visÃo regional · revista citricultor 1 ano vii i nº 32 i outubro de 2015 i visÃo regional...

16
1 REVISTA CITRICULTOR ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I WWW.FUNDECITRUS.COM.BR VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial para o controle do HLB

Upload: dangduong

Post on 21-Jan-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

1 REVISTA CITRICULTOR

ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I WWW.FUNDECITRUS.COM.BR

VISÃOREGIONALCitricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial para o controle do HLB

Page 2: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

2 REVISTA CITRICULTOR

A REVISTA CITRICULTOR é uma publicação de distribuição gratuita entre citricultores, editada pelo Fundo de Defesa da Citricultura - Fundecitrus I Avenida Dr. Adhemar Pereira de Barros, 201, Vila Melhado, Araraquara - SP, CEP: 14807-040 - Nº ISSN: 23172525. Contatos: Telefones: 0800 112 155 e (16) 3301-7045 I e-mail: [email protected] - Website: www.fundecitrus.com.br. Jornalista responsável: Fabiana Assis (MTb 55.169) I Reportagem e edição: Jaqueline Ribas, Fabiana Assis I Projeto gráfico e diagramação: Marcelo Quén I Assistente: Tainá Caetano I Tiragem: 9 mil exemplares.

EDITORIAL

INVENÇÃO X INOVAÇÃO: NOSSA FORÇA MAIOR

ÍNDICE

Pág.12CAPITAL DA LARANJA Mogi Guaçu é o município com maior área plantada

Pág.8FORA DO POMARAção nos vizinhos faz parte do pacote de medidas contra o HLB

Pág.6PODRIDÃO FLORALSistema online mostra momento certo de prevenir

Pág.4SAFRA INALTERADAReestimativa aponta produção dentro do previsto

Expediente

Lourival Carmo Monaco Presidente do Fundecitrus

Pág.14PREMIADOPresidente do Fundecitrus é “Herói da Revolução Verde”

Pág.15MOSCA DAS FRUTASPraga se desenvolve dentro do fruto e inviabiliza consumo

O agronegócio brasileiro tem se mostrado cada vez mais competitivo e eficaz, com expansão de áreas e surgimento de novas a cada ano. O país tem revelado uma capacidade extraordinária de produzir e

aproveitar conhecimentos gerados aqui e no exterior. Fato relevante é que as grandes conquistas têm nuances específicas e proporcionais à importância da cultura e aos investimentos mundiais. A necessidade de conhecimento tem exigido novas estratégias para sua gestão, focalizada na inteligência que permite que as instituições mantenham a capacidade competitiva em resposta às demandas do mercado.

Para os envolvidos no dia a dia do processo produtivo é fundamental a diferenciação entre invenção e inovação. Embora a separação não seja rigorosa, a invenção se refere à geração de ideias e sua evolução pode gerar uma patente ou não. A inovação, por outro lado, envolve o trabalho com as ideias no sentido de dar a ele importância econômica. Inovar é um processo de produzir bens ou materiais que combinados com tecnologia e conhecimento otimizam o processo produtivo e as formas de produção.

No agronegócio, inovações são extremamente necessárias para o aumento da produtividade e qualidade, com eficiência e redução de custos. Os ganhos obtidos com o incremento desses fatores vão desde descobertas acidentais e ajustadas à realidade até a agregação de técnicas que permitam manter o estado de São Paulo na fronteira do combate às pragas e doenças.

A incorporação da informática tem oferecido instrumentos para melhorar a gestão e o controle de doenças, como a podridão floral e greening (HLB). Nos laboratórios, o uso da engenharia molecular mudou a capacidade de buscar inovação no melhoramento genético. Nossos pesquisadores têm plena consciência de nossa missão focada em inovação, de forma que resultem em melhor custo-benefício.

O Fundecitrus buscou e continua buscando soluções eficientes e sustentáveis para os problemas fitossanitários da citricultura, tem incorporado em seus conceitos a viabilidade econômica das inovações, e zelado para que a modernidade chegue aos pomares com possibilidade de aplicação. É por isso que a instituição orienta os produtores a adotarem boas práticas de manejo dos pomares, seguindo as normas e leis brasileiras.

Temos tido a satisfação de contar com a compreensão dos citricultores que se mantém envolvidos em todo o processo de fortalecimento da inteligência competitiva de nossa citricultura.

Page 3: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

3 REVISTA CITRICULTOR

Confi ança que se comprova a cada safra. Esse você conhece.

Envidor é o acaricida que oferece proteção prolongada com apenas uma aplicação por ano.

Especialmente desenvolvido para a citricultura, esse produto Bayer CropScience age de uma forma diferente dos demais acaricidas, proporcionando maior economia e melhor custo-benefício.

Com Envidor, os ácaros são uma preocupação a menos. Aplique uma única vez e fi que tranquilo a safra toda.

Envidor. Proteção prolongada contra os ácaros.

Leia atentamente e siga rigorosamenteas instruções contidas no rótulo, na bula e receita.

Utilize sempre os equipamentos de proteçãoindividual. Nunca permita a utilização do produto

por menores de idade.

ATENÇÃO

AF-An_205x265_Envidor.indd 1 09/10/14 14:06

Page 4: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

4 REVISTA CITRICULTOR4 REVISTA CITRICULTOR

REESTIMATIVA

A safra de laranja 2015/16 do par-que citrícola – composto por 323 municípios paulistas e 26 minei-

ros – após os três primeiros meses de colheita, se mantém dentro do estimado pelo Fundecitrus, em maio, e permane-ce em 278,99 milhões de caixas de 40,8 kg, de acordo com a primeira reestima-tiva, divulgada em 10 de setembro.

