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 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         Criação do Sistema Nacional de Avaliaçao Institucional do Ensino Superior em Cabo Verde     Resumo O artigo enquadrase na criação do Sistema Nacional da Avaliação Institucional do Ensino Superior em Cabo Verde (em processo) e, em particular, verificar em que medida a criação dessa agência reguladora induzirá a promoção de um Ensino Superior de qualidade nas Instituições do Ensino Superior endógenas, em consonância com os princípios orientadores dos principais organismos supranacionais, isto é, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Banco Mundial. Para a construção desse artigo baseouse fundamentalmente na pesquisa documental, entre os quais se destacam o Projeto de Cooperação entre Brasil e Cabo Verde (BRA 04/044), intitulado, Qualidade da Educação Superior: Criação do Sistema de Avaliação em Cabo Verde, bem como, bibliografias especializadas da área de avaliação. Partimos do pressuposto de que a criação da supracitada agência é condição necessária para a prestação de um ensino de qualidade, indutora de significativas melhorias nas IES, ainda que insuficiente, na medida em que, tal modalidade de avaliação tem limites e potencialidades.   Palavraschave: Palavrachave: Sistema Nacional de Avaliação Institucional do Ensino Superior, Qualidade, Cabo Verd   António Pedro Barbosa Cardoso Ponticia Universidade Católica do  Rio Grande do Sul [email protected]         

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    Criação do Sistema Nacional de Avaliaçao Institucional do Ensino Superior em Cabo Verde    

 

Resumo O  artigo  enquadra‐se  na  criação  do  Sistema  Nacional  da Avaliação  Institucional do Ensino  Superior  em Cabo Verde (em processo) e, em particular, verificar em que medida a criação  dessa  agência  reguladora  induzirá  a  promoção  de um Ensino Superior de qualidade nas Instituições do Ensino Superior  endógenas,  em  consonância  com  os  princípios orientadores dos principais organismos supranacionais, isto é,  a  Organização  para  Cooperação  e  Desenvolvimento Econômico  (OCDE)  e  Banco  Mundial.  Para  a  construção desse  artigo  baseou‐se  fundamentalmente  na  pesquisa documental,  entre  os  quais  se  destacam  o  Projeto  de Cooperação  entre  Brasil  e  Cabo  Verde  (BRA  04/044), intitulado,  Qualidade  da  Educação  Superior:  Criação  do Sistema  de  Avaliação  em  Cabo  Verde,  bem  como, bibliografias especializadas da  área de  avaliação. Partimos do pressuposto de que a criação da supracitada agência é condição  necessária  para  a  prestação  de  um  ensino  de qualidade,  indutora  de  significativas  melhorias  nas  IES, ainda que  insuficiente, na medida em que,  tal modalidade de avaliação tem limites e potencialidades.   Palavras‐chave: Palavra‐chave: Sistema Nacional de Avaliação Institucional do Ensino Superior, Qualidade, Cabo Verd  

 António Pedro Barbosa Cardoso Ponticia Universidade Católica do  

Rio Grande do Sul [email protected] 

     

 

 

 

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 Criação do Sistema Nacional de Avaliaçao Institucional do Ensino Superior em Cabo Verde  António Pedro Barbosa Cardoso 

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A centralidade da Avaliação  Institucional na definição das políticas públicas em Educação 

Por  que  a  avaliação  institucional  ganhou  tanto  protagonismo  na  definição  das 

políticas públicas, como  instrumento de  regulação das  IES? Por que está no centro das 

discussões na atualidade,  sobretudo por que é que “um  conceito que é patrimônio da 

escola”,  segundo Dias  Sobrinho  (2002,  p.  14)  ultrapassa  os muros  da  sua  existência  e 

instala‐se decisivamente no centro do poder dos Estados de todo o mundo e espalha os 

seus  efeitos  a  toda  a  sociedade,  isto  é,  na  política,  na  economia,  e  torna‐se  um 

instrumento reformador das IES, mas também do próprio poder central das nações?  

Ao  longo das últimas décadas são muitos os autores que  têm discorrido sobre a 

avaliação,  mas  sobretudo,  acerca  de  uma  das  suas  modalidades,  isto  é,  a  avaliação 

institucional, se partirmos do pressuposto que tal avaliação pode subdividir‐se  em outros 

domínios,  concretamente,  a  avaliação  pedagógica  de  aprendizagens,  avaliação  do 

desempenho  docente,  avaliação  das  políticas  e  programas,  avaliação  institucional  e 

avaliação de qualidade. Todos estes domínios estão na ordem das discussões, mas nas 

bibliografias  acerca  da  avaliação  educacional  destacam‐se  sobretudo,  a  avaliação 

institucional das IES e igualmente a avaliação da qualidade dessas instituições.  

É fundamental fazermos o devido enquadramento conceitual, para delimitarmos o 

nosso  objeto  de  estudo  respeitando  toda  sua  polissemia,    densidade,  abrangência  e 

complexidade.  Porque  o  objeto  de  estudo  central  da  nossa  investigação  é  a  avaliação 

institucional,  e  é  sobre  essa  modalidade  que  vamos,  a  partir  de  agora,  enquadrar, 

conceitualizar,  projetar  e  analisar  a  sua  centralidade  na  agenda  dos  grandes  debates 

sobre questões educacionais, convocando para o efeito, diferentes perspectivas teóricas 

suportadas  pelos  respectivos  autores,  com  vista  a  problematizá‐la  e  desmistificar  os 

sentidos explícitos e ocultos que lhe estão subjacentes.  

De outra forma, esse enquadramento conceitual da avaliação institucional, só será 

plausível  se  integrado  ou  ancorado  no  pressuposto  de  que  as  IES  constituem 

organizações complexas, onde há uma série de relações, desde a negociação, o conflito, 

os  interesses, os diferentes objetivos e até níveis diferenciados de poder, resultantes da 

posição hierárquica de cada um dos  seus elementos em  interação. Ainda, como afirma 

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Lima (2002, p. 17), “a avaliação educacional de alunos, escolas, ou departamentos, entre 

outros  elementos,  realiza‐se  necessariamente  por  referência  implícita  ou  explicita  a 

concepções, imagens ou representações de organização escolar”. Daí que Sá (2009, p. 91) 

afirme:  

 Os vários modelos de avaliação transportam consigo formas distintas de entender  o  significado  das  estruturas  organizacionais,  de  pensar  os objetivos, de problematizar as tecnologias, de equacionar as relações de poder, de reconhecer a interação ambiental e de interpretar o sentido de liderança.  

