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Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL, DINÂMICAS NAS CIDADES E PAISAGENS. NOVAS PERSPECTIVAS NA DINÂMICA DEMOGRÁFICA E NO ATUAL PROCESSO DE URBANIZAÇÃO EM CIDADES MÉDIAS PAULISTAS: transformações urbanísticas nas apropriações da periferia urbana do município de São Carlos - SP. Barbara Vallilo Siqueira 1 Sandra Regina Mota Silva 2 Resumo As cidades brasileiras atravessam um período em que se pode identificar um conjunto de transformações nas dinâmicas demográficas e nas formas de expansão urbana. O desenvolvimento econômico pautado na reestruturação produtiva da atividade industrial têm buscado novas localizações e o crescimento das cidades médias paulistasé um dos efeitos provocados por esse processo. Dentre as novas tendências de urbanização, encontra-se a diversificação urbanística do solo nas periferias urbanas. O objetivo do trabalho é identificar no município de São Carlos as novas perspectivas demográficas e os novos padrões urbanísticos no seu vetor de expansão. O trabalho consiste em um levantamento teórico para dar subsídios à nova realidade e uma apresentação de estudo de caso para contextualizar as novas características nas dinâmicas demográficas e no modelo de crescimento urbano. Palavras-chave: cidades médias, dinâmica demográfica, periferia urbana, transformações urbanísticas. Abstract Brazilian cities in a period in which one can identify a set of transformations in the demographic dynamics and in forms of urban expansion. Economic development grounded in productive restructuring of industrial activity have sought new locations and the growth of medium-sized cities in São Paulo is one of the effects caused by this process. Among the new trends of urbanization is the urban diversification of land in urban peripheries. The objective is to identify in the city of São Carlos new demographic prospects and new urban standards in its expansion vector. The work consists of a theoretical survey to provide input to the new reality and a presentation of a case study to contextualize new characteristics on population dynamics and urban growth model. Keywords:medium cities, population dynamics, urban sprawl, urban transformations. 1 Arquiteta e Urbanista. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana. E-mail: [email protected] 2 Arquiteta e Urbanista. Doutora em Engenharia Urbana e professora na Universidade Federal de São Carlos. Departamento de Engenharia Civil. .E-mail: [email protected]

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XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL, DINÂMICAS NAS

CIDADES E PAISAGENS.

NOVAS PERSPECTIVAS NA DINÂMICA DEMOGRÁFICA E NO ATUAL PROCESSO DE URBANIZAÇÃO EM CIDADES MÉDIAS PAULISTAS:

transformações urbanísticas nas apropriações da periferia urbana do município de São Carlos - SP.

Barbara Vallilo Siqueira1 Sandra Regina Mota Silva2

Resumo

As cidades brasileiras atravessam um período em que se pode identificar um conjunto de transformações nas dinâmicas demográficas e nas formas de expansão urbana. O desenvolvimento econômico pautado na reestruturação produtiva da atividade industrial têm buscado novas localizações e o crescimento das cidades médias paulistasé um dos efeitos provocados por esse processo. Dentre as novas tendências de urbanização, encontra-se a diversificação urbanística do solo nas periferias urbanas. O objetivo do trabalho é identificar no município de São Carlos as novas perspectivas demográficas e os novos padrões urbanísticos no seu vetor de expansão. O trabalho consiste em um levantamento teórico para dar subsídios à nova realidade e uma apresentação de estudo de caso para contextualizar as novas características nas dinâmicas demográficas e no modelo de crescimento urbano. Palavras-chave: cidades médias, dinâmica demográfica, periferia urbana, transformações urbanísticas.

Abstract Brazilian cities in a period in which one can identify a set of transformations in the demographic dynamics and in forms of urban expansion. Economic development grounded in productive restructuring of industrial activity have sought new locations and the growth of medium-sized cities in São Paulo is one of the effects caused by this process. Among the new trends of urbanization is the urban diversification of land in urban peripheries. The objective is to identify in the city of São Carlos new demographic prospects and new urban standards in its expansion vector. The work consists of a theoretical survey to provide input to the new reality and a presentation of a case study to contextualize new characteristics on population dynamics and urban growth model.

Keywords:medium cities, population dynamics, urban sprawl, urban transformations.

1Arquiteta e Urbanista. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana. E-mail: [email protected] 2Arquiteta e Urbanista. Doutora em Engenharia Urbana e professora na Universidade Federal de São Carlos. Departamento de Engenharia Civil. .E-mail: [email protected]

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XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

Introdução

No Brasil, em um curto período de tempo, principalmente entre as décadas de

1940 e 1980, o país sofreu um intenso fluxo migratório e, conforme dados do censo do

IBGE, a população brasileira passou de rural para majoritariamente urbana na década de

1960. Esse movimento populacional teve relação com a intensificação do processo

industrial nas cidades brasileiras. Nessa expansãoterritorial urbana, as apropriações nas

cidades têm apresentado padrões distintos, determinado pelas condições econômicas e

sociais de diferentes estratos da população. De acordo com Rolnik (2008), as qualidades

urbanísticas se acumulam em setores restritos da cidade, à disposição de parcelas da

população, geralmente privando a população de baixa renda de condições básicas de

urbanidade e de inserção qualificada à cidade.