Segundo o gerente geral do Funde-citrus Antonio Juliano Ayres, esse re-sultado confirma a metodologia adota-da para a estimativa e dá segurança ao planejamento do setor citrícola. “Saber como está o andamento da produção possibilita que todos os elos da cadeia se programem e saibam qual rumo dar ao seu negócio”, afirma.

A reestimativa é feita por meio do acompanhamento mensal dos po-mares (veja infográfico abaixo) que mostrou que cerca de 56 milhões de

ACOMPANHAMENTO MOSTRA SAFRA DENTRO DO ESTIMADONovecentos talhões são monitorados mensalmente

Acompanhamento no campo mostra evolução da safraDE OLHO NO FRUTO

São avaliadas 11 árvores de 900 talhões estratificados por idade,

variedade e região, a cada 30 dias.

PESAGEM

No mesmo talhão, os técnicos vistoriam oito árvores para avaliar o tamanho dos frutos. Para isso colhem um fruto por

florada, em cada quadrante e no centro da planta, que depois são pesados.

AVALIAÇÃO1 CONTAGEM

Para apurar a queda, os técnicos checam três árvores de cada

talhão para retirar os frutos caídos em uma coroa, feita previamente, contá-los e separá-los por florada.

2

31º

Árvore derriçada na estimativa de safra

Árvore de monitoramento

Fruto

Floradas

A primeira estimativa da safra 2015/16 da Flórida divulgada pelo Departamento de

Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), em outubro, aponta que a produção de laranja deve ser de 80 milhões de caixas, o que representa uma queda de 17% em relação à safra passada. Essa é a menor produção desde 1963/64.

De acordo com o pesquisador do Fundecitrus Renato Beozzo Bassanezi, a disseminação do greening (huanglongbing/HLB) em larga escala pelos pomares do estado norte-americano é a principal responsável pela queda na produção. “A safra da Flórida vem caindo desde 2012, resultado da alta incidência de greening, que já atinge mais de 70% das árvores do estado e reduz severamente a produtividade das plantas doentes”, diz.

SAFRA DA FLÓRIDA EM QUEDA Estimativa aponta redução de

17% da produçãocaixas de variedades precoces foram colhidas entre junho e agosto, o que representa 75% do previsto para estas varie-dades e mais de 20% do total da safra.

O monitoramento mostrou que os frutos das variedades precoces estão maiores do que a média histórica. Entre os fatores que contribuíram para o aumento estão o inver-no mais chuvoso e o menor número de frutos por árvores.

Mais duas reestimativas serão divulgadas – em de-zembro e fevereiro – até o fechamento da safra. Os do-cumentos completos estão disponíveis no site do Fun-decitrus (http://www.fundeci-trus.com.br/pes/estimativa).

Page 5: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

5 REVISTA CITRICULTOR 5 REVISTA CITRICULTOR

Aplique somente as doses recomendadas. Descarte corretamente as embalagens e restos de produtos. Incluir outros métodos de controle dentro do programa do Manejo Integrado de Pragas (MIP) quando disponíveis e apropriados. Uso exclusivamente agrícola. Restrições no Estado do Paraná para Elsinoe australis na cultura do citros. Registro MAPA nº 08801.

Com os benefícios AgCelence®,vai ser difícil sua qualidade cair.

• Alta eficiência no controle da Pinta-preta e Verrugose.• Maior pegamento de frutos.• Maior período de frutos retidos no pé.

Comet®, o fungicida da BASF para o seu pomar.

0800 0192 500 facebook.com/BASF.AgroBrasilwww.agro.basf.com.br

Page 6: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

6 REVISTA CITRICULTOR

POR TELEFONE

A partir de 2016, o citricultor po-derá ser avisado por mensagem de e-mail ou celular sobre o

momento correto de pulverizar para a prevenção da podridão floral, doença causada por fungos também conheci-da como “estrelinha”. O Fundecitrus, em parceria com a Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’ (Esalq/USP), a Universidade da Flórida e o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Na-cional de Pesquisas Espaciais (CP-TEC-INPE) está desenvolvendo um sistema de previsão online de epide-mias de podridão floral (PFC) de fácil acesso e utilização pelo citricultor do estado de São Paulo.

Quando as condições climáticas são favoráveis à doença, a ausência de controle da podridão floral pode acar-retar perdas de até 80% na produção. “O programa informa dados de tem-peratura, molhamento, germinação de esporos do fungo e o risco imediato ou futuro (até três dias) da ocorrência da doença. Com isso permite que o citri-cultor possa planejar as aplicações de fungicida para a proteção do pomar no momento correto e elimina a possibi-lidade de pulverizações desnecessárias, evitando prejuízos econômicos, pelos gastos com os produtos e sua aplicação, e ambientais, pela dispersão de defensi-vos no ambiente”, explica a professora da Esalq/USP Lilian Amorim.

Nas décadas de 1990 e 2000 um sistema de previsão nomeado de PFD-FAD, foi desenvolvido pela

SISTEMA DE PREVISÃO DE PODRIDÃO FLORAL ALERTA CITRICULTORAinda em fase de testes, plataforma online pode reduzir aplicações em até 75%

equipe do pesquisador Pete Timmer, da Flórida, e adaptado para as con-dições do Brasil pela pesquisadora Natália Peres. Entretanto, devido ao grande número de informações ne-cessárias para sua utilização e por emitir apenas avisos de risco para o momento, demandando o con-trole químico imediato, ele nunca foi utilizado em larga escala por produtores no Brasil. O sistema americano dependia de fatores como o estágio predominante da florada, a quantidade de ár-vores com outras doenças, a quantidade de flores com sin-tomas de PFC e o histórico da incidência da doença na área. Já o modelo atual se baseia apenas na temperatura e mo-lhamento. Para que isso fosse possível, foram testadas em laboratório 56 combinações de temperatura e molhamento para avaliar a germinação de esporos do fungo causador da doença em cada uma. Dez delas foram vali-dadas por meio de inoculação de flores em casa de vegetação. Foram cinco anos de pesquisas até o siste-ma começar a ser testado no campo, em 2014, em fazendas localizadas nos municípios de Santa Cruz do Rio Pardo, Iaras e Taquarituba, todos da região Sudoeste do estado, onde a doença historicamente é importante e causa severos prejuízos.

