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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATI SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATI MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA ELIANE SANTANA NUNES COUTRIM SUZANA ALMEIDA COSTA INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATI

SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATI

MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA

ELIANE SANTANA NUNES COUTRIM

SUZANA ALMEIDA COSTA

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

BRASÍLIA - DF

2017

ELIANE SANTANA NUNES COUTRIM

SUZANA ALMEIDA COSTA

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.

Orientador: Prof. Dr. Éder Alves Marques

BRASÍLIA - DF

2017

ELIANE SANTANA NUNES COUTRIM

SUZANA ALMEIDA COSTA

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, servindo como um dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.

Orientador: Prof. Dr. Éder Alves Marques

Aprovada em 19 de março de 2017

BANCA EXAMINADORA

Prof.º Dr. Éder Alves Marques

Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI

Presidente (Orientador)

Prof.ª Drª. Cristiane Costa Barbosa Affonso

Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI

Examinadora

Prof.ª Drª. Priscila Arlino da Silva

Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI

Examinadora

Prof.º Dr. José Israel Sánchez Robles

Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI

Examinador

Prof.ª Drª. Vanízia Regina Pádua Antunes Silva

Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI

Examinadora

RESUMO

A incidência de infecções relacionadas à assistência à saúde é um importante indicador para avaliação da qualidade da assistência hospitalar. Dentre essas infecções, as do trato urinário são relevantes, não apenas pela sua alta incidência, mas pelas suas potenciais complicações e danos. Na unidade de terapia intensiva as taxas de infecções relacionadas à assistência são significativamente maiores do que em outras unidades. Esse estudo tem como objetivo apresentar a ocorrência de infecções do trato urinário em pacientes de terapia intensiva em hospitais brasileiros, relatada em periódicos científicos publicados nos últimos 5 anos (2012 a 2016). Foram utilizadas as bases de dados SCIELO, LILACS e BDENF, sendo selecionadas 10 publicações. A maior parte dos estudos foi desenvolvida nas regiões Sudeste e Sul, 50% e 30% dos estudos, respectivamente, 10% na região Nordeste e 10% na região Centro-Oeste. Nenhum artigo foi encontrado na região Norte. Os estudos mostraram que, ao contrário do encontrado na literatura, a Candida sp. foi o micro-organismo mais freqüente; os principais fatores de risco foram o uso do cateter vesical e seu tempo de permanência e as principais medidas de prevenção foram relacionadas à indicação adequada do cateter, cuidados em sua inserção e manuseio, bem como a avaliação da necessidade de sua permanência. O uso freqüente de antimicrobianos em UTI tem favorecido a mudança do perfil dos agentes etiológicos causadores de ITU. Assim, é necessário que seja estabelecido protocolo nas unidades e que os profissionais participem de programas de educação permanente e treinamento visando prevenir infecção no sítio urinário e a disseminação de microrganismos multirresistentes. Foram encontrados poucos estudos abordando ITU em terapia intensiva, por isso sugere-se que outros estudos sejam realizados sobre essa temática, permitindo que os fatores de risco para as ITU e os cuidados em sua prevenção sejam conhecidos de forma mais aprofundada.

Palavras-chave: Infecção; trato urinário, terapia intensiva.

ABSTRACT

Infections incidence related to health care is a important point in the hospitalar assistance evaluation. Some of these infections, like urinary tract, are revelant not only for their high incidence, but for their potential complications and damages. Infections rates related to intensive care units are significantly higher than in other units. This study objective is to introduce the urinary tract infections occurrence in intensive care patients in brazilian hospitals, reported in scientific journals published in the last 5 years (2012 to 2016).The SCIELO, LILACS and BDENF databases were used, and 10 publications selected. Most of the studies were desenvolved in the Southeast and South regions, 50% and 30% of the studies, respectively, 10% in the Northeast region and 10% in the Central West region. No articles was found in the North region. The studies showed that, contrary the literature findings, the Candida sp. was the most frequent microorganism; The main risk factors were the use of the bladder cateter, the time of stay and the main prevention measures were related to the adequate indication of the catheter, care in its insertion and handling, as well as the evaluation of the necessity of its permanence. The frequent use of antimicrobials in UTIs has favored a change in the profile of the causative agentes. Thus, it is necessary, a established protocol, with permanent education and training to the professionals with the object at preventing urinary infection and the dissemination of multiresistant microorganisms. Few studies have been found addressing ITU in intensive care, so it is suggested that other studies be done on this subject, allowing the risk factors for UTIs and care in their prevention to be known in greater depth.

keywords: Infection, Urinary tract, Intensive terapy.