Complementando Moreira  (2005, p. 20)  refere que “a avaliação não  se constitui 

como um ato neutro, ou seja, a avaliação coloca‐se como uma questão eminentemente 

política, como uma amálgama de valores políticos, técnico‐científicos, atitudinais, éticos e 

pedagógicos”.  Por  isso,  Sobrinho  (1995,  p.  68)  afirma:  “a  avaliação  toma  partidos, 

reafirma os  valores  considerados positivos, denega o que  julga negativo,  interfere nas 

relações  sociais  de  trabalho  e  intervém  em  todas  as  dimensões  da  vida  académica  e 

institucional”.  

Nesta ótica Sá (2009, p. 92), chama a atenção para que as “diferentes concepções 

e  imagens  organizacionais  subsumidas  nos modelos  de  avaliação  sejam  explicitadas”, 

pois  como  refere  ainda  o mesmo  autor    “esta  démarche  poderá  constituir  a  via  que 

permitirá  desvelar  e  denunciar  as  potenciais  incongruências  entre  os  valores 

efetivamente promovidos por determinados dispositivos de avaliação e aqueles que são 

invocados  no  âmbito  da  retórica  discursiva  que  os  sustentam”  (ibidem).  Lima  (2002), 

corrobora  com  esta  ideia,  de  que  a  avaliação  de  escolas  têm  referência  a  imagens  e 

representações  de  escola,  ao  afirmar  que  “uma  análise  das  políticas  e  práticas  de 

avaliação  educacional  em  contexto  escolar  beneficiará  muito  de  um  exercício  de 

hermenêutica  organizacional,  através  do  qual  se  processará  ao  inventário  crítico  e 

respectiva  interpretação  de  concepções  organizacionais  de  escolas,  implícitas  ou 

explícitas” (p. 17).  

Para que esta avaliação seja feita com rigor, como refere Santos Guerra, implica o 

seguinte:  

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Avaliar  as  escolas  com  rigor  implica  conhecer  a  especial  natureza  e configuração  que  elas  têm,  enquanto  instituições  enraizadas  numa determinada  sociedade:  a  sua  heteronímia,  as  suas  componentes nomotéticas,  os  seus  fins  ambíguos,  a  sua  débil  articulação,  a  sua problemática tecnologia… Por outro  lado é  imprescindível ter em conta o caráter único irrepetível, dinâmico, cheio de valores e imprescindível de cada escola.  (Santos Guerra 2002, p.1)  

É em torno do futuro das IES, no que se refere à sua natureza, os seus fins, a sua 

missão,  o  ensino,  a  pesquisa  e  a  extensão  no  consequente  desenvolvimento  da 

sociedade, que a avaliação  institucional ganha maior  relevo e  instaura‐se com  toda  sua 

força nas discussões atuais, conforme  salienta Dias Sobrinho (2000, p. 89), quando refere 

que  “a  avaliação  institucional  tem  grande  força  instrumental  e  uma  considerável 

densidade política, ainda que seja uma questão técnica, muito mais importantes são a sua 

ação e o seu significado políticos”. 

A  justificação da dimensão política dessa modalidade da  avaliação  é  ainda mais 

perceptível na ótica desse autor ao considerar que a mesma 

 é  um  campo  de  disputas  que  ultrapassam  questões mais  aparentes  e formais da organização e do gerenciamento das  instituições educativas. É um campo de  lutas em que estão em  jogo questões de fundo, pois se reconhece,  ainda  que  nem  sempre  se  declare,  a  força  da  avaliação institucional  como  ação  de  grande  impacto  na  transformação  da universidade. (Ibidem, 2000, p. 89‐90)  

 

A Avaliação 

A avaliação é um conceito polissêmico que ao longo das últimas décadas tem tido 

os  mais  variados  significados.  Nessa  retrospectiva  histórica,  facilmente  poderemos 

percepcionar que ao longo dos tempos, vários autores, de acordo com os seus contextos 

e os seus referenciais, conceitualizaram a avaliação em diferentes perspectivas: avaliação 

como  produto,  como  verificação  de  objectivos, medição  de  performances  de  alunos, 

comparação, interpretação de informaçoes para a atribuição de classificações, elucidação 

que o aluno deve fazer sobre a sua aprendizagem, fornecimento de informaçoes aos pais, 

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autoridades e muitas outras tantas construções, todavia, são construções reducionistas, 

imparciais e pouco dialógicas do conceito de avaliação. 

O  conceito  de  avaliação  que  assumimos    é  o  de  Stufflebeam(1980),  pela  sua 

completitude, pela sua complexidade e pela sua visão holística, isto é, “a avaliação como 

um  processo  do  qual  se  obtém,  delimitam  e  fornecem  informações  úteis  com  vista  à 

tomada de decisões”.  

Porquanto,  esse  concebe  a  avaliação  como  um  processo  e  não  um  produto, 

porque está integrado no próprio currículo. Por isso, não se processa de qualquer forma. 

Nem tudo pode ser avaliado num determinado contexto; há que fazer uma delimitação. 

Tal postura, determinará quais as  informações a obter e de quem as obter: de todos os 

elementos  da  comunidade  educativa:  alunos,  professores,  pais  e  ou  encarregados  de 

educação, ou será da sociedade civil? Tal  informação precisa ser  tratada e organizada e 

identificar os  instrumentos para avaliar os diferentes momentos, para se poder passar à 

fase seguinte que é a prestação de contas. 

Consideramos,  igualmente que está  fase de prestação de contas é  recíproca, na 

medida em que  se  fornece  informações aos que a  tinham produzido. Está  implícito na 

perspectiva de Stufflebeam que esta informação dos diferentes intervenientes pressupõe 

questões fundamentais como: a justiça, a equidade e a eficácia. Justiça no concernente às 

pedagogias utilizadas,  aos  referenciais  a que  sustentaram  a  avaliação e  sobretudo nos 

diferentes  pontos  de  partida  dos  avaliados.  Quanto  à  equidade,  respeita  o  princípio, 

todos  diferentes  mas  todos  iguais  na  diferença?  Evidenciando  esta  complexidade  da 

avaliação na perspectiva de Stufflebeam em suma diríamos que a tomada de decisão que 

deve  ser  a  finalidade  deste  processo  evidenciado,  será  sustentada,  ancorada  em 

princípios  justos, equitativos e eficazes, para que esta tomada de decisão possa orientar 

para  um  conjunto  enorme  de  tomadas  de  decisão  que  não  necessariamente  a 

classificação e ou produção de rankings toutcourt.  