Os pesquisadores avaliaram a condição da doença no campo após

ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS

Dados de te

mpo

Page 7: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

7 REVISTA CITRICULTOR

as pulverizações indicadas pelo sistema. Os ensaios foram realizados em pomares adultos de laranja doce com histórico de ocorrência de podridão floral. As pulverizações foram realizadas quando o sistema previa germinação do fungo de 15, 20 e 25%. Os re-sultados mostraram que quando há condição acima de 20% deve ser emitido o alerta.

Avisos também são emitidos com 15%, indi-cando ao citricultor que existe um risco mode-rado e, dessa forma, ele tomará a decisão de pulverizar ou não os pomares mais críticos da fazenda. Ao receber a mensagem, o produtor deve entrar no sistema e informar o estágio de florescimento para ser orientado sobre a necessidade ou não de pulverizar.

“As pulverizações devem ser sempre realizadas de forma preventiva, antes do início das chuvas, em função da previsão que é gerada para os três dias. Entretanto, se o produtor pulverizar e, as condições climáticas após a aplicação permanecerem favoráveis à doença, acima de 50% de ger-minação de fungo, o sistema irá indicar a

reaplicação do produto antes do intervalo recomendado, que é de sete dias”, explica o

pesquisador do Fundecitrus Geraldo José da Silva Junior.

Os testes de campo mostraram que é possí-vel reduzir o número de pulverizações em mais

de 75%. Nas condições climáticas de 2014, foram feitas duas pulverizações indicadas pelo programa contra cinco feitas pelo manejo usual das fazendas. Ao final, o controle da doença foi semelhante. Nas condições de 2015, a redução foi ainda maior: uma pulverização feita via alerta do sistema contra qua-tro preventivas realizadas pelas fazendas, em mé-dia o que pode representar uma economia em torno de R$ 240 por hectare ao ano, evitando-se pulveri-zações desnecessárias.

AJUDE A MELHORAR O SISTEMA

O citricultor que quiser participar da fase final de testes do programa pode entrar em contato com o Fundecitrus. O sistema permitirá ao citricultor o cadastramento de novas estações meteorológicas instaladas em fazendas de citros. Em geral, os dados podem ser expandidos para um raio de pomares aproximado de cinco km em torno da estação. Os produtores interessados devem entrar em contato pelo e-mail [email protected].

DE PREVISÃO PF

SMS

E-mail

CPTEC-INPEMODELO DE PREVISÃO

DO TEMPO ETA

SERVIDOR DO SISTEMA DE PREVISÃO PFC

SERVIDOR WEB DO SISTEMA PFC

USUÁRIOS

Previsão do tempo

Page 8: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

8 REVISTA CITRICULTOR

MANEJO REGIONAL

AÇÃO DO LADO DE FORA

Olhar além dos horizontes do pomar tornou-se fundamental para os produtores de citros que

querem manter o greening (huan-glongbing/HLB) sobre controle. Ci-tricultores de todas as regiões do es-tado de São Paulo perceberam que a influência das propriedades vizinhas é tão ou mais importante do que o manejo realizado no pomar para con-trolar o psilídeo, inseto que transmite a doença, e passaram a olhar e agir com atenção ao entorno. As inicia-tivas particulares dos entrevistados desta matéria somam a eliminação de

mais de 200 mil plantas ou brotos de citros

em pomares do-mésticos, matas,

meio de canaviais ou pomares abando-nados. Estes locais foram encontrados com ajuda de fotos de satélite e visitas de porta em porta. Também pulveri-zaram mais de 500 hectares de citros que não tinham o controle adequado, promovendo a eliminação de milhares de criadouros de psilídeo. Estas ações, associadas ao manejo dos pomares, vem ajudando, aos poucos, para que a luta contra o HLB fique menos árdua.

Idealizador do manejo externo nos vizinhos, o Fundecitrus está sempre bus-cando formas de torná-lo mais eficiente e, em outubro, colocou no ar, o novo siste-ma de Alerta Fitossanitário-Psilídeo, que auxilia na descoberta de áreas críticas com alta incidência do inseto. Em uma de suas funcionalidades é possível veri-

ficar a população do inseto em raios de 2, 4, 6, 8 e 10 quilô-metros a partir das propriedades cadas-tradas (saiba mais em www.fundeci-trus.com.br/alerta-fitossanitário).

O Alerta disponibiliza informa-ções que são o ponto de partida para os citricultores atuarem no manejo externo.

Foi o que fez a fazenda Guacho, do grupo Agroterenas, em Santa Cruz do Rio Pardo/SP. “Observa-mos que a maior quantidade de psilídeo encontrada era nas borda-duras. Paralelamente, pesquisas do Fundecitrus mostraram que não era suficiente fazer só o controle inter-no, então estabelecemos um esfor-ço adicional de eliminar as fontes externas da praga”, conta o supervi-sor da área agrícola Márcio Soares.

