x anped sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do...

14
 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos     Resumo Nesse experimento tento estabelecer possíveis encontros entre cinema e educação tendo por base os conceitos de linha de fuga e escritura em Deleuze e de Texto e fotografia em Barthes. O interesse é suscitar sensações e possibilitar deslocamentos a partir de um jogo envolvendo a escritura de seis Textos sobre três experiências fílmicas. Cada Texto movimenta um conjunto de elementos específicos que pode, para além de estabelecer relação específica com a educação, suscitar novas possibilidades de encontro.  Palavraschave: cinema; educação; experiência fílmica   Eduardo Silveira IFSC [email protected]                

Upload: others

Post on 05-Nov-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos    

 

Resumo Nesse  experimento  tento  estabelecer  possíveis  encontros entre  cinema  e  educação  tendo por base os  conceitos de linha de fuga e escritura em Deleuze e de Texto e fotografia em Barthes. O  interesse é suscitar sensações e possibilitar deslocamentos a partir de um  jogo envolvendo a escritura de seis Textos sobre três experiências fílmicas. Cada Texto movimenta  um  conjunto  de  elementos  específicos  que pode,  para  além  de  estabelecer  relação  específica  com  a educação, suscitar novas possibilidades de encontro.  Palavras‐chave: cinema; educação; experiência fílmica  

 Eduardo Silveira 

IFSC [email protected] 

     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 2: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.2 

 

X A

nped Sul

Pré‐Texto: 

A possibilidade de  relação  entre  cinema  e  educação  é muito  ampla  e  se  faz de 

diferentes maneiras, como sugere Xavier (2008, p.14): “Desde o período do cinema mudo 

fez‐se explícito o interesse pela análise da dimensão educativa do cinema em seus vários 

gêneros”. Essa relação abarca desde aquelas mais funcionais que pensam o cinema como 

uma  ferramenta  a  ser  incorporada dentro do  contexto da educação de  forma pontual 

para “transmitir conteúdos” ou exemplificar algo ensinado, até aquelas que  já avançam 

nesse  sentido e procuram estabelecer  relações que vão além da perspectiva  funcional, 

para trazer reflexões mais amplas:  

o cinema que “educa” é o cinema que faz pensar, não só o cinema, mas as mais variadas experiências e questões que coloca em foco. Ou seja, a questão não é “passar conteúdos”, mas provocar a reflexão, questionar o que, sendo um constructo que tem história, é tomado como natureza, dado inquestionável (XAVIER, 2008, p.15).  

Nessa  perspectiva  existem  diversos  trabalhos  que  discutem  a  relação  fílmica 

partindo  do  enfoque  cultural  e  evidenciando,  por  exemplo,  elementos  da  educação, 

filosofia e religião (SCARELI, 2011a, 2011b). Outros que se situam nas discussões do cinema 

no campo das artes (XAVIER, 2003). Outros ainda que estabelecem aproximações entre a 

educação  ambiental,  a  filosofia  e  o  cinema  (GUIMARÃES  2010;  PREVE,  2010),  somente 

para  citar  alguns  exemplos.  Esses  trabalhos  trazem  importantes  contribuições  às 

discussões  envolvendo  arte,  cultura  e  educação,  explorando  essa  relação  em  uma 

perspectiva  contemporânea  e  que  amplia  as  referidas  áreas  para  além  de  definições 

limitadoras e estáticas.  

Aqui  se  propõe  algo  parecido,  mas  que  sugere  um  experimento  mais  livre, 

baseado em pequenas  intensidades  textuais. São  linhas de “encontro” que  trazem por 

base  linhas de “fuga”. Linhas de fuga, pois não se reduzem ao trajeto específico de um 

ponto  a outro. Elas  traçam  saltos e  caminhos que  sugerem outros e novos encontros, 

“fissuras,  rupturas  imperceptíveis,  que  quebram  as  linhas  mesmo  que  elas  retomem 

noutra  parte,  saltando  por  cima  dos  cortes  significantes...”  (DELEUZE;  PARNET,  1998, 

p.31). A possibilidade de estabelecer, aqui, essas linhas de fuga, torna‐se possível ao passo 

que  não  se  propõe  uma  escrita  fechada,  mas  se  escreve  uma  escritura  derivante  e, 

Page 3: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.3 

 

X A

nped Sul

“escrever é  traçar  linhas de  fuga, que não  são  imaginárias, que  se é  forçado  a  seguir, 

porque a escritura nos engaja nelas, na realidade, nos embarca nela” (ibidem, p.51). O que 

se estabelece é um jogo de acontecimentos que propõe deslocamentos. Voos. Silêncios... 

