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Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL, POLÍTICAS PÚBLICAS INCLUSÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO SUPERIOR: o perfil dos estudantes beneficiados pela bolsa de estudo do Fundosocial na Universidade Regional de Blumenau - FURB Janaina Mayara Müller da Silva 1 Marilda Angioni 2 Resumo O presente artigo é parte de um trabalho de conclusão de curso que buscou dar visibilidade a realidade do acesso a educação superior na Universidade Regional de Blumenau, através de uma pesquisa sobre o Programa de bolsas de estudo do FUNDOSOCIAL. O Programa concede bolsas de estudo integrais através das vagas remanescentes da Universidade, a fim de promover a inclusão social. Apresentamos o FUNDOSOCIAL com o objetivo de dar visibilidade as suas potencialidades, visto que há a possibilidade de extinção do mesmo, que atualmente beneficia 123 estudantes na Universidade. Realizou-se uma pesquisa quanti-qualitativa durante o ano de 2013. Delimitamos o perfil dos bolsistas através de pesquisa documental e também de um questionário. Conseguirmos caracterizar o perfil socioeconômico destes estudantes e verificar que as políticas públicas para inclusão social e democratização do acesso são fundamentais para que a população de baixa renda e em situação de risco e vulnerabilidade social possa acessar este direito em nossa região. Palavras-chave: Educação Superior, Democratização do acesso, Políticas Públicas de Inclusão Social, Bolsas de estudo. Abstract This article is part of a work of completion that sought to make visible the reality of access to higher education in the Universidade Regional de Blumenau, through a survey about the program's scholarships FUNDOSOCIAL. The Program awards full scholarships through the remaining vacancies at the University in order to promote social inclusion. Introducing the FUNDOSOCIAL in order to give visibility to their potential, as there is the possibility of the extinction of the same, which currently benefits 123 students at the University. We conducted a quantitative and qualitative survey during the year 2013. We defined the profile of the stock exchange through archival research and also a questionnaire. We can 1 SILVA, J. M. M. da. Bacharel em Serviço Social. Mestranda em Desenvolvimento Regional pela FURB, Blumenau/SC. E-mail: [email protected] 2 ANGIONI, Marilda. Mestre em Serviço Social. Docente no Curso de Serviço Social da FURB. E- mail: [email protected]

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2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL, POLÍTICAS PÚBLICAS

INCLUSÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO SUPERIOR: o perfil dos estudantes beneficiados pela bolsa de estudo do Fundosocial na Universidade Regional de

Blumenau - FURB

Janaina Mayara Müller da Silva1 Marilda Angioni2

Resumo

O presente artigo é parte de um trabalho de conclusão de curso que buscou dar visibilidade a realidade do acesso a educação superior na Universidade Regional de Blumenau, através de uma pesquisa sobre o Programa de bolsas de estudo do FUNDOSOCIAL. O Programa concede bolsas de estudo integrais através das vagas remanescentes da Universidade, a fim de promover a inclusão social. Apresentamos o FUNDOSOCIAL com o objetivo de dar visibilidade as suas potencialidades, visto que há a possibilidade de extinção do mesmo, que atualmente beneficia 123 estudantes na Universidade. Realizou-se uma pesquisa quanti-qualitativa durante o ano de 2013. Delimitamos o perfil dos bolsistas através de pesquisa documental e também de um questionário. Conseguirmos caracterizar o perfil socioeconômico destes estudantes e verificar que as políticas públicas para inclusão social e democratização do acesso são fundamentais para que a população de baixa renda e em situação de risco e vulnerabilidade social possa acessar este direito em nossa região. Palavras-chave: Educação Superior, Democratização do acesso, Políticas Públicas de Inclusão Social, Bolsas de estudo.

Abstract This article is part of a work of completion that sought to make visible the reality of access to higher education in the Universidade Regional de Blumenau, through a survey about the program's scholarships FUNDOSOCIAL. The Program awards full scholarships through the remaining vacancies at the University in order to promote social inclusion. Introducing the FUNDOSOCIAL in order to give visibility to their potential, as there is the possibility of the extinction of the same, which currently benefits 123 students at the University. We conducted a quantitative and qualitative survey during the year 2013. We defined the profile of the stock exchange through archival research and also a questionnaire. We can

1 SILVA, J. M. M. da. Bacharel em Serviço Social. Mestranda em Desenvolvimento Regional pela FURB, Blumenau/SC. E-mail: [email protected] 2 ANGIONI, Marilda. Mestre em Serviço Social. Docente no Curso de Serviço Social da FURB. E-mail: [email protected]

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characterize the socioeconomic profile of these students and verify that public policies for social inclusion and democratization of access are crucial for the low-income and at-risk and social vulnerability can access this right in our region. Keywords: College education, Democratizing access, Public Policies for Social Inclusion, Scholarships. Introdução

As políticas públicas de ampliação e democratização do acesso a educação

superior são recentes e provocam diversas discussões sobre o tema. De um lado, as

políticas públicas de expansão da educação superior pública, de outro, políticas públicas

para inclusão social nas Instituições de Ensino Superior (IES) privadas. Ambas contribuem

para o acesso a educação superior de populações até então excluídas destes direito. A

novidade dos incentivos, de ambos os lados, nos permite discutir e planejar melhor as

políticas públicas para a educação superior, e então, contribuir nas adequações necessárias

para satisfação das demandas da sociedade.

A Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), diferentemente do

que ocorre na educação superior pública federal, não limita o acesso aos estudantes pelo

número de vagas disponíveis, e sim pela condição dos candidatos em custear suas

mensalidades. Embora sendo pública, a natureza jurídica da FURB não garante uma

educação superior gratuita, e desta forma, depende do pagamento das mensalidades para

sua manutenção. Neste cenário contraditório, a Universidade conta com outras formas de

democratização do acesso a educação superior: os programas de bolsas de estudo, parciais

e integrais, mantidos com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina e os

programas de financiamento estudantil (federal e municipal).

O Fundo de Desenvolvimento Social (FUNDOSOCIAL), programa alvo da

nossa pesquisa, é umas das alternativas para que os estudantes de baixa renda e em

situação de vulnerabilidade social possam acessar a educação superior na FURB. Embora

sem um posicionamento formal, a Universidade foi informada, no dia 23 de agosto de

2012, por técnicos da Secretaria do Estado de Educação (SED), sobre a possibilidade de

extinção do programa. De concreto até o momento, há apenas a confirmação de que as

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bolsas existentes até o segundo semestre de 2012 seriam mantidas (FURB, 2013,

documento interno – não publicado).

O trabalho de conclusão de curso3, que fundamenta este artigo, buscou dar

visibilidade ao Programa, entendendo que o mesmo - embora possua limites - também lida

com possibilidades que precisam ser valorizadas. Partimos do pressuposto de que a

possível extinção do programa só diminuirá as oportunidades de acesso a educação

superior daqueles que não têm condições de pagar as mensalidades, tanto na FURB, como

na região. Desta forma, o trabalho contou com a realização de uma pesquisa documental e

bibliográfica, para a delimitação do perfil dos acadêmicos beneficiados pelo programa, na

FURB. Também foi aplicado um questionário através de correio eletrônico, para

identificarmos as possíveis situações de vulnerabilidade social em que estes estudantes

estão inseridos. O questionário foi respondido por 39 estudantes beneficiados.

Evidenciar a importância das políticas públicas de inclusão e democratização

na educação superior é um dos objetivos deste artigo, mas também gostaríamos de

contribuir na defesa do Programa FUNDOSOCIAL, e no debate da educação superior

como um direito.

1. Expansão da educação superior – desafios e possibilidades

Nos últimos anos o governo federal e alguns governos estaduais têm investido

de forma mais acentuada recursos públicos em IES privadas como forma de aumentar o

acesso da população na educação superior. Este investimento tem ocorrido através da

compra de vagas, da transferência de recursos diretamente as instituições de ensino a título

de bolsa de estudo e financiamento estudantil. Estes programas atingem estudantes com

baixa renda e lhes possibilitam acessar a educação superior, principalmente nas regiões que

não contam com IES’s públicas e gratuitas.

Chauí (2001) e Pinto (2004) discutem a expansão da educação superior no

Brasil através das IES privadas. Para eles, esta forma de expansão impede ainda mais o

acesso a educação superior de grande parte da população. Isso justifica quando Pinto

3 Trabalho apresentado ao curso de graduação em Serviço Social, do Centro de Ciências Humanas e da Comunicação da FURB, como requisito para parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social - O Acesso ao ensino superior na Universidade Regional de Blumenau: Um estudo sobre o Fundo de Desenvolvimento Social. Acadêmica: Janaina Mayara Müller da Silva e Profª Marilda Angioni - orientadora.

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(2004) afirma que “a Taxa de Escolarização Bruta na Educação Superior do país ainda é

uma das mais baixas da América Latina, embora o grau de privatização seja um dos mais

altos do mundo” (PINTO, 2004, p. 727). Embora o incentivo a privatização seja bastante

criticado – e de certa forma concordamos -, o acesso a educação superior começa a ser

discutido e a se tornar realidade para a população que sempre fora excluída. Sobrinho

(2013) defende que o processo de expansão em que o país vem investindo,

[...] corresponde a um legítimo projeto que busca diminuir, ainda que de forma muito restrita, as desigualdades sociais. Com isso ganham os indivíduos incluídos, que se beneficiam da educação para seu crescimento pessoal e uma inserção mais favorável no mundo do trabalho; e ganha a sociedade, que passa a incorporar mais gente com maior capacidade de participar construtivamente nas esferas públicas da vida social e política e nos âmbitos profissionais e econômicos da produção e do consumo. (SOBRINHO, 2013, p. 117)

Mas, considerando a necessidade de ampliar o acesso e a democratização da educação

superior através do setor privado, Sobrinho (2013) acredita que

[...] a educação não pode reduzir-se a serviço do mercado e tampouco a democratização há de se limitar a expandir quantitativamente a escolarização tão somente para impulsionar o desenvolvimento econômico. É óbvio que a educação é essencial para o desenvolvimento da economia e esta é fundamental para a construção de uma sociedade forte e evoluída. Mas as finalidades da educação vão muito além da economia. O essencial neste aspecto é que a educação contribua para que o desenvolvimento da economia e da própria sociedade se proceda respeitando o princípio democrático do bem comum. (SOBRINHO, 2013, p. 108 - 109).