A urbanização, segundo essa lógica de distribuição desigual do território,

estabeleceu áreas diferenciadas em relação ao provimento de infraestrutura, o saneamento

básico, o acesso a redes de equipamentos e serviços públicos, as condições de mobilidade,

dentre outras. Até recentemente, as análises sobre a lógica de tais distribuições eram

baseadas em configurações diferenciadas entre áreas mais centrais e as periféricas. As

primeiras, mais bem equipadas e infraestruturadas, geralmente ocupadas pela população de

maior renda e, nas áreas periféricas, a prevalência de condições de informalidade

habitacional e fundiária, associadas à maior precariedade de equipamentos e serviços

urbanos, ocupadas pela população de menor renda.

Contudo, novos padrões urbanísticos decorrentes do processo de expansão das

cidades têm se inserindo em suas áreas periféricas e com isso,o modelo de entendimento de

periferia geográfica, pautado nas carências e precariedades das condições de urbanização

das franjas urbanas, já não comporta a mesma exclusividade de décadas passadas. Mais

recentemente, novas formas de apropriação têm sido identificadas e, dentre elas, os

condomínios habitacionais e os loteamentos fechados, voltados para os estratos sociais de

maior renda.

Atualmente, as cidades médias têm sido submetidas a transformações

territoriais vinculadas a fatores econômicos, principalmente aqueles decorrentes da política

industrial. Para Sposito (2012) é fundamental compreender as relações entre economia e

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espaço para avaliar em que medida as novas relações economias influenciam a apropriação

e configuração dos espaços. Em seus estudos sobre as cidades médias e as aglomerações

urbanas paulistas, Braga (2005) pondera que o processo de desindustrialização da região

metropolitana de São Paulo resultou na interiorização dessas atividades. Essa dinâmica tem

provocado importantes mudanças das cidades de médio e grande porte da rede urbana

paulista. Desse modo, as modificações na reestruturação da rede urbana estão diretamente

associadas às transformações do setor industrial, com a descentralização da produção, que

tem induzido uma divisão territorial do trabalho, possibilitada pelo uso de novas

tecnologias de comunicação.

De acordo com Sposito (2004), é de fundamental importância a observação da

posição das cidades médias em relação à rede urbana e sua situação geográfica, pois são

condições determinantes em suas interações com as demais cidades do seu entorno. Para

Zandonadi (2011) nas aglomerações urbanas não-metropolitanas, as relações se

estabelecem pela concorrência e dependência com as cidades de porte inferior ou

semelhante. Nos centros urbanos, as cidades estabelecem uma relação de centralidade com

os demais municípios de sua rede regional, principalmente de porte menor.

Ao discutir a importância das cidades médias na rede urbana brasileira, Santos

(2009) identifica um intenso processo de reestruturação da lógica de apropriação dos

espaços, que tem subvertido as formas tradicionais de concentração e dispersão, alterando

setores urbanos mais centrais e os periféricos, definindo novas conformações

socioespaciais, afirmando que:

Na escala intraurbana, o fenômeno da “dispersão urbana” está alterando a morfologia urbana tradicional, gerando novas centralidades e novas periferias. Na escala interurbana e regional, são produzidos novos processos de desconcentração e reconcentração espacial da população, das atividades econômicas e da informação sobre o território (SANTOS, 2009, p. 179).

As modificações no processo de expansão urbana das cidades médias paulistas

são decorrentes de diversos fatores, dentre eles, da dinâmica do setor imobiliário. De

acordo com Sposito (2007), é parte desse processo a acentuação das formas de apropriação

segregada do espaço. Nas áreas de expansão urbana dessas cidades podem ser identificados

novos loteamentos, condomínios de médio e alto padrão, unidades habitacionais populares,

dentre outros, e que têm configurado uma morfologia urbana descontínua e fragmentada.

Atividade econômica e sua relação com as configurações socioespaciais

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No processo de urbanização do Brasil, muitos municípios brasileiros assistiram

a um conjunto de transformações decorrentes do crescimento da economia a partir da

industrialização.Ao tratar do fenômeno urbano, é de fundamental importância se reportar à

atividade industrial, pois são processos que se associam, visto as intensas modificações no

processo de urbanização após o pleno desenvolvimento da industrialização. (BRAGA,

CARVALHO, 2004; SPOSITO, 2012).

