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Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL, POLÍTICAS PÚBLICAS REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA NO MEIO RURAL: Caracterização do perfil socioeconômico de agricultores familiares no Território do Meio Oeste Contestado SC 1 Diogo Neves Melo 2 Monique Medeiros 3 Resumo A regularização fundiária rural consiste numa ação sociopolítica de garantia da segurança jurídica do título de propriedade aos agricultores familiares, contribuindo para sua permanência na terra e seu acesso às políticas públicas. O objetivo desta pesquisa é identificar e caracterizar o perfil socioeconômico das principais categorias de agricultores familiares do Território Meio Oeste Contestado e de potenciais beneficiários para políticas fundiárias. A informações obtidas em campo foram analisadas à luz dos preceitos da micro-história. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e questionários fechados para o levantamento do perfil dos agricultores e situação dos imóveis rurais no que se refere à regularização. Os resultados apontam a existência de expressiva quantidade de agricultores posseiros, com problemas de acesso às políticas fundiárias, condições financeiras precárias e idosos. Essa caracterização permite concluir que há potenciais beneficiários para o fomento de políticas públicas de regularização fundiária no Território e que ações desse caráter devem ser fomentadas pelas instituições rurais. Palavras-chave: Análise fundiária, Agricultura, Micro-história, Guerra do Contestado e Políticas Públicas. Abstract The rural land regularization is a sociopolitical action ensuring legal certainty of title to family farmers, contributing to their stay in the land and their access to public policy. The objective of this research is to identify and characterize the socioeconomic profile of the main categories of family farmers from the Midwest Contested Territory and potential beneficiaries for land policies. The information obtained the field experiment were examined to the precepts of micro-history. Semi-structured and closed questionnaires was conducted to survey the profile of the situation of farmers and rural properties concerning regularization. The results indicate the existence of significant amount of squatter’s farmers with problems of access to land policies, poor financial conditions and the elderly. This characterization allows us to conclude that there are potential beneficiaries for the promotion of public policies to land regularization in the Territory and actions of this nature should be encouraged by rural institutions. 1 Pesquisa vinculada ao Projeto “Desafios das políticas públicas contemporâneas no Brasil: superação da pobreza rural com ênfase na sustentabilidade”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 2 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas (PPGA) da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 3 Mestre em Desenvolvimento Rural e Doutoranda no PPGA/UFSC. E-mail: [email protected]

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2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL, POLÍTICAS PÚBLICAS

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA NO MEIO RURAL: Caracterização do perfil socioeconômico de agricultores familiares no Território do Meio Oeste Contestado –

SC1

Diogo Neves Melo2 Monique Medeiros3

Resumo

A regularização fundiária rural consiste numa ação sociopolítica de garantia da segurança jurídica do título de propriedade aos agricultores familiares, contribuindo para sua permanência na terra e seu acesso às políticas públicas. O objetivo desta pesquisa é identificar e caracterizar o perfil socioeconômico das principais categorias de agricultores familiares do Território Meio Oeste Contestado e de potenciais beneficiários para políticas fundiárias. A informações obtidas em campo foram analisadas à luz dos preceitos da micro-história. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e questionários fechados para o levantamento do perfil dos agricultores e situação dos imóveis rurais no que se refere à regularização. Os resultados apontam a existência de expressiva quantidade de agricultores posseiros, com problemas de acesso às políticas fundiárias, condições financeiras precárias e idosos. Essa caracterização permite concluir que há potenciais beneficiários para o fomento de políticas públicas de regularização fundiária no Território e que ações desse caráter devem ser fomentadas pelas instituições rurais. Palavras-chave: Análise fundiária, Agricultura, Micro-história, Guerra do Contestado e Políticas Públicas.

Abstract

The rural land regularization is a sociopolitical action ensuring legal certainty of title to family farmers, contributing to their stay in the land and their access to public policy. The objective of this research is to identify and characterize the socioeconomic profile of the main categories of family farmers from the Midwest Contested Territory and potential beneficiaries for land policies. The information obtained the field experiment were examined to the precepts of micro-history. Semi-structured and closed questionnaires was conducted to survey the profile of the situation of farmers and rural properties concerning regularization. The results indicate the existence of significant amount of squatter’s farmers with problems of access to land policies, poor financial conditions and the elderly. This characterization allows us to conclude that there are potential beneficiaries for the promotion of public policies to land regularization in the Territory and actions of this nature should be encouraged by rural institutions.

1 Pesquisa vinculada ao Projeto “Desafios das políticas públicas contemporâneas no Brasil:

superação da pobreza rural com ênfase na sustentabilidade”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 2 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas (PPGA) da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 3 Mestre em Desenvolvimento Rural e Doutoranda no PPGA/UFSC. E-mail: [email protected]

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Keywords: Land analysis, Agriculture, Micro-history, Contested War and Public Policy. Introdução

A regularização fundiária no meio rural consiste numa ação sociopolítica de

garantia da segurança jurídica do título de propriedade aos agricultores familiares4,

contribuindo para sua permanência na terra e seu acesso às políticas públicas. A

regularização propicia inúmeros benefícios aos agricultores familiares, pois além da

segurança jurídica sobre a posse e domínio da terra, e, conformidade do sistema de registro

público, os beneficiários podem ter acesso facilitado ao crédito rural, seguro rural,

informações precisas sobre seu imóvel e à assistência técnica, além da valorização do

patrimônio com recebimento do título definitivo da terra.

Contudo, grande parte dos agricultores familiares não consegue acessar a esta

política pública no meio rural. Entre os motivos, a insuficiência de políticas públicas de

regularização pelos órgãos governamentais, tanto no âmbito nacional quanto na esfera

estadual e local, configura-se como um entrave a ser vencido. As ações de regularização

esbarram também em processos históricos de aquisição e ocupação da terra e da grande

concentração fundiária nos espaços rurais. Há um caminho longo e oneroso para que as

etapas de regularização sejam cumpridas. O excesso de formalidade para o processo de

regularização fundiária também contribui com a desigualdade do acesso à terra. Questões

como inadequação do regime de cadastros de terras e registros de imóveis no Brasil,

colaboram com a não regularização das terras por parte dos agricultores. O Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e os cartórios5, instituições

responsáveis pelo processo de regularização, também têm dificuldades de fomentar ações

de regularização das terras.