INTRODUÇÃO

As instituições hospitalares devem prestar assistência aos pacientes de forma adequada e segura, o que torna necessária uma busca constante de avaliação e aperfeiçoamento das práticas assistenciais em saúde. A avaliação dessas práticas permite reconhecer um determinado problema e apontaras ações necessárias para que esse problema seja resolvido ou minimizado. As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) consistem em um dos principais indicadores utilizados para avaliação da qualidade da assistência (CHAVES, MORAES, 2015).

A Infecção Hospitalar é definida pela Portaria 2616 do Ministério da Saúde, como infecção adquirida após a admissão do paciente, que se manifesta durante a internação ou após a alta, quando puder ser associada a internação ou a procedimentos hospitalares. Quando o período de incubação do microrganismo é desconhecido ou não há evidência de infecção no momento da internação, considera-se como infecção hospitalar aquela que se manifesta após 72 horas da admissão (BRASIL, 1998).

De acordo com Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) as IRAS são eventos adversos ainda persistentes nos serviços de saúde e que levam à elevação dos custos no tratamento, aumento do tempo de internação e à morbidade e mortalidade nos serviços de saúde do país. Dentre as IRAS, a infecção do trato urinário (ITU) é uma das mais prevalentes e possui grande potencial preventivo, visto que a maioria está relacionada à cateterização vesical. A ANVISA conceitua ITU relacionada à assistência à saúde associada ao cateter vesical como qualquer infecção sintomática de trato urinário em paciente em uso de sonda vesical de demora há pelo menos 48 horas (BRASIL, 2017).

Estudos recentes validam notificar casos de ITU com contagem de 10³ UFC (unidades formadoras de colônias), em pacientes graves, associados a sintomas (MIRANDA et al., 2016). As ITU são responsáveis por 35 a 45% das IRAS em pacientes adultos e, aproximadamente, 16 a 25% dos pacientes internados em ambiente hospitalar são submetidos ao cateterismo vesical em algum momento de sua hospitalização, muitas vezes por motivos que não justificam o procedimento. A situação torna-se mais agravante quando esses pacientes permanecem com o dispositivo por tempo superior ao necessário apesar do risco de complicações infecciosas (BRASIL, 2017; FIGUEIREDO, VIANNA E NASCIMENTO, 2013).

Sendo assim, a prevenção das ITU torna-se uma prática relevante no controle da infecção hospitalar, principalmente quando associada ao uso de cateter vesical de demora, já que seus fatores de risco apontam para a realização adequada da inserção e manutenção do dispositivo para sua prevenção. Segundo Menegueti et al. (2012), a ITU é importante, não apenas pela sua alta incidência, mas pelas suas potenciais complicações e danos.

Embora o número de pacientes em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) seja menor comparando com o número de pacientes de outros setores do hospital, as taxas de IRAS são significativamente maiores em UTI do que em outras unidades. Os pacientes internados em terapia intensiva possuem alto risco para desenvolvimento de ITU causada por bactérias resistentes, devido a alterações no sistema imunológico, por fazerem uso de grande quantidade de antimicrobianos e de serem expostos freqüentemente a procedimentos invasivos, a exemplo da cateterização vesical (BARROS, KERBAUY, DESSUNTI, 2013)

Sendo assim, esse estudo tem o objetivo de apresentara ocorrência de ITU em UTI adulto de hospitais brasileiros, relatada em periódicos científicos publicados no Brasil nos últimos cinco anos (2012 a 2016).

Espera-se oferecer um importante instrumento de apoio para a prevenção e redução das ITU, contribuindo para a redução de riscos associados à assistência nos serviços de saúde brasileiros.

