yazigi - conceituação de patrimônio ambiental urbano

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  • 5/21/2018 Yazigi - Conceituao de Patrimnio Ambiental Urbano

    1/17

    A Conceituao de Patrimnio Ambiental Urbano

    em Pases Emergentes

    duardo

    Y

    ZI I

    Departamento de Geografia da Universidade de So Paulo

    Prof. Lineu Prestes 338. Cidade Universitria.

    CEP 05508 000 So Paulo.

    E mail: [email protected]

    Resumo

    Apesar de o

    pr

    esente conceito ser derivado da Carta de

    neza que.reco-

    menda proteger entornas ele ainda no

    fo i

    suficientemente desdobrado e explo-

    rado es

    pe

    cialmente em

    p

    ses emergentes onde devido

    falta de recursos e de

    valorizao cultural as cidades se acham bastante degradadas. A definio

    por

    ns formulada a seguinte e se justifica porque ambiente no lugar m s rela-

    o de trabalho vizinhana lazer religiosidade cidadania etc.

    D patrimnio ambiental urbano se constitui de conjuntos arquitet nicos

    espaos urbansticos equipamentos pblicos e elementos naturais intra urba-

    nos regulados por relaes sociais econmicas e culturais onde o conflito deve

    ser

    o

    menor possvel e a incluso social uma exigncia crescente.

    reconhecido

    e

    preservvel

    por seus valo res

    poten i lmente

    qualificados: pragmticos

    cognitivos estticos e afetivos legalmente protegidos ou no. Geograficamente

    esses conjuntos podem se apresentar sob forma de reas contguas ou lineares

    sem limites perptuos m s sempre trascendendo unidades de significado

    autnomo. O conceito se refere tanto a um conjunto existente como a um pro-

    cesso em construo:

    o ser o devir.

    Este artigo explora j ustamente as implicaes metodolgicas do que se

    possam ser as citadas relaes.

    Palavras chave: Patrimnio ambiental urbano pases emergentes cidadania

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    Summary

    duardo Yzigi

    Despite the present concept derives from the VniceChart, which recommends

    protecting

    neighborhoods

    o f

    monuments, it has

    not yet

    enough unfolded

    and

    exploited, especially on emergent countries, owing to

    poor

    resources

    and

    cultural

    valorization that produce depreciated towns. Our definition, as follows, can be

    justified because

    environment

    ( ambiente in Portuguese) is not a place but a

    relation o f work,

    neighborhood,

    leisure, religion, citizenship, etc.

    Therefore

    environmental

    urban

    patrimony

    is

    constituted

    by

    architectonic

    assemblage urbanistic

    spaces,

    public equipments and natural elements inside

    towns,

    adjusted

    by social,

    economic and cultural

    relations, where

    conflicts

    must be avoided as much we can

    and

    social inclusion a growing exigence. It is

    recognized andpreservable according topotentially qualified values: pragmatics,

    cognitives, aesthetics

    and

    affectives, protected

    1 not

    by law. Under the geographic

    viewpoint they can be manifested on contiguous

    1

    linear areas, without

    perpetuai

    limits,

    but

    always transcending autonomous significant units.

    The concept

    refers

    to an existent ensemble 1 to a

    construction process: it

    is the being n the

    future.

    This article particularizes methodological implications o fwhat could be the

    mentionedrelations.

    Keywords environmental urban patrimony emerging countries citizenship

    Resum

    Bien que le concept de patrimoine environnemental urbain soit deriv de la

    Charte de Venice, laquelle recommande protger les voisinages d 'un monument,

    ii

    n a

    pas

    encore t sufisamment dpouill et exploit, surtout dans des pays

    mergents, en raison du manque de ressources et de valorisation culturelle. Notre

    defintion que suit se justifie,

    cal ambience n est p s une chose

    ni

    un endroit,

    mais relation

    de

    travail, voisinage, loisir, religiosit,

    citoyennet, etc.

    (en

    portugais envionnemental s dit ambienta ').

    Le

    patrimoine environnemental urbain

    s

    constitue donc d'ensembles archi

    tectoniques, espaces urbanistiques, quipementspubliques,

    lments

    naturels intra

    -urbains, reguls

    par

    des relacions sociales, conomiques et culturelles, l le

    conflit doit tre le moindre possible et I'inclusion sociale une

    xigence

    croissante.

    II est reconnu

    par

    ses valeurs potentiellement qualifis: pragmatiques, cognitifs,

    esthtiques et affectifs, proteges ou non

    par

    une loi. Gographiquement, ces

    ensembles

    peuvent s

    prsenter sous la

    forme

    de surfaces contigues ou linaries,

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    sans limites perptuelles mais toujours transcendant les units de signification

    autonome. econcept se rapporte soit

    um ensemble

    existant soit

    un

    procs

    en construction:

    c est

    l tre et le devenir.

    Cet article exploite justement les implication mthodologiques de ce que

    signifient les relations referes ci dessus.