 

 

 

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A Avaliação Institucional  

Com relação ao conceito de avaliação institucional, também não há unamidade na 

comunidade  acadêmica.  Carateriza‐se  igualmente  polissêmico,  complexo,  contraditório 

muitas vezes e marcado por alguma porosidade. Entretanto, reúne algum consenso, uma 

vez que  terá de  ser, necessariamente, holística e  integradora. O primeiro  requisito põe 

em evidência as IES enquanto totalidade que é o objeto de avaliação; o segundo requisito 

complementa  o  primeiro  conferindo  agora  destaque  à  necessidade  de  articulação  das 

várias démarches avaliativas e à sua subordinação ao documento que é suposto conferir 

foco e  identidade à escola  ‐ o seu Projeto Educativo. Por  isso, assumimos e adotamos a 

conceitualização da Avaliação Institucional segundo Dias Sobrinho (2000, p.103),  

 a avaliação institucional é uma construção colectiva de questionamentos, é  uma  resposta  ao  desejo  de  ruptura  das  inércias,  é  um  pôr  em movimento  um  conjunto  articulado  de  estudos,  análises,  reflexões  e juízos de valor que tenham alguma força de transformação qualitativa da instituição e do seu contexto, através da melhora dos seus processos e das relações psicossociais.  

Está definição da avaliação  institucional é holística e  integradora, na medida em 

que,  procura  superar  as  visões  simplistas  e  desconectadas  dos  processos  avaliativos, 

refletindo na definição a complexidade das instituições educativas. Na nossa perspectiva, 

a definição supracitada de Dias Sobrinho desloca‐se do foco da avaliação quantitativa ou 

como  dizem  Boniol  e  Vial  (2001,  p.100)  “avaliação  como medida  para  a  produção  de 

reflexões qualitativas, numa dimensão de natureza política do processo de avaliar”, pois, 

subordina a agenda avaliativa às preocupações com a melhoria dos processos e o próprio 

acompanhamento  e  regulação  da  avaliação  num  enfoque  formativo.  Este  autor 

desvincula ainda a avaliação  institucional da distribuição de “punições e  recompensas”, 

pois segundo Santos Guerra (citado por Azevedo, 2007), uma avaliação institucional deve 

ser assumida pelos atores educativos para se evitar as resistências, as teatralizações e as 

imagens retorcidas que se revelam  inúteis. Porque segundo o mesmo autor, quando os 

professores  jogam à defesa artificializam o comportamento, negam a evidencia, então a 

avaliação será uma perda de tempo. 

  

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Dias Sobrinho (2000, p. 103‐104) reforça essa perspectiva ao considerar que “ela é 

movida pela vontade política e pela prática concreta dos agentes da instituição e porque 

se realiza  institucionalmente ou seja, na  forma de democracia vivida na  instituição”. Tal 

como se  refere o conceito anteriormente citado, é a  instituição  (IES), no seu  todo e de 

forma articulada, com as ênfases e prioridades coletivamente estabelecidas, que constitui 

objeto de avaliação. 

Se, por um lado, uma das caraterísticas essenciais da avaliação institucional seja a 

sua  visão  global  sobre  a  instituição  em  toda  a  sua  complexidade,  por  outro,  é 

fundamental  a  análise  de  aspetos  parciais,  por  que  tal  como  advoga  Dias  Sobrinho 

(ibidem, p. 104),  

 se ficarmos só com o enfoque global, embora ganhemos em amplitude e compreensão  de  conjunto,  acabamos  perdendo  a  riqueza  de  alguns aspetos importantes [...] porque a avaliação institucional deve contribuir para o desenvolvimento da pedagogia da integração da universidade   

Isto é, esse caráter pedagógico da avaliação institucional, que privilegia o processo 

das atuações que deverão produzir  resultados em  função desse processo, é  formativo, 

uma vez que, produz uma visão de conjunto da  instituição e procura os melhores meios 

para  a  articulação  de  funções,  dos  fins  e  das  estruturas  organizacionais,  cientificas  e 

pedagógicas, (cf. Dias Sobrinho, 2000). Tal como adverte esse mesmo autor (ibidem, p. 

106), “ela busca para conhecer não para execrar o passado, punir o presente e condenar 

o futuro, mas para compreender as dificuldades e equívocos e potencializar as condições 

de construir com melhor qualidade os agentes, a instituição e os contextos”.  

 

A avaliação do Ensino Superior em Cabo Verde: surgimento e evolução  

A experiência do Ensino Superior endógeno em Cabo Verde surgiu nos finais dos 

anos de  1970, especificamente em  1979. Esta década é  referência  crucial para o nosso 

país, pois,  justificou  a  implementação deste  subsistema de ensino, na medida em que, 

tornáramos  independes  de  Portugal,  após  500  anos  de  colonização. Os  dirigentes  de 

então  apostaram  na  educação  como  um  dos  principais  fatores  de  desenvolvimento, 

porquanto, trata‐se de um país carente de quase todos os tradicionais recursos (minerais 

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 Criação do Sistema Nacional de Avaliaçao Institucional do Ensino Superior em Cabo Verde  António Pedro Barbosa Cardoso 

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e outros). A situação  foi tão dramática que este pequeno país  insular do Atlântico teria 

sido considerado inviável como senhor do seu destino. 

O período pós‐colonialismo  coincidiu  com uma  forte  aposta numa  luta  contra o 

analfabetismo;  foi  implementado uma política pública de massificação do ensino básico 

de  quatro  anos,  logo  nos  primeiros  anos  de  independência  em  1975.  Tal massificação 

intensificou a taxa de escolarização nos níveis subsequentes,  tendo como consequência 

imediata  a  premente  necessidade  de  professores  minimamente  qualificados  para  a 

materialização do ensino secundário.  

