velloso, 2009

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  • Cotistas e no-cotistas...

    621Cadernos de Pesquisa, v. 39, n. 137, maio/ago. 2009Cadernos de Pesquisa, v.39, n.137, p.621-644, maio/ago. 2009

    COTISTAS E NO-COTISTAS: RENDIMENTO DE ALUNOS DA

    UNIVERSIDADE DE BRASLIA1

    JACQUES VELLOSOPesquisador colaborador da Faculdade de Educao da Universidade de Braslia e

    pesquisador snior do Ncleo de Estudos sobre Ensino Superior da Universidade de Braslia

    [email protected]

    RESUMO

    O texto discute o rendimento no curso de trs turmas de alunos que ingressaram na Universidade de Braslia em 2004, 2005 e 2006, mediante vestibulares com dois sistemas de seleo, o de reserva de 20% das vagas para negros e o tradicional, de livre competio. Compararam-se as mdias das notas de dois grupos de alunos em cada carreira, cotistas e no-cotistas, considerando o nvel de prestgio social do curso e sua rea do conhecimento do vestibular Humanidades, Cincias e Sade. Em linhas gerais, no conjunto das trs turmas de cada rea, os resultados mostraram que em aproximadamente dois teros ou mais das carreiras no houve diferenas expressivas entre as mdias dos dois grupos ou estas foram favorveis aos cotistas apesar de exceo num nico ano, nas Cincias. A principal tendncia constatada, que encontrou eco em evidncias empricas de outras instituies, foi a da ausncia de diferenas sistemticas de rendimento a favor dos no-cotistas, contrariando previses de crticos do sistema de cotas, no sentido de que este provocaria uma queda no padro acadmico da universidade. ENSINO SUPERIOR AVALIAO DA APRENDIZAGEM UNIVERSIDADE DE BRASLIA RAA

    ABSTRACT

    QUOTA AND NON-QUOTA SYSTEM: PERFORMANCE OF STUDENTS AT UNIVERSITY OF BRASLIA. The text deals with the academic achievement of three cohorts of students who entered the University of Braslia in 2004, 2005 and 2006, by means of entrance exams involving two selection processes: a 20% quota for black students and traditional evaluation procedures. Achievement was measured by the average grades obtained in courses followed by

    Parte deste estudo foi financiada pela Fundao Ford. Agradecemos ao Centro de Estudos e Promoo de Eventos da Universidade de Braslia Cespe/UnB pelos microdados cedidos e a Claudete Cardoso, por sua inestimvel contribuio em vrias etapas do trabalho.

    TEMAS EM DEBATE

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    two groups of students in each career, those from the quota system and those from the non-quota system. Careers were classified according to their social prestige and their areas in the entrance exams Humanities, Sciences and Health. Broad data trends indicated that, for the three cohorts in all areas, in approximately two thirds (or more) of the careers there were no meaningful differences between the average grades of the two groups, or these were favorable to students from the quota system; an exception, in one single year, was in the Sciences area. Main trends observed, echoed by empirical evidence from other universities, indicated an absence of systematic achievement differences in favor of non-quota students, thus opposing forecasts that the quota system would lead to decreasing academic standards in higher education, as voiced by many criticisms of the system.HIGHER EDUCATION STUDENT EVALUATION UNIVERSITY OF BRASILIA RACE

    As cotas nos exames de seleo para a educao superior surgiram no ce-nrio das universidades pblicas brasileiras h cinco anos, em 2003. Inicialmente na modalidade de reserva de vagas para egressos da escola pblica, contendo, no interior destas, cotas para negros e, em alguns casos, para indgenas. No ano seguinte, em 2004, foram implantadas na Universidade de Braslia UnB , na modalidade de reserva de vagas para negros. Ao longo de poucos anos ampliou-se rapidamente a adoo do sistema de reserva de vagas no pas. Em novembro de 2008, enquanto se finalizava a elaborao deste artigo, em Braslia a Cmara dos Deputados aprovava projeto de lei estabelecendo, nas instituies federais de educao superior, cotas de 50% das vagas para jovens oriundos da escola pblica no ensino mdio e para negros e indgenas.

    Uma das crticas reserva de vagas baseia-se no argumento de que de-ficincias na formao escolar anterior dos cotistas consistiriam em ameaa qualidade do ensino universitrio. O argumento tem fundamento lgico: se os cotistas tivessem idnticas chances de competio nos vestibulares, a reserva de vagas careceria de sentido. Resultados do vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Uerj , por exemplo, uma das primeiras a implementar um sistema de cotas, poderiam sustentar esse argumento. No primeiro vestibular da instituio com cotas, em dez de seus cursos, segundo relato de Santos (2006), ingressaram cotistas que obtiveram entre quatro e sete pontos nos exames, de um total de 110 possveis um nvel de desempenho extremamente baixo.

    Mas o argumento no tem encontrado apoio em dados empricos sobre o rendimento no curso de cotistas em vrias universidades, como nos obtidos para a Universidade do Estado da Bahia Uneb. Na Uneb, as m-

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    dias de rendimento dos alunos que haviam concorrido pela reserva de vagas para negros, em uma amostra de 11 departamentos, geralmente se situavam apenas alguns dcimos de pontos abaixo das obtidas pelos demais estudantes; em dois departamentos, foram superiores tambm por alguns dcimos s dos outros alunos (Mattos, 2006). Noutra universidade do mesmo estado, a Universidade Federal da Bahia UFBA , os estudantes que ingressaram pelas cotas (para egressos da escola pblica e, dentro destas, para negros) tiveram rendimento igual ou superior ao dos demais alunos em 61% dos 18 cursos mais valorizados (Queiroz, Santos, 2006).

    A evidncia preliminar obtida para a UnB tambm no chegava a sus-tentar aquele argumento, igualmente dissipando temores de uma forte queda na qualidade do ensino como consequncia inelutvel da introduo das cotas para negros. Os resultados do primeiro semestre de estudos dos aprovados na UnB em 2004 revelaram que, no conjunto de todos os alunos, mais de 1/3 dos cotistas se situavam na metade superior da distribuio do ndice de rendimento acadmico em seus respectivos cursos, ao lado dos melhores estudantes aprovados pelo sistema universal (Velloso, 2006)1.