    Mots-clt :patrimoine environnemental urbain

    pays sous-dvelopps citoyennet

    ?

    ntro uo

    Vrios fatos reclamam uma valorizao mais ampla da ambincia urbana. A

    cidade deteriorada tem sido norma na maioria dos pases subdesenvolvidos con

    tribuindo para o que se pode denominar estresse espacial. A globalizao tanto

    fragmentou identidades como est a criar outras. Em pases emergentes no

    sempre

    que o

    encaminhamento

    da questo socia l se faz

    acompanhar

    da

    patrimonializao do territrio. Mas tambm vrias capitais europias - Roma

    por

    exemplo - ostentam periferias desprovidas de qualquer sentido vivificante

    incompatveis com a grandeza do passado existente na mesma cidade. Isso como

    ser demonstrado mais frente requer que o empenho pelo patrimnio ambiental

    urbano deva ser entendido no somente como preservao de representatividades

    passadas mas tambm como o que deve ser construdo.

    o ser o devir. Quanto

    mais degradado o meio urbano maior a necessidade desse empenho. Todos reco

    nhecem o valor de uso do cotidiano mas poucos se preocupam com a importncia

    de seu aperfeioamento.

    Grosso modo seja por herana colonial seja

    por

    construo prpria muitas

    cidades criaram patrimnios dignos de serem preservados ainda que carecessem

    de identidade espacial vinculada terra. Essas produes estiveram diretamente

    ligadas aos excedentes das economias locais em todos pases das Amricas: cana

    de acar ouro prata caf borracha gado estanho cobre etc. Historicamente

    os perodos ureos foram do sculo XVIII aos incios do xNo Brasil o caf no

    sul e a borracha no norte pretenderam conferir ares de Paris s suas grandes capi

    tais referenciados por Haussman. Mas a realidade que jamais conseguiram re

    produzir a grandeza cumprida

    por

    esse prefeito parisiense. O mundo bem cuidado

    se circunscreveu as centralidades das elites nascentes.

    Apesar do limitado estoque patrimonial tempos posteriores se revelaram

    ainda de um vandalismo sem precedentes especialmente no Brasil onde So Pau

    lo e Rio Janeiro conheceram crimes inadmissveis inaugurados com o

    boom

    in

    dustrial chegando aos nossos dias sob a gide da permissividade. A rendio

    indstria automobilstica aliada especulao imobiliria ao laissez faire

    oficial

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    du rdo

    Yzigi

    e privado) e excluso social representam os quatro pilares de maior nocividade

    ao

    o us

    da sociedade urbana.

    omo

    se isso no bastasse, hoje em dia a tendncia

    mundial

    da cidade-empresa estimula o abandono de certas partes da cidade em

    beneficio de suas novas centralidades.

    Eis porque

    a implementao do conceito em apreo se toma uma necessida

    de social. Na tica poltica, se por

    um

    lado a dignificao do espao representa

    valorizao do sentimento cvico e da imagem da cidade para fins de

    economia

    ,

    por

    outro, a prpria vida do cidado ensaiada com valores de uso de primeira

    grandeza. Assim, este artigo tem o propsito de explorar a importncia do sentido

    relacional de ambiente , fornecendo elementos de fortificao do grupo social,

    para fins de vida cotidiana, identidade e

    prazer

    em seu lugar de vida.

    A condio de subdesenvolvimento coloca vrios reveses construo do

    patrimnio. A carncia geral de recursos permite, no mximo, dotar as populaes

    de conjuntos habitacionais que so a prpria

    imagem

    da desolao, desprovidas

    de tudo o que complementa e d plenitude ao morar: ruas pavimentadas, transpor

    tes eficientes, espaos pblicos

    bem

    cuidados, lazer, etc. A rigor, as administra

    es estariam teoricamente impossibilitadas de produzir

    um

    padro dotado de

    modernidade. As instituies no

    costumam

    ter ousadia

    com

    o empenho da inser

    o social, que

    como

    se sabe, s

    pode

    acontecer em longo prazo; no entanto inexiste

    uma

    ao

    planejadora de continuidade

    para

    estratgias dessa dimenso temporal.

    Em pases emergentes s se atua no varejo .

    lm

    disso, impera

    uma

    viso de

    formada da cultura material, tanto nas administraes quanto na sociedade, que s

    prioriza as solues prticas quando

    conseguem

    ...), despreocupadas

    com

    qua

    lidade. Resulta ento que o padro dual se reproduz espacialmente, criando an

    gustiantes periferias que vo de horizonte em horizonte, com solues precrias,

    mesmo

    quando dotadas de criatividade.

    pesar

    desse quadro desolador, o patrimnio ambiental continua sendo vis-

    to como preocupao burguesa pelos meios acadmicos enquanto, contraditoria

    mente, os segmentos mdios e pobres no

    conseguem

    entend-lo

    como

    fator de

    desenvolvimento. O resultado so cidades conflituosas,

    sem

    unidade, semi-aban

    danadas,

    com

    cotidiano precarssimo nos segmentos mdios e inferiores. O espa

    o pblico, ao invs de ser o patrimnio de todos patrimnios, se realiza de modo

    deplorvel, com raras excees. A prevalncia do eterno provisrio sugere redefinir o

    presente conceito com urgncia: a restaurao do territrio se conta por dcadas.

    Dos ens

    Isolados aos

    onjuntos Representativos

    John

    Ruskin

    l 8 1 9 ~ 1 9

    seguido de William Morris, j criticava a

    nova

    .

    ord

    em industrial , valorizando o tecido formado

    por

    casas comuns, tendo sido um

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    dos pioneiros na defesa de conjuntos urbanos. No sculo

    XX

    a noo de monu-

    mento para fins de preservao da

    memria

    logo se revelou insuficiente levando

    os estudiosos da rea a formularem a Carta de Veneza fundamentada na preserva

    o de zonas de ambincia com as quais os bens tm relaes tradicionais. Perce

    beu se

    tambm que outras reas devessem ser preservadas mesmo sem monu

    mentos e o recurso legal do tombamento. Foi a que nasceu o conceito de patrimnio

    ambiental urbano que quatro dcadas depois ainda carece de precises conceituais

    para fins de implementao e que este artigo pretende aprimorar.