MÉTODO

Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica abrangendo publicações, sobre o tema em estudo, nas bibliotecas virtuais dos sistemas SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e BDENF (Base de Dados de Enfermagem), utilizando como descritores, infecção, trato urinário, terapia intensiva. Como critério de inclusão na pesquisa foi considerado os artigos que:

- abordavam a ITU;

- foram realizados em UTI adulto;

- desenvolvido em instituições brasileiras;

- período de publicação entre 2012 e 2016;

Como critério de exclusão foi considerado as publicações que:

- não estavam disponíveis na íntegra;

- estavam fora do período estabelecido;

- foram realizadas em instituições fora do Brasil;

- não foram realizados em UTI adulto.

Durante a pesquisa, foram encontrados 57 publicações com os descritores apresentados, algumas delas se repetindo entre os bancos de dados. Dentre essas, apenas 10 atenderam aos critérios de inclusão.Segundo Gil (2002) a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material elaborado presente em livros e artigos científicos, envolvendo a bibliografia publicada sobre o assunto, permitindo uma ampla cobertura sobre o objeto de estudo. Marconi e Lakatos (2002) apontam que este tipo de pesquisa pode propiciar um exame do tema sob um novo enfoque, chegando a novas conclusões, não sendo uma mera repetição do que já foi dito ou escrito.

Os trabalhos selecionados foram, inicialmente, caracterizados de acordo com o ano e local de publicação agrupado pelas 5 regiões geográficas brasileiras e, a partir da leitura, foram estabelecidas quatro categorias para se proceder às análises dos mesmos:

- Epidemiologia,

- Agentes Etiológicos,

- Fatores de Risco,

- Medidas de prevenção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não foram encontrados muitos estudos abordando a temática, pois, embora muitos artigos trouxessem ITU como temas não foram incluídos nessa pesquisa por não analisar a referida infecção em ambiente de UTI e por não atenderem aos critérios de inclusão. Conforme ilustrado no GRÁFICO 1, segundo o ano de publicação dos estudos selecionados, não se observa disparidades importantes nos últimos 5 anos, sendo que em 2016 houve uma menor quantidade de artigos publicados sobre a temática.

No GRÁFICO 2 está representado o local de realização dos estudos agrupado por regiões do Brasil. A região Sudeste apresentou o maior número de estudos, com 50% do total, seguida pela região Sul, com 30%. Nas regiões Nordeste e Centro-oeste foram encontrados 10% dos estudos. Não foram encontrados estudos publicados na região Norte.

Epidemiologia

Dois dos artigos buscaram identificar topograficamente as IRAS mais prevalentes em UTI (GRÁFICO 3). Figueiredo, Vianna e Nascimento (2013) observaram, em seu estudo realizado na UTI de um hospital de João Pessoa–PB, que a ITU foi a terceira causa mais prevalente de infecção, precedida por infecção de corrente sanguínea e vias aéreas, respectivamente. A pesquisa de Prates et al. (2014)encontrou resultado diferente, com a ITU como segunda causa das infecções nosocomiais nos pacientes de terapia intensiva de um hospital de Belo Horizonte – MG, sendo a primeira causa as infecções de vias respiratórias e de corrente sanguínea a terceira causa de IRA.

Os estudos trazem diferentes resultados na prevalência das IRAS em UTI, mas mostram as ITU como uma das infecções mais prevalentes e com potencial risco de complicação. O impacto na mortalidade das ITU é variável, continuando a ser controverso (BRASIL, 2017).

Agentes Etiológicos

Os agentes etiológicos responsáveis pelas ITU, normalmente fazem parte da microbiota do paciente, mas, devido ao uso de antimicrobianos, colonização local,fungos e manuseio do cateter vesical, podem ocorrer mudanças na microbiota. As bactérias Gram negativas são mais freqüentes (BRASIL, 2017).O GRÁFICO 4 mostra a prevalência dos agentes etiológicos causadores de ITU encontrados nos estudos.

