variedades diferenciáveis elon lages lima

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    Variedades Diferenciáveis

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    Publicações Matemáticas

    Variedades Diferenciáveis

    Elon Lages Lima

    impa

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    Copyright © 2011 by Elon Lages Lima

    Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    Capa: Noni Geiger / Sérgio R. Vaz

    Publicações Matemáticas

    •  Introdução à Topologia Diferencial – Elon Lages Lima

    •  Criptografia, Números Primos e Algoritmos – Manoel Lemos

    •  Introdução à Economia Dinâmica e Mercados Incompletos – Aloísio Araújo

    •  Conjuntos de Cantor, Dinâmica e Aritmética – Carlos Gustavo Moreira

    •  Geometria Hiperbólica – João Lucas Marques Barbosa

    •  Introdução à Economia Matemática – Aloísio Araújo

    •  Superfícies Mínimas – Manfredo Perdigão do Carmo

    •  The Index Formula for Dirac Operators: an Introduction – Levi Lopes de Lima

    •  Introduction to Symplectic and Hamiltonian Geometry – Ana Cannas da Silva

    •  Primos de Mersenne (e outros primos muito grandes) – Carlos Gustavo T. A. Moreira e NicolauSaldanha

    •  The Contact Process on Graphs – Márcia Salzano

    •  Canonical Metrics on Compact almost Complex Manifolds – Santiago R. Simanca

    •  Introduction to Toric Varieties – Jean-Paul Brasselet

    •  Birational Geometry of Foliations – Marco Brunella

    •  Introdução à Teoria das Probabilidades – Pedro J. Fernandez

    •  Teoria dos Corpos – Otto Endler

    •  Introdução à Dinâmica de Aplicações do Tipo Twist – Clodoaldo G. Ragazzo, Mário J. DiasCarneiro e Salvador Addas Zanata

    •  Elementos de Estatística Computacional usando Plataformas de Software Livre/Gratuito –

    Alejandro C. Frery e Francisco Cribari-Neto•  Uma Introdução a Soluções de Viscosidade para Equações de Hamilton-Jacobi – Helena J.

     Nussenzveig Lopes, Milton C. Lopes Filho

    •  Elements of Analytic Hypoellipticity – Nicholas Hanges

    •  Métodos Clássicos em Teoria do Potencial – Augusto Ponce

    •  Variedades Diferenciáveis – Elon Lages Lima

    •  O Método do Referencial Móvel – Manfredo do Carmo

    •  A Student's Guide to Symplectic Spaces, Grassmannians and Maslov Index – Paolo Piccione eDaniel Victor Tausk

    •  Métodos Topológicos en el Análisis no Lineal – Pablo Amster

    •  Tópicos em Combinatória Contemporânea – Carlos Gustavo Moreira e Yoshiharu Kohayakawa

    •  Uma Iniciação aos Sistemas Dinâmicos Estocásticos – Paulo Ruffino•  Compressive Sensing – Adriana Schulz, Eduardo A.B.. da Silva e Luiz Velho

    •  O Teorema de Poncelet – Marcos Sebastiani

    •  Cálculo Tensorial – Elon Lages Lima

    •  Aspectos Ergódicos da Teoria dos Números – Alexander Arbieto, Carlos Matheus e C. G.Moreira

    •  A Survey on Hiperbolicity of Projective Hypersurfaces – Simone Diverio e Erwan Rousseau

    •  Algebraic Stacks and Moduli of Vector Bundles – Frank Neumann

    •  O Teorema de Sard e suas Aplicações – Edson Durão Júdice

    IMPA - [email protected] - http://www.impa.br - ISBN: 978-85-244-0267-8 

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    What win I if I gain the thing I seek? 

    A dream, a breath, a froth of fleeting joy.

    Prefácio

    Estas notas são uma reimpressão não modificada do texto de

    um curso introdutório sobre Variedades Diferenciáveis, que lecio-

    nei algumas vezes no IMPA, anos atrás. Ao escrevê-las, vali-me

    dos apontamentos do meu então aluno Jair Koiller. A presente

    edição foi digitada por Rogerio Dias Trindade. As figuras foram

    produzidas por Francisco Petrúcio. A todas estas pessoas, meus

    agradecimentos.

    Rio de Janeiro, maio de 2007

    Elon Lages Lima

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    Conteúdo

    Capı́tulo I - Cálculo Diferencial   . . . . . . . . . . . . . . 1

    1. Espaço euclidiano de dimensão  p   . . . . . . . . . . . . 1

    2. Casos particulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

    3. Derivadas de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . 6

    4. Versão intŕınseca da regra da cadeia . . . . . . . . . . 8

    5. A desigualdade do valor médio . . . . . . . . . . . . . 116. Derivadas parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    7. O teorema da função inversa . . . . . . . . . . . . . . 15

    8. Forma local das submersões e o teorema das funções

    impĺıcitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

    9. A forma local das imersões . . . . . . . . . . . . . . . 20

    10. O teorema do posto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

    11. Campos de vetores em  Rn . . . . . . . . . . . . . . . . 28

    12. Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

    Capı́tulo II - Superf́ıcies nos Espaços Euclidianos   . .   31

    1. Parametrizações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

    2. A noção de superf́ıcie . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

    3. Mudança de coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    4. O espaço tangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

    5. Como obter superf́ıcies . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

    6. Exemplos de superf́ıcies . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

    7. Grupos e  Álgebras de Lie de matrizes . . . . . . . . . 60

    8. Campos de vetores tangentes a uma superf́ıcie . . . . . 63

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    Caṕıtulo III - Vetores Normais, Orientabilidade e

    Vizinhança Tubular   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   70

    1. Campos de vetores normais a uma superf́ıcie . . . . . . 71

    2. Superf́ıcies Orientáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

    3. A vizinhança tubular de uma superf́ıcie compacta . . . 86

    4. A vizinhança tubular de uma superf́ıcie não-compacta 93

    Capı́tulo IV - Variedades Diferenciáveis   . . . . . . .   102

    1. Sistemas de coordenads locais . . . . . . . . . . . . . 102

    2. Mudança de coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . 105

    3. Variedades diferenciáveis . . . . . . . . . . . . . . . 106

    4. Exemplos de variedades . . . . . . . . . . . . . . . . 108

    5. Variedades definidas por uma coleção de injeções . . 1136. Variedades de Grassmann . . . . . . . . . . . . . . . 123

    Caṕıtulo V - Aplicações Diferenciáveis entre

    Variedades   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   129

    1. Aplicações diferenciáveis . . . . . . . . . . . . . . . . 130

    2. O espaço tangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

    3. A derivada de uma aplicação diferenciável . . . . . . 137

    4. Algumas identificações naturais . . . . . . . . . . . . 139

    5. A aplicação esférica de Gauss . . . . . . . . . . . . . 141

    6. Estruturas de variedade em um espaço topológico . . 143

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    Caṕıtulo VI - Imersões, Mergulhos e

