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Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: identificar as visões que norteiam o ensino de língua materna; definir preconceito linguístico; analisar criticamente as diferentes visões. Refletir criticamente sobre a visão prescritiva, descritiva e produtiva do ensino de língua materna. Meta Objetivos 9 aula VISÃO PRESCRITIVA, DESCRITIVA E PRODUTIVA DO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA

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Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

• identificar as visões que norteiam o ensino de língua materna;

• definir preconceito linguístico;

• analisar criticamente as diferentes visões.

Refletir criticamente sobre a visão prescritiva, descritiva e produtiva do ensino de língua materna.M

eta

Objetivos

9 aula

VISÃO PRESCRITIVA, DESCRITIVA E PRODUTIVA DO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA

141Letras VernáculasUESC

Aul

a9

1 INTRODUÇÃO

Ao longo desta e da próxima aula, desenvolveremos uma

discussão acerca do papel da Linguística no ensino de língua

materna. Embora estejamos sempre embasados em estudiosos

de outros continentes, refletiremos teoricamente, nestas aulas,

apenas com linguistas e gramáticos

brasileiros, por conhecerem a realidade

local.

Apresentaremos posicionamen-

tos de cada visão e, ao mesmo tempo,

levantaremos questionamentos a

respeito deles. Trataremos, dentre

outras questões, da “divinização” da

Gramática Normativa, doravante GN,

e do preconceito advindo da falta de

informação que coloca a Linguística

como um terreno de “vale-tudo”, um

laisser-faire.Figura 1 - Gramática grega: origem da norma.

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1183643.

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Visão prescritiva, descritiva e produtiva do ensino de língua maternaIntrodução aos estudos linguísticos

2 O SURGIMENTO DA VISÃO PRESCRITIVA

Quando se fala de língua, temos na sociedade dois tipos

de discurso: a) o acadêmico, que é embasado nas teorias

da linguística moderna e o b) do senso comum, que está

sedimentado nas práticas discursivas cotidianas e trabalha com

as noções de erro/acerto.

A noção de “erro” surge com as primeiras descrições

sistemáticas do grego, que era o idioma oficial do grande

império, formado pelas conquistas de Alexandre (356-323

a.C.). Com a finalidade de unificar política e culturalmente a

nação, surgiu a necessidade de normatizar essa língua, em

outras palavras, de criar um padrão uniforme e homogêneo

que se erguesse acima das diferenças regionais e sociais.

É preciso salientar que qualquer processo de

normatização, ou padronização, retira a língua de sua realidade

social, complexa e dinâmica, torna-se, teoricamente, um objeto

externo aos falantes, uma entidade inatingível. Lembra-se

que este é o reflexo, inicialmente, da concepção saussuriana?

Este posicionamento favorece o juízo de valor que faz emergir

afirmações do tipo: isso torna possível falar de “atropelar a

gramática”, “atentado contra o idioma”, “pecado contra a língua”

e outras manifestações preconceituosas.

De acordo com Oliveira, em seu texto digital de 2008,

os idealizadores da Gramática Tradicional foram os primeiros a

perceber as duas grandes características das línguas humanas:

a variação (no tempo presente) e a mudança (com o passar

do tempo). Mas a leitura que fizeram dos fenômenos não foi

muito positiva. Por causa da ideologia circulante na época, os

primeiros gramáticos consideravam que somente os homens,

membros da elite urbana, letrada e aristocrática, falavam bem

a língua (!). A partir deste referencial, todas as variedades

regionais, de gênero (feminino) e sociais foram suprimidas em

nome do “bom uso da língua”.

Além disto, os primeiros gramáticos compararam a língua

escrita dos grandes escritores do passado e a língua falada

espontânea, e concluíram que a língua falada era caótica, sem

regras, ilógica, e que somente a língua escrita literária seria

passível de ser analisada e servir de base como modelo do

idioma.

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Os postulados – e porque não dizer - preconceitos da

Gramática Tradicional - só foram questionados a partir do

século XIX, com o surgimento das primeiras investigações

linguísticas histórico-comparativas (como você viu na Aula

2), de caráter estritamente científico. Apesar dos esforços

para uma desmitificação por parte dos pesquisadores e de a

separação rígida entre fala e escrita ser rejeitada pelos estudos

linguísticos, continua latente no comportamento linguístico da

maioria das pessoas a exclusão, que se dá principalmente por

desinformação e visão elitista da língua.