    No

    obstante o emprego apropriado do termo ambiental procedente e

    por

    isso complexifica a questo. Efetivamente ambiente no quer dizer

    nem

    coisa

    nem lugar e sim relao conforme sua origem latina:

    vem

    de amb ire isto ir

    junto. Seu

    emprego foi de incio formulado

    pela

    Psicologia: Fulano cresceu

    num

    ambiente religioso ; A boa empresa cria

    um

    ambiente propcio realizao pes

    soai etc. A Ecologia justifica sua existncia graas mesma idia de relao: j

    no

    bastava Biologia explicar as espcies de r si mas contextualizadas no

    ciclo de vida isto em suas relaes

    com

    tudo que as cercam. Vrias outras

    disciplinas sentiram necessidade de usar a noo de ambiente mas logo se deram

    conta da necessidade de redefini-la segundo cada tica. No presente estudo trata

    -se do mundo do urbano.

    Defino o patrimnio ambiental urbano

    como

    sendo constitudo de conjuntos

    arquitetnicos espaos urbansticos equipamentos pblicos e elementos naturais

    intra-urbanos regulados

    por

    relaes sociais econmicas e culturais onde o con

    flito deve ser o menor possvel e a incluso social

    uma

    exigncia crescente. So

    reconhecidos e preservveis

    por

    valores potencialmente qualificados: pragmti

    cos cognitivos estticos e afetivos de preferncia sem tombamento. Geografica

    mente esses conjuntos podem se apresentar sob forma de manchas urbanas ou

    formaes lineares sem limites perenes mas sempre transcendendo as unidades

    de significado autnomo. O conceito se refere tanto a

    um

    conjunto existente como

    a um processo em construo: trata se pois do s r e do devir.

    lores pr gmticos

    No devem ser entendidos como reservas passivas reificadas mas lugares

    vivos que sustentam atividades socioeconmicas e culturais. So espaos da ex

    perincia urbana por excelncia os loei da promoo identitria onde a convi

    vncia

    pode

    facilitar a coeso do grupo. Interessam ao cotidiano e eventualmente

    ao turismo. Mas no se trata de abraar qualquer valor pragmtico: os usos devem

    ser compatveis com a forma sem subvert-la: no se pode transformar

    uma

    cate

    dral

    num

    bordel.

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    EduardoYzigi

    Enquanto os potenciais tecnolgicos valerem as substituies no se justifi

    cam sob alegaes de serem velhos ou descartveis Em pases emergentes urge

    reforar a funo econmica e social adaptando os conjuntos s condies mo

    dernas de funcionalidade mas

    com

    sensibilidade e inteligncia. O valor econmico

    pode ser justificado por si s embora sozinho nem sempre enriquea o conjunto.

    No entanto dada a carncia de recursos nesses pases ele tende a ser crucial.

    lores cognitivos

    So os que enriquecem a experincia urbana de todos pontos de vista. Re

    presentam o entendimento dramtico de como os outros se resolvem; permitem

    uma apreenso viva de outras regulaes sociais e territoriais e representam a

    histria no como exemplares ilustrativos mas como parte de sua prpria expres

    so: matrias primas e tecnologias empregadas; morfologia; valores diversos; con

    dies sociais econmicas polticas ideolgicas e simblicas de produo etc.

    Nesse sentido funcionam como parmetros de entendimento ou inspirao para

    observadores em geral.

    lores estticos

    Aqui preciso retomar o mais profundo significado etimolgico de estti

    co que se origina de

    aesthesis

    isto a experincia da sensao

    pela

    potencializao da forma Classicamente os valores estticos refletem princpios

    de unidade volumetria e outras ordenaes: os variados padres estilisticos ou o

    gosto individual. Deles tambm derivam o importante fenmeno do encantamen

    to dos sentidos comumente ignorado pelos acadmicos mas de muita importn

    cia

    para

    o cidado comum. Alis uma cidade bem concebida desse ponto de vista

    d ao cidado o sentimento de estar sendo cuidado pela administrao

    mas infe

    lizmente so dos menos considerados na construo da esfera pblica. o por

    acaso templos de qualquer religio possuem formas potencializadas que expres

    sam o melhor de suas funes. O mesmo acontecendo

    com

    praas mercados

    escolas ou bordis: so entidades que no podem se confundir.

    lores fetivos

    ose limitam tanto s preferncias pessoais como resposta cvica dada

    pelo grupo ao lugar: pertencemos-nos um ao outro . Por isso esse

    valor

    depende

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    GEolNoV

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    do bom equacionamento dos anteriores. Hoje o sentimento de pertena incorpora

    vrios lugares de vida: a residncia principal e a secundria, o lugar de trabalho, a

    casa dos parentes; o lugar de frias, os lugares de diverso ... . o universo

    cvico expandido. O peso dos valores afetivos varia de

    lugar para outro, mas

    se liga pela imagem geral da cidade .

    bserv es ger is sobre os v lores

    Como em pases de cultura urbana desenvolvida as zonas de ambincia cos-

    tumam ser observadas, o esforo de conceituao dessa modalidade de patrimnio

    acaba sendo uma peculiaridade metodolgica de pases menos dotados.