De forma geral, os programas com foco na regularização fundiária ainda são

pontuais e funcionam como projetos pilotos em determinadas regiões. Nos estados

federados há ainda dificuldades de ações que englobem todo o processo de regularização,

desde o cadastro até a titulação. Outro grande entrave é a condição econômica e social dos

4 Compreende-se agricultura familiar como um grupo social no qual a gestão, a propriedade e a

maior parte do trabalho são provenientes de indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou de parentesco (ABRAMOVAY, 1997). 5 Aos cartórios de registro de imóveis, no que se refere a regularização fundiária, cabe realizar o

processo da matrícula, do registro, e da averbação dos bens imóveis.

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agricultores e a limitação de informações históricas das famílias no imóvel rural, bem

como as dificuldades de custeio do processo de regularização e o tempo do processo para o

cumprimento das etapas estabelecidas. Esses fatores podem ser indicativos da carência de

regularização fundiária no meio rural.

O processo de regularização fundiária, quando realizado através do INCRA e do

Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em especial, por meio da Secretaria de

Reordenamento Agrário (SRA), consiste, basicamente, em três etapas: o cadastro de

imóveis rurais, o georreferenciamento da área e a titulação das propriedades. Quando este

processo é realizado através do Programa Terra Legal6, da Secretaria Extraordinária de

Regularização Fundiária da Amazônia Legal (SERFAL/MDA), a etapa de pós-titulação

também está inclusa. Essa etapa consiste no comprometimento do novo proprietário em

não vender a terra adquirida durante o período de dez anos, e em respeitar a legislação

vigente conforme indicado nas cláusulas contratuais do programa. Caso haja

descumprimento dessas cláusulas, pode haver perda de título pelo proprietário.

O cadastro dos imóveis rurais é realizado por meio do levantamento de informações

relativas aos estabelecimentos agropecuários: dados pessoais do produtor, de sua família,

condições do estabelecimento em termos de uso e posse, situação econômica e de

exploração do imóvel.

O sistema de georreferenciamento, o qual consiste em uma medição precisa e

atualizada da área e a descrição das suas principais características, limites e confrontações

dos estabelecimentos com a utilização do Sistema de Posicionamento Global (GPS),

permite uma visualização de forma integral das informações topográficas da região

analisada. A partir do georreferenciamento é possível obter medições precisas das áreas

analisadas. Atualmente, a Lei 10.267/2001, exige o georreferenciamento como uma das

etapas constituintes do processo de cadastro de imóveis rurais maiores que quatro módulos

fiscais7. Essa lei entrou em vigor desde novembro de 2013 para imóveis rurais com áreas

6 É uma iniciativa governamental de regularização fundiária na Amazônia Legal com o objetivo de desenvolver o acesso a direitos e cidadania e combater a grilagem na região. A intenção do programa Terra Legal é regularizar as ocupações legítimas, com prioridades aos pequenos produtores e comunidades locais. São beneficiados posseiros que ocupam imóveis rurais de até 15 módulos fiscais em áreas da União (SERFAL, 2013). 7 Módulo Fiscal é uma unidade de medida expressa em hectares, que é fixada por cada município, e

leva em consideração alguns fatores como: tipo de exploração predominante do município, renda obtida da exploração, outras explorações significativas em função da renda da área utilizada e conceito de propriedade familiar. O módulo serve como parâmetro de classificação de imóvel rural

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entre 250 e 500 ha, e indicou como início de obrigatoriedade dessa medição, para casos de

imóveis com área de 100 e 250 ha, o mês de novembro de 2016, enquanto que para os

imóveis com áreas entre 25 e 100 ha, novembro de 2019, e, para imóveis com área inferior

a 25 ha, novembro de 2023.

A titulação consiste na análise processual para emissão do título de domínio da área

ocupada. Para regiões como a Amazônia, a titulação incorpora cláusulas de cumprimento

da legislação ambiental e de responsabilidade sobre a preservação da floresta pelos novos

proprietários (SERFAL, 2013).

O processo de regularização fundiária demanda diversas etapas que envolvem

questões políticas, administrativas, socioeconômicas, culturais, históricas e locais. Assim,

no que diz respeito ao planejamento e à operacionalização de políticas públicas dessa

dimensão, é necessário que se analise os problemas relacionados ao sistema de

regularização fundiária, em especial, para as categorias de agricultores familiares, e é

importante que se delimite o perfil de potenciais beneficiários nessa política. Segundo

Botelho et al. (2007) e MDA (2007), conhecer o perfil desses agricultores potenciais

permite uma avaliação posterior das implicações da titulação de terras para as famílias.

A caracterização das áreas de estudo, o conhecimento da estrutura fundiária das

unidades familiares e a apropriação de conhecimentos locais, é essencial na formulação

dessas políticas de regularização. O levantamento de informações quantitativas e

qualitativas sobre os locais estudados, a identificação do perfil da distribuição fundiária e

das agências relacionadas ao desenvolvimento rural também devem ser consideradas para

uma maior abrangência dessa política.

Assim, partindo de uma caracterização da área da pesquisa, o Território do Meio

Oeste Contestado8, segundo dados do IBGE (2006), tem um expressivo contingente de

categorias de agricultores que não são proprietários9 de suas terras e que, portanto,

possuem dificuldades de acesso a políticas de regularização fundiária. O último censo

agropecuário mostra que dos 15.473 estabelecimentos agropecuários do Território, 12.866

são de agricultores proprietários e 1.375 são de agricultores com problemas de acesso à

quanto ao tamanho e na delimitação de beneficiários para políticas públicas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) (INCRA, 2002). 8 O Território do Meio Oeste Contestado é o local escolhido para a realização da presente pesquisa e faz parte de um território administrativo. 9 Para o IBGE, “proprietário” refere-se a condição do produtor que explora diretamente as terras de sua propriedade, inclusive por usufruto e foreiro (IBGE, 2006).