A necessidade da elaboração de um padrão de língua –

que por suas próprias características, se distancia da prática, da

realidade - originou, em todas as sociedades ocidentais, uma

conhecida “tradição da queixa”. Desconsiderando a dinamicidade

da língua e o seu processo naturalmente evolutivo, em todos

os países, em todos os tempos, sempre surgem aqueles que

lamentam, execram, desprezam e deploram a “ruína” da

língua, a “corrupção” do idioma etc., acabam sempre por fazer

calorosas manifestações em prol do “bom uso” da língua.

PROIBIDO ERRAR

Veja algumas dessas manifestações - sempre em tom

dramático - que se estendem por quase trezentos anos em

torno da suposta decadência da língua portuguesa:

Se não existissem livros compostos por frades, em que o tesouro está conservado, dentro em pouco podíamos dizer: ora morreu a língua portuguesa, e não descansa em paz (José Agostinho de Macedo [1761-1831], escritor português). [...] português - um idioma que de tão maltratado no dia-a-dia dos brasileiros precisa ser divulgado e explicado para os milhões que o têm como língua materna (Mario Sabino, Veja, 10/9/1997)Que língua falamos? A resposta veio das terras lusitanas. Falamos o caipirês. Sem nenhum compromisso com a gramática portuguesa. Vale tudo [...] (Dad Squarisi,

Figura 2

144 Módulo 1 I Volume 3 EAD

Visão prescritiva, descritiva e produtiva do ensino de língua maternaIntrodução aos estudos linguísticos

Correio Brasiliense, 22/7/1996). [...] o usuário brasileiro da língua [...] comete erros, impropriedades, idiotismos, solecismos, barbarismos e, principalmente, barbaridades (Giron, revista Cult, no 58, junho de 2002, p. 37).

Como você pode ver, por parte dessas pessoas, a

tolerância continua “zero” e a compreensão sobre os fenômenos

da língua, também.

3 VISÃO DESCRITIVO-PRODUTIVA DA LÍNGUA

Figura 3 Figura 4 Figura 5

Contrapondo os conceitos da Gramática Tradicional, que

define a língua como uma entidade abstrata e homogênea, a

Linguística concebe-a como uma realidade intrinsecamente

heterogênea, variável, vinculada à realidade social e aos usos

que dela fazem os seus falantes.

Para a Linguística, a noção de erro só pode ser aceita se

se refere aos aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos

da língua. Como, por exemplo, em “quero chocolate sorvete

de”, “casa a”, que são imprevisíveis na língua portuguesa. Mas

o “erro” instituído socialmente se prende a fenômenos sociais

e culturais, que não estão incluídos no campo de interesse da

Linguística propriamente dita.

Quer um exemplo? A palavra estadia, pelo uso popular,

assumiu a acepção da palavra estada; originalmente, o primeiro

termo se referia somente ao tempo destinado aos navios para

carga e descarga nos portos, o segundo termo dizia respeito ao

tempo de permanência de pessoas nos lugares. Atualmente,

o largo uso de estadia para ambas as situações fez com que

estada caísse em desuso.

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Na direção contrária da Gramática Tradicional, que

preconiza formas únicas de enunciação, a Linguística demonstra

que todas as formas de expressão verbal têm organização

gramatical, seguem regras – estruturais - e têm uma lógica

linguística perfeitamente demonstrável.

Severo (2008, p. 3), em seu texto digital, afirma que

quem entende mesmo de lógica e adequação linguística são os

publicitários, que usam e abusam da transgressão da língua,

sem “preconceitos”, em prol da aceitação de sua mensagem.

A autora diz que eles até gostam da discussão que causam

com slogans do tipo “vem pra caixa você também” (uso errado

do imperativo de acordo com a norma) e “a persistirem os

sintomas” (de acordo com a norma), que causou dúvida para a

maioria da população.

Para vários linguistas modernos, a discussão entre certo

e errado é totalmente inócua e contraproducente porque ela

revela, na superfície, preconceitos sociais que estão enraizados.

Para autores como Bagno (2000), deve-se encontrar um

ponto de equilíbrio para nos adequarmos à situação de uso da

língua em que nos encontramos. Se for uma situação formal,

tentaremos usar uma linguagem formal, prevista pela norma, e

se for uma situação descontraída, uma linguagem descontraída,

seguindo as leis da adequabilidade e aceitabilidade.

Em sua conhecidíssima obra, Preconceito Linguístico:

o que é, como se faz (1999),

Bagno declara que reavaliar a

noção de erro é romper com o

círculo vicioso do preconceito

linguístico e com a ideologia

dominante, a qual discrimina a

maioria da população brasileira

e impõe o que deve ser

considerado certo ou errado

dentro da língua materna.

