zoneamento ecolÓgico-econÔmico do acre - fase ii -documento sÍntese

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  • 7/23/2019 ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE II -DOCUMENTO SNTESE

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    Governo do Estado do Acre

    Secretaria de Estado de Planejamento

    Secretaria de Estado de Meio Ambiente

    Programa Estadual de Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre

    ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE IIESCALA 1:250.000

    DOCUMENTO SNTESE

    2 Edio

    Rio Branco - Acre

    2010

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    ENDEREO

    Secretaria de Estado de Meio Ambiente SEMA

    Rua Benjamin Constant, 856 Centro

    Rio Branco Acre Brasil CEP: 69.900-160

    Fone: 55 (0xx68) 3224 - 3990 / 7127

    Fax: 55 (0xx68) 3223 - 3447Email: [email protected]

    ACRE. Governo do Estado do Acre. Zoneamento Ecolgico-Econmico do Estado do Acre, Fase II (Escala 1:250.000): Docu-

    mento Sntese. 2. Ed. Rio Branco: SEMA, 2010. 356p.

    1. ACRE Zoneamento Ecolgico-Econmico, 2. Meio Ambiente Socioeconomia Cultural/Poltico, 3. Gesto Terri-

    torial Acre, I. Ttulo.

    Nota:A Base topogrfica digital foi elaborada a partir de folhas topogrficas geradas pela DSG/MEx, na escala de 1:100.000,

    atualizadas atravs de imagens do sensor ETM 7 a bordo do satlite LandSat, obtidas na melhor condio visual das

    imagens nos anos de 2001 e 2002. Nas cartas ainda no restitudas e expeditas, foram utilizados dados do SRTM (Shuttle

    Radar Topography Mission) adquiridos no perodo de 11 a 22 de fevereiro de 2000. As informaes sobre a atual situao

    fundiria foram fornecidas em meio digital pelo INCRA. Os dados de localidades foram digitalizados a partir de croquis

    elaborados pela FUNASA. Os limites das Unidades de Conservao e Terra Indgena foram cedidos, respectivamente, pelo

    IBAMA, SEF, ITERACRE e DAF/FUNAI.

    O mapa de gesto apresentado em 16 cartas na escala 1:250.000 que representam o cruzamento e sistematizao

    dos mapas temticos e outras informaes espacializadas, sendo alguns citados ao longo do texto do documento sntesee outros em anexo, como ZEE/AC, Fase II 2006.

    ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE IIESCALA 1:250.000 - DOCUMENTO SNTESE

    SEMA1 Edio - 20062 Edio - 2010

    FICHA CATALOGRFICA

    ISBN: 85-60678-00-X

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    Luiz Incio Lula da Silva

    Presidente da Repblica

    Carlos Minc BaumfeldMinistro do Meio Ambiente

    Arnbio Marques de Almeida Jnior

    Governador do Estado do Acre

    Carlos Csar Correia de Messias

    Vice-Governador

    Gilberto do Carmo Lopes Siqueira

    Secretrio de Estado de Planejamento

    Eufran Ferreira do AmaralSecretrio de Estado de Meio Ambiente

    Clesa Brasil da Cunha CartaxoDiretora-Presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre

    Felismar Mesquita MoreiraDiretor-Presidente do Instituto de Terras do Acre

    Carlos Ovdio Duarte da RochaSecretrio de Estado de Floresta

    Nilton Luiz Cosson Mota

    Secretrio de Estado de Extenso Agroflorestal e ProduoFamiliar

    Mauro Jorge RibeiroSecretrio de Estado de Agropecuria

    Joo Csar DottoDiretor-Presidente da Fundao de Tecnologia do Estado do

    Acre

    Roberto Barros dos SantosProcurador Geral do Estado

    Maria Corra da SilvaSecretria de Estado de Educao

    Osvaldo de Souza Leal JniorSecretrio de Estado de Sade

    Mncio Lima CordeiroSecretrio de Estado de Fazenda

    Mrcia Regina de Sousa PereiraSecretria de Justia e Segurana Pblica

    Marcus Alexandre Mdice AguiarDiretor-Geral do Departamento Estadual de Estradas de

    Rodagem, Hidrovias e Infraestrutura Aeroporturia

    Paulo Roberto Viana de Arajo

    Diretor-Presidente do Instituto de Defesa Agropecuaria eFlorestal

    Cassiano Figueira Marques de OliveiraSecretrio de Estado de Esporte, Turismo e Lazer

    Anbal DinizSecretrio de Estado de Comunicao

    Eduardo Nunes VieiraSecretrio de Infraestrutura, Obras Pblicas e Habitao

    Petrnio Aparecido Chaves AntunesDiretor do Departamento de guas e Saneamento

    Laura Keiko Sakai OkamuraSecretria de Estado de Desenvolvimento para Segurana

    Social

    Daniel Queiroz de SantanaDiretor-Presidente da Fundao de Cultura e Comunicao

    Elias Mansour

    Mncio Lima CordeiroSecretrio de Estado de Gesto Administrativa

    Ilmara Rodrigues LimaDiretora-Presidente da Companhia de Habitao do Acre

    Carlos Alberto Ferreira de Arajo

    Secretrio de Estado de Articulao Institucional

    Irailton Lima de SouzaDiretor-Presidente do Instituto Estadual de Desenvolvimento

    de Educao Profissional Dom Moacir Grechi

    Fbio Vaz de LimaSecretrio de Estado de Governo

    Francisco da Silva PinhantaAssessor Especial dos Povos Indgenas

    2 Edio

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    Luiz Incio Lula da Silva

    Presidente da Repblica

    Marina SilvaMinistra do Meio Ambiente

    Jorge Viana

    Governador do Estado do Acre

    Arnbio Marques de Almeida Jnior

    Vice-Governador

    Gilberto do Carmo Lopes SiqueiraSecretrio de Estado de Planejamento e Desenvolvimento

    Econmico-SustentvelPresidente da Comisso Estadual do ZEE/AC

    Carlos Edegard de DeusSecretrio de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais

    Presidente do Instituto de Meio Ambiente do AcreSecretrio Executivo do ZEE/AC

    Joo Csar DottoDiretor-Presidente da Fundao de Tecnologia do Estado do

    Acre

    Carlos Ovdio Duarte da RochaSecretrio de Floresta

    Mauro Jorge RibeiroSecretrio de Agricultura e Pecuria

    Denise Regina GarrafielSecretria de Extrativismo e Produo Familiar

    Jos Henrique Corinto de MouraDiretor-Presidente do Instituto de Terras do Acre

    Marcos Incio FernandesSecretrio Executivo de Assistncia Tcnica e Extenso Rural

    Paulo Roberto Viana de ArajoDiretor-Presidente Instituto de Defesa Agropecuria e

    Florestal

    Srgio Yoshio NakamuraSecretrio de Infraestrutura e Integrao

    Eduardo Nunes VieiraSecretrio de Obras Pblicas

    Tcio de BritoDiretor do Departamento de guas e Saneamento

    Maria Corra da SilvaSecretaria de Estado de Educao

    Maria das Graas Alves Pereira

    Secretria de Cidadania e Assistncia Social

    Suely de Souza Melo da CostaSecretaria de Estado de Sade

    Antnio Monteiro NetoSecretrio de Justia e Segurana Pblica

    Francisco Pereira de SouzaPresidente da Fundao de Cultura e Comunicao Elias

    Mansour

    Edson Amrico ManchiniProcurador Geral do Estado

    Orlando Sabino da CostaSecretrio de Fazenda

    Flora Valladares CoelhoSecretria do Servidor e Patrimnio Pblico

    Anbal DinizSecretrio de Comunicao

    Tatianna Rebello MansourSecretria de Estado de Modernizao e Tecnologia da

    Informao

    Carlos Alberto Bernardo de ArajoSecretrio Extraordinrio de Desenvolvimento das Cidades e

    Habitao

    Francisco da Silva PinhantaSecretrio Extraordinrio dos Povos Indgenas

    Leonardo Cunha BritoSecretrio Extraordinrio da Juventude

    Mara Regina Aparecida VidalSecretria Extraordinria da Mulher

    Jos Alicio Martins da SilvaSecretrio Extraordinrio do Esporte

    Roberto Ferreira da SilvaChefe do Gabinete do Governador

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    ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE IIESCALA 1:250.000

    DOCUMENTO SNTESE

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.0008

    Apresentao

    O Zoneamento Ecolgico-Econmico (ZEE)

    tem como atribuio fornecer subsdios para

    orientar as polticas pblicas relacionadas ao pla-

    nejamento, uso e ocupao do territrio, consi-

    derando as potencialidades e limitaes do meiofsico, bitico e socioeconmico, tendo como

    eixo norteador os princpios do Desenvolvimen-

    to Sustentvel. uma ferramenta essencial para

    a definio de estratgias compartilhadas de

    gesto do territrio entre governo e sociedade.

    No territrio acreano, a elaborao partici-

    pativa do ZEE envolveu estudos sobre sistemas

    ambientais, potencialidades e limitaes para o

    uso sustentvel dos recursos naturais, relaes

    entre a sociedade e o meio ambiente e identifi-cao de cenrios, de modo a subsidiar a gesto

    do territrio no presente e no futuro, num grande

    pacto de construo da sustentabilidade a par-

    tir de uma economia de base florestal com foco

    na melhoria de qualidade de vida da populao.

