado negativo. Este

sobreinvestimento ocorre mais em empresas diversificadas do que em empresas stand-

alone.

No entanto, estes autores apresentam dois benefícios da diversificação através

das aquisições e fusões: os benefícios fiscais e os benefícios decorrentes do aumento da

capacidade de endividamento. Contudo, a evidência encontrada é a de que estes

benefícios correspondem apenas a 0,1% das vendas, ou seja, um valor demasiado baixo

quando comparado com a perda de valor estimada. Outro facto bastante interessante

neste estudo é de que Berger e Ofek encontraram evidência de que a perda de valor

mencionada por eles no seu artigo é agravada quando se trata de empresas “não-

relacionadas”, ou seja, conglomerados. A perda de valor decorrente do

“overinvestment” e dos subsídios cruzados é superior nos conglomerados face a

empresas relacionadas”.

Já Lang e Stulz (1994) usam a mesma metodologia e concluem que as empresas

que atuam em várias linhas de negócios apresentam valores de q de Tobin1 mais baixos

face a empresas “stand-alone”.

Lins e Servaes (1999) usando uma amostra de empresas que operam na

Alemanha, Japão e Reino Unido, não encontraram evidência de desconto de

diversificação na Alemanha, à exceção das situações em que o insider ownership2 é

inferior a 5%. Já no Japão e no Reino Unido encontraram desconto de diversificação de

10% e 15%, respetivamente. O desconto encontrado no Japão está fortemente associado

1 Relação entre o valor de mercado de uma empresa e o valor de reposição dos seus ativos físicos. 2 Executivos detentores de capital

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a uma forte ligação das empresas ao setor industrial. Assim, estes autores concluíram

que as diferenças nos descontos encontradas nos três países resultam de diferenças na

estrutura da propriedade.

Rajan, Servaes e Zingales (2000) criaram um modelo que lhes permitiu prever e

constatar que, para uma amostra de empresas diversificadas dos Estados Unidos da

América entre 1980 e 1993, “se as divisões existentes são similares ao nível dos seus

recursos e oportunidades, os fundos serão transferidos das divisões com melhores

oportunidades para divisões com piores oportunidades”. Daqui resulta, segundo estes

autores, um investimento ineficiente, e como tal, constata-se uma perda de valor na

empresa.

Lamont e Polk (2001) contemplam a possibilidade de as empresas diversificadas

serem confrontadas com retornos exigidos de ativos futuros superiores aos de empresas

especializadas. Enquanto a gama de possíveis explicações para o diferencial

retornos esperados inclui riscos, impostos e liquidez, é também apontado o facto de os

conglomerados serem complexos e como tal, existe uma maior dificuldade por parte dos

investidores em avaliarem estas empresas.

Contudo, Mansi e Reeb (2002) apontam para o conflito clássico de interesses

entre acionistas e credores quando se trata de determinação do perfil de risco da

empresa. A diversificação das empresas leva à redução de riscos e a um prémio menor,

o que aumenta o valor do detentor da dívida.

Seru (2010) estudou conglomerados que “fracassaram” e conclui que as

empresas diversificadas “produzem menos inovação e inovações menos novas”. Este

efeito é amplificado se o conglomerado operar num mercado de capitais interno mais

ativo porque “desencoraja” os inovadores tornando-os menos produtivos após a

aquisição ou fusão. Para estes autores, estas descobertas sugerem que a forma

organizacional de um conglomerado afeta a alocação de recursos e produtividade das

empresas.

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2.3.1. Diversificação não é a causa para a destruição de valor

Uma visão radicalmente diferente assenta no facto de não ser a diversificação

das empresas que implica o desconto referido anteriormente, mas o facto de as empresas

já “descontadas” tenderem a diversificarem em indústrias mais promissoras

(causalidade reversa).

Para Maksimovic e Phillips (2002), as empresas menos produtivas tendem a se

diversificar, mas a diversificação não é a causa do desconto. A evidência encontrada por

estes autores não é consistente com o facto de nos conglomerados existirem segmentos

produtivos a financiarem segmentos menos produtivos. Pelo contrário, “estes segmentos

são frequentemente segmentos marginais cujo crescimento diminui quando eles têm

uma produtividade inferior à média da indústria”. Estes autores encontraram evidência

que é consistente com o argumento de que alguns conglomerados têm problemas de

agência.

Utilizando várias técnicas econométricas, Campa e Kedia (2002), Villalonga

(2004), Whited (2001), Fluck e Lynch (1999) e Lamont e Polk (2001) concluem que o

desconto pode ser pelo menos parcialmente explicado pelo enviesamento de seleção,

problemas de endogeneidade, e erro de medição.

2.4. Criação de Valor

No artigo publicado por Matsusaka (1993), o autor refere que as empresas

adquirentes ganharam retornos significativamente positivos após o anúncio da aquisição

ou fusão, e durante o período da onda de conglomerados. Daqui o autor rejeita a

hipótese de que os conglomerados foram conduzidos por interesses dos gestores e da

gestão, mas antes que o mercado estava a seguir uma sinergia de gestão, apresentando

como evidência que as empresas adquirentes que mantiveram a equipa de gestão

obtiveram maiores retornos e que o mercado por sua vez, reagiu negativamente aos que

mudaram a gestão. Ou seja, o mercado “aplaudiu” aquisições e fusões que estavam

destinadas a explorar sinergias de gestão e a “vaiar” este tipo de operações que tinham

como objetivo os interesses dos gestores.

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Hubbard e Palia (1999) constataram que, na década de 60, as empresas que se

diversificaram através de aquisições e fusões obtiveram retornos anormais. Os autores

afirmam que as empresas fundiam-se, nesta época, com o objetivo de criarem o seu

próprio mercado de capital interno. Algumas destas empresas analisadas foram

“percebidas como tendo vantagem informacional sobre os mercados de capitais

externos, e portanto, prevista a criação de valor através da criação de um mercado

interno”.

Por fim, Klein (2001) vem desafiar a sabedoria convencional de que na década

de 60 os conglomerados eram eficientes, concluindo que durante o início dos anos 70 os

conglomerados foram menos valiosos e menos rentáveis do que as empresas

independentes. No entanto, na década 60, os conglomerados não foram avaliados com

um desconto. As evidências de histórias de aquisições sugerem que a diversificação do

conglomerado pode ter um valor acrescentado através da criação de mercados de

capitais internos.