Apesar das expressões de segregação socioespacial já serem visíveis no ápice

da economia cafeeira agroexportadora no século XIX, o crescimento da urbanização

brasileira foi fortemente influenciado pelas alterações econômicas proporcionadas pela

industrialização. A intensa modificação nas formas de articulação do Brasil com a

economia capitalista, principalmente após estabelecer acordos econômicos com os Estados

Unidos depois da Segunda Guerra Mundial, impulsionou o setor industrial a partir de

substanciais investimentos no setor. (FERREIRA, 2009; LIMA 2007).

A lógica, excludente do ponto de vista territorial, deu início ao processo de

periferização nas cidades brasileiras. Segundo Schvasberg (2011), o modelo de ocupação

desigual e fragmentado construído e implantado no território brasileiro é uma das

resultantes complexas desse intenso fluxo migratório. Porém, é importante ressaltar para o

que Ferreirachama atenção de que, não podemos atribuir ao crescimento acelerado, a

explicação para as condições desiguais das cidades brasileiras, pois esse desequilíbrio:

... é resultante não da natureza da aglomeração urbana por si só, mas sim da nossa condição de subdesenvolvimento. Em outras palavras, as cidades brasileiras refletem, espacialmente e territorialmente, os graves desajustes históricos e estruturais da nossa sociedade... (FERREIRA, 2009, p.1).

Dessa forma, há décadas, o modelo de apropriação urbana no processo de

crescimento das cidades brasileiras seguiu uma lógica de ocupação configurada na

concentração da população de rendas mais altas nas áreas bem dotadas de infraestrutura e

equipamentos urbanos que, geralmente, eram os setores mais centrais das cidades. Em

contrapartida, a população de menor renda ficou sujeita ao que Ferreira (2009, p. 13)

chamou de politica habitacional da “não-ação” pela ausência da ação governamental,

induzindo a formação de grandes periferias com moradias obtidas por meio da

autoconstrução, associada ou não à informalidade fundiária.

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Caldeira (2000, p. 211) faz uma análise sobre as configurações das condições

de desigualdade entre as áreas centrais e as áreas periféricas que dominou o

desenvolvimento das cidades entre os anos 40 e os anos 80 ao descrever que “diferentes

grupos sociais estão separados por grandes distâncias: as classes média e alta

concentram-se nos bairros centrais com boa infraestrutura, e os pobres vivem nas

precárias e distantes periferias”. Neste modelo de distribuição territorial desigual, as

classes mais abastadas estabeleceram melhor relação entre trabalho e moradia, maior

proximidade com os setores comerciais e de prestação de serviços, além do melhor acesso

aos equipamentos de educação e saúde e demais serviços e benfeitorias urbanos.

A estrutura econômica tem passado por transformações ditadas pela

descentralização industrial e, junto com ela, a estrutura espacial também tem se

modificado, vinculando o fenômeno urbano e a atividade industrial como processos

articulados e interdependentes. Por isso, é de fundamental importância compreender as

relações que existe entre economia e espaço para avaliar em que medida a globalização da

economia influencia as apropriações e as configurações desses espaços, pois as alterações

na economia trás diversas modificações no espaço urbano através do abandono de antigas

indústrias até a criação de novos espaços urbanos. (CALDEIRA, 2000; SPOSITO, 2007,

2012).

De acordo com Leite (2012, p. 50) “as novas tecnologias e a globalização

econômica têm alterado os significados das nossas noções de geografia e distância” e essa

nova dinâmica tem induzido a uma nova organização e produção das cidades do interior

paulista. Ao discorrer sobre a crescente autonomia entre os limites espaciais e temporais

Ascher (2010, p. 37) aponta que “a presença física e a proximidade não são mais

necessárias para um certo tipo de troca ou prática social, pois é possível telecomunicar-se

ou deslocar-se mais rapidamente” devido ao desenvolvimento de novos meios de

transporte, de informações e de bens que têm sido disponibilizados.

Esse processo de interiorização do desenvolvimento econômico, ocorrido a

partir da década de 1970, período no qual se identifica uma desconcentração das atividades

produtivas para as cidades do interior paulista, deu subsídios para modificar as interações

do ponto de vista espacial, o processo de articulação e integração funcional do Estado de

São Paulo e incentivou algumas mudanças no padrão de urbanização, somando novos

municípios nas dinâmicas das aglomerações urbanas. (RIBEIRO, RODRIGUES, 2011).