    Aqueles mesmos dados da UnB indicavam que os cotistas aprovados constituam uma elite social no interior de seu segmento, ainda que uma segun-da elite quando comparada dos no-negros universitrios. Esse trao do perfil dos cotistas conferia a muitos estudantes condies de um bom rendimento na universidade, melhores do que antes se antecipava. Com efeito, a seleo socioeconmica realizada pelo filtro do vestibular, amplamente documentada na literatura sobre o ingresso na educao superior, como reitera recente estudo de Dias et al. (2008) para a Universidade Federal de Minas Gerais, natural-mente se verifica tambm para os cotistas da UnB. Nesta, entre candidatos cotistas ao vestibular para os segundo semestre de 2004, 17% tinham me com nvel superior, ao passo que entre os aprovados essa frao ascendia a 30%, quase o dobro. De modo anlogo, entre candidatos negros da mesma coorte, 27% haviam frequentado escola privada no ensino mdio, ante 40% dos aprovados2. Processo semelhante foi documentado na Universidade de

    1. Resultados semelhantes foram obtidos por Cunha (2006), com a mesma fonte de dados e classificao dos nveis de rendimento um pouco diferente.

    2. Para melhor situar a posio social dos cotistas aprovados, considere-se que os concluintes do ensino mdio privado no Distrito Federal em 2003 correspondiam a apenas 26% do total,

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    So Paulo, por exemplo, instituio na qual no existe reserva de vagas, mas onde a probabilidade de aprovao cresce conforme aumenta a classe socio-econmica de pretos e pardos, e tambm dos membros dos outros grupos de cor (Guimares, 2003).

    Neste texto analisa-se o rendimento de trs turmas de alunos cotistas e no-cotistas, que ingressaram na UnB em 2004, 2005 e 2006. Desejava-se saber se, em cada coorte de estudantes, os que concorreram pelas cotas tinham rendimento diverso dos que se candidataram pelo sistema de ingresso tradicional, e se havia diferenas de desempenho entre elas. Na prxima seo abordam-se os procedimentos adotados. Na seo seguinte analisam-se os resultados obtidos por rea do conhecimento do vestibular da UnB: Humani-dades, Cincias e Sade. Na ltima, apresenta-se uma breve nota final.

    PROCEDIMENTOS

    O desenho original da pesquisa pretendia comparar cotistas e no-cotistas de extrao social semelhante, em virtude da influncia que variveis socioeconmicas podem exercer sobre o desempenho no vestibular e o rendimento no curso (uma outra parte do estudo dedicou-se ao desempenho nos vestibulares). O questionrio socioeconmico que deveria ser preenchido na inscrio para o vestibular de 2004 foi respondido por mais de 90% dos candidatos cotistas, porm somente por 53% dos que concorreram pelo sis-tema universal. Nas duas outras coortes as taxas de resposta dos candidatos seleo tradicional foram cada vez menores, inviabilizando as comparaes originalmente pretendidas. Como um substituto das variveis socioeconmicas antes contempladas, neste estudo utilizou-se um agrupamento de cursos para cada uma das trs reas do conhecimento do vestibular da UnB, em duas categorias de prestgio social (maior e menor prestgio), resultando em um total de seis categorias. O prestgio social dos cursos costuma estar associado ao nvel socioeconmico de seus alunos, como revela a literatura sobre o

    segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaionais/Ministrio da Educa-o Inep/MEC. No conjunto dos alunos matriculados em 2004 em instituies federais de educao superior, 43% deles eram originrios de escola privada no ensino mdio, conforme dados compilados por Seiffert e Hage (2008).

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    tema3. As categorias assim definidas serviram, portanto, como proxy do nvel socioeconmico dos candidatos (Velloso, 2007)4.

    Na rea das Humanidades, no grupo de maior prestgio social (Hu-manidades-1), situaram-se cursos como Administrao, Arquitetura, Direito, Comunicao Social; no grupo dos menos valorizados (Humanidades-2), Contabilidade, Filosofia, Letras e Pedagogia. Na rea de Cincias, no grupo dos mais valorizados (Cincias-1), carreiras ilustrativas so Biologia, Com-putao, Engenharia Mecatrnica, Fsica (Fsica Computacional); no grupo das menos valorizadas (Cincias-2), Agronomia, Geologia, Licenciaturas em Fsica e em Matemtica. Na rea da Sade, no grupo de maior prestgio (Sade-1), situaram-se Medicina, Farmcia e Odontologia e, no de prestgio social relativamente menor (Sade-2), carreiras como Enfermagem, Educao Fsica e Nutrio.

    As populaes do estudo so integradas por trs coortes de alunos da UnB que ingressaram em vestibulares para o segundo semestre letivo de 2004, 2005 e 2006, abrangendo 1.942, 1.923 e 1.943 estudantes, respectivamente. Nesses universos, os estudantes cotistas so os que se inscreveram no sistema de reserva de vagas e, os no-cotistas, os que concorreram pelo vestibular tradicional, oficialmente chamado sistema universal5. Nos vestibulares para

    3. Consulte-se, por exemplo, Braga et al. (2001), Silva e Koschi (1995).

    4. A agregao utilizada no texto uma simplificao da que foi originalmente elaborada para uma anlise do desempenho no vestibular, e constituda por trs categorias de prestgio social (alto, mdio e baixo) em cada rea. O agrupamento original foi construdo com base nas mdias do desempenho no vestibular (argumento final) para cada curso e dos respectivos desvios padro. O agrupamento mostrou-se muito satisfatrio do ponto de vista de sua associao com a renda per capita familiar da regio administrativa do Distrito Federal em que residiam os alunos, por ocasio do vestibular que os aprovou em 2005. Os dados so oriundos de levantamento oficial do governo em 2004 e aplicveis a mais de 90% dos estudantes. Nas Humanidades, as diferenas de renda entre o grupo de alto prestgio e o de baixo prestgio eram de 48%; nas Cincias, de 30%; na Sade, de 45%. Na agregao simplificada, em cada categoria de alto prestgio incluram-se os cursos cuja mdia do argumento final estava acima da mdia da categoria de mdio prestgio; nas de baixo prestgio incluram-se os cursos cuja mdia do argumento final era igual ou menor que a mdia da categoria de baixo prestgio.