São, portanto, espaços abertos. Passíveis das mais plurais significações e relações que se 

possam estabelecer neles. Esse jogo de escritura se dá através de seis Textos, sobre três 

diferentes  filmes de diferentes diretores de diferentes épocas e propostas. Refiro‐me a 

Texto, em maiúscula, pois pretendo operar essa noção com base na descrição feita por 

Roland Barthes  (1998, p.74) no  texto: “Da obra ao Texto”: “O Texto é plural [...], não é 

coexistência  de  sentidos, mas  passagem,  travessia:  não  pode,  pois,  depender  de  uma 

interpretação, ainda que liberal, mas de uma explosão, de uma disseminação. [...] o leitor 

do Texto poderia ser comparado a um sujeito desocupado”. 

Dessa  forma, cada Texto se baseia na experiência desocupada com o  filme e no 

posterior movimento de escritura baseado em pequenos momentos‐moventes: “Quando 

reportamos o movimento a momentos quaisquer, devemos nos tornar capazes de pensar 

a produção do novo, isto é, do notável e do singular em qualquer um desses momentos” 

(DELEUZE,  1983,  p.13).  Cada  um  desses  momentos‐moventes  sugere‐se  como  uma 

possibilidade ainda não enunciada de encontro com a educação por pequenos detalhes 

como: experiência, encontro, delicadeza, perda, busca, afeto, presença, ausência e alguns 

outros ainda a serem inventados.  

Cada Texto será apresentado sem que se explicite, a princípio, de qual filme surgiu 

(embora,  em  alguns  casos,  torne‐se  fácil  saber)  e  virá  acompanhado  de  uma  imagem‐

instante do  filme. Deleuze  (1983, p.11)  explora bem  a  relação  entre  cinema,  imagem  e 

movimento: “O instante qualquer é o instante equidistante de um outro. Definimos assim 

o  cinema  como  o  sistema  que  reproduz  o  movimento  reportando‐o  ao  instante 

qualquer”.  Imagens  quaisquer,  de  instantes  quaisquer,  de  filmes  quaisquer  que 

conversam  com  os  Textos.  Porém,  ao  se  desprenderem  dos  filmes,  essas  imagens 

quaisquer  acabam  por  tornarem‐se  fotogramas  e,  com  isso,  fotografias.  Elas  trazem 

pequenas  delicadezas,  movimentos  talvez  imperceptíveis,  detalhes.  É  aqui  que  nos 

lembramos do texto de a Câmara Clara, de Barthes, quando ele fala sobre o punctum de 

uma  fotografia.  Os  detalhes  que  as  fotografias  trazem  certamente  se  expressam  em 

Page 4: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.4 

 

X A

nped Sul

potentes  punctuns, pois o  “[...]  punctum  é  também picada, pequeno buraco,  pequena 

mancha, pequeno corte ‐ e também lance de dados. O punctum de uma foto é esse acaso 

que, nela, me punge (mas também me mortifica, me fere)” (BARTHES, 1984, p.46). Dessa 

forma,  as  imagens‐instantes  selecionadas  de  cada  filme  acabam  por  também 

constituírem‐se em Textos, descoladas da escritura textual sobre os filmes. Sendo assim, 

as  três  experiências  fílmicas  constituem  seis  Textos:  três  escrituras  Textuais  e  três 

fotografias fílmicas. Cinema‐fotografia‐Texto.  

