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Instituto Centro de Vida (ICV ) - Junho de 2009 A importância das Áreas Protegidas Propostas no ZSEE-MT O Instituto Centro de Vida (ICV) é uma OSCIP fundada em 1991, em Cuiabá, que vem trabalhando dentre outras atividades no monitoramento do desmatamento e da gestão florestal como também em estudos sobre a conservação da biodiversidade no Estado de Mato Grosso. Este documento é uma contribuição do ICV para a avaliação do Projeto de Lei do Zoneamento Socioeconômico Ecológico de Mato Grosso (ZSEE-MT) onde ressaltamos a importância da Categoria 4.2 - Áreas Protegidas Propostas. Introdução As Unidades de Conservação (UC), excluindo a categoria de Área de Proteção Ambiental 1 (APA) cobrem cerca de 36 mil quilômetros quadrados em Mato Grosso, o que corresponde a 4% da superfície do Estado (Tabela 1). Dessa área, apenas 4% estão desmatados, e a maior parte desse desmatamento ocorreu antes de sua criação. Tabela 1 - Área total, desmatada e remanescente em áreas protegidas e outras áreas em MT, 2007 Tipologia fundiária Área Desmatada Área Remanescente Área Total Km 2 % Km 2 % Km 2 % Terras Indígenas 5.193 4 129.852 96 135.045 15 Unidades de Conservação (sem APA) 1.869 5 33.861 95 35.730 4 Outras áreas 322.014 44 410.795 56 732.809 81 Total 329.077 36 574.508 64 903.584 100 Fontes: SEMA-MT (UCs, TIs; desmatamento); análise ICV O Projeto de lei do ZSEE-MT traz novas áreas indicadas para criação de unidades de conservação, na categoria de Áreas Protegidas Propostas (4.2). No total, são quinze áreas que cobrem 63,7 mil quilômetros quadrados (7% da superfície do estado), sendo 34 mil em áreas florestais e 29 mil em áreas de cerrado. 1 As APA existentes em Mato Grosso oferecem poucas salvaguardas ambientais além daquilo que já é previsto pelo Código florestal brasileiro e Código ambiental estadual para as propriedades privadas. Além disso, não têm se mostrado eficazes na conteção do desmatamento ilegal, à diferença das outras categorias de UC. Por este motivo não consideramos esta categoria de UC na soma das áreas protegidas.

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O ICV (Instituto Centro de Vida) produziu um estudo revelando a importância da criação das áreas protegidas propostas no ZSEE-MT. O documento A importância das Áreas Protegidas Propostas no ZSEE-MT é uma contribuição do ICV para o debate sobre o Projeto de Lei do Zoneamento Socioeconômico Ecológico de Mato Grosso (ZSEE-MT). (2009)

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Page 1: A importância das Áreas Protegidas Propostas no Zoneamento Sócio Econômico Ecológico de Mato Grosso

Instituto Centro de Vida (ICV ) - Junho de 2009

A importância das Áreas Protegidas Propostas no ZSEE-MT

O Instituto Centro de Vida (ICV) é uma OSCIP fundada em 1991, em Cuiabá, que vem

trabalhando dentre outras atividades no monitoramento do desmatamento e da gestão

florestal como também em estudos sobre a conservação da biodiversidade no Estado de

Mato Grosso.

Este documento é uma contribuição do ICV para a avaliação do Projeto de Lei do Zoneamento

Socioeconômico Ecológico de Mato Grosso (ZSEE-MT) onde ressaltamos a importância da

Categoria 4.2 - Áreas Protegidas Propostas.

Introdução

As Unidades de Conservação (UC), excluindo a categoria de Área de Proteção Ambiental1

(APA) cobrem cerca de 36 mil quilômetros quadrados em Mato Grosso, o que corresponde a

4% da superfície do Estado (Tabela 1). Dessa área, apenas 4% estão desmatados, e a maior

parte desse desmatamento ocorreu antes de sua criação.

Tabela 1 - Área total, desmatada e remanescente em áreas protegidas e outras áreas em MT, 2007

Tipologia fundiária

Área Desmatada

Área Remanescente

Área Total

Km2 % Km2 % Km2 %

Terras Indígenas 5.193 4 129.852 96 135.045 15

Unidades de Conservação (sem APA) 1.869 5 33.861 95 35.730 4

Outras áreas 322.014 44 410.795 56 732.809 81

Total 329.077 36 574.508 64 903.584 100

Fontes: SEMA-MT (UCs, TIs; desmatamento); análise ICV

O Projeto de lei do ZSEE-MT traz novas áreas indicadas para criação de unidades de

conservação, na categoria de Áreas Protegidas Propostas (4.2). No total, são quinze áreas que

cobrem 63,7 mil quilômetros quadrados (7% da superfície do estado), sendo 34 mil em áreas

florestais e 29 mil em áreas de cerrado.