    Subvariedades   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   147

    1. Imersões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147

    2. Mergulhos e subvariedades . . . . . . . . . . . . . . . 151

    3. Subvariedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154

    4. O espaço tangente a uma variedade produto.

    Derivadas parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156

    5. A classe de uma subvariedade . . . . . . . . . . . . . 157

    6. Imersões cujas imagens são subvariedades . . . . . . 159

    7. A curva de Kronecker no toro . . . . . . . . . . . . . 163

    Caṕıtulo VII - Submersões, Transversalidade   . . . .   168

    1. Submersões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168

    2. Relações de simetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172

    3. Grupos de Lie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175

    4. Transversalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177

    5. Transversalidade de funções . . . . . . . . . . . . . . 181

    6. Aplicações de posto constante . . . . . . . . . . . . . 183

    Caṕıtulo VIII - Partições da Unidade e suas

    Aplicações   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   186

    1. Funções auxiliares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186

    2. Algumas noções topológicas . . . . . . . . . . . . . . 190

    3. Partições da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193

    4. O lema de Urysohn diferenciável . . . . . . . . . . . 196

    5. Aplicações diferenciáveis em subconjuntos arbitrários

    de variedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199

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    Capı́tulo IX - Métricas Riemannianas   . . . . . . . .   205

    1. Variedades riemannianas . . . . . . . . . . . . . . . . 2052. A norma da derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . 211

    3. A distância intŕınseca . . . . . . . . . . . . . . . . . 215

    4. A topologia geral de uma variedade . . . . . . . . . . 219

    5. Isometrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222

    Capı́tulo X - Espaços de Funções   . . . . . . . . . . .   230

    1. Funções semicont́ınuas em uma variedade . . . . . . 230

    2. Espaços de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233

    3. Invariância da topologia de  W 1(M ; N ) . . . . . . . . 237

    4. Estabilidade de certas aplicações diferenciáveis . . . . 243

    5. Aproximações em classe  C 1 . . . . . . . . . . . . . . 251

    6. Topologias de classe C r

    . . . . . . . . . . . . . . . . 259

    Caṕıtulo XI - Os Teoremas de Imersão e

    Mergulho de Whitney   . . . . . . . . . . . . . . . . . .   269

    1. Conjuntos de medida nula em uma variedade . . . . 270

    2. Imersões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 274

    3. Imersões injetivas e mergulhos . . . . . . . . . . . . 379

    4. Espaços de Baire . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 286

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    Caṕıtulo I

    Cálculo Diferencial

    Apresentamos neste caṕıtulo alguns resultados clássicos do Cál-

    culo Diferencial em espaços euclidianos. Enfatizamos o aspecto

    geométrico do Teorema da Função Inversa, que aplicaremos para

    obter as “formas locais” de certas aplicações diferenciáveis. Esses

    resultados serão amplamente utilizados no estudo das superf́ıciese das variedades diferenciáveis.

    Omitimos a maior parte das demonstrações, pois o objetivo

    principal deste caṕıtulo é fixar a notação e a terminologia para os

    subseqüentes. As demonstrações omitidas podem ser encontradas

    nas referências citadas no fim deste capı́tulo.

    1 Espaço euclidiano de dimensão  p

    Como se sabe, o espaço euclidiano de dimens˜ ao  p é o conjunto

    R p de todas as seqüências x = (x1, . . . , x p) de p  números reais.

    Os vetores   e1   = (1, 0, . . . , 0),   e2   = (0, 1, 0, . . . , 0), . . . , e p   =

    (0, . . . , 1) constituem a base natural   de  R p.

    Seja  U  um subconjunto aberto do  Rm.

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    2   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    Uma função vetorial   f :  U  →  Rn fica perfeitamente determi-nada por suas coordenadas

    f 1, . . . , f  n :  U  → R,

    definidas pela relação

    f (x) = (f 1(x), . . . , f  n(x)), x ∈ U.

    Escrevemos  f  = (f 1, . . . , f  n).

    f U 

    Rm

    Rn

    f (x)

    f (U )

    x

    Figura 1.1.

    Diz-se que a aplicação   f :  U  →   Rn é   diferenci´ avel   no pontox ∈  U  quando existe uma transformação linear  T  :  Rm →  Rn talque

    f (x + h) = f (x) + T  · h + r(h),   com limh→0

    r(h)

    |h|   = 0.

    (O dońınio natural de uma aplicação cuja diferenciabilidade que-remos investigar é um conjunto aberto, a fim de que seja arbitrário

    o modo pelo qual o ponto variável x + h  tende para o ponto  x.)

    É fácil de ver que as condições acima implicam:

    T  · h = limt→0

    f (x + th) − f (x)t

    o que é interpretado geometricamente pela Figura 1.2:

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    [SEC. 1: ESPAÇO EUCLIDIANO DE DIMENSÃO  P    3

    x

    x + hf (x)

    f (x + h)

    Rm

    Rn

    Th

    Figura 1.2.

    É única, portanto, a transformação linear T  :  Rm → Rn que dáa boa aproximação de f  perto de  x. Ela é chamada a derivada  de

    f  no ponto x  e é indicada por  f (x) ou  Df (x).A aplicação f   é diferencíavel no ponto x se, e somente se, cada

    uma de suas coordenadas  f i o for. E além disso vale a equação

    Df (x) · h = (Df 1

    (x) · h , . . . , D f  n

    (x) · h).

    Se   T   é uma transformação linear de   Rm em   Rn, isto é,   T  ∈L(Rm,Rn), a matriz de  T   em relação às bases usuais do  Rm e doRn é a matriz (ti j) com n  linhas e m colunas cujo elemento (i, j) é

    a i-ésima coordenada do vetor  T  ·e j ; imaginando cada T ·e j  comovetor-coluna, temos:

    M (T ) = (T  · e1 · · · T  · e j · · · T  · em).

