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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: fevereiro/2015 a agosto/2015 ( ) PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do projeto de pesquisa: Mães e avós de crianças em acolhimento institucional: estudo sobre o cuidado feminino. Nome do Orientador: Janari da Silva Pedroso. Titulação do Orientador: Doutor. Faculdade: Faculdade de Psicologia. Unidade: Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Laboratório: Laboratório de Pesquisa: Desenvolvimento e Saúde – LADS. Título do Plano de Trabalho: O cuidado na perspectiva transgeracional de famílias com crianças acolhidas institucionalmente: estudo de caso múltiplo. Nome do Bolsista: Lucas Fadul de Aguiar. Tipos de bolsa: ( ) PIBIC/ CNPq ( ) PIBIC/CNPq – AF ( )PIBIC /CNPq – Cota do pesquisador (X) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA – AF ( ) PIBIC/ INTERIOR ( )PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( ) PIBIC/FAPESPA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁPRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT,

PADRC E FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

Período: fevereiro/2015 a agosto/2015( ) PARCIAL(X) FINAL

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETOTítulo do projeto de pesquisa: Mães e avós de crianças em acolhimento institucional: estudo sobre o cuidado feminino.Nome do Orientador: Janari da Silva Pedroso.Titulação do Orientador: Doutor.Faculdade: Faculdade de Psicologia.Unidade: Programa de Pós-Graduação em Psicologia.Laboratório: Laboratório de Pesquisa: Desenvolvimento e Saúde – LADS.Título do Plano de Trabalho: O cuidado na perspectiva transgeracional de famílias com crianças acolhidas institucionalmente: estudo de caso múltiplo.Nome do Bolsista: Lucas Fadul de Aguiar.Tipos de bolsa:

( ) PIBIC/ CNPq( ) PIBIC/CNPq – AF( )PIBIC /CNPq – Cota do pesquisador(X) PIBIC/UFPA( ) PIBIC/UFPA – AF ( ) PIBIC/ INTERIOR( )PIBIC/PARD( ) PIBIC/PADRC( ) PIBIC/FAPESPA( ) PIBIC/ PIAD( ) PIBIC/PIBIT

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Resumo

Com as mudanças que vem ocorrendo desde o século XX no que dizrespeito aos papéis sociais ocupados por cada gênero, as mulheres ainda se apresentam como principal cuidadora e mantenedora da prole; há odiferencial singular de que este momento histórico vivencia a presençamais atuante dos avós no tratar com os netos. Este estudo teve comoobjetivo explorar as dinâmicas Intergeracionais e transgeracionais emfamílias que tiveram suas crianças institucionalizadas, tendo em vistaque por meio dessa realidade extrema, ao ponto de um sujeito deixarsua residência, buscou-se melhor compreender que padrõescomportamentais sustentam tais relações, tendo como especial enfoque ono gênero feminino. Utilizou-se como método o estudo de caso, tendocomo participantes duas famílias. Fez-se uso de entrevistassemiestruturadas como instrumento de coleta de dados, e o genogramacomo maneira de sistematizar as relações Intergeracionais. Obteve-secomo resultado a presença de comportamentos de fuga e abandono dentremembros femininos, entre as gerações estudadas. Concluiu-se que istofoi resultado de padrões de cuidado negligente para com as cuidadorasfugitivas, que se repete com as crianças institucionalizadas.

1. Introdução

A família nuclear tradicional constitui-se primariamente pelo arranjo da figura

masculina que trabalha e sustenta a casa, a mulher que cuida dos afazeres domésticos e

da educação dos filhos. Contudo, a presença mais competitiva da mulher no mercado de

trabalho a partir da metade do século XX iniciou um ciclo profundo de transformações

que influenciam as dinâmicas até então institucionalizadas, em que as atribuições

familiares não mais se limitam à divisão por sexo ou geração.

Não obstante a entrada da mulher no mercado de trabalho e a realocação desta

em seu papel social, diversas pesquisas demonstram que o cuidado feminino ainda é

majoritário e valorizado, como mostram estudos em que a mãe aparece como única

cuidadora dos filhos. Pines-Gassman (2011), ao realizarem entrevistas com 61 mães –

maioria passava por problemas financeiros - indicam que muitas delas encontram-se

envolvidas em cargas excessivas de trabalho, na qual as oportunidades de contato entre

mães e filhos estariam prejudicadas.

Em situações adversas como essas, a família – muita das vezes somente a mãe

e o filho – contam apenas com a presença dos avós, que se tornam pontos de apoio para

a manutenção das relações entre gerações, tanto para estreitar os laços destes com seus

netos, e dos filhos com os pais. Cardoso (2011) corrobora essa perspectiva, ao afirmar

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que diante de todas as necessidades profissionais presentes no mundo contemporâneo,

os pais sentem extrema dificuldade de conciliarem responsabilidades parentais, pessoais

e profissionais.

Em nível intergeracional, a presença da mãe também prevalece diante da do

pai. Tendo como exemplo disso, cita-se o estudo de Silva, Magalhães e Cavalcante

(2014), que ao trabalharem com crianças institucionalizadas e sua relação com os avós,

apontaram em média que 16% daqueles que mantém contato com os netos são do sexo

masculino, em comparação com 84% do sexo oposto.

Uma pesquisa conduzida nos Estados Unidos por Barnett, Scaramella, Neppl,

Ontai e Conger (2010), que avaliou a qualidade das relações entre grupos de pais (G1) e

filhos (G2), levando em conta a relação dos avós (G3) com os netos, corrobora para a

presença mais intensa das avós no cuidado com seus netos, mesmo em condições tidas

como não adversas. Além de se notar a presença marcante da avó em detrimento do avô,

constatou-se que a díade G1-G2 teve seu envolvimento sensivelmente melhorado a

partir da presença de G3; ressalta-se que fatores socioeconômicos apareceram como

motivo principal à presença mais ativa dos avós na vida das crianças, que serviram de

suporte não apenas financeiro, como também emocional, para seus filhos e netos, tendo

apenas como empecilho certas dificuldades de mobilidade, já que a distância entre as

residências de cada membro familiar era relativamente grande.