De acordo com este autor, os

“preconceitos” de norma e

erro prestam um desserviço

à sociedade, restringindo as

relações sociais e aumentado

as diferenças de classes no

SAIB

A M

AIS

R

AAC

a FU V

MK

Marcos Bagno nasceu em Cataguases (MG), mas sempre viveu fora de seu estado de origem. Depois de ter vivido em Salvador, no Rio de Janeiro, em Brasília e no Recife,

transferiu-se, em 1994, para a capital de São Paulo, onde viveu até 2002, quando se tornou professor do Departamento de Linguística da Universidade de Brasília (UnB), onde atua na graduação e no programa de pós-graduação em Linguística. Coordena atualmente o projeto IVEM (Impacto do Vernáculo sobre a Escrita Monitorada: mudança linguística e consequências para o letramento escolar).

Figura 6 - Marcos Bagno, linguista brasileiro que tem dedicado a maior parte de suas pesquisas ao tema Preconceito Linguístico. Fonte: www.marcosbagno.com.br/.../foto-

mb-peq.jpg.

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Visão prescritiva, descritiva e produtiva do ensino de língua maternaIntrodução aos estudos linguísticos

segundo país do planeta com mais diferenças sociais.

3.1 Noção do termo norma

A propósito do conceito de norma, Bagno (2000), a

fim de diminuir a opacidade no uso do termo norma, explana

sobre algumas importantes definições elaboradas por Castilho,

Lucchesi e Mattos e Silva.

Castilho define três tipos:

a) norma objetiva (linguagem efetivamente praticada pela

classe culta, escolarizada);

b) subjetiva (atitude que o falante assume perante a norma

objetiva);

c) prescritiva (combinação da norma objetiva com a

subjetiva).

Lucchesi propõe três:

a) norma padrão (formas prescritas pelas gramáticas

normativas);

b) norma culta (forma efetivamente depreendida da fala

dos segmentos plenamente escolarizados - com curso

superior completo); e

c) norma vernácula (padrões linguísticos das classes mais

baixas, não escolarizadas, que se oporiam de forma nítida

aos padrões das classes média e alta, escolarizadas).

Mattos e Silva define dois tipos:

a) norma normativo-prescritiva, norma prescritiva ou norma-

padrão, conceito tradicional, idealizado pelos gramáticos

pedagogos, diretriz até certo ponto para o controle da

representação escrita da língua, sendo qualificado de erro

o que não segue esse modelo. Distancia-se da realidade

dos usos, embora com alguns deles se interseccione,

e é parcialmente reciclada ou atualizada ao longo do

tempo pelas imposições evidentes, decorrentes da razão

universal de as línguas mudarem e suas normas também,

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entre elas, a que serve de modelo à norma-padrão;

b) normas normais ou sociais, “objetivas” e quantificáveis,

atuantes nos usos falados de variantes das línguas. São

normas que definem grupos sociais que constituem a rede

social de uma determinada sociedade. Distinguem-se em

geral: normas “sem prestígio social” ou estigmatizadas;

e normas “de prestígio social”, equivalentes ao que se

denomina norma culta, quando o grupo de prestígio que

a utiliza é a classe dominante e, nas sociedades letradas,

aqueles de nível alto de escolaridade.

Em virtude das ambiguidades no uso do termo norma,

Bagno propõe, através da “fusão” dos conceitos apresentados,

um uso restrito do termo: como a concepção de língua das

gramáticas normativas e instituições afins, bem como da

ideologia que atua sobre as representações que as pessoas

têm do que seja língua e gramática. Sua definição se aproxima

da de Dubois et al (1993), em seu Dicionário de Linguística:

chama-se norma um sistema de instruções que definem o que

deve ser escolhido entre os usos de uma dada língua se se

quiser conformar a um certo ideal estético ou sociocultural. A

norma, que implica a existência de usos proibidos, fornece seu

objeto à gramática normativa ou gramática no sentido corrente

do termo.

É interessante salientar que, para outros linguistas,

do quilate de Mattoso Câmara Júnior (1984), por exemplo, a

norma é de fato uma força conservadora na linguagem, mas,

apesar disto, não consegue deter o processo de constante

evolução linguística, imanente em todas as línguas. Ainda para

o linguista, em muitas sociedades, a norma se torna operante e

agressiva por meio do ensino escolar e da organização de uma

disciplina gramatical.