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Dessa forma, Negri (1996, p. 169) aponta que, a partir da década de 1970, o

Brasil assiste “um processo de urbanização com particularidades no que se refere ao

fenômeno das cidades médias”, pois a população passa a ocupar outros centros urbanos

acompanhando a modernidade desses espaços. Desse modo podemos mencionar que as

cidades médias do Estado de São Paulo têm sido submetidas a transformações territoriais

vinculadas a fatores econômicos, principalmente aqueles decorrentes da nova política

industrial. Ao tratar do processo de interiorização do desenvolvimento ocorrido no Estado

de São Paulo como um processo que resultou no crescimento acelerado das cidades

médias, Braga aponta que essas cidades:

... tornam-se elementos de equilíbrio territorial no processo de reestruturação produtiva, num contexto em que as grandes cidades estão saturadas, e tornam-se alvos estratégicos do desenvolvimento territorial. Essa nova dimensão da urbanização faz com que tais cidades acabem por produzir processos socioespaciais típicos dos centros metropolitanos: expansão desordenada nas periferias, deterioração das áreas centrais, segregação residencial e violência urbana. (BRAGA, 2010, p. 5)

O atual processo de urbanização brasileiro tem sido influenciado pelas

modificações econômicas, politicas, sociais e espaciais, proporcionadas pelo aumento nas

articulações do Brasil com a economia global. No contexto das cidades médias brasileiras,

mais recentemente observa-se uma transformação nos padrões de produção, consumo e

qualidade de vida, e que tem sido justificada por esse redimensionamento das atividades

empresariais em termos econômicos, sociais e espaciais. (STEINBERGER, BRUNA,

2001, SPOSITO 2007).

As modificações no processo de expansão urbana das cidades médias paulistas

também têm relação com a dinâmica do setor imobiliário e suas decorrências. As formas

de apropriação segregada do espaço, os loteamentos fechados, os condomínios

habitacionais horizontais de médio e alto padrão e as unidades habitacionais populares são

parte desse processo de expansão. As rápidas transformações a partir das modificações

econômicas e urbanísticas apontam para profundas alterações nas configurações

socioespaciais que têm intensificado o processo de segregação nas cidades brasileiras.

Como expõe Carlos (2011, p. 113) “em cada momento histórico o ciclo do

capital envolve condições diferenciadas para sua realização” e, atualmente, as cidades

brasileiras têm passado por diversas transformações estruturais decorrentes do

desenvolvimento do capitalismo em um processo de acumulação que se apropria e

participa ativamente da produção do espaço urbano.

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Dinâmicas demográficas e suas conformações de concentração e interiorização

Em meados do século XX, o crescimento do setor industrial já era perceptível

no crescimento de algumas cidades brasileiras. No percorrer do século XX o crescimento

populacional nas áreas urbanas foi tão significativo que o país iniciou o século XX com

quase 10% da população nas cidades e finalizou com 81, conforme dados do IBGE.

De acordo com Steinberger e Bruna (2001) concentração e superpovoamento

urbano foi o que marcou as grandes cidades brasileiras dos anos 1950 e 1960, decorrente

do aumento do processo de migração do campo para as cidades.

Inicialmente, a dinâmica demográfica no país teve suas conformações pautadas

na urbanização intensiva resultante da concentração populacional nos grandes centros

urbanos, que abrigavam maior parte da atividade econômica industrial e detinham o maior

número de empregos. Porém, diversas pesquisas têm apontado para um novas tendências

de crescimento populacional a partir da década de 1970. As configurações atuais indicam

uma mudança nos padrões demográficos, pois, as cidades médias têm apresentado ritmos

mais intensos de crescimento populacional, a partir da descentralização do setor de

industrial. Tal contexto tem apresentado alguns reflexos sobre a rede urbana, induzindo

novas tendências de crescimento nas cidades do interior paulista.

De acordo com pesquisas realizadas por Andrade e Serra (1998), foi a partir da

década de 1980, mas com maior intensidade na década de 1990 que as cidades médias do

interior paulista apresentam um novo parâmetro na dinâmica urbano-regional. De acordo

com dados do IAU (2011), os municípios com população urbana maior entre 100 mil e 500

mil habitantes no interior do Estado de São Paulo passaram de 35 em 1950 para 245 em

2010, conforme a tabela 1.

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Tabela 1 – Número de municípios e população no Brasil. Fonte: IAU, 2011

Diversas pesquisas têm apontado para uma nova dinâmica demográfica no

atual processo de urbanização do país que tem configurado padrões de crescimento mais

baixo nas regiões metropolitanas, e um crescimento populacional bastante evidente nas

cidades de porte médio. Conforme o primeiro relatório do processo de revisão do Plano

Diretor de São Carlos, o Instituto de Arquitetura e Urbanismo (2011) apontou que os

municípios com população entre 100 mil e 500 mil habitantes aparecem como aqueles que

aumentaram de forma mais expressiva sua presença na rede urbana paulista, conforme

ilustra a tabela 2. Segundo esse levantamento, de 21 municípios em 1970, passam a 54 em

2000 e

a 66

em

2010.

Em

1970

abrigav

am

22% da

população paulista, em 1991, 27%, em 2000, 31%, e em 2010, totaliza 32,3%.