Outra pesquisa, realizada por Viguer, Meléndez, Valencia, Cantero e Navarro

(2010) na Espanha, verificou, pelo viés infantil, a relação entre netos e avós, em que se

avaliou estilos de socialização utilizados pelos últimos e as brincadeiras compartilhados

por ambos. Ao todo, foram entrevistadas 360 crianças, entre 10 e 12 anos. Os resultados

demonstraram a importância do gênero e da linha familiar na seleção do avô

‘’favorito’’; diferenças surgiram nas próprias brincadeiras realizadas e nas atividades

que demonstravam o estilo de socialização envolvida. Na maioria dos casos, observou-

se a presença da avó como sendo representante da terceira-geração “predileta”, pelo fato

também de ser mais presente. Os avós, e em especial a avó, no século XXI, desse modo,

mostram-se como agentes de bem-estar e atenção para seus netos, em que dispõem de

tempo livre para cuidar das crianças, apoio financeiro e segurança emocional, o que leva

à redução das chances de aparecimento de doenças e problemas emocionais.

Compreende-se, dessa maneira, que por um ponto de vista de múltiplas

gerações, dada as influencias sociais e culturais, o fator gênero perpassa como aspecto

fundamental a ser analisado quando se questiona a perpetuação de uma cultura familiar.

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Um estudo realizado por Carlson e Knoester (2011), ao abordar a influência do gênero

na transmissão de padrões comportamentais em diversas estruturas familiares, em que

foi encontrada convergência de comportamentos entre mães e filhos e divergência entre

pais e filhas, concluiu-se que a relação genitor/cuidador – criança sofre forte influência

com relação ao sexo do par.

Portanto, o cuidado feminino passa a ser problematizado, com especial atenção

ao fator transgeracional e intergeracional, ao permitir analisá-lo por uma perspectiva em

que padrões e a transmissão de comportamentos tornam-se visíveis, além das diversas

singularidades que marcam os gêneros; o presente estudo, para tal finalidade, explora

essa temática por meio de uma realidade extrema, em que por razões diversas, a

presença da família não se fez suficiente para impedir um fato que gera diversas

discussões nos campos sociais e políticos: a institucionalização de crianças.

Quando a questão é debatida com enfoque no gênero, pesquisas apontam uma

parcela significativa das crianças que estão em instituições de acolhimento

possui/possuíam somente a entidade feminina como representante legal, como mostra os

dados coletados por Fukuda, Penso, Santos e Benedito (2013): cerca de 42% dos

infantes que se encontram em unidades de acolhimento detêm na figura materna a única

representante jurídica que os enquadram dentro de uma família.

Desde a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA em 1990,

carências materiais e sociais não figura como razões plausíveis para a

institucionalização de crianças. Não obstante, Magalhães e Cavalcante (2013),

apontaram a situação de pobreza como maior empecilho dessas famílias no que diz

respeito ao desejo de criarem condições melhores para seus filhos e netos. Os dados

apontaram que devido à falta de condições de materiais, estas cuidadoras não sabiam ao

certo como conduzir a educação da nova geração; não deixou de se notar que a falta de

programas sociais para mães e avós dificulta ainda mais o quadro; além disso, a

pesquisa salientou a falta de políticas públicas de educação à infância institucionalizada,

estreitando as oportunidades que estes possuem de melhorarem de vida. Somada as

poucas opções oferecidas às crianças desses grupos, o meio social em que se encontram

apresenta, muita das vezes, uma realidade pautada pela violência familiar e social, onde

se percebe a abandono de crianças e a negligência destes por parte dos genitores, uma

das consequências mais frequentes desses ambientes.

Isso faz das crianças institucionalizadas tema merecedor de especial atenção,

por serem encaminhados à unidades de acolhimento em decorrência do cuidado precário

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e negligente dos próprios genitores e familiares, tendo o maltrato e o abandono como

principais fatores. Pesquisas brasileiras, como a do Conselho Nacional do Ministério

Público (CNMP, 2013), em relatório recente, constatam que as principais razões de

acolhimento de crianças em instituições variam entre a negligência, a violência e o

abandono. Os dados publicados apresentam: (81%) reportou acolhimentos realizados

em razão de negligência dos cuidadores. A segunda maior causa de acolhimento é a

dependência por drogas ou álcool dos pais ou responsáveis (81%), seguida pelo

abandono (78%), pela violência doméstica (57%) e pelo abuso sexual (44%).

Pesquisas similares conduzidas fora do país ratificam resultados encontrados

no Brasil, a exemplo de um estudo feito no Oeste do Kenya sobre os motivos relativos

ao acolhimento. Quatrocentos e sessenta e dois arquivos de uma instituição de

acolhimento foram revisados, em que: 71% das crianças perderam um ou ambos os pais.

Os motivos para admissão foram: pobreza (36%), abandono (22%), negligência (21%),

abuso sexual (8%). A maioria das crianças residentes havia experimentado no mínimo

algum tipo de experiência com maus-tratos (66%). Dentro dessa categoria, incluem-se:

físicos (8%), sexual (2%), psicológico (28%), negligência (26%), negligência médica

(18%), privação escolar (38%), abandono (30%) e trabalho infantil (23%). O maior

motivo para crianças não órfãs serem admitidas foi: situações de maus-tratos (90%),

enquanto que aquelas que eram órfãos encontraram na pobreza o principal responsável,

um número aproximadamente de 49% (MORANTZ, COLE, AYAYA, AYUKU

BRAITSTEIN, 2012).