    5. A inscrio de um candidato cotista que se autodeclarava negro dependia, para sua homo-logao, de parecer sobre fotografia feita pela universidade; recentemente a fotografia foi substituda por uma entrevista, que decerto ser criticada pelos que corretamente entendem, como Carvalho (2005), que a auto-declarao da condio de negro (em vez de preto ou pardo) tem um sentido poltico que dispensa certificao posterior.

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    ingresso no segundo semestre letivo, desde 2004 a UnB reserva 20% das vagas para os candidatos autodeclarados negros6.

    O rendimento de cada aluno dado pela mdia das notas obtidas nas disciplinas que seguiu, isto , pelos equivalentes numricos dos conceitos (ou menes) logrados7. Os resultados apresentados nos grficos adiante se referem s mdias das notas dos estudantes cotistas e dos no-cotistas, por curso. Para a coorte de 2004, as notas dizem respeito a todas as disciplinas que seguiram em cinco semestres; para a de 2005, a trs semestres e, para a de 2006, a um nico semestre (nesta, portanto, os dados devem ser tidos como preliminares).

    RENDIMENTO NO CURSO DE TRS COORTES DE ALUNOS: COTISTAS E NO-COTISTAS

    Na discusso adiante buscou-se responder a duas perguntas. Existem diferenas entre as mdias das notas obtidas nos cursos da UnB, por cotistas e no-cotistas e, se existem, a quem favorecem? O panorama do rendimento dos estudantes variou entre as trs coortes estudadas?

    Humanidades

    Os resultados para as trs coortes de alunos do grupo 1 das Humanida-des (cursos de maior prestgio social) esto apresentados no grfico 1. O grfico foi construdo ordenando-se da menor para a maior, em cada turma, as mdias das notas dos no-cotistas em cada curso (os demais grficos seguem o mesmo critrio de construo). No intuito de simplificar a apresentao dos resulta-dos, incluram-se nos grficos apenas os cursos nos quais a diferena entre a

    6. Na seleo para o primeiro semestre letivo, metade das vagas destinada aos candidatos que seguiram o Programa de Avaliao Seriada (veja-se, por exemplo, Borges, Carnielli, 2005) e, da metade restante, 20% so reservadas para as cotas. A competio entre cotistas obviamente mais intensa no vestibular para o primeiro semestre quando, de fato, a reserva de vagas corresponde a 10% do total ofertado; assim, os resultados para as turmas que entram no segundo semestre discutidos neste texto no so comparveis aos dos que ingressam no primeiro semestre.

    7. Os conceitos atribudos e seus equivalentes numricos so: SS, superior=5; MS, mdio superior=4; MM, mdio=3; MI, mdio inferior=2; II, inferior=1; SR, sem rendimento=0. O aluno reprovado em uma disciplina quando obtm conceito abaixo de MM.

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    mdia dos cotistas e a dos no-cotistas foi igual ou maior que 5%. Em todas as coortes naturalmente observa-se uma curva com tendncia ascendente para os alunos que concorreram pelo sistema universal resultado necessrio do critrio usado na construo do grfico. Na coorte de 2004, nas carreiras mais valorizadas, a curva das notas do segmento dos cotistas em geral se situa abaixo da curva do rendimento dos no-cotistas, indicando que aqueles tenderam a ter notas menores que seus colegas do outro segmento. Mas isso ocorreu em somente sete pouco mais da metade dos 13 cursos do grupo. Nos demais as diferenas foram diminutas, inferiores a 5% ou mesmo nulas. As diferenas expressivas e favorveis aos alunos que concorreram pelo universal variaram de 7% (Arquitetura) a 25% (Economia). J no curso de Histria a distncia foi na direo oposta: a mdia dos cotistas superou a dos no-cotistas em 10%.

    GRFICO 1 MDIAS DAS NOTAS OBTIDAS POR ALUNOS DE CURSOS SELECIONADOS EM HUMANIDADES-1 DA UNB, SEGUNDO O CURSO FREQUENTADO, O SISTEMA

    DE INSCRIO E TURMAS DE 2004,2005 E 2006

    Fonte: Microdados de Cespe/UnB e Cardoso, 2008.

    Entre os alunos das Humanidades-1 que ingressaram em 2005, os resultados j so profundamente diversos. A curva das notas dos cotistas se situa acima da referente aos no-cotistas em vrios cursos (segundo par de curvas do grfico 1), e ponderveis diferenas foram observadas em nove das

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    13 carreiras. Nesse grupo de cursos de maior prestgio social, os estudantes que concorreram pela reserva de vagas em 2005 tiveram rendimento melhor que o de seus colegas em seis das nove carreiras, invertendo o padro da tur-ma anterior. As diferenas a favor dos cotistas oscilaram entre 7% e 19% (de Arquitetura a Histria), ao passo que distncias favorveis ao outro segmento tiveram variaes entre 7% e 30% (Letras-Traduo e Administrao-N, respectivamente). Portanto, nos cursos mais valorizados da coorte de 2005 ocorreu ntida elevao do desempenho dos cotistas, comparativamente ao da coorte do ano anterior. A questo ser retomada.

    Na coorte de 2006 registrou-se nova mudana no padro do rendi-mento dos estudantes do grupo 1 das Humanidades. Em oito dos 13 cursos houve diferenas de peso entre as notas dos dois segmentos, favorecendo os no-cotistas, com mdias entre 6% e 41% maiores (de Comunicao Social a Letras-Traduo). J para os cotistas as mdias foram 5% e 10% maiores em dois cursos (novamente Arquitetura e Histria).

    Considerem-se agora as tendncias do rendimento dos alunos das trs turmas do outro grupo de cursos das Humanidades, que envolve as carreiras de menor prestgio social (grupo 2). Os dados esto ilustrados no grfico 2. Na turma de 2004, houve diferenas ponderveis em 16 dos 20 cursos, amplamente a favor dos cotistas. Os alunos que concorreram pela reserva de vagas tiveram performance superior em 10 (ou 63%) desses 16 cursos. As distncias nas notas favorveis aos cotistas comearam em 5% (licenciatura em Letras-Portugus como Segunda Lngua) e alcanaram 43% (licenciatura em Letras-Espanhol-N). Nos seis cursos em que os alunos do universal alcanaram notas melhores, as diferenas variaram entre 5% (Contabilidade-N) e 36% (licenciatura em Artes Plsticas-N).