    Neles se

    trata sobretudo de atribuir novos sentidos aos fragmentos que sobraram, suge-

    rindo o imperativo de praticar mais a prevalncia de projetas novos do que poss-

    veis restauraes. Ademais, dada a necessidade de novas adaptaes no futuro, a

    reconstruo do presente deve ser dotada de indispensveis caractersticas de fle-

    xibilidade.

    As virtudes biolgicas tambm so patrimoniais, mas escapam do mbito

    desses conjuntos: as qualidades do ar e da gua dependem da totalidade urbana e

    no de espaos circunscritos. Os ndices tolerveis de decibis s podem ser par-

    cialmente controlados no interior de cada conjunto considerado.

    Excees: nem tudo tem v lor p trimoni l

    Num primeiro momentos somos instados a pensar que quanto mais superfi-

    cies patrimoniais existirem , maior ser o grau de civilizao urbana. No entanto ,

    isso nem sempre convm, em razo da necessidade real de dispormos de bens

    descartveis, fazendo que em muitos casos a preservao sejustifique apenas num

    tempo menor. Assim costumam ser as grandes superfcies destinadas a feiras m-

    veis, circos, parques de diverso e outros efmeros. Em algumas circunstncias

    somos obrigados a recorrer a acampamentos e alojamentos de diversos tipos, que

    uma vez tomados suprfluos podem ser demolidos. Em muitos casos de conjuntos

    habitacionais e favelas resulta mais barato reconstruir do que melhorar o existen-

    te. Os arranjos desvirtuados do espao pblico que j nascem assim no tm como

    serem justificados. Vrios tipos de dependncias industriais: galpes, depsitos,

    silos se tomam desnecessrios aps certo tempo. As reas de risco e de inunda-

    es , comumente ocupadas por populaes pobres so condenveis desde o in-

    cio. Os depsitos de lixo so a prpria negao do patrim nio. A m tecnologia

    faz com que muitos terminais de transporte nasam obsoletos. Edificios e espaos

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    EduardoYzigi

    cujas evolues dependem fortemente da tecnologia hospitais, aeroportos, estra

    das, etc.) no conseguem cumprir suas misses sem constantes mudanas e tm de

    se adaptar. Estradas que se convertem em avenidas suburbanas so tambm alta

    mente condenveis. Enfim, qualquer construo feita para a temporada de uma

    nica gerao no chega a se constituir como patrimnio: so bens provisrios.

    Sentido elacional de mbiente

    o

    ambiente sempre foi fonte de estmulo, revelando forte intimidade da

    geografia com a psicologia ambientaL Lembremo-nos que no sculo XIX, Carl

    Richter entendia que a natureza condicionava o desenvolvimento dos povos. Ratzel

    dizia que a natureza exerce influncia sobre a psicologia individual e depois sobre

    a coletiva. Em neurobiologia o ambiente fonte de estmulos que, regulados pela

    formao reticular do tronco do encfalo, ativa o crtex-cerebral, colocando-o em

    estado de excitao interior, cujo espectro vai do sono a uma grande agitao. O

    gegrafo brasileiro Milton

    Santos

    1996), apoiado emAbrahamMoles e Elizabeth

    Rohmer, lembra que enquanto a tecnosfera o meio tcnico, cientfico e

    informacional que requalifica espaos para atender aos interesses hegemnicos, a

    psicosfera o reino das idias, das crenas, das paixes; lugar da produo do

    sentido que sustenta a tecnosfera. Atualmente, o elo do homem com o meio renas

    ce, mas, sem os preconceitos do determinismo.

    Hoje, sobretudo com auxlio de vrias disciplinas, preciso que qualquer

    interveno num determinado lugar seja precedida de anlises de suas relaes

    bsicas , a serem aprofundadas:

    a Relaes arquitetnicas e urbansticas implicando, classicamente, nos

    princpios de escala, volumetria, unidade , harmonia, etc. Trata-se do pr

    prio objeto da urbanstica, e seus possveis modelos;

    b Relaes do grupo social com o conjunto ocupado remetem s atitudes

    do grupo com seu meio construdo, comportando vrias atitudes: manu

    teno ou abandono; preservao ou vandalismo; poluio visual ou bus

    ca do

    clean

    etc;

    c) Relaesde trabalho com a base territorial: reconhecem os ajustes grupais

    do ponto de vista comercial, de servios, de complementaridade, de clien

    tela, etc;

    d Relaes Sociais : reconhecem possveis laos de amizade, parentesco,

    associativo , de anonimato e outros dependentes do lugar considerado;

    e Relaes de lazer: so as relaes que se estabelecem com equipamentos,

    servios, compatibilidade de vizinhana e outros, dependentes do espao

    praas, jardins , estabelecimentos afins, etc.).

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    j Relaes do conjunto com o resto da cidade representam a natureza e o

    grau de intercmbio de rea em questo com a totalidade urbana em que

    se integra;

    g Relaes de ajuste das prprias relaes: revelam os conflitos de uso

    (interesse social capital; habitao lazer; habitao trabalho; tra

    balho lazer ; etc);

    h

    Relaes com as instituies: definem o grau de aceitao das regulaes

    da cidade (compromissos com o trnsito, limpeza, moral , etc.) ;

    Observaes

    Como as relaes se constroem ao longo da histria,

    preciso ter bem claro

    que no existe patrimnio sem historicizao. Por isso os projetos recentes de

    vem no s se calcar em fortes fundamentos sociolgicos, como ainda contar com

    um tempo de amadurecimento.