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Tabela 2

– Municípios paulistas com população de 100 mil a 500 mil habitantes no Estado de São Paulo. Fonte: IAU, 2011

Os novos parâmetros demográficos das cidades médias brasileiras têm sido

mais significativo nas cidades da Região Sudeste por terem atingido cerca de 1,7 milhões

de imigrantes, que é um número maior que o da própria região metropolitana paulista que

atraiu cerca de 1,5 milhões de imigrantes no período de 1980 e 1991. As atuais escolhas

locacionais da atividade industrial, as alterações no movimento migratório, a periferização

das metrópoles, e os investimentos do governo nas regiões com o intuito de diminuir as

disparidades econômicas no país são alguns fatores responsáveis pelo atual

dinamismodemográfico presente nas cidades médias (ANDRADE, SERRA, 2001;

ANDRADE, SANTOS, SERRA, 2001; SANTOS 2003).

As cidades médias paulistas em perspectiva

Atualmente, as cidades atravessam um período em que se pode identificar um

conjunto de transformações nas formas de expansão da área urbanizada e, dentre elas, a

diversificação do uso habitacional do solo e a valorização de alguns setores periféricos. O

desenvolvimento econômico pautado na reestruturação produtiva da atividade industrial

têm buscado novas localizações sobrepondo velhos e criando novos problemas nas cidades

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brasileiras. O crescimento das cidades médias do interior paulista foi um dos efeitos

provocados pelo processo de interiorização do desenvolvimento da economia industrial.

Segundo alguns autores dedicados às analises e reflexões sobre cidades médias, o contínuo

e irregular processo de expansão periférica, tem produzido processos de segregação

socioterritorial, semelhante aos dos grandes centros urbanos. (BRAGA, 2010; ALVAREZ,

2013).

Segundo Braga (2004) todas as cidades médias são cidades de porte-médio, no

qual o critério para sua delimitação é fundamentalmente demográfico, mas do ponto de

vista funcional da rede urbana, as cidades médias são consideradas como cidades

intermediárias, sendo estas superiores aos centros locais e inferiores aos centros

metropolitanos. No presente trabalho será utilizado o parâmetro demográfico adotado pelo

IBGE, que considera as cidades médias aquelas que possuem população entre 100 mil e

500 mil habitantes.

Alguns estudos que tratam da importância que as cidades médias têm

apresentado recentemente apontam que, para definir cidades médias era utilizado apenas o

parâmetro demográfico e apesar desse parâmetro ser de caráter essencial, esses estudos

defendem a necessidade de desenvolver outros critérios de definição para essas cidades,

tais como a diversificação da economia, o grau de urbanização, a importância de sua

configuração, as suas funções e o seu papel na rede urbana, para que possa estabelecer

conceitos mais consistentes e que especifiquem, com maior propriedade, o contexto atual

dessas cidades em crescente desenvolvimento e importância econômica (SANTOS, 2009;

ANDRADE E SERRA, 2001; RIBEIRO, RODRIGUES).

Ao discutir sobre a nova economia e sua relação com a cidade, Leite (2012, p.

70) aponta que “o crescente impacto do processo de globalização, a reestruturação

econômica e as novas tecnologias são as grandes forças transformadoras que afetam o

mundo contemporâneo”. A partir da décadas últimas três décadas do século passado, as

cidades médias paulistas têm desempenhado um papel fundamental na reorganização do

setor produtivo que impulsionou a industrialização das cidades do interior, produzindo,

simultaneamente, modificações de cunho urbanístico. De acordo com Negri (1996), as

alterações que ocorreram no setor industrial paulista coincidiram com algumas alterações

na estrutura espacial, pois as modificações espaciais da indústria de transformação foram

reduzidas na Região Metropolitana de São Paulo e em contrapartida, vimos um forte

processo de interiorização dessa atividade.

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Alguns estudiosos defendem a ideia de que para entender as alterações do

espaço urbano é preciso se atentar para as mudanças estruturais em uma escala mais

abrangente. Para Villaça (2001, p. 13), o simples registro de transformações espaciais não

é suficiente para caracterizar a estruturação ou a reestruturação. É preciso mostrar como

mudanças em um elemento da estrutura provocam mudanças em outros elementos, de tal

modo que, segundo Sposito (2013), sob o ponto de vista analítico, é importante a

investigação em diferentes escalas e a observação de tendências ao longo do tempo. Sem

isso:

(...) estaríamos aceitando a ideia de que o período atual não tem nada de peculiar ou pouco se poderia nele reconhecer que o distinguisse dos anteriores, a não ser a escala da análise das dinâmicas e dos fatores que se estabelecem e conduzem o movimento. Em outras palavras, em vez de explicar o local pelo local ou circunscrito às escalas de pequena abrangência espacial, o que haveria de novo seria a constatação de que é preciso olhar o regional, o nacional ou o global para se entender o local (SPOSITO, 2013, p.130).