Somente  ao  final  do  experimento  será  explicitado  qual  filme  originou  quais 

Textos.  Essa  proposta  surge,  pois  talvez  a  intenção  principal  desse  experimento,  seja 

jogar  com a perda e  com os  caminhos que  se  trilham  a partir de  linhas de  fuga e que 

possibilitam novos encontros, sensações e entendimentos. Talvez a leitura que se deseja 

para ele não seja aquela já significada, marcada por sentidos definidos e pontuados, mas 

sim aquela que se  lê  levantando os olhos,  leitura do prazer como sugeriu Barthes. Que 

cada Texto possa movimentar encontros e possibilidades inúmeras.  

 

Texto 1. Apren‐danças 

Onde  o  carteiro,  qual  o  poeta?  Quem  o  mestre,  por  que  o  aprendiz?  Talvez 

educação,  seguramente  arte. A experiência vivenciada  transcende  a  tela. Plasma‐se no 

ambiente  em  sua  melancolia  alegre.  Significados?  Sentidos?  Certezas?  Poesia...  Que 

escorre pelas  imagens, pelos silêncios, pelas palavras. Medidas, mas certeiras. A poesia 

ensina sendo. Ensina à alma. Apresenta a ela que o sentido do educar semeia‐se sem que 

se  saiba  e  rega‐se  sensivelmente,  na  relação.  Não  é  uni,  muito  menos  bi,  mas 

pluridirecional.  Funda  caminhos.  Desbrava  espaços.  Espaços  invisíveis, mas  presentes. 

Caminhos desconhecidos, mas  reais. Quem ensina? Quem aprende? Não se sabe com o 

olhar distanciado, é algo que se vive. Para um (uns?) o aprendizado ensina o mundo, des‐

cobre o visto. Para outro (outros?) o ensina‐mento aprende que deve também aprender o 

ensino, afinal uma relação se faz com e, há tempos já se disse: “tu te tornas eternamente 

responsável por aquilo que cativas...” (EXUPÉRY, 1994, p.69). Mesmo quando o cativado 

não  demonstre  em  momento  algum  que  o  cativante  seja  responsável.  Muito  pelo 

contrário, o cativado sente‐se culpado por algo que não fez. Pesa‐lhe o ter incomodado o 

Page 5: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.5 

 

X A

nped Sul

cativante, a cativá‐lo. E  isso porque não vê que também ensinou e cativou, dada a força 

daquilo  que  para  ele  surgiu  do  ensino  recebido. O máximo  que  se  pode  dizer  de  tal 

relação  é  isso,  qualquer  reflexão  que  transpasse  este  ponto,  é  pura  divagação,  o  que 

também é bom, afinal uma reação di‐vaga, sendo vaga duas vezes, abre espaço para que 

muito surja. O que mais se pode dizer é que esta é uma experiência para se ter em con‐

junto. Não há sentido aparente em se ter esta experiência de forma solitária já que a todo 

o momento ela  clama pelo estar  com, pelo ver‐se no outro, pelo  ter‐se algo para  criar 

com. É uma experiência para emocionar‐se  com, para ver‐se  refletido nas  lágrimas que 

emanam de outros olhos. Ao final, quando as palavras custam a sair, e se luta ativamente 

para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e  leva para a tela, o que 

resta é o silêncio. E é nele que o coletivo, que as  lágrimas, que o abraço energético se 

fazem. Somente a muito custo algo se torna evidente. Evidência não é o objetivo. Se há 

algum, ele é metafórico. Assim como o papel do mestre e do aprendiz, assim como a luta 

política,  assim  como  as  relações  familiares,  assim  como o  amor,  a poesia,  a morte e o 

arrependimento, também, são todos, à sua forma, metafóricos. Cada qual, a seu modo, é 

um pouco da alegria melancólica que fica. 

 Texto 21. Afetação. 

                                                            1    As  imagens  fílmicas  aqui  disponibilizadas  são  fotogramas  extraídos  dos  filmes.  Dessa  forma  são 

referenciadas ao final, juntamente com as referências fílmicas. 

Page 6: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.6 

 

X A

nped Sul

Texto 3. Desvios 

Um avião que se perde e apaga lentamente em meio a um céu no qual não cabe. 