    A matriz associada a   T   =   f (x) chama-se   matriz jacobiana de  f   no ponto  x  e é indicada por  Jf (x). O elemento (i, j) desta

    matriz é a   i-ésima coordenada do vetor  ∂f 

    ∂x j(x) =   f (x) · e j   =

    (Df 1(x)

    ·e j , . . . , D f  

    n(x)

    ·e j), denominado j-ésima derivada parcial 

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    4   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    de f  no ponto  x. Portanto

    Jf (x) =

    ∂f 1

    ∂x1(x)   ∂f 

    1

    ∂x2(x) . . .   ∂f 

    1

    ∂xm(x)

    ∂f 2

    ∂x1(x)

      ∂f 2

    ∂x2(x) . . .

      ∂f 2

    ∂xm(x)

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .∂f n

    ∂x1 (x)

      ∂f n

    ∂x2 (x) . . .

     ∂f n

    ∂xm(x)

    2 Casos particulares

    a) Seja   J  ⊂   R   um intervalo aberto. Um   caminho   em   Rn ésimplesmente uma aplicação f : J  → Rn.

    Diz-se que o caminho  f :  J  →  Rn tem   vetor-velocidade   no pontot0

     ∈J  se existe o limite

    df 

    dt(t0) = lim

    h→0f (t0 + h) − f (t0)

    h

    cuja interpretação é dada na Figura 1.3:

    t0 + h

    t0

    J f (t0)

    f (t0 + h)f 

    df dt

    (t0)R

    n

    Figura 1.3.

    O vetor-velocidade  df 

    dt(t0) existirá se, e somente se, o caminho

    f :  J 

     →Rn for diferenciável no ponto t0 . A identificação de f (t0)

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    [SEC. 2: CASOS PARTICULARES   5

    com  df 

    dt(t0) é dada pelo isomorfismo

    L(R,Rn) ≈   RnT  → T  · 1

    ou seja,

    df 

    dt(t0) = f 

    (t0) · 1 = limh→0

    f (t0 + h) − f (t0)h

      ·

    b) Seja f : U  ⊂ Rm → R  uma função real diferenciável em  x ∈ U .A derivada   f (x) é um elemento de L(R

    m

    ,R) = (Rm

    )∗, espaçodual do   Rm.   É tradicional chamar   f (x) a   diferencial   de   f   noponto x  e indicá-la por  df (x). A matriz jacobiana de  f   tem uma

    linha e  m  colunas, a saber

    Jf (x) =

     ∂f 

    ∂x1(x), . . . ,

      ∂f 

    ∂xm(x)

    .

    Obtém-se assim a relação clássica  df (x)·

    h =m

    i=1∂f 

    ∂xi(x)

    ·hi.

    O produto interno natural de  Rm induz um isomorfismo

    Rm ≈   (Rm)∗x → x∗, x∗(y) = x, y.

    O  gradiente   de   f   no ponto   p ∈   U   é o vetor grad f ( p) ∈   Rmque corresponde ao funcional linear   f ( p) ∈   (Rm)∗   por este iso-morfismo.

    Em outras palavras, o gradiente é caracterizado pela proprie-

    dade

    grad f ( p), v = f ( p) · v   para todo   v ∈ Rm.Em particular,  grad f ( p), ei =   ∂f 

    ∂xi( p), ou seja,

    grad f ( p) =

    i∂f 

    ∂xi( p)ei.

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    6   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    A expressão de grad f ( p) em termos de uma base arbitrária

    (não ortonormal) é complicada. A definição intŕınseca, que vimos

    acima, é muito conveniente para as aplicações teóricas.

    3 Derivadas de ordem superior

    Dado   U    ⊂   Rm aberto, diremos que uma aplicaçãof :  U  →   Rm é   diferenci´ avel em   U   quando ela for diferenciávelem todos os pontos  x

    ∈U . Define-se então a aplica瘠ao derivada 

    f  : U  → L(Rm,Rn)x → f (x).

    Algumas vezes imaginamos   f    como sendo a aplicação que acada x ∈ U  associa a matriz jacobiana  Jf (x). Deste modo, f    setorna uma aplicação de  U   em  Rmn.

    Dada T  ∈ L(Rm,Rn), escreve-se |T | = sup{|T ·u|; u ∈ Rm, |u| =1}. Isto define uma norma no espaço vetorial L(Rm,Rn). Comof    toma valores nesse espaço, é natural indagar se   f    é cont́ınuaou mesmo se   f    tem derivada. Dizemos que   f   é   continuamente diferenci´ avel   ou   de classe   C 1, e escrevemos  f  ∈  C 1, quando  f   édiferenciável em  U   e  f  : U  → L(Rm,Rn) é cont́ınua.

    Se f  :  U  → L(Rm,Rn) tem derivada no ponto x ∈ U , dizemosque f   é  duas vezes diferenci´ avel  no ponto x  e escrevemos

    f (x) :  Rm → L(Rm,Rn)

    para indicar a derivada de   f    em   x. A rigor,   f (x) é um ele-mento de L(Rm, L(Rm,Rn)), mas existe um isomorfismo natu-ral L(Rm, L(Rm,Rn)) ≈ L2(Rm,Rn) que associa a cada trans-formação linear   T  :  Rm

    → L(Rm,Rn) a transformação bilinear

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    [SEC. 3: DERIVADAS DE ORDEM SUPERIOR   7

    T  :  Rm × Rm →   Rn tal que   T (u, v) = (T  · u) · v. Isto nos per-mite considerar a derivada segunda de  f   em  x  como sendo uma

    transformação bilinear,  f (x) :  Rm × Rm → Rn.As derivadas de ordem superior podem ser definidas indutiva-

    mente. Se  f :  U  ⊂  Rm →  Rn é (k − 1)-vezes diferenciável em  U ,então

    f (k−1) : U  → Lk−1(Rm,Rn)é uma aplicação de U  no espaço das aplicações (k − 1)-lineares deRm em  Rn.

    Se   f (k−1) for diferenciável no ponto   x ∈   U , diremos que   f   ék-vezes diferenci´ avel  neste ponto. O isomorfismo canônico

    L(Rm, Lk−1(Rm,Rn) ≈ Lk(Rm,Rn)

    permite considerar a derivada de   f (k−1) em   x   como sendo umaaplicação k-linear de  Rm em  Rn. Se f (k)(x) existe em cada ponto

    x ∈  U , define-se a aplicação  f (k) :  U  → Lk(Rm,Rn), e se  f (k) forcont́ınua diz-se que   f   é de   classe   C k ou   k-vezes continuamente 

    diferenci´ avel , e escreve-se  f  ∈ C k ou  f  ∈ C k(U,Rn).O conjunto  C k(U,Rn) de todas as aplicações  f :  U  →  Rn que

    são k  vezes continuamente diferenciáveis é um espaço vetorial real

    (de dimensão infinita).