    O Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre

    Fase II Escala 1:250.000 institudo pela Lei n

    1.904 de 05 de junho de 2007, foi elaborado a

    partir da integrao de informaes sobre Recur-

    sos Naturais, Socioeconomia e Cultural-Poltico

    e, contou com a contribuio de inmeros es-pecialistas, em diferentes campos do conheci-

    mento cujos subsdios foram incorporados ao

    Documento Sntese. So estudos inditos, elabo-

    rados especificamente para subsidiar nas deci-

    ses a serem tomadas sobre o territrio do Acre.

    Os resultados desses estudos culminaram

    na elaborao de um Mapa de Gesto Territo-

    rial, onde o mesmo define as potencialidades e

    vulnerabilidades do territrio, estabelecendo as

    zonas e diretrizes de gesto das reas, refletindo

    a viso do governo e da sociedade no desenvol-

    vimento local e regional, valorizando o patrim-

    nio scio-ambiental e a participao popular.

    As zonas definidas no mapa de gesto

    so: Zona 1 consolidao de sistemas de

    produo sustentvel, Zona 2 uso susten-tvel dos recursos naturais e proteo am-

    biental, Zona 3 reas prioritrias para orde-

    namento territorial e Zona 4 cidades do Acre.

    Tornar acessvel os estudos do ZEE o objeti-

    vo do Documento Sntese do ZEE Fase II. O tema

    interessa no somente queles que estudam a

    realidade acreana ou amaznica, mas tambm

    aos que vem o zoneamento como instrumento

    estratgico primordial de ordenamento do es-

    pao, dos recursos e das atividades econmicas.Com essa iniciativa o Governo do Estado do

    Acre busca reafirmar seus compromissos com

    um futuro do Acre e da Amaznia, construdo

    por todos e pautado no conhecimento da rea-

    lidade, no planejamento das aes e na perma-

    nente ampliao dos benefcios do desenvol-

    vimento sustentvel para toda a sociedade. a

    Florestania que vai alm da cidadania dos povos

    da floresta. o embasamento cultural de um

    projeto de desenvolvimento sustentvel que

    deseja colaborar e ter a colaborao de parcei-ros para construo da Sociedade do Sculo XXI.

    uma contribuio de quem est vencendo

    uma realidade desfavorvel de conservar a floresta

    e criar esperana para seus povos. Muito ainda h

    por se fazer neste varadouro da sustentabilidade,

    porm o conhecimento do territrio a base para

    este sonho de viver em um mundo sustentvel.

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    Governo do Acre

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.000 9

    Passamos mais de quinze anos ouvindo falarno Zoneamento. No comeo era reivindicao de

    alguns: ndios, seringueiros, gente interessada em

    definir limites e proteger suas reas. Depois virou

    consenso entre todos os setores, pois ningum

    mais aguentava a ausncia de regras claras e defi-

    nidas que orientassem os investimentos e ativida-

    des econmicas.

    Durante esse tempo, algumas fantasias foram

    criadas. A principal delas era a de que o Zonea-

    mento seria a soluo milagrosa para todos os

    conflitos, que ele colocaria cada um no seu espa-

    o adequado, possibilitando um

    ordenamento na sociedade e no

    espao geogrfico que ela ocupa.

    Hoje sabemos que no bem

    assim que as coisas acontecem,

    mas podemos extrair algo de

    bom desse acmulo de expecta-

    tivas em relao ao Zoneamento:

    o crescimento, em todos os seto-

    res, da vontade de negociar, dedialogar, de ceder, de respeitar a

    presena dos outros. Aproveitan-

    do essa possibilidade de enten-

    dimento, assim que assumimos o

    Governo do Acre, em 1999, demos

    prioridade ao Zoneamento Ecol-

    gico-Econmico e procuramos ser

    bem simples: recolhemos os estu-

    dos j realizados e reconhecemos

    o Zoneamento real, histrico, j

    existente. Recolher os estudos j

    O Mapa do Sonho

    realizados era necessrio para no ficarmos repe-tindo o que j havia sido feito. Isso no quer dizer

    que tenhamos negligenciado a elaborao de no-

    vos estudos e pesquisas. Ao contrrio, no apenas

    recolhemos as informaes j existentes, mas as

    verificamos e atualizamos. Buscamos novas in-

    formaes, recorrendo ao trabalho dos melhores

    profissionais em cada setor. Mas o mais impor-

    tante, a meu ver, e que constitui uma novidade

    do trabalho que fizemos, o que chamamos de

    reconhecer o Zoneamento que a Histria realizou.

    Simplesmente constatamos que, ao longo de

    um sculo, nas lutas, nos ciclos

    e fases da economia, nas migra-

    es, nas enchentes e vazantes

    dos rios, na abertura de estradas,

    nas aldeias, vilas e cidades, o Acre

    foi se fazendo o que hoje . A po-

    pulao foi se distribuindo e se

    concentrando, as regies foram

    descobrindo potencialidades e

    vocaes, cada um foi lutando econquistando seu espao. Esse

    o Zoneamento real, feito pela vida.

    Foi em busca dessa realidade

    que percorremos o Acre inteiro

    e desenvolvemos uma manei-

    ra nova de pesquisar, deixando

    que a populao, as lideranas,

    os grupos, as minorias, todo

    mundo fale e mostre sua identi-

    dade e suas reivindicaes. Fico

    feliz de ver que a prioridade que

    Foi em buscadessa realidadeque percorremoso Acre inteiro edesenvolvemos umamaneira nova depesquisar, deixando

    que a populao, aslideranas, os grupos,as minorias, todomundo fale e mostresua identidade e suasreivindicaes. Ficofeliz de ver que aprioridade que demosao Zoneamentorevela-se cada vez

    mais acertada.

    1 Edio

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.00010

    demos ao Zoneamento revela-se cada vez mais

    acertada. Fico feliz de ter podido contar com

    dirigentes, tcnicos e consultores to qualifi-

    cados e dedicados. Fico ainda mais feliz com a

    participao popular na elaborao do Zonea-

    mento j a partir da primeira fase do progra-

    ma, cujos resultados apresentamos ao pblicono primeiro semestre de 2000. Agora, temos

    a satisfao de apresentar o Mapa de Gesto

    Territorial do Acre como resultado principal

    dos trabalhos da segunda fase do Programa Es-

    tadual do Zoneamento Ecolgico-Econmico.

    Este mapa reflete a viso do governo e da so-

    ciedade sobre o novo estilo de desenvolvimen-

    to local e regional que queremos e que estamos

    construindo em nosso Estado, pautado na valo-

    rizao do patrimnio scio cultural e ambiental

    e na participao popular, o que chamamos deFlorestania.

    O apoio do companheiro Luiz Incio Lula da

    Silva, da ministra Marina Silva e de vrios rgos

    do governo federal foi fundamental para a con-

    solidao de mais esta etapa do Zoneamento do

    Acre. Tenho certeza de que no estamos apresen-

    tando um produto frio, uma pea tcnica despro-

    vida de emoo. Estamos, na verdade, mostrando

    uma maneira despojada e sincera de fazer as coi-

    sas: a maneira como o heroico povo acreano quer

    e merece ser tratado.

    Estamos realizando uma parte do sonho de

    companheiros valorosos, como Chico Mendes,

    cuja presena ainda sentimos ao nosso lado a

    cada passo da caminhada. Estamos estabelecen-

    do limites para que o respeito vida seja ilimitado,

    definindo cada parte para que a floresta perma-

    nea inteira e tornando prtica a ideia da susten-tabilidade, tendo o zoneamento como base do

    Plano de Desenvolvimento do Estado.

    Sem arrogncia, sabemos da importncia da

    nossa experincia para a construo do futuro, co-

    locando essa realidade num mapa e sobre ele de-

    senhando nosso sonho. O que estamos fazendo

    nas cabeceiras dos rios pode espalhar-se por toda

    a Amaznia. essa a contribuio de nosso povo a

    um esforo que toda a humanidade faz para reno-

    var a esperana no incio de um novo milnio.

    Com o lanamento do Mapa de Gesto Ter-ritorial do Acre, estamos completando mais um

    passo importante na execuo do Programa Esta-

    dual do Zoneamento Ecolgico-Econmico. Um

    prximo desafio avanar na incorporao das di-

    retrizes do Mapa de Gesto Territorial entre os ins-

    trumentos de polticas pblicas afins. Vamos adian-

    te: modestamente, estamos apenas comeando.