A fazenda passou a dar atenção es-pecial aos vizinhos com pomares do-mésticos de citros, que tinham poucas plantas, geralmente sem tratamento, em sítios e chácaras. Procurou conhe-cê-los e um levantamento mostrou que praticamente 100% destas árvores tinham sintomas de HLB.

Em 2013, foi feito o primeiro con-tato para explicar o problema e a im-portância de eliminação das plantas doentes, mas a ação não teve aceita-

O vizinho Fernando da Fonseca (dir.), recebe do

administrador da fazenda da Citrosuco, Vanilso de Lima, (esq.) muda frutífera para

substituir plantas com HLB

Foto

s: F

abia

na A

ssis

Fundecitrus incentiva e citricultores investem em parceria com vizinhos para controlar o greening

Sistema de Alerta

Fitossanitário

Page 9: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

9 REVISTA CITRICULTOR

ção imediata. Em 2014, a segunda ten-tativa de negociação propôs a soltura de Tamarixia radiata, que foi mais bem aceita pelos vizinhos.

O terceiro passo foi pedir para co-locar armadilhas para o monitoramento do psilídeo. “Essa foi a melhor ação, porque o contato constante provocado pela inspeção criou uma proximidade entre os funcionários da fazenda e os vizinhos, que foram entendendo o pro-blema”, conta Soares.

Em 2015, a empresa propôs o ar-ranquio das plantas doentes e a substi-tuição por mudas de outras frutíferas.

Dessa forma, o trabalho começou a dar frutos e, de vizinhos totalmen-te contras, alguns agora procuram a empresa para fazer a troca de suas plantas de citros. “Na medida do pos-sível deixamos que eles escolham as variedades e vamos atrás para tentar conseguir. Já distribuímos macadâ-mia, jabuticaba, goiaba, acerola e até algumas que não conhecíamos, como a grumixama”, conta Soares.

De março a agosto, 415 plantas de citros e 18 de murta foram arrancadas em 24 propriedades. Até o colégio agrí-cola de Espirito Santo do Turvo entrou na iniciativa e arrancou 40 pés de citros que havia no local, mas o engenheiro agrônomo não se dá por satisfeito. “É preciso manter a conscientização desse pessoal. É um trabalho contínuo, esses locais devem ser sempre visitados. E precisa ser completo, se ficar três ou quatro propriedades sem fazer, o resul-tado pode ser comprometido”.

Soares diz ainda que a participação do Fundecitrus na linha de frente foi im-portante, principalmente, no início dos contatos. “Não é a propriedade falando, são técnicos que trabalham com isso mostrando a importância de arrancar. É um trabalho de persistência, paciência e tolerância, de conquista aos poucos”.

NA BASE DA TROCA

“Que tal trocar aquela laranjeira ou pé de limão doente por um pé de acerola, ameixa, manga, jabuticaba ou pitanga?”. É assim que a Citro-

suco de Itapetininga/SP está conse-guindo convencer boa parte dos vi-zinhos a tirar suas plantas de citros contaminadas com HLB.

As ações começaram quando os esforços aplicados contra a doença dentro da propriedade já não davam o resultado esperado. A fazenda que tinha um acumulado de quatro mil plantas arrancadas com HLB em cin-co anos, ou seja, média de 800 por ano, arrancou esse mesmo número em apenas um mês de 2014.

A engenheira agrônoma Aline Be-raldo Monteiro conta que foram usadas imagens de satélite para identificar to-das as propriedades da região. De outra forma ficaria difícil pela extensão da propriedade que tem 160 quilômetros de perímetro e é rodeada por condomí-nio de chácaras e distritos urbanos.

O trabalho começou porta a porta em um raio de três quilômetros, dando prioridade aos locais que são possíveis fontes de psilídeo, escolhidos com base nos pontos de ocorrência de HLB na propriedade. A fazenda contratou um funcionário responsável por fazer os contatos e conseguir a retirada das árvo-res doentes, por meio de barganha por mudas de outras frutíferas. A troca é do-cumentada e o vizinho assina um termo de solicitação de erradicação e outro de recebimento das mudas.

Além disso, a empresa investiu na

criação de Tamarixia radiata. Desde outubro de 2014, 680 mil insetos fo-ram liberados nas regiões de Itapeti-ninga e Botucatu.

O primeiro local escolhido para as visitas a vizinhos foi o bairro urbano Reinchã, que fica bem ao lado da pro-priedade, no setor onde, na época, eram encontrados 70% dos psilídeos. Entre outubro de 2014 e março de 2015, fo-ram trocadas 453 mudas e ainda soltas 200 mil vespinhas no local. Hoje a re-gião representa apenas 10% dos psilí-deos capturados nas armadilhas.

Em seguida, partiram para o contato com os chacareiros do condomínio Ita Recreio que tem mais de 500 proprie-dades, quase todas com citros.

O policial aposentado Fernando Ga-briel da Fonseca foi o primeiro a ter as plantas trocadas – 48 no total. “Com-prei a propriedade há dois anos e tinha laranja, ponkan, limão siciliano, mas não produziam. Quando tinha alguma fruta não chegava a amadurecer, nunca tinha o prazer de um fruto”, conta.

Hoje, no lugar de laranjeiras e li-moeiros doentes há mudas de graviola, jaca, cacau, cereja, manga e ameixa. “Eu tenho as árvores por causa dos pás-saros, mas eles já nem vinham mais. Agora haverá bastante opção de frutas para os passarinhos”.