    A importante classe  C ∞  das aplicações  infinitamente diferen-

    ci´ aveis   é a interseção de todas as classes C k

    ,

    C ∞ = C 0 ∩ C 1 ∩ C 2 ∩ . . .

    É claro que  C ∞ ⊂ · · · ⊂ C k ⊂ C k−1 ⊂ · · · ⊂ C 1 ⊂ C 0.Pode-se mostrar que uma aplicação f : U  → R é de classe  C k se

    existem, e são cont́ınuas em  U , todas as derivadas parciais mistas

    de  f  até a ordem  k  inclusive. (Vide 1.6 adiante.)

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    8   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    4 Versão intŕınseca da regra da cadeia

    Sejam   U  ⊂   Rm e   V   ⊂   Rn conjuntos abertos,   f :  U  →   Rnuma aplicação diferenciável no ponto   x ∈   U , com   f (U ) ⊂   V , eg :  V  →  R p uma aplicação diferenciável no ponto  y   =  f (x) ∈  V .Então a aplicação composta g◦f : U  → R p é diferenciável no pontox  e (g ◦ f )(x) = g (y) ◦ f (x) :  Rm → R p.

    É útil ter em mente os diagramas

    U f g

    g ◦ f    (g ◦ f )(x)

    f (x)R

     pR

    mR

     pg(y)

    Rn

    Considerando as matrizes jacobianas de  f , g  e g ◦ f  obtemos aantiga regra da cadeia,

    ∂ (gi ◦ f )∂x j

      (x) =

    nk=1

    ∂gi

    ∂yk(f (x)) ·  ∂f 

    k

    ∂x j (x),

    1 ≤ i ≤  p1 ≤  j ≤ m

    ·

    Aplicações

    1) Seja   f :  U  →   Rn diferenciável em   x0 ∈   U . Dado   v  ∈   Rm,seja  λ :  t →  λ(t) um caminho em  U , diferenciável em   t  = 0, comλ(0) =  x0   e   λ

    (0) =  v. Então   f (x0) · v   é o vetor-velocidade docaminho t → f (λ(t)) em  t = 0.

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    [SEC. 4: VERSÃO INTŔINSECA DA REGRA DA CADEIA   9

    λ

    Rn

    t

    0

    v f f (x0)

    f (λ(t))

    f (x0) · v

    λ(t)

    x0

    Rm

    Figura 1.4.

    2) Seja f :  U  → Rn diferenciável em x ∈ U  ⊂ Rm e admitamos quef  tem uma inversa g  =  f −1 : V  → Rm, V  ⊂ Rn, (isto é, f (U ) = V ,g(V ) = U , f  ◦ g = idV   e  g ◦ f  = idU ) que é diferenciável no pontoy  = f (x). Então  f (x) :  Rm →  Rn é um isomorfismo, cujo inversoé  g(y) :  Rn → Rm. Em particular  m =  n.

    Um difeomorfismo  f : U  → V   é uma bijeção diferenciável cujainversa é também diferenciável. Se ambas,  f   e  f −1 são de classeC k, dizemos que  f   é um  difeomorfismo de classe   C k.

    A aplicação  t ∈ R → t3 ∈ R  é exemplo de um homeomorfismodiferenciável  C ∞  que não é um difeomorfismo.

    Para finalizar, examinaremos as derivadas sucessivas da apli-

    cação composta  gf , onde  g  e  f   são r  vezes direrenciáveis.

    A regra da cadeia pode escrever-se, resumidamente, como

    (1) (gf )  = g f  · f .

    Isto significa, evidentemente, que (gf )(x) = g (f (x)) · f (x), paracada x ∈ U , o ponto indicando composição de aplicações lineares.Observemos que, se L1  e L2  são lineares (e a composta  L2 · L1  fazsentido), a aplicação (L1, L2)

     → L2

    ·L1   é bilinear. Resulta então

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    10   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    da regra de derivação de aplicações bilineares, que (1) acarreta

    (gf ) = (gf ) · f  + gf  · f .Usando a regra da cadeia:

    (2) (gf ) = g f  · (f , f ) + gf  · f .

    Na fórmula (2), usamos a notação  B · (L1, L2), onde  B   é bilineare  L1 ,   L2   são lineares, para indicar a aplicação bilinear (h, k) →

    B(L1 · h, L2 · k). Observe-se que a aplicação (B, L1, L2) →   B ·(L1, L2) é trilinear. Portanto, derivando (2), obtemos

    (3) (gf ) = g f  · (f , f , f ) + 3gf  · (f , f ) + gf  · f .

    Na fórmula (3), se L, L1 , L2 , L3 são lineares, se B   é bilinear e T   é

    trilinear, as notações T ·(L1, L2, L3) e T ·(B, L) indicam respectiva-mente as aplicações trilineares (h1, h2, h3) → T (L1 · h1, L2 · h2, L3 ·h3) e (h1, h2, h3) → T (B(h1, h2), L · h3). De maneira análoga, de-rivando (3), obteremos a fórmula para a 4a¯  derivada da composta

    gf :

    (gf )IV = g IVf  · (f , f , f , f ) + 6gf  · (f , f , f )(4)+ 4gf  · (f , f ) + 3gf  · (f , f ) + gf  · f IV.

    As notações são análogas às anteriores. De um modo geral, uma

    indução fácil permite constatar que, dado   i, para cada partiçãoi1 + · · · + ik   =  i, existe um inteiro  n(i1, . . . , ik) tal que a   i-ésimaderivada da aplicação composta  gf   tem a expessão seguinte:

    (g ◦ f )(i) =i

    k=1

    n(i1, . . . , ik)gkf  · f (i1), . . . , f  (ik)

    onde, para cada  k, temos i1 +

    · · ·+ ik  = i.

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    [SEC. 5: A DESIGUALDADE DO VALOR MÉDIO   11

    5 A desigualdade do valor médio

    Se  x, y ∈ Rm, indiquemos por

    [x, y] = {x + t(y − x); 0 ≤ t ≤ 1}

    o segmento de reta fechado ligando  x  e  y. O correspondente seg-

    mento de reta aberto é

    (x, y) ={

    x + t(y−

    x); 0 < t

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    12   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    O quociente de |f (x + h) − f (x)|  por |h|  não excede

    M  = sup0≤t≤1

    |f (x + th)|.