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terra. Desses: 800 são ocupantes, 181 produtores sem área, 114 parceiros e 280

arrendatários. Somado a isso, havia 1.232 agricultores assentados da reforma agrária sem

titulação definitiva nos 29 municípios do Território.

Considerando tais informações sobre o Território e compreendendo que para o

desenvolvimento eficaz dessas políticas fundiárias é imprescindível que se conheça o

público a ser beneficiado, a presente pesquisa tem como objetivo identificar e caracterizar

o perfil socioeconômico das principais categorias de agricultores familiares do Território

do Meio Oeste Contestado e de potenciais beneficiários para políticas fundiárias na região.

Delimitação da pesquisa

A pesquisa abrangeu cinco municípios do Território do Meio Oeste Contestado a

considerar: Ipuaçu, Abelardo Luz, Xanxerê, Faxinal dos Guedes e Passos Maia. Para a

efetivação do estudo foram realizados questionários fechados e entrevistas semi-

estruturadas buscando levantar dados e informações sobre o perfil dos agricultores

familiares referentes às questões sociais, econômicas, históricas, opinião sobre as políticas

públicas de regularização fundiária na região e situação dos agricultores frente à

regularização fundiária de seus imóveis rurais. Entre os meses de Maio e Junho de 2014,

foram realizadas vinte e cinco entrevistas com agricultores que apresentam e com

agricultores que não apresentam o título de terra de seus imóveis rurais e que são

potenciais beneficiários de políticas fundiárias. Concomitantemente, foram entrevistados

agricultores que estão em andamento com o processo de regularização via política

estadual.

A análise das informações foi facilitada por fundamentos da abordagem da micro-

história, a qual parte de uma análise reduzida da situação pesquisada e permite a

reconstituição do vivido impensável em outros tipos de historiografia e que procura entre

outras funções indagar as estruturas invisíveis dentro dos quais os atores se encontram

(GINZBURG, 1991). A micro-história ainda possibilitou uma “modulação local da grande

história” de forma particular e original de forma diferente da que nos foi apresentada

(REVEL, 1996).

Preceitos da Micro-história

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A micro-história originou-se de trabalhos de um grupo de historiadores italianos,

entre 1970 e 1980. Para Revel (1998), a micro-história nasceu como uma reação a um certo

estado da história social, da qual ela sugere reformular concepções, exigências e

procedimentos.

Para Thireau (1993), o território é elemento da construção histórica e a análise da

micro-história apresenta-se como um instrumento de indiscutível relevância para o estudo

de dinâmicas territoriais de desenvolvimento. Segundo Revel (1996), o desafio posto a esta

análise está no fato de valorizar a experiência mais elementar pertencente a grupos

restritos, ou indivíduos, pois, devido sua clarificação e complexidade, podem proporcionar

diferentes contextualizações de um determinado assunto.

Para Levi (1996), a vontade de estudar o social associado as inter-relações que se

apresentam no interior de configurações em processos permanentes de adaptação é

objetivo da análise da micro-história. Para o autor, é através de mínimas diferenças nos

comportamentos quotidianos que se constrói a complexidade social e as diferenciações

locais com enraizamento de histórias dos atores sociais. Vale ressaltar que os preceitos da

micro-história apresentam um caráter mais empírico, uma desconfiança em relação às

formulações gerais e a presença de uma abstração exacerbada sem demonstração prática e

concreta de suas análises. (LEVI, 1996).

Para Bourdieu e Wacquant (1992), um dos instrumentos de maior ruptura é a

história social dos problemas dos objetos e dos instrumentos de pensamentos, portanto é

preciso fazer a história social da emergência desses problemas. Para Levi (1996), o que se

propõe é, portanto, constituir a pluralidade dos contextos visando a compreensão do

comportamento observado.

O uso da micro-história para esta pesquisa está fundamentado na construção

documental a partir da historiografia, da imaginação histórica e de relatos de atores sociais

envolvidos. A micro-história é utilizada nessa investigação como instrumento de

construção de dados, visto que a história do Território do Meio Oeste Contestado e de seus

atores sociais do passado refletem nas ações e condições socioeconômicas, culturais e

políticas dos atores pesquisados no presente.

Contexto histórico e fundiário do Território do Meio Oeste Contestado

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O Território do Meio Oeste Contestado10 é composto por 29 municípios de Santa

Catarina e compreende uma área de 8.288,10 Km2, representando aproximadamente 9% da

superfície do Estado (IBGE, 2006). O Meio Oeste Contestado representa um território

administrativo constituído no ano de 2004 por intermédio do governo federal, mais

especificamente pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, para o estabelecimento de

políticas públicas, de forma especial, do Território Rural de Identidade, gerenciado pela

Secretaria de Desenvolvimento Territorial.

A ocupação do Território Meio Oeste Contestado pode ser dividida em três

momentos, a saber: o primeiro está relacionado à ocupação por indígenas, especialmente

da etnia Kaingang. O segundo da ocupação por caboclos ao final do século XIX, e o

terceiro ocorre no início do século XX, com a colonização por imigrantes ou descendentes

de imigrantes europeus (TECCHIO, 2012).

Segundo o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) do

Território do Meio Oeste Contestado (2006), até o século XIX, o Território inicialmente

era habitado principalmente pelas populações indígenas. No final do mesmo século

iniciaram-se incentivos do Estado brasileiro para a ocupação das terras de campo. A

colonização dessa região aconteceu no início do século XX, e depois dos incentivos do

governo para a sua ocupação para evitar perdas para outros países (TECCHIO, 2012).

Essas terras foram apropriadas especialmente por militares e fazendeiros, que na região

passaram a ser reconhecidos como coronéis e instalaram suas fazendas de criação de

animais.

Ao longo do tempo, esse Território foi alvo de disputas constantes com o Reino da

Espanha, com a República da Argentina, com as províncias e até mesmo com o Estado do

Paraná e Santa Catarina. A população que pertencia à região passou a ser denominada de

cabocla, sendo estas formadas por homens e mulheres sem posses de terra (PTDRS, 2006).