2.5. Conclusão

A extensa literatura existente relacionada com a criação ou destruição de valor

dos conglomerados não tem reunido consenso, havendo registo de opiniões,

argumentos, teses, investigações empíricas no sentido da criação de valor, da destruição

de valor e até mesmo de expurgar a diversificação como fenómeno causador da

destruição de valor. A falta de consenso entre os diversos autores, o fato de atualmente

assistir-se à criação deste tipo de fusões e aquisições (conglomerados), e a

influência/poder dos conglomerados na economia portuguesa, são o motivo pelo qual

nasce esta tese, cujo objetivo se prende por tentar perceber até que ponto os

conglomerados em Portugal criam ou destroem valor.

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11

Capítulo III. Investigação Empírica

3.1. Introdução

Tendo em consideração as especificidades dos conglomerados em Portugal, esta

dissertação de tese propõem-se avaliar se no caso português, os conglomerados criam

ou destroem valor. Serão analisadas não só o efeito das especificidades anteriormente

mencionadas, mas também o meio económico em que os conglomerados se formaram, a

conjuntura económica (no momento da avaliação), entre outros.

3.2. Seleção da Amostra

3.2.1. Conglomerados

Com o objetivo de encontrar uma amostra representativa dos conglomerados em

Portugal, foram selecionadas as empresas que integravam o PSI20 em 31 de Dezembro

de 20103 e as cinco empresas do PSI-Geral4 que apresentaram no ano de 2010 o maior

volume de transações. Esta opção tem por base a representatividade destas empresas no

tecido empresarial português, e a disponibilidade da informação financeira destas, dado

a sua obrigatoriedade legal destas empresas em prestar essa informação5. Desta amostra

inicial foram posteriormente excluídas as empresas financeiras, uma vez que as

atividades desenvolvidas por estas “não criam riquezas ou bens no sentido estrito do

termo, pois desempenham o papel de intermediários financeiros” (Moreira, 2002).

Por forma a selecionar apenas conglomerados temos de ter presente a definição

de conglomerado: uma empresa que detém outras empresas cujos negócios são não

relacionados. Segundo o Investopedia, “Num conglomerado, uma empresa possui uma

participação controladora numa série de empresas menores, que conduzem negócios

separadamente”. Desta forma, foram excluídas as empresas que não tinham o estatuto

3 Fonte: Euronext Lisbon, 31 Dezembro de 2010 4 Fonte: Bloomberg. Foram obtidos os volumes de transacção diários para cada uma das empresas integrantes do PSI-Geral, que não as do PSI20, e calculado a média param cada empresa. 5 Art. 245.º do Código dos Valores Mobiliários e art. 8.º do Regulamento da CMVM n.º 5/2008

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12

de Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS’s), isto é, que não fossem

equiparadas a Holdings, ou seja, “empresa cujo principal objetivo é deter participações

noutras empresas, nomeadamente participações maioritárias de forma a controlar a sua

atividade” (definição da Think Finance). Foram ainda excluídas as empresas que

mesmo tendo o estatuto de SGPS não detivessem empresas em pelo menos 2 CAE’s

(Classificação Portuguesa de Atividades Económicas)6 distintos.

Por forma a eliminar empresas em cujo Estado detinha uma influência

significativa foram ainda excluídas da análise as empresas que tinham, à data da análise

(31 de Dezembro de 2010), participação do Estado igual ou superior a 10% e/ou que

possuíam golden-share. A utilização deste critério é justificada pelo fato de o objetivo

principal do Estado ser o bem-estar social, o que nem sempre se coaduna com o

objetivo primordial de uma empresa de maximização do valor do acionista.

Finalmente, foram excluídos os conglomerados cujo volume de negócio de uma

única empresa detida fosse igual ou superior a 90%. Desta seleção exaustiva da amostra

resultaram 6 conglomerados representados na Tabela 1.

Tabela 1 – Amostra de Conglomerados

Conglomerados

Mota-Engil, SGPS, S.A.

Semapa-Sociedade de Investimento e Gestão, SGPS, S.A.

Sonae, SGPS, S.A.

SONAE.COM SGPS S.A.

Grupo Soares da Costa, SGPS, S.A.

Martifer - SGPS, S.A.

6 CAE Rev 3 foi disponibilizada e aprovada pela 327º Deliberação do Conselho Superior de Estatística, de 19 de março de 2007 e pelo decreto-lei nº 381/2007, de 14 de novembro, de acordo com o Regulamento (CE) nº 1893/2006, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de dezembro de 2006.

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13

3.2.2. Empresas detidas por Conglomerados

A partir desta amostra de conglomerados, o próximo passo consistiu em

selecionar uma amostra representativa de empresas detidas por estes conglomerados.

Tendo, na maior parte dos casos, um universo muito vasto de empresas, o objetivo deste

estudo passou por analisar apenas as empresas que assumissem um papel preponderante

no conglomerado a que pertencem e cuja informação financeira fosse fiável. Desta

forma, foram excluídas todas as empresas estrangeiras. Este critério deve-se ao fato do

objetivo desta dissertação de tese se prender com a realidade portuguesa.

Posteriormente só foram consideradas empresas que fossem detidas pelo conglomerado

em pelo menos 40%, de forma a garantir que o conglomerado exerce sobre a empresa

um domínio significativo. De seguida foram excluídas todas as empresas que

isoladamente representem menos que 10% do volume de negócios do conglomerado ou

que em conjunto com outras empresas pertencentes à mesma área de negócio

representem menos que 15% do volume de negócios do conglomerado. Por sua vez, nos

casos em que o volume de negócios da área de negócio representa mais de 15% do

volume de negócios do conglomerado, só serão consideradas as empresas que

representem pelo menos 25% do volume de negócios da sua área de negócio.

Com o objetivo de tentar abranger o maior número de áreas de negócio de um

conglomerado, foram incluídas algumas empresas apesar de estas não cumprirem os

critérios de representatividade acima referidos. Assim, de todas as restantes áreas de

negócio que representem menos de 15% do volume de negócios do conglomerado,

serão excluídas as empresas que representem menos 25% da área de negócio a que

pertencem.