Além dos fatores citados, os maus-tratos são também consequência da

legitimidade que possuem enquanto prática de cuidado necessária à educação e

moralização do indivíduo à sociedade. Em pesquisa realizada no Brasil com o interesse

de se avaliar quais dessas práticas são mais utilizados pelos pais, obtiveram-se os dados

de que 42% dos pais entrevistados preferem o uso de uma educação coercitiva,

enquanto que apenas 2% afirmaram não a utilizarem, preterindo outras formas de

cuidado, no estudo classificadas como indutivas. Concomitante, esses mesmos pais

foram indagados sobre a forma como foram criados e 39% relataram que também foram

educados por seus pais, predominante, com práticas de cuidado coercitivas, o que

incluía os maus-tratos (MARIAN, MARTINS, FREITAS, SILVA, LOPES, PICCINNI,

2013).

Os pioneiros da abordagem sistêmica são os primeiros a investigarem-na como

um organismo em que os membros constituintes são vistos de modo interdependentes,

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na qual as avaliações transcendem a perspectiva de uma única geração, em que qualquer

situação que ocorra com um destas pessoas, seja numa geração ou noutra, ressoa

diretamente em todo o sistema. O indivíduo é tido como um agregado de diversas

heranças que circundam os meios que o cercam, como a esfera social, econômica,

política e cultural, assim como o meio interno familiar o qual se encontra inserido desde

o momento do seu nascimento e nos períodos de desenvolvimento. O aparecimento de

sintomas que causam sofrimento e desagregam um grupo denuncia falhas não apenas do

sistema familiar, como também social, e, concomitantemente, aponta à necessidade de

mudanças em seu funcionamento (BUCHER-MALUSCHKE, 2008). O sintoma de um

membro da família passa a ser visto de maneira relacional, com uma função no e para o

sistema.

Visto dessa forma, a família passa a ser compreendida como um todo mais

complexo do que simplesmente a soma de suas partes, não estando restrita a uma

geração, porém sim, com o fator transgeracional como atuante na manutenção e/ou

modificação de valores e comportamentos. A transmissão de comportamentos em mais

de uma geração, segundo Murray Bowen (1976), é a repetição de padrões de um

sistema, visualizadas individualmente; o autor salientou que isto ocorre por meio ou não

da diferenciação do self do individuo com relação ao da família, que é exatamente o

mundo simbólico que vive na psique de um determinado grupo. Essa diferenciação é a

capacidade que cada ser humano possui, de modificar e atualizar as relações internas

que envolvem cada pessoa, assim conferindo-lhes uma nova dinâmica que se

desenvolve ao longo do crescimento pessoal e o contato com realidades outras.

O presente trabalho, portanto, tem como objetivo verificar a repetição de padrões

de comportamento e formas do cuidar feminino, em uma perspectiva conceitual

sistêmica, em que estão envolvidas as complexidades e problematizações que permeiam

o meio social, cultural e histórico que abarcam a presença de diversos arranjos, em que

a presença dos avós como cuidadores pode se tornar essencial para o desenvolvimento

da criança, ao oportunizar segurança emocional e financeira.

2. Método

O método utilizado foi o estudo de casos múltiplos, nos expostos explanados por

Yin (2009, p.39), que define esta metodologia como “uma investigação empírica que

investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real

especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente

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evidentes”. Este método encontra-se consoante com uma abordagem qualitativa de

pesquisa, tendo em vista que não se preocupa em confirmar hipóteses pré-existentes,

assim como não possui o pressuposto de controle de variáveis com o controle de

variáveis.

2.1 Participantes: Duas participantes integraram a pesquisa, cada uma delas

como representante de uma das crianças institucionalizadas: uma tia-avó e uma tia. Os

critérios de inclusão à entrevista foram: a) os membros deviam pertencer ao sexo

feminino, com vistas em mais de uma geração; b) possuírem parentesco consanguíneo

com a criança acolhida; c) mantivessem visitas regulares à instituição. Foram excluídas

todas as participantes que não atendessem a esses requisitos, e mais àquelas pessoas

diagnosticadas com transtornos psiquiátricos.

2.2. Ambiente: A pesquisa foi realizada na instituição “Abrigo Começo Feliz”,

localizado no Bairro do Satélite, em Belém/PA. O local possui com um espaço

destinado às brincadeiras para crianças – uma espécie de playground – onde se

encontram brinquedos, uma piscina e uma área ampla de recreação. Há uma cozinha, a

secretaria, uma sala para os membros da limpeza, outra para os motoristas e um quintal

onde se lava as roupas das crianças. Ressalta-se a presença também de uma área

destinada às refeições, onde há uma mesa maior, destinada para funcionários e

visitantes, e uma mesa menor, para os abrigados; por fim, existe uma sala para os

técnicos da instituição – assistentes sociais, psicólogos e pedagogos – e um local

destinado às visitas dos parentes das crianças; este último também é utilizado para se

realizar entrevistas de cunho acadêmico, como o do presente trabalho.

2.3 Instrumentos e Materiais:

2.3.1 Entrevistas semiestruturadas: A entrevista semiestruturada pretende investigar

itens que incluem questões relativas aos seguintes pontos: identificação pessoal

e de seus familiares (nome, estado civil, idade, ocupação,

parentesco);caracterização do sistema familiar (número de uniões, tempo atual

da união, número de pessoas que moram na residência e conhecimento sobre as

práticas de cuidado); características econômicas e levantamento acerca das

relações interpessoais com a família atual e com a família externa.