A necessidade de maiores investimentos em educação é essencial, pois, para

Sobrinho (2013) “[...] a exclusão escolar é uma das formas mais perversas de injustiça,

pois priva os indivíduos e, por extensão, a sociedade dos fundamentos e ferramentas

cognitivos, axiológicos e práticos essenciais para a edificação de uma vida digna e

construtiva.” (SOBRINHO, 2013, p. 116). Mas hoje, nos é reconhecido como direito

concreto, somente o ensino fundamental e médio. A educação superior, embora não

reconhecida como tal, é fundamental para o desenvolvimento de cada indivíduo, e também,

para sua qualificação e inserção no mercado de trabalho. E o incentivo a privatização da

educação superior dificulta ainda mais o processo de reconhecimento como um direito,

pois este, não é garantido a todos e acessado por mérito, ou então, por aqueles que podem

pagar.

Assim como todos os processos de construção e consolidação de direitos no

Brasil são tardios, e são processos de lutas bastante difíceis em nossa sociedade que está

pautada em um Estado neoliberal, há a necessidade de discutirmos e considerarmos o

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acesso a educação superior como um direito, para que este seja assim reconhecido. Não

esperamos que a democratização do acesso a educação superior supra todas as

desigualdades decorrentes do atual modelo de desenvolvimento, mas, segundo Sobrinho

(2013), a educação pode ser “[...] um fundamental instrumento de democratização e,

portanto, de inclusão e diminuição de desequilíbrios sociais.” (SOBRINHO, 2013, p. 123).

Consideramos todas as iniciativas de ampliação e democratização do acesso a

educação superior fundamentais para que possamos avançar nas discussões de tornar o

acesso um direito. Sendo assim, acreditamos que discutir as formas de acesso na nossa

região - ou Universidade, poderá contribuir na avaliação de programas que já foram ou

ainda serão implementados. A iniciativa de explanar um dos programas de bolsas de estudo

desenvolvidos pela FURB poderá contribuir também para a melhor eficiência e eficácia de

recursos disponibilizados para a ampliação e democratização da educação superior na

Universidade, através do reconhecimento e maior visibilidade ao público em que estes

programas costumam atender.

2. A FURB e a inclusão social na educação superior

A FURB, autarquia municipal de regime especial, se diferencia das demais

instituições de educação superior no país por congregar, simultaneamente, duas

características a princípio antagônicas: ser uma instituição pública e ser mantida

preponderantemente pelas mensalidades pagas pelos estudantes. De acordo com a Lei

complementar nº 743/2010, a FURB possui plena autonomia didático-científica,

administrativa e de gestão financeira e patrimonial. Seus recursos são provenientes de

[...] dotações consignadas nos orçamentos da União, do Estado e do Município; cobranças de mensalidades; auxílios e subvenções que lhe venham a ser concedidos por entidades públicas ou particulares; remuneração por serviços prestados a entidades públicas ou particulares; convênios, acordos e contratos celebrados com entidades ou organismos nacionais ou internacionais; e outras receitas eventuais. (BLUMENAU, Lei 743/2010, p. 1, Art. 5º).

Além destas, existem várias fontes com destinações específicas, que podem ter como

objetivo desde a manutenção da Instituição ou quanto atingir os próprios objetivos da

Instituição (como por exemplo, os recursos públicos destinados a bolsas de estudo que

objetivam manter os estudantes na Universidade).

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Os conflitos decorrentes da sua natureza jurídica impactam diretamente em sua

política de atendimento aos estudantes e aponta para a necessidade emergente de se discutir

os mecanismos de acesso e permanência dos acadêmicos nesta Universidade. Para isso, a

FURB conta com a Coordenadoria de Assuntos Estudantis (CAE), que desempenha um

papel fundamental nesta discussão. A CAE faz parte da Coordenadoria de Gestão Superior

e está ligada diretamente à reitoria da Universidade. Entre seus objetivos está o de mediar o

acesso de candidatos e de estudantes às políticas públicas voltadas ao financiamento da

educação superior, possibilitando assim o acesso à universidade da população com grandes

dificuldades para arcar com os custos de um curso de nível superior pago. Sendo assim, a

CAE precisa trabalhar e selecionar os estudantes, de acordo com os critérios de acesso

estabelecidos pelos programas de bolsas, como a questão socioeconômica do candidato e

de sua família, envolvendo a avaliação de condicionalidades para a seleção dos estudantes.

De certa forma, este cenário envolve grande parte das IES no Brasil. O Resumo

Técnico do Censo da Educação Superior de 2011 mostra que das 2.365 IES, somente 284

são públicas e logo, 2.081 são privadas. No Sul do Brasil estão 389 IES, sendo 42 públicas

e 347 privadas. Os cursos presenciais em 2011 também são ofertados em sua maioria em

IES privadas (72,2%). No Sul a característica permanece, pois, 70,1% dos cursos

presenciais são ofertados em IES privadas. Desta forma, também nos chama atenção no

Resumo Técnico do Censo da Educação Superior de 2011, que de 6.739.689 matrículas na

graduação, 1.464.628 possuem algum tipo de financiamento (21,7%) (BRASIL, 2013).