A aposentada Alba Daniel ficou as-sustada ao saber que seus 44 pés de ci-

Felipe Michigami (dir.) e o vizinho Antonio do Patrocínio (esq.),

aliados no combate ao greening, avaliam

planta doente

Page 10: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

10 REVISTA CITRICULTOR

MANEJO REGIONAL

tros que estavam há mais de duas déca-das com ela, poderia comprometer toda a citricultura da região. “Eu achava que a Citrosuco causava a mosca das frutas que atacava meu pomar, quando eram meus pés de citros que podiam estar causando mal”, afirma.

Até o fechamento desta edição, a equipe da Citrosuco já tinha eliminado 1.517 plantas de pomares vizinhos.

“Nem sempre conseguimos conven-cer a todos, mas o importante é diminuir as fontes de psilídeo. Cada planta elimi-nada é um ganho. Nossa meta é reduzir a quantidade de plantas a serem replan-tadas no pomar, que é o dobro do custo de uma muda”, afirma Aline.

Há cerca de um ano, a estimativa era que houvesse quatro mil plantas para serem arrancadas. Até agora foram eliminadas 50 mil. A causa de tamanha diferença foi totalmente inesperada: foram encontradas muitas árvores de citros com HLB dentro da própria fa-zenda, em áreas de matas nativas.

“Tínhamos tanta certeza de que o problema eram os vizinhos que nos es-quecemos de olhar para dentro”, afirma o gerente agrícola, Eduardo Lopes.

“Encontramos desde mudas novas até plantas altas. Devem ter se origi-nado de sementes e frutos levados por animais. Encontramos murta no meio da mata, brotos de limão no meio do canavial”, conta Aline.

A descoberta serviu de lição para a empresa. Com um grande trabalho

de engajamento, a Citrosuco envol-veu todos os funcionários, que ficaram atentos e responsáveis por comunicar qualquer planta doente encontrada.

“Sempre se vê o resultado logo em seguida. É notável que onde é feito o trabalho interno e externo de erradi-cação, o problema também é elimina-do”, afirma Aline.

EQUIPE EXCLUSIVA

Assim como a Citrosuco, a Terral mantém uma equipe focada no trabalho externo à propriedade e segue o que está se tornando a cartilha do trabalho com os vizinhos: negociação para retirada de plantas doentes em troca de mudas frutíferas – só este ano foram trocadas 700 mudas – e solturas da vespinha Ta-marixia radiata .

Com pomares novos, os mais sus-cetíveis ao HLB, a empresa é bem mais rígida, e mantém há quatro anos um trabalho de monitoramento de vi-zinhos, na região de Matão, com uma equipe exclusiva para o mapeamento e monitoramento de pomares comerciais e domésticos em um raio de oito quilô-metros das propriedades.

O mesmo trabalho é feito na região de Barretos, mas com soltura de Tama-rixia radiata também na área urbana onde há muita presença de murtas. O esforço tem obtido sucesso e a doença não ultrapassa 1% nas propriedades.

“A Terral é fiel aos conceitos do ma-

nejo regional, e também tem se associa-do a outras fazendas e empresas para cuidar das regiões onde está presente. Seja para arrancar um pomar abando-nado ou para dividir os custos de pul-verização”, diz o engenheiro agrônomo da Terral, Leandro Viscardi Cuzim. Um grande exemplo foi um consórcio de várias empresas, a pedido do Fundeci-trus, para a retirada de mais de 50 mil brotos de limão na área da Embraer, em Gavião Peixoto/SP. Trabalho que du-rou dois meses e trouxe benefícios para toda a região.

AÇÃO MULTIPLICADA

O grupo Faro Capital foi um dos primeiros a aderir ao manejo externo e em 2013, iniciou o trabalho com os vizinhos da fazenda São Sebastião, em Pedregulho/SP. A experiência foi relata-da em matéria da revista Citricultor, nº 25, de ago/14. Desde então, o trabalho foi ampliado para a fazenda Descalva-do, em Anhembi/SP, em 2014, e para a fazenda Cambuy, em Altinópolis/SP, neste ano.

Como em Pedregulho, nestas uni-dades a busca começou com a ajuda de mapas do Google Earth associado às capturas das armadilhas das fazendas para apurar os locais de entrada da pra-ga. De acordo com o supervisor de pro-cessos agrícolas do grupo Faro Capital, Felipe Michigami, essa é a melhor for-ma de verificar a existência de vizinhos. “O histórico da doença mostra que onde tinha mais vizinhos é onde tem mais plantas erradicadas”, afirma.

Em Pedregulho, já há áreas que fo-ram totalmente saneadas. Atualmente são monitoradas 34 propriedades com, no mínimo 10 e no máximo 150 plan-tas, somando 715 plantas que recebem pulverização. Além disso, 897 plantas foram eliminadas.

Na fazenda Descalvado, em Anhem-bi, a situação é diferente. Há muitos pomares comerciais, na região que tem um dos maiores índices de áreas aban-donadas do estado, demandando mais pulverização e força maior de inspeção. Atualmente, a Faro realiza pulveriza-

Ivan Brandimarte, gerente agrícola da Cambuhy,faz apresentação em evento de manejo regional na propriedade

Page 11: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

11 REVISTA CITRICULTOR 11

ções mensais em 533 plantas domés-ticas em três pomares comerciais e monitora 40 armadilhas instaladas fora do pomar. Em pouco mais de um ano, erradicou 25.661 plantas, das quais 20 mil são de pomares abandonados cujo trabalho foi feito em parceria com ou-tros citricultores.

O custo estimado do trabalho com vizinhos na propriedade é de R$ 8,50 por hectare, mais barato que o manejo interno da fazenda. A maior dificul-dade na região está sendo identificar todos os vizinhos. Embora a empresa costume atuar em um raio de cinco quilômetros, há casos que é preciso andar 30 quilômetros para chegar às propriedades. Depois de localizá-las há o trabalho de conscientização.