Como  corolário deste problema, o governo mobilizou‐se  à  criação de  condições 

para o  funcionamento do Ensino Superior, especificamente, a  formação de professores 

do  ensino  secundário  local,  através  do  Decreto  –  Lei  nº  70/79  de  28  de  Julho, 

regulamentado  pela  portaria  76/80,  de  23  de  Agosto.  Seriam  assim  instituídos 

primeiramente  os  cursos  de matemática,  física/química,  desenho,  ciências  (biologia  e 

geologia, história, geografia e língua portuguesa. Pouco tempo depois, foram ministrados 

os cursos de línguas estrangeiras (inglês e francês). 

Este núcleo de cursos de formação de professores transformar‐se‐ia em curso de 

formação  de  professores  do  ensino  secundário,  que  por  sua  vez materializar‐se‐ia  no 

Instituto Superior de Educação (ISE), pelo decreto – Lei nº 8/95 de 27 de agosto, dotando 

a  instituição de autonomia cientifica, pedagógica, administrativa, educativa, econômica, 

financeira  e  disciplinar  num  contexto  político  marcado  pela  instauração  do 

multipartidarismo, isto é, em pleno regime democrático. 

Com a  complexificação da organização  social, política, administrativa, educativa, 

econômica,  entre outras,  assiste‐se uma grande demanda da procura da  formação  em 

todos  os  domínios  do  conhecimento,  sobretudo,  porque  a  Administração  Pública  e  a 

própria  sociedade  civil,  assim  o  exigia.  Tais  respostas  advieram  da  adaptação  e  ou 

reorganização  das  instituições  públicas  em  unidades  vocacionadas  a  determinados 

setores, por exemplo, a transformação do Instituto Nacional de Investigação Agraria em 

INIDA  (Instituto  Nacional  de  Investigação  e  desenvolvimento  Agrário),  Centro  de 

Formação Náutica em ISECMAR (Instituto Superior de Engenharias e Ciências do Mar), do 

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 Criação do Sistema Nacional de Avaliaçao Institucional do Ensino Superior em Cabo Verde  António Pedro Barbosa Cardoso 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

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curso  de  Contabilidade  e  Secretariado  em  ISCEE  (Instituto  Superior  de  Ciências 

Econômicas e Empresariais). 

Nos finais da década de noventa e início dos anos dois mil, há uma enorme procura 

do  Ensino  Superior,  a  oferta  pública  só  dá  cobertura  a  20%  das  solicitações, 

consequentemente os  restantes 80%, procuram as opções externas,  sobretudo através 

das bolsas de estudos financiados pelo governo e oferecidos pelos países com os quais 

Cabo  Verde  tem  cooperação  (cf.  Cosmo,  2011).  Todavia,  nessa  altura  assiste‐se  uma 

drástica redução no financiamento às bolsas, quer pelo estado de Cabo Verde, quer pelos 

parceiros externos. Para minimizar está problemática, a solução encontrada, foi por um 

lado, atender às várias solicitações feitas pelos privados para a criação de universidades 

privadas.  

Por  outro,  como  forma  de  reduzir  os  custos  tanto  ao  Estado  (principal 

financiadora do ensino público), e também o custo das famílias, optou‐se pela criação da 

universidade  pública  cabo‐verdiana  através  da  resolução  nº  53/2000,  de  28  de Agosto, 

implementando assim a Comissão Nacional para a criação da  1ª universidade pública do 

nosso  país  (cf.  Varela,  2011).  A  criação  desse  empreendimento  público  surgiu 

formalmente  através  do  Decreto  –  Lei  nº  31/2004,  de  26  de  Julho  que  determinou  a 

criação  da  comissão  instaladora,  tendo  como  objetivo  a  instalação  da  universidade 

pública de Cabo Verde em dois anos prorrogáveis, acontecimento que se materializaria 

nos finais do ano 2006.  

Para o objeto de estudo em análise, avaliação institucional, este marco histórico é 

de uma  importância extraordinária, uma vez que se realizara o que consensualmente se 

pode denominar, como uma primeira experiência da realização da avaliação externa aos 

institutos  supramencionados  com o objetivo de  analisar que  condições  reúnem para  a 

estrutura da universidade pública que estava em construção.  

Entretanto, a primeira universidade criada em Cabo Verde teria sido, Jean Piaget, 

que é privada, está em funcionamento desde 2001. Nesse momento, em 2014, estão em 

funcionamento nove IES, no país.    

 

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 Criação do Sistema Nacional de Avaliaçao Institucional do Ensino Superior em Cabo Verde  António Pedro Barbosa Cardoso 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

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As pressões  internas (endógena) e   as   pressões externas  (dos organismos supranacionais: OCDE e Banco Mundial) 

As  Instituições  do  Ensino  Superior  (IES)  de  Cabo  Verde,  tal  como  as  demais 

espalhadas pelo mundo, também estão sujeitas às pressões da promoção de um ensino 

de qualidade, de um Ensino Superior (ES) que dê respostas às necessidades do mercado, 

às políticas públicas traçadas pelos governos no que concerne ao desenvolvimento e às 

demandas  da  sociedade  civil.  Os  próprios  dirigentes  de  cada  uma  das  IES  estão 

conscientes  de  que  a  avaliação  sistemática  e  periódica  das  suas  atividades  é  uma 

condição imperativa para a sua subsistência e sustentabilidade. Porquanto, para além da 

pressão  veiculada  pelos  agentes  internos,  há  igualmente  pressões  dos  organismos 

supranacionais como o Banco Mundial, a OCDE, o Banco do desenvolvimento Africano, 

que  elegeram  a  avaliação  institucional  como  um  dos  requisitos  indispensáveis  para  a 

demanda  da  solução  dos  problemas  sociais,  econômicos,  políticos,  culturais  com 

qualidade e excelência acadêmica. Em  seguida, apresentaremos  resumidamente alguns 

dos fatores endógenos e exógenos que tiveram alguma preponderância nesse processo 

para a institucionalização da avaliação do ES em Cabo Verde.   