    As instituies e os acordos de relao significam que preservao e mudan

    a tm de ser constantemente renegociadas: a que se fundamenta o valor social

    do planejamento. No entanto, preciso reconhecer que em pases emergentes os

    direitos costumam se apresentar fragilizados, necessitando

    e

    forte apoio social

    para enfrentar as relaes de fora.

    curioso

    not r

    como certos empreendimentos luxuosos, contr st ndo

    com a

    modsti

    vizinha de certos

    lug res

    ,

    c b m

    sendo

    ofici lmente

    consi

    derados

    como

    o patrirnnio do lugar. Tal o caso, por

    exemplo

    ,

    com

    certos

    condomnios

    fechados dotados de virtudes ambientais internas, mas trados

    por

    seu enclausuramento que o separam do resto da cidade, isto , contrapondo-se ao

    ideal de sociedade aberta. A Riviera de So Loureno, no municpio de Bertioga,

    st do

    de So Paulo,

    reconhecid pel

    municipalidade

    como

    seu grande

    patrimnio.

    Transformao de Relacionamentos sob a lobalizao

    Os estudiosos

    j

    tm bem claro que a globalizao est transformando os

    lugares. Teses em vrios pases , entre as quais a de Antnio Firmino (1999) , tm

    demonstrado como o antigo conceito de bairro j no se sustenta em muitos luga

    res tradicionais.Assim se entende a necessidade de modificar o antigo conceito de

    patrimnio ambiental, antes vinculado a populaes fixas com cultura diferencia

    da (o bairro dos italianos, judeus, rabes, nordestinos, etc.). Isso pode ser ainda

    entendido por outros fatos como segue . :

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    Eduardo Yzgi

    o

    neoliberalismo tem sido responsabilizado pelo aumento da distncia so

    cial, fazendo com que muitos redutos com certa identidade cultural tenham sido

    forados a se esvaziar para outros lugares. Nas grandes cidades, algumas das quais

    classificadas como mundiais, vem ocorrendo a presena da internacionalidade e

    seu rnulticulturalismo. Isso altera, substancialmente, as condies anteriores, de

    modo ainda no totalmente aferido e sistematizado pela sociologia. Essa mobili

    dade de pessoal ligado a grandes corporaes se faz acompanhar de mobilidade

    popular pela procura de empregos, acentuando ainda mais o gigantismo metropo

    litano - que j era uma caracterstica do ccpitalismo tardio.

    nesse contexto que

    ocorre a diluio da idia de bairros em favor dos usos metropolitanos.

    No mais, o ltimo quartel do sculo XX conheceu uma multitude de direi

    tos que instigamvrios grupos a reafirmarem suas identidades, fato que comumente

    acontece com sustentao espacial. or exemplo, a presena y tem marcado o

    espao residencial ou de lazer de vrias cidades. Pode-se tambm acrescentar que

    a identidade espacial est sendo reconstruda sob a globalizao do gosto e do uso

    de padres nem sempre filtrados pelos interesses do lugar. esses casos, a

    hegemonia dos padres empresariais tem sido notria.

    Nesse tempo, muitas cidades vm conhecendo uma fase dita ps-modema,

    com a contradio de algumas, especialmente em pases emergentes, no terem

    sequer conhecido a fase modema... O ps-moderno enfatiza revitalizaes que,

    via de regra, representam novos usos e foram seus velhos ocupantes a sarem. L

    onde a esfera pblica fraca, ocorre forte privatizao do espao pblico. Mxico

    e So Paulo se contam entre as maiores expresses da economia de rua, informal

    ou no. Sob diversos pontos de vista, a acelerao do progresso tecnolgico tam

    bm tem sido responsvel por profundas transformaes espaciais. A simples co

    locao de

    uma

    nova linha de metr transforma os lugares.

    Surgem ento novos tipos de ocupao, com marca registrada de serem

    dotados de discursos fundadores, que buscam legitimar relaes a serem entretidas

    entre os lugares e a modernidade.

    Na cidade globalizada, a hegemonia do residente local j discutvel. Como

    o sedentarismo quase sempre provisrio migraes nacionais e estrangeiras,

    com ou sem pertencimentos de origem.) preciso reforar a conquista do belonging

    pela extenso qualitativa da cidadania, inclusive na dimenso espacial.

    Viver no patrimnio, especialmente em lugares tursticos, habitar e ser

    habitado Lao Tseu dizia: a fachada de uma casa pertence a quem a olha O

    olhar estrangeiro pode se tomar determinante porque proporciona releitura pelos

    habitantes e o desejo de reapropriao. Nesse sentido, preciso precaver-se de

    uma imagem ridicularizada do turista

    em

    qualquer transeunte: no podemos es

    quecer que ele o outro e, desqualific-lo a priori pr-conceituar a alteridade,

    conforme bem lembra Maria

    Gravari Barbas

    2005.

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    GEo NoV 12, 2 6

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    Na realidade, o leitmotif da patrimonializao dado pelo valor geral do

    conjunto construdo. Em sua ausncia se fica reduzido s relaes sociais, regula

    das por relaes de fora que, mesmo quando legtimas, tm de ser resolvidas de

    um forma ou outra. Mas o fato de as relaes sociais se

    pr s nt r m

    conflitualmente no deve impedir a busca da preservao de um espao potencial

    mente valorizado. Nesse caso so as prprias relaes que tm de ser equacionadas

    A, pois, costuma ocorrer o inverso dos pases desenvolvidos, cujas instituies e

    normas de urbanizao priorizam os valores sociais, histricos e artsticos, porque

    em geral a idia de qualidade de vida apriori assumida pelo prprio conceito de

    desenvolvimento.