Já a Cambuy, em Altinópolis, que tem 92 mil plantas de seis anos, rece-beu o manejo externo por uma deci-são estratégica. “É uma fase decisiva, na qual as árvores estão atingindo o auge da fase produtiva, não podemos perder planta”, diz.

Como a região não tem pomares comerciais próximos, o engenheiro agrônomo acreditava na influência da cidade, distante dez quilômetros em li-nha reta e chegou a fazer liberação de Tamarixia radiata. Mas ao pesquisar a

manejo regional de HLB. Esse esforço se fez necessário para a

propriedade que tem mais de 80 quilô-metros de borda e já teve 160 vizinhos. “O trabalho foi iniciado em 2010 e hoje temos menos vizinhos, mas não pode-mos parar”, afirma a engenheira agrô-noma Renata Lanza, responsável pela área de fitossanidade e por supervisio-nar o trabalho.

Muitos vizinhos substituíram a ci-tricultura pela cana, mas o que parecia ter solucionado um problema, criou outro: brotos de limão, resultados da extração mal feita dos porta-enxertos surgiram no meio do canavial plantado sobre ex-pomares, tornando-se milha-res de criadouros de psilídeos. Esses locais passaram a fazer parte da lista que demanda atenção, assim como a beira de matas nativas, de onde fun-cionários da Cambuhy já arrancaram dois mil pés de citros.

Todo trabalho é feito em cima do Alerta Fitossanitário do Fundecitrus, pois o sistema mostra áreas onde a po-pulação do psilídeo é mais alta, econo-mizando tempo e direcionando ações.

Os efeitos dos cuidados externos, associados ao manejo interno são vi-síveis. A fazenda, que chegou a re-gistrar 3,51% de greening na safra 2010/11, deve terminar a safra atual próximo de 1%, o mesmo índice re-gistrado em 2008/09. Além disso, di-minuiu a quantidade de perda de ár-vores erradicadas e tem a segurança de que pode renovar qualquer parte do pomar sem perder o novo plantio para o HLB. Tudo isso com um cus-to-benefício vantajoso para proprie-dade. Para cada R$ 1 utilizado no tra-balho externo com vizinho, estima-se que foi evitado o gasto de R$ 69,78 em pulverizações, monitoramento e perda de árvores dentro da fazenda.

“Estamos convencidos de que se todo mundo fizer, a gente consegue segurar o greening. A atuação nos vi-zinhos é benéfica não apenas para a fa-zenda, mas para toda a região que fica saneada, com menos criadouros de psilídeos”, afirma o gerente agrícola da Cambuhy, Ivan Brandimarte.

Funcionário da Faro Capital pulveriza

árvores de citros em áreas ao redor da

propriedade

região descobriu muitas propriedades próximas do pomar com quase todas as plantas de citros com HLB.

Até o fechamento dessa reporta-gem, foram mapeados 35 vizinhos em um raio de cinco quilômetros, com 816 plantas cítricas, todas com HLB e psi-lídeo. Em todas elas, a abordagem foi diferente de Pedregulho, onde foi pro-posta a eliminação das plantas. Em Alti-nópolis, houve oferecimento para fazer pulverizações mensais em quintais e até em pastos onde há a presença de pés de limão. Há ainda dez propriedades nas quais as pulverizações são feitas tam-bém em murta. “Essa ação tem uma aceitação melhor do que arrancar as plantas”, explica Michigami.

É essa a impressão do administrador Antonio Carlos do Patrocínio. “A gente estava perdendo muitas plantas, replan-tava e ficava doente de novo. Com o pessoal vindo pulverizar temos certeza de que está sendo feito o certo”, afirma. Na propriedade que ele toma conta há cerca de 150 plantas de citros, quase to-das com HLB.

O trabalho de conscientização é fun-damental. “Na abordagem a gente deixa claro que o melhor é arrancar, explica a doença e a gravidade. Entregamos o material do Fundecitrus para mostrar que o trabalho é importante”, afirma.

A Faro criou uma metodologia de trabalho e um boletim para criar o histó-rico de controle. Embora não haja uma equipe exclusiva, há um líder em cada fazenda responsável pelas informações. De acordo com Michigami, para cada R$ 1 gasto com o manejo externo, as fa-zendas deixam de perder R$ 8. O traba-lho todo representa apenas 5% do que a empresa gasta com o manejo do HLB.

HLB SOB CONTROLE

A fazenda Cambuhy, em Matão/SP, soma mais de 25 mil árvores arrancadas de vizinhos, apenas nesta safra, em raio de cinco km ao seu redor. Além disso, pulveriza 200 hectares de citros todos os meses, faz reuniões anuais para mos-trar o que tem feito e chama os donos de propriedade vizinhas para participar do

Page 12: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

12 REVISTA CITRICULTOR

CAMPEÃ

É A CAPITAL DA LARANJAMunicípio é o maior produtor de citros do parque citrícola tanto em área quanto em número de árvores

O título de capital da laranja que já foi de Li-meira, Bebedouro, Araraquara e Itápolis atualmente é de Mogi Guaçu/SP. Segundo o

censo da citricultura realizado pelo Fundecitrus, o município é o maior produtor de citros do parque citrícola, tanto em área quanto em número de árvo-res plantadas.

São 15.763 mil hectares de citros, somando 7,06 milhões de árvores, divididas em 207 propriedades. Se tomar por base somente as principais laranjas produzidas no parque citrícola, a área é de 13.672 hectares, com 6,2 milhões de árvores, distribuídas em 178 propriedades. O segundo município em área plantada de laranja é Casa Branca, seguido de Botucatu (veja quadro ao lado).