1 As APA existentes em Mato Grosso oferecem poucas salvaguardas ambientais além daquilo que já é previsto

pelo Código florestal brasileiro e Código ambiental estadual para as propriedades privadas. Além disso, não têm

se mostrado eficazes na conteção do desmatamento ilegal, à diferença das outras categorias de UC. Por este

motivo não consideramos esta categoria de UC na soma das áreas protegidas.

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Os estudos que resultaram na indicação dessas áreas foram realizados entre 1989 e 2002. No

tempo que passou desde a realização dos estudos, ocorreram novos desmatamentos nessas

áreas. Atualmente, o desmatamento acumulado nas áreas protegidas propostas do ZSEE-MT

representa 24% de sua superfície total. Em seis das quinze áreas, essa proporção está entre

15 e 25%, enquanto em quatro áreas ultrapassa 25% e em outras cinco áreas representa

menos de 15% (Tabela 2).

Tabela 2 - Dinâmica de desmatamento nas Áreas Protegidas Propostas do ZSEE-MT

Zona Descrição Área Total (km²)

Desmatamento (km²)

Até 1997

Até 2007

% até 2007

4.2.1 Elevado potencial florestal em Apiacás 424 7 45 11%

4.2.2 Elevado potencial florestal no Rio Madeirinha 1.809 17 209 12%

4.2.3 Elevado potencial florestal na Serra dos Caiabis 15.025 1.367 4.130 27%

4.2.4 Elevado potencial florestal no Rio Arinos 3.946 289 755 19%

4.2.5 Elevado potencial florestal no R. Manissauá-Miçu 3.826 315 764 20%

4.2.6 Conservação dos recursos hídricos no Rio Ronuro 11.775 1.931 3.940 33%

4.2.7 Elevado potencial biótico no Rio das Mortes 3.707 227 485 13%

4.2.8 Elevado potencial biótico no R. Araguaia / Mortes 474 24 37 8%

4.2.9 Elevado potencial biótico no R. Cristalino do Araguaia 2.600 200 447 17%

4.2.10 Elevada fragilidade na Serra de São Vicente 1.166 129 185 16%

4.2.11 Elevada fragilidade na Província Serrana 8.768 2.032 2.600 30%

4.2.12 Elevada fragilidade na Serra do Culuene 1.044 237 304 29%

4.2.13 Elevada fragilidade na Serra de Santa Bárbara 807 126 163 20%

4.2.14 Elevado potencial biótico no Pantanal do Barbado 4.752 363 1.018 21%

4.2.15 Elevado potencial biótico no Corixo Grande 3.566 42 54 2%

Total 63.690 7.305 15.137 24%

Fontes:SEPLAN (ZSEE-MT), SEMA (polígonos de desmatamento até 2007); análise ICV

As áreas protegidas propostas no ZSEE-MT abrangem cerca de 2 mil propriedades rurais

cadastradas no Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental, com uma

área de 24 mil quilômetros quadrados (38% da área total da categoria 4.2). Nessas

propriedades ocorrem 545 planos de manejo florestal sustentável, cobrindo cerca de 5,2 mil

quilômetros quadrados (8% da área total da categoría 4.2).

Em função da dinâmica de uso e ocupação do solo dessas áreas nas últimas duas décadas, a

perspectiva de criação das Unidades de Conservação tem gerado preocupações entre

segmentos da sociedade local, especialmente aqueles vinculados aos proprietários rurais,

manifestadas em várias audiências públicas. Em diversas ocasiões foram sugeridas a redução

ou até mesmo a eliminação das Áreas Protegidas Propostas do projeto de Lei.

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Nesse documento, ressaltamos alguns aspectos do papel fundamental dessas áreas, que

sustentam a sua manutenção no ZSEE: a baixa representatividade das UC existentes em Mato

Grosso, o potencial de geração de créditos de carbono por desmatamento evitado em novas

UC, o potencial de novas UC para compensação de passivos de Reserva Legal de propriedades

rurais, e a necessidade de estudos mais aprofundados e específicos para determinar a

categoria e os limites de cada UC.

Representatividade baixa das UC em Mato Grosso

O Estado de Mato Grosso é o Estado da Amazônia Legal que apresenta menor proporção de

sua área total protegida por Unidades de Conservação. Enquanto Pará, Rondônia e Acre

possuem de 26 a 33% de suas áreas em UC, Mato Grosso tem apenas 4% (Tabela 3).