    Patrimonializao Proporciona Vantagens e Embaraos

    A dinmica da cidade contempornea acentua ainda mais a necessidade de

    renovao. Como a mudana irreversvel, s nos resta discutir o sentido que ela

    toma. Dependendo das relaes de fora, como Bolonha na dcada de 1970, se a

    patrimonializao for conduzida com esforo de incluso, poder ser uma forma

    bem sucedida de resistncia s agresses da dinmica urbana. Nessa hiptese, a

    operao , ademais, uma oportunidade privilegiada de ordenao do territrio

    contra as foras da especulao e os vetores da cidade difusa. Obviamente ocorre

    uma valorizao de imveis que pode ser bem vinda para os mais desprovidos, j

    que comumente ocorre melhoria da qualidade de vida distrital, no s na unidade

    tratada, como ainda nos contgios de vizinhana.

    A parte patrimonialiiada enriquece a experincia urbana (Giandomenico

    mendola 2000), porque

    um

    nova identidade revelada essa condio que tan

    to se advoga em nossos dias, isto , a presena do multiculturalismo. A unidade

    revitalizada ajuda a criar o sentimento de pertena: o apreo ao lugar por cidados

    de dentro e de fora fundamental coeso social e ao civismo. Por isso o

    processo de patrimonializao deve ser constantemente alimentado por aportes

    atualizados de disciplinas sem as quais no pode ser realizado: histria, sociolo

    gia, psicologia ambiental, geografia, arquitetura, tecnologias diversas, etc;

    Mas preciso ter cincia de que o conceito em discusso no esttico,

    pois acompanha o processo social. Nem todas relaes desejadas se cumprem

    simultaneamente Algumas tm que ser trabalhadas: acentuadas, reformuladas,

    banidas...

    Enquanto em alguns pases existe o perigo de excessiva museificao com

    o risco de eliminar o sal da terra em pases emergentes, por conta de deteriora

    es diversas, esse patamar ainda est muito longe de ocorrer. Neles, trata-se,

    alis, de recuperar o sentido da histria.

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    du rdo

    Yzigi

    Todavia a patrirnonializao tem seu lado indesejvel. Em pases cujas ins

    tituies so de fraco teor de socializao, a existncia do pequeno comerciante,

    residente, usurio etc.) permanece vulnervel, em favor das grandes corporaes.

    Ela depende de negociaes difceis entre moradores, associaes, promotores,

    tecno-estrutura e Estado. Ademais, algumas mudanas de funo podero ser ino

    portunas. Cada sociedade, em cada tempo, deve rediscutir as fronteiras de sua

    aceitabilidade.

    Dentre os principais conflitos, podem ser elencados: a insensibilidade po

    pul r a certos valores culturais de seu prprio interesse; a falta de respeito para

    om a esfera pblica; o relaxamento oficial e privado por negligncia ou falta de

    recursos, alm de graves adulteraes formais.

    Viver o patrimnio significa tambm co-habitar, Enquanto para visitantes

    pode ser motivo de curiosidade, ilustrao do esprito, prazer, para os residentes

    pode ocorrer um relao esvaziada. Parte dessa circunstncia devida ao corpo

    oficial de especialistas da produo simblica , que pode manobrar o interesse

    coletivo, privilegiando apenas valores das classes dominantes.

    A valorizao do patrimnio recai sobre propriedades privadas e pblicas,

    mas

    omo

    as polticas pblicas e culturais possuem alcance limitado, acabam pre

    valecendo os interesses econmicos, estticos e culturais da burguesia. Assim, o

    ganho social se reduz devido excluso, embora se possa contar

    om

    incluses

    lentas de alto interesse: o proletrio se faz na prxis, conforme Edward Palmer

    Thompson 1987) e Jos de Souza Martins 2001).

    Finalmente, deve ser levado em conta que o conjunto patrimonial possui

    certo grau de autonomia, mas tambm limitaes de qualquer microcosmo isto ,

    a coerncia entre um ideal localizado e o sistema dominante. Mas, j que a reor

    ganizao de um cidade ou regio metropolitana costuma se apresentar em nome

    do interesse econmico e social, nada mais oportuno que negociar os entraves

    aqui apontados como legtimos e oportunos para o ndice de desenvolvimento

    humano.

    s Relaes sob o Prima da Mudana

    A Revoluo Francesa de 1789 e a Russa de 1917 so apenas dois exem

    plos histricos de como o

    patrimnio

    muda de mos Andr Chastel 1986), em

    especial o que foi da nobreza e do clero.

    Sabemos que o patrimnio evolui com o processo social, mas dada a possibi

    lidade de existirem populaes despreparadas, conviria a frmula de participao

    assistida. Conforme alerta Milton Santos, a ordem global impe racionalidade

    nica aos lugares: define as escalas superiores ou externas no cotidiano, baseadas

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    GEoINoVA12 2006

    na razo tcnica e operacional, no clculo e na linguagem matemtica. A ordem

    local defme a escala do cotidiano, referenciada pela vizinhana, intimidade, emo

    o, cooperao e socializao. Cada lugar , ao mesmo tempo, objeto de uma

    razo global e de uma razo local, convivendo dialeticamente. A participao as

    sistida deve se dar com a mediao de assistentes sociais , que por certo tempo

    acompanham o grupo de territrio patrimonializado. No caso, cabe

    Administra

    o descobrir e incorporar lideranas capazes de dar continuidade ao processo.

    dequao s ondies de Pases Emergentes

    Efetivamente o subdesenvolvimento coloca muitas restries que foram

    repensar como viabilizar o presente conceito. Os casos mais cuidadosos com o

    patrimnio histrico ou artstico revelam uma alarmante lentido devido ao custo

    operacional. Um exemplo chocante dado pelo palacete art nouveau da ps-gra

    duao da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo,

    apesar de ser lugar privilegiado de especialistas da rea. Por enquanto, somente a

    restaurao de su p ntur interna (faixas decorativas e alguns painis) vem du

    rando quase vinte anos, sem ter chegado metade sequer O que dizer ento do

    tempo e recursos necessrios para refazer todas as partes deterioradas de um bair

    ro? Esse empenho consciencioso faz com que muitos profissionais da preservao

    afirmem que nos pases de recursos limitados no possvel seguir os mesmos

    padres de projeto que os ricos.