Um dos fatores de índole interna que consideramos relevante, no que diz respeito 

à  criação/implementação  de  um  sistema  de  avaliação  do  ES,  prende‐se  com  o 

funcionamento de mais de uma década desse  tipo de  sistema de ensino, marcado por 

uma forte procura devido à massificação/consolidação do Ensino Secundário e por outro, 

porque já há um número considerável de formados (graduados) nessas instituições. Se há 

uns  anos  não  se  colocava  o  problema  da  qualidade  da  formação  desses  graduados, 

todavia, devido às  inúmeras pressões, tanto das autoridades centrais, da sociedade civil, 

de entre esses destacamos empresariado nacional, que muitas vezes tem questionado a 

qualidade  desses  egressos.Portanto,  havendo  um  numero  considerável  de  IES  em 

exercício de  funções, há que  se  regulamentar o  seu  funcionamento à  luz dos diplomas 

legais 

Os próprios dirigentes de cada uma das  IES cabo‐verdianas, estão conscientes da 

necessidade para a efetiva implementação da avaliação institucional, porque reconhecem 

na  avaliação,  um  poderoso  instrumento  estratégico  de melhoria  do  desempenho  dos 

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 Criação do Sistema Nacional de Avaliaçao Institucional do Ensino Superior em Cabo Verde  António Pedro Barbosa Cardoso 

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estabelecimentos de ensino, isto é, maior eficiência e eficácia nos  mecanismos de gestão 

ao serviço do  desenvolvimento organizacional das suas instituições, (cf. Cardoso, 2011, p. 

29).  Posição  reforçada  por  Santos  Guerra  (2002)  e  Azevedo  (2007)  uma  vez  que 

entendem que a avaliação poderá servir como uma ferramenta de recuperação do credito 

perdido, sobretudo das escolas públicas. 

É igualmente importante criar o sistema de avaliação do ES em Cabo Verde porque 

a  sua  criação  permitirá  às  universidades  cabo‐verdianas  aderirem  às  plataformas  que 

regem  o  conjunto  das  demais  IES  do mundo,  na medida  em  que  passarão  a  ter  uma 

plataforma  legal  partilhada  a  partir  do momento  em  que  os  diplomas  (legislação)  dos 

organismos supranacionais, como por exemplo, a UNESCO e a OCDE são ratificadas pelo 

Estado. Farão assim, com que os diplomados de Cabo Verde das  IES  local, passem a ser 

reconhecidos no mundo, uma vez que  irão  figurar no Registro Europeu de Garantia de 

Qualidade (EQAR), onde estão filiadas e registradas as agências de avaliação, bem como 

as agências ou órgãos de garantia da qualidade que  reconhecem os  títulos e os cursos 

realizados no exterior. 

Segundo Morosini (2008), é uma lista de cursos e títulos que permite as agências 

ou órgãos de garantia da qualidade reconhecer os títulos e cursos realizados no exterior. 

Esta  lista  inclui não somente a área do processo de Bolonha, mas está aberto a  todo o 

mundo.  A  EQAR  representa  um  aumento  de  controlo  sobre  o  processo  de  alguma 

convergência ao sistema de garantia de qualidade desde que as agências de garantia de 

qualidade legitimem os padrões comuns integrantes do registro, (Morosini, 2008, p. 256 e 

257). 

Para  além  dos  fatores  de  pressão  endógena,  o  nosso  diagnóstico  ficaria 

incompleto se não analisássemos os fatores externos. Indiscutivelmente, todos os países 

do  mundo  hodiernamente  estão  expostos  aos  fenômenos  da  globalização,  isto  é, 

exigências  para  um  agir  em  conformidade  com  os  ditames  das  organizações 

supranacionais.  A  situação  de  um  Estado  insular,  marcado  pela  frágil  situação 

socioeconômica,  como  é  Cabo  Verde,  dependendo  quase  que  exclusivamente  do 

financiamento dessas organizações externas ainda é maior. Tanto assim é que, mesmo 

não tendo implementado um sistema nacional de avaliação do ES e de ainda não ter sido 

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 Criação do Sistema Nacional de Avaliaçao Institucional do Ensino Superior em Cabo Verde  António Pedro Barbosa Cardoso 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.12 

 

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feita  nenhuma  avaliação  institucional  sistemática  a  todas  as  IES  cabo‐verdianas  em 

simultâneo,  as  mesmas  têm  sido  alvos  de  avaliações  feitas  por  tais  organizações 

supranacionais  e  posicionadas  nos  rankings  de  avaliação  de  universidades. A  título  de 

exemplo, assinalamos o último ranking das IES no mundo e na África1.  

É  fundamental  salientar que a adesão de Cabo Verde à Organização Mundial do 

Comercio  (OMC)  na  nossa  ótica,  também  faz  parte  desse  pacote  de  pressão  para  a 

criação  do  supracitado  sistema,  na  medida  em  que,  estamos  perante  uma  visão 

econômica  da  educação,  porque  são  as  instituições  econômicas  e  financeiras  que 

determinam as regras para o funcionamento das  instituições, principalmente nos países 

em  desenvolvimento.  Isto  é,  na  acepção  de  Amaral  (2008,  p.  255),  “é  a  utilização  do 

mercado como instrumento de política pública”. 

Considera‐se que  a  exigência  à  adesão  aos parâmetros da  avaliação da OCDE  é 

maior para o Estado cabo‐verdiano, por um lado como forma de justificar os empréstimos 

bonificados dessas  instituições, mas por outro, como  forma de prestação de contas às 

mesmas. Segundo Akkari (2011, p. 29),  

 a questão do  financiamento diz  respeito principalmente  aos países  em desenvolvimento.  Todavia,  estes  não  ocorrem  sem  consequências políticas, pois o fato de financiar o setor educacional permite ao mesmo tempo o exercício de uma pressão sobre estes países para que apliquem as orientações desejadas.  

Tendo subjacente a problemática supracitada, o Estado cabo‐verdiano através do 

seu  governo  em  exercício  de  funções,  delimita  como  prioridade  no  seu  Programa  de 

Governo  para  a  VIII  Legislatura  (2011  –  2016)  o  reconhecimento  da  necessidade  de 

aprimoramento da qualidade da educação (ensino) ministrada no país, dando um realce 

prioritário  ao  ES.    Em  consonância  com  esses  princípios  evocados,  o  referido  governo 

elege  a  avaliação  educacional  (institucional)  com  a  finalidade  de  promover  o  devido 

desenvolvimento  organizacional,  colocando  a  criação  de  um  sistema  nacional  de 

avaliação  do  ES,  como  fator  indispensável  para  a  materialização  da  sua  política  de 

                                                            1 ‐ De acordo com a avaliação do site norte‐americano www.webometrics.info/en, no Ranking of 

Universities, a UniPiaget Cabo Verde ocupa a posição 72ª em África e a nível mundial a posição 6809ª, ano 2013 

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competitividade como estratégia de melhoria das  IES, como garantia de qualidade que 

quer implementar e materializar. 