2.3.2 Genograma: Segundo McGoldrick et al (2008), os genograma registram

informações sobre os membros de uma família, colocando em destaque suas

relações em pelo menos três gerações; por meio desse instrumento, visualizam-

se os membros e os principais eventos que marcaram suas vidas, desde

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momentos felizes até rupturas emocionais trágicas. O genograma de cada

família foi montado na sua frente, com papel e canetas coloridas – para que se

possam diferenciar determinados pontos da estória familiar.

2.3.3 Diário de Campo: Teve por objetivo registrar, em tempo real, atitudes, fatos e

fenômenos percebidos no campo de pesquisa. Os registros são feitos

diariamente sempre datados, sinalizando os sujeitos envolvidos, o local, a

situação observada, as condições que podem estar interferindo no fato, a

influência da rotina e as normas institucionais do fenômeno.

2.3.4 Materiais: Foram utilizados papéis folhas de papéis A4 em que foram desenhados

os genogramas, canetas esferográficas de cor preta para desenhar os mesmos e

canetas coloridas CIS LUMINI para destacar pontos importantes da estória

familiar do participante; além destes, utilizou-se um caderno de uso pessoal

como diário de campo e um gravador pelo qual gravou-se as entrevistas para

posterior transcrição.

2.4 Cuidados éticos e judicias

O plano de trabalho faz parte do projeto do professor orientador já aprovado

pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Saúde da Universidade

Federal do Pará. Todos os participantes da pesquisa assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido. Os devidos cuidados foram tomados para garantir o

sigilo e a confidencialidade das informações, e dessa forma preservar a identidade dos

participantes bem como das instituições envolvidas, mesmo com a divulgação dos

resultados.

2.5. Procedimento

Para o desenvolvimento desse estudo, primeiramente fez-se uma revisão da

literatura científica concernente ao assunto, nos dois primeiros meses da pesquisa. Em

seguida, buscou-se compreender o funcionamento dos instrumentos e materiais utilizados

à coleta de dados. Tendo esta preparação inicial se concluído, foi-se a campo para realizar

uma ambientação ao local: conhecer melhor o estabelecimento onde a coleta foi

realizada, tornar-se familiar aos funcionários e visitantes e as crianças e ganhar confiança

e respeito dos mesmos para o livre acesso dos documentos da instituição. Os primeiros

dias no local, o pesquisador foi acompanhado por orientadores mais experientes que

participam do mesmo grupo de pesquisa, com o intuito de facilitar a entrada no local.

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Foram também repassadas algumas regras básicas de conduta. Transcorrido o tempo

necessário de ambientação, partiu-se para a seleção dos candidatos e subsequentes

entrevistas, o que demorou mais alguns meses. A coleta dos dados foi realizada com dois

visitantes da instituição. Antes das entrevistas, explicou-se o motivo da pesquisa e se

solicitou que os participantes assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,

após terem-no lido e concordado. Também foi solicitado permissão para que se pudessem

gravar as conversas, a fim de facilitar a transcrição das falas coletadas; ambos os

participantes assim o aceitarem. Ao longo do diálogo, montou-se o genograma para que o

entrevistado pudesse ver a figura e porventura interferir no desenho, ou até mesmo

modificá-lo. Após a coleta, os resultados foram levados para interpretação.

2.6. Análise dos Resultados

Os dados das entrevistas foram sistematizados em categorias temáticas com

Análise de Conteúdo de Bardin (2010), que a divide em três partes: exploração do

material, tratamento dos resultados e interpretação/inferência. O genograma foi avaliado

por meio de uma perspectiva teórica sistêmica, em que se pudessem visualizar as

dinâmicas familiares Intergeracionais e transgeracionais. O diário de campo serviu

como instrumento fundamental para que o pesquisador anotasse observações à cerca do

ambiente e posteriormente as utilizasse nos insights advindos no momento de

construção das categorias temáticas e posterior análise de dados.

3. Resultados

Para o tratamento dos resultados, colocou-se primeiramente cada caso

individualmente, com a apresentação do genograma e as histórias individuais das

protagonistas. Em seguida, fez-se uma discussão dos dois casos por meio de categorias

temáticas construídas a partir dos conteúdos dos dados.

a. Caso Antonieta

O genograma do caso Antonieta foi montado de acordo com as informações

coletadas pela conversa com Agripina, 38, tia-avó da criança Evarista, que se encontra

institucionalizada no abrigo desde seu nascimento, à época da entrevista com 4 meses

de nascida. Agripina é filha de Jason e Madalena; seu pai, falecido, morreu aos 80 anos,

de derrame, enquanto que sua mãe encontra-se viva com 69 de idade, porém em estado

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vegetativo após um acidente vascular cerebral. Possui 9 irmãos – Margarida, Eduardo,

Sara, Eliza, Magda, Marcos, Duciomar, Adágio e Joel, além de alguns outros já mortos,

dos quais ela não lembra. Foi casada, tendo três filhos no primeiro relacionamento – um

de 21, Calil, outro de 19, Leandro, e uma de 14, Rosa – e atualmente está namorando

com Ítalo, com quem já tem um filho de 2 anos, Afonso. A entrevistada é irmã mais

nova de Margarida – a mais velha de todos -, que se encontra também falecida em

decorrência um derrame cerebral, à época com 37 anos de idade. Margarida, casada com

Marcelo, gerou 8 filhos, dois quais 2 já não estão mais vivos – morreram logo nos

primeiros anos que se seguem ao nascimento. São eles: Mirian, Antonieta, Karla, Ana,

Gardenha, Bruno e os dois falecidos, Carlos e Catarina. Destes, além da própria

Antonieta, tem-se conhecimento apenas de que Karla teve uma filha, que morreu

afogada ainda criança.