Em uma análise da prevalência de microrganismos e do perfil de sensibilidade aos antimicrobiano sem pacientes das UTI do Hospital Universitário de Londrina-PR diagnosticados com ITU e que faziam uso de cateter vesical (Estudo 1),Barros, Kerbauy e Dessunti (2013) constataram que os micro-organismos mais isolados nas uroculturas foram Candida SP (44,4%), Acinetobacter baumannii (9,7%) e Pseudomonas aeruginosa (9,2%). As pseudomonas apresentaram 86,7% de resistência às cefalosporinas de terceira geração e o Acinetobacter baumannii 83,3% aos carbapenêmicos. Este estudo evidencia que a resistência bacteriana é freqüente nas ITU relacionadas ao cateter vesical, sendo necessárias medidas de controle e prevenção.

Resultado semelhante foi mostrado por Campos (2014) em seu estudo de microrganismos isolados na cultura de urina dos pacientes em UTI de dois hospitais de Belo Horizonte-MG (Estudo 2), onde a Candida sp. foi mais prevalente, com 23,8%, seguida pela Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella pneumoniae, as três com 14,28%.

Diferente dos estudos citados, Gaspar, Busato e Severo (2013), encontraram a Acinetobacter baumanniicomo agente mais prevalente em uma UTI de Ponta Grossa-PN (Estudo 3), com 18,5%, seguido pelo Staphylococcus aureus (17%); Escherichia coli (11,9%); Enterobacter aerogenes (11,1%); Klebsiella pneumoniae (8,9%); e Pseudomonas aeruginosa (6,7%).

Mattede et. al (2015) analisaram apenas a incidência de ITU causada por Trichosporon spp. em uma UTI de Vitória – ES (Estudo 4), e encontraram a presença do microorganismo em 6% das uroculturas. Esse agente não foi considerado em nenhum dos outros estudos analisados.

A literatura aponta os bacilos gram-negativos como os principais agentes causadores das ITU, sendo o de maior importância a Escherichia coli. Embora a Escherichia coli permaneça como principal microrganismo na etiologia das ITU nosocomiais, essa situação tem mudando ao longo dos anos, bem como a suscetibilidade antimicrobiana. Essa mudança no perfil microbiológico do trato urinário pode ser justificada pela alteração do perfil dos pacientes, como senilidade, doenças crônicas ou uso de drogas imunossupressoras, bem como o uso indiscriminado de antimicrobianos(BRASIL, 2017;GASPAR, BUSATO, SEVERO, 2013).

Não é recomendado tratar a bacteriúria assintomática, porém em gestantes, pacientes transplantados de rim ou submetidos a cirurgias urológicas, crianças com refluxo vesicoureteral e pacientes com cálculos infectados, deverão ser avaliados para possível tratamento (BRASIL, 2017).

FATORES DE RISCO

Cateter Urinário

O principal fator de risco apontado na literatura para a ITU é o uso do cateter vesical e seu tempo de permanência. Barros, Kerbauy e Dessunti (2013) encontraram uma taxa de ITU de 34% em pacientes em uso de cateter, sendo que 2,2% desses pacientes desenvolveram sepse. Dentre os 61 patógenos avaliados em sua pesquisa,90,2% eram resistentes a antimicrobianos de escolha terapêutica e 70,5% mostraram-se multirresistentes. Assim, fica evidenciado que o cateter vesical, presente na maioria dos pacientes internados em terapia intensiva, não deve ser visto pela equipe como algo simples e isento de danos ao paciente, devendo, por isso, ser usado após avaliação criteriosa da indicação e apenas durante um tempo necessário. A pesquisa de Figueiredo, Vianna e Nascimento (2013) também evidenciaram relação entre o cateter vesical e a ITU.

Estudos demonstraram que, durante o uso do cateter vesical de demora, as mesmas bactérias isoladas na bexiga são identificadas, simultaneamente,no meato uretral, confirmando que a contaminação vesical pode se fazer por migração retrógrada destes germes em torno da sonda a partir do intróito uretral externo (extraluminal), com formação de biofilme. Outra forma de migração foi mostrada em pesquisas que encontraram a presença de bactérias na bexiga apenas após 24 a 48 horas de sua identificação na bolsa coletora de urina, indicando possível contaminação ascendente por via intraluminal, esta menos frequente (BRASIL, 2017).

Para Barros, Kerbauy e Dessunti (2013) a falta de treinamento do profissional para a execução correta da técnica, a falha no uso da técnica asséptica e no manuseio do circuito,o calibre inadequado do cateter e o uso de bolsas coletoras inadequadas, podem favorecer a instalação de ITU.