    Jorge Viana

    2006

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.000 11

    SUMRIO

    I - INTRODUO ......................................................................................................................................................................17

    1.1.TRAJETRIAS ACREANAS .............................................................................................................................................17

    1.2. A CONSTRUO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL NO ACRE E O ZONEAMENTO ECOLGICO

    ECONMICO ............................................................................................................................................................................29

    1.2.1. A primeira fase do Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre ................................................................321.2.2. A Segunda fase do Zoneamento Ecolgico-Econmico e a elaborao do mapa de gesto

    territorial ....................................................................................................................................................................................34

    1.2.3. A mudana de paradigma metodolgico ...........................................................................................................39

    1.3. CARACTERSTICAS GERAIS DO ESTADO DO ACRE ...........................................................................................41

    II - RECURSOS NATURAIS E USO DA TERRA.....................................................................................................................43

    1. O MEIO FSICO ......................................................................................................................................................................44

    1.1. Geologia .............................................................................................................................................................................44

    1.2. Geomorfologia .................................................................................................................................................................47

    1.3. Solos .....................................................................................................................................................................................50

    1.4. Bacias Hidrogrficas .......................................................................................................................................................54

    2. O MEIO BITICO ..................................................................................................................................................................58

    2.1. Vegetao ...........................................................................................................................................................................58

    2.2. Biodiversidade ..................................................................................................................................................................63

    3. A VISO INTEGRADA DOS RECURSOS NATURAIS ....................................................................................................68

    3.1. Vulnerabilidade Ambiental ..........................................................................................................................................68

    3.2. Unidades de Paisagem Biofsicas...............................................................................................................................74

    4. USO DOS RECURSOS ..........................................................................................................................................................81

    4.1. Uso da Terra , Desmatamentos e Queimadas........................................................................................................81

    4.2. Passivos Florestais: diagnstico .................................................................................................................................95

    5. CONCLUSO .........................................................................................................................................................................99

    III - ASPECTOS SCIO-ECONMICOS ............................................................................................................................ 1011. ESTRUTURA FUNDIRIA ................................................................................................................................................ 102

    2. ECONOMIA ......................................................................................................................................................................... 124

    3. INFRAESTRUTURA PBLICA E PRODUTIVA ............................................................................................................. 131

    3.1. Transporte ....................................................................................................................................................................... 131

    3.2. Energia ............................................................................................................................................................................. 135

    3.3. Comunicao ................................................................................................................................................................. 136

    4. PRODUO FLORESTAL ................................................................................................................................................. 138

    4.1. Produtos Florestais No Madeireiros..................................................................................................................... 138

    4.2. Produo Florestal Madeireira ................................................................................................................................. 146

    4.2.1. Cenrios, demanda e origem de matria-prima Florestal ........................................................................ 148

    5. PRODUO AGROPECURIA ....................................................................................................................................... 1526. POPULAO E CONDIES DE VIDA ........................................................................................................................ 162

    6.1. Populao ....................................................................................................................................................................... 162

    6.2. Condies de Vida ........................................................................................................................................................ 169

    7. CIDADES DO ACRE ........................................................................................................................................................... 179

    8. CONCLUSO ...................................................................................................................................................................... 182

    IV - CULTURA, GESTO E PERCEPO SOCIAL ........................................................................................................... 186

    1. CULTURA ............................................................................................................................................................................. 188

    1.1. Territrios e Territorialidades ................................................................................................................................... 188

    1.2. Patrimnios Histricos e Naturais ......................................................................................................................... 195

    2. GESTO TERRITORIAL ..................................................................................................................................................... 2012.1. Sistema Estadual de reas Naturais Protegidas e os Instrumentos de Planejamento e Gesto ..... 201

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.00012

    2.1.1. As Unidades de Conservao de Proteo Integral .................................................................................... 203

    2.1.2. Unidades de Conservao de Uso Sustentvel ............................................................................................. 207

    2.1.3. Terras Indgenas ........................................................................................................................................................ 217

    2.1.4. Reserva Legal e reas de Preservao Permanente .................................................................................... 224

    2.2. As pequenas, mdias e grandes propriedades rurais .................................................................................... 225

    2.3. Assentamentos Rurais ............................................................................................................................................... 228

    2.4. Conflitos Agrrios ........................................................................................................................................................ 2323. PLANEJAMENTO E POLTICA AMBIENTAL .............................................................................................................. 237

    3.1. Planejamento e Gesto Urbana ............................................................................................................................. 238

    3.2. Desenvolvimento Poltico e Institucional ............................................................................................................ 243

    3.3. Gesto Ambiental Compartilhada ......................................................................................................................... 245

    3.4. Interaes Transfronteirias ...................................................................................................................................... 250

    3.5. Fronteiras e Povos Indgenas ................................................................................................................................... 256

    3.6. Passivos Florestais ........................................................................................................................................................ 263

    3.7. Compatibilizao com as Normas Federais ........................................................................................................ 268

    4. PERCEPO SOCIAL ........................................................................................................................................................ 274

    4.1. Orientaes polticas recentes do modelo de desenvolvimento do Acre ............................................... 274

    4.2. Viso de Presente e Futuro: as oficinas e o perfil dos participantes........................................................... 2775. CONCLUSO ...................................................................................................................................................................... 281

    V - O MAPA DE GESTO TERRITORIAL DO ESTADO DO ACRE ................................................................................ 283

    5.1. A Construo do Mapa de Gesto Territorial (MGT) do Acre ....................................................................... 284

    5.2. Caractersticas e Diretrizes de Utilizao de Zonas e Sub-zonas ............................................................... 301

    5.3. Consideraes sobre a Implementao das Diretrizes do Mapa de Gesto Territorial ...................... 314

    VI - MONITORAMENTO E CONTROLE DO ZEE ............................................................................................................ 317

    1. INDICADOR DE SUSTENTABILIDADE DOS MUNICPIOS DO ACRE - ISMAC ................................................. 318

    VII - REFERNCIAS ................................................................................................................................................................ 322

    VIII - GLOSSRIO DE TERMOS TCNICOS ..................................................................................................................... 334

    IX - SIGLAS UTILIZADAS ..................................................................................................................................................... 348

    X - PARTICIPARAM DO ZEE-ACRE FASE II ..................................................................................................................... 351

  • 7/23/2019 ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE II -DOCUMENTO SNTESE

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.000 13

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Localizao do Acre na Amrica do Sul e Brasil .........................................................................................41

    Figura 2. Regionais de Desenvolvimento do Estado do Acre ..................................................................................42

    Figura 3. Distribuio das Unidades Geolgicas do Estado do Acre ...................................................................45

    Figura 4. Distribuio das Unidades Geomorfolgicas do Estado do Acre .......................................................47

    Figura 5. Distribuio dos Solos do Estado do Acre, simplificado em nvel de ordem .................................50Figura 6. Distribuio das Tipologias Florestais no Estado do Acre .....................................................................60

    Figura 7. Distribuio da Vulnerabilidade do Estado do Acre ................................................................................69

    Figura 8. Distribuio da Vulnerabilidade na regio do entorno da sede do Municpio de Rio Branco,

    capital do Estado do Acre ....................................................................................................................................................71

    Figura 9. Distribuio das unidades de paisagens biofsicas no Estado do Acre ............................................76

    Figura 10. Distribuio das unidades de paisagens no entorno da sede do Municpio de Cruzeiro do

    Sul ................................................................................................................................................................................................77

    Figura 11. rea Plantada das Principais Lavouras Temporrias, por Municpio, para o ano de 2004, no

    Estado do Acre ........................................................................................................................................................................83

    Figura 12. rea Plantada das Principais Lavouras Permanentes, por Municpio, para o ano de 2004, no

    Estado do Acre ........................................................................................................................................................................84

    Figura 13. Percentual de reas desmatadas e reas de floresta por Municpio no Estado do Acre, no ano

    de 2004 ......................................................................................................................................................................................86

    Figura 14. Distribuio das reas desmatadas e reas de floresta por Municpio no Estado do Acre, at o

    ano de 2004 ..............................................................................................................................................................................87

    Figura 15. Agrupamento da Intensidade de Desmatamento nos Municpios do Acre, 2004 .....................88

    Figura 16. Participao em percentual dos Estados do Mato Grosso, Par, Rondnia, Amazonas, Acre,

    Maranho e Tocantins no desmatamento total da Amaznia no perodo de 2001 2005 ........................89

    Figura 17. Incremento da rea de Desmatamento em Km por ano dos Estados do Acre, Par, Rondnia,

    Mato Grosso e Amazonas, no perodo de 1999 2005 ............................................................................................89

    Figura 18. ndices percentuais de incremento anual de Desmatamento na Amaznia e no Acre no per-odo de 1988 2005 ...............................................................................................................................................................90

    Figura 19. Mapa Poltico com os novos limites municipais e incluso da Linha Cunha Gomes, Estado do

    Acre, 2006 ............................................................................................................................................................................... 105

    Figura 20. Sistema Estadual de reas Naturais Protegidas, Estado do Acre, 2006 ....................................... 111

    Figura 21. Crescimento acumulado do Valor Adicionado das atividades econmicas entre 1998

    2004 .......................................................................................................................................................................................... 126

    Figura 22. Eixos de integrao das rodovias do Estado do Acre com pases sulamericanos, 2006 ....... 133

    Figura 23. Rotas Areas do Estado do Acre, 2006 .................................................................................................... 134

    Figura 24. Quantidade de Borracha subsidiada, em toneladas, no perodo de 1999 2006 .................. 139

    Figura 25. Produo de Castanha do Brasil, em toneladas, no perodo de 1998 2006 ........................... 140

    Figura 26. Preo da lata de Castanha do Brasil, no perodo de 1998 2006, Estado do Acre .................. 141Figura 27. Renda do Extrativista com a Castanha do Brasil, no perodo de 1998 2006, Estado do

    Acre ............. ............. .............. ............. .............. .............. ............. .............. ............. .............. .............. ............. .............. .. 142

    Figura 28. Evoluo da rea colhida com lavouras temporrias e lavouras permanentes e rea total

    cultivada com agricultura no Acre, entre 1990 e 2004 .......................................................................................... 154

    Figura 29. Taxa de lotao das pastagens nos Municpios do Estado do Acre, em 2004 .......................... 156

    Figura 30. Variao do rebanho bovino e da rea desmatada no Acre, entre 1990 e 2004 ...................... 158

    Figura 31. Recursos prprios do Tesouro aplicado, em Educao, no perodo de 1998 2005 .............. 171

    Figura 32. Taxa de Mortalidade Bruta do Acre, em relao Regio Norte e Brasil, no perodo de 2000 a