Para a ampliação do acesso e inclusão social na educação superior em Santa

Catarina, a SED conta atualmente com o Programa de Bolsas Universitárias em Santa

Catarina - UNIEDU. O programa executa as bolsas de estudo estaduais, tais como o Artigo

170, o Fundo de Apoio à Manutenção e ao Desenvolvimento da Educação Superior -

FUMDES / Artigo 171, e o Fundo de Desenvolvimento Social - FUNDOSOCIAL (SANTA

CATARINA, 2013). Todos os programas são mantidos com recursos do Governo de Santa

Catarina e interferem diretamente na possibilidade tanto de acesso quanto de permanência

de muitos estudantes nas IES. Apesar de a FURB lidar com os três programas, o presente

artigo busca apresentar somente o programa de bolsas de estudo do FUNDOSOCIAL e o

perfil dos estudantes beneficiados na Universidade.

3. Fundo De Desenvolvimento Social – Fundosocial

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O FUNDOSOCIAL foi instituído pela Lei nº 14.876 de 15 de outubro de 2009

com o objetivo de “[...] financiar programas e ações de desenvolvimento, geração de

emprego e renda, inclusão e promoção social, no campo e nas cidades, do Estado de Santa

Catarina, inclusive nas áreas da cultura, esporte, turismo, educação especial e educação

superior.” (SANTA CATARINA, Lei nº 14.876, 2009). O Decreto nº 3.621 de 12 de

novembro de 2010 regulamenta o financiamento de bolsas de estudo deste fundo, e

apresenta o objetivo de “[...] estimular o desenvolvimento econômico-social, observadas as

potencialidades regionais, mediante a inserção de acadêmicos economicamente carentes na

Educação Superior [...]” (SANTA CATARINA, Decreto nº 3.621, 2010).

O Estado, através do FUNDOSOCIAL, compra vagas remanescentes dos

cursos de ensino superior, e as concede como bolsas de estudo integrais4. As vagas são

ofertadas sempre no primeiro semestre do estudante (calouro) e a bolsa é concedida

enquanto o estudante mantiver o vínculo com a IES. Para o financiamento da bolsa

integral, o estado repassa 30% do valor total do custo do estudante, e a Universidade

assume, como contrapartida, ou outros 70% restantes. Para acessar o programa a IES

deverá ter cadastro na SED; sede própria em Santa Catarina; credenciamento aprovado no

MEC ou no Conselho Estadual de Educação (CEE); cursos presenciais aprovados e em

funcionamento; e deverá realizar publicação mensal dos balancetes contábeis -

independente em qual meio de comunicação (SANTA CATARINA, Decreto nº 3.621,

2010).

Como critérios de acesso, o Decreto nº 3.621/2010 estabelece que o candidato

deva ter cursando todo o ensino médio em Santa Catarina e, a Lei 15.242 de 23 de agosto

de 2010 estabelece que o mesmo deva possuir renda per capita familiar máxima de 1 ½

(um e meio) salário mínimo. Os candidatos selecionados não poderão receber outra

modalidade de bolsa oriunda de recursos públicos de qualquer esfera; devem cumprir os

regulamentos da IES em que estiverem matriculados e apresentar rendimento satisfatório

nas disciplinas cursadas5. O não cumprimento destes critérios e/ou a desistência do curso

sem justificativa, implica na exclusão do estudante do programa de bolsa, assim como será

solicitado que o mesmo restitua ao FUNDOSOCIAL o valor correspondente aos benefícios

recebidos (SANTA CATARINA, Decreto nº 3.621, 2010).

4 A legislação prevê integral ao estudante, mas o Estado repassa somente 30% do valor à Universidade. 5 No caso do desempenho satisfatório, a legislação permite uma reprovação a cada semestre.

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Na FURB, o processo de inscrição ao programa passa a ser organizado em três

momentos: 1) a manifestação de interesse do candidato no programa; 2) apresentação

sintetizada das condições socioeconômicas; 3) a efetivação da matrícula e a comprovação,

através do Cadastro Socioeconômico (CSE)6, das situações familiares apresentadas

inicialmente. Além da inserção do FUNDOSOCIAL no CSE, conferindo maior

transparência e legitimidade ao processo, a CAE, amparando-se no estabelecido pelo Art.

1º, da Lei nº 14.876/2009, que diz “[…] VI – para habilitar-se à bolsa de estudo integral,

adquirida pelo Estado, o aluno deverá demonstrar absoluta incapacidade de pagamento de

seus estudos [...]” passa a incorporar como critério complementar de acesso ao

FUNDOSOCIAL, a condição de vulnerabilidade pessoal e/ou social. A equipe técnica da

CAE considera o conceito de vulnerabilidade social adotado na Política Nacional de

Assistência Social (PNAS 2004) para a seleção e dimensionamento do público usuário

desta Política, sendo assim, considera em situação de vulnerabilidade, as

[...] famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho for mal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social. (BRASIL, 2004, p. 33)

Feito isto, a CAE passou a se preocupar em articular, com profissionais de

aproximadamente 17 municípios vizinhos, o encaminhamento de usuários ou familiares da

população atendida pela Política Pública de Assistência Social. Adotando estes

procedimentos, a bolsa de estudo do FUNDOSOCIAL consegue atingir um público que

não possui outras formas de acesso a educação superior, e desta forma, contribui ainda

mais para a democratização do acesso na região, estimulando o desenvolvimento social

regional.