Esta  imagem  movimenta  e  significa  uma  experiência  fílmica.  Assim  como  o  avião,  a 

sensação que se desprende da tela e nos inunda constantemente, é esta: perda. Perda de 

sentidos,  de  significados,  de  relações,  de  memórias,  de  objetivos,  de  intenções,  de 

caminhos, de sensações, de ‘identidade’, etc. Porém, a sensação também é a da potência 

das  perdas,  sendo  ela  que  guia  todas  as  ações.  A  perda,  na  imagem  do  avião  se 

transfigura em ondas que perdidamente invadem a areia de forma caótica. Estas, em um 

esforço de enquadramento, como num retorno, materializam um  indivíduo que não nos 

faz  sentir bem, ele não nos mostra  seu mundo, como o  faria um protagonista comum, 

pois não conhece seu mundo. Não sabe o que faz, onde está ou quem é. Ele é a perda, a 

confusão  e  o  borrar  de  uma  possibilidade  de  identidade.  Ele  não  existe.  Mas  nesta 

condição, seu desespero é calmo, sutil e aparece em pequenos atos, como ao tirar uma 

fotografia.  Sua  angústia  está  no  ato  de  focar  em  algo  que  não  reconhece  e  onde 

tampouco  se  reconhece.  O  resultado  disso  é  um  estranhamento,  que  seguirá  nossos 

momentos com este personagem, su‐jeito, durante a experienciação. As fotografias que 

tira são possibilidades de  ter uma história, de encontrar‐se por um momento consigo e 

com o espaço no qual se encontra, de provar que existe. Porém, rapidamente o conforto 

do suposto encontro se perde, pois mesmo sendo uma possibilidade – a sua, e única – as 

fotografias partem dele e ao ver também nelas a sua perda, ele falha.  

  É nesta perda que nos encontramos  também,  com o desejo de descobrir a que 

vem aquele personagem, quem é e o que podemos esperar dele. Mas estas perguntas 

não  nos  são  respondida  durante  um  bom  tempo. Nem mesmo  quando  supostamente 

chegamos a saber da sua necessidade de escrever uma história (para uma revista, jornal?) 

conseguimos nos encontrar, pois ele não permite. Ele nos diz somente que não é ali que 

vamos encontrar algo. Assim como também nos diz a música, angustiosa, repetitiva que 

em determinados momentos invade a narrativa. 

Mas  a  perda  também  é  potência,  como mencionado.  E  a  potência  da  perda,  está  nas 

possibilidades de encontro que ela  suscita. Não encontros deterministas,  como  aquele 

que poderia ter acontecido quando o personagem (que agora sabemos ser uma espécie 

Page 7: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.7 

 

X A

nped Sul

de fotógrafo  jornalista) encontra‐se com seu “chefe”. Mas sim nos encontros dignos de 

alguém  que  está  –  e  é  –  perdido:  aqueles  encontros  aos  quais  não  se  espera,  não  se 

entende  e  não  se  quer.  É  este  tipo  de  encontro  que movimenta o  personagem  e  nos 

movimenta  também.  Que  o  possibilita  encontrar‐se,  não  consigo,  mas  com  algo  e, 

paralelamente, nos faz encontrar nosso espaço na experiência: o de testemunhas de um 

encontro  inusitado. Este encontro é uma menina. Ela é deixada pela mãe no aeroporto 

junto a um bilhete e fica, fantasiosamente, aos cuidados do fotógrafo jornalista, um total 

desconhecido. É uma possibilidade tão absurda que nos atesta mais uma vez o fato dele 

ser  a  perda.  Somente  nesta  condição  poderia  sentir‐se  tranquilo  nas  situações  que  o 

encontro com a menina o  faz passar. Ela  também, uma menina perdida, mas de  forma 

diferente, sua perda é exterior: foi deixada pela mãe, mas ela sabe quem é, o que é. Ela 

sofre por ficar sem a mãe, ela quer comer, quer beber, quer ouvir histórias, que ficar com 

ele (pois sente).  