Entre 1912 e 1916 ocorreu a Guerra do Contestado, a qual teve como pano de fundo a

disputa entre os estados do Paraná e Santa Catarina.

Para Martins (1986), a Guerra do Contestado foi a maior guerra popular da história

contemporânea do Brasil, ela abrangeu 20 mil rebeldes e envolveu efetivos do Exército

10 O Território do Meio Oeste Contestado integra os municípios de Água Doce, Catanduvas, Coronel Martins, Entre Rios, Ipuaçu, Lajeado Grande, Luzerna, Ouro Verde, Passos Maia, Ponte Serrada, Vargem Bonita, Xaxim, Abelardo Luz, Bom Jesus, Capinzal, Erval Velho, Faxinal dos Guedes, Galvão, Herval d`Oeste, Ibicaré, Joaçaba, Jupiá, Lacerdópolis, Marema, Ouro, São Domingos, Treze Tílias, Vargeão e Xanxerê.

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brasileiro e tropas de combatentes irregulares. Segundo Amador (2009), a luta camponesa

pela posse da terra era formada pelos caboclos, representados pela população que habitava

a região, contra os governos estaduais, que promoviam a concentração de terra em

benefício dos grandes fazendeiros. Juntamente com os fazendeiros havia a presença da

polícia particular vinculada à empresa construtora da estrada de ferro São Paulo – Rio

Grande do Sul e também o exército. Para o autor, essa Guerra, que representava um

fenômeno de ordem econômica e política, provocou mudanças sociais na região, em

especial, para a população cabocla.

A estrada de ferro tornou-se estratégica ao governo e aos poderosos grupos

econômicos na facilitação da introdução na região de relações capitalistas ligadas ao

modelo monopolista, até então ausentes na localidade (AMADOR, 2009). A Guerra contou

ainda com a presença da política coronelista que expulsou a população cabocla das terras.

O descontentamento da população com a situação do coronelismo, da presença da estrada

que beneficiava apenas aos estrangeiros, e da expulsão dos caboclos das terras que não

possuíam título de propriedade, conforme previa a Lei de Terras11, impulsionou a Guerra

do Contestado. Para Auras (1995), com a expulsão dos caboclos dessas terras, iniciou-se

um processo de imposição de valores diferenciados à lógica até então praticada pelos

caboclos. Instaurou-se uma lógica que visava o desenvolvimento individual, produtivista.

Assim, segundo Auras (1995), a transformação da terra em bem de produção acarretou a

institucionalização da propriedade privada, em detrimento da simples ocupação de terra ou

posse, lógica ainda vigente na sociedade atual.

Ainda que desfavorecidos, política e materialmente, frente aos exércitos e ao

coronelismo, os caboclos os enfrentaram na luta pela defesa de suas terras. Contudo, a

população cabocla foi derrotada e um número significativo de mortos foi o resultado do

conflito. A guerra, segundo Amador (2009), tornou-se um divisor de águas no modelo de

desenvolvimento econômico da região, que antes era marcado por uma economia de

subsistência e que após a guerra, foi influenciado por descendentes de imigrantes, em 11 Somente em 1850, houve a edição da primeira legislação de terras do Brasil, a lei 601 que criou a Lei das Terras de 1850, constituindo-se como um marco histórico para a questão fundiária do país. Segundo Martins (1999), a Lei de Terras longe de ter por objetivo a liberalização do acesso à terra, teve justamente como foco um objetivo ao contrário, portanto, de instituir bloqueios ao acesso à propriedade pelos trabalhadores, fazendo com que esses tornassem força de trabalho das grandes fazendas. Essa lei ainda tinha como objetivos proibir as aquisições de terras por outro meio que não a compra, elevar os preços das terras e dificultar sua aquisição e destinar o produto das vendas de terras aos “colonos” imigrantes (GUIMARÃES, 1968).

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especial italianos e alemães, vindos do Rio Grande do Sul, para a ocupação de terras, que

instalaram uma economia que conciliava-se com a lógica do mercado capitalista. Essa

nova lógica contribuiu com o processo de mudança do perfil socioeconômico e cultural da

população.

Muitas das terras do Território foram cedidas às empresas colonizadoras e às

empreiteiras, em sua grande maioria de capital estrangeiro. Para Renk (2006), essa

tendência de ceder ou vender terras para as colonizadoras resultou no preenchimento do

“vazio demográfico” da região. Assim, muitos estrangeiros, descendentes de alemães e

italianos, apropriaram-se de terras não legalizadas, enquanto que a população cabocla vivia

travando lutas pelas áreas em que vivia.

Até os dias atuais o acesso às terras continua sendo alvo de disputas. É possível

observar nesse território a presença de assentamentos, frutos de lutas dos movimentos

sociais e de muitas terras indígenas em vários municípios do Meio Oeste Contestado.

No que se refere às suas características socioeconômicas, esse Território apresenta

uma população total de 272.039 habitantes, sendo a população urbana 199.363 (73,28%) e

a população rural 72.676 (26,72%), conta com 13.155 estabelecimentos da agricultura

familiar, o que representa aproximadamente 85% do total dos estabelecimentos e 15%

considerados estabelecimentos patronais (IBGE, 2010), e é marcado por grande

concentração fundiária que apontam que 62,5 % da área ocupada de terras agrícolas

pertençam ao segmento de estabelecimentos rurais não familiares (TECCHIO, 2012).

A estrutura fundiária do território indica que 27,8% dos estabelecimentos

agropecuários possuem áreas menores de 10 ha e 59.4% dos estabelecimentos áreas entre

10 e 50 ha. Estes últimos formam a parcela prioritária das políticas de apoio à agricultura

familiar (IBGE, 2006, TECCHIO, 2012). Assim, aproximadamente 90% dos

estabelecimentos rurais são de agricultores familiares que produzem em áreas de até 50 ha.