    Na turma de 2005 houve diferenas expressivas tambm em 16 dos cur-sos, porm ainda mais favorveis aos cotistas, abrangendo 12 carreiras (75%). As distncias foram de 6% at 35% (do bacharelado/licenciatura em Letras-Ingls licenciatura em Letras-Portugus-N). Entre estudantes do universal, suas mdias superaram as de seus colegas em quatro cursos, com diferenas oscilando entre 6% e 29% (da Pedagogia Arquivologia-N).

    Na turma mais recente, a de 2006, o padro das diferenas foi parecido ao da primeira turma com cotas, embora num menor nmero de carreiras: em 13, das 20 do grupo. Os alunos da reserva de vagas lograram melhor per-formance em nove dos 13 cursos (69%), com distncias variando entre 7%

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    e 19% (da licenciatura em Artes Cnicas licenciatura em Msica). No polo oposto, os estudantes do universal tiveram mdias de 8% a 32% maiores em quatro cursos (da licenciatura/bacharelado em Letras-Ingls Contabilidade).

    No balano das comparaes entre cotistas e no-cotistas para o conjunto da rea das Humanidades, nas trs coortes, os dados no so desfavorveis aos cotistas, ainda que nas carreiras mais valorizadas a tendncia tenha sido de notas maiores para os alunos do vestibular universal. Na turma de 2004, no conjunto dos 33 cursos, os cotistas se houveram melhor em cerca de 1/3 deles e em 27% as diferenas entre os dois segmentos foram nulas ou muito pequenas. Na turma de 2005, os cotistas obtiveram maiores mdias em 55% das 33 carreiras, e em aproximadamente 1/4 desse total as diferenas foram desprezveis ou iguais a zero. Na turma de 2006, os cotistas lograram maiores notas em 1/3 do conjunto dos cursos, e em 36% do total as diferenas foram nulas ou desprezveis.

    Concluindo a discusso para as Humanidades, convm somar as por-centagens dos resultados favorveis aos cotistas com os percentuais de cursos em que no houve diferenas ponderveis entre as notas. Efetuando a soma para cada uma das turmas, em ordem cronolgica tem-se 61%, 79% e 70%.

    GRFICO 2 MDIAS DA NOTAS OBTIDAS POR ALUNOS DE CURSOS SELECIONADOS EM

    HUMANIDADES-2 DA UNB, SEGUNDO O CURSO FREQUENTADO, O SISTEMA DE INSCRIO E TURMAS DE 2004, 2005 E 2006

    Fonte: Microdados do Cespe/UnB e Cardoso, 2008.

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    Assim, para essas trs turmas da rea das Humanidades, que respondem por mais da metade do total das matrculas da UnB na graduao, em termos de diferenas substantivas no rendimento as que realmente importam no se evidenciou superioridade de rendimento dos no-cotistas, embora assim previssem os crticos do sistema de cotas.

    Resultados parecidos foram encontrados noutras universidades. Na Uni-versidade do Norte Fluminense Uenf , por exemplo, que possui cotas separadas para alunos negros e para estudantes oriundos da escola pblica, no curso de Cincias Sociais os no-cotistas tiveram mdia 10% maior que os cotistas negros, mas na Pedagogia as mdias foram praticamente idnticas (Brando, Matta, 2007). Na UFBA, em que as cotas para negros fazem parte de uma reserva maior para alunos oriundos da escola pblica, em carreiras bem concorridas das Humanidades, como Arquitetura, Comunicao Jornalismo, Comunicao Produo Cultural e Direito, o rendimento dos cotistas em dois semestres de 2005 foi superior ao dos no-cotistas, conforme dados de Queiroz e Santos (2007). Na rea de Humanidades, portanto, os dados da UnB e de outras instituies deitam por terra as crticas reserva de vagas baseadas no argumento de que as cotas ameaariam ruir o padro de ensino na universidade.

    No balano feito para as Humanidades na UnB, chamou ateno a relativa semelhana dos resultados entre a coorte mais antiga e a mais recente, assim como o notvel aumento do nvel de rendimento dos cotistas da turma de 2005 em relao de 2004. Quais seriam as possveis origens desse aumento? Os dados da pesquisa mostraram que, para os estudantes da reserva de vagas das Humanidades, entre as turmas de 2004 e 2005, o perfil socioeconmico sofreu forte deslocamento para cima: a proporo de estudantes cotistas cuja me tem nvel superior, por exemplo, saltou de 34% para 44%. Com esse deslocamento, os perfis sociais de cotistas e no-cotistas teriam se aproximado. A literatura recente sobre o ensino superior, reiterando achados anteriores, tem documentado uma forte influncia das caractersticas socioeconmicas dos estudantes sobre o rendimento, como em estudos com dados do Exame Nacional de Cursos ENC , o conhecido Provo (Burlamaqui, 2005; Diaz, 2007). A elevao do perfil socioeconmico dos cotistas da turma de 2005 contribuiria nesse caso para explicar a melhoria de seu rendimento no curso.

    Entretanto, um exame mais acurado dos dados mostrou que entre alunos do vestibular tradicional tambm poderia ter ocorrido marcante elevao de

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    seu perfil social entre 2004 e 2005. Essas informaes so pouco confiveis, devido baixa taxa de respostas desses estudantes ao questionrio sociocultu-ral. De todo modo, entre os respondentes no-cotistas das Humanidades da turma de 2004, 45% teriam me com nvel superior, ao passo que na turma do ano seguinte a proporo subiria para 73%. Tais dados, apenas sugestivos porque pouco confiveis se tomados em conta implicariam descartar a hiptese de que a mudana no nvel socioeconmico dos cotistas seria um dos fatores responsveis pela melhoria de seu rendimento na turma de 2005.