Finalmente, serão apenas consideradas nesta amostra apenas as empresas que

tenham mais de 4 anos de vida7 e caso tenham sido adquiridas pelo conglomerado, essa

aquisição tenha ocorrido há mais de 4 anos. Deste último critério resultou a exclusão de

2 empresas (Navalria8 do conglomerado Martifer e BeArtis9 do conglomerado

7 Ano de referência: 2010 8 Adquirida em 2008 9 Constituída em 26 de Outubro de 2010

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SonaeCom) e de uma área de negócio (ETSA10 do conglomerado Semapa, cuja área de

negócio é a produção de subprodutos de origem animal).

A Tabela 2 apresenta os resultados desta seleção que resultou num total de 17

empresas.

3.3. Metodologia Proposta

Com o intuito de responder à questão se os conglomerados criam ou destroem

valor, será usado como proxy desse valor a rendibilidade das empresas detidas pelos

conglomerados, a qual será comparada com a mediana do setor a que pertencem,

durante o período compreendido entre 2007 e 2010. Esta análise univariada será

posteriormente complementada por uma análise multivariada com o objetivo de tentar

perceber se eventuais diferenças de rendibilidade encontradas não poderão ser

explicadas por outros fatores que não o facto de uma empresa pertencer a um

conglomerado.

3.3.1. Indicadores

Os indicadores eleitos para a análise e comparação da rendibilidade entre as

empresas e o seu respetivo setor são: o Return on Equity ou Rendibilidade dos Capitais

Próprios (ROE), Return on Assets ou Rendibilidade do Ativo (ROA) e a Margem

Operacional ou Margem EBITDA11.

Trata-se de três indicadores de rendibilidade, e com os quais pretendemos medir

a rendibilidade financeira (ROE), a rendibilidade económica (ROA) e a rendibilidade

operacional (Margem EBITDA).

O rácio de rendibilidade dos capitais próprios é calculado através da divisão

entre o lucro (resultado líquido) da empresa e a sua situação líquida, e mede a

capacidade da empresa de gerar retornos para o seu acionista. De acordo com Farinha

10 Adquirida pelo conglomerado em 2008

11 Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization

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Tabela 2 – Amostra de Empresas detidas por conglomerados

Mota-Engil, SGPS, S.A.12

Semapa - Sociedade de Investimento e Gestão,

SGPS, S.A.

Sonae, SGPS, S.A.13

SonaeCom SGPS S.A.14

Grupo Soares da Costa, SGPS, S.A.15

Martifer - SGPS, S.A.

Em

pres

as d

etid

as

Mota-Engil, S.A. Portucel, SA.

Modelo Continente

Hipermercados, S.A.

Optimus – Comunicações,

S.A.

Sociedade de Construções Soares

da Costa, S.A. Martifer, S.A.

Suma, S.A. Secil, S.A. Worten, S.A Digitmarket, S.A Somafel, S.A Martifer Solar,

S.A.

TCL, S.A. - SonaeERP, S.A - Ciagest, S.A. Martifer

Renewables, S.A.

- - Modelo

Distribuição de Materiais, S.A16

- - -

% do Volume de Negócios

87,68% 98,26% 73,64%17 74,25% 77,88% 43,90%

12 Excluída a LusoPonte – Concessionária para a Travessia do Tejo, S.A. por ser detida em apenas 38,02% pelo conglomerado 13 Não foi considerada nenhuma empresa da Sonae Sierra, SGPS, S.A. por não preencherem os critérios de seleção da amostra 14 Foi excluída a empresa Público – Comunicação Social, S.A. por incoerência da informação financeira disponível 15 Excluí a SCUTVIAS – Auto Estradas da Beira Interior, S.A. por ser detida em apenas 33% pelo conglomerado 16 MaxMat 17 11,56% são relativos à SonaeCom, SGPS, S.A.

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(1994) “…é porventura o indicador de rentabilidade mais utilizado pelos

analistas e mais referido pela literatura”. Para este autor, o rácio assume relevo “quando

inserido no contexto de valores comparáveis para outras empresas do mesmo setor”. Já

para Marques (2000), o ROE é uma variável proxy da taxa de retorno efetiva do

acionista.

No que diz respeito ao ROA, este é obtido através da relação entre os resultados

operacionais (EBIT - Earning Before Interest and Taxes) e o ativo total da empresa, e

permite-nos avaliar a eficiência do uso do capital investido, e como tal, a eficiência da

administração da empresa. É também conhecido como a taxa de retorno dos capitais

investidos. Segundo Craveiro (2006), este rácio “é o melhor indicador para

comparações entre empresas”.

Por fim, a Margem EBITDA representa a eficiência operacional da empresa e do

controlo dos custos. Este rácio é obtido através da divisão entre o EBITDA e o volume

de negócios da empresa. Este indicador tem vindo a assumir uma popularidade

crescente junto dos analistas de mercado. Para estes, o resultado obtido ganha um nível

de comparabilidade capaz de evidenciar com maior clareza as potencialidades da

atividade operacional das empresas. Para Vasconcelos (2002), “o EBITDA consiste

num poderoso indicador de desempenho financeiro, posto que reflete o potencial de

geração de recursos decorrentes eminentemente das operações da empresa”.

Note-se que se tratam de três indicadores de cariz contabilístico acarretando as

inerentes limitações das mesmas. No entanto, é a análise conjunta dos rácios e a sua

comparação com os setores que garantirão a qualidade das conclusões.

3.3.2. Fontes de Informação e período da análise

O período sobre o qual recai a análise proposta compreende-se entre 2007 a

2010 (4 anos).

À exceção da Portucel e da Secil, cujos relatórios e contas para o período da

análise se encontravam disponíveis nos seus sites oficiais, os restantes dados

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operacionais e financeiros das empresas detidas pelos conglomerados foram obtidos

através da base de dados SABI - Bureau van Dijk18.

No que diz respeito aos dados dos setores, estes foram obtidos junto do Banco de

Portugal, nomeadamente, através dos Quadros do Setor - Central de Balanços (dados a

partir de 2006). O critério de seleção dos setores foi o CAE, e os resultados foram

obtidos para o CAE com três algarismos por considerar que estes representam o setor de

atividade das empresas sobre análise. Na tabela 3 podemos observar os CAE’s

respetivos de cada empresa.

A informação relativa aos conglomerados está disponível nos sites oficiais

respetivos.

18

Base de dados com informação contabilística e operacional de empresas portuguesas (e espanholas).