Os dados do IBGE (2006) apontam que 7,71% destes estabelecimentos são geridos por

agricultores não proprietários, ou seja, por arrendatários, parceiros ou ocupantes e

agricultores sem área. Destas categorias, os ocupantes correspondem a um universo de 800

estabelecimentos agropecuários. Segundo Tecchio (2012), a condição de ocupantes ou

posseiros de terras está presente na maior parte do Território do Meio Oeste Contestado e

representa uma parcela da população rural sem acesso à documentação das áreas. De

acordo com a autora, ocupantes, posseiros, arrendatários e parceiros, ocupam minifúndios,

ou seja, unidades agropecuárias com áreas insuficientes para manter a subsistência do

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grupo familiar. Assim, essas famílias buscam alternativas de renda em trabalhos sazonais

ou como empregados de empresas prestadoras de serviços agropecuários terceirizados.

Nessa região há um elevado dinamismo socioeconômico, com a presença de

agroindústrias que obtém os recursos produtivos advindos da agricultura familiar. Mesmo

apresentando tal dinamismo, a região expressa uma quantidade de famílias rurais pobres e

que não se integram as cadeias produtivas agropecuárias. O Meio Oeste Contestado

caracteriza-se, portanto, como um território em que há grande concentração de terras,

mesmo tendo quantidades expressivas de agricultores familiares, entre os quais se

encontram aqueles sem acesso à terra, indígenas e assentados de reforma agrária

(TECCHIO, 2012).

Atualmente, no que se refere à operacionalização de políticas de regularização

fundiária no meio rural no estado de Santa Catarina, a Secretaria de Estado da Agricultura

e Pesca (SAR) coordena o Programa SC Rural, o qual objetiva, entre outras ações, o

aumento da competitividade da agricultura familiar e com atuações vinculadas à atividade

de regularização fundiária. É previsto nesse programa regularizar 3000 propriedades de

agricultores familiares até o ano de 2016 (PROGRAMA SANTA CATARINA RURAL,

2012). A Secretaria entende que a legalização das propriedades propicia a adequação às

exigências de legislação ambiental, sendo requisitos ao acesso de políticas públicas, como

incentivos de ordem produtiva e crédito rural. A própria SAR reconhece que a falta de

documentação dos imóveis no meio rural é ainda um problema não solucionado e que os

serviços de extensão do estado, seja por desconhecimento ou falta de exigência de

documentação no passado, não atuavam nessa área de incentivos a legalização. As

implicações desses problemas refletem-se nas políticas públicas sociais e de incentivos à

produção, que ainda não alcançam todo seu público prioritário por falta de documentação.

O programa SC Rural teve ações analisadas especialmente no município de Faxinal dos

Guedes nos quais agricultores foram beneficiados e/ou estão à espera do recebimento do

título. Nos outros municípios estudados não havia relatos de beneficiários do programa

governamental de incentivo à regularização fundiária.

Outra ação de regularização fundiária no meio rural no Território pesquisado foi

realizada pelo INCRA no ano de 2001. O Instituto atualmente não tem ações nos

municípios pesquisados, exceto no município de Abelardo Luz em que agricultores ainda

estão recebendo seus títulos de terra da ação conjunta do Estado através da SAR, junto ao

Instituto desde 2001. Segundo informações da SAR (2014), há pendências de entrega de

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títulos aos agricultores no município devido à burocracia do processo de regularização

fundiária e da falta de uma equipe técnica que dê suporte para a finalização dos processos

na SAR instaurados no passado. Enquanto esse processo está em andamento, os

agricultores têm tido dificuldades da manutenção de condições produtivas e econômicas

dos imóveis e das famílias, recorrendo a estratégias de arrendamento de terras, da produção

voltada para o autoconsumo e por vezes, da prática de outras atividades não agrícolas.

Caracterização socioeconômica de agricultores familiares: potenciais beneficiários de

políticas fundiárias

Alguns resultados de observações em campo e das entrevistas realizadas junto aos

agricultores familiares nos cinco municípios analisados permitem-nos afirmar que há

especificidades no que diz respeito a percepção quanto a políticas públicas fundiárias em

cada município e comunidade analisada, bem como entre famílias e indivíduos, as quais

podem ser analisadas à luz da micro-história, visto que esta objetiva, entre outras funções,

contextualizar diferentes percepções de distintos atores sociais sobre determinadas

conjunturas.

No que se refere aos agricultores familiares do Território, observou-se que

predominantemente a grande maioria é oriunda de outras regiões e estados federados, em

especial vindos do Rio Grande do Sul e de outras mesorregiões de Santa Catarina. Esse

dado vai ao encontro do contexto histórico da Guerra do Contestado, visto que a presença

de trabalhadores migrantes que se instauraram no Estado, trouxeram consigo diferentes

valores daqueles até então mantidos pelos caboclos. Tais agricultores vivem em seus

imóveis rurais há muito tempo e normalmente conciliam trabalho e moradia na unidade

familiar12. Quase que a totalidade dos agricultores entrevistados praticam agricultura e

pecuária, sendo este último em menor escala. De acordo com a necessidade familiar e

disponibilidade de tempo, trabalham parcialmente fora da unidade familiar em busca de

melhores condições econômicas, configurando-se assim como fenômeno da

12

A unidade familiar corresponde ao conjunto da família nuclear, incluso o marido ou companheiro, esposa ou companheira, filhos e eventuais agregados que exploram o mesmo estabelecimento rural sob as mais variadas condições de posse, sob gestão familiar, incluídos casos de estabelecimentos explorados por individuo sem família (SEAGRI, 2014).

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pluriatividade13. A mão de obra no imóvel rural é predominantemente familiar e raramente

há contração de terceiros. Os entrevistados relatam que a falta de condições financeiras, o

tamanho reduzido dos imóveis rurais e a falta de títulos de terra não proporcionam

condições viáveis para contratações de mão de obra devido ao baixo investimento

realizado no imóvel, visto que a produção agrícola é basicamente para autoconsumo e de

pequena escala. Quando há contratação, relatam a dificuldades de mão-de-obra terceirizada

e da falta da juventude no meio rural para o trabalho na agricultura.