4. Perfil socioeconômico dos estudantes beneficiados pelo Fundosocial na FURB

6 O Cadastro Socioeconômico (CSE) é o mecanismo adotado pela Universidade, para o acadêmico comprovar que apresenta dificuldades financeiras e se inscrever para concorrer a bolsas de estudo. (FURB, 2013)

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O programa de bolsas de estudo do FUNDOSOCIAL foi implantado na FURB

no segundo semestre de 2010, e até o final do ano de 2013, beneficiava 123 estudantes.

Destes, 81 estudantes são do gênero feminino e 42 do gênero masculino. Através do

Resumo Técnico do Censo da Educação Superior de 2011, percebemos que, embora com

pouca diferença, as mulheres predominam no cenário da educação superior. O censo

mostra que nas matrículas da educação superior, 56,9% correspondem ao gênero feminino

e 43,1% ao gênero masculino (BRASIL, 2013).

Desde a implantação do FUNDOSOCIAL na FURB (2010/2), permanece na

Universidade um determinado número de estudantes, de acordo com o semestre de

ingresso, conforme apresentado pela Figura 1:

FIGURA 1 - Número de estudantes que permanecem no Programa FUNDOSOCIAL,

de acordo com o ingresso por semestre.

Fonte: CAE, 2013. Adaptado pela Autora.

Em relação à faixa etária dos estudantes beneficiados pela bolsa, predominam

estudantes com idades entre 20 e 24 anos, seguida da de 15 a 19 anos. Mas cabe destacar

que, apesar da grande maioria estar nesta condição, o FUNDOSOCIAL também beneficia

estudantes de 50 anos ou mais, conforme apresenta a Figura 2:

8

4

21

35

28 27

0

5

10

15

20

25

30

35

40

2010/2 2011/1 2011/2 2012/1 2012/2 2013/1

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FIGURA 2 - Faixa etária dos estudantes beneficiados pelo Programa FUNDOSOCIAL na

FURB.

Fonte: CAE, 2013. Adaptado pela Autora.

O Resumo Técnico do Censo da Educação Superior de 2011 considera a faixa

etária de 18 a 24 anos, a população esperada para cursar a educação superior.

Considerando que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta em

2011, uma população de 22.497.453 com esta faixa etária, o censo nos mostra que no

mesmo ano, contamos com apenas 3.229.755 matrículas em cursos presenciais, desta faixa

etária. Quando consideramos todas as idades, o número aumenta para 5.746.762 estudantes

matriculados em cursos presenciais. No Sul, o fenômeno se repete: em 2011, a população

desta faixa etária é de 3.128.684, sendo que contávamos com 570.293 matrículas em

cursos presenciais, e, somando-se demais idades, o número aumenta para 929.446 pessoas

(BRASIL, 2013). Embora haja uma expectativa do número de pessoas que a educação

superior deva atender, na prática podemos perceber que ainda está longe de atingir seu

objetivo. Grande parte da população não tem acesso, e podemos supor que está pela

expansão da educação superior em caráter privado.

De acordo com os dados da pesquisa, a maioria dos estudantes beneficiados

pelo FUNDOSOCIAL na Universidade se declara da raça branca (84%), seguida de parda

(10%) e negra (6%). Santa Catarina predomina como estado natal dos estudantes, mas

aparecem mais sete estados, conforme a figura 3:

34

45

14 9 11

5 3 2

0

10

20

30

40

50

15 - 19 20 - 24 25 - 29 30 - 34 35 - 39 40 - 44 45 - 49 50 oumais

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FIGURA 3 - Estado natal dos estudantes beneficiados pelo Programa FUNDOSOCIAL na

FURB.

Fonte: CAE, 2013. Adaptado pela Autora.

O município de residência dos estudantes é predominantemente Blumenau,

contudo há uma grande diversidade de municípios pequenos beneficiados, conforme a

Figura 4.

FIGURA 4 - Município atual de residência dos estudantes beneficiados pelo Programa

FUNDOSOCIAL na FURB.

Fonte: CAE, 2013. Adaptado pela Autora.

1 1 1 9

2 4

101

4

0

20

40

60

80

100

120

80

1 1 1 1 1 4 1 1 5

1 5

9 2 4 2 1 3

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

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Beneficiando estes municípios, o Programa FUNDOSOCIAL contribui

também para o desenvolvimento regional, visto que, conversando com os profissionais da

política de assistência social de municípios pequenos, identificamos que falta mão de obra

qualificada, em várias áreas profissionais. Isso também nos mostra o quão importante é

este programa, que acaba beneficiando muito mais do que uma família de determinado

município, e sim, diversas famílias, em diferentes municípios, com as mais variadas

demandas.

O ensino médio em sua maioria foi cursado em escolas públicas (93%). Mesmo

com a presença do ensino particular, há comprovação de bolsa de estudo. O curso com

mais bolsistas é o de Direito com 19 estudantes, seguido de Administração com 16,

conforme apresenta a Figura 5.

FIGURA 5 - Número de estudantes beneficiados pelo Programa FUNDOSOCIAL na FURB,

por curso.

Fonte: CAE, 2013. Adaptado pela Autora.

16

3 2

4 4

2

19

12

5

2 3

1

5

1 1 1

5

2 1 1

4

13

2 1

8

2 1

2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Ad

min

istr

ação

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Mas, quando dividimos por centros7, o que contém mais estudantes é o Centro

de Ciências da Saúde, com 39 estudantes, de acordo com a Figura 6.