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Tabela 3 – CAE’s das empresas detidas

Conglomerados Empresas Setor M

ota-

Eng

il

Mota-Engil, S.A. 421 - Construção de estradas, pontes, túneis, pistas de aeroportos e vias-férreas

Suma, S.A. 381 - Recolha de Resíduos

TCL, S.A. 522 - Atividades auxiliares dos transportes

Sem

apa Portucel, S.A.

171 - Fabricação de pasta, de papel, e cartão (exceto canelados)

Secil, S.A. 235 - Fabricação de cimento, cal e gesso

Gru

po S

oare

s da

Cos

ta

Soares da Costa, S.A. 412 - Construção de Edifícios (residenciais e não residenciais)

Somafel, S.A. 421 - Construção de estradas, pontes, túneis, pistas de aeroportos e vias-férreas

Ciagest, S.A. 682 - Arrendamento de bens imobiliários

Mar

tife

r

Martifer, S.A. 251 - Fabrição de elementos de construção em metal

Martifer Solar S.A. 271 - Fabricação de motores, geradores e transformadores elétricos e fabricação de material de distribuição e de controlo para instalações elétricas

Martifer Renewables, S.A. 351 - Produção, transporte, distribuição e comércio de eletricidade

Sona

e SG

PS

Modelo Continente Hipermercados, S.A.

471 - Comércio a retalho em estabelecimentos não especializados

Worten, S.A. 471 - Comércio a retalho em estabelecimentos não especializados

SonaeERP, S.A. 681 - Compra e venda de bens imobiliários

Modelo - Distribuição de materiais de construção, S.A.

467 - Comércio por grosso de combustíveis, metais, materiais de construção, ferragens e outros produtos n.e.

Sona

eCom

Optimus - Comunicações, S.A. 611 - Atividade de telecomunicações por fio

Digitmarket, S.A.

620 - Consultoria e programação informática e atividades relacionadas

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3.4. Análise Univariada

Conforme foi referido anteriormente, irei, numa primeira abordagem, comparar,

para o período de 2007 a 2010, os indicadores de rendibilidade das empresas detidas

pelos conglomerados com os mesmos indicadores dos setores respetivos. Nas Tabelas 4,

7, 8 e 9 são apresentados os resultados desta metodologia, sendo que a primeira dá-nos

uma perspetiva em termos globais, a segunda uma perspetiva por cada ano da amostra, a

terceira, uma perspetiva por empresa, e a última dá-nos uma perspetiva dos resultados

por conglomerado, respetivamente.

Tabela 4 – Resultados Globais

Indicadores: Empresas

detidas Setores

Diferença (p.p.)19

ROE

Média 21,16% 10,32% 10,84

Mediana 13,56% 9,83% 3,73

ROA

Média 5,17% 4,46% 0,71

Mediana 4,71% 3,70% 1,01

Margem EBITDA

Média 14,85% 18,98% -4,13

Mediana 8,48% 10,75% -2,27

Conforme podemos constatar através da análise da Tabela 4, apenas a Margem

EBITDA apresenta valores inferiores nas empresas detidas por conglomerados face aos

dados do setor.

Antes de entrar na confrontação, propriamente dita, dos indicadores, é necessário

aferir se a amostra segue ou não uma distribuição normal. Este resultado permitir-nos-á

efetuar o teste estatístico mais apropriado para analisarmos a significância estatística da 19 Pontos percentuais

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diferença entre os indicadores das empresas detidas por conglomerados

comparativamente com os indicadores das empresas do setor.

Assim sendo, procedemos ao teste Kolmogorov-Smirnov para averiguarmos o

tipo de distribuição das amostras. Assim sendo, obtivemos os resultados apresentados

na Tabela 5:

Tabela 5 - Teste de Normalidade

Variáveis: ROE ROA Margem EBITDA

D 0,273** 0,206* 0,294***

(0,012) (0.097) (0,004)

Nº Observações 132 136 136

Os símbolos ***, **, e * indicam que o coeficiente é estatisticamente diferente de zero para um nível de significância igual a 1%, 5% e 10%, respetivamente. Os valores de p-value encontram-se entre parêntesis. O valor de D representa a diferença da distribuição entre a amostra e a mediana do setor respetivo

Os resultados na tabela 5 dizem-nos que, embora para níveis de significância

diferentes, as amostras não seguem distribuições normais, ou seja, são distribuições

assimétricas.

Ora, dados estes resultados teremos de usar testes não paramétricos para

avaliarmos se a diferença entre as medianas dos indicadores escolhidos são ou não

estatisticamente significantes. O teste selecionado para realizarmos esta análise foi o

teste de Teste de Mann-Whitney. Os resultados obtidos encontram-se representados na

tabela 5 abaixo representada:

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Tabela 6 - Teste de Mann-Whitney

Variáveis: ROE ROA Margem EBITDA

Variância (U) 48.278** 52.790 52.790***

(0,035) (0,291) (0,073)

Nº Observações 132 136 136

Concluímos que, para níveis de significância diferentes, apenas a diferença entre

os ROE’s e as Margens EBITDA são estatisticamente significantes. Ou seja, para

valores estaticamente significativos, a mediana do ROE das empresas detidas é superior

à mediana do ROE dos setores, e a mediana da Margem EBITDA das empresas detidas

é inferior à mediana da Margem EBITDA dos setores respetivos.

Vamos tentar perceber um pouco mais estas diferenças desagregando esta

comparação por anos.

Tabela 7 – Resultados por ano - ROE

Anos: Empresas

detidas Setores

Diferenças (p.p.)

2010

Mediana 13,13% 11,07% 2,06

2009

Mediana 12,49% 7,36% 5,13

2008

Mediana 13,30% 9,76% 3,54

2007

Mediana 13,98% 9,47% 4,51

Desta análise resulta que as empresas detidas pelos conglomerados apresentam

uma rendibilidade financeira (medida pelo ROE) superior às empresas dos setores

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respetivos, para todos os anos em análise. Esta realidade poderá estar relacionada com

uma das vantagens já referida anteriormente que é o facto das empresas pertencentes a

conglomerados conseguirem obter endividamento mais barato, no geral, face às

empresas que não pertencem a estes grupos.