São agricultores e agricultoras que trabalham e vivenciam o campo desde a infância

e tem origem predominantemente cabocla. Apresentam, de forma geral, baixa escolaridade,

limitando-se ao ensino fundamental incompleto e evidenciam a falta de oportunidades de

estudos quando crianças e a necessidade do trabalho junto à família. Apresentam idade

maior que 50 anos em sua grande maioria, e vivem basicamente da aposentadoria rural e

venda esporádica das produções agrícola e pecuária e do trabalho sazonal em outras

unidades agrícolas da comunidade. Apenas cinco dos entrevistados citaram o apoio da

bolsa família como fonte de renda adicional. Nos municípios pesquisados, fica evidente a

dificuldade de manutenção das famílias apenas com a renda advinda do setor produtivo,

bem como a permanência desses nesses imóveis. São famílias carentes de condições

econômicas, de saúde e de acesso a serviços básicos. Devido à idade dos agricultores

observou-se poucas perspectivas na busca de investimentos nas unidades agrícolas e

prospecções futuras quanto a permanência do imóvel rural na produção, o que acarretará

em longo prazo em problemas de sucessão familiar no meio rural e busca de moradia e

melhores condições sociais e econômicas nas áreas urbanas.

O Território, caracteriza-se também pela presença de agricultores posseiros, ou

seja, pessoas que exploravam o empreendimento em bem, móvel ou imóvel, de

propriedade de terceiros, sem ter consentimento para usá-lo e nada pagando (INCRA,

2002). Esse dado vai ao encontro dos dados fornecidos pelo IBGE (2006) e Tecchio

(2012), que relatam que no Território há a presença de expressiva quantidade de

agricultores posseiros, configurando-se como uma categoria ainda existente na região e

que, portanto, enfrentam dificuldades de acesso à terra e sua regularização. Esses 13 Segundo Schneider (2007), a pluriatividade é um fenômeno que combina duas ou mais atividades, sendo necessariamente uma das atividades a agricultura, em uma mesma unidade de produção. O autor acrescenta que o grupo doméstico deve compartilhar entre si um mesmo espaço de moradia e trabalho e se identificarem como uma família, e, quanto mais complexa é a relação entre os agricultores, o seu meio social e econômico, mais intensa é a interação entre atividades agrícolas e não agrícolas.

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acontecimentos remontam à herança da Guerra do Contestado, visto que, a partir daquele

momento houve a institucionalização da privatização do imóvel, em confrontação com a

posse, até então caracterizada com um instrumento de acesso à terra.

Devido as dificuldades de legalização dos imóveis rurais, os agricultores, de forma

geral, utilizam-se de estratégias para futuros investimentos no imóvel através de acesso a

empréstimos e financiamentos junto aos bancos e agências financiadoras. As estratégias

consistem em arrendar terras de terceiros e valer-se do contrato de arrendamento para

acessar benefícios desejados. Vale ressaltar que a condição de arrendatário está presente na

grande maioria dos casos e esta configura-se como sendo a “condição do produtor que

toma as terras do estabelecimento em arrendamento mediante o pagamento de quantia fixa

em dinheiro ou sua equivalência em produtos ou prestação de serviços” (INCRA, 2002).

Os contratos de arrendamento são realizados de forma simples entre um proprietário e o

agricultor que irá explorar o imóvel e esse documento é registrado nos cartórios dos

municípios. Normalmente esses contratos são passíveis de modificações e flexíveis de

acordo com os interesses de ambas as partes. Devido ao pequeno tamanho dos imóveis, os

agricultores relatam a necessidade de arrendar terras e fazer parcerias junto a terceiros a

fim de proporcionar melhores ganhos com a produção agrícola e acesso a crédito rural.

No que se refere à participação comunitária, as entrevistas demonstraram que os

grupos de igrejas, em especial católicas, os sindicatos de trabalhadores rurais dos

municípios, e, em menor grau, as cooperativas da região, são espaços de participação dos

agricultores em questões que envolvem a comunidade. Ressalta-se que agricultores com

melhores condições socioeconômicas e produtivas vendem o excedente às cooperativas da

região e portanto, tem acesso facilitado aos benefícios da instituição. Junto às cooperativas,

participam de cursos e tem acesso a uma assistência técnica privada direcionada a seus

processos produtivos. Contudo, essa participação comunitária é tímida nas regiões

pesquisadas e esse fato pode estar relacionado ao isolamento dessas famílias nas zonas

rurais e as diferenças sociais e religiosas dos diferentes indivíduos. Esse fato pode ser um

indicativo dos acontecimentos históricos do passado, no quais havia o isolamento dos

caboclos em relação aos imigrantes do Território, em especial, aqueles de origem europeia,

devido a Guerra do Contestado.

Buscou-se também caracterizar o imóvel rural dos agricultores, bem como o

processo de sua aquisição e produções agrícolas, além de questões relacionadas à

documentação, titulação da terra e investimentos realizados. Dados demonstraram que,

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prioritariamente, os imóveis rurais são de tamanhos pequenos, não apresentam dimensão

maior que 30.000 metros, e por vezes não conseguem alcançar o tamanho mínimo para que

seja regularizado junto ao cartório de imóveis rurais e ao INCRA, inviabilizando sua

escritura. Assim, essas áreas são caracterizadas como minifúndios, ou seja, muitas vezes,

áreas do imóvel rural menores que um módulo fiscal. São áreas na quais as dimensões são

insuficientes para a manutenção de uma família na geração de sustento a partir da força de

trabalho. Há contudo agricultores que possuem imóveis rurais com maiores dimensões e

que portanto, podem ser beneficiados por políticas de regularização fundiária, a exemplo

do Programa SC Rural no nível Estadual.

Os imóveis em sua grande maioria, não possuem condições adequadas para

produção vegetal e animal de grande escala produtiva, visto que são imóveis com declives

acentuados, com áreas de produções não contínuas, próximas a córregos, rios e a áreas de

proteção ambiental. Estão, sobretudo, localizados em áreas de divisas com grandes imóveis

rurais regularizados que possuem expressivas produções agropecuárias e com boas

condições de trabalho. Assim, observou-se que, agricultores com melhores condições

econômicas puderam acessar as melhores áreas produtivas, ao passo que, agricultores

menos capitalizados, em especial os caboclos, ocuparam as áreas de limites de grandes

propriedades. Esse é um reflexo da expulsão dos caboclos de suas terras e da apropriação

pelos migrantes durante a Guerra e que se mostra presente até os dias atuais no Território.