    Seja  U  ⊂ Rm aberto. Uma aplicação diferenciável  f :  U  → Rndiz-se   uniformemente diferenci´ avel   no conjunto   X  ⊂   U   quandopara todo  ε >  0 existe  δ >  0 tal que

     |h

    | < δ   implica

     |f (x + h)

    −f (x) − f (x) · h| < ε · |h|, seja qual for   x ∈ X .É uma conseqüência da desigualdade do valor médio que se

    K  ⊂  U   é compacto, então toda aplicação   f :  U  →  Rn, de classeC 1, é uniformemente diferenciável em  K . (Vide AERn, pag. 28.)

    Como aplicação deste fato, temos a proposição abaixo. (Vide

    AERn, pag. 31, Exerćıcio 3.)

    Proposição.   Seja   f :  U  →   Rn de classe   C 1 num aberto   U  ⊂Rm. Se  f (x) :  Rm →  Rn é injetiva em todos os pontos  x  de um 

    compacto  K  ⊂ U , ent˜ ao existem n´ umeros reais  c > 0  e  δ > 0  tais que  |f (y) − f (x)| ≥   c|y − x|  quaisquer que sejam   x ∈  K ,   y ∈  U com  |g − x| ≤ δ .

    Demonstração: Definamos   λ :   K  ×

      S m−

    1

    →  R   pondo

    λ(x, u) = |f (x) · u|. Como λ > 0 em todos os pontos do conjuntocompacto   K  ×  S m−1, existe   c >   0 tal que   λ(x, u) ≥   2c, sejamquais forem x ∈ K , u ∈ S m−1. Dáı resulta que |f (x) · h| ≥ 2c · |h|para todo   x ∈   K   e todo   h ∈   Rm. Ora, sendo  f   uniformementediferenciável em K , existe δ > 0 tal que |h|

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    [SEC. 6: DERIVADAS PARCIAIS   13

    |f (y) − f (x)|= |f (x) · (y − x) + f (y) − f (x) − f (x) · (y − x)|≥ |f (x) · (y − x)| − |f (y) − f (x) − f (x) · (y − x)|≥ 2c · |y − x − c|y − x| = c · |y − x|.

    6 Derivadas parciais

    Seja  Rm = E ⊕ F   o espaço euclidiano  Rm, escrito como somadireta de dois subespaços  E ,  F . Cada elemento z ∈  Rm é repre-sentado por um par  z  = (x, y),  x ∈ E ,  y ∈ F .

    Dados um aberto U  ⊂ Rm e uma aplicação f : U  → Rn, as de-rivadas parciais  de f  num ponto (a, b)

    ∈U   são aplicações lineares

    ∂ 1f (a, b) : E  → Rn,  ∂ 2f (a, b) : F  → Rn, definidas pelas relações

    f (a + h, b) =f (a, b)+∂ 1f (a, b) · h+r1(h),   com limh→0

    r1(h)

    |h|   → 0

    e

    f (a, b + k) = f (a, b)+∂ 2f (a, b) · k+r2(k),   com limh

    →0

    r2(k)

    |k

    |  → 0.

    Naturalmente,  f  pode possuir uma, ambas, ou nenhuma das deri-

    vadas parciais em um ponto (a, b) ∈ U .A derivada parcial  ∂ 1f (a, b), caso exista, é a derivada da apli-

    ca瘠ao parcial   x →  f (x, b) no ponto  a ∈  E , estando tal aplicaçãodefinida em um aberto de  E  contendo a. Analogamente, ∂ 2f (a, b)

    é a derivada, em  b

    ∈F , da aplicação parcial  y

     →f (a, y).

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    14   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    É imediato ver que, se f :  U  → Rn é diferenciável no ponto z  =(a, b)

    ∈U , então as derivadas parciais existem e ∂ 1f (z) = f 

    (z)

    |E ,

    ∂ 2f (z) = f (z)|F . A rećıproca é falsa, como se aprende no cálculoelementar.

    O teorema abaixo dá uma condição suficiente para diferencia-

    bilidade em termos de derivadas parciais.

    Teorema.  Sejam  U  ⊂ Rm um aberto e  Rm = E ⊕ F   uma decom-posi瘠ao em soma direta. Uma aplica瘠ao   f :  U 

     → Rn é de classe 

    C 1 se, e somente se, para todo  z  = (x, y) ∈  Rm as derivadas par-ciais existem e, além disso, as aplica瘠oes   ∂ 1f :  U  → L(E,Rn)   e ∂ 2f :  U  → L(F, Rn)  s˜ ao cont́ınuas.

    No caso da decomposição usual   Rm =   E 1 ⊕ · · · ⊕ E m , ondecada  E i   é o subespaço unidimensional gerado pelo   i-ésimo vetor

    básico ei , para cada z  = (x1, . . . , xm), identificamos ∂ if (z) com o

    vetor

    ∂f 

    ∂xi(x) = lim

    t→0f (x1, . . . , xi + t , . . . , xm) − f (x1, . . . , xm)

    t  ·

    Podemos então enunciar o

    Corolário.   Seja  U  ⊂ Rm

    um aberto. Uma aplica瘠ao f :  U  → Rn

    ,f (z) = (f 1(z), . . . , f  n(z)), é de classe  C k se, e somente se, todas 

    as derivadas parciais mistas 

    ∂ αf i

    ∂xi1 . . . ∂ xiα(z), z ∈ U,  1 ≤ i ≤ n,  1 ≤ i1, . . . , iα ≤ m

    de ordem  α ≤ k  existem e dependem continuamente de  z ∈ U .

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    [SEC. 7: O TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA   15

    7 O teorema da função inversa

    Sejam   U  ⊂   Rm um aberto e   f :  U  →   Rm uma aplica瘠ao   C k(1 ≤   k ≤ ∞)   tal que, num ponto   x0 ∈   U , a derivada   f (x0) ∈L(Rm)  é um isomorfismo. Ent˜ ao f   aplica difeomorficamente uma vizinhança menor  V   de  x0   sobre uma vizinhança  W   de  f (x0).

    x

    Rn

    Rm

    V  

    U    f (V ) = W 

    Figura 1.6.

    Deve-se lembrar sempre que se  f :  U  → V   é um difeomorfismoentão, para todo  x ∈ U ,  f (x) :  Rm → Rm é um isomorfismo, maso Teorema da Função Inversa não é uma rećıproca completa deste

    fato. Ele permite apenas concluir que se  f  ∈  C k (k ≥  1) e  f (x)é um isomorfismo para todo  x ∈  U , então  f   é um  difeomorfismolocal , isto é, cada  x ∈ U  tem uma vizinhança aplicada por f  difeo-morficamente sobre uma vizinhança de  f (x).