    2003 .................................................................................................................................. ........................................................ 172

    Figura 33. Percentual de cobertura populacional da Estratgia de Sade da Famlia no Acre, no perodode 1999 2005 ....................................................................................................................................... .............................. 173

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.00014

    Figura 34. Evoluo de investimento per capita em sade por fonte de Financiamento, no Estado do

    Acre, no perodo de 1999 2005 ................................................................................................................................... 176

    Figura 35. Distribuio, quantitativo e comparativo dos patrimnios identificados no Estado por

    regionais (Fonte: ZEE/AC 2005) ...................................................................................................................................... 196

    Figura 36. Densidade de Stios Arqueolgicos do Estado do Acre .................................................................... 198

    Figura 37. Modelo Simplificado de Interaes entre Cidades Gmeas ........................................................... 251

    Figura 38. Tipologias das Interaes Fronteirias, Brasil (Acre), Peru (Madre de Dios), Bolvia (Pando),2005 ............................................................................... ........................................................................................................... 253

    Figura 39. Interaes nas Cidades Gmeas Assis Brasil/ Iapari Fronteira Brasil (Acre)/ Peru (Madre de

    Dios) 2006 ............................................................................................................ ............................................................... 254

    Figura 40. Perfil de participantes das Oficinas realizadas nos 22 Municpios do Estado do Acre, 2006 ... ..... 278

    Figura 41. Grau de relevncia do Tema gua nas Oficinas realizadas nos 22 Municpios do Estado do

    Acre, 2006 ............................................................................................................................................................................... 278

    Figura 42. Grau de relevncia do Tema Produo nas Oficinas realizadas nos 22 Municpios do Estado do

    Acre, 2006 ............................................................................................................................................................................... 279

    Figura 43. Grau de relevncia do Tema Conflitos nas Oficinas realizadas nos 22 Municpios do Estado do

    Acre, 2006 ............................................................................................................................................................................... 279

    Figura 44. Grau de relevncia do Tema Desmatamento nas Oficinas realizadas nos 22 Municpios doEstado do Acre, 2006 .......................................................................................................................................................... 279

    Figura 45. Fluxograma Simplificado da Elaborao do Mapa de Gesto Territorial do Estado do Acre ...... .. 286

    Figura 46. Distribuio hierrquica de Zona, Subzona e Unidade de Manejo, no mbito do ZEE/AC .... 293

    Figura 47. Ocupao do territrio da Zona 1, no Estado do Acre .................................................... .................. 294

    Figura 48. Ocupao do territrio da Zona 2, no Estado do Acre .................................................... .................. 295

    Figura 49. Ocupao do territrio da Zona 3, no Estado do Acre ...................................................................... 296

    Figura 50. Ocupao do territrio Zona 4, no Estado do Acre ......................................................... ................... 296

    Figura 51. Distribuio das Zonas do Territrio acreano, no mbito do ZEE - Acre .................................... 297

    Figura 52. Ocupao do Territrio pela Sub-zona 1.1 ............................................................................................ 304

    Figura 53. Ocupao do Territrio pela Sub-zona 1.2 ............................................................................................ 306

    Figura 54. Distribuio das Sub-zonas na Zona 2 .................................................................................................... 307

    Figura 55. Indicadores de Sustentabilidade dos Municpios do Acre - ISMAC ............................................... 320

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.000 15

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Descrio das Unidades Pedolgicas do Estado do Acre, com base no Mapa de Pedologia do

    ZEE Fase II ..................................................................................................................................................................................51

    Tabela 2. Distribuio das Ordens de Solos no Estado do Acre, de acordo com o Mapa de Solos na escala

    1:250.000 do ZEE Fase II .......................................................................................................................................................52

    Tabela 3. Classes de Vegetao ocorrentes no Estado do Acre ZEE fase II .....................................................59Tabela 4. Riqueza de Espcies de Vertebrados no Estado do Acre (ZEE/AC), no Brasil (LEWINSOHN &

    PRADO, 2002) e em todo o mundo (BRASIL, 1998) ....................................................................................................65

    Tabela 5. Classes de Fragilidade Ambiental para o Estado do Acre .....................................................................71

    Tabela 6. Descrio do nmero de classes para Geologia, Geomorfologia, Pedologia e Tipologias

    Florestais, para a composio das Unidades de Paisagem do Estado do Acre ................................................75

    Tabela 7. Anlise sntese da distribuio das Unidades de Paisagem nas Regionais do Estado do Acre ........ 76

    Tabela 8. Anlise sntese da distribuio das Unidades de Paisagem nos Municpios do Estado do Acre ......79

    Tabela 9. ndice de Diversidade relacionado com a populao (IDPOP) e ndice de Diversidade

    relacionado com o remanescente florestal (IDFlo) dos Municpios do Estado do Acre ...............................80

    Tabela 10. Incremento e taxa mdia anual do Desmatamento no Acre e na Amaznia, no perodo de

    1988 a 2005 ..............................................................................................................................................................................90

    Tabela 11. reas dos Territrios Municipais, por Regional, antes e aps incluso do novo limite da Linha

    Cunha Gomes, Estado do Acre, 2006 ........................................................................................................................... 104

    Tabela 12. Situao das Terras do Estado do Acre, 2006 ....................................................................................... 106

    Tabela 13. reas Naturais Protegidas do Estado do Acre, 2006 .......................................................................... 107

    Tabela 14. Comparao dos dados das reas Oficiais, Reais e do Geoprocessamento do ZEE II em relao

    s Unidades de Conservao do Estado do Acre, 2006 ......................................................................................... 110

    Tabela 15. Diagnstico das Terras Indgenas do Estado do Acre, 2006 ............................................................ 112

    Tabela 16. Projetos de Assentamentos no Estado do Acre, 2006 ....................................................................... 118

    Tabela 17. Produto Interno Bruto (PIB), do Estado do Acre, perodo de 1998 2004 ................................. 124

    Tabela 18. Participao (%) dos Setores e das Atividades Econmicas no Valor Adicionado (VA) Acreano,no perodo de 1998 2004 .............................................................................................................................................. 126

    Tabela 19. Participao (%) das atividades econmicas no crescimento do Valor Adicionado ( VA) Acreano,

    no perodo de 1998 2004 .............................................................................................................................................. 127

    Tabela 20. Valor Bruto da Produo (VBP) do Acre, no perodo de 1999 2003 .......................................... 129

    Tabela 21. Estimativa da distribuio das florestas do Acre, por regime de propriedade, por regionais ..... 148

    Tabela 22. Participao Percentual da Populao Urbana sobre a Populao Total, no Brasil e Estados da

    Regio da Amaznia Legal - 1980/1991/2000 ................................................................ .......................................... 164

    Tabela 23. Taxa mdia geomtrica de crescimento anual da populao residente, Brasil e Acre-

    1950/2000 .......................................................................................................................................... .................................... 164

    Tabela 24. Distribuio de Populao residente no Estado do Acre, em 2000 e 2005 .................... ........... 167

    Tabela 25. ndices de Abandono e Reprovao, no Estado do Acre, em 2000 e 2004 ............................ ... 171Tabela 26. Taxas de Mortalidade Infantil, Perinatal e Neonatal, no Estado do Acre, no perodo de 2001 a

    2005 .................................................................................................. ........................................................................................ 173

    Tabela 27. Tipos de Unidades do Estado do Acre, por Municpio, no ano de 2005 ......................... ............ 174

    Tabela 28. Oferta de consultas mdicas por habitante-ano, nas especialidades bsicas, no perodo de

    2001 a 2005, no Estado do Acre ...................................................................................... ............................................... 175

    Tabela 29. Situao das Unidades de Conservao do Acre, em relao ao Plano de Manejo e Conselho

    Gestor, 2006 ........................................................................................................................................................................... 202

    Tabela 30. Caracterizao das Reservas Extrativistas do Acre, 2006 ................................................................. 209

    Tabela 31. Relao das Associaes Indgenas do Estado do Acre, de acordo com os Municpios e Terras

    Indgenas ................................................................................................................................................................................ 221

  • 7/23/2019 ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE II -DOCUMENTO SNTESE

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    Tabela 32. Relao de reas Protegidas do Estado do Acre, situadas na fronteira internacional Brasil-

    Per .......................................................................................................................................................................................... 257

    Tabela 33. Relao de reas Protegidas na fronteira peruana, 2006 ................................................................ 258

    Tabela 34. Dados sobre recursos naturais no Estado do Acre no mbito do ZEE-AC, Fase II ................... 290

    Tabela 35. Matriz de critrios e indicadores para a estratificao de espaos territoriais em zonas .... 298

    Tabela 36. Valores sntese dos indicadores para Infraestrutura, Demografia, Intensidade de Uso, Social,

    Economia e ocupao da terra que compen o Indicador Sntese de Sustentabilidade dos Municpios doAcre (ISMAC) .......................................................................................................................................................................... 321

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.000 17

    O Estado do Acre desempenhou um papel re-

    levante na histria da regio Amaznica durante

    a expanso da economia da borracha no fim do

    sculo XIX pelo potencial de riqueza natural dos

    rios acreanos e pela qualidade e produtividade

    dos seringais existentes em seu territrio. O Acre

    foi cenrio do surgimento de organizaes sociais

    e polticas inovadoras nas ltimas dcadas do s-

    culo XX baseadas na defesa do valor econmico

    dos recursos naturais. E hoje, tendo optado por

    um modelo de desenvolvimento que busca conci-

    liar o uso econmico das riquezas da floresta com

    a modernizao de atividades que impactam omeio ambiente, reassume importncia estratgi-

    ca no futuro da Amaznia. O Acre vem mostrando

    que possvel crescer com incluso social e prote-

    o do meio ambiente.