Filha de Margarida, Antonieta, mãe de Evarista, é uma moça de 26 anos que

sofre problemas sérios de depressão e é moradora de rua. Além da menina, que está

acolhida na instituição, possui outro filho, Edgar, que se encontra na guarda do pai,

apenas conhecido por um apelido. Não se conhece a identidade do genitor de Evarista,

de quem os familiares supõem ser também alguém desabrigado. O pai de Antonieta,

Marcelo, fugiu de casa quando a moça tinha apenas 6 anos de idade – e aos 12, sua mãe

Margarida faleceu, sendo a menina colocada aos cuidados da avó Madalena, como

mostra o genograma.

JASON MADALENA

AGREPINAMARGARIDA EDUARDO SARA ELIZA MARCOSMAGDA DUCIOMAR ADAGIO JOEL

MARCELO

MIRIAM ANA ANTONIETA CARLA GARDENIA BRUNO CARLOS AGDA

DANIEL

EDGAR EVARISTA

CALIL LEANDRO ROSA

ÍTALO

AFONSO

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Desde pequena, Antonieta era extremamente agarrada à mãe, Margarida. Menina

chorona, em tenra idade viu seu pai se afastar da sua vida. Fugia, ora por alguns dias,

ora por muitos meses, segundo relato. Era uma família de boa condição financeira,

esposo comerciante, dono de negócios no interior. Sabe-se apenas que conflitos e fugas

iam e vinham. Marcelo, o pai, foi embora, uma vez. Voltou. Desapareceu uma segunda.

Distanciou-se uma terceira. Na quarta, jamais reapareceu. Levou consigo toda a

poupança que a família economizara no banco. O negócio perdeu espaço. Sem dinheiro

e sozinha, Margarida se viu obrigada a sustentar os seis filhos. Incapaz de encontrar

emprego na cidade interiorana em que vivia, buscou trabalho na capital, onde passou a

viver como empregada doméstica. As seis crianças ficaram aos cuidados dos avós.

Antonieta, jovem e frágil, sem entender o que se passava, chorava por duas ausências: a

do pai e da mãe. A angústia pesava também em Margarida.

Margarida lutava para que pudesse dar condições de uma vida digna à família.

Com um tempo de poupança, foi capaz de comprar um terreno, que futuramente

abrigaria ela e os filhos. Seis anos se passaram desde o desaparecimento do pai;

Antonieta, aos poucos, acostumou-se com a nova dinâmica familiar, apesar de que, nos

conta sua tia, nunca mais fora a mesma, tendo ficado arredia e ainda mais chorona. Os

avós, sempre atenciosos, cuidavam bem dos netos. No entanto, outra fatalidade:

Margarida falecera em decorrência de um acidente vascular cerebral. Já sem pai,

Antonieta viu-se também sem a mãe. A garota, antes chorona, trocou as birras pelo

silêncio, as lágrimas pelo isolamento. Já não mais saía de casa, ou se o fazia,

permanecia quase todo tempo sozinha.

Agora sem pai, a menina viu-se sem mãe. Todavia, havia uma única coisa que

Antonieta ainda se apegava. Uma sobrinha, da qual sempre cuidava e que muito adorava

tal qual se fosse uma filha. Certo dia, todos haviam saído para cuidar dos seus afazeres.

A irmã mais velha deixou a criança com Antonieta, para que a vigiasse. Uma casa

grande, onde vivia os avós e netos. Com muito zelo, a filha de Margarida olhava

atentamente a menina, que brincava. Apenas as duas estavam em casa. Decidiu ir olhar

algumas coisas em outros cômodos. Pensou em levar a criança, porém não o fez. Ao

voltar para ver como estava a filha da irmã, desesperou-se; não a encontrava em lugar

algum. Procurou-a, até encontrá-la afogada dentro de um balde. Antonieta caiu em

depressão. A família, de luto, não culpou a pobre adolescente. Esta, porém, via-se como

a única responsável por toda essa tragédia.

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O tempo passou, e já não mais aguentando a própria moradia, começou a repetir

o mesmo padrão do pai. Fugiu; fez disso um costume. Ia para rua e se envolvia com

qualquer homem que lhe desse alento. Não demorou muito e veio o primeiro filho, o

qual ela levou para rua, por medo de o tirarem. Encontrada desnutrida no meio de uma

praça, as irmãs tomaram-lhe de seus braços o primogênito. O verdadeiro pai, conhecido

da família, constatou que a criança lhe pertencia, que passou aos seus cuidados. A

segunda filha, da qual ninguém sabe quem é o genitor, esta, Antonieta não desejava que

nenhum consanguíneo a tivesse. Preteriu colocá-la aos cuidados de um abrigo, optou

por dizer a Assistente Social que não possuía parentes. Depois, voltou às ruas, lugar que

se sentia abrigada. Família que verdadeiramente ninguém poderia roubar.

b. Caso Joana

O genograma do caso Joana foi montado a partir das informações trazidas por

Karoline, tia de Letícia, bebê, que a época da entrevista possuía apenas 6 meses,

abrigada desde seu nascimento. Karoline é filha de Cintia com um homem o qual ela

não sabe o nome, que fugira de casa quando ela tinha apenas 5 anos de idade. Juntos,

Cintia e seu parceiro tiveram 4 filhos – Jordan, Gabriela, Karoline e Joana. A

entrevistada não possui qualquer informação do pai ou dos parentes destes. Pela família

da mãe, tem uma avó que ainda se encontra viva – Maria, de 67 anos e um avô já

falecido, Matheus. Maria e Matheus geraram diversos filhos, dos quais se tomou

conhecimento apenas os que se encontram vivos. São eles: Erza, Tereza, Lídia, Rodolfo,

Cintia, Rodrigo e Leonardo. Aos poucos que o genograma foi sendo formado, notou-se

que aquela família possuía muitos membros presentes, dois quais, devido o tempo

estipulado pela entrevistada, não permitiu que se conhecessem todos. Para efeitos de

praticidade, tem-se ciência apenas dos filhos de duas filhas de Maria – Cintia, que já

foram citados, e Erza, que são: Rosileide, 28 anos, um falecido que não foi mencionado

o nome, e Cícero, de 27.