 

Que modelo de Avaliação Institucional do Ensino Superior a adotar em Cabo Verde?  

 

Razões que fundamentam a cooperação do INEP como consultora (parceira) na criação do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior 

A construção desse artigo tem como propósito fundamental a analise e a reflexão 

sobre a criação do Sistema Nacional de Avaliação Institucional do ES em Cabo Verde. Tal 

demanda  está  em  construção,  isto  é,  o  primeiro  encontro  formal  que  reuniu  as 

autoridades2  cabo‐verdianas  e  brasileiras  aconteceu  de  15  a  19  de  Fevereiro  de  2013. 

Sendo um sistema em construção, apraz‐nos questionar que modelo se vai adotar? Pela 

analise do projeto BRA/04/044, pode‐se  inferir que o Sistema Nacional da Avaliação do 

Ensino Superior a ser criado, poderá incorporar muitos aspectos da experiência brasileira 

no que diz  respeito  à estrutura do  referido  sistema. A  justificação para  tal opção  está 

plasmada no referido projeto,  

 partindo do princípio que a educação se constitui como um  instrumento econômico,  social  e  cultural  indissociável  de  seu  contexto  histórico‐político,  o  Governo  brasileiro  desenvolveu  um  sistema  próprio  de avaliação da educação superior, cuja experiência poderá contribuir para que o Governo de Cabo Verde  reflita e oriente  sua  tomada de decisão sobre o desenvolvimento do ensino superior, modificando a formação de profissionais,  de  conceitos,  de  tecnologias,  bem  como  a  criação  de Políticas do Estado (BRA04/044, p. 7) 

 

Ainda  o mesmo  documento  supracitado,  diz  que  nessa  fase  é  imprescindível  a 

mobilização de conhecimentos e experiências externas. Razão por que se  fez a escolha                                                             2  ‐ De 15 a 19 de Fevereiro reuniu‐se na Praia, cidade capital de cabo Verde, as autoridades cabo‐verdianas 

(Ministro do Ensino Superior Ciência e Inovação, Diretor Geral do ES, Reitores e ou seus representantes de  todas  as  IES  do  país,  coordenadores  dos  cursos  e  técnicos  do MESCI  para  a  criação  do  Sistema Nacional de Avaliação Institucional do Ensino Superior em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira  (INEP),  representado pela Diretora Geral do SINAES e outros consultores do projeto do Brasil, de entre os quais, a Diretora da Avaliação da PUCRS.  

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do Brasil pelo Estado de Cabo Verde: “está‐se numa fase embrionária de estruturação de 

mecanismos de avaliação da qualidade do ensino superior cabo‐verdiano.  Impõe‐se, por 

conseguinte,  conhecimento  e  mobilização  de  experiências  externas,  neste  caso, 

brasileira, pelo valor que representa e pelos aportes que poderão trazer” (ibdem. P. 5).  

 

Avaliação Interna (auto‐avaliação) 

Já nos posicionamos quanto ao conceito de avaliação institucional que assumimos, 

bem como as  suas modalidades, avaliação  interna  (auto‐avaliação) e avaliação externa. 

Para um melhor enquadramento, há que conceitualizar esses conceitos. 

Segundo Alaiz et al (2003, p. 16), a avaliação interna (auto‐avaliação), é  

 Aquela em que o processo é conduzido e  realizado exclusivamente  (ou quase)  por  membros  da  comunidade  educativa  da  escola.  Pode  ser definida  como  uma  análise  sistemática  de  uma  escola,  realizada  pelos membros  de  uma  comunidade  escolar  com  vista  a  identificar  os  seus pontos  fortes  e  fracos  e  a  possibilitar  a  elaboração  de  planos  de melhoria.  

Este conceito em análise é definido pelo SINAES no documento Diretrizes para a 

Avaliação IES (2004, p. 13), nos seguintes termos: 

 a  auto‐avaliação  constitui  um processo por meio  do qual  um  curso ou instituição analisa internamente o que é e o que deseja ser, o que de fato realiza,  como  se  organiza,  administra  e  age,  buscando  sistematizar informações para analisá‐las e  interpretá‐las com vista à  identificação de práticas exitosas, bem como a percepção de omissões e equívocos, a fim de evitá‐los no futuro.   

Para a concretização desse tipo de avaliação, o SINAES (2004, p. 13), propõe dois 

objetivos:  

 (I)“avaliar  a  instituição  como  uma  totalidade  integrada  que  permite  a auto‐analise  valorativa  da  coerência  entre  a  missão  e  as  políticas institucionais  efetivamente  realizadas,  visando  a melhoria da qualidade acadêmica e o desenvolvimento institucional”. (II)  “privilegiar o conceito da auto‐avaliação e a sua prática educativa para gerar, nos membros da comunidade acadêmica, autoconsciência de suas qualidades, problemas 

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e  desafios  para  o  presente  e  o  futuro,  estabelecendo  mecanismos institucionalizados e participativos para a sua realização”.  

Nós consideramos que se essa modalidade da avaliação for assumida, conforme os 

dois  conceitos  supracitados,  poder‐se‐á  pensar  na  possibilidade  de  tornar‐se  naquela 

avaliação  que  faz  com  que  as  escolas  se  transformem  em  autênticas  comunidades 

aprendentes, uma vez que a  iniciativa seja dos elementos da comunidade educativa, se 

empenham mais, e desejarão de fato identificar os problemas e adotar estratégias para a 

sua resolução. Daí tornar‐se mais pragmática, não somente por causa da interação com os 

facilitadores  externos,  que  normalmente  são  especialistas  em  avaliação  e  têm  um 

conhecimento aprofundado da matéria, mas também porque desta experiência resultam 

atividades  contextualizadas,  com  problemas  concretos  que  afetam  o  cotidiano  dos 

elementos  da  comunidade  educativa.  Assim  o  processo  de  avaliação  interna,  poderá 

transformar‐se  numa  atividade  natural,  em que os  avaliados  não  se  sentirão  coagidos, 

nem ameaçados, não tendo, portanto, a necessidade de artificializar e nem representar 

para ficar bem na fotografia (Cardoso, 2011, p. 25).  