No entanto, verificamos que a mediana do ROE das empresas detidas por

conglomerados apresenta uma tendência decrescente (exceção, ano de 2010) tendo

registado uma variação de menos 6% aproximadamente em 2010 face a 2007. Já no que

diz respeito à mediana do ROE dos setores, este indicador regista um crescimento de

17% em 2010 face a 2007.

Tabela 8 – Resultados por ano - ROA

Anos: Empresas

detidas Setores

Diferenças (p.p.)

2010

Mediana 4,65% 4,39% 0,26

2009

Mediana 3,99% 4,86% -0,87

2008

Mediana 4,97% 2,97% 2,00

2007

Mediana 5,42% 2,70% 2,72

No que diz respeita ao ROA, este indicador é apenas superior nas empresas

detidas por conglomerados nos anos de 2007 a 2008 e 2010.

O comportamento deste indicador, à semelhança do ROE das empresas detidas

por conglomerados, é tendencialmente decrescente, com exceção do ano de 2010. A

mediana do ROA das empresas detidas decresceu cerca de 14% desde 2007 a 2010,

sendo que a mediana do ROA das empresas do setor apresentou um crescimento para

este período de aproximadamente 63%.

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Tabela 9 – Resultados por ano – Margem EBITDA

Anos: Empresas

detidas Setores

Diferenças (p.p.)

2010

Mediana 6,98% 14,82% -7,84

2009

Mediana 6,24% 10,34% -4,10

2008

Mediana 8,80% 10,07% -1,27

2007

Mediana 8,57% 12,23% -3,66

Relativamente à Margem EBITDA os resultados evidencia que as empresas

pertencentes a conglomerados apresentam valores inferiores para todo o período quando

comparada com o setor onde estão inseridas.

A tendência da evolução deste indicador é irregular no período observado,

contudo, constata-se que desde 2007 a 2010 a mediana da Margem EBITDA das

empresas detidas decresceu cerca de 19%. Já a mediana da Margem EBITDA das

empresas do setor apresentam um crescimento de 21%, aproximadamente.

A explicação para a verificação destas tendências (ROE, ROA e Margem

EBITDA) poderá estar relacionada com a crise do Subprime (2008). Segundo os autores

Liebeskind, Opler e Hatfield (1992) em tempos de crise económica assiste-se a um

abandono da diversificação e ao retorno da especialização. A análise do Relatório e

Contas dos conglomerados em análise verifica-se um aumento gradual da alienação de

ativos estratégicos e ou maduros, e a uma maior capitalização destes, com exceção da

Semapa.

A contribuição de cada empresa para cada um destes resultados pode ser

observada na Tabela 10.

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Tabela 10 – Resultados por empresa

ROE ROA Margem EBITDA

Conglomerado Empresas Mediana Mediana

Setor Mediana

Mediana Setor

Mediana Mediana

Setor

Mota-Engil

Mota-Engil - Engenharia e Construção, S.A. 13,98% 11,44% 4,45% 2,90% 7,92% 8,87%

Suma - Serviços Urbanos e Meio Ambiente, S.A. 19,55% 21,46% 10,22% 4,42% 25,76% 16,95%

TCL - Terminal de Contentores de Leixões, S.A. 31,62% 2,97% 28,14% 3,30% 29,98% 27,88%

Semapa Portucel - Empresa produtora de pasta e papel, S.A. 11,81% 11,88% 8,90% 4,39% 26,44% 20,53%

Secil - Companhia Geral de Cal e Cimento, S.A. 14,92% 6,46% 10,82% 3,38% 25,72% 15,69%

Grupo Soares da Costa

Sociedade de Construções Soares da Costa, S.A. 14,61% 0,51% 4,35% 2,26% 7,30% 8,30%

Somafel - Engenharia e Obras Ferroviárias, S.A. 1,62% 11,44% 0,95% 2,90% 9,18% 8,87%

Ciagest - Imobiliária e Gestão, S.A. 0,83% 2,92% 1,46% 2,19% 42,85% 50,42%

Martifer

Martifer - Construções Metalomecânicas, S.A. 21,36% 4,65% 7,38% 3,53% 7,25% 7,81%

Martifer Solar S.A. 13,30% 20,80% 4,53% 7,07% 8,21% 9,71%

Martifer Renewables, S.A. 25,55% 11,28% -11,99% 3,71% -33,73% 19,93%

Sonae SGPS

Modelo Continente Hipermercados, S.A. 6,96% 9,76% 3,43% 3,71% 3,93% 4,40%

Worten - Equipamentos para o lar, S.A. 34,63% 9,64% 5,83% 3,71% 4,28% 4,40%

SonaeERP - Retail Properties, S.A. 2,21% -1,19% 3,12% 1,51% 85,45% 21,90%

Modelo - Distribuição de materiais de construção, S.A.

-12,39% 13,49% -1,73% 5,43% 3,84% 7,60%

SonaeCom Optimus - Comunicações, S.A. 5,43% 21,50% -0,22% 7,74% 6,15% 36,81%

Digitmarket - Sistemas de Informação, S.A. 56,10% 9,99% 6,85% 4,88% 1,85% 9,91%

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A contribuir negativamente para a mediana do ROE quando comparado com a

mediana do ROE do setor respetivo estão a Suma, a Portucel, a Somafel e a Ciagest, a

Martifer Solar, o Modelo Continente, a MaxMat20 e a Optimus.

Relativamente ao ROA as empresas que contribuem negativamente são a

Somafel, a Ciagest, a Martifer Solar, a Martifer Renewables, a Modelo Continente, a

MaxMat e a Optimus.

Já no que respeita à Margem EBITDA temos apenas as empresas Suma, TCL,

Portucel, Secil, Somafel e SonaeERP a contribuir positivamente para este rácio.

Um facto interessante observado é o de que as empresas, Ciagest, Martifer Solar,

Modelo Continente, MaxMat e a Optimus apresentam sempre rácios inferiores quando

comparados com as empresas do setor. Já a TCL, a Secil e a SonaeERP apresentam para

todos os indicadores valores superiores aos dos respetivos setores.

A Tabela 11 contém os dados relativos aos três indicadores de forma agregada

por conglomerado.

Note-se que é assumido o pressuposto que os dados dos CAE’s relativos às

empresas que são detidas pelos conglomerados formam eles próprios um conglomerado

comparável.