Tabela 3 - Área de Unidades de Conservação por Estado da Amazônia Legal, 2009

Estados Área total do Estado (km²)

Área de UC (km²)

Proporção da área do Estado em UC

Acre 152.581 47.064 32%

Amapá 142.815 96.888 64%

Amazonas 1.570.746 380.428 24%

Maranhão 331.983 13.489 5%

Mato Grosso 903.358 35.730 4%

Pará 1.247.689 322.413 26%

Rondônia 237.576 73.708 33%

Roraima 224.299 47.430 19%

Tocantins 277.621 15.056 6%

Total Amazônia Legal 5.088.667 1.032.205 21%

Fontes: Mato Grosso: Sema-MT; Demais estados: Rede Amazônica de Informação Georeferenciada, 2009.

Notas: Não foram consideradas as APA; Dados do Maranhão se referem somente à parte do Maranhão incluída

na Amazônia Legal.

O governo brasileiro é signatário da Convenção sobre Diversidade Biológica da Organização

das Nações Unidas (ONU), onde se comprometeu com a meta de ter até 2010 pelo menos

30% do Bioma Amazônia e 10% dos demais biomas efetivamente conservados por UC do

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Também se comprometeu a garantir a

proteção da biodiversidade em pelo menos dois terços das Áreas Prioritárias para

Biodiversidade por meio de unidades do SNUC, Terras Indígenas e Territórios Quilombolas

(MMA, 2007).

Dentro desse compromisso o Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da

Biodiversidade (Probio) mapeou entre 1997 e 2000, com revisão em 2005, as Áreas

Prioritárias para Biodiversidade de acordo com critérios de riqueza biológica, vulnerabilidade

e importância para as comunidades tradicionais e povos indígenas. As áreas indicadas pelos

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estudos do ZSEE-MT foram incluídas nessa lista do Probio na revisão de 2005, mostrando que

sua importância para conservação da diversidade biológica foi reconhecida nacionalmente e

sua conservação é parte da estratégia brasileira de cumprimento de seu compromisso com a

convenção internacional.

Cada uma das áreas protegidas propostas tem sua importância específica, pois protege

ecótonos biodiversos ameaçados por pressões antrópicas, áreas de recarga de aqüíferos

importantes para garantia da conservação de recursos hídricos, espécies de fauna e flora

endêmicas ameaçadas de extinção e padrões fisionômicos exclusivos desses ambientes.

Como exemplo, podemos citar a zona 4.2.5, Área Protegida Proposta em Ambientes com

Elevado Potencial Florestal no Rio Manissauá-Miçu. Apesar da área inicialmente proposta já

estar 20% desmatada, ainda abriga remanescentes considerados como altamente prioritários

para conservação da biodiversidade em função de suas características ecológicas resultantes

do contato entre os domínios amazônico e cerrado. Em parcelas dessa área foram detectadas

grandes concentrações de castanheiras (Bertholletia excelsa) e a presença de uma nova espécie de

primata do gênero Callicebus, conhecido como “zogue-zogue”. Há também registros da presença de

mamíferos e aves de topo da cadeia alimentar, como Panthera onca (onça pintada), Puma

concolor (onça parda) e Spyzaetus ornatus (gavião de penacho), e de grandes mirmecófagos

como Priodontes maximus (tatu-canastra). Trata-se de espécies com status nacional ou global

de ameaçadas e dependentes de amplos espaços para manutenção de populações

geneticamente viáveis que comprovam a importância da conservação da área (ICV, no prelo).

Contribuição potencial para o mecanismo de Redução das Emissões do

Desmatamento e da Degradação Florestal (REDD)

O desmatamento e a degradação das florestas geram emissões de Gases de Efeito Estufa

(GEE) que contribuem para o aquecimento global. No Brasil, o desmatamento e degradação

florestal representa cerca de 75% do total das emissões de GEE. O Estado de Mato Grosso foi

responsável por cerca de 40% do desmatamento na Amazônia Brasileira nos últimos dez anos.

Esse desmatamento pode ter gerado emissões totais da ordem de um bilhão de toneladas de

carbono (3,7 bilhões de toneladas de CO2) no período, uma média de cerca de 100 milhões de

toneladas de carbono por ano. O mecanismo de REDD permite que o Estado seja compensado

pela proteção dos seus estoques de carbono florestal e conseqüente redução dessas emissões

de GEE, e a criação de UC é uma das formas mais diretas, imediatas e permanentes de atingir

esse objetivo (Micol et al, 2008).