    Esse descarte, no entanto, se baseia na suposio de efeitos lineares da condio socioeconmica do alunado sobre o seu rendimento na universidade. Analisando dados do Provo para Administrao, Direito e Engenharia Civil em 2000, Diaz (2007) encontrou um padro no-linear no impacto da renda familiar sobre o rendimento dos alunos. Em seus dados, o desempenho dos formandos da faixa intermediria de renda (10 a 20 salrios-mnimos) no diferiu do obtido pelos estudantes da mais alta faixa de renda; estes, por sua vez, tive-ram mdia menor que os formandos da faixa de renda imediatamente anterior. Efeitos no-lineares como esses so compatveis com os dados para as notas e para o perfil social dos dois segmentos de alunos das coortes de 2004 e 2005, neste estudo. Admita-se que os estudantes de ambos os segmentos da turma de 2005 tenham sofrido um deslocamento para cima em seus perfis sociais, comparativamente aos da turma anterior. Como os no-cotistas da turma de 2004 j possuiriam uma condio socioeconmica privilegiada em relao aos cotistas, possvel que o aparente deslocamento em 2005 os tivesse situado em um patamar no qual variaes na extrao social exercessem efeitos muito pequenos sobre as notas. Para os no-cotistas, ao contrrio, o deslocamento em 2005 teria tido efeitos positivos sobre as notas. Nesse cenrio, a elevao do perfil social dos cotistas seria em parte responsvel pelo melhor rendimento da turma de 2005.

    Na turma de 2006 o desempenho dos cotistas das Humanidades, com-parado ao dos no-cotistas, foi mais parecido com o da coorte de 2004 que com o da turma de 2005, conforme se constatou. Qual seriam as possveis origens dessas oscilaes?

    Como no se dispem de dados confiveis sobre caractersticas socioeco-nmicas do alunado da turma mais recente, recorreu-se a simulaes que foram feitas noutra oportunidade, nas quais se identificaram as chances de aprovao

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    de candidatos autodeclarados negros caso no existisse a reserva de vagas na UnB (Velloso, 2007). Indagava-se nessas simulaes: para os candidatos que se inscreveram na reserva de vagas, quais seriam suas probabilidades de aprovao na UnB, caso as cotas no tivessem sido institudas? Na rea das Humanidades como um todo, cerca de 9% dos aprovados em 2004 seriam negros; a reserva de vagas, portanto, mais que dobrou suas chances de ingresso na universidade. Na turma de 2005, cerca de 16% dos aprovados seriam negros, nvel bem pr-ximo da proporo das cotas. Na coorte do ano seguinte, conforme resultados obtidos por Cardoso (2008), entre os aprovados 8% seriam negros, dado que praticamente idntico ao da simulao para o primeiro vestibular com cotas. Essas oscilaes acompanham de perto as variaes no rendimento de cotistas em relao ao de no-cotistas nas trs coortes, h pouco discutidas, dando alento hiptese de que nveis diversos de preparo para estudos universitrios tais como aferidos pelo vestibular se refletiriam, mais tarde, em distncias no rendimento dos estudantes em seus cursos.

    Outras evidncias contudo, contrariavam essa hiptese. Na turma de 2004, em cursos de maior prestgio como Direito e Cincia Poltica, por exem-plo, as chances de aprovao dos candidatos negros no vestibular, conforme as simulaes, eram em torno de 11% das vagas ofertadas, ao passo que as mdias das notas dos estudantes de ambos os segmentos nos respectivos cursos foram virtualmente idnticas. J em Histria, s 3% das vagas do curso seriam ocupadas por cotistas, caso a reserva inexistisse, porm a mdia das notas dos cotistas superou em 10% a do outro segmento. Na turma de 2005, as chances de ingresso de negros em cursos mais valorizados foram bem maiores que na de 2004, o que em larga medida explicaria o melhor rendimento dos cotistas aprovados. Mas na turma de 2005 da Economia, por exemplo, somente 6% das vagas seriam preenchidas por candidatos negros caso a reserva inexistisse, enquanto os dois segmentos tiveram rendimento praticamente idntico no curso. Na turma de 2006, em Arquitetura e em Desenho Industrial nenhum candidato negro seria aprovado sem o sistema de cotas (Cardoso, 2008). Mas as diferenas entre as mdias dos dois segmentos favoreceram os cotistas naquele curso em 5% e foram nulas neste. Em cursos menos valorizados a ocorrncia de situaes como essas foi igual ou ainda mais frequente, em todas as turmas de alunos.

    Por que em carreiras socialmente valorizadas como as referidas, e noutras mais, mesmo com pequenas chances de aprovao sem a reserva de vagas, em

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    vrios cursos o rendimento dos cotistas se equiparou ou superou o de colegas do outro segmento? bem possvel que parte dos alunos que concorreram pe-las cotas, valorizando a aprovao na universidade qual no teriam acesso sem a reserva de vagas, tenham se empenhado mais a fundo nos estudos, buscando vencer lacunas da formao anterior, menos freqentes entre seus colegas do universal, que no mais das vezes passaram por experincias educacionais de melhor qualidade na educao bsica, tendo assim melhor preparo para a formao universitria, tal como medido pelo desempenho no vestibular. Em recente pesquisa realizada com alunos cotistas da UnB essa hiptese encontrou apoio nas entrevistas realizadas, pois se constatou que os estudantes cotistas geralmente atribuam grande importncia vaga conquistada na universidade, o que aumentou sobremodo sua autoestima (Holanda, 2008)8. E esta, como se sabe, um importante fator para o bom rendimento.

    Cincias

    Os resultados para a rea de Cincias divergem bastante dos encontra-dos para as Humanidades. No grupo de carreiras socialmente mais prestigiadas (Cincias-1), na coorte de 2004, o rendimento mdio dos cotistas em cada curso foi sempre inferior ao dos alunos do universal, como ilustra o grfico 3. Em oito dos nove cursos do grupo houve diferenas de 5% ou mais a favor dos alunos que concorreram pelo vestibular universal, com distncias desde 6% (Engenharia Eltrica) a excepcionais 164% (Engenharia Civil). Na turma de 2004, nas carreiras mais concorridas, no restam dvidas quanto ampla superioridade do rendimen-to dos que se inscreveram no sistema universal. Resultados semelhantes foram encontrados em cursos das engenharias na UENF (turma de 2003). Naquela instituio, os estudantes no-cotistas de Engenharia de Explorao e Produo de Petrleo lograram mdia expressivamente maior que os cotistas negros, o mesmo ocorrendo no curso de Engenharia Metalrgica (Brando; Matta, 2007).

    Nesse grupo de carreiras, na turma de 2005, houve trs tipos de altera-es em relao turma do ano anterior. Diminuiu a frequncia de diferenas expressivas entre as mdias dos dois segmentos, que passaram a abranger

    8. A propsito de percepes de estudantes cotistas (jovens negras) da UnB sobre o sistema de cotas da universidade, consulte-se tambm Weller (2007).