    Nessa permanente relao entre histria,

    ambiente, economia e sociedade, em diferentes

    momentos no tempo, a sociedade acreana cons-

    tituiu diferentes identidades sociais: de ndios,

    seringueiros, regates, ribeirinhos e paulistas,

    resultado da insero de cada segmento em um

    momento diferente da histria. O resultado uma

    sociedade multifacetada, no raro em conflito,

    que se desenvolveu em um contexto de disputa

    por territrios e recursos.

    O perodo histrico coberto pela constituio

    desses atores sociais amplo: desde os primeiros

    grupos indgenas que se deslocaram para esta re-

    gio h mais de cinco mil anos, os povos que vie-

    ram em funo do extrativismo da borracha, nor-

    destinos, alm dos srios e libaneses e, finalmente,

    o contingente das recentes migraes do sul dopas ocorridas no incio dos anos 70 do sculo XX.

    A perspectiva histrica perpassa todos os te-

    mas abordados no Programa Estadual de Zonea-

    mento Ecolgico-Econmico (ZEE) do Acre: da si-

    tuao atual dos recursos naturais, passando pela

    evoluo econmica e populacional e chegando

    aos aspectos sociais, culturais e polticos, tema

    principal desta introduo. A influncia mais mar-

    I - INTRODUO1.1. TRAJETRIAS ACREANAS1

    1

    BEZERRA, M. J.; NEVES, M. V. Trajetrias Acreanas ndios, Seringueiros, Ribeirinhos, Srio-Libaneses e Sulistas como atores deformao do Acre. Rio Branco: SEMA/IMAC. Artigo produzido para o ZEE Fase II, 2006. Trabalho no publicado.

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.00018

    cante do processo de ocupao est no fato de o

    Acre ainda manter quase a totalidade de sua flo-

    resta intacta. Isso decorre da poca, do modo e da

    relativa recentidade de seu processo de ocupao

    e, ao mesmo tempo em que explica o passado,

    constitui a base do futuro.

    Sociedades indgenas

    O povoamento humano do Acre teve incio,

    provavelmente, entre 20 mil e 10 mil anos atrs,

    quando grupos provenientes da sia chegaram

    Amrica do Sul aps uma longa migrao e ocu-

    param as terras baixas da Amaznia. Registros

    arqueolgicos s recentemente estudados vem

    permitindo o conhecimento das origens dessas

    culturas imemoriais. Mas foi do conflito entre

    grupos indgenas e migrantes nordestinos que seoriginou a sociedade acreana tal como a conhece-

    mos na atualidade.

    Em meados do sculo XIX, quando a regio

    amaznica comeou a ser conquistada e inserida

    no mercado, a ocupao dos altos rios Purus e Ju-

    ru pelos povos nativos apresentava uma diviso

    territorial entre dois grupos lingusticos com sig-

    nificativas diferenas: no Purus havia o predom-

    nio de grupos Aruan e Aruak, do mesmo tronco

    lingustico, no vale do Juru havia o predomnio

    de grupos Pano. Cinco grupos nativos diferentes

    ocupavam os espaos da Amaznia Sul Ocidental.No mdio curso do rio Purus, hoje Estado do

    Amazonas, habitavam povos de lngua Aruan do

    tronco Aruak. Grupos pouco aguerridos, eram ge-

    ralmente submetidos por outros ou se refugiavam

    na terra firme, espalhando-se por diversos afluen-

    tes de ambas as margens do mdio Purus. Segun-

    do recentes anlises lingusticas, essa famlia teria

    uma antiguidade em torno de 2 mil anos.

    No alto curso do rio Purus e no baixo rio Acre

    estavam estabelecidas diversas tribos do tronco

    lingustico Aruak: Apurin, Manchineri, Kulina,Canamari, Piros, Ashaninka. Esses grupos se espa-

    lhavam desde a confluncia do Pauini com o Pu-

    rus at a regio das encostas orientais do Andes,

    cerca de 5 mil anos atrs. Teriam resistido expan-

    so das civilizaes andinas antes de enfrentar o

    avano dos brancos sobre suas terras na poca da

    borracha.

    No alto curso dos rios Acre, alto Iquiri, Abun e

    outros afluentes do rio Madeira, em territrio boli-

    viano, havia um enclave de grupos falantes de ln-

    gua Takana e Pano. Alguns eram bastante aguer-

    ridos, como os Pacaguara, e outros mais sociveis,

    como os Kaxarari, que mantinham ativo contato

    com os Apurin, apesar das diferenas lingusticas

    e culturais entre os dois grupos. A lngua Takana

    de origem mais recente, tendo surgido entre 3 mil

    e 2 mil anos atrs.

    Na regio intermediria entre o mdio curso

    do Purus e o Juru, ao norte do Acre, habitavam

    os Katukina, sobre os quais h raras informaes.

    Esse grupo teria surgido h cerca de 2 mil anos.Eram pouco numerosos e ficavam contidos entre

    os Aruak ao leste e os Pano a oeste, restando-lhes

    a explorao das terras firmes menos ricas em ali-

    mentos que as margens dos grandes rios.

    Considervel espao do mdio e alto curso

    do rio Juru e seus afluentes - como o Tarauac, o

    Muru, o Envira, o Moa - era dominado por nume-

    rosos grupos falantes da lngua Pano: Kaxinawa,

    Jaminawa, Amahuaca, Arara, Rununawa, Xixina-

    wa, grupo lingustico com cerca de 5 mil anos.

    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.00018

  • 7/23/2019 ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE II -DOCUMENTO SNTESE

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    Devido ao seu carter guerreiro, os Pano conquis-

    taram territrios de outros povos e tambm do

    mesmo tronco lingustico. Esse fato ajuda a expli-

    car a fragmentao que eles apresentavam quan-

    do os nordestinos comearam a chegar regio.

    Economia da borrachaA ocupao do territrio habitado por indge-

    nas e que hoje forma o Estado do Acre teve in-

    cio com o primeiro ciclo econmico da borracha,

    por volta da segunda metade da dcada de 1800.

    Esse ciclo, que marcou os Estados da Amaznia,

    em geral, est associado com a demanda indus-

    trial internacional da Europa e dos EUA, a partir de

    fins do sculo XIX. Para suprir procura pela bor-

    racha, foi organizado um sistema de circulao de

    produtos e mercadorias conectando seringueirose seringalistas que comandavam a produo na

    Amaznia a comerciantes do Amazonas e Par e

    grupos financeiros da Europa, lanando os funda-

    mentos da empresa extrativa da borracha.

    A ocupao do Estado do Acre, diferentemen-

    te de outros Estados da Amaznia, apresenta al-

    gumas particularidades que merecem destaque,

    por suas consequncias sociais, culturais e pol-

    ticas. Grande parte dessas particularidades est

    associada com questes fundirias histricas e

    as lutas que essas desencadearam, desde 18672,

    quando o governo do Imprio do Brasil assina o

    Tratado de Ayacucho, reconhecendo ser da Bol-

    via o antigo espao que hoje pertence ao Estado

    do Acre.

    A partir de 1878, a empresa seringalista alcan-

    ou a boca do rio Acre controlando a explorao

    em todo o mdio Purus e, em 1880, ultrapassou a

    Linha Cunha Gomes, limite final das fronteiras le-

    gais brasileiras, expandindo-se para territrio boli-

    viano. Intensa seca ocorrida na regio nordestina,

    em 1877, disponibilizou a mo de obra necessria

    para o empreendimento extrativista, populao

    que no estava conseguindo a sobrevivncia em

    fazendas e pequenas propriedades agrcolas doNordeste. Na sequncia, em 1882, os migrantes

    que vieram do Nordeste brasileiro, fugindo das se-

    cas, fundaram o seringal Empresa, que mais tarde

    veio a ser a capital do Acre, Rio Branco.

    Nessa poca, o governo da Bolvia pretendia

    passar o controle do territrio do Acre para o An-

    glo-Bolivian Syndicate de Nova York, por meio

    de um contrato que concedia no s o monop-

    lio sobre a produo e exportao da borracha,

    como tambm auferia os direitos fiscais, manten-

    do ainda as tarefas de polcia local. A reao dosacreanos se concretizou com a rebelio de Plci-

    do de Castro. Tambm o governo brasileiro iniciou

    aes diplomticas, capitaneadas pelo Baro de

    Rio Branco.

    Em 1901, Lus Galvez, com o apoio do gover-

    nador do Estado do Amazonas, proclamou o Acre

    Estado Independente, acirrando os conflitos entre

    bolivianos, seringueiros e seringalistas.

    As negociaes entre o governo brasileiro e o

    boliviano chegaram a um acordo em 1903, com

    a assinatura do Tratado de Petrpolis, por meio

    do qual o Brasil incorporou ao territrio nacional

    uma extenso de terra de quase 200 mil km, que

    foi entregue a 60 mil seringueiros e suas famlias

    para que l pudessem exercer as funes extrati-

    vas da borracha.