Em relação à aquisição dos imóveis rurais, estes são oriundos de diversas fontes,

através da compra com recursos próprios, posse ou herança/inventário da família. Quando

ocorre a compra, a aquisição do imóvel é formalizada mediante contratos de compra e

venda e, muitas vezes, desconsidera-se o processo de regularização. Esse fato ocorre, de

forma especial, quando há a divisão de grandes lotes em pequenas áreas para a venda, das

quais é fornecida apenas a documentação de transação do imóvel. No município de Ipuaçu,

mais especificamente na comunidade de São João e Samburá, há aproximadamente 15 e 30

famílias, respectivamente, que não detém a titularidade da terra e obtiveram o imóvel

apenas através de contratos de aquisição. Esses dados relatam que o acesso a terras através

de compra e venda tornou-se restrito apenas àqueles que detém o poder de compra e que

portanto, poderiam se beneficiar de maiores e melhores áreas.

A pesquisa também possibilitou o acesso a agricultores que estão com o processo

de usucapião de seus imóveis em andamento. Esse processo consiste em uma modalidade

de reconhecimento do domínio pela posse ininterrupta e prolongada da propriedade e em

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decorrência do uso deste bem por um determinado tempo. Para que este direito esteja

válido é necessário que a posse seja pacífica, ou seja, sem qualquer contestação de

indivíduos, não havendo resistência ou oposição quanto a propriedade da terra. A posse da

área rural não deve ser superior a 50 hectares durante cinco anos ininterruptos, desde que

esta seja produtiva pelo trabalho do possuidor ou de sua família. Os casos de usucapião

foram verificados, em especial, na comunidade Alegre do Marco, em Abelardo Luz, na

qual há processos de usucapião dos imóveis rurais, realizados pelo INCRA, junto à SAR,

desde os anos de 2001, e que estão em andamento até os dias atuais. Agricultores de outros

municípios, à exemplo de Faxinal dos Guedes, citaram o processo de usucapião, contudo

estes casos estão vinculados ao Programa SC Rural e/ou obtiveram o processo por vias

privadas de obtenção do imóvel.

Em relação ao tamanho do imóvel e da área agrícola, os agricultores pouco

investiram em aquisição de terras para o aumento da área plantada e produção animal. As

produções vegetais basicamente consistem em cultivos de milho, feijão, mandioca e soja,

sendo esta última em menor escala, e a produção animal consiste na criação de frangos e

vacas leiteiras. Esses agricultores produzem prioritariamente para autoconsumo e para

suprir a alimentação dos animais, o excedente da produção é vendido em comércios locais

e, raramente, nas cooperativas ou agroindústrias da região. Não fazem beneficiamento da

produção e realizam a comercialização de seus produtos in natura.

O investimento no imóvel é baixo e quando há, geralmente é voltado à aquisição de

animais e reforma de benfeitorias. Possuem dificuldade na realização de financiamentos e

empréstimos o que acarreta minimização de investimentos, pois as agências financiadoras

exigem a titularidade da terra ou contratos de arrendamento para o acesso aos benefícios.

Relatam que possuem maior facilidade de acesso a crédito rural junto a instituições

privadas e de microcrédito, quando comparado a bancos estatais, a exemplo do Banco do

Brasil, que exigem a documentação da terra. O acesso aos financiamentos configura-se

como um dos problemas mais citados entre os agricultores. Eles afirmam que essa

dificuldade os impossibilita de ampliar seus cultivos e comercializar excedentes em

mercados locais.

Vinte e dois dos agricultores pesquisados possuem o Bloco de Produtor Rural há

mais de dez anos, porém tem dificuldade de acesso a Declaração de Aptidão ao Pronaf

(DAP). Para acesso ao Pronaf, a documentação da terra é necessária e no que se refere ao

Bloco os agricultores usam-se de estratégias de arrendamento de áreas para a permanência

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da produção e manutenção ativa do bloco de produtor rural. Há apenas dois casos de

agricultores que acessaram ao Pronaf investimento14 e na aquisição de maquinário junto ao

Banco do Brasil. Estes agricultores que tiveram acesso ao benefício possuem parcelas de

seus imóveis rurais regularizados, o que facilita o seu acesso a política pública de crédito

fundiário.

No que concerne à documentação da terra, predominantemente são agricultores que

apresentam apenas o contrato de compra e venda da terra e não possuem a documentação

regularizada. Somente alguns agricultores têm a titularidade da terra e quando o têm essa é

realizada através de recursos próprios e sem o auxílio de políticas públicas, na maioria dos

casos. Para eles, o processo fundiário é extremamente burocrático, caro e de longa duração,

visto que muitos destes agricultores vivem da aposentadoria rural e não tem condições

financeiras para investir na ação de legalização do imóvel. Há casos de agricultores que

apresentam parcelas regularizadas e outras parcelas ainda não regularizadas. A totalidade

dos agricultores, contudo, concorda e acredita na importância do título da terra e está

disposta à realização de parcerias para viabilizar esse processo de legalização. No que cabe

a atuação das instituições nesse processo de fomento e apoio a regularização nas zonas

rurais, os agricultores não identificam as instituições responsáveis pelo processo facilitador

de acesso a política. Veem na titulação uma possibilidade de melhorar as condições

socioeconômicas da família, da valorização da terra, de conhecimento sobre o imóvel rural,

da segurança de investir na unidade, de se sentirem pertencentes ao local onde vivem, de

acessar a investimentos e a programas sociais. Com problemas de acesso a políticas

fundiárias os agricultores deixaram também de ter acesso a uma diversidade de benefícios,

inclusive, aqueles vinculados as questões sociais, a exemplo da Minha Casa Minha Vida

no meio rural e eletrificação rural.