Os dois municípios com as maiores áreas de citros - Mogi Guaçu e Casa Branca – estão loca-lizados no Sul do estado de São Paulo, a tercei-ra região com maior produção, de acordo com o censo do Fundecitrus, com 100.717 hectares plantados, o que representa 21% da área total do parque citrícola.

O prefeito de Mogi Guaçu, Walter Caveanha, se mostrou surpreso com a importância do muni-cípio no mapa da laranja. “Já chegamos a produ-zir 35 milhões de caixas de laranja por ano, hoje produzimos em torno de 13 milhões, mesmo com essa redução somos o nº 1, é de se surpreender”, afirma Caveanha.

Segundo o prefeito, a laranja é o principal pro-duto agrícola de Mogi Guaçu, mas representa ape-nas 2,13% do valor agregado do município, que tem perfil industrial na área de papel e celulose, amido e autopeças.

A zona rural de Mogi Guaçu tem 840 km2 e 1,2

Prefeito, Walter Caveanha diz que laranja é principal

produto agrícola, mas representa apenas 2,13%

do valor agregado de Mogi Guaçu

12 REVISTA CITRICULTOR

Page 13: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

13 REVISTA CITRICULTOR

mil propriedades, das quais 800 são de pequeno porte. A citricultura está insta-lada em grandes propriedades. Com a diminuição da área da laranja, o setor de hortifrutigranjeiros ganhou força em áreas menores.

A citricultura começou sua expansão no município na década de 1960, com a instalação da fazenda Sete Lagoas, que chegou a ter a maior produtividade por pé da América Latina, de acordo com Caveanha, e atraiu outros produtores para a região interessados na fertilidade do solo.

Nesta mesma década, a família de Wivaldo Ricardo Ivers, de 79 anos, ter-ceira geração de citricultores, resolveu ampliar seus horizontes para além de Limeira, onde a família produzia laran-ja desde 1908, e encontrou terra boa e barata em Mogi Guaçu. “Estávamos procurando um terreno em Engenhei-ro Coelho, um corretor ficou sabendo e falou que dava para comprar o triplo de terra em Mogi Guaçu. Então fomos ver e compramos, mas era tudo campo, começamos do nada”, conta.

Em 1968, Wivaldo criou a fazen-da Margarito, da qual não saiu mais. Atualmente, ele e seu filho Vladimir

Ricardo Ivers, de 51 anos, tocam os 200 hectares de citros – o dobro de quando a fazenda foi iniciada. A área é toda formada por laranja e tangeri-na que são vendidas para a indústria e para o mercado de fruta in natura.

Os dois lutam contra o greennig (HLB), o preço e os problemas de mão de obra para permanecerem na citri-cultura. Sustentam um rígido controle

A família de Wivaldo (esq.) e Vladimir (dir.)

produz citros em Mogi Guaçu há quase 50 anos

de HLB, com a erradicação de plantas doentes e pulverizações para psilídeo, que tem mantido a doença em níveis de 0,5% na propriedade. Tiveram que se adaptar às novas exigências trabalhistas e às mudanças na comercialização, mas mesmo com as dificuldades eles não de-sanimam da citricultura e mantêm a fa-zenda produtiva. “Corre suco de laranja na veia”, justifica Vladimir.

CUSTOS

OS CAMPEÕESOs cinco municípios com maiores áreas plantadas de laranja

MunicípioMogi GuaçuCasa BrancaBotucatuBrotasBarretos

Hectares 13.672 11.275 10.952 9.980 9.924

MacrorregiãoSulSulSudoesteCentroNorte

Page 14: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

14 REVISTA CITRICULTOR

HOMENAGEM

O presidente do Fundecitrus, Lou-rival Carmo Monaco, recebeu o prêmio “Heróis da Revolução

Verde” como reconhecimento da tra-jetória profissional marcada por ações de incentivo a uma agricultura mais sustentável e pelo apoio ao desenvolvi-mento tecnológico do setor.

A entrega do prêmio foi realizada no VII Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos para o Futuro Sustentável, em 13 de outubro, em sessão especial no Senado Federal, em Brasília/DF. Essa foi a quarta edição da homenagem anual a dez personalidades que cola-boraram com a transformação da agri-cultura brasileira, por meio da ciência, novas tecnologias e ideias inovadoras.

“Esse prêmio é o reconhecimento de um trabalho construído com o apoio de muitas pessoas e reflete um pouco da minha personalidade”, afirma Monaco.

A premiação é uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em parceria com a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e a

Reconhecimento por história de apoio à sustentabilidade na agricultura

Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa). “Os homenageados são escolhidos em consenso entre as qua-tro instituições. São pessoas que con-tribuíram com o salto tecnológico do setor agropecuário nos últimos anos”, afirma Eduardo Daher, diretor execu-tivo da Andef.

Desde 2008 na presidência do Fun-decitrus, Lourival Carmo Monaco, tem sido grande incentivador do desenvol-vimento de pesquisas que promovem a sustentabilidade na citricultura, como o controle biológico de pragas, a redução do uso de produtos químicos, a econo-mia de água, a busca por bioinseticidas e a incorporação de ino-vações tecnológicas de forma que protejam o meio ambiente e tragam avanços em sanidade, produtividade e qualida-de para o setor citrícola. Citricultor, engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricul-tura ‘Luiz de Queiroz’ (Esalq/USP), mestre e

doutor pela Universidade da Califórnia. Ao longo de sua história profissional, Monaco atuou em diferentes setores da agropecuária sempre levantando a bandeira da necessidade de inovação, a importância da formação de equipes e do trabalho conjunto.