FIGURA 6 - Número de estudantes beneficiados pelo Programa FUNDOSOCIAL na FURB,

por centro.

Fonte: CAE, 2013. Adaptado pela Autora.

Em relação à renda per capita dos estudantes, 55% apresenta renda entre meio

salário e 1 salário mínimo, conforme a figura 7.

FIGURA 7 - Renda per capita das famílias dos estudantes beneficiados pelo Programa

FUNDOSOCIAL na FURB.

Fonte: CAE, 2013. Adaptado pela Autora.

7 Estrutura acadêmica que reúne a Universidade por área de conhecimento.

10

24

39

7

17

7

19

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

CCT - Centro de Ciências Tecnológicas

CCSA - Centro de Ciências Sociais Aplicada

CCS - Centro de Ciências da Saúde

CCEN - Centro de Ciências Exatas e Naturais

CCHC - Ce tro de Ciê cias Hu a as e da…

CCE - Centro de Ciências da Educação

CCJ - Centro de Ciências Jurídicas

17

68

37

1 0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 a 1/2 1/2 a 1 1 a 1¹/² 1¹/² a 2

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Quando nos deparamos com a renda per capita, vale fazer uma breve

comparação dos estudantes beneficiados pelo FUNDOSOCIAL e os que são beneficiados

pela bolsa parcial do Art. 170. Enquanto o FUNDOSOCIAL beneficia 85% de seus

estudantes, com renda per capita de até 1 salário mínimo, o Art. 170 beneficia a maioria

dos estudantes (44,4%) que possuem renda per capita acima de 1 salário mínimo e meio.

(FURB, 2013, documento interno – não publicado).

Com relação à composição familiar, como se demonstra na Figura 8, 27% das

famílias são compostas de 3 integrantes. Ao mesmo tempo em que temos estudantes

morando sozinhos (13%), também estamos lidando com famílias de até 11 integrantes

(1%).

FIGURA 8 - Número de integrantes nas famílias dos estudantes beneficiados pelo Programa

FUNDOSOCIAL na FURB.

Fonte: CAE, 2013. Adaptado pela Autora.

Nestas famílias, 67% não têm a presença de crianças, 23% há a presença de

uma criança, 8% de duas e 2% de três crianças. Quanto à presença de idosos, 88% não têm

a presença de idosos, 9% têm a presença de um idoso e 3% de dois.

Com relação à moradia, 53% destas famílias possuem moradia própria, 30%

alugada e 17% cedida. Também conseguimos, através do CSE - gerenciado pela CAE, a

16

28

34

16 15 11

1 1 1

0

5

10

15

20

25

30

35

40

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informação sobre desastres socioambientais. Dos estudantes do FUNDOSOCIAL, 20% das

famílias já foram atingidas por este fenômeno.

Além da pesquisa documental realizada na CAE, que possibilitou caracterizar o

perfil dos bolsistas, foi efetuada a coleta de dados por meio de um questionário, enviado

por correio eletrônico aos estudantes, com prazo para devolução de 40 dias. Somente 39

estudantes responderam (31,70%), e com esta amostra, conseguimos identificar algumas

situações de vulnerabilidade social que as famílias já viveram ou ainda vivem. A situação

que apareceu com maior frequência é o desemprego, atingindo cerca de 20 famílias. Se

considerarmos que somente 39 estudantes responderam o questionário, o número de

famílias que conviveu ou ainda convive com o desemprego, é bastante alto. Em seguida

constatamos que 15 famílias possuem integrantes com alguma doença, o que consideramos

um número também alto. Na Figura 9 podemos verificar as outras situações que

apareceram:

FIGURA 9 - Situações de vulnerabilidade social vivenciadas pelas famílias dos estudantes

beneficiados pelo Programa FUNDOSOCIAL na FURB.

Fonte: CAE, 2013. Adaptado pela Autora.

Desta forma, compreendemos a necessidade de programas de apoio e

permanência para estes estudantes, além de uma forte articulação com a política de

assistência social dos municípios, visto que os estudantes apresentam demandas que

perpassam as atribuições da Universidade, e que precisam ser supridas pelo Estado. A

Figura 10 mostra que algumas famílias não vivenciam nenhuma situação de

10

7

20

6

5

9

1

15

5

0 5 10 15 20 25

Alcoolismo

Outras drogas

Desemprego

Privação de liberdade

Abandono de algum familiar

Violência

Outros

Doença

Deficiência

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vulnerabilidade, enquanto outras, por exemplo, convivem com até 6 ou mais tipos

diferentes de situações:

FIGURA 10 - Número de situações de vulnerabilidade social vivenciadas pelas famílias dos estudantes

beneficiados pelo Programa FUNDOSOCIAL na FURB.

Fonte: CAE, 2013. Adaptado pela Autora.

Isto enfatiza a importância da continuidade do programa, pois consideramos

que o ingresso na Universidade pode contribuir para a superação de situações de

vulnerabilidade social e econômica, vivenciadas pelos estudantes e suas famílias. Contudo,

reforça a necessidade de maior articulação com as demais políticas públicas e um trabalho

multidisciplinar, para garantir a permanência do estudante na Universidade. Além de

reforçar a importância de políticas públicas que democratizem o acesso a educação

superior, trazendo um novo perfil de estudantes para as universidades, que até então não

acessavam a este direito, seja pela situação econômica ou social da família, que em sua

maioria, possuem diversos direitos violados.