20 Modelo - Distribuição de materiais de construção, S.A.

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26

Tabela 11 – Resultados por Conglomerado

ROE ROA Margem EBITDA

Conglomerado Mediana Mediana

Setor Mediana

Mediana Setor

Mediana Mediana

Setor

Mota-Engil 22,00% 11,44% 10,22% 3,39% 25,76% 16,95%

Semapa 13,45% 8,33% 10,27% 3,85% 25,72% 16,14%

Grupo Soares da Costa

2,99% 4,31% 1,80% 2,31% 10,23% 9,76%

Martifer 13,30% 12,13% 4,47% 4,88% 6,85% 10,29%

Sonae SGPS 7,17% 9,76% 3,25% 3,71% 4,54% 5,79%

SonaeCom 24,14% 14,96% 4,77% 5,85% 4,01% 24,47%

Conforme podemos observar através da tabela acima representada, o ROE

continua a ser o indicador mais favorável, verificando-se que, apenas os conglomerados

Grupo Soares da Costa e Sonae SGPS apresentam este indicador de rendibilidade do

acionista pior face ao seu conglomerado comparável.

Para o rácio de rentabilidade dos ativos, apenas os conglomerados Mota-Engil e

Semapa apresentam um indicador melhor face aos conglomerados comparáveis.

Ao observarmos a média da margem operacional dos conglomerados, a Mota-

Engil, Semapa e a Soares da Costa apresentam performances operacionais superiores

aos conglomerados comparáveis, respetivos.

Note-se que relativamente ao conglomerado Semapa, quer a Portucel, quer a

Secil representam uma parte significativa do setor que pertencem. Contudo, a exclusão

deste conglomerado da análise efetuada não altera as conclusões obtidas anteriormente.

Para além de fazer a confrontação entre os indicadores das empresas detidas por

conglomerados com os respetivos indicadores dos setores, é necessário aferir se existem

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27

outros fatores determinantes na formação destes indicadores. Pretende-se medir a

influência de fatores como o tamanho da empresa (Log Ativos), a rendibilidade

operacional (Margem EBITDA, Rotação do Ativo e Performance), a rendibilidade dos

capitais próprios (ROE), as oportunidades de crescimento (Capex/Vendas), e a

capacidade de endividamento (Endividamento) na formação dos indicadores.

3.5. Análise Multivariada

Com o objetivo de aferir se porventura não existem outros fatores determinantes,

e por isso outras explicações possíveis, para os resultados obtidos na análise univariada,

para além do facto de as empresas pertencerem ou não a um conglomerado, foi

realizada uma análise multivariada.

Desta forma, foi estimado o seguinte modelo:

Y = a + b1 (Dummy de Diversificação) + b2 (Log Ativos)

+ b3 (Capex21/Vendas) + b4 (Endividamento22) + b5 (Performance)23 + e

Em que Y representa as três variáveis utilizadas como indicador da rendibilidade

das empresas, i.e., ROE, ROA e Margem EBITDA.

Este modelo resulta de uma adaptação do modelo utilizado por Lins e Servaes

(1999), em que além das variáveis explicativas utilizadas pelos autores, forma outras,

tais como a Performance e o Endividamento.

Deste modo, pretende-se medir a influência de fatores como o tamanho da

empresa (Log Ativos), a produtividade (Performance), as oportunidades de crescimento

21 CAPEX, ou gastos em capital (capital expenditures) são despesas que produzem benefícios ao longo de um período futuro longo (superior a um ano). O Capex ocorre quando uma empresa compra ativo ou investe em ativos já existentes que possuam uma vida útil superior ao exercício em que ocorre a compra ou investimento. (Definição de Thinfn) 22 Endividamento = Passivo Total / Ativo Total 23 Performance = EBIT / Número de Trabalhadores

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(Capex/Vendas), e a capacidade de endividamento (Endividamento) na formação dos

indicadores.

Explicação das Variáveis

A variável Dummy24 é a variável de maior interesse nesta análise, pois permitirá

concluir, caso esta seja estatisticamente significativa, que as diferenças entre os

indicadores das empresas e os indicadores dos respetivos setores se devem ao facto das

empresas pertencerem a um conglomerado.

A relação esperada do endividamento com os indicadores de rendibilidade

poderá ser explicada através do efeito disciplinador da dívida (Jensen, 1986). Isto é, ao

contrário dos dividendos, os juros têm de ser sempre pagos, o que faz com que os

gestores das empresas mais endividadas tenham que “correr mais depressa”, sendo

dessa forma mais eficientes e cuidadosos na seleção dos investimentos. Tal efeito vai ter

um resultado positivo ao nível económico e operacional (ROA e Margem EBITDA,

respetivamente). O endividamento também pode ter um efeito positivo na rendibilidade

do acionista devido ao efeito alavancagem, pois mais endividamento implica menos

capital próprio e portanto desde que o retorno do ativo seja superior ao custo dívida, o

efeito alavancagem só por si faz aumentar o ROE.

Por sua vez, empresas com maior dimensão estão por norma associadas a um

maior volume de produção, o quer possibilita o aproveitamento de economias de escala,

influenciando positivamente o retorno do ativo. Também se verifica que empresas de

maior dimensão têm, por norma, maior poder de negociação nos preços, logo usufruem

de margens superiores. E ainda podem ter uma marca que se reflete num valor no preço

final do produto superior, pelo que é expectável que a dimensão (medida pelo total do

ativo) influencie positivamente a Margem EBITDA. Por sua vez, é espectável que tais

benefícios se façam refletir no resultado líquido da empresa e que com uma otimização

da estrutura de capitais se reflita positivamente no ROE.

O rácio entre o CAPEX e as Vendas é utilizado como proxy das oportunidades

de crescimento da empresa. Quanto ao sinal esperado do investimento na rendibilidade,

24 Assumirá o valor 1 para empresas que pertencem a conglomerados e 0 para empresas do sector

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este não é certo, pois se tal significar mais investimento em projetos de valor atual

liquido (VAL) positivo, estes acrescentam valor (logo o sinal seria positivo), mas se

forem de valor atual negativo destroem valor (logo o sinal seria negativo). Além disso,

as empresas mesmo que invistam em projetos de VAL positivo o seu efeito ao nível,

operacional e financeiro tende a ocorrer ao fim de algum tempo.