Outro autor que discorre sobre a importância da avaliação interna (auto‐avaliação) 

nas  instituições  educativas  é  Natércio  Afonso  (2000),  apresentando  pelo menos  três 

motivações  para  prosseguir  na  sua  realização:  permite  às  escolas  melhorar  o  seu 

desempenho, partindo da identificação de áreas problemáticas e da procura de soluções 

para os problemas detectados, o que poderá permitir aos atores educativos resolver mais 

facilmente os problemas com que se deparam; pode constituir‐se como um instrumento 

de marketing  escolar,  a  revelação dos  resultados  junto da  comunidade  escolar  (pais  e 

encarregados de educação, autoridades locais e organismos de tutela) permite dar relevo 

aos pontos fortes do desempenho organizacional, o que origina credibilidade e, portanto 

mais  apoios  e mais  recursos;  e,  por  fim,  permite  gerir  a  pressão  desencadeada  pela 

avaliação  externa  institucional,  na  medida  em  que,  identificados  os  pontos  fracos,  é 

possível  delinear  estratégias  de  desenvolvimento  adequadas  ou  preparar  uma 

argumentação  fundamentada  em  relação  às  fragilidades  detectadas  pelos  serviços  de 

avaliação externa (Afonso, 2000, p. 214).  

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.16 

 

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Subscrevemos tanto o conceito do Alaiz  et al (2003), SINAES (2004) relativamente 

à avaliação interna, bem como as potencialidades avançadas por Afonso (2000). Para tal, 

apresentamos igualmente outras vantagens decorrentes do nosso ponto de vista: ajuda a 

escola  a  prestar  um  serviço  educativo  de  qualidade,  preparando  os  alunos  para  o 

mercado cada vez mais competitivo; consolida a democracia, baseada na participação da 

comunidade  educativa,  e  partilha  de  responsabilidades;  exige  da  parte  dos  dirigentes 

escolares maiores  responsabilidades e  transparência na prestação de contas; permite a 

rentabilização  dos  recursos,  sempre  limitados  da  sociedade  e  permite  introduzir 

mudanças e melhorias no eixo pedagógico, para aumentar o nível de sucesso dos alunos 

(Cardoso, 2011).  

Todavia, este processo não é tão  linear como  foi anteriormente apresentado, na 

medida  em  que,  essa modalidade  de  avaliação  também  apresenta  as  suas  limitações, 

decorrentes  da  própria  natureza  complexa  das  instituições  educativas  enquanto 

organizações. 

É  nessa  perspectiva  que  Costa  e  Ventura  (2005)  advertem  o  seguinte:  “as 

organizações, em geral não primam pela  introspetividade e desenvolvem esforços para 

evitarem  ser  avaliados”.  E  continua  dizendo  Pfeffer  (1994,  p.  297),  citado  por  Costa  e 

Ventura (2005, p. 1), “sabemos também que as escolas, em particular, evitam olhar para 

traz  […] e muitas vezes até se eximem de olhar para  frente”, daí que  identificamos as 

seguintes  dificuldades  para  a  auto‐avaliação  de  escolas:  falta  de  tradição  de  auto‐

avaliação,  que  a  torna  geradora  de  incerteza,  pois  põe  a  “nu”  a  falta  de  exemplos  a 

seguir,  encontrando‐se  desta  forma  grandes  barreiras  na  sua  aceitabilidade;  falta  de 

motivação dos participantes para realizarem uma tarefa não remunerada;  implica custos 

e  leva tempo, que é outro fator que está cada vez menos disponível e às escolas foram 

sempre  atribuídas  capacidades  para  avaliarem  o  normal  (desempenho  dos  alunos;  as 

atividades  pedagógicas  dos  professores),  mas  não  o  que  se  revela  excepcional  (sua 

característica organizacional) daí certa resistência como evidenciamos anteriormente. 

 

 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.17 

 

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Avaliação Externa 

Por sua vez a avaliação externa é definida pelo SINAES (2004, p. 14)  

 é um  importante  instrumento cognitivo, crítico e organizador das ações 

da  instituição  e  do  Ministério  de  Educação  e  Cultura  3.  Ela  exige  a organização, a  sistematização e o  inter‐relacionamento do  conjunto de informações qualitativas e quantitativas, além de  juízos de valor sobre a qualidade das práticas e da produção teórica de toda a instituição.  

Alaiz  et  al  (2003,  p.16),  definem  a  avaliação  externa  como  “aquela  em  que  o 

processo  é  realizado  por  agentes  externos  à  escola  (pertencentes  às  agências  de 

avaliação públicas ou privadas), ainda que com a colaboração indispensável de membros 

da escola avaliada”.  

Essas  conceitualizações  remetem‐nos  para  a  modalidade  de  avaliação  que  se 

caracteriza  pelo  fato  de  ser  realizada  por  agentes  externos  às  instituições  educativas, 

embora prevendo uma mínima participação de alguns membros da própria comunidade 

educativa avaliada. É o caso, da avaliação, realizada pelo Sistema de Avaliação do Ensino 

Superior    (SINAES),  em  que    a  iniciativa  pode  partir  do MEC.  Segundo  Santos  Guerra 

(2002), quando a avaliação externa tem um carácter de imposição, isto é, o seu resultado 

não  tenha  partido  de  uma  solicitação  ou  iniciativa  voluntária  da  instituição  educativa, 

estamos perante uma  avaliação com  carácter de imposição que nos coloca perante um 

modelo de avaliação que está associado à prestação de contas ou accountability, e que se 

depreende  dali,  reduzidas  possibilidades  de  transformação,  na  medida  em  que,  os 

protagonistas não são  implicados no processo, cria resistências e as possíveis mudanças 

partem de recomendações dos agentes externos.  