Em outro momento de lucubrações muito profícuas,

Bagno (1999, p. 149) declara que, para reavaliar a noção de

erro, é preciso romper com o círculo vicioso do preconceito

linguístico e com a ideologia dominante, a qual discrimina a

maioria da população brasileira. Além disto, segundo ele,

reina uma confusão de língua em geral com escrita e o que se

classifica como erro de Português é apenas um mero desvio da

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Visão prescritiva, descritiva e produtiva do ensino de língua maternaIntrodução aos estudos linguísticos

ortografia oficial. O autor complementa:

Ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna, assim como ninguém comete erros ao andar ou respirar. Só se erra naquilo que é aprendido, naquilo que constitui um saber secundário obtido por meio de treinamento, prática e memorização: erra-se ao tocar piano, erra-se ao dar um comando ao computador, erra-se ao falar/escrever uma língua estrangeira. A língua materna não é um saber desse tipo: ela é adquirida pela criança desde o útero, é absorvida junto com o leite materno. Por isso, qualquer criança entre os 3 e 4 anos de idade (se não menos) já domina plenamente a gramática de sua língua (p. 149).

Assim, para o linguista, o erro de português só poderia

ser considerado em enunciados com problemas estruturais,

como em: Eu nos vimos ontem na escola, beber leite criança

quer a etc.

Vários pesquisadores têm concordado com a postura de

Bagno, bem como a indicação de Possenti (1996), de que o

ensino de língua deva ocorrer nesta ordem: primeiro, deve-se

focalizar a gramática internalizada, depois a gramática descritiva

e, por fim, a gramática normativa. O professor deve, portanto,

ter consciência do papel de cada uma dessas gramáticas.

Como você pode ver, não é intenção dos linguistas rejeitar

ou negar a necessidade da existência de uma norma-padrão,

por não corresponder às realidades de uso da língua; não se

pode desprezar o fato de que como bem simbólico existe uma

demanda social pelo padrão, é a norma de prestígio e, por isto

mesmo, não pode ter o seu acesso negado ou negligenciado

pelas escolas.

Portanto, uma das tarefas do ensino de língua na escola

seria expor e discutir criticamente os valores sociais atribuídos

a cada variante linguística, chamando a atenção para a carga de

discriminação que pesa sobre determinados usos da língua, de

modo a conscientizar o aluno de que sua produção linguística,

oral ou escrita, estará sempre sujeita a uma avaliação social,

positiva ou negativa. A escola não pode desconsiderar um fato:

os comportamentos sociais não são ditados pelo conhecimento

científico, mas por outra ordem de saberes (ideologias, mitos,

preconceitos, superstições, crenças tradicionais etc.). Por este

motivo, é importantíssimo que os professores disponibilizem

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aos alunos, usuários da língua, variadas opções de usos para

que, tendo conhecimento das opções oferecidas pelo idioma,

façam as suas escolhas. O que não pode acontecer é lhes ser

negado o conhecimento de todas as opções possíveis, eles

precisam ter consciência da existência dessas regras, pois a

consciência gera responsabilidade no uso.

As correções podem e devem ser feitas pela simples

apresentação/comparação da forma correta (aceita e adequada)

com a forma variante, cabendo ao professor a tarefa de corrigir

o aluno sem humilhar e, com isto, perpetuar o preconceito de

que ele não sabe sua língua, pois isso - como já foi comprovado

por pesquisas - lhe influenciará por toda a sua vida escolar.

Ao professor compete, ainda, saber reconhecer os

fenômenos linguísticos que ocorrem em sala de aula, para junto

como os seus alunos – de perfis multifacetados - empreender

uma educação em língua materna que leve em conta os

seus saberes linguísticos prévios e que permita a ampliação

incessante do seu repertório verbal e de sua competência

comunicativa. Dessa forma, a construção de relações sociais

permeadas pela linguagem será cada vez mais democrática e

não-discriminadora.

Vamos agora refletir um pouco do que acabamos de ler!

ATIVIDADES

1. Ao longo desta aula, você viu algumas posições divergentes no que concerne ao ensino de língua. Identifique as características de cada uma das visões: DESCRITIVA-PRODUTIVA E VISÃO NORMATIVA.

2. Com base em tudo o que foi discutido, como você definiria o preconceito linguístico? Cite um exemplo.

3. Leia o seguinte poema e, depois, responda as questões:

AI SE SÊSSE(Cordel Do Fogo Encantado: Composição: Zé Da Luz)

Se um dia nois se gostasse Se um dia nois se queresse

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Visão prescritiva, descritiva e produtiva do ensino de língua maternaIntrodução aos estudos linguísticos

Se nois dois se empareasse Se juntim nois dois vivesse Se juntim nois dois morasse Se juntim nois dois drumisse Se juntim nois dois morresse

Se pro céu nois assubisse Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse

a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice E se eu me arriminasse

E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse E a minha faca puxasse

E o bucho do céu furasse Tarvês que nois dois ficasse Tarvês que nois dois caisse

E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

Fonte: http://letras.terra.com.br/cordel-do-fogo-encantado/78514/.