Ao tratar da reestruturação produtiva no Brasil, Leite (2012, p. 84) aponta que

“a análise do desenvolvimento urbano com base no processo de reestruturação produtiva

deve contemplar as mudanças no mercado de trabalho e a redefinição do papel das cidades,

que aparecem agora como um empreendimento”. Para Oliveira Junior (2010) a partir

desses processos, as atuais formas de reprodução e acumulação do capital têm induzido a

manifestação de alguns conflitos no processo de (re) estruturação das cidades e, com isso,

tem provocado uma redefinição dos papeis das cidades médias na rede urbana.

Transformação do uso do solo nas áreas periféricas

As áreas periféricas mais carentes e precárias, em condições de informalidade

fundiária, foram reforçadas durante o período de industrialização, onde uma parcela

significativa da população foi excluída das condições de urbanidade formando essas áreas,

a princípio, pelo “isolamento e separação”, da população de maior poder aquisitivo. Esse

modelo periférico se altera sob influência da lógica capitalista aplicada na produção do

espaço urbano e a construção de uma nova periferia inicia-se, materializando a atual

função econômica dada ao espaço urbano como “fonte de investimento, portanto geradora

de lucro”, e que têm contribuído com a necessidade de uma nova definição da expansão da

periferia. (CARLOS, 2013, p. 101, 102).

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As novas apropriações do solo urbano nos setores periféricos têm

reconfiguradoasbordas de expansão das cidades médias e tal fenômeno requer uma melhor

compreensão acerca dos novos padrões urbanísticos que têm se implantado nessas áreas. A

pesquisa de Andrade e Serra (2001, p. 167) afirma ser inegável que o ritmo de crescimento

das cidades médias, a partir de 1970, teve como uma das consequências a formação de

periferias que têm exigido “maior precisão analítica”, na investigação dessas “novas

territorialidades”.Também observam queesse novo padrão de crescimento urbano pode

induzir a repetição de problemas antes assistidos apenas nas regiões metropolitanas.

Como aponta Ascher (2010, p. 40) “a diferenciação social é crescente e marca

de forma cada vez mais forte todas as esferas da vida social”, e a migração da população

da mais alta renda para as franjas das cidades também tem induzido a construção de novas

relações socioespaciais na escala intraurbana, com a construção de novos espaços de

consumo destinados para essa população. Com isso, Caldeira (2000) afirma que a

atribuição dada a relação centro-periferia era capaz de descrever o padrão de segregação

socioterritorial, mas diversos fatores, somados ao deslocamento das classes mais altas das

áreas mais centrais para as áreas mais periféricas em busca de locais mais seguros para

morar, transformou o padrão de exclusão no território das cidades brasileiras.

Os empreendimentos imobiliários implantados nas áreas periféricas das cidades

médias tem configurado uma nova tendência espacial, pois a população de mais alta renda

que é foco desses produtos, não se concentra mais apenas nas áreas mais centrais. Ao

contrário, esse segmento econômico tem se inserido também nas áreas de expansão das

cidades e a implantação desses empreendimentos é o que tem fomentado a busca por uma

redefinição da relação centro-periferia, como aponta Sposito, pois:

A distância entre os desiguais, na cidade, não se opera mais, predominantemente, a partir da lógica de periferização dos mais pobres e de destinação, aos mais ricos, das áreas mais centrais e pericentrais, as melhores dotadas de meios de consumo coletivo (infraestruturas, equipamentos e serviços urbanos). Os sistemas de segurança urbana oferecem condições para que a separação possa se aprofundar, ainda que se justaponham, no “centro” e na “periferia” segmentos sociais com níveis desiguais de poder aquisitivo e com diferentes interesses de consumo (SPOSITO, 2013, p. 140, 141).

Dentre o conjunto de transformações, as áreas periféricas têm se reformulado

com a implantação de grandes empreendimentos imobiliários que são acessados de

maneira desigual conforme a condição econômica (CARLOS, 2013).Um dos fenômenos

que chama mais atenção e que trouxe mudanças importantes no modo de morar das classes

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média e alta segundo Caldeira (2000) é a proliferação dos condomínios habitacionais

horizontais. Ao abordar as novas periferias nas cidades médias do Estado de São Paulo,

Sposito (2003) aponta que novos estratos econômicos e novos conteúdos sociais presente

na periferia urbana das cidades médias começaram e redefinir essas áreas na década de

1980 com a implantação de loteamentos fechados mas se instaurou de forma mais evidente

durante a década de 1990.

Sob o ponto de vista jurídico e fundiário, a Lei Federal nº 6.766 de 19/12/1979,

prevê apenas o parcelamento do solo urbano mediante desmembramento e loteamento.