Embora haja indiscutível relação entre cateterismo vesical e ITU, observa-se uma percepção errônea por parte dos profissionais de que a ITU seja menos agressiva quanto à morbidade e mortalidade (BRASIL, 2017). Apesar de a taxa de morbimortalidade das ITU relacionadas ao cateter urinário ser considerada relativamente baixa quando comparada a outras infecções, a alta prevalência do uso desse tipo de cateter pode resultar em complicações infecciosas, pois 15 a 25% dos pacientes que são internados em hospitais recebem cateter vesical de demora, que em grande parte das situações são indicados de forma equivocada e permanecem por tempo superior ao necessário (MENEGUETI et al., 2012).

A indicação do dispositivo ocorre, muitas vezes,apenas para o controle de débito urinário ou para os pacientes com incontinência urinária. A ANVISA lista as indicações consideradas adequadas para realização do cateterismo vesical, salientando a preferência pelo cateterismo intermitente, a saber (BRASIL, 2017):

1. Impossibilidade de micção espontânea;

2. Instabilidade hemodinâmica com necessidade de monitorização de débito urinário;

3. Pós operatório imediato, devendo permanecer pelo menor tempo possível, sendo recomendado até no máximo 24horas, exceto para cirurgias urológicas específicas;

4. Mulheres em tratamento de lesões por pressão grau IV, com cicatrização comprometida pelo contato pela urina, sendo orientado uso de condon no sexo masculino.

Tempo de Permanência do Cateter Vesical

Entre os fatores de risco, o tempo de permanência do cateter vesical tem sido considerado o mais importante para o desenvolvimento de bacteriúria. O risco da ITU é diretamente proporcional ao tempo de permanência do cateter. A ANVISA salienta que o crescimento bacteriano inicia-se após a instalação do cateter, numa proporção de 5 a 10% ao dia, e estará presente em todos os pacientes ao final de quatro semanas e a ITU poderá ocorrer mesmo após a retirada do cateter. O risco para ITU associado ao cateter intermitente é inferior, sendo de 3,1% e na ausência de cateter vesical de 1,4% (BRASIL, 2017).

Barros, Kerbauy e Dessunti (2013), ao analisar as UTI de um hospital de Londrina obtiveram uma taxa de ITU de 29,9% na UTI onde os pacientes permaneciam menos tempo e, em contrapartida na UTI de maior permanência, que recebia pacientes crônicos, a taxa de ITU foi 52%.

Após cessados os motivos que indicaram o uso do dispositivo invasivo, o cateter precisa ser retirado. Muitas vezes os profissionais de enfermagem são resistentes à retirada do cateter de demora, pois o trabalho gerado para a equipe de enfermagem, com uma sondagem intermitente ou com a troca de fraldas ou de outros dispositivos não invasivos,é conhecido e talvez um dos fatores mais desafiadores para o controle de infecção.

Não há evidências de que o uso de sondas impregnadas com antibiótico ou com prata reduz o risco de infecção. Os cateteres hidrofílicos trazem mais conforto ao paciente, mas não há evidências de que seu uso diminua os índices de infecção (BRASIL, 2017).

MEDIDAS DE PREVENÇÃO

Algumas medidas têm sido tomadas, ao longo dos anos, na tentativa de minimizar o aparecimento da ITU ocasionada pelo uso do cateter. Dentre elas, algumas foram descartadas e outras têm sido fortalecidas pelos estudos.

O GRÁFICO 5 ilustra a distribuição dos artigos conforme tema central, evidenciando que, apesar de não serem encontrados muitos artigos sobre o tema, os estudos encontrados, abordam, principalmente medidas de prevenção às ITU.

Dos artigos selecionados, 60% tratavam de aspectos que envolviam prevenção conforme ilustrado, sendo que 30% abordava as práticas de prevenção e controle, 20% relatavam o processo de implantação de protocolos assistenciais e 10% abordavam a educação permanente como instrumento de redução dos índices de ITU. Embora tenha sido o tema central em apenas 20% dos artigos apresentados, a utilização do protocolo, como estratégia de redução das infecções nosocomiais, foi avaliada em 50% dos estudos.