3.1 Circule as palavras erradas do texto e, em seguida, escreva a sua forma correta.

3.2 Por que não se pode usar no cotidiano a linguagem empregada no poema?

3.3 Qual é a concepção que sustenta estas duas primeiras questões? Normativa ou descritivo-produtiva? Justifique a sua resposta.

3.4 Reescreva o poema em linguagem padrão.

3.5 Observe se as mudanças alteram o ritmo e a musicalidade do poema e responda: qual das duas versões você prefere? Por quê?

3.6 Os verbos são predominantes em que modo/tempo? Justifique a sua resposta.

4. Qual é a sua opinião a respeito das visões apresentadas? Justifique com base no referencial teórico.

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Nesta aula você viu que:

● A gramática tradicional, ao fundamentar sua análise na língua escrita, difundiu alguns conceitos sobre a natureza da linguagem. Ao não reconhecer a diferença entre língua escrita e língua falada, passou a considerar a expressão escrita como modelo de correção para toda e qualquer forma de expressão lingüística.

● A gramática tradicional assumiu, desde sua origem, um ponto de vista prescritivo, normativo com relação à língua. A tarefa do gramático se desdobra em definir a língua, descrevê-la, e, ao privilegiar alguns usos, prescrever a sua utilização.

● Abordar a língua exclusivamente sob uma perspectiva normativa contribui para gerar uma série de falsos conceitos e até preconceitos, que vêm sendo desmistificados pela Lingüística.

● A visão descritivo-produtiva está demonstrando que a língua escrita não pode ser modelo para a língua falada. Está claro para todo estudioso da linguagem que não se deve emitir juízo de valor em relação aos fatos da língua, mas não se pode privar o aluno ao conhecimento do padrão, uma vez que esta é a variante de prestígio na sociedade.

Para complementar esta aula, recomendo a leitura dos livros de BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 5. ed. São Paulo: Loyola, 1999 e de Sírio Possenti, Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1996.

RESUMINDO

LEITURA RECOMENDADA

ALI, M. Said. Gramática secundária da língua portuguesa. 8. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1969.

Na próxima aula... vamos verticalizar as reflexões aqui apresentadas no intuito

de fazer um confronto entre os pressupostos da Linguística, os preceitos da

Gramática e as consequências dessa relação para o ensino de língua materna.

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Visão prescritiva, descritiva e produtiva do ensino de língua maternaIntrodução aos estudos linguísticos

RE

FE

NC

IAS

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da

língua portuguesa. 43. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

ARAÚJO, Inês Lacerda. Do signo ao discurso: introdução à

filosofia da linguagem. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

BAGNO, Marcos. Disponível em: http://www.fae.ufmg.

br/Ceale/menu_superior/publicacoes/textos/linguagem_

educacao//list_objects_template?local=menu_superior/

publicacoes/textos/linguagem_educacao. Acesso em 19 jul.

2009.

BAGNO, Marcos. Dramática da língua portuguesa:

tradição gramatical, mídia e exclusão social. 2. ed. São

Paulo: Loyola, 2000.

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se

faz. 5. ed. São Paulo: Loyola, 1999.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37.

ed. Rio de Janeiro: Lucena, 2001.

CÂMARA JÚNIOR, J. Matoso. Dicionário de Linguística

e Gramática: referente à Língua Portuguesa. 11. ed.

Petrópolis: Vozes, 1984.

CUNHA, Celso; CINTRA, Luis Filipe Lindley. Nova gramática

de português contemporânea. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1985.

DUBOIS, Jean et alli. Dicionário de Linguística. Trad.

Izidoro Blikstein. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1993.

LYONS, John. Linguagem e Linguística. Trad. Marilda

Winkler Averbug, Clarisse Sieckenius de Souza. Rio de

Janeiro: Guanabara, 1981.

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PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso. Trad. de Eni

Pulcinelli Orlandi et. al. Campinas, SP: Editora da UNICAMP,

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POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na

escola. Campinas: Mercado de Letras, 1996. (Coleção

Leituras no Brasil)

ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática normativa da

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SEVERO, Simone. Disponível em: http://www.scribd.com/

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Linguistica. Acesso em: 17 jul. de 2009.

TRASK, R. L: Dicionário de linguagem e linguística. Trad.

Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2004.

Suas anotações

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