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    apenas cinco dos nove cursos do grupo; as distncias entre os dois segmentos tambm se reduziram; os cotistas tiveram mdia 5% maior que os no-cotistas em um curso (licenciatura em Biologia-N), comparativamente a nenhum na turma anterior. Nas outras trs carreiras os estudantes do universal superaram as notas do outro segmento em cerca de 20% (bacharelado/licenciatura em Biologia-N, Engenharia Mecnica e Engenharia Eltrica).

    Na turma de 2006 ocorreu nova alterao no padro das diferenas, que voltaram a se alargar, sem no entanto atingir a amplitude observada na coorte mais antiga. Nos cinco cursos em que houve diferenas ponderveis nas notas, os alunos do universal obtiveram melhores mdias que seus cole-gas, com distncias entre 12% e 41% (Engenharia Eltrica e Engenharia Civil).

    Considerem-se agora as tendncias nas turmas do grupo de cursos de menor prestgio da rea (Cincias-2), ilustradas no grfico 4, e muito distintas das registradas nos cursos de maior prestgio. Na turma de 2004, em sete das dez carreiras do grupo houve diferenas expressivas entre as mdias dos dois segmentos. Duas delas, favorveis aos cotistas, com mdias 5% e 21% maio-res (Geologia e licenciatura em Matemtica-N), e cinco delas, favorveis aos no-cotistas, com distncias variando de 18% a apreciveis 112% (Engenharia Florestal e Estatstica).

    GRFICO 3 MDIAS DAS NOTAS OBRIDAS POR ALUNOS DE CURSOS SELECIONADOS

    EM CINCIAS-1 DA UNB, SEGUNDO O CURSO FREQUENTADO, O SISTEMA DE INSCRIO E TURMAS DE 2004, 2005, 2006

    Fonte: Microdados do Cespe/UnB e Cardoso, 2008.

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    GRFICO 4 MDIAS DAS NOTAS OBTIDAS POR ALUNOS DE CURSOS SELECIONADOS

    EM CINCIAS-2 DA UNB, SEGUNDO O CURSO FREQUENTADO, O SISTEMA DE INSCRIO E TURMAS DE 2004, 2005 E 2006

    Fonte: Microdados do Cespe/UnB e Cardoso, 2008.

    No contingente que ingressou em 2005 ocorreu uma radical transfor-mao. Houve diferenas de peso entre as notas na metade dos dez cursos do grupo. Em todos eles, como mostram nitidamente as curvas do grfico 4, os cotistas obtiveram rendimento melhor que o de seus colegas, com distncias entre 8% e 19% (bacharelado em Qumica e licenciatura em Computao-N).

    Alterao no mesmo sentido ocorreu tambm nas carreiras mais valo-rizadas, embora menos intensa, conforme h pouco se viu. Essas mudanas estariam relacionadas ao perfil social dos cotistas? Examinando-se os dados constatou-se que nas Cincias, de modo parecido ao que aconteceu nas Huma-nidades, o perfil social dos cotistas de 2005 tambm sofreu um deslocamento para cima em relao ao da turma de 2004. A proporo de cotistas cuja me tem nvel superior subiu de 29%, na coorte de 2004, para 50% na turma de 2005. Entre os no-cotistas, para quem os dados so pouco confiveis por razes j mencionadas, aparentemente seu perfil social tambm se elevou, ainda que no tanto quanto o dos cotistas. Assim, o melhor rendimento dos cotistas em 2005 seria atribuvel, pelo menos em parte, elevao de seu perfil social.

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    Retornando aos cursos menos valorizados, grfico 4, na coorte de 2006 ocorreu nova mudana no padro do rendimento. Aumentou para sete o nmero de carreiras com expressivas diferenas nas notas e cessou a absoluta superioridade dos cotistas, registrada na coorte do ano anterior. Em cinco dessas sete carreiras (71%) os cotistas lograram melhores resultados. Nelas, as distncias a favor dos cotistas variaram entre 5% e 13% (Agronomia e licen-ciatura em Matemtica-N). Os alunos do universal se saram melhor em duas carreiras, cujas mdias foram 7% e 55% maiores (Estatstica e bacharelado/licenciatura em Matemtica).

    Nas Cincias, o balano das comparaes entre cotistas e no-cotistas difere bastante do efetuado para as Humanidades. Em todas as trs turmas, na ampla maioria das carreiras de maior prestgio os alunos do universal obtiveram mdias superiores s dos cotistas. Mas o cenrio da rea se mostrou distinto quando levados em conta tambm os cursos menos valorizados. Considerem-se os dados para o conjunto da rea. Na turma mais antiga, os cotistas lograram melhor rendimento em 11% dos cursos da rea, todos nas carreiras menos valorizadas, e em 21% dos cursos as diferenas foram desprezveis. Na turma de 2005, invertendo-se o padro anterior, os cotistas obtiveram melhores notas em quase 1/3 dos cursos da rea e em mais da metade deles as diferenas entre os dois segmentos foram nulas ou diminutas. Na turma mais recente, os resultados favorveis aos cotistas abrangeram 26% das carreiras, e em 47% no houve distncias notveis entre o rendimento dos dois segmentos.

    No balano final, somando-se as porcentagens dos resultados favorveis aos cotistas com os percentuais de cursos em que as diferenas entre as notas foram desprezveis, em ordem cronolgica das turmas, obtem-se 32%, 84% e 63%. A grande variao entre esses valores no permite que se identifique alguma tendncia. Mas se os dados relativos primeira coorte forem tidos como outliers, e a indicao de tendncias passadas couber a um termo mdio entre as duas ltimas turmas, nos cursos da rea de Cincias na UnB no se poderia afirmar que os alunos do vestibular universal venham tendo rendimento sistematicamente superior aos cotistas, ainda que essa tendncia esteja presente nas carreiras socialmente mais valorizadas.

    Esse cenrio contrasta com o das Humanidades, bem mais favorvel aos cotistas. Por que a diferena? Ao analisar dados de vestibulares do Programa de Avaliao Seriada PAS da UnB, Matos (2006) levantou a hiptese de que

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    o ensino mdio contribuiria pouco para a formao humanstica dos jovens; no entanto, no campo das Cincias Exatas e da Natureza apesar dos pro-blemas de que a educao bsica se ressente neste mbito o ensino mdio forneceria ao aluno uma base que melhor lhe permitiria acompanhar estudos universitrios nas reas correspondentes, como nas Engenharias.