Portanto, não são aplicáveis a este tipo de empreendimento, pois a lei só se refere a

loteamentos abertos com dotação de áreas públicas, que não é o caso dos condomínios em

debate. Já a Lei Federal nº 4.591 de 16/12/1964 dispõe apenas sobre o condomínio em

edificações, localizados em lote decorrente de loteamentos prévio. Esses empreendimentos

que envolvem o regime jurídico condominial não contemplam espaços públicos, portanto,

não geram o fechamento de áreas que deveriam ser destinadas para toda a população.

Atualmente, a atualização da Lei Federal nº 6766/79 está em processo de

tramitaçãono Congresso Nacional por meio do Projeto de Lei nº 3.057/00, também

conhecida como a Lei de Responsabilidade Territorial, sobre parcelamento do solo para

fins urbanos e a regularização fundiária sustentável de áreas urbanas. Dentre o conjunto de

institutos legais, prevê a regulação do modelo denominado “condomínio urbanístico”.

Trata-se de uma modalidade condominial que poderia ser incorporada ao tecido urbano

buscando uma inserção com controle de seu porte e de redução de seu espaço no sistema

de mobilidade urbana (SILVA, 2011).

O município paulista de São Carlos – SP

O município de São Carlos, que se configura como uma cidade média não

metropolitana possui 236.457 mil habitantes (IBGE, 2013) e localiza-se na região central

do Estado de São Paulo, à 228 km da capital paulista, conforme a figura 1 (PMSC 2014). O

município constitui um importante centro de ciência e tecnologia e conta a com a presença

de duas universidades públicas, a USP (Universidade do Estado de São Paulo) e a UFSCar

(Universidade Federal de São Carlos), além da atuação de duas unidades da EMBRAPA

(Instrumentação Agropecuária e Pecuária Sudeste).

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Grande parte dos municípios não metropolitanos, que se caracterizam como

cidade-polo, possui uma estreita relação com as cidades pequenas, estabelecendo relações

de emprego,

mas

também de

alguns

serviços

como saúde,

educação, e

transporte.

São Carlos,

que se situa

nesse

contexto,

ocupa uma área de 1.140 km², incluindo o Distrito de Santa Eudóxia e o Distrito de Água

Vermelha e faz divisa ao norte com Rincão, Luiz Antonio e Santa Lucia; ao sul com

Ribeirão Bonito, Brotas e Itirapina; a oeste com Ibaté, Araraquara e Américo Brasiliense; a

Leste com Descalvado e Analândia (PMSC, 2011).

Figura 1 – Localização do município no Estado de São Paulo e as cidades que o município estabelece relações. Fonte: PMSC, 2005

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Do ponto de

vista

administrativo São

Carlos se situa na região

Administrativa Central do

Estado de São Paulo,

composta por duas

regiões de governo,

Araraquara e São

Carlos. Já no contexto

da rede urbana paulista, o

município está inserido na Aglomeração Urbana Não-Metropolitana de Araraquara-São

Carlos, contemplando a função de centro-sub-regional. No período entre os anos 2000 e

2009, São Carlos apresentou um crescimento populacional maior que o município de

Araraquara. (EMPLASA, 2011).

A Região Administrativa Central é composta por 26 municípios. A região de

governo de Araraquara com 19, e a região de governo de São Carlos com 7. Dentre os

municípios que compõem a RA Central, São Carlos apresentou um indíce elevado tanto na

taxa geométrica de crescimento populacional, quanto na evolução do saldo migratório,

conforme levantamento da Prefeitura de São Carlos.

A dinâmica demográfica do município de São Carlos não difere da nova

tendência de crescimento das cidades médias paulistas. Em um período de 30 anos, de

1970 a 2000 a população do município mais que dobrou, passando de 85.425 mil

habitantes em 1970 para 192.998 mil habitantes em 2000, conforme dados do IBGE. Nesse

mesmo período, a taxa geométrica de crescimento populacional de São Carlos é maior que

a da Região Metropolitana de São Paulo como pode ser observado na figura 2.

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Figura 2 –Taxa geométrica de crescimento populacional da Região Metropolitana de São Paulo, do Estado de São Paulo e do município de São Carlos. Fonte: SEADE, 2014. Elaborado pelas autoras.

Os dados analisados do município de São Carlos evidenciam as novas

perspectivas nas dinâmicas demográficas das cidades médias paulistas tanto nas escala da

rede urbana quanto nas novas tendências no saldo migratório dessas cidades em relação às

Regiões Metropolitanas.

A distribuição espacial da população e transformações urbanísticas na periferia no

município de São Carlos - SP

A densidade demográfica na área urbana de São Carlos permitequalificar o

processo de expansão urbana nos últimos 10 anos em relação à distribuição espacial da

população. A dinâmica populacional presente no município de São Carlos vem sofrendo

modificações nas últimas três décadas. A concentração demográfica sofreu transformações

que revelam tendências que contribuem na caracterização e espacialização da densidade

populacional, lembrando que sua contabilidade é baseada no uso habitacional. Nesse

processo fica evidenciado um aumento populacional nas periferias, enquanto que as áreas

centrais veem perdendo população pela troca do uso habitacional pelas atividades

comerciais e prestação de serviços, conforme ilustração das três décadas na Figura 3.