Chaves e Moraes (2015) avaliaram as práticas de controle e prevenção de ITU, no uso de cateter vesical, em uma UTI de um hospital de Florianópolis- SC. Neste estudo, as autoras analisaram a presença de protocolos assistenciais e de treinamento sobre o tema na unidade, avaliaram o processo (indicação, justificativa de manutenção e tempo de permanência) e fizeram observação direta dos pacientes em uso de sonda vesical de demora. Foram evidenciadas inconformidades pela ausência de treinamento nos últimos 12 meses; protocolo com carência de informações importantes, pois não abordava técnica de retirada, de irrigação e de manejo de fluxo obstruído; falta de registro sobre justificativa de manutenção do dispositivo e tempo de permanência, e falta de fixação do cateter em grande parte dos pacientes. Apresentou conformidade, o uso do sistema fechado, o posicionamento da bolsa coletora e o fluxo desobstruído.

Menegueti et al. (2012) avaliaram, também, as práticas de controle e prevenção, considerando os fatores predisponentes para ocorrência de ITU em uma UTI de Ribeirão Preto-SP. Para tanto analisaram cinco componentes: sistema fechado, fixação adequada, volume de urina abaixo de 2/3 do nível da bolsa coletora, bolsa coletora abaixo da bexiga e fluxo urinário desobstruído. Dentre esses componentes, afixação da sonda foi considerado inadequada, estando presente em apenas 7% dos paciente em uso de sonda vesical. Apesar de parecer uma medida simples, a fixação inadequada possibilita a tração do cateter durante a movimentação do paciente, favorecendo a lesão na uretra, constituindo, portanto, em um cuidado muito importante durante a manutenção do dispositivo invasivo.

Para que haja redução de índices de infecções em um serviço, faz-se necessário o estabelecimento de protocolos assistenciais e atividades de educação permanente. Prates et al. (2014) avaliaram o efeito de intervenções da equipe multidisciplinar, utilizando a educação permanente como método para a diminuição da incidência de IRAS em uma UTI de um hospital Belo Horizonte- MG. As intervenções, que envolveram atividades de educação permanente, refletiram na redução do índice de ITU na unidade.

Miranda et al. (2016) avaliaram os resultados da incidência de infecção do trato urinário, após implementação de um protocolo de conformidade do cateter vesical para pacientes internados em UTI de um hospital do Mato Grosso do Sul. Esse protocolo deveria ser preenchido diariamente, sendo avaliados: correta fixação do cateter, identificação do dispositivo, manutenção da bolsa coletora abaixo do nível da bexiga, volume de urina na bolsa abaixo de 2/3, fluxo urinário desobstruído, desinfecção adequada do plug para coleta de exames e justificativa diária de manutenção do cateter. Constataram, após implantação do protocolo, que houve redução dos casos notificados de ITU, bem como no número de micro-organismos presentes em urocultura. A adesão de um instrumento em uma instituição de saúde pode levar um tempo considerável para alterar os indicadores do serviço, por isso as intervenções educativas devem ser capazes de transformar resultados variáveis em permanentes, trazendo benefícios na diminuição do tempo de internação dos pacientes.

Shimabukuro, Paulon e Feuldman (2014) implantaram três bundles nas UTI de um hospital de São Paulo- SP, com medidas de prevenção relacionados à prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica, infecção de corrente sanguínea associada ao cateterismo venoso central e ITU associado ao cateter. Após aplicação das medidas, as autoras encontraram ausência de ITU nos 3 meses estudados, demonstrando que a implantação de um protocolo pode favorecer a redução de infecções nosocomiais.

Os estudos demonstram que a implantação de protocolo e de atividades de educação permanente auxiliam o controle e prevenção de infecções, no entanto, não garantem, por si só, que a prática clínica seja qualificada, devendo as instituições implementarem processos de monitoramento e avaliação, incentivando e treinando a equipe de saúde envolvida na inserção, cuidados e manutenção do cateter urinário, incluindo alternativas ao uso do cateter. Os estudos não salientaram a aceitação dos profissionais aos protocolos nas unidades onde estavam implantados.