    A aplicação  f :  R2 →  R2, definida por  f (z) =  ez, fornece umexemplo de difeomorfismo local   C ∞   que não é globalmente umdifeomorfismo.

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    16   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    O teorema da função inversa evidencia o fato de ser f (x0) uma“boa aproximação” de  f , pois a informação de que  f (x0) é um

    isomorfismo acarreta ser  f  biuńıvoca em uma vizinhança de  x0 .

    8 A forma local das submersões e o teorema

    das funções impĺıcitas

    Seja   U 

      ⊂  R

    m+n um aberto. Uma aplicação diferencíavel

    f :  U  → Rn chama-se uma submers˜ ao  quando, para todo x ∈ U , aderivada f (x) :  Rm+n →  Rn é sobrejetora. O exemplo t́ıpico é aprojeção

    π :  Rm+n = Rm × Rn → Rn(x, y) → y.

    Com relação ao teorema abaixo, lembramos que, dada umatransformação linear sobrejetora T  :  Rm+n → Rn, se tomamos

    E  = núcleo de  T   e

    F   = qualquer subespaço suplementar de   E   em   Rm+n então,

    necessariamente, a restrição

    |F  :  F 

     →Rn é um isomorfismo.

    Teorema   (forma local das submersões).   Sejam   U  ⊂   Rm+n um aberto e  f : U  → Rn uma aplica瘠ao de classe  C k,  k ≥ 1. Suponha que, no ponto  z0 ∈  U , a derivada   f (z0) :  Rm+n →  Rn é sobreje-tora. Escolhida uma decomposi瘠ao em soma direta  E ⊕F   = Rm+n(z0 = (x0, y0)) tal que  ∂ 2f (z0) = f (z0)|F   é um isomorfismo, ent˜ aof  se comporta localmente como uma proje瘠ao. Com isto queremos 

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    [SEC. 8: FORMA DAS SUBMERSÕES E O TEOREMA DAS FUNÇ ÕES   17

    dizer que existem abertos  V ,  W ,  Z , com 

    x0 ∈ V, V  ⊂ E,z0 ∈ Z, Z  ⊂ U,f (z0) ∈ W, W  ⊂ Rn,

    e um difeomorfismo de classe   C k,   h :  V  × W  →   Z   tal que   f  ◦h : (x, w) → w.

    Convém ter em mente a Figura 1.7, que põe em relevo o caráter

    geométrico do difeomorfismo  h:

    c =  f (z0)

    Rn

    (x0, c)

    (x, c)

    x0

    V  × W    h

    π  =  f  ◦ h : (x,w) → w

    x   V E 

    Z U 

    z0

    ξ(x, c)

    Figura 1.7.

    Fazendo uso do teorema da função inversa podemos demons-

    trar rapidamente a forma local das submersões, como se segue:

    Seja   ϕ :  U  →   E  ×  Rn de classe   C k, definida por   ϕ(x, y) =(x, f (x, y)). A derivada   ϕ(z0) :  Rm+n →   E  ×  Rn é dada pelafórmula (h, k) → (h, ∂ 1f (z0)·h+∂ 2f (z0)·k), h ∈ E , k ∈ F . Obser-vemos que a aplicação linear (u, v)

      →  (u, (∂ 2f (z0))−1

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    18   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    (v − ∂ 1f (z0) · u)), u ∈ E , v ∈ Rn, é a inversa de  ϕ(z0) e ganhemoso direito de aplicar o teorema da função inversa. Se escrevemos

    f (z0) = c,   ϕ  é um difeomorfismo de classe  C k de uma vizinhançade z0  sobre uma vizinhança de (x0, c). Esta última pode ser esco-

    lhida na forma  V  × W , onde  V   é aberto em  E   e  W   é aberto emRn. Ponhamos

    Z  = ϕ−1(V  × W ) e   ϕ−1 :  V  × W  → Z.Resta examinar o aspecto da composta  f  ◦ h.Como   ϕ(x, y) = (x, f (x, y)) segue-se que   h   =   ϕ−1 é da formah(x, w) = (x, h2(x, w)). Se (x, w) ∈ V  × W , então

    (x, w) = ϕ ◦ h(x, w)= ϕ(x, h2(x, w))

    = (x, f (x, h2(x, w)))

    = (x, f  ◦ h(x, w)).Logo f  ◦ h(x, w) = w, para todo (x, y) ∈ V  × W .Corolário.  Uma submers˜ ao de classe  C k (k ≥ 1) é uma aplica瘠aoaberta.

    Observações:

    1) Pode parecer estranho aplicar o teorema da função inversa a

    ϕ : U 

     ⊂Rm+n

    →E 

    ×Rn pois E 

    ×Rn não é um espaço euclidiano.

    O leitor está convidado a justificar esta passagem.

    2) Da relação   f  ◦  h   =   π :  V  × W  →   W   resulta que a derivadaf ( p) é sobrejetora para todo  p ∈ Z . Assim o conjunto dos pontos p ∈ Rm+n tais que  f ( p) é sobrejetora é aberto.3) A decomposição em soma direta Rm+n = E ⊕F  pode ser sempretomada com   E   e   F   gerados pelos eixos coordenados.   É o que

    faremos doravante em todas as aplicações. Com efeito:

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    [SEC. 8: FORMA DAS SUBMERSÕES E O TEOREMA DAS FUNÇ ÕES   19

    Uma decomposi瘠ao em soma direta do tipo  Rm+n = Rm⊕Rn si-gnifica uma partição

    {e1, . . . , em+n

    }=

    {ei1 , . . . , eim

    }∪{e j1 , . . . , e jn

    }da base canônica do  Rm+n. Dada a partição, pomos  Rm ⊂ Rm+ncomo sendo subespaço gerado por {ei1, . . . , eim}   e   Rn ⊂   Rm+ncomo o subespaço gerado pelos vetores restantes {e j1 , . . . , e jn}.  Éóbvio que  Rm+n é a soma direta desses dois subespaços e escreve-

    mos  Rm+n = Rm ⊕ Rn.Uma vez dada tal decomposição, escrevemos os elementos de

    Rm+n como pares z  = (x, y), x

    ∈Rm e y

     ∈Rn. Por exemplo, seja

    R3 = R2 ⊕R, onde  R2 é gerado por  e1, e3  e  R por e2 . Então todoz  = (x1, x2, x3) será denotado por  z  = (u, v),  u = (x1, 0, x3) ∈ R2e  v = (0, x2, 0) ∈ R.