Esta família é marcada por diversas intrigas, a começar pelo pai de Karoline que

deixou os filhos, quando esta possuía apenas 5 anos de idade. Por terem tido filhos

muito cedo e não serem consideradas pela própria mãe como capazes de sustentar,

emocionalmente e financeiramente, a cria, tanto Karoline quanto Erza tiveram suas

crianças tomadas pela genitora, que assumiu voluntariamente a responsabilidade pelos

novos membros da família. Rosileide e Joana estavam sempre em conflito, a primeira

com ciúme da segunda, ambas criadas pela avó. Letícia, o bebê que se encontra

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acolhido, é o quarto filho de Joana, do qual ela não cria nenhum deles. O genograma

mostra com mais facilidade as dinâmicas familiares.

MATHEUS MARIA

ERZA TEREZA LIDIA RODOLFO CINTIA RODRIGO LEONARDO

ROSILEIDE CÍCERO

JORDAN GABRIELA CAROLINE ROSILEIDE KAIKEELDA

MARIANA

JOÃO

CARLOS AMANDA JÉSSICA

MORGANA VANESSA JOSY LETICIA

Cintia, muito jovem, engravidou de um rapaz de mesma idade, com quem teve

sua primeira filha: Joana. Era uma moça que mal saíra da adolescência, não possuía

emprego e ainda morava com os pais. Maria, genitora de Cintia, assim como a filha,

transformara-se em cuidadora muito cedo; o padrão se repetia. Temerosa de que a nova

criança não fosse bem tratada, a agora avó apressou-se a ficar com a neta sob a sua

guarda. Fez o mesmo com a outra filha Erza. Enquanto que a mais velha aceitou com

resignação a “decisão” de sua mãe, o mesmo não pode se dizer de Cintia. Contragosto

aceitou que sua criança fosse levada. Tendo se envolvido com esse rapaz, não demorou

a que outros filhos viessem – Karoline foi a última. Quando esta tinha apenas 5 anos de

idade, seu pai desapareceu; ninguém sabe o paradeiro. Boatos correm apenas de que ele

se encontra no Maranhão, junto com suas irmãs. Tal situação deixou Cintia e a pequena

família em situação de extrema dificuldade. Em diversas ocasiões tiveram apenas um

teto de papelão como abrigo. Ao ver a situação da filha, a mãe Maria pensou em levar

também os outros filhos de Cintia para seus cuidados. Esta, tendo que aceitar que lhe

tomassem o primeiro, recusou-se que lhe retirassem os outros.

Nunca se soube ao certo, conta a entrevistada, se houve um confronto real entre

mãe e filha. De todo modo, Cintia nutriu certo ressentimento pelas atitudes da genitora,

por mais que fossem protetivas. Todas as noites, quando saía do trabalho, Cintia passava

na casa da mãe para ver a filha, que sempre lhe pedia para que a levasse embora. Por

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mais que tentasse, o esforço conjunto de Joana e sua mãe não foram suficientes para

aplacar a decisão de Maria.

Joana por sua vez, por mais que aceitasse sua condição, guardava

contestamentos à situação em que se encontrava. Brigas explodiam com a avó. Em um

desses acontecimentos, aos 10 anos de idade, Joana comprou a própria prisão: saiu de

casa e encontrou alguns jovens fumando droga. A jovem intrometeu-se no círculo e

pediu para experimentar o psicoativo. E como disse Karoline, que repetiu as palavras da

irmã: usou aquela vez e nunca mais conseguiu parar.

Após cinco anos depois do ocorrido, a família ficou sabendo da situação. Um

choque acometeu-os, principalmente Cintia. Joana, conforme foi crescendo, passou a

viver fora de casa. Comprometeu-se mais do que gostaria com as drogas, em que passou

a ser usuária e vendedora. Visitou cidades do interior, onde se envolveu com diversos

homens. Ao longo dessas empreitadas, teve quatro filhos: cada um com um parceiro

diferente. Nenhuma das crianças encontra-se sob a sua guarda. Por mais que desejasse

tê-los em seu recolhimento, todos lhe foram tirados pela família. Joana teve nos

parentes os firmes opositores, principalmente as tias e a filha de Erza criada também

pela avó, com quem criou certa inimizade.

Após muito tempo nas ruas, a já adulta Joana decidiu voltar à casa da avó, com

quem ficou um tempo. Recebida de braços abertos, alegria geral tomou conta dos

familiares. Todavia, situações embaraçosas levaram a expulsão da filha pródiga da

residência dos avós: a morte do avô, que debilitou a situação de Maria, e o retorno febril

de Joana ao consumo de drogas, com o agravante de estar vendendo-as dentro da

própria casa que lhe forneceu, novamente, sustento. As primas e tias, por não aceitarem

a “ingratidão”, colocaram-na para fora da moradia, o que a obrigou a voltar às ruas,

mais uma vez. Repetidas vezes, os conflitos familiares retiraram-lhe tudo o que de mais

valioso possuía: abrigo, amor e, sobretudo, reconhecimento.

4. Discussão

a. Fugiu uma vez, uma segunda, uma terceira...

Esta categoria foi criada a partir de uma série de falas que evidenciavam diversas

situações negativas que ocorreram na vida das mães das crianças abrigadas, ao

apontarem, diferentes formas de maltratos de ordem psíquicas que ocorreram no

decorrer da vida dessas genitoras, que as levaram, invariavelmente, à situação de rua.