Considerando que o uso de cateter e seu tempo de permanência são os principais fatores relacionados à ITU, a ANVISA estimula a adoção de algumas medidas preventivas (BRASIL, 2017):

1. Implantar protocolos de uso, inserção e manutenção do cateter;

2. Inserir cateteres somente mediante indicações adequadas, e mantê-los somente o tempo necessário;

3. Implantar visita diária com médico e enfermeiro revisando a necessidade de manutenção do cateter;

4. Se possível, escolher a cateterização intermitente;

5. Avaliar a possibilidade de métodos alternativos para drenagem de urina como: estimular a micção espontânea e o uso de sistemas não invasivos tipo “condon” em homens;

6. Garantir que a inserção, a manutenção e a remoção sejam realizadas por pessoas treinadas e qualificadas, através de educação continuada com controle de técnicas e procedimentos;

7. Manter o sistema de drenagem fechado e estéril, realizando troca de todo o sistema caso haja desconexão, quebra da técnica asséptica ou vazamento;

8. Manter o fluxo de urina desobstruído;

9. Esvaziar a bolsa coletora regularmente e mantê-la abaixo do nível da bexiga;

10. Evitar irrigação do cateter com antimicrobianos e uso de antissépticos tópicos ou antibióticos aplicados ao cateter, uretra ou meato uretral.

11. Assegurar a disponibilidade de materiais para inserção do cateter com técnica asséptica;

12. Documentar, em prontuário, informações de indicações do cateter, responsável pela inserção, data e hora da inserção e retirada do cateter.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo evidencia a ITU como uma das infecções nosocomiais de maior importância em terapia intensiva, causada pelo uso, muitas vezes inadequado, do cateter vesical de demora. Sendo assim, foi demonstrado que as principais medidas de prevenção estão relacionadas à indicação adequada do cateter, cuidados em sua inserção e manuseio, bem como a avaliação da necessidade de sua permanência. Associado a isso, o uso freqüente de antimicrobianos em UTI tem favorecido a mudança do perfil dos agentes etiológicos causadores de ITU.

Uma parte considerável dos estudos tiveram como tema central as medidas de prevenção, sendo que em metade dos estudos selecionados, o protocolo assistencial foi apontando com importante estratégia para auxiliar o controle e prevenção de infecções. As instituições, além de elaborarem os protocolos, precisam garantir que os mesmos sejam colocados em prática, por meio de monitoramento e avaliação constante dos processos de trabalho, identificando as dificuldades encontradas e incentivando a equipe de saúde envolvida. Assim, os profissionais que prestam cuidado aos pacientes com cateter vesical devem avaliar, discutir e seguir os protocolos assistenciais, bem como participar de programas de educação permanente, visando prevenir a infecção no sítio urinário e a disseminação de microrganismos multirresistentes.

Foram encontrados poucos estudos abordando infecção do trato urinário em terapia intensiva, por isso sugere-se que outros estudos sejam realizados sobre essa temática, permitindo que os fatores de risco para as ITU e os cuidados em sua prevenção sejam conhecidos de forma mais aprofundada. Alguns fatores, como material do cateter e solução utilizada na antissepsia, não foram abordados, por ainda serem controversos e pela ausência de sua discussão nos estudos selecionados.

REFERÊNCIAS

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3. BRASIL. Portaria nº 2616, de 12 de maio de 1998. Dispõe sobre a obrigatoriedade da manutenção pelos hospitais do país, de Programa de Controle de Infecções Hospitalares. Disponível em: . Acesso em 20 de fev. 2017.

4. CAMPOS, C. C. Incidência de Infecção do Trato Urinário Relacionada ao Uso do Cateter Urinário de Demora em Centros de Terapia Intensiva: comparação entre duas técnicas de limpeza periuretral. Universidade Federal de Minas Gerais, Dissertação de Mestrado, 2014. Disponível em: . Acesso em 10 de jan. 2017.

5. CHAVES, N. M. O.; MORAES, C. L. K. Controle de infecção em cateterismo vesical de demora em unidade de terapia intensiva. R. Enferm. Cent. O. Min. 2015 mai/ago; 5(2):1650-1657. Disponível em: . Acesso em 10 de jan. 2017.