    Dada uma aplicação linear sobrejetora   T  :  Rm+n →   Rn, e-xiste uma decomposição   Rm+n =   R ⊕ Rn tal que   T |Rn :  Rn →Rn é um isomorfismo. Basta observar que os vetores   T e1, . . . ,

    T em+n  geram  Rn e portanto é posśıvel selecionar dentre eles uma

    base {T e j1 , . . . , T e jn}. Sejam   i1, . . . , im   os ı́ndices restantes. Apartição {1, 2, . . . , m + n}  = {i1, . . . , im} ∪ { j1, . . . , jn}   fornece adecomposição desejada.

    4) Na demonstração do teorema surgem fatos importantes,

    que devemos destacar: o difeomorfismo   h   é da forma   h(x, w) =

    (x, h2(x, w)), x ∈ V , w ∈ W . Isto significa que as “fibras” {x}×W são movimentadas apenas no sentido vertical, como aparece na

    Figura 1.7. Outra novidade aparece se consideramos a aplicação

    ξ   =  ξ 0 :  V  →  F ,   ξ (x) =  h2(x, c), de classe  C k. Observemos quef (x, ξ (x)) =   c   para todo   x ∈   V . Por outro lado, se (x, y) ∈   Z é tal que   f (x, y) =   c, então (x, y) =   h ◦ ϕ(x, y) =   h(x, c) =(x, h2(x, c) ) = (x, ξ (x)), ou seja,   y   =   ξ (x). Este fato é o im-

    portante teorema das fun瘠oes implı́citas , que pode ser sintetizado

    na seguinte afirmação:

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    20   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    O conjunto f −1(c)∩Z   é o gr  ́afico da aplica瘠ao x ∈ V   → ξ (x) =h2(x, c)

    ∈F , de classe  C k.

    Em outras palavras, a equação f (x, y) = c  define, implicitamente,

    na vizinhança de   x0 , a aplicação   y   =   ξ (x), de classe   C k cuja

    derivada é dada por

    ξ (x) = −∂ 2f (x, ξ (x))−1 ◦  ∂ 1f (x, ξ (x)).O parâmetro   c   pode variar no aberto   W . Conclui-se que

    existem abertos   V   ⊂   E , contendo   x0 ,   W  ⊂   Rn contendo   c   eZ  ⊂  U   contendo  z0  tais que para cada  y ∈  W   e para cada  x ∈ vexiste um único   ξ (x, y) =   h2(x, y) ∈   F   tal que (x, ξ (x, y)) ∈   Z e  f (x, ξ (x, y)) =  y. Tal situação fica também evidente na Figura

    1.7.

    Veremos no Caṕıtulo II que o conjunto  f −1(c) ∩ Z   é uma su-perf́ıcie  m-dimensional de classe  C k no  Rm+n (seção 2.5.2).

    9 A forma local das imersões

    Seja U  ⊂ Rm um aberto. Uma aplicação diferenciável f :  U  →Rm+n chama-se uma   imers˜ ao   quando, para cada   x ∈  U , a deri-

    vada  f (x) :  Rm →  Rm+n é uma transformação linear injetora. Oexemplo t́ıpico é a inclusão

    i :  Rm → Rm × Rn = Rm+n, x → (x, 0).

    Teorema   (forma local das imersões).   Sejam  U  ⊂  Rm um abertoe   f :  U  →   Rm+n uma aplica瘠ao de classe   C k,   k ≥   1. Suponha que no ponto  x0 ∈  U   a derivada  f (x0) :  Rm →  Rm+n é injetora.Ent˜ ao   f   se comporta localmente como uma inclus˜ ao. Com isto

    queremos dizer que existem abertos  V ,  W ,  Z , com 

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    [SEC. 9: A FORMA LOCAL DAS IMERSÕES   21

    f (x0) ∈ Z, Z  ⊂ Rm+n,x0

     ∈V, V 

     ⊂U 

     ⊂Rm,

    0 ∈ W, W  ⊂ Rn,e um difeomorfismo de classe  C k, h :  Z  → V ×W , tal que  h◦f (x) =(x, 0), para cada  x ∈ V .

    A Figura 1.8, que corresponde a  m = n  = 1, indica geometri-

    camente a situação geral. Convém entendê-la bem.

    h

    U  ⊂ Rmx0

    V    i =  h ◦ f 0

    W  ⊂ Rn

    π

    x0

    (x0, 0)

    ξ 

    f(x )

    f    E  = f (x0) · R

    m

    Figura 1.8.

    Demonstração: Seja E  = f (x

    0)·Rm e escolhamos para F   qual-

    quer suplementar de  E   em  Rm+n, ou seja,   Rm+1 =  E  ⊕ F . De-finamos a aplicação de classe   C k,   ϕ :  U  × F  →  Rm+n, dada porϕ(x, y) = f (x) + y. Então ϕ(x0, 0) = f (x0) e, se (u, v) ∈ Rm × F ,temos ϕ(x0, 0) ·(u, v) = f (x0) ·u +v.  É imediato ver que ϕ(x0, 0)é um isomorfismo. Pelo teorema da função inversa, ϕ  é um difeo-

    morfismo de classe C k de uma vizinhança de (x0, 0) sobre uma vi-

    zinhança de f (x0). Podemos escolher a primeira da forma V 

     ×W ,

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    22   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    com   x0 ∈   V   ⊂   U   e 0 ∈   W  ⊂   F , e escrever   Z   =   ϕ(V  × W ).Seja  h  =  ϕ−1 :  Z 

     → V 

     ×W . Como  ϕ(x, 0) =  f (x), segue-se que

    h ◦ f (x) = h ◦ ϕ(x, 0) = (x, 0), x ∈ V .Para concluir, identificamos F   com Rn (escolhendo uma base para

    F ) a fim de simplificar o enunciado do teorema.

    Observação: Se   π :  V  ×  W  →   V ,   π(x, w) =   x, é a primeiraprojeção, então   ξ    =   π ◦   h :   Z   →   V    goza da propriedadeξ ◦ f (x) = π ◦ h ◦ f (x) = π(x, 0) = x. Portanto ξ |f (V ) = (f |V )−1.Conclusão:   f   é um homeomorfismo de  V   sobre  f (V ) cujo inverso

    é a restrição a   f (V ) da aplicação  ξ :  Z  →  V   de classe   C k. Estaobservação será de importância no futuro.