Dessa  forma,  ela  torna‐se  o mote movente  para  ele,  ao  ponto  de,  em  alguns 

momentos, a menina de nove anos tornar‐se como sua mãe, um homem de trinta e um 

anos.  É  ela  que  guia,  orienta,  objetiva,  cuida,  ensina  e  cria.  Ela,  sendo  encontro,  é  a 

potência para ele. Ele até tenta fugir de encontrar‐se, cala nas perguntas dela, não se vê 

na foto que ela tira dele, mas não consegue. A potência é muita e o engole, gargareja‐o 

movimentando seu ser. Sentimos que ele se funde no encontro quando tenta deixá‐la na 

delegacia.  Naquele  momento  somos  angústia,  como  poderá  ocorrer  algo  se  não 

estiverem mais juntos? Pois já nos encontramos no encontro deles. Não há possibilidades, 

futuro, vida após a separação. E ele percebe  isso no  reencontro: eles só  têm  liberdade 

juntos, como na cena  final, cabeças ao vento na  janela do trem. Estão  livres,  juntos, no 

encontro perdido, pois não existe ele e ela, mas ambos. É no encontro e no manterem‐se 

juntos que são.  

Não existe  local,  identidade, consenso, caminho a partir do encontro. E  isso  fica 

claro  no  momento  em  que,  após  não  encontrarem  a  avó  da  menina,  vão  nadar, 

despropositadamente.  

Esta relação de não encontrar‐se em um lugar, em uma cidade, em um corpo, em 

uma  vida,  questão  filosófica  e  psicologicamente  complexa,  perde  totalmente  sua 

Page 8: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.8 

 

X A

nped Sul

seriedade  no  filme.  Passa  a  ser  tratada  como  banal  na medida  em  que,  todas  estas 

dificuldades simplesmente deixam de existir no momento em que uma criança motiva um 

encontro e é ela, suas fantasias, seus medos, suas vontades que vão orientar a busca de 

um indivíduo que, logicamente seria e estaria aflito pela sua condição. 

O filme é uma metáfora. É a vida na busca, é a alegria no desconhecido, é a força 

na dificuldade, é a presença na ausência. 

 

Texto 4. A perda. 

 

Texto 5. Encontros 

Um filme delicado, com um título delicadamente audacioso quando se questiona o 

que pode significar falar em delicadeza em tempos atuais. Na tradução a audácia se torna 

ainda maior, pois  incorpora na delicadeza, o amor. Poderia ter sucesso um filme que se 

pretendesse discutir a delicadeza? Ele tem. Movimenta tantas delicadezas simultâneas e 

por vezes em relações paradoxais, que é como uma constante carícia nos sentidos. Pois a 

delicadeza não está  somente  com o amor, mas  sim em  todas as  inúmeras e pequenas 

Page 9: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

X A

nped Sul

situações que o filme movimenta. Portanto, delicadezas. E estas são tantas e tão variadas 

que  se  sai da experiência  com  a  sensação de  leveza. Não uma  leveza qualquer, mas  a 

leveza  que  tanto  falta  em  um  cotidiano  inchado  de  sensações  e  percepções  duras, 

extremas e dissonantes. Leveza do encontro sutil. Leveza do toque carinhoso. Leveza do 

afeto  respeitoso.  Essa  estranha  e  positiva  catarse  se  processa  pelas  já  mencionadas 

inúmeras  tessituras delicadas que  são  sugeridas para  temas  vividos  cotidianamente de 

forma  fria  e  anestesiada.  Tentarei  fazer  com  que  algumas  dessas  delicadezas  que me 

tocaram,  dancem  aqui.  Certo  de  que  algumas me  passaram  batido,  pois  em  algumas 

medidas  a  anestesia  vai  fundo  na  vida,  enrijecendo  em  absoluto  a  possibilidade  de 

perceber sensações mais sutis. 