O mesmo autor considera que esta tipologia de avaliação não pode ser encarada 

como uma  iniciativa proporcionadora de mudanças significativas, como um exercício de 

participação ou como uma actividade de aprendizagem. Por outro  lado,  tal modalidade 

de avaliação poderá  ser  considerada  como uma ameaça e aí  resulta o desejo de “ficar 

bem  na  foto”  perante  os  avaliadores,  o  que  leva  ao  enviesamento  e  distorção  da 

realidade  observada.  Corroborada    Sá  (2009,  p.  89),  quando  diz  que  “o  processo  de 

                                                            3 ‐ MEC – Ministério da Educação e Cultura (Brasil) 

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 Criação do Sistema Nacional de Avaliaçao Institucional do Ensino Superior em Cabo Verde  António Pedro Barbosa Cardoso 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.18 

 

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avaliação transforma‐se num jogo de gato e de rato, onde por cada tentativa de controle, 

se podem mobilizar  inúmeros dispositivos de oposição,  subversão ou de  fuga”. Santos 

Guerra complementa esta  idéia, dizendo que a avaliação  imposta à escola é vista pelos 

avaliados como uma atividade de controlo que pode desencadear por parte dos mesmos, 

mecanismos de defesa que conduzem a uma  imagem distorcida da realidade observada 

(Santos Guerra, 2002).  

 

Complementaridade  de  perspectivas:  Avaliação  interna  (auto‐avaliação)  e avaliação externa 

  Neste cenário, o grande desafio passa por apontar os possíveis caminhos 

para que a avaliação  interna (auto‐avaliação) e a avaliação externa se constituam como 

instrumentos  estratégicos  úteis  para  as  IES  e  possam  ser  utilizados  por  estas  na 

construção ou aperfeiçoamento de planos de melhoria e de desenvolvimento da mesma.  

Nossa posição está ancorada nos princípios defendidos nos documentos legais de 

regularização da  avaliação  institucional,  a  título exemplificativo, o SINAES  (2004, p.14), 

através das diretrizes para a avaliação das  IES que explicita que “as ações de avaliação 

interna e externa devem ser  realizadas de  forma combinada e complementar, havendo 

em  ambas  plena  liberdade  de  expressão  e  busca  de  rigor  e  de  justiça”.  O  mesmo 

documento salienta (ibidem) que  

 a  integração da avaliação  interna e externa faz parte de um  importante processo de discussão e reflexão relativo aos grandes temas de política pedagógica, cientifica e  tecnológica, bem como as  tomadas de decisão buscando o fortalecimento ou redirecionamento de ações e de políticas.   

Igualmente,  outros  autores  defendem  essa  perspectiva  de  complementaridade 

entre estas duas modalidades de avaliação  institucional, nomeadamente, Dias Sobrinho 

(2000,  p.106)  que  sustenta,  não  obstante  as  funções  específicas  de  cada  uma  dessas 

modalidades, é “na articulação entre elas que reside a sua força maior”, pelo que estas 

duas faces da avaliação têm toda a vantagem em serem combinadas entre si. Na verdade, 

os  processos  de  auto‐avaliação  podem  ser  “completados  e  cruzados  com  olhares 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.19 

 

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externos”  (Sá,  2009,  p.97),  que  meta‐avaliam  e  emitem  feedbacks  sobre  os 

procedimentos internos.  

 

Algumas considerações finais  

É inquestionavel as mais valias que a criação do Sistema Nacional de Avaliação do 

Ensino Superior proporciona à qualidade do ensino no arquipélago, porquanto permitirá 

as IES a posicionarem e definirem o seu plano estratégico de desenvolvimento em função 

de um  instrumento regulador e definidor da política do Estado para esse subsistema de 

ensino. 

Salientamos,  também, a abertura das autoridades caboverdianas às experiências 

de outros sistemas de avaliação consolidados do exterior. Em nossa perspectiva revela‐se 

estratégico,  não  só  por  causa  da  globalização,  adesão  a  Organização  Mundial  do 

Comercio, às determinações legais da OCDE e do Banco Mundial ou ainda à plataforma do 

EQAR,  na medida  em que  se pode  incorporar os pontos  fortes  e  adotá‐los  e  evitar  as 

possíveis fraquezas. De entre os quais, salientavamos, por exemplo, a exortação de Dias 

Sobrinho  (2000),  a  transposição  das  políticas  mercadológicos  para  as  instituiçoes 

educativas.  Daí  que  o  sistema  em  germinação  poderá  concialiar  o melhor  possível  as 

orientações  empresariais  para  a  gestão  universitária,  isto  é,  superar  o  conceito  de 

educação  como  um  serviço,  política  pública  ditada  em  função  do  Estado mínimo,  do 

Estado avaliador, do quasi‐mercado ou ainda da terceira via e encarar a visão humanista 

da educação,  incorporando assim, uma das missões essenciais das IES que é a formação 

do sujeito na sua  integralidade, explicitando a  formação cidadã, o aprofundamento dos 

valores  democráticos,  éticos;  uma  avaliação  capaz  de  promover  a  solidariedade,  o 

cumprometimento, a cooperação e nunca competitividade e o sucesso individual. 

Igualmente, a complementaridade entre as modalidades da avaliação institucional  

(auto‐avaliação e avaliação   externa) é condição  indispensável para a materialização da 

politica pública educacional, principio defendido pelo SINAES (2004, p. 5),  

 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.20 

 

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os  processos  avaliativos  internos  e  externos  são  concebidos  como subsídeos fundamentais para a formulação de diretrizes para as politicas públicas de educação superior e, também, para a gestão das instituições, visando  a  melhoria  da  qualidade  da  formação,  da  produção  do conhecimento e da extensão.  

 Essa  interação  permite  a  avaliação  institucional  cumprir  com  a  sua  missão 

formativa,  porque  diagnostica  as  fragilidades  e  emite  feedback  para  a  sua  superação.  

Enfim, a avaliação institucional permite a sua própria meta‐avaliação. 

 

 

 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.22 

 

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Referências legais:   

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Decreto‐Lei nº 22/2012, de 7 de Agosto – Estabelece o regime jurídico dos graus e diplomas do Ensino Superior.    

Lei  nº  10.861,  de  14  de Abril  de  2004  –  SINAES  (2004) Diretrizes  para  a Avaliação  das Instituições de Educação Superior. Ministério da Educação brasileira.    

 

Referências documentais:   

Programa de Governo para a VIII Legislatura‐2011‐2016. Governo de Cabo Verde, 2012