Por fim, mas não menos importante, é a variável performance que é um

indicador de produtividade e que se estima se relacione positivamente com todas as

variáveis dependentes. Assim espera-se que quanto maior a produtividade maior a

rendibilidade financeira (ROE), económica (ROA) e operacional (Margem EBITDA) do

acionista, uma vez que se espera que a produtividade seja refletida no valor da empresa,

logo na criação de valor para o acionista.

A Tabela 12 sintetiza e complementa a informação sobre as variáveis incluídas

nos modelos a estimar:

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Tabela 12 - Quadro síntese das variáveis explicativas

Variável Denominação da Variável Tipo de

Indicador Nº de

Observações Unidades

Medidas Estatísticas

Sinal Esperado do Coeficiente

Média Mediana Desvio-Padrão

Diversificação Empresas detidas por

conglomerados Caracterização

de empresa 136 Binária (1;0) 0,502 NA NA NA25

Log Ativo (Ano N) Logaritmo do Ativo Total Operacional 136 Logaritmo 7,51 7,45 1,01 Positivo

Oportunidades de Investimento (Ano N)

Capex / Vendas Económico 136 Rácio -0,4126 0,13 5,94 NA

Endividamento (Ano N) Passivo Total / Ativo Total Financeiro 136 Rácio 0,70 0,75 0,15 Positivo

Performance (Ano N) EBIT / Nº Trabalhadores Operacional 136 Milhares € 56.638 9.714 135.402 Positivo

25 O objetivo desta tese prende-se, exactamente, em obter o sinal desta variável. 26 Note-se que este valor vai ao encontro do que já tinha sido mencionado no Capítulo de Revisão de Literatura, ou seja, que se estava a assistir ao desinvestimento dos ativos por parte dos conglomerados desde a crise de 2008.

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Resultados dos Modelos de Regressão

Antes de procedermos ao cálculo dos modelos de regressão é necessário garantir

que não existe multicolinearidade entre as variáveis dependentes e independentes

(pressuposto de regressão múltipla). Para este teste, foi obtido o VIF27, (Variance

Inflation Factor), em português, Fator de Inflação da Variância (FIV). Este índice mede

o quanto a variância de um coeficiente de regressão estimado é aumentada devido à

colinearidade. A Tabela 13 ilustra os resultados obtidos, verificando-se que todas as

variáveis apresentam VIF inferiores a 5, e como tal, segundo Kutner (2004), as

variáveis apresentam multicolinearidade reduzida.

Tabela 13 – Multicolinearidade entre variáveis

VIF ROE ROA Margem EBITDA

Dummy de Diversificação 2,73 2,96 2,72

Log dos Ativos Totais 2,54 2,60 2,49

CAPEX/ Vendas 1,03 1,03 1,03

Endividamento 1,26 1,27 1,24

Performance 1,21 1,07 1,08

Uma vez garantida a não existência de problemas de multicolinearidade, e obtida

a relação esperada entre as variáveis, o próximo passo é estimar as regressões

anteriormente mencionadas. Assim, a Tabela 15 ilustra os resultados obtidos para cada

uma das regressões definidas, para o período de 2007 a 2010, e para um universo de 136

observações (17 empresas, 17 setores para 4 anos de observação).

27

Para o efeito foi utilizado o software XLSTAT.

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Tabela 14 – Resultados dos Modelos de Regressão

Variáveis ROE ROA Margem EBITDA

Dummy de Diversificação 0,32*** -0,02 -0,24***

(0,000) (0,174) (<0,0001)

Log dos Ativos Totais -0,10** 0,01 0,08***

(0,021) (0,230) (0,001)

CAPEX/ Vendas 0,00 0,00 -0,01

(0,915) (0,924) (0,677)

Endividamento 0,74*** -0,155*** -0,53***

(0,000) (<0,0001) (<0,0001)

Performance 0,00 0,00*** 0,00***

(0,806) (0,001) (<0,0001)

Interceção 0,22 0,08 -0,04

(0,49) (0,168) (0,809)

R Ajustado 0,12 0,19 0,56

Nº Observações 132 136 136

Os símbolos ***, **, e * indicam que o coeficiente é significante para um nível de significância igual a 1%, 5% e 10%, respetivamente.

Análise dos Resultados dos Modelos de Regressão

Um dos principais resultados a reter desta análise é o facto de a variável dummy

não ser estatisticamente significante para a variável ROA. Este resultado indica-nos que

o facto de uma empresa pertencer a um conglomerado não tem efeito ao nível da

rendibilidade do seu ativo. No entanto, o mesmo já não se passa para as restantes

variáveis.

Sendo assim, no que diz respeito aos resultados obtidos para os coeficientes

associados à variável dummy para as restantes regressões (variáveis dependentes, ROE e

Margem EBITDA) verificamos que os mesmos são estatisticamente significantes a 1%

embora de sinal contrário (de acordo com o resultado obtido na análise univariada). Em

suma, a diferença entre o ROE e a Margem EBITDA entre as empresas detidas por

conglomerados e os setores nos quais atuam são significantes, mesmo controlando por

uma série de fatores que poderiam justificar essa diferença. Estes resultados sugerem

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que essa diferença de rendibilidades (operacional e financeira) é em parte explicada pelo

facto das empresas pertencerem ou não a um conglomerado.

Esta situação singular do facto de uma empresa pertencer a um conglomerado

afetar negativamente a Margem EBITDA, não ter influencia no ROA e afetar

positivamente o ROE sugere que que o pertencer a um conglomerado afeta de forma

diferente as várias áreas da empresa.

Em primeiro lugar, devemos ter presente que o ROA é função da Margem

EBITDA e do grau de rotação do ativo28 em que,

EBITDA/Ativo = EBITDA/Vendas * Vendas /Ativo

ou seja,

ROA = Margem EBITDA * Rotação do Ativo

Se a Margem EBITDA é menor nas empresas que pertencem a um

conglomerado, e o ROA é em média igual ao do setor, tal significa que as empresas

pertencentes a um conglomerado apresentam um rácio da rotação do ativo superior. Tal

pode ser justificado pelo facto de essas empresas conseguirem, com os mesmo ativos,

vender mais do que as empresas do setor (por exemplo, utilizando a rede comercial, o

departamento de marketing ou ligações dentro do próprio conglomerado) e/ou

conseguirem atingir o mesmo nível de vendas do setor utilizando menos ativos

(porventura utilizando ativos que pertencem a outras empresas do conglomerado –

aproveitamento de sinergias).