5. Considerações finais

Apesar de recentes as iniciativas de democratização e ampliação do acesso a

educação superior em nosso país, e das rigorosas críticas ao modelo de desenvolvimento -

que privilegia o setor privado -, o momento é oportuno para começarmos a discutir este

novo perfil de estudantes que começa a chegar nas universidades. A atual conjuntura exige

11

8 7

5

3 3 2

0 1 2 3 4 5 6 oumais

0

2

4

6

8

10

12

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pensarmos estratégias para que continuem os investimentos na educação superior pública,

mas, ao mesmo tempo, nos pede maior atenção aos recursos destinados as IES privadas. É

certo que a nossa luta está na consolidação de uma educação superior pública, gratuita e de

qualidade, e acessível a todos, mas, enquanto nossas lutas são travadas por interesses

econômicos, há a necessidade de se trabalhar, fiscalizar e acompanhar, os processos de

ampliação e democratização adotados pelo governo federal, e também estadual.

Consideramos importantes as iniciativas de estudos8 e discussões sobre

programas que estão beneficiando nossa região, como é o caso do FUNDOSOCIAL. Este

Programa possibilita o acesso a educação superior às pessoas em situação de risco e

vulnerabilidade econômica e social. Contribui para o desenvolvimento regional a medida

que beneficia também os sujeitos nestas condições, em diversos municípios da região, além

de fomentar a inclusão e democratização do acesso na educação superior. Acreditamos que

programas como o FUNDOSOCIAL são essenciais para a região, e que não beneficiam

apenas um indivíduo ou sua família, mas o seu município e a sociedade como um todo.

Também julgamos necessário e válido estudos que contribuam na identificação

do perfil dos estudantes beneficiados por programas como estes. É necessário criar

vínculos para conhecermos o público beneficiado, para podermos perceber suas demandas,

e então, criarmos estratégias para que estes estudantes permaneçam na educação superior,

de maneira acolhedora e satisfatória, até a conclusão do curso.

A pesquisa efetuada nos mostrou que o FUNDOSOCIAL vem beneficiando um

conjunto de estudantes bastante diferente do restante da Universidade, principalmente

quando foi feita a comparação da renda per capita dos estudantes beneficiados pelo

FUNDOSOCIAL e pelo Artigo 170 que, aliás, é a bolsa de estudo parcial que mais

beneficia estudantes na Universidade.

Os recursos destinados a educação superior já são poucos, e não há justificativa

plausível para o corte do programa FUNDOSOCIAL. Acreditamos que o programa lida

com algumas dificuldades e limites, porém, sua extinção diminuirá ainda mais as

alternativas que este público tem para ingresso na educação superior.

8 O projeto que subsidiou o presente trabalho foi submetido e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa em humanos, da FURB, pelo parecer nº. 21155513.7.0000.5370.

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6. BIBLIOGRAFIA CITADA

BLUMENAU. Decreto n. 9.199 de 30 de junho de 2010. Homologa o estatuto da Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB. Disponível em: < https://www.leismunicipais.com.br/a/sc/b/blumenau/decreto/2010/919/9199/decreto-n-9199-2010-homologa-o-estatuto-da-fundacao-universidade-regional-de-blumenau-furb-2010-06-30.html>. Acesso em: out/2013. –––––. Lei Complementar n. 743 de 2010. Dispõe sobre a reorganização da estrutura administrativa da FURB – Fundação Universidade Regional de Blumenau – e dá outras providências. Disponível em: < https://www.leismunicipais.com.br/a/sc/b/blumenau/lei-

complementar/2010/74/743/lei-complementar-n-743-2010-dispoe-sobre-a-reorganizacao-da-

estrutura-administrativa-da-furb-fundacao-universidade-regional-de-blumenau-e-da-outras-

providencias-2013-07-22.html>. Acesso em: out/2013.

BRASIL. Ministério da Educação. Resumo técnico censo da educação superior de 2011. Brasília, Abril/2013. ISBN: 978-85-7863-022-5. –––––. Política Nacional de Assistência Social. Brasília, Nov/2005, p. 175. Disponível em: < http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/arquivo/Politica%20Nacional%20de%20Assistencia%20Social%202013%20PNAS%202004%20e%202013%20NOBSUAS-sem%20marca.pdf>. Acesso em: out/2013. CHAUÍ, Marilena. Escritos sobre a universidade. São Paulo: UNESP, 2001. 205p. FURB. Cadastro Socioeconômico. Edital 2013/2. Disponível em: < http://www.furb.br/web/10/portugues>. Acesso em: 30 outubro 2013. –––––. Programa de bolsas de estudo integrais do Fundo de Desenvolvimento Social / FUNDOSOCIAL 2010/2 a 2012/2 – a experiência da FURB. Abril/2013, p. 17. Documento não publicado.

PINTO, José Marcelino de Rezende. O acesso à educação superior no Brasil. Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 88, p. 727-756, Especial – Out., 2004.