As áreas protegidas propostas no ZSEE-MT possuem estoques de carbono que variam entre

cerca de 40 toneladas de carbono por hectare em áreas de cerrado e 130 toneladas de

carbono por hectare em áreas de florestas mais densas (Figura 1). Estudos de campo recentes

na região noroeste mostram que esse valor pode chegar até cerca de 200 toneladas de

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carbono por hectare quando considerado também o carbono armazenado na madeira morta

caída e nas raízes das árvores (ICV, dados inéditos).

Figura 1 - Estimativa do estoque de carbono florestal na biomassa viva acima do solo nas áreas

protegidas propostas no ZSEE-MT

Fonte: ICV, 2008 com base em Saatchi, 2007

Considerando as taxas de desmatamento dos últimos dez anos e o estoque de carbono por

hectare em cada área protegida proposta, fizemos uma estimativa das emissões históricas do

desmatamento nessas áreas: calculamos que podem ter atingido cerca de 72 milhões de

toneladas de carbono (265 milhões de toneladas de CO2) entre 1997 e 2007, uma média de

7,2 milhões de toneladas de carbono (26 milhões de toneladas de CO2) por ano (Figura 2).

Com a hipótese conservadora de um valor médio de US$ 5 por tonelada de CO2, a redução do

desmatamento nessas áreas pode gerar compensações financeiras na ordem de US$ 130

milhões por ano.

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Figura 2 - Estimativa de emissões anuais de CO2 do desmatamento nas áreas propostas, 1998-2008

Fonte: ICV, 2008

Contribuição potencial para a compensação de passivos de Reserva Legal de

propriedades rurais

Muitas propriedades e posses rurais de Mato Grosso desmataram além do permitido pela

legislação ambiental. Em função disso, temos uma proporção muito grande de áreas

agropecuárias em situação irregular, com passivo de reserva legal. Verificamos que a criação

de novas UC será fundamental para viabilizar a resolução desses passivos e a regularização

ambiental das áreas já desmatadas no Estado, no âmbito do programa MT Legal.

Estimativa da superfície total de áreas abertas irregulares

A partir dos dados de desmatamento e das bases fundiárias disponíveis, geramos uma

estimativa da quantidade de áreas desmatadas que estão além do permitido pela legislação

ambiental, nas áreas de floresta e de cerrado de Mato Grosso.

A extensão original da área florestal de Mato Grosso é de 525 mil km2, sendo 378 mil km2 nas

zonas das categorias 1, 2 ou 3 do projeto de lei do ZSEE. Desse total, a área aberta até 2007 é

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de 163 mil km2 (43%). Calculamos que essa área compreende cerca de 61 mil km2 de áreas

potencialmente regulares, e 102 mil km2 de áreas irregulares, abertas além dos 20%

permitidos em cada propriedade.

Já a área de cerrado do Estado tem extensão original de 377 mil km2, sendo 276 mil km2 nas

zonas das categorias 1, 2 ou 3. Desse total, a área aberta até 2007 é de 136 mil km2 (49%).

Calculamos que essa área compreende cerca de 118 mil km2 de áreas abertas potencialmente

regulares, e 18 mil km2 de áreas irregulares, abertas além dos 65% permitidos em cada

propriedade.

Com a possibilidade de flexibilização do percentual de reserva legal nas áreas florestais de

80% para 50% para fins de recomposição nas categorias 1 e 2, cerca de 40 mil km2 de áreas

abertas poderiam se tornar regulares. Dessa forma ainda restaria cerca de 60 mil km2 de

passivos de reserva legal em áreas florestais e 18 mil km² em áreas de cerrado.

Opções para regularização do passivo de reserva legal

A legislação ambiental oferece três alternativas para regularizar esse passivo: a recuperação

na propriedade, a compensação em outra área privada que tem excedente de reserva legal,

ou a compensação em UC (desoneração).

A opção de recuperação da reserva legal na propriedade pode ser adequada em áreas

pequenas e/ou degradadas, porém de forma geral apresenta um custo alto. Considerando as

técnicas existentes de plantio em áreas degradadas praticadas no Mato Grosso, o custo de

recuperação varia entre 2,5 e 4 mil reais por hectare (ISA, no prelo). Além disso, existe o custo

de oportunidade do proprietário deixar de usar uma área produtiva para recuperar sua

reserva, que somado ao custo da recuperação torna essa opção a mais onerosa,

especialmente em áreas com alto potencial produtivo.

A opção de compensação em outra área privada, através de servidão ou compra de um

excedente de reserva legal é interessante, mas também tem limitações significativas.