Por sua vez, para percebermos melhor a relação entre o ROE e o ROA vou

socorrer-me na análise Dupont apresentada na Ilustração 1.

28 Rácio de atividade que procura medir o grau de eficiência com que a empresa está a utilizar os seus ativos. Pode ser interpretado como o número de vezes que o ativo é convertido em vendas durante o ano.

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Ilustração 1 – Análise Dupont Modificada

Fonte: Gitman (1997)

Ou seja, ROE = ROA x Multiplicador de alavancagem financeira

Como pode ser observado o ROE depende do ROA e do nível de alavancagem

financeira. Na medida que o nível de alavancagem é utilizado como variável

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independente nas regressões estimadas, o seu efeito no ROE está isolado. Desse modo o

efeito medido pela variável dummy devia ser o mesmo quer no ROA quer no ROE.

No entanto, é importante notar que o ROA nesta dissertação é calculado pela

relação entre os resultados operacionais (EBIT) e o ativo total da empresa, e não, como

na Análise Dupont, entre a relação entre o resultado líquido (RL) e o ativo total da

empresa. Sabendo que,

RL = EBIT + Resultados Financeiros – Impostos

somos levados a concluir que existe uma diferença significativa entre as

empresas que pertencem um conglomerado e as empresas do mesmo setor, ao nível dos

resultados financeiros (nomeadamente do pagamento de juros) e/ou do pagamento de

impostos, com claro benefício para as primeiras. Deste modo os resultados deste estudo

sugerem que as empresas que pertencem aos conglomerados têm menores custos

financeiros (ou mais proveitos) e/ou pagam menos impostos do que as empresas do

mesmo setor.

Do conjunto dos resultados, pode concluir-se que as empresas que pertencem a

conglomerados apresentam um pior performance operacional, em termos de margens

operacionais, mas conseguem disfarçar essa menor performance operacional com

sinergias ao nível da rede comercial/marketing e/ou utilização de ativos comuns.

Adicionalmente, devido a sinergias financeiras e fiscais (leia-se, menor pagamento de

juros e/ou de impostos) as empresas pertencentes a conglomerados conseguem

apresentar uma rendibilidade para os acionistas (ROE) superior às empresas do setor.

Importa, no entanto, salientar que, devido à forma como a amostra de empresas

que pertencem a um conglomerado foi selecionada, as sinergias financeiras podem não

resultar do facto destas empresas pertenceram a um conglomerado, mas ao facto do

conglomerado ser uma empresa cotada em bolsa. Na medida que a amostra selecionada

incluí apenas empresas que pertencem a conglomerados cotados em bolsa, e como tal,

com acesso mais eficiente (leia-se, menor custo) ao financiamento, do que a

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generalidade das empresas do setor, este estudo não permite concluir inequivocamente

que a maior rendibilidade acionista (ROE) obtida pelas empresas que pertencem a

conglomerados deriva, única e exclusivamente, deste facto, pois pode ser resultado

apenas de um melhor acesso ao mercado de capitais por parte dessas empresas.

Em relação às outras variáveis utilizadas no modelo, a variável proxy da

dimensão da empresa (Log Ativo Total) apenas assume significância estatística para as

variáveis ROE e Margem EBITDA. No entanto, no que diz respeito à relação desta

variável com o retorno do acionista (ROE), o sinal do coeficiente é negativo, ou seja,

contrário ao sinal esperado. Para todas as variáveis dependentes (ROE, ROA e Margem

EBITDA) os coeficientes associados à variável proxy das oportunidades de crescimento

(CAPEX/Vendas) não são estatisticamente significantes.

Os coeficientes associados à variável de Endividamento são estatisticamente

significantes em todos os modelos. No entanto, o coeficiente desta variável mostrou-se

contrário ao que era inicialmente previsto para as variáveis ROA e Margem EBITDA,

ou seja, concluímos através dos resultados obtidos que quando o Endividamento

aumenta, o ROA e a Margem EBITDA diminuem, e vice-versa. Finalmente, no que diz

respeito à variável Performance, verifica-se que esta se encontra estatisticamente

significativa para as variáveis ROA e Margem EBITDA e os coeficientes apresentam

valores de acordo com os sinais esperados. A justificação e análise destes resultados

está fora do âmbito desta dissertação.

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Capítulo IV. Conclusão

Com o objetivo de determinar se os conglomerados criam ou destroem valor, foi

selecionada uma amostra de 17 empresas que pertencem a um conglomerado por forma

a comparar a sua rendibilidade com a rendibilidade do setor durante o período

compreendido entre 2007 e 2010. Como indicadores-chave da rendibilidade da empresa

formas utilizados os indicadores Return-On-Equity (ROE) – como indicador de

rendibilidade financeira – Return-on-Equity (ROA) – rendibilidade económica – e

Margem EBITDA – rendibilidade operacional. Através de uma simples comparação

destes indicadores foi possível verificar que, apesar das empresas detidas por

conglomerados apresentarem uma Margem EBITDA inferior à do setor apresentavam

uma rendibilidade financeira (medida pelo ROE) superior.

Por forma a testar a robustez dos resultados, foi efetuada uma análise

multivariada que permitiu confirmar que o fato das empresas serem detidas por

conglomerados apesar de afetar negativamente a rendibilidade operacional (Margem

EBITDA), afeta positivamente a rendibilidade financeira (ROE) dessas mesmas

empresas. Já o impacto do conglomerado sobre a rendibilidade económica (ROA) é

neutro.

Após uma análise cuidada dos resultados concluiu-se que as empresas que

pertencem a conglomerados apresentam níveis de performance operacional piores do

que as empresas do setor onde atuam, mas que conseguem disfarçar essa pior

performance devido a sinergias ou ao nível da rede comercial/marketing e/ou utilização

de ativos pertencentes a outras empresas do conglomerado.

As sinergias financeiras e/ou fiscais, traduzido em menores custos financeiros e

menor pagamento de impostos foram outros dos benefícios encontrados, e que

permitem que as empresas pertencentes a conglomerados apresentem uma rendibilidade

acionista (medida pelo ROE) superior às empresas do setor onde atuam Pelo que os

resultados sugerem que estas empresas acrescentam valor para os seus acionistas face à

generalidade das empresas.

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