Esta categoria foi assim chamada para ressaltar o comportamento de fuga presente na

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família. Algo premente à análise dessa categoria é fato de que tanto Antonieta quanto

Joana conviverem com as ausências paternas e maternas. Ambos os pais fugiram de

casa, sem nem ao menos se despedirem das filhas, e assim, provocaram sérios

problemas à vida de suas famílias, identificadas nas falas:

“Agora assim, toda a história da Antonieta começou ai, quando ele fugiu,

abandonou todas elas, quando eram pequenas. Ele sempre fugia, mas na quarta

vez que fugiu ele não voltou mais. E ele levou tudo embora, transferiu o dinheiro

para outra conta, deixou só as dívidas e os filhos para criar." (Caso Antonieta).

“Quando nós erámos pequenas, a gente morava de baixo de uma casa, um

barraco, só coberto, só tinha o telhado a casa, entendeu, ela tinha arranjado um

terreno em uma invasão ai no começo ela só botou o telhado e lá a gente

dormia...” (Caso Joana).

Tais acontecimentos foram os responsáveis pelo fato das crianças terem ido

morar com os avós. Subsequente a esse fato, há o conflito com a avó e o envolvimento

com drogas em tenra idade, no caso de Joana, e o falecimento da mãe e da sobrinha de

Antonieta, como pode ser visto no genograma. Anos mais tarde, ocorreu o

envolvimento destas com a vivência de rua, a relação fugaz com múltiplos parceiros, o

desfecho da gravidez e posterior acolhimento destas crianças num abrigo.

Compreende-se o fenômeno de ir à rua como o resultado de uma série de

conflitos destas mulheres com o ambiente o qual estavam submetidos, grande parte

deles iniciados devido à ausência parental, que nestes casos, ressalta-se, originou-se e

criou situações adversas no contexto em que estavam situadas. Uma pesquisa que

corrobora para este dado, realizada por Ackley, Hoyt e Whitebeck (1997), com pais e

adolescentes sobre questões relacionadas à fuga de jovens, concluiu que boa parte de

adolescentes que fugiram de casa possuíam taxas baixas de envolvimento parental, além

de grande rejeição da parte destes pelos filhos. Os dados coletados permitem concluir

que o comportamento de ir para rua é também resultado de uma repetição de padrões

transgeracionais, perpassados de pais para filhas, como bem mostra os genogramas e as

entrevistas:

“Ai ele [o pai] fugia, ficava um tempo fora sabe. Depois voltava. Ai ele fugiu a

primeira. Fugiu a terceira...” (Caso Antonieta).

Desse modo, famílias podem vir a se organizar em volta de padrões de doenças,

sintomas, vícios, entre outros malefícios (BUCHER-MALUSCHKE, 2008). A autora

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ressalta que muitos desses comportamentos são transmitidos de maneira inconsciente,

sem que os membros da família, ou até mesmo aqueles que o perpetuam, deem-se conta.

Os casos de Antonieta e Joana há duas gerações que o padrão de fugir aparece dentro do

sistema. Contudo, observa-se o ato de fugir apenas tornou-se plausível em condições

extremamente específicas – o momento em que a casa em que moravam tornou-se um

ambiente sufocante às suas existências.

Logo, chega-se a conclusão de que a fuga dos pais ocorreu da mesma forma que

os das filhas – a partir do momento em que viver com a família em que estavam não

mais lhe agradavam. Em Antonieta isso é mais visível pela morte tanto da mãe e o

trágico fim da menina que estava aos seus cuidados. Em Joana, percebe-se isso pelos

conflitos que possuía com a família. O cuidado ora negligente ora rigoroso desta avó,

neste caso, é evidente, como mostra as falas:

“[...] qual foi a reação da avó (ao descobrir que Joana usava drogas)? - “Nunca

fez nada ". (Caso Joana).

“Como posso te dizer... Fechada, ela (avó) não dava muito carinho pros filhos,

ela nunca deu muito carinho pros filhos, entendeu, se eles fizessem logo coisa

errada era logo pra bater...” (Caso Joana).

Após Antonieta e Joana terem saído de casa, sabe-se apenas que se envolveram

com múltiplos parceiros e terminaram por engravidarem. Diversas pesquisas confirmam

que mulheres moradoras de rua possuem altas probabilidades de apresentarem

comportamentos de risco, como o uso de drogas, falta de controle da natalidade

encontrou estudos ade, sexo por sobrevivência (BASSUK, BUCKNER, PERLOFF,

BASSUK, 1986; ZLOTNICK, ROBERTSON, WRIGHT, 1999). Outro ponto a ser

levantado é o fato de que muitos estudos concordam que a idade e a duração na rua são

fatores chaves para determinar a previsão de uma gravidez, assim como mulheres

negras eram mais propensas a terem filhos na rua do que brancas (RAFAELLI,

CAMPOS, MERRIT, 1993; WEITZMAN, 1989; GREENE, RINGWALT, 1998;

SHEAFF, TALASHEK, 1995). Apesar de boa parte de esses estudos terem sido

realizados nos EUA, a partir da idade e a quantidade de filhos que Antonieta e Joana

tiveram, observa-se que estes dados não são uma exclusividade da realidade americana.

Contudo, para que melhor se compreenda o tópico da gravidez, uma segunda categoria

cobrirá o tema.

b. Sem mãe e sem filho.