Para Monaco, a agricultura mais sus-tentável, tema central dos debates da sé-tima edição do fórum, faz parte da evo-lução do setor e deve ser tratada como prioridade. “É necessário antecipar o aprimoramento dos processos para que respeitem os recursos naturais, é preci-so estar à frente do tempo e ter o espírito inovador da sustentabilidade”, conclui.

Senadora Ana Amélia e Alan Bojanic,

representante da FAO, entregam

prêmio para Monaco

Foto

: Jaq

uelin

e Ri

bas

Page 15: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

15 REVISTA CITRICULTOR

Citriccultor

CitrltoricuCitricultor

15 REVISTA CITRICULTOR

Pragas e Doenças O décimo e último capítulo da seção aborda a mosca das frutas, praga que reduz a produção da planta, provoca a queda de frutos e os deixam impróprios para consumo.

NÃO DEIXE A MOSCA DAS FRUTAS POUSAR NO POMAR

Praga provoca queda de frutos, apodrecimento da polpa e inviabiliza o consumo

As moscas das frutas Anastrepha-fraterculus e Ceratitis capitata afetam diretamente as laranjas

e tangerinas devido à perfuração feita pela fêmea na casca ao colocar seus ovos, e ao desenvolvimento das larvas dentro do fruto, consumindo a polpa e provocando o apodrecimento interno do fruto, o que inviabiliza o consumo.

A incidência de mosca das frutas também provoca queda de frutos e a consequente redução da produção da planta. Segundo o pesquisador do Ins-tituto Biológico de Campinas Adalton Raga, ataques severos chegam a provo-car perda de até duas caixas de frutos por planta infestada.

Estes insetos podem viver no pomar por 25 a 35 dias no caso de A. frater-culus e, de 18 a 30 dias, se for C.ca-

pitata (em locais com baixas tempera-turas, o ciclo de vida é prolongado) e atacam principalmente as variedades Pera, Hamlin, Valência, Bahia, Natal, Ponkan e Murcott.

No Brasil, a praga causa prejuízo de cerca de US$ 120 milhões ao ano, entre perdas de produção, custos de contro-le, processamento e comercialização de diversos tipos de frutas, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

SINTOMAS

De acordo com Raga, os produto-res conseguem identificar um fruto atacado por mosca das frutas pela mudança de cor ao redor da perfu-ração, que fica marrom. Além disso,

É possível identificar o orifício pelo qual a larva do inseto sai de

dentro do fruto

Inseto se desenvolve dentro do fruto e provoca

apodrecimento da polpa

Foto

: Ada

lton

Raga

Foto

: Arq

uivo

Fun

deci

trus

Page 16: VISÃO REGIONAL · REVISTA CITRICULTOR 1 ANO VII I Nº 32 I OUTUBRO DE 2015 I  VISÃO REGIONAL Citricultores incorporam manejo externo como estratégia essencial

16 REVISTA CITRICULTOR

é possível ver o orifício por onde a larva sai de dentro do fruto.

É comum que os citricultores con-fundam as lesões provocadas pela mosca das frutas com as de bicho fu-rão. A principal diferença entre elas é que, após penetrar no fruto, o bicho furão libera excrementos e restos de alimentos para a parte externa, que endurecem na casca. Já o local ataca-do pela mosca fica mole e apodrecido (veja fotos acima).

MONITORE

O monitoramento da mosca das frutas é realizado por meio de armadi-lhas (veja fotos ao lado) que possibili-tam avaliação do nível da infestação no pomar, observação de populações invasoras e identificação dos locais de entrada da praga na propriedade.

O tipo de armadilha mais utilizado é o frasco McPhail, feito de plástico ou vidro, para captura de machos e fê-meas. Dentro é colocado um atraente a base de proteína hidrolisada a 5%. De-vem ser presas em ramos de 1,60 a 1,80 metro de altura e instaladas a cada 50 metros uma da outra, contornando toda

a área e também no interior do pomar. Outro modelo de armadilha é a

Jackson, de formato delta, dotado de base com cartão adesivo, mas diferen-te em relação ao atrativo. Neste caso, é utilizado o feromônio sexual trimedlu-re, específico para captura de machos de C. capitata.

CONTROLE

O controle químico da mosca das frutas é realizado com a aplicação de inseticidas em cobertura total ou em iscas tóxicas. De acordo com Raga, o segundo método é o mais indicado, devido à alta efi-ciência e ao me-nor impacto no meio ambiente.

As iscas tóxi-cas são prepara-das com adição de defensivos químicos a um atraente alimen-tar, muito pare-cido com o atra-tivo utilizado na armadilha Mc-

Phail. Devem ser colocadas em ruas alternadas, em apenas uma parte da copa das plantas, em torno de 1m², de preferência em folhagens, e serem renovadas em intervalos de sete a dez dias. O controle deve ser inicia-do quando for encontrada uma mosca por armadilha, por dia.

O procedimento deve ser aplicado em outras plantas frutíferas hospedei-ras da mosca no entorno do pomar.

“Fazendo este tipo de controle, os produtores conseguem conter a infes-tação da praga, reduzir os prejuízos e economizar com a aplicação de defen-sivos”, diz o pesquisador.

1

A diferença entre sintomas de ataque de bicho

furão (esq.) e de mosca das frutas (dir.) são os

excrementos endurecidos na casca do primeiro, e o aspecto mole da região lesionada pelo segundo

Armadilha Jackson Armadilha McPhail

Foto

s: A

dalto

n Ra

ga

Foto: Pedro YamamotoFoto: Henrique Santos