SANTA CATARINA. Decreto n. 3.621, de 12 de novembro de 2010. Dispõe sobre o programa de aquisição de vagas remanescentes em curso de nível superior e de concessão de bolsas de estudo integrais com recursos do Fundo de Desenvolvimento Social – FUNDOSOCIAL. Disponível em: < http://server03.pge.sc.gov.br/LegislacaoEstadual/2010/003621-005-0-2010-002.htm>. Acesso

em: <out/2013>.

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–––––. Lei n. 14.876, de 15 de outubro de 2009. Altera dispositivos da Lei nº 13.334, de 2005, que institui o FUNDOSOCIAL. Disponível em: < http://legislacao.sef.sc.gov.br/html/leis/2009/lei_09_14876.htm>. Acesso em: out/2013.

–––––. Lei nº 15.293, de 23 de agosto de 2010. Altera dispositivos da Lei nº 15.242, de 2010. Disponível em: < http://server03.pge.sc.gov.br/LegislacaoEstadual/2010/015293-011-0-

2010-001.htm>. Acesso em: nov/2013.

–––––. Secretaria de Estado da Educação. Programa de Bolsas Universitárias em Santa Catarina – UNIEDU. Disponível em: <http://www.sed.sc.gov.br/secretaria/>. Acesso em: Julho/2014.

SOBRINHO, José Dias. EDUCAÇÃO SUPERIOR: BEM PÚBLICO, EQUIDADE E DEMOCRATIZAÇÃO. Avaliação. Campinas; Sorocaba, SP, v. 18, n. 1, p. 107-126, mar. 2013.

ANEXO 1 – Questionário da Pesquisa

IDENTIFICAÇÃO Aluno: Código Pessoa:

Data de Nascimento: / / Idade: Sexo: ( )Feminino ( )Masculino

Naturalidade: UF:

Estado Civil: ( )Solteiro(a) ( )Casado(a) ( )Divorciado(a) ( )Viúvo(a) ( ) União Estável(a)

Curso: Semestre:

Telefone: Email:

Você se considera: ( )Branco(a) ( )Pardo(a) ( )Negro(a) ( )Amarelo(a) ( )Indígena

SITUAÇÃO OCUPACIONAL Possui alguma fonte de renda? ( )Sim ( )Não Se sim, valor:

Se não, qual o motivo?

Esta renda é: ( )Formal ( )Informal Nome da Empresa:

Cargo/função que desempenha:

Depende dessa renda para permanecer na Universidade? ( )Sim ( )Não

Contribui com a renda familiar: ( )Sim ( )Não

Iniciou atividades remuneradas com qual idade?

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( )Antes de 14 anos ( ) Entre 14 e 16 anos ( )Entre 16 e 18 anos ( )Após 18 anos

( )Nunca trabalhou

Principal responsável pelo sustento familiar:

( )Aluno ( )Pai ( )Mãe ( )Cônjuge ( )Outros:_______________________________

HISTÓRICO ESCOLAR Período em que cursou o ensino fundamental: Ano início ( ) Ano término ( )

Período em que cursou o ensino médio: Ano início ( ) Ano término ( )

Escola anterior era localizada em área: ( )Urbana ( )Rural

O ensino médio foi realizado em qual modalidade?

( )Ensino regular ( )Supletivo – Jovens e Adultos ( )Outros:__________________________

Apresentava dificuldade de aprendizagem? ( )Sim ( )Não

Se sim, em quais disciplinas?

Utiliza computador / internet para a realização de trabalhos escolares?

( )Sim ( )Não ( )As vezes

Se sim/as vezes: ( )Tenho computador e acesso à internet em casa

( )Tenho computador mas não tenho acesso à internet em casa

( )Não tenho computador

MORADIA Mora com:

( )Sozinho ( )Família – pai e mãe ( )Família – pai ( )Família –mãe ( )Cônjuge

( )Parentes ( )Amigos ( )Outros: _______

É de fácil acesso? ( )Sim ( )Não

Qual meio de transporte você mais utiliza?

Apresenta dificuldade de chegar no horário da aula? ( )Sim ( )Não ( )As vezes

Situação de moradia: ( )Casa ( )Apartamento ( )Outro

Moradia: ( )Própria ( )Financiada ( )Alugada ( )Cedida ( )Ocupada

Se financiada / alugada, valor das prestações:

Se financiada, qual o programa?

A moradia se encontra em área de risco? ( )Sim ( )Não

A moradia já foi atingida por desastres? ( )Sim ( )Não

Se sim, a família já ficou em abrigos devido aos desastres?

( )Sim – tempo:________ ( )Não

COMPOSIÇÃO FAMILIAR Nº Grau de parentesco Idade Profissão Renda mensal Estuda

Sim Não

01

02

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03

04

05

NÚCLEO FAMILIAR É ou já foi beneficiado por algum programa da Governo? (Ex.: Bolsa família, BPC, Cesta básica, auxílio aluguel etc.).

( )Sim ( )Não ( )Esporadicamente

Se sim / esporadicamente, qual (is)?

Por quanto tempo? Ano início ( ) Ano término ( )

A família ou algum integrante, é atendida por algum programa social? ( )Sim ( )Não

Se sim, qual?

A família vive ou já vivenciou situações de:

( )Alcoolismo ( )Drogadição ( )Desemprego ( )Prisão ( )Abandono de algum familiar

( )Violência ( )Outros:

( )Doença – Qual (is)? ________________________________________________________

( )Deficiência – Qual (is)? _____________________________________________________