    Historicamente, a migrao dos nordestinos

    ampliou as fronteiras do pas na Regio Norte e

    2SCHEFFLER, L. F. Macrotendncias do Estado do Acre. Rio Branco: SEMA/IMAC. Artigo produzido para o ZEE Fase II, 2006.Trabalho no publicado

  • 7/23/2019 ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE II -DOCUMENTO SNTESE

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.00020

    contribuiu para a gerao de riquezas oriundas do

    crescente volume e valor das exportaes brasi-

    leiras de borracha no perodo. A crise de preos

    desse produto, nos primeiros anos do sculo XX,

    acabou dando origem a um modelo de ocupao

    baseado em atividades de subsistncia e comer-

    ciais em escala reduzida, dependente diretamen-te dos recursos naturais disponveis no local.

    Contudo, a partir de 1912, o Brasil perdeu a

    supremacia da borracha. Esse fato foi ocasionado

    pelos altos custos da extrao do produto, que

    impossibilitavam a competio com as planta-

    es do Oriente; inexistncia de pesquisas agro-

    nmicas em larga escala devidamente amparadas

    pelo setor pblico; falta de viso empresarial dos

    brasileiros ligados ao comrcio da goma elstica;

    carncia de uma mo de obra barata da regio,

    elemento essencial ao sistema produtivo; insufi-cincia de capital financeiro aliada distncia e

    s condies naturais adversas da regio. Os se-

    ringueiros que trabalhavam na extrao do ltex

    se mantiveram em alguns seringais, sobreviven-

    do por meio da explorao da madeira, pecuria,

    comrcio de peles e atividades ligadas coleta e

    produo de alimentos.

    Por mais de cem anos essa sociedade teve

    como base a explorao da borracha, castanha,

    pesca, madeira, agricultura e pecuria em pe-

    quena escala. Se, por um lado, essa tradio con-

    tribuiu para a manuteno quase inalterada dos

    recursos naturais, gerou graves desigualdades so-

    ciais pela ausncia de polticas de infraestrutura

    social e produtiva para a maioria da populao.

    Impacto sobre as sociedadesindgenas

    Como parte do mesmo processo desencadeado

    pela demanda da borracha, caucheiros peruanosvindos do sudoeste cortavam a regio das cabe-

    ceiras do Juru e do Purus, enquanto os primeiros

    seringalistas bolivianos comeavam a se expandir

    pelo vale de Madre de Dos e ocupar as terras acre-

    anas pelo sul. Frente a essas investidas, os povos

    nativos da regio viram-se cercados por brasileiros,

    peruanos e bolivianos sem ter para onde fugir ou

    como resistir enorme presso que vinha do capi-

    tal internacional, que dependia da borracha amaz-

    nica. Para os ndios inaugurou-se um novo tempo:

    de senhores das terras da Amaznia sul-ocidental

    passaram a ser vistos como entrave explorao

    da borracha e do caucho na regio.

    Desde o estabelecimento da empresa extrati-

    vista da borracha at a dcada de 1980, os ndios

    do Acre passaram por uma longa fase de degra-

    dao de sua cultura tradicional, que inclui ex-

    propriao da mo de obra, descaracterizao da

    cultura e desestruturao da organizao social.O encontro entre culturas indgenas e no-in-

    dgenas foi marcado pelo confronto, que se ex-

    pressou de forma cruel e excludente. Entre os anos

    de 1880 e 1910, o intenso ritmo da explorao da

    borracha resultou no extermnio de inmeros

    grupos indgenas. Alm disso, o estabelecimen-

    to da empresa extrativista da borracha alterou a

    forma de organizao social dos ndios. Alguns

    pequenos grupos ainda conseguiram se refugiar

    nas cabeceiras mais isoladas dos rios, mas a gran-

    de maioria foi pressionada a se modificar para no

    desaparecer.

    A escassez da mo de obra levou ao emprego

    crescente das comunidades indgenas remanes-

    centes nos seringais. Os comerciantes srio-libane-

    ses substituram as casas aviadoras de Belm e Ma-

    naus na funo de abastecer os barraces e manter

    ativos os seringais, e a populao foi se estabele-

    cendo na beira dos rios, dando origem a um seg-

    mento social tradicional do Estado, os ribeirinhos.

    Srios e libaneses

    No passado, os regates - mascates das guas

    da Amaznia - aportavam s margens dos serin-

    gais abastecendo seus moradores de produtos di-

    versos, inclusive miudezas, destacando-se, entre

    esses personagens, os srios e libaneses, que reali-

    zaram uma trajetria histrica significativa para a

    formao do Acre. Essa migrao de origem sria e

    libanesa foi realizada por conta dos prprios imi-

    grantes, de maneira no-oficial ou subsidiada.

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    Esses imigrantes e seus descendentes conse-

    guiram vencer a opinio corrente que um dia os

    considerou marginais. Pesou tambm o fato de

    que, com o passar do tempo, houve uma gradativa

    miscigenao com a populao local, proporcio-

    nando uma descendncia de legtimos filhos daterra. Como acreanos natos, os filhos do Oriente

    Prximo estavam em igualdade de condies com

    os de outros imigrantes nacionais ou estrangeiros.

    O bem-estar econmico alcanado por muitos s-

    rios e libaneses assegurou educao de qualidade

    para seus filhos, que passaram a se integrar, em su-

    cessivas geraes, economia e elite local.

    Ribeirinhos

    No curso dos anos de explorao da borracha

    e mesmo entre as crises, s margens dos rios do

    Acre estabeleceram-se os ribeirinhos, que consti-

    turam comunidades organizadas a partir de uni-

    dades produtivas familiares que utilizam os rioscomo principal meio de transporte, de produo

    e de relaes sociais.

    O ribeirinho, em sua maioria, oriundo do

    Nordeste ou descende de pessoas daquela re-

    gio. Destacamos que, com as agudas crises da

    borracha, muitos desses homens e suas famlias

    se fixaram nas margens dos rios, constituindo um

    tipo de populao tradicional com estilo prprio

    na qual o rio tornou-se um dos elementos centrais

    de sua identidade.

    Os produtores ribeirinhos desenvolvem uma

    economia de subsistncia bastante diversifica-

    da, ao mesmo tempo adaptada e condicionada

    pelo meio ambiente, sem agredi-lo com prticas

    como queima e desmatamento da floresta. Por

    isso, sempre estiveram junto com os seringueiros

    na organizao e defesa dos direitos de ocupao

    das reas onde viviam.

    Autonomia acreana

    Apesar de o Tratado de Petrpolis ter reco-

    nhecido o territrio acreano como brasileiro, a

    incorporao ocorreu na forma de territrio e no

    como um Estado independente. Isso desagradou

    o povo acreano, em razo de sua dependncia

    do poder executivo federal, pois significava que

    o Acre no tinha direito a uma Constituio pr-

  • 7/23/2019 ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE II -DOCUMENTO SNTESE

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.00022

    pria, no podia arrecadar impostos, dependia dos

    repasses oramentrios do governo federal e sua

    populao no poderia votar nas funes executi-

    vas ou legislativas.

    Alm disso, os administradores nomeados

    pelo governo federal no tinham nenhum com-

    promisso com a sociedade acreana, situaoagravada pela distncia e isolamento das cidades

    e ineficincia dos servios pblicos.

    A autonomia poltica do Acre tornava-se, en-

    to, a nova bandeira de luta. Comearam a ser

    fundados clubes polticos e organizaes de pro-

    prietrios e/ou de trabalhadores em diversas cida-

    des como Xapuri, Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Em

    poucos anos a situao social acreana se agravaria

    em muito devido reduo no preo da borracha,

    que passou a ser produzida no sudeste asitico.

    A radicalizao dos conflitos logo produziriaefeitos mais graves: o assassinato de Plcido de

    Castro, em 1908, um dos lderes da oposio ao

    governo federal, e em 1910, registrou-se a primei-

    ra revolta autonomista em Cruzeiro do Sul, sendo

    seguida por Sena Madureira, em 1912, e em Rio

    Branco, em 1918, todas sufocadas fora pelo go-

    verno brasileiro.

    A sociedade acreana viveu ento um dos pe-

    rodos mais difceis da sua histria. Os anos 20

    foram marcados pela decadncia econmica

    provocada pela queda dos preos internacionais

    da borracha. Os seringais faliram. Toda a riqueza

    acumulada havia sido drenada, ficando o Acre iso-

    lado.

    A populao local buscou novas formas de or-

    ganizao social e de encontrar novos produtos

    que pudessem substituir a borracha no comrcio

    internacional. Os seringais se transformaram em

    unidades produtivas mais diversificadas. Tiveram

    incio a prtica de agricultura de subsistncia que

    diminua a dependncia de produtos importados,a intensificao da colheita e exportao da cas-

    tanha e o crescimento do comrcio de madeira e

    de peles de animais silvestres da fauna amazni-

    ca. Comeavam assim, impulsionadas pela neces-

    sidade, as primeiras experincias de manejo dos

    recursos florestais acreanos.

    A situao de tutela poltica sobre a sociedade

    acreana, entretanto, mantinha-se inalterada. Nem

    mesmo o novo perodo de prosperidade da bor-

    racha, provocado pela Segunda Guerra Mundial,

    foi capaz de modificar esse quadro. Durante trs

    anos (1942-1945), a Batalha da Borracha trouxe

    mais famlias nordestinas para o Acre, repovoan-

    do e enriquecendo novamente os seringais.

    Essa melhoria do contexto econmico fez com

    que os anseios autonomistas ganhassem nova for-

    a e, em 1962, depois de uma longa batalha legis-

    lativa, o Acre ganhou o status de Estado e o povopassou a exercer plenamente sua cidadania.