6. FIGUEIREDO, D. A.; VIANNA, R. P. de T.; NASCIMENTO, J. A. Epidemiologia da Infecção Hospitalar em uma Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Público Municipal de João Pessoa-PB. Rev. bras de Ciências da Saúde, 17(3):233-240, 2013. Disponível em: . Acesso em 10 de jan. 2017.

7. GASPAR, M. D. DA R.; BUSATO C. R.; SEVERO E. Prevalência de infecções hospitalares em um hospital geral de alta complexidade no município de Ponta Grossa. ActaScientiarum. Health Sciences Maringá, v. 34, n. 1, p. 23-29, Jan.-June, 2012.Disponível em: . Acesso em 10 de jan. 2017.

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9. MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

10. MATTEDE, M. das G. S.et al . Infecções urinárias causadas por Trichosporon spp. em pacientes graves internados em unidade de terapia intensiva. Rev. bras. ter. intensiva,  São Paulo ,  v. 27, n. 3, p. 247-251,  set.  2015.Disponível em:. Acesso em 10 de jan. 2017.

11. MENEGUETI, M. G.et al. Infecção urinária em Unidade de Terapia Intensiva: um indicador de processo para prevenção. Rev Rene. 2012; 13(3):632-8. Disponível em: . Acesso em 10 de jan. 2017.

12. MIRANDA, A. L.et al. Resultados da implementação de um protocolo sobre a incidência de Infecção do Trato Urinário em Unidade de Terapia Intensiva. Rev. Latino-Am. Enfermagem 2016;24:e2804.Disponível em: .Acesso em 10 de jan. 2017.

13. PRATES, D. B.et al. Impacto de programa multidisciplinar para redução das densidades de incidência de infecção associada à assistência na UTI de hospital terciário em Belo Horizonte. Rev Med Minas Gerais, 2014; 24(Supl 6): S66-S71.Disponível em: . Acesso em 10 de jan. 2017.

14. SHIMABUKURO, P. M. S.; PAULON, P.; FELDMAN, L. B. Implantação de bundles em unidade de terapia intensiva: um relato de experiência. Rev Enferm UFSM, 2014 Jan/Mar;4(1):227-236.Disponível em: . Acesso em 10 de jan. 2017.

GRÁFICO 3 - Distribuição topográfica das IRAS

Corrente sanguínea

Figueiredo, Vianna e Nascimento (2013)Prates et al. (2014) 0.385900000000000350.17Pneumonia

Figueiredo, Vianna e Nascimento (2013)Prates et al. (2014) 0.368400000000000230.25ITU

Figueiredo, Vianna e Nascimento (2013)Prates et al. (2014) 0.21050000000000010.2100000000000001

GRÁFICO 4 - Prevalência dos agentes etiológicos causadores de ITU

Candida sp

Estudo 1Estudo 2Estudo 3Estudo 444.423.8Acinetobacter baumannii

Estudo 1Estudo 2Estudo 3Estudo 49.700000000000001118.5Pseudomonas aeruginosa

Estudo 1Estudo 2Estudo 3Estudo 49.200000000000001114.286.7Escherichia coli

Estudo 1Estudo 2Estudo 3Estudo 414.2811.9Klebsiella pneumoniae

Estudo 1Estudo 2Estudo 3Estudo 414.288.9Staphylococcus aureus

Estudo 1Estudo 2Estudo 3Estudo 417Trichosporon spp

Estudo 1Estudo 2Estudo 3Estudo 46

GRÁFICO 5: Distribuição dos artigos conforme tema central

Vendas

Práticas de PrevençãoEducação PermanenteProtocolo AssistencialPerfil EpidemiológicoSensibilidade antimicrobianaAgente etiológico0.300000000000000210.10.20.20.10.1

2012

Ano de Publicação0.22013

Ano de Publicação0.300000000000000212014

Ano de Publicação0.300000000000000212015

Ano de Publicação0.22016

Ano de Publicação0.1

GRÁFICO 2 - Distribuição dos artigos segundo local de realização do estudo agrupado por região

[PORCENTAGEM]

[PORCENTAGEM]

[PORCENTAGEM]

[PORCENTAGEM]

[PORCENTAGEM]

NorteNordesteSudesteCentro-OesteSul00.10.50.10.30000000000000021

19