    No entanto ningum definiu o que deva ser um

    padro minimamente aceitvel j que a cada nvel de su esenvolvimento cor-

    respondem graus constrangedores de concesso

    No obstante , nem sempre se pode alegar falta de recursos. Um bom proje

    to no precisa ser caro: a singeleza

    j

    fez sucesso histrico em vrias colnias.

    Corrupo, incompetncia e privilgios do oramento para reas no justificveis

    mostram o quanto subtrado de um ideal de civilizao urbana (Eduardo Yzigi:

    2003). Alm disso, grupos desavisados fabricam identidades falseadas e exage

    ram em usos fantasiosos ou bizarros, como aconteceu na cidade de Itu, Estado de

    So Paulo: enquanto sucessivas administraes pblicas e o povo alimentavam o

    sentido jocoso (na cidade em que tudo maior ), perdeu-se a valorizao de

    importantes conjuntos arquitetnicos desse lugar, considerado o Bero da Rep

    blica. O sistema de cooperativas de residentes parece ser a uma opo minima

    mente aceitvel. A outra consiste de exigncias legais desde a prpria fundao de

    uma frente de urbanizao territorial.

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    du rdo

    Y

    zigi

    Linhas mestras a serem aplicadas no subdesenvolvimento

    Se a prpria Frana que pas rico tem de acentuar o valor pragmtico,

    conforme

    diz

    Franoise hoay 1996 , o que no dizer dos mais carentes?

    Um trabalho de revitalizao de conjunto tem de se iniciar pelo reconheci

    mento

    de valores locais ou regionais sedimentados. Osprojetos

    tm

    de

    ser

    inteli

    gentes e

    flexveis

    capazes de acompanhar ascenses sociais e a evoluo

    tecnolgica.

    omoos sistemas de governo no conseguem dar conta nem de construir

    suficientes habitaes

    populares

    no se pode

    esperar que

    arquem com a

    revitalizao de conjuntos. Ou essa tarefa

    liderada pela prpria populao local,

    ou

    no

    se

    pode

    esperar

    muita

    melhoria do cotidiano. Da ento a necessidade de

    fazer uso de formas associativas para minimizar custos projetas, tecnologias, mate

    riais, mo de obra, etc. e fazer uso, preferencialmente, da autoconstruo assistida.

    Nota vlida para todos nveis de governo: estimular colocaes de servios

    oficiais e semi-oficiais, preferencialmente, em edificios de reconhecido valor. A

    adoo do

    mesmo

    princpio por entidades privadas deve

    ser

    recompensada. Os

    projetas tm de

    primar pela

    singeleza construtiva, deixando as sofistificaes

    por

    conta de cada grupo de usurios. No entanto, ao contrrio do que se imagina, a

    simplicidade

    no

    fcil de

    ser

    alcanada

    sem

    algum auxlio de profissionais expe

    rimentados. Isso posto, so necessrias vrias medidas oficiais, em diversas esfe

    ras de poder.

    stmulos nacionais

    A prtica institucionalizada de polticas nacionais de desenvolvimento tem

    sido muito negligenciada, pois os governos atuam muito segundo compromissos

    eleitorais e no varejo. Ora, como o conceito de patrimnio ambiental urbano diz

    essencialmente respeito esfera pblica e esta costuma ser mal assimilada, tudo

    tem

    de

    comear

    com seu cultivo. J disse Jurgen Habermas: somente um

    povo

    bem familiarizado

    com

    a democracia consegue respeitar a esfera pblica e seu

    espao.

    As cooperativas nasceram na

    Inglaterra

    em 1795, passaram por fases de

    abandono, sendo atualmente retomadas, seja como forma associativa entre gover

    no e empresrios, seja

    como

    soluo de interesse popular.

    Para

    que se possa tirar

    partido delas ser necessrio no s fornecer estmulos de facilidades de criao,

    como dar

    proteo aos pequenos empresrios.

    Uma

    das formas pblicas de est

    mulo consiste em oferecer recompensas vantajosas para iniciativas exemplares de

    alta visibilidade. O contgio poder sugerir adeses mesma causa.

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    GEoINoVA 12

    6

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    Nos sistemas federativos a poltica nacional de desenvolvimento tem de

    ser complementada por polticas estaduais e municipais de desenvolvimento urba-

    no em termos regionais e de longa durao. Todavia isso no basta preciso

    formar quadros profissionais suficientes de preferncia em cooperao com as

    universidades a fim de dar apoio tcnico a municpios e associaes de morado-

    res interessados na patrimonializao.

    Um fato alarmante no mundo mais agudo em vrios pases de poucos re-

    cursosconsiste da mediocrizao dos valoresamplamente difundida pelas mdias.