    Segunda Guerra Mundial

    A ecloso da Segunda Guerra Mundial em

    1939 possibilitou um novo alento economia ex-

    trativa da borracha em decorrncia dos Acordos

    de Washington, que asseguraram o fornecimento

    de ltex para os pases aliados (Frana, Inglaterra e

    E.U.A.), em conflito com os pases do Eixo (Alema-

    nha, Itlia e Japo) devido ao controle dos serin-gais asiticos pelos japoneses.

    Na dcada de 1940, teve incio um aumento na

    demanda externa por ltex, o que levou o governo

    brasileiro a promulgar o decreto-lei n 5.813, de

    14/09/45, criando no pas a oportunidade de tra-

    balho na extrao do ltex, em lugar de prestao

    do servio militar obrigatrio. Isso resultou, nova-

    mente, na vinda de contingentes de nordestinos

    para o Acre, mas esse novo ciclo durou pouco.

    A mobilizao e encaminhamento de mo de

    obra para a Amaznia foram realizados por ini-

    ciativa de rgos governamentais especialmente

    criados para esse fim, como o DNI (Departamento

    Nacional de Imigrao), SEMTA (Servio de Mobili-

    zao de Trabalhadores para a Amaznia) e CAETA

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.000 23

    (Comisso Administrativa de Encaminhamento de

    Trabalhadores para a Amaznia). O objetivo era

    suprir os seringais de trabalhadores, uma vez que,

    no perodo de 1920 a 1940, a taxa de crescimen-

    to demogrfico da regio chegou ao percentual

    irrisrio de 0,05%. A populao do Par decres-

    ceu 0,01% ao ano e a do Amazonas cresceu taxade 0,1% ao ano, enquanto no antigo territrio do

    Acre a populao decresceu taxa de 8,8% ao ano,

    transformando-se numa zona de repulso demo-

    grfica. ( Vergolino, apud Martinello, 2004).

    medida que a crise da economia extrativista

    da borracha se acentuava, os seringalistas reivin-

    dicavam do governo federal uma poltica de va-

    lorizao da borracha. Foram realizadas Confern-

    cias Nacionais da Borracha, no perodo de 1946 a

    1950. Entretanto, apesar das polticas implemen-

    tadas, a produo da borracha acreana no maisvoltou aos patamares do perodo da guerra.

    Entre os anos de 1940 at final de 1960, o

    Acre ficou relativamente isolado da economia

    internacional e nacional, mesmo aps a constru-

    o das rodovias Belm-Braslia e Braslia-Acre. A

    partir desse perodo, a migrao para os Estados

    da Amaznia brasileira, em geral, acelera-se, pois

    coincide com o momento em que o planejamento

    regional se mostrava como uma sada para o orde-

    namento do crescimento econmico, resultando

    na transformao da antiga Superintendncia de

    Valorizao Econmica da Amaznia em Superin-

    tendncia de Desenvolvimento da Amaznia (Su-

    dam), do Banco de Crdito da Borracha em Banco

    da Amaznia (Basa) e na criao da Zona Franca

    de Manaus.

    Expanso da fronteiraagropecuria

    A dcada de 70 trouxe profundas alteraesnesse cenrio decorrente da reorientao do mo-

    delo de desenvolvimento da Amaznia produzido

    pelos militares. Visto como um Estado marginali-

    zado e pouco desenvolvido, para o Acre foram

    orientados investimentos em pecuria e agricul-

    tura que alterariam radicalmente a base de recur-

    sos naturais e a vida de sua populao.

    O Estado do Acre no ficou imune aos avan-

    os nas frentes de expanso e a outros fenme-

    nos ligados dinmica da economia brasileira.

    Por exemplo, ao final da dcada de 1960, confi-

    gurou-se um contexto de valorizao do mercado

    de terras, em consequncia da concretizao das

    condies prvias para a expanso da produo

    agropecuria no pas: implantao de indstrias

    produtoras de mquinas, implementos e insumos

    qumicos e biolgicos para essa produo, bem

    como as indstrias que beneficiam as matrias-primas agropecurias; tambm desse perodo a

    institucionalizao do Sistema Nacional de Crdi-

    to Rural (1965).

    Em consequncia, constituram-se os comple-

    xos agroindustriais no Brasil, em geral dominados

    por empresas transnacionais, que passam a esti-

    mular o que e como produzir para o mercado in-

    terno e externo, pois detm expresso econmica

    e poltica capaz de impor seus interesses.

    Sulistas no Acre

    Os anos 70 e 80 desenharam outro contexto

    para o Acre com a vinda dos chamados paulistas.

    Essa identidade foi atribuda de forma genrica a

    grandes empresrios sulistas e migrantes rurais

    que vieram para o Acre com objetivo de especular

    com a compra de grandes seringais.

    importante salientar que, apesar de nmero

    razovel de pessoas oriundas das regies Sul e Su-

    deste para os Projetos de Colonizao, houve umgrande nmero de pessoas residentes em reas

    de florestas ou rurais dirigidas para os Projetos de

    Assentamento. Nesse sentido, os assentamentos

    serviam para atenuar presses do Sul e Sudeste,

    mas principalmente das existentes no Acre, pela

    qual muitas pessoas foram mortas e expulsas de

    suas terras.

    Embora dados do Incra indiquem a atual exis-

    tncia de concentrao de reas nas mos de

    grandes proprietrios, mesmo dentro dos proje-

    tos de colonizao, esse fato no ocorria na po-

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.00024

    ca da criao deles. Naquela oportunidade, esses

    espaos foram loteados e ocupados por famliaspobres e sem terra, basicamente seringueiros e

    posseiros.

    Presses vindas de vrios segmentos sociais

    contriburam para a criao dos projetos de colo-

    nizao do Acre, entre os quais se destacaram os

    ex-seringueiros e posseiros expulsos dos seringais

    por ocasio do processo de transferncia das ter-

    ras acreanas para os fazendeiros do Centro-Sul.

    Em meados de 70 do sculo XX, as tenses en-

    tre pecuaristas e latifundirios de um lado e serin-

    gueiros do outro fomentaram a expropriao des-

    tes dos seringais, dando origem a um contingente

    de desempregados nos bairros e no entorno das

    cidades acreanas. Parcela significativa de famlias

    migrou para os seringais da Bolvia, ali constituin-

    do famlia e criando novas identidades. Esse novo

    ator social foi designado por um grupo de estu-

    diosos como brasivianos.

    Contexto diferente ocorreu nos anos 80, quan-

    do os seringueiros passaram a se organizar poli-

    ticamente devido as fortes tenses e pela expro-priao de suas terras e da proibio do uso dos

    recursos naturais.

    Reao da sociedade

    Diferentemente de outras regies da Ama-

    znia, que passaram pelo mesmo processo e, ao

    fim da dcada de 90, havia sido alterada profun-

    damente a configurao scio-econmica de sua

    populao, por influncia de migrantes oriundos

    do Sul do Brasil, no Acre comunidades tradicio-

    nais de seringueiros, indgenas e pequenos agri-

    cultores reagiram s mudanas. Apoiados por ins-tituies da Igreja Catlica como CPT (Comisso

    Pastoral da Terra) e CIMI (Conselho Indigenista

    Missionrio), organizaes sindicais como Contag

    (Confederao dos Trabalhadores em Agricultu-

    ra), polticas como PT (Partido dos Trabalhadores)

    e CUT (Central nica dos Trabalhadores), seg-

    mentos at ento marginalizados organizaram a

    defesa de territrios, recursos e modos de vida.

    Iniciativas voltadas para impedir desmatamentos

    - base econmica e meio de vida dessas popula-

    es - ficaram conhecidas no mundo inteiro, dan-

    do origem a alianas estratgicas que persistem

    ainda hoje.

    Ao custo de muitos conflitos e mortes, a socie-

    dade acreana conseguiu redirecionar o modelo

    econmico implantado pelos militares na dcada

    de 60. O assassinato de lderes representativos

    como Wilson Pinheiro e Chico Mendes, entre ou-

    tros, evidenciou a fora da reao da sociedade

    local aos agentes externos e produziu o recuo

    daqueles investidores que apenas buscavam ex-plorao de curto prazo dos recursos naturais e da

    fora de trabalho.

    A partir dos ltimos anos da dcada de 70 e du-

    rante os anos 80 e 90, o Acre passou a ser o cenrio

    de inmeras experincias inovadoras de gesto

    de recursos naturais e investimentos sociais, em

    parceria com instituies nacionais e internacio-

    nais. Ao mesmo tempo em que defendiam seus

    direitos, os diversos grupos sociais elaboravam

    novas propostas que foram sendo implementa-

    das, em pequena escala, em todo o Estado. Deve-

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.000 25

    se destacar a regularizao de territrios e acesso

    a recursos naturais na forma de Terras Indgenas,

    Projetos de Assentamento Extrativistas e Reservas

    Extrativistas e iniciativas voltadas para adquirir

    novas tecnologias e conhecimentos para utilizar

    esses recursos.

    Nesse contexto, merece destaque a atuaodas populaes tradicionais, mesmo daquelas

    que migraram para as cidades por fora da deses-

    truturao dos seringais, da valorizao das terras

    e da consequente concentrao fundiria, confor-

    me mencionado anteriormente.

    A partir de 1975, as populaes tradicionais

    da floresta comearam a se organizar e a desen-

    volver diferentes estratgias de resistncia. Foram

    fundados os primeiros sindicatos de trabalhado-

    res rurais em Brasilia, Xapuri, Rio Branco e Sena

    Madureira. A implantao da primeira Ajudnciada Funai no Estado possibilitou que se iniciasse o

    processo de demarcao e regularizao das ter-

    ras indgenas acreanas. A Igreja Catlica do Vale

    do Acre reforou a luta popular com as Comuni-

    dades Eclesiais de Base.