A  primeira  delicadeza  que  percebo  é,  certamente,  a  do  amor. A  construção  de 

narrativas de amor é uma constante no cinema. Talvez esta, construída no filme, seja até 

comum,  mas  movimenta  pequenos  elementos  tão  sutis  que  em  poucos  minutos  se 

processa uma catarse e... amamos. O amor que nasce de um encontro casual, movido por 

jogos  do  acaso.  Amor  adulto  processado  em  um  devir‐criança  blindado  de  pureza  e 

brincadeiras  infantis. Amor que se constrói em  jogos  inocentes e planos conjuntos. Não 

precisamos conhecer os protagonistas desse amor para amarmos com eles. São poucos 

os minutos  de  contato,  são  poucos  os  elementos  disponíveis  para  construirmos  uma 

imagem consistente dele e dela, mas amamos. Pelos momentos de encontro. Encontros 

alegres e potentes. E esse amor é tão intenso que sustenta toda a continuidade do filme. 

Mesmo deixando alguns elementos pouco esclarecidos.  

A  segunda  delicadeza  é  a  do  som.  A  sonoplastia  criada  para  o  filme  é 

extremamente sensível, em constante diálogo com o silêncio que a faz valorizar‐se. São 

pequenos eventos sonoros que têm a capacidade de convidar‐nos a penetrar no filme. Os 

sutis sons dos passos em um solo de pedras contrastando com o silêncio no restante. O 

delicioso  som  dos  talheres  tocando  os  pratos  envoltos  no  silêncio  de  um  mastigar 

coletivo. Os  sons  cintilantes  em momentos  intensos. A música,  escolhida  com  carinho 

para  pequenos  momentos  necessários.    É  como  se  cada  detalhe  ganhasse  um  som 

próprio que nos invade acariciando‐nos delicada e deliciosamente. 

Page 10: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

X A

nped Sul

A  terceira delicadeza que  se  segue em  relação  com a primeira e a  segunda, é a 

delicadeza da perda. Perda de sentido, perda de capacidade de seguir em frente, perda 

da vontade de viver contrastada com a vida exuberante do início. Essas perdas, evocadas 

pela morte e, com ela, pela ruptura da história de amor, se processam com muita sutileza. 

Paradoxalmente é a partir daí que o filme ganha uma  leveza  intensa que se segue até o 

final. A maneira pela qual o sentimento de perda é construído é de uma  intensidade tão 

contida e vivaz que a torna delicada. São pequenas ações, gestos, silêncios e planos que 

nos  levam  a  superar  a  primeira  história  com  esforço  e  com  verdade,  pois  nesses 

elementos o tempo se constitui com uma transitoriedade belíssima (muito mais sensível 

que  cronológico).    E  a  perda  vai  se  constituindo  em  horizonte.  Ela  parece  impor‐se 

avassaladora na sequência do filme. Como superar a perda? Eis uma pergunta existencial. 

(Aliás, outro louvor do filme é exatamente esse. O tratar de questões existenciais com um 

respeito e veracidade ficcional que movimenta sensações avassaladoras no espectador.).    

A proposta para essa superação é a construção de outra delicadeza. A delicadeza 

dos  encontros.  Essa  se  processa  ainda  no  movimento  da  perda  e  vai  aos  poucos 

ganhando  espaço  em  diferentes  perspectivas.  Primeiro  há  a  amizade.  A  amizade  se 

expressa em cenas que pintam uma generosidade tão bonita e verdadeira que emociona. 

Um primeiro encontro. Cemitério. Um abraço verdadeiro entre as amigas e o pedido “me 

leva pra casa. Eu quero ir embora”. Um segundo encontro entre as amigas no parque. A 

notícia de uma gravidez. Um abraço afetuoso. Um terceiro encontro. As duas amigas em 

uma boate. Aquela que sofre a perda dança, dança, dança. Depois de anos guardando um 

luto  silencioso.  Dança,  dança,  dança.  Os  olhos  fechados.  A  outra  apenas  a  observa, 

sentada no bar. Os olhos marejados sentindo o sofrimento da amiga sendo  lavado pelo 

corpo em movimento. A delicadeza da amizade generosa. Mas ainda outro encontro se 

sugere  e  ganha  espaço.  Nesse,  movimentam‐se  diversos  elementos  interessantes.  O 

preconceito,  a  quebra  de  estereótipos,  a  diferença  e  novamente  o  amor,  que  se 

estabelece na tênue linha entre a maturidade do amor‐erótico, amor‐adulto e a inocência 

do  amor‐infantil,  amor‐gracioso.  Esse  novo  amor  se  insinua  delicadamente  de  forma 

abrupta  e  vai  se  constituindo  em  encontros  que  trazem  a  dúvida,  a  dificuldade  de 

relacionar‐se e a aproximação da diferença. É ele que sugere outra questão: de que forma 