As entrevistas demonstraram que os agricultores acessam aos serviços públicos de

postos de saúde, transporte (quando da disponibilidade, pois usualmente utilizam do

transporte escolar para a locomoção até a cidade e /ou pagam táxi e caronas), de escolas e

colégios aos filhos e eletrificação rural (há casos de agricultores familiares na comunidade

São João, em Ipuaçu, que não acessam a eletrificação devido a falta do título da terra). De

forma geral, não acessam a coleta de lixo e a segurança pública. Grande parte desses

14 Apoio financeiro a investimentos, inclusive em infraestrutura, que visem ao beneficiamento, armazenagem, processamento e comercialização da produção agropecuária, de produtos florestais e do extrativismo ou de produtos artesanais e a exploração de turismo rural (BNDES, 2014).

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serviços está disponível apenas na cidade, a exemplo de escolas e postos de saúde. Não há

portanto, grandes investimentos na manutenção do tecido social de agricultores familiares

no meio rural, uma vez que, estes são dependentes de serviços prestados nas áreas urbanas.

No quesito assistência técnica e orientação no meio rural, citam que os sindicatos e,

por vezes, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

(Epagri) atuam junto aos agricultores. Relatam, porém, que a Epagri assiste

preferencialmente a agricultores que possuem terras e produções de maior escala, para

além de produções de autoconsumo e com esporadicidade de vendas e que a ação da

instituição é marginal nessas famílias com problemas de regularização fundiária. Esse fato

remonta a historicidade de atuação das empresas agropecuárias e de extensão no Brasil,

que foram construídas sobre a égide produtivista e de transferência de tecnologias para

propriedades produtivas e com carências de atuação no multiculturalismo e

transversalidade entre os atores sociais, suas práticas, história e condições sociais,

econômicas e culturais. Os agricultores não relataram a presença de Organização Não

Governamental (ONG) no Território analisado.

Eles têm acesso as informações sobre políticas no meio rural através do sindicato,

rádio local e através de conversas entre os agricultores e a comunidade. No que e refere ao

programa SC Rural da SAR, poucos agricultores têm conhecimento sobre a política de

acesso, visto que em muitos municípios analisados falta uma cooperação entre as

instituições para a promoção desse programa e há uma deficiência significativa no

levantamento da demanda de potenciais agricultores beneficiários de tais ações. Também

não relacionam o INCRA como instituição promotora da regularização fundiária nas zonas

rurais.

O programa SC Rural foi analisado apenas no município de Faxinal dos Guedes, no

qual verificou-se a presença de agricultores beneficiados. Para os agricultores, o programa

é de grande ajuda e tem concretizado um desejo antigo deles, que é o acesso ao título da

terra e a todos os benefícios concomitantes a esta titulação. Para eles o processo para a

realização do programa é bastante simples e são orientados pelo sindicato dos

trabalhadores rurais de Faxinal dos Guedes para a execução. O sindicato do munícipio tem

parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Regional de Xanxerê, o que proporciona a

expansão do programa até o município de Faxinal. Segundo os entrevistados, houve o

trabalho técnico dos agrimensores na mediação da área e da reserva legal. Posterior a esse

processo, os agricultores receberam o mapeamento dos imóveis e a documentação para a

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continuidade do processo de regularização junto a serviços de advocacia, contratados pelos

agricultores, para andamento do processo de usucapião das áreas. Para alguns agricultores

havia desconhecimento da necessidade de continuidade do processo por meio particular

para a efetivação da regularização. Alguns afirmaram que houve omissão de informações

referentes à necessidade de pagamento do título pelos agricultores. Contudo, ainda assim,

os agricultores entrevistados têm empreendidos esforços para o pagamento das ações, pois

sabem os benefícios que o título pode proporcionar e nas melhorias na possibilidade de

investimentos no imóvel rural.

Para a melhoria do processo de regularização fundiária no meio rural, segundo

relatos dos agricultores, é necessária maior agilidade no processo de regularização e

informações precisas das ações das instituições na promoção dessa política, bem como as

etapas necessárias que os agricultores devem realizar para o cumprimento dos

procedimentos regulatórios. Relatam que o custo ainda é o principal impasse da

regularização dos imóveis rurais, seja dentro do Programa SC Rural ou através da

regularização por meios privados.

Em resumo, o Território e em especial os municípios analisados configuram-se

como locais na qual há presença expressiva de agricultores posseiros, com problemas de

regularização fundiária. Depreende-se dessa análise que há um público potencial

expressivo para o fomento de políticas públicas nesse Território, sejam elas municipais,

estaduais ou federais, em vista que o não acesso dos agricultores a essas políticas vem

desencadeando problemas no alcance de uma diversidade de outras políticas públicas,

sejam elas sociais, econômicas e/ou produtivas.

Conclusões

A caracterização do Território e o levantamento do perfil socioeconômico dos

agricultores familiares é uma primeira etapa para se propor políticas públicas fundiárias na

região. A pesquisa possibilitou analisar a presença de um expressivo contingente de

agricultores posseiros, de origem cabocla, e com problemas de regularização fundiária em

seus imóveis rurais e que portanto, são potenciais beneficiários para o fomento de ações de

legalização de suas áreas.

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A micro-história trouxe elementos de ações do passado que configuram na vida de

agricultores do presente, e que portanto, devem ser analisadas na proposição de políticas

públicas antes da tomada de decisão de sua implementação.

A regularização fundiária possibilita assim, a oportunidade de manutenção dos

agricultores nas zonas rurais, por meio da valorização da terra, da segurança de

investimento no imóvel rural, do pertencimento ao local onde vivem, do acesso ao créditos

e financiamentos rurais e às políticas sociais, econômicas e produtivas.

Pesquisas e análises futuras devem ser realizadas nesse Território com o objetivo de

mapear as demandas pelos agricultores no que se refere às ações fundiárias, levando-se em

consideração, as especificidades locais, a valorização do histórico dos agricultores e a

possibilidade de atuação conjunta entre os atores sociais e as instituições ligados ao meio

rural, com vistas a efetividade de políticas públicas fundiárias.

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