    Os conflitos foram se tornando cada vez mais

    explosivos e, em 1980, Wilson Pinheiro, presidente

    do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilia,

    foi assassinado. Muitas outras mortes ocorreriam,

    culminando com a de Chico Mendes, em 1988,

    que provocou o reconhecimento internacional da

    sua causa, na luta em defesa da floresta e de seus

    povos.

    No deve ser esquecida, nesse contexto, a im-portncia crescente que as questes ambientais

    vem assumindo, internacional e nacionalmente.

    Essa conjugao de circunstncias fez com

    que as populaes tradicionais recebessem apoio

    nacional e internacional dos diversos movimen-

    tos que apontavam a necessidade da manuten-

    o dos recursos naturais.

    No perodo de 1976 a 1985, o governo federal,

    por meio do Incra, deu incio a um processo massi-

    vo de discriminao das terras no Estado do Acre,

    cujo objetivo era identificar as terras pblicas dasparticulares, freando a ao nociva dos especula-

    dores e grileiros. No fim da dcada de 70, utilizan-

    do o procedimento de desapropriao para fins

    de reforma agrria, foram criados os primeiros

    Projetos de Assentamentos Dirigidos (PAD): Peixo-

    to e Boa Esperana, marco da colonizao oficial

    da Amaznia ao longo da BR-364.

  • 7/23/2019 ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE II -DOCUMENTO SNTESE

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.00026

    Dcada de 90

    A partir de meados dos anos 90, com a implan-

    tao do Plano Real e a relativa estabilidade mo-

    netria, os investimentos de longo prazo ficarammais atraentes, provocando queda no preo da

    terra. Essa queda, por sua vez, tornou mais aces-

    svel a aquisio de lotes que, associada aos pro-

    gramas de acesso ao crdito para a produo em

    pequenas e mdias reas (Pronaf e Procera), igual-

    mente estimulou a ocupao da Amaznia.

    Ainda no contexto de entendimento da ocu-

    pao do Acre, marcada pelo ciclo econmico da

    borracha, cuja matria-prima - ltex - extrada

    da natureza e no propriamente produzida, me-

    rece meno que as atividades extrativas, histo-

    ricamente, no tem gerado um processo de acu-

    mulao e crescimento econmico no local de

    onde so extrados os produtos e/ou matrias-

    primas. Em geral, a realizao desse potencial

    deslocada para as regies onde os produtos so

    industrializados e/ou comercializados. Assim, o

    potencial de acumulao gerado pelo ltex foi,

    em sua menor parte, apropriado pelos comer-

    ciantes e investido nas capitais dos Estados do

    Par e do Amazonas, porm, a maior parte foirealizada no exterior, onde a borracha era indus-

    trializada.

    Nesse sentido, o capital gerado no foi rein-

    vestido no setor industrial, de beneficiamento do

    prprio ltex ou de outros produtos extrativistas

    regionais ou, ainda, em outros setores produtivos.

    Em consequncia, o ciclo da borracha no foi ca-

    paz de engendrar oportunidades de crescimento

    econmico e gerao de emprego e renda.

    No entanto, pouco impactou os

    ecossistemas regionais, o que configu-

    ra um dos aspectos positivos do pro-

    cesso de ocupao do Estado do Acre,

    que, como se ver na sequncia, ainda

    dispe de um patrimnio natural prati-

    camente conservado.Em sntese, no Acre surgiram os

    movimentos sociais contra o desma-

    tamento na dcada de 70 e as primei-

    ras propostas da sociedade civil para

    conciliao entre desenvolvimento e

    meio ambiente na dcada de 80. Alm

    disso, tambm ali se desenvolveu a nica experi-

    ncia continuada de mais de dez anos de gesto

    pblica, municipal e estadual, voltada para a im-

    plementao de um modelo de desenvolvimento

    baseado na valorizao dos recursos florestais eda biodiversidade. Agora, o Acre inicia o processo

    de consolidao das mudanas para se constituir,

    de forma permanente, em referncia para o Brasil,

    as demais regies amaznicas e os pases vizinhos

    como o Estado brasileiro da florestania3.

    As trajetrias sociais e o Acreatual

    A territorialidade construda por ndios, serin-

    gueiros, regates, ribeirinhos e sulistas, a partir

    de suas trajetrias, condiciona sua participao

    no processo de construo de uma identidade

    acreana. Cada um desses segmentos atua como

    sujeito social que busca a realizao de um pro-

    jeto que possibilite a manuteno dos modos de

    vida que historicamente vem constituindo uma

    relao tensa e conflituosa de uns com os outros

    e de todos com a natureza. As trajetrias histri-

    cas e culturais experimentadas por to diferentes

    atores sociais ao longo da formao da sociedadeacreana deram origem a uma realidade multiface-

    tada que, mais do que uma sntese das diferenas,

    realiza e atualiza a noo de uma identidade re-

    gional a partir de sua interao.

    Essa contnua construo das identidades

    acreanas detm focos, sendo o principal de-

    les a relao cultural com a floresta. Esse ima-

    ginrio florestal, portanto, torna-se uma das

    formas de resistncia e um dos elementos de

    3O conceito de florestania sintetiza esse pensamento de melhoria de qualidade de vida e de valorizao dos ativos ambientaisdas populaes que vivem da floresta.

  • 7/23/2019 ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE II -DOCUMENTO SNTESE

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    Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre Fase II- Documento Sntese - Escala 1:250.000 27

    contgio s demais fraes territoriais existen-

    tes no Estado.

    O reconhecimento das territorialidades e iden-

    tidades desse atores sociais e a compreenso de

    suas diferenas histrico-culturais constituem os

    elementos fundantes da concepo de um Zo-

    neamento Ecolgico-Econmico do Acre comoinstrumento de um modelo de desenvolvimento,

    centrado na perspectiva da sustentabilidade e

    gestado a partir de sua prpria histria e configu-

    rao social.

    Atualidade

    Com o objetivo de executar e promover a re-

    gularizao, ordenamento e reordenamento fun-

    dirio rural e mediao de conflitos pela posse da

    terra, em 2001 o Estado criou o Instituto de Terrasdo Acre (Iteracre), com a finalidade de apoiar o go-

    verno do Estado na criao de novas reas de inte-

    resse pblico como as Unidades de Conservao

    (Uso Sustentvel e Proteo Integral), Projetos de

    Assentamentos e Terras Indgenas.

    No se pode desconsiderar, nesse contexto de

    conflitos e avanos na apropriao do patrimnio

    natural do Acre, que grandes reas de florestas

    esto atualmente protegidas sob o regime de

    Parques Nacionais, Unidades de Conservao, Re-

    servas Extrativistas e Terras Indgenas, conforme

    ser visto na Parte II desta publicao. Agregue-sea esses conflitos o fato de que no Acre encontra-

    se, tambm, um grande nmero de pequenas

    reas ocupadas pela populao ribeirinha. Alguns

    detm a propriedade legal da terra que ocupam,

    outros, no.

    Na atualidade, ainda persistem conflitos pela

    posse e uso dos recursos naturais no Estado do

    Acre, mas com configurao diferenciada. Aconte-

    cem, em sua maioria, entre grandes proprietrios

    que querem retirar a madeira e posseiros, mesmo

    nas reas que foram objeto de reforma agrria.Outros ainda esto relacionados com o desmata-

    mento e/ou retirada ilegal de madeira.

    Em geral, os conflitos atuais pela posse de

    terra identificados no Acre tiveram origem na de-

    manda reprimida de pretensos beneficirios da

  • 7/23/2019 ZONEAMENTO ECOLGICO-ECONMICO DO ACRE - FASE II -DOCUMENTO SNTESE

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    reforma agrria e na presso de grandes proprie-

    trios, para estender o desmatamento sobre reas

    de posse de seringueiros ou pequenos agriculto-

    res familiares.

    Recentemente, ocorreram ocupaes espon-

    tneas de reas destinadas s reservas legais de

    grandes propriedades, motivando aes de rein-tegrao de posse por parte dos proprietrios. A

    compra de grandes seringais, com moradia efe-

    tiva de ocupantes tradicionais, tambm constitui

    importante fator de gerao de conflito.

    H mais de trs dcadas, o desmatamento

    se apresenta como uma prtica comum, princi-

    palmente em grandes reas, quando a madeira

    de maior valor econmico j foi retirada e a rea

    est ocupada com pastagem. Essa prtica adquire

    maior gravidade quando atinge reas ocupadas

    por populaes extrativistas, que tem a florestacomo base de atividade econmica. Como essas

    reas esto condicionadas a atividades florestais

    e extrativistas, as populaes tradicionais preser-

    vam os recursos naturais de forma sustentvel, o

    que torna tais reas alvo de atrao para os ma-

    deireiros.

    Finalmente, importante lembrar que o con-

    junto de circunstncias aqui apresentadas, acerca

    do processo de ocupao do Estado do Acre, so

    responsveis pela conformao da sociedade, da

    economia e mesmo da situao atual dos recursosnaturais do Estado do Acre. responsvel, ainda,

    por uma srie de problemas sociais, econmicos e

    ambientais, cuja resoluo, em particular daque-

    les de incluso social, ordenamento territorial e

    desenvolvimento sustentvel, um dos principais

    objetivos do Zoneamento Ecolgico-Econmico,

    em sua segunda fase.