Page 11: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.11 

 

X A

nped Sul

a  atração  pelo  outro  vai  se  constituindo  e  sobrepondo‐se  à  perda,  à  incapacidade  de 

deixar  o  passado  e  ao  isolamento?  Reencontrar‐se  na  imagem  própria,  refletida  pelo 

outro. Abraçar o passado que ainda machuca e deixá‐lo ir. Resgatar a vida naquilo que já 

nos morre.  

No  filme,  “o  reencontro  na  imagem  própria  refletida  pelo  outro”  acontece  em 

pequenas desventuras. Em gestos desconcertantes tentando esconder‐se na vergonha e 

na dificuldade em agir, falar e mover‐se que surge quando se sabe que existe algo mais, 

ainda confuso, na  relação até então despreocupada ou  inexistente com esse outro que 

me  reflete em uma  imagem meio  ridícula. “O abraçar o passado que ainda machuca e 

deixá‐lo  ir” acontece na  reconciliação  com a  casa. Espaço da  infância, das  recordações 

doloridas da perda e no encontro com a avó, que conhece as dores e passou – temporal 

embora ausente – por toda a história. “O resgatar a vida naquilo que já nos morre” surge 

na brincadeira infantil do final. Singela, delicada, fotograficamente bela e na última frase 

dita como um sussurro gritado – um dos paradoxos que se distorce por todo filme: “… foi 

no  coração de  todas essas Nathalies que eu  resolvi me esconder.”. Mias uma delicadeza: 

aquela do amor. Que se vê, ao final, no encontro dos olhos daquele com quem se está, já 

que é um filme que ganha potência ao se estar acompanhado, de preferência daquele a 

quem se ama. 

 Texto 6. Delicado gesto. 

Page 12: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.12 

 

X A

nped Sul

Pós‐Texto – três movimentos: 

Eis que chego ao final. Sem a intenção de um fechamento, mas tentando explorar 

algumas possibilidades de encontro entre os Textos. Talvez o primeiro movimento que 

aflore seja a sensação de que, embora sem uma relação direta, eles se tecem a partir de 

uma série de palavras que se tocam: perda, silêncio, vazio, delicadeza, afetação... São elas 

que, ao final, permitem que se estabeleça um rumor entre os Textos: 

O  rumor  é  o  barulho  daquilo  que  está  funcionando  bem.  Segue‐se  o paradoxo: o  rumor denota um barulho  limite, um barulho  impossível, o barulho  daquilo  que,  funcionando  com  perfeição,  não  tem  barulho; rumorejar  é  fazer  ouvir  a  própria  evaporação  do  barulho:  o  tênue,  o camuflado,  o  fremente  são  recebidos  como  sinais  de  uma  anulação sonora” (BARTHES, 2004, p. 94). 

 Um  segundo movimento  possivelmente  seja  o  de  perceber  a  relação  entre  cinema  e 

educação, pois agora se pode dizer: cada um dos Textos foi, de alguma forma, escrito no 

contexto  acadêmico  como  parte  de  disciplinas  cursadas  durante  o  doutorado  em 

educação na UFSC. Os dois primeiros, a partir de aulas em que os filmes compuseram a 

própria  aula  sem  a  necessidade  obrigatória  de  que,  a  partir  da  aula,  fosse  escrito  ou 

apresentado  o  Texto. Ou  seja,  o  próprio movimento  sugerido  pela  experiência  fílmica 

potencializou a escrita dos Textos de  forma  livre. Os  filmes  foram utilizados durante as 

aulas na  intenção  justamente de possibilitar o movimento de pensamento. Já o terceiro, 

embora  fora  de  um  contexto  acadêmico,  traz  na  sua  escritura  diversos  elementos 

surgidos  também  em  aulas. Mais  especificamente  na  disciplina  de  Pós‐modernidade  e 

educação,  realizada na UFSC em 2011. Nesse sentido, a proposta de experienciação dos 

filmes no contexto acadêmico suscitou experiências formativas potentes.  