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Esta categoria, por sua vez, trata de outro padrão que se repete, só que dessa vez,

já tendo alcançado três gerações: a ausência da mãe. Como mostra o genograma, tanto

Antonieta quanto Joana cresceu praticamente sem a presença dos dois pais. Após todo o

desenrolar da história e a fuga destas para a rua, o resultado disto foi à gravidez e

subsequente nascimento dos filhos, e desse modo, um novo núcleo foi constituído.

Segundo os relatos, estas crianças ficaram algum tempo com as mães, antes de terem

sido colocadas ou à guarda dos parentes ou dos abrigos.

Esta realidade é melhor compreendia tendo como parâmetro uma pesquisa

realizada por Rubin, Lauriat, Bassuk (1986), que tinha por objetivo descrever as

características de famílias moradoras de rua. Observou-se que 94% desses arranjos são

liderados por mulheres, 2/3 das mães desabrigadas com filhos não possuíam vínculos

fortes com outros familiares e ¼ relatou ter apenas os filhos como laço verdadeiramente

duradouro. Em média 71% desses sujeitos desenvolveram algum tipo de doença mental.

Apesar de o estudo ter sido realizado na década de 80 do século XX, permanece

atual para a compreensão da dimensão dos dois casos desta pesquisa, tendo em vista que

Antonieta e Joana enquadram-se nessa perspectiva: além de terem desenvolvido vícios

pelas drogas e a depressão de Antonieta, sabe-se de possuírem sérios problemas com os

familiares antes e principalmente depois da gravidez. Joana teve todos os seus filhos

colocados sob a guarda das primas e tias, com quem nunca teve uma boa relação com

algumas delas, como corrobora o genograma. Antonieta, por sua vez, foi veemente em

não entregar a guarda da segunda filha aos parentes próximos. Preteriu doá-la a outras

pessoas, como mostra os dados:

“Ai foi... Disseram que não dava, por que a Antonieta não queria que levassem

ela, ela quer que seja entregue a um casal, que ta ai, que quer adotar a criança,

têm condições, isso e aquilo..." (Caso Antonieta).

Além das intrigas culminarem em um maior afastamento por parte das duas

protagonistas dos seus arranjos familiares mais próximos, resultou também na precoce

separação das mães moradores de ruas com seus filhos. Tanto uma como a outra

perderam a guarda de todas as crianças que tiveram, o que reforça os resultados

encontrados por Crawford, Trotter, Hartshorn e Whitbeck (2011) que mostram que

cerca de apenas metade das mães desabrigadas possuem contato regular com sua prole e

1/5 nunca nem se quer viu seus filhos.

A perda da guarda das crianças por parte dessas mães, neste caso em específico,

não apenas representa uma causalidade da situação em que se encontram, porém,

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apresenta outro fator que a própria família não se deu conta, a repetição de outro padrão

transgeracional: a ausência da mãe. Ambas as mulheres perderam contato com suas

genitoras em tenra idade, e suas filhas, mais cedo ainda. Em Joana, isso é visível a partir

do momento em que foi tomada às forças para ser cuidada pela sua avó, e o mesmo a

ocorreu com seus filhos. Com Antonieta, o caso foi um pouco mais complexo: o

primeiro filho foi-lhe tirado, enquanto que a segunda, praticamente doada. Por todas as

dores e perdas que sofrera e a incapacidade de ser corresponder ao ideal de uma boa

mãe, a mãe que foi praticamente abandonada quando criança também abandonou.

(COELHO, FILHO, MORSCH, LAMY, FERNANDES, 2011).

5. Conclusão

Este estudo apresenta dois casos que em primeiro momento podem vir a parecer

distintos, porém guardam singularidades e padrões que necessitam de melhor

compreensão. Não obstante, tanto as histórias de Antonieta quanto Joana colaboraram

para a conclusão de diversas pesquisas, no que diz respeito a pontos relacionados à

questão de gênero entre parentes e transmissão intergeracional. Todavia, o que se

salienta é não somente os conflitos familiares e as sucessivas perdas e frustrações aos

quais estes dois sujeitos foram submetidos. Aponta-se para a relação de eventos

aparentemente distintos que, porém, culminaram na desagregação das relações que estas

mulheres possuíam com a família. Assim, percebe-se que a conexão entre tais ocorridos

– a fuga do pai, a falta de contato com a mãe, a morte de uma sobrinha ou o uso de

drogas – não está na contiguidade que estas situações apresentam, mas sim, nas relações

que revelam e as dinâmicas intrapessoais que se mostram nas diversas gerações.

Nota-se, dessa maneira, que os percursos das duas protagonistas dessas estórias

obliteram para um caso muito específico da sociedade, contudo, possivelmente

recorrente e encontrado em outros ambientes: uma relação de cuidado criada pelo

cuidado negligente. Tem-se em vista, desse modo, como a sequência de eventos

desestabilizadores estruturaram tanto Antonieta quanto Joana para que se adequassem

ao convívio da rua. Pode-se inferir quão paradoxal tal afirmativa aparenta. Não

obstante, aponta-se para o fato de que dadas todas as perdas que tais pessoas sofreram, a

rua mostrou-se como atraente, na medida em que ofereceu um espaço o qual, pelo

menos ilusoriamente, não pode ser perdido – algo muito diferente da família. Afinal, a

pior das alternativas pode ser a única opção viável e mais ou menos confortável para

todos aqueles que experimentaram o quanto doloroso pode ser lidar com a falta de

carinho e afeto.

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Parecer do Orientador

O discente desenvolveu sua pesquisa de acordo com o tempo previsto. No desempenho

de seu trabalho executou de forma responsável segundo as recomendações éticas. O

discente já preparou dois artigos para ser enviado (um de revisão de literatura e outro

empírico). Considero o trabalho excelente por atender os critérios previstos no plano de

trabalho e pelo desempenho acadêmico.

Belém, 10 de agosto de 2015

Janari da Silva Pedroso