    Mais que nunca ser preciso trabalhar mentalidades naquele sentido anunciado

    h quase meio sculo por Fernand Braudel:

    como garantir qualidade para uma

    sociedade massificada

    As mentalidades tm de ser prioritariamente trabalhadas

    no conjunto do sistema cultural latu senso e em longo prazo. Preocupado com

    esse fenmeno alarmante no caso creio mais nas possibilidades do provrbio lati-

    no: res

    verbis isto trabalhar com fatos coisas e no palavras. Em duas

    palavras trata se de realizar projetos de alta qualidade ainda que modestos.

    Em pases carentes nada mais justo do que definir zonas geogrficas e

    tipologias a serem priorizadas pela assistncia: quais so as pedras angulares? De

    resto quando a iniciativa for da populao o volume de demandas ter de se

    contentar com assistncia tcnica gratuita s cooperativas de usurios via

    subprefeituras.Por isso indispensvel que a urbanizao conte sempre com po-

    lticas de interveno social conceitualmente corretas e atualizadas. A priorios

    projetas pilotos devero retro alimentar teorias e a reformulao de programas o

    que implica a

    continuidade

    do corpo tcnico. De qualquer modo dificilmente se

    obter sucesso sem o apoio de lideranas civis pela causa da cultura material.

    Juridicamente ser preciso adaptar e moralizar as leis de uso e ocupao do

    solo e os cdigos de obra fundados em lugares e no em banalizaes esse

    hbito subdesenvolvido de um distrito copiar o que outro faz sem a menor preo-

    cupao de adaptao.

    Todo esse processo de defender o

    patrimnio

    ambiental atravs das polti-

    cas pblicas coloca a questo:

    quem deve arbitrar

    Por princpio a normatizao por cdigos

    uma arbitragem carecendo

    apenas de reforo e moralizao. Complementarmente como o mercado tende

    homogeneizao a cultura fundamentada no interesse comum poder tonificar as

    resistncias com seu universo diversificado e crtico. Igualmente nos estmulos

    oficiais preciso buscar dilogo entre tcnicos e as lideranas mais habilitadas.

    Em contraposio quando as iniciativas populares tiverem origem em suas pr-

    prias associaes que tomaram conscincia bastar observar as normas perti-

    nentes. O Estado seria incapaz de atender todas as demandas.

    Sistemas de governo empresrios e particulares so todos criadores de

    patrim nio. Nada dispensa que cada um deles sujeite seus projetos aprovao

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    Eduardo Yzigi

    por uma

    instituio pblica, especialmente criada

    para

    tal fim. Se os projetos da

    natureza

    devem

    se sujeitar a relatrios tcnicos de impacto ambiental ,

    por

    qual

    razo o meio urbano no merece igual cuidado? Os eco-histricos deviam acordar

    por

    essa

    causa de amplo interesse social e que

    tambm

    ambiental.

    m on luso

    a) Os fundamentos expostos so indispensveis,

    porque

    a ignorncia do sen

    tido relacional reduz o patrimnio a efeitos cosmticos;

    b) Trata-se de um princpio urbanstico e sociolgico a ser necessariamente

    includo nas polticas pblicas e no planejamento urbano

    tout court

    c) O conceito

    no pode

    se limitar a catalogaes definitivas, pois s

    tem

    sent ido se acompanhar o processo social: o ser e o devir;

    d) Complementarmente, as adversidades institucionais reclamam reformas

    de vrias naturezas;

    e) Resolver a questo social condio

    sine qu non

    de qualquer projeto de

    pas emergente. Em pases

    com

    alto grau de socializao o ambiente

    urbano tende a

    ser

    virtualmente mais patrimonializado);

    f

    s

    restries do subdesenvolvimento tomam a racionalizao imperativa;

    g)

    Sem

    incorporao de novos fundamentos nas polticas urbanas no ser

    possvel trabalhar o presente conceito extensivamente;

    h)

    imperativo contar

    com

    nveis progressivos de excelncia: qualidade de

    vida e socializao devem

    ser

    diretamente proporcionais extenso

    territorial reconhecida

    como

    patrimnio ambiental urbano - excepo

    feita a certa

    margem

    de bens temporrios;

    i)

    indispensvel estimular a formao cultural de quadros oficiais fixos e

    da populao, assim

    como

    lutar

    por

    representaes polticas com slida

    formao nesse campo - alm de se moral izar as leis

    j omo o territrio perifrico o mais abandonado,

    nada mais

    justo e ur

    gente do que prioriz-lo. Dada sua pobreza proverbial no se trata sim

    plesmente de definir micro-espaos a

    serem

    privilegiados, mas de traba

    lhar

    antes pormelhorias pblicas: infra-estruturas, espaos pblicos, ser

    vios bsicos, etc.

    k) A rigor, a concepo relacional de patrimnio ambiental urbano constitui

    uma ampliao do princpio de direito cidade,

    uma

    das formas de inclu

    so

    social - desde que

    no

    se

    sejam

    omitidas atuaes simultneas no

    campo

    estrutural: so os dois palas da conscincia planejadora. Os desa

    fortunados merecem mais que uma civilizao de rebocos

    para

    seus qua

    dros de vida.

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    GEoINo VA12, 6

    8 1

    ASSIM COMO AS RESERVAS DA BIOSFERA SO EXCELNCIAS

    P R

    VIDA OS TERRITRIOS DO PATRIMNIO AMBIENTAL URBANO SO

    RESERVAS DE CIDAD ANIA E CIVILIDADE

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