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Figura 3 – Esquema comparativo da transformação da densidade demográfica de três décadas. Fonte: PMSC, 2005

Um estudo realizado pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo – IAU (2011)

revela que a comparação dos resultados mostra a permanência da área central da cidade

como a de densidades mais baixas. Um dos fatores mais recentes atribuídos a esse

fenômeno refere-se ao acentuado processo de expansão das áreas mais periféricas através

de condomínios habitacionais. A população que anteriormente morava nas áreas mais

centrais, hoje tem se inserido nas áreas de expansão periféricas do setor norte e noroeste

através desses empreendimentos habitacionais. Essas áreas de expansão também se

configuram com baixas densidades e está é uma mudança é perceptível em relação ao ano

de 2000, quando as áreas nos extremos destes setores eram marcadas por densidades mais

elevadas. Em contrapartida, as densidades mais altas continuam configurando as áreas

periféricas do setor sudoeste que é ocupado pela população de renda mais baixa. Além dos

resultados obtidos na análise da densidade demográfica, a média de moradores por

domicílio também revela a baixa densidade populacional da área central e o adensamento

dos setores de mais baixa renda como ilustra a figura 4.

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Figura 4 – Média de moradores por domicílio ocupado conforme o censo demográfico do IBGE – 2010.

Fonte: PMSC, 2011

A expansão da ocupação das áreas periféricas do município em análise teve seu

ápice a partir da década de 1970 e se deu, a princípio, pela população de renda mais baixa,

na porção sudoeste da área urbanizada. Porém, como já citado anteriormente, uma nova

tendência urbanística têm se inserido no processo de crescimento da periferia urbana. No

município de São Carlos essa tendência tem se implantado com maior evidência no setor

norte e noroeste do município de São Carlos pela inclusão de empreendimentos voltados

para as faixas de renda mais alta, por meio da implantação de condomínios habitacionais

conforme a figura 5.

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Figura 5 –Expansão urbana por tipo de empreendimento – 2003 à 2011. Fonte: PMSC, 2011

O mapa de expansão urbana por tipo de empreendimento revela que essa tem

sido a principal forma de expansão da área urbanizada, configurando as áreas periféricas

desses setores. Com base na distribuição espacial da população no município de São Carlos

é possível ilustrar que a migração da população das áreas mais centrais para as franjas da

cidadeacontece pela busca de locais mais seguros para morar da popualção de rendas mais

altas através de novos padões de apropriação do solo, transformando o padrão de exclusão

no território das cidades brasileiras.

Conclusões

Essa pesquisa buscou analisar as novas perspectivas na dinâmica demográfica

em diferentes escalas. A primeira etapa consistiu em um levantamento temático para dar

subsídios para melhor compreensão sobre os efeitos ocorridos na dinâmica demográfica

em cidades médias paulistas, a partir do desenvolvimento da economia industrial em seu

processo de interiorização. A segunda etapa consistiu em uma análise de um objeto de

estudo para contextualizar os efeitos dessa nova dinâmica na escala intraurbana, tanto na

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distribuição espacial da população quanto na transformação urbanística presente nas áreas

de expansão urbana.

Os resultados encontrados no município de São Carlos apontam para uma

redistribuição espacial da população no Estado de São Paulo, confirmando as novas

perspectivas demográficas das cidades médias paulistas em relação à Região Metropolitana

de São Paulo. Essa nova perspectiva é marcada pela desconcentração demográfica dos

grandes centros urbanos e um aumento expressivo nos ganhos populacionais nas últimas

décadas nas cidades médias paulistas. Diante disso define-se uma nova realidade urbana

nos municípios de porte médio do interior paulista através do novo modelo de produção do

espaço urbano. A crescente ocupação das áreas periféricas tem ocorrido através de novas

apropriações urbanísticas destinadas para estratos de maior renda comprovando que esse

novo padrão de crescimento urbano têm induzido a repetição de problemas antes assistidos

apenas nas regiões metropolitanas.

No município de São Carlos, o crescimento populacional periférico continua

em ritmos acelerados, porém, apresenta novas apropriações através enclausuramento da

alta renda nos empreendimentos condominiais com controle de acesso no setor norte e

noroeste. A implantação desse novo modelo urbanístico de ocupação do solo urbano tem se

tornado um crescente objeto de análise para apresentar maior compreensão dos fenômenos

assistidos nas periferias urbanas das cidades médias, com o objetivo de entender como as

novas tendências e os novos conteúdos econômicos se apropriam das áreas de expansão do

perímetro urbano.

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