    Considere-se que cotistas e no-cotistas da UnB tiveram oportunidades de formao no ensino mdio bastante desiguais, conforme revelaram dados deste estudo. Entre cotistas das turmas de 2004 e de 2005, em torno da metade ou menos fez a maior parte do ensino mdio em escolas particulares; entre no-cotistas, essa frao ascenderia a algo da ordem de 70% a 80%, embora com dados apenas sugestivos. Ademais, nas escolas pblicas o dficit de profes-sores em disciplinas como Fsica e Qumica um problema nacional inclusive no Distrito Federal e sobejamente conhecido, enquanto essa deficincia no parece afetar do mesmo modo as escolas particulares. Se metade ou menos dos cotistas das Cincias seguiram o ensino mdio em escolas particulares, ao passo que em torno de 3/4 dos no-cotistas teriam estudado em escolas particulares, a interpretao de Matos contribuiria para esclarecer porque nas Cincias, e sobretudo em seus cursos mais valorizados, os cotistas geralmente desfrutaram de posio menos favorvel que nas Humanidades.

    Essa interpretao explicaria porque os cotistas das Cincias, quando comparados a no-cotistas, no se houveram to bem em seus cursos quanto seus colegas das Humanidades. Mas tambm se observou que, em torno de 60% a 80% das carreiras das Cincias sobretudo as menos valorizadas , es-tudantes da reserva de vagas lograram rendimento semelhante ou at superior ao obtido por alunos do vestibular tradicional. Por qu? possvel que, nessas carreiras, a maior dedicao de muitos cotistas aos estudos na universidade tenha tido papel relevante, com origem na valorizao da vaga conquistada, e na autoestima a ela associada, de modo semelhante ao que teria ocorrido nas Humanidades.

    Sade

    A rea da Sade um caso parte. Devido ao pequeno nmero de cursos nessa rea, de apenas oito, e em virtude do reduzido nmero de carreiras em que houve diferenas expressivas de rendimento entre cotistas

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    e no-cotistas, os dados para as trs coortes esto ilustrados em um nico grfico, o de nmero 5.

    GRFICO 5 MDIAS DAS NOTAS OBTIDAS POR ALUNOS DE CURSOS SELECIONADOS

    EM SADE-1 E 2 DA UNB, SEGUNDO O CURSO, O SISTEMA DE INSCRIO E TURMAS DE 2004, 2005 E 2006

    Fonte: Microdados do Cespe/UnB e Cardoso, 2008.

    O cenrio da Sade revelou-se profundamente diverso do que se observou nas duas outras reas. Considerem-se inicialmente as trs carreiras de maior prestgio social, as do grupo 1: Farmcia, Odontologia e Medicina. Nestas, na turma de 2004, apenas em Odontologia houve distncia expressiva (6%) entre as mdias das notas dos dois segmentos, e favorvel aos que con-correram pela reserva de vagas; nas outras duas carreiras as diferenas foram abaixo de 5% (mas se contabilizadas tambm favoreceriam os cotistas). Na turma do ano seguinte, houve diferenas ponderveis nas mdias das notas das trs carreiras do grupo 1: uma, a favor dos cotistas, novamente na Odon-tologia (5%), e duas, a favor dos no-cotistas, na Medicina (8%) e na Farmcia (28%). Na turma mais recente, nos trs cursos as mdias dos dois segmentos foram muito parecidas, sem diferenas considerveis entre elas. Em sntese, no conjunto das trs turmas, em todos os trs cursos mais valorizados houve diferenas de peso nas mdias, metade delas favorecendo os cotistas.

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    O panorama sofreu alguma alterao nos cursos menos valorizados da Sade grupo 2 , ampliando-se um pouco a vantagem a favor dos alunos do universal. Na turma do primeiro vestibular com cotas, em dois dos cinco cursos desse grupo as distncias entre as mdias das notas favoreceram os no-cotistas: em Psicologia (6%) e em Veterinria (11%). Nos outros trs (Educao Fsica, Enfermagem e Nutrio) no houve diferenas de peso entre as mdias dos dois segmentos. Na turma de 2005, houve uma diferena pondervel, benefi-ciando os cotistas, em Enfermagem (6%), e outra, os no-cotistas, novamente em Psicologia (6%). Na turma de 2006, nesses mesmos dois cursos as mdias dos no-cotistas foram mais elevadas em 7% e 9%, respectivamente.

    Numa outra instituio para a qual h dados aproximadamente com-parveis, a Uenf (coorte de 2003), na Veterinria as mdias de no-cotistas e cotistas negros foram virtualmente idnticas. Tal resultado semelhante ao obtido pelos estudantes de Veterinria da UnB nas turmas de 2005 e 2006.

    Contabilizando-se o que foi registrado na rea da Sade na UnB, en-contram-se resultados excepcionalmente distintos dos obtidos para as Huma-nidades e para as Cincias. Na turma de 2004, os cotistas obtiveram melhor rendimento em um dos oito cursos da rea, os no-cotistas em dois dos cursos e, nos seis restantes, no houve diferenas expressivas entre as mdias dos dois segmentos. Na coorte de 2005, os alunos da reserva de vagas saram -semelhor em duas carreiras, os da seleo tradicional em trs e, nas trs restantes, as diferenas entre as mdias foram desprezveis. Na turma mais recente, houve duas diferenas ponderveis nas mdias, ambas a favor de alunos que concorreram pelo sistema universal.

    Somando-se as porcentagens dos resultados favorveis aos cotistas com aqueles em que as diferenas entre as notas foram nulas ou diminutas, para a turma de 2004 obtm-se 75%. Para a de 2005 e para a de 2006, 63% e 75%, respectivamente. Esses dados indicam que, no conjunto das carreiras da rea da Sade, no h dvidas quanto inexistncia de diferenas de rendimento desfavorveis aos cotistas da UnB.