O  terceiro e último movimento  seria  finalizar o  jogo da  incógnita,  revelando‐se, então, 

quais filmes deram origem a cada uma das escrituras acima. Não será incluído nada além 

das  informações básicas de cada  filme, pois a  intenção não é – como  tampouco  foi no 

momento de sua escritura – descrevê‐los sinopticamente, mas somente intencionar que o 

contrário  também  possa  acontecer,  quer  seja,  a  leitura  de  um  Texto  feito  a  partir  da 

experiência fílmica, potencializar o desejo de busca pela própria experiência fílmica. 

 

Page 13: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.13 

 

X A

nped Sul

Textos 1 e 2: Filme O carteiro e o poeta. Direção de Michael Radford,1994. 

Textos 3 e 4: Filme Alice nas cidades. Direção de Wim Wenders, 1974. 

Textos  5  e  6:  Filme  A  delicadeza  do  amor.  Direção  de  David  Foenkinos  e  Stéphane 

Foenkinos, 2011. 

 

Referências: 

BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Trad. Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,  1984. ______________. O rumor da língua. Trad. Mário Laranjeira. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998. DELEUZE, Gilles. Cinema: a imagem‐movimento. Trad. Stella Senra. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1983.  DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Escuta, 1998.  SAINT‐EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe. Trad. Dom Marcos Barbosa, 41. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1994.  GUIMARÃES,  Leandro  Belinaso.  O  que  eu  poderia  ser  se  fosse  para  outro  lugar?.  In: Leandro  Belinaso  Guimarães;  Aline  Krelling;  Valdo  Barcelos.  (Org.).  Tecendo  Educação Ambiental na arena cultural. Petrópolis: DP&Alli, p. 75‐81, 2010.  PREVE, Ana Maria Hoepers. Onde sonham as formigas verdes: sonho, silêncio e vazio. In: Leandro  Belinaso  Guimarães;  Aline  Gevaerd  Krelling;  Valdo  Barcelos.  (Org.).  Tecendo Educação Ambiental na arena cultural. Petrópolis: DP et Alii Editora Ltda, p. 63‐74, 2010.  SCARELI,  Giovana.  Cinema  e  religião  em  Santo  Forte  de  Eduardo  Coutinho.  Revista FAEEBA, Salvador, v. 20, p. 41‐53, 2011.   ______________.  Imagi‐nando multiplicidades  entre‐tempos/lugares:  um  olhar  sobre  o filme Narradores de Javé. Revista Rua, Campinas v. 1, p. 21‐33, 2011.  XAVIER,  Ismail  Norberto. O  cinema  e  os  filmes  ou  doze  temas  em  torno  da  imagem. Revista Contracampo, Niterói, v. 8, p. 125‐151, 2003.      

Page 14: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1457-0.pdf · para poder racionalizar e desligar‐se do emaranhado que gruda e leva para a tela, o que resta é o silêncio. E é nele

 Uma proposta de jogo entre cinema e educação a partir de seis Textos fílmicos  Eduardo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.14 

 

X A

nped Sul

Filmes:  

IL  Postino. Direção: Michael Radford. Roteiro:  Furio  Scarpelli.  Itália: Penta  Film,  1994.  1 DVD  (108 min),  widescreen,  color.  Produzido  por  Penta  Film.  Baseado  na  Novela  "O carteiro e o poeta" de Antonio Skármeta.  ALICE  in  den  Städten.  Direção  Wim  Wenders.  Roteiro  Wim  Wenders,  Veith  von Fürstenberg. Alemanha: Filmverlag der Autoren, 1974. 1 videocassete (110 min), VHS, son., P&B.  LA délicatesse. Direção: David Foenkinos, Stéphane Foenkinos. Roteiro: David Foenkinos. França: 2.4.7 Films, 2011. 1 bobina cinematográfica (108 min), son., color., 35mm.