Calculamos que os excedentes de reserva legal em propriedades privadas em Mato Grosso

somam cerca de 24 mil km2 em área de floresta e 19 mil km2 em áreas de cerrado. A primeira

limitação dessa opção é que o excedente de reserva legal em área de floresta é muito aquém

do necessário para regularizar o passivo. Além disso, essa opção é disponível somente para

desmatamentos ocorridos antes de 1998, que não representam a maior parte dos passivos,

seja em áreas de floresta ou de cerrado. Além disso, essa opção envolve um elevado custo de

transação, desde a procura de área com excedente de reserva disponível para compensação,

até a negociação e a efetivação da aquisição da área.

A compensação em UC existentes através da desoneração é uma opção interessante para o

proprietário, que não terá o custo de oportunidade de reduzir a área de produção e nem o

custo de manutenção da reserva legal, e é interessante para o Estado, que tem a

possibilidade de regularizar a situação fundiária das UC já criadas. De acordo com a Sema-MT,

o total de áreas em UC Estaduais pendentes de regularização fundiária representa cerca de 8

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mil km2 de áreas em floresta e 5 mil km2 em área de cerrado. Ou seja, o potencial nas UC

existentes é relevante porém limitado, quando comparado com o tamanho do passivo.

Mesmo somando as possibilidades de regularização das opções de compensação acima, ainda

resta um déficit de 29 mil km2. O potencial de regularização considerando todos os

remanescentes naturais nas Áreas Protegidas Propostas no projeto de lei do ZSEE seria de 26

mil km2.

Portanto a criação de novas UC será fundamental para viabilizar a regularização das áreas já

desmatadas e tornar possível a implementação do MT Legal.

Necessidade de estudos mais aprofundados para determinar a categoria e os limites

de cada UC

A criação de unidades de conservação exige estudos específicos aprofundados para

determinar o seu grupo (Proteção Integral ou Uso Sustentável), sua categoria de manejo

(Parque, Reserva Biológica, Floresta, Reserva Extrativista, entre outras) e seus limites.

Esses estudos analisam localmente e mapeiam as áreas de maior importância para

conservação, a eventual existência de limites naturais, como também os tipos de usos

potenciais das áreas a serem criadas e os possíveis impactos socioeconômicos dessa criação.

O processo de criação deve envolver a sociedade local, inclusive com a realização de

consultas públicas onde os estudos são apresentados e as propostas são discutidas, com o

objetivo de adequá-las da melhor forma possível à realidade local.

Para as Áreas Protegidas Propostas no projeto de lei do ZSEE-MT, o grupo, a categoria e os

limites das UC a serem criadas ainda não foram definidos. Essa definição irá demandar

estudos adicionais e consultas à sociedade local. Em alguns casos, como por exemplos na

zona 4.2.5 mencionada acima, poderão ser encontradas soluções que combinem uma área-

núcleo de UC com áreas de reservas legais e/ou outros tipos de áreas protegidas de domínio

privado, compondo corredores e mosaicos de conservação.

Esse processo de definição demanda tempo e atenção especial para cada uma das áreas

protegidas propostas, portanto não seria adequado tentar realizá-lo antes da aprovação do

ZSEE.

Conclusões

As áreas protegidas propostas no projeto de lei do ZSEE-MT são peças fundamentais na

estratégia de gestão ambiental e territorial de Mato Grosso. São necessárias para que o

Estado possa contribuir efetivamente com os compromissos do País na Convenção da ONU

sobre Diversidade Biológica. Além disso, representam uma forma muito direta e concreta de

implementar o mecanismo de REDD. Por outro lado, serão necessárias para viabilizar a

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regularização ambiental das propriedades rurais do estado no âmbito do programa MT Legal.

Portanto, a eventualidade de eliminar áreas protegidas propostas do ZSEE deve ser

descartada.

Como a categoria e os limites de cada área a ser criada ainda não foram definidos, e essa

definição requer estudos complementares e o envolvimento da sociedade local, esse

processo somente poderá ocorrer depois da aprovação do ZSEE como um todo.

Portanto, consideramos que devem ser mantidas todas as áreas protegidas propostas no

projeto de lei atual, e que seja estabelecido um prazo factível para a efetiva criação das UC

após a aprovação do zoneamento.

Também propomos a inclusão de uma nova diretriz para a categoria de áreas protegidas

propostas no projeto de lei do ZSEE-MT, estabelecendo que a criação das UC deva ser

realizada de forma articulada com a implementação do mecanismo de REDD do estado, bem

como do programa MT Legal, de forma que essas áreas possam efetivamente contribuir com

essas duas grandes estratégias de gestão ambiental e desenvolvimento do estado.