    Por que na Sade os estudantes da reserva de vagas tiveram, nos cursos que seguiram, rendimento to prximo dos alunos do vestibular universal, quan-do o senso comum indicaria o contrrio, especialmente se considerado o curso de Medicina? A resposta residiria, em parte, na autosseleo dos candidatos ao vestibular. Como bem observaram Braga et al. (2001), so poucos os jovens

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    candidatos educao superior que ousam desafiar a hierarquia no-escrita, simblica, do prestgio social dos cursos (e das instituies). Nesse processo de autosseleo, a auto-avaliao dos jovens sobre a qualidade de sua formao anterior, e por essa via quanto s suas chances de aprovao no vestibular, tende a fazer com que se inscrevam em carreiras com maiores probabilidades de ingresso.

    Um indicador da intensidade da autosseleo o grau de homogeneidade do desempenho de cotistas e no-cotistas no vestibular, quando se comparam reas distintas, como Sade e Cincias, por exemplo. Quanto mais intensa tiver sido a autosseleo entre cotistas, mais semelhante seria o desempenho entre estes e os no-cotistas na seleo para ingresso na universidade. Parece que na Sade a autosseleo teria sido mais intensa que nas Cincias. Entre estudantes cotistas e no-cotistas daquela rea, o desempenho no vestibular foi bem mais homogneo que entre alunos desta, uma rea tambm tida como bastante competitiva. Considerem-se as diferenas proporcionais entre as medianas dos escores (escore bruto EB) dos alunos que concorreram pelas cotas e as dos estudantes que se inscreveram no vestibular tradicional. Na Sade, na turma de 2004, a mediana dos escores dos no-cotistas foi 12% maior que a dos cotistas, enquanto nas Cincias foi bem mais elevada, de 22%, sugerindo uma autosseleo mais intensa na Sade que nas Cincias. Na coorte de 2005, excepcional no conjunto das trs estudadas, como j se discutiu, as diferenas nos escores em ambas as reas foram idnticas, da ordem de 8%. Mas na coorte de 2006 novamente se reafirmaram as diferenas entre as reas, algo mais intensas que na primeira turma analisada; na Sade, a mediana de EB dos alunos do universal foi apenas 10% maior que a dos estudantes cotistas, ao passo que nas Cincias a distncia foi bem mais elevada, de 23%.

    Em suma, a autosseleo parece ser em alguma medida responsvel pela perseverante semelhana do rendimento entre cotistas e no-cotistas na rea da Sade. Nessa rea, a proporo de candidatos cotistas que ousariam desafiar a simblica hierarquia dos cursos seria menor que nas Cincias. A au-tosseleo na Sade, mais intensa que nas Cincias, cuidaria assim de melhor peneirar os candidatos da reserva de vagas, que por essa via se aproximariam mais dos no-cotistas em matria de preparo para estudos universitrios, tal como avaliado pelo vestibular.

    Outro trao marcante da rea da Sade o de que as chances de in-gresso de negros, na hiptese de inexistncia da reserva de vagas, quase no

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    se alteraram entre as trs turmas analisadas. Nessa rea, entre os estudantes que entrariam na UnB sem o sistema de cotas em 2004, 10% seriam negros; nas duas turmas seguintes as propores seriam muito parecidas, de 13% e novamente de 10%. Se a reserva de vagas dobrou ou quase dobrou as probabilidades de ingresso em cursos da Sade, e se o rendimento no curso geralmente no diferenciou cotistas e no-cotistas, provvel que um maior empenho nos estudos por parte de muitos alunos que concorreram pelas cotas seja, em alguma medida, um dos outros responsveis pela semelhana de rendimento entre os dois segmentos.

    NOTA FINAL

    O estudo tratou do rendimento no curso de trs turmas de alunos que ingressaram na Universidade de Braslia em 2004, 2005 e 2006, mediante vestibulares com dois sistemas de seleo, o de reserva de vagas para negros e o tradicional, tambm dito universal. Compararam-se as mdias do rendi-mento de dois segmentos de estudantes, cotistas e no-cotistas, em cada um dos cursos de trs reas Humanidades, Cincias e Sade , em cada turma. Nessas comparaes, consideraram-se como expressivas as diferenas entre mdias que foram iguais ou maiores que 5%, favorecendo tanto cotistas como no-cotistas, e como inexpressivas as diferenas menores que esse percentual.

    Na rea das Humanidades, a soma das diferenas expressivas que fo-ram favorveis aos cotistas, com as diferenas inexpressivas, abrangeu entre 60% e 80% dos cursos nas trs turmas. Na rea das Cincias, na turma que ingressou em 2004 a mesma soma abarcou apenas 30% das carreiras, mas nas turmas dos anos seguintes compreendeu entre 60% e mais de 80% das carreiras. Na rea da Sade, a soma envolveu entre mais de 60% e 75% dos cursos. Nas Humanidades e nas Cincias, a vantagem dos cotistas sobre os no-cotistas concentrou-se em cursos socialmente menos valorizados, mas isso no ocorreu na rea da Sade. Tomados esses dados em seu conjunto, em termos de diferenas substantivas no rendimento na universidade as que realmente importam no houve uma sistemtica superioridade dos estudantes no-cotistas, embora assim previssem crticos do sistema de reserva de vagas.

    Em vrios dos cursos analisados, os resultados para a UnB se coadunam com os obtidos noutras universidades do pas, nas quais vigem cotas para

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    negros ou reserva de vagas para alunos oriundos de escola pblica conjugada com as cotas para negros, ainda que esses outros dados em geral se refiram a uma nica turma de estudantes.

    A reserva de vagas em instituies federais de educao superior, instituda em projeto de lei recentemente aprovado pela Cmara dos Deputados, pauta-se por princpio e mecanismo desejveis para a imediata correo de desigualdades de oportunidades sociais e raciais pregressas. Os efeitos desse mecanismo sero sempre modestos embora inadiveis , pois o caminho mais eficaz de longo prazo, situando-se na oferta da escola pblica de boa qualidade para todos. Espera-se que aperfeioamentos introduzidos durante a tramitao futura do projeto incluam os que permitem autonomia universitria adotar mecanismos inovadores de correo de desigualdades raciais e sociais, sempre obedecendo ao esprito do princpio maior aprovado. De todo modo, considerando os resultados aqui discutidos, tudo indica que correes como as almejadas viro a ter xito, sem qualquer prejuzo para o padro acadmico da universidade, a despeito do que vem sendo afirmado por muitos dos crticos da reserva de vagas.

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    Recebido em: dezembro 2008

    Aprovado para publicao em: janeiro 2009

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