    A interpretação intuitiva de uma imersão f :  U  →  Rm+n (k ≥1) é a seguinte: para cada conjunto aberto suficientemente pe-

    queno   V  ⊂   U  ⊂   Rm,   f (V ) é uma “superf́ıcie   m-dimensional noRm+n ” dotada de um “plano tangente”   f (x)+f (x) ·Rm em cada

    ponto f (x) ∈ f (V ). Este plano varia continuamente com  x ∈ V .Esta interpretação geométrica das imersões será desenvolvida nopróximo caṕıtulo.

    10 O teorema do posto

    O posto  de uma aplicação linear T  :  Rm → Rn é a dimensão desua imagem T ·Rm, isto é, o número máximo de vetores linearmenteindependentes entre   T e

    1, . . . , T e

    m . O posto de   T   é igual a   r

    (ρ(T ) = r) se, e somente se, a matriz de  T   (relativamente às bases

    canônicas de  Rm e  Rn, por exemplo) tem um determinante menor

    r × r  não nulo e todo determinante menor de ordem  r + 1 é nulo.O posto de uma aplica瘠ao diferenci´ avel  f :  U  ⊂ Rm → Rn num

    ponto x ∈ U   é, por definição, o posto de sua derivada f (x) :  Rm →Rn. Por exemplo, uma submersão   f :  U  →   Rn tem posto   n   em

    todo ponto x

    ∈U . Analogamente, uma imersão f :  U 

     ⊂Rm

    →Rn

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    [SEC. 10: O TEOREMA DO POSTO   23

    tem posto  m  em cada ponto. Por esta razão, as submersões e as

    imersões são denominadas as  aplica瘠oes de posto m´ aximo.

    A aplicação que associa a cada   x ∈   U   o posto de   f   em   x   ésemi-cont́ınua inferiormente. Mais precisamente, se  f  tem posto r

    num ponto  x ∈ U , existe uma vizinhança V   do ponto  x  tal que  f tem posto ≥  r  em todos os pontos de  V . Com efeito, existe umdeterminante menor   r × r   não nulo da matriz jacobiana   Jf (x).Por continuidade, este menor não se anula em uma vizinhança  V 

    do ponto  x, de modo que o posto de  f   é ≥  r  em todos os pontosde  V .

    O teorema a ser demonstrado nesta seção estuda as aplicações

    de posto constante. Cont́em, como casos particulares, as formas

    locais das aplicações de posto máximo.

    Lembramos que um subconjunto A  de um espaço vetorial E   é

    convexo  se, para cada par de pontos  x, y ∈ A, o segmento de reta[x, y] está contido em A. Por exemplo, uma bola aberta  Bδ(a), de

    centro em a  e raio δ , num espaço normado, é convexa. Realmente,

    dados   x, y ∈   Bδ(a) e 0   < t <   1, temos |[(1 − t)x +  ty] − a|   =|(1−t)(x−a)+t(y−a)| ≤ (1−t)|x−a|+t|y−a|

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    24   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    A =  V  × W 

    B

    Figura 1.9.  Os conjuntos  A  e  B   são verticalmente convexos.

    Lema 1.   Seja   U  ⊂   Rm × Rn um aberto verticalmente convexo.Se   f :  U  →   R p tem segunda derivada parcial   ∂ 2f   identicamente nula em   U   ent˜ ao   f   é independente da segunda vari´ avel, isto é,

    f (x, y) = f (x, y)  para quaisquer  (x, y)  e  (x, y)  em  U .

    Demonstração: Dados (x, y) e (x, y)   ∈   U , o caminhoϕ : [0, 1] → R p dado por ϕ(t) = f (x, (1−t)y+ty) está bem definidoe é diferenciável. Como ϕ(t) = ∂ 2f (u, (1 − t)y + ty) · (y − y) = 0para todo   t ∈   [0, 1], resulta que   ϕ   é constante. Em particular,ϕ(0) = ϕ(1), ou seja  f (x, y) = f (x, y).

    Lema 2.   Seja   E  ⊂  Rm+ p um subespaço   m-dimensional. Existe uma decomposi瘠ao em soma direta   Rm+ p =   Rm ⊕ R p tal que a primeira proje瘠ao  π :  Rm+ p →  Rm,  π(u, v) = u, aplica  E   isomor-

     ficamente sobre  Rm.

    Demonstração: Escolhamos uma base {u1, . . . , um}   em   E . Amenos que seja  E  =  Rm+ p (isto é,  p  = 0) existe um vetor básico

    e j1  ∈   Rm+ p −  E . Então   u1, . . . , um ,   e j1   são linearmente inde-pendentes e geram um subespaço   E 1  ⊂   Rm+ p. A menos queE 1   =   R

    m+ p ( p   = 1), existe um vetor básico   e j2 ∈   Rm+ p − E 1 .Então  u1, . . . , um ,   e j1 ,   e j2   são linearmente independentes. Pros-

    seguindo o racioćınio, obteremos vetores básicos   e j1 , . . . , e jp   tais

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    [SEC. 10: O TEOREMA DO POSTO   25

    que {u1, . . . , um, e j1 , . . . , e jp}  seja uma base do  Rm+ p. Isto deter-mina as decomposições em soma direta Rm+ p = Rm

    ⊕R p = E 

    ⊕R p.

    A projeção π, relativa à primeira decomposição, transforma R p emzero, logo aplica  E   isomorficamente sobre  Rm.

    Teorema do Posto.   Sejam   U  ⊂   Rm+n um aberto e   f :  U  →Rm+ p uma aplica瘠ao de classe   C k (k ≥   1). Suponha que   f   tem 

    posto m  em todos os pontos de  U . Ent˜ ao, para todo z0 ∈ U  existem difeomorfismos de classe  C k

    α,   de um aberto do Rm

    ×Rn

    sobre uma vizinhança de  z0β,  de uma vizinhança de  f (z0)  sobre um aberto em  R

    m × R p.tais que  β ◦ f  ◦ α : (x, y) → (x, 0)

    βf (Z ) = V  × 0

    V  × W  ⊂ Rm × R p

    (x0, 0)   (x, 0)

    βfα : (x,w) → (x, 0)

    α

    R p Z 

    f(Z )

    f (z0)

    β 

    V  × W  ⊂ Rm × Rn

    f (U )

    Rm

    U  ⊂ Rm+n

    (x, y)

    (x0, y0)

    z0

    Figura 1.10.

    Demonstração: Sejam z0 ∈ U , arbitrário, e E  = f (z0) ·Rm+n ⊂Rm+ p. Pelo Lema 2 existe uma decomposição em soma direta

    Rm+ p = Rm⊕R p cuja primeira projeção aplica E   isomorficamente

    sobre  Rm. Então (π ◦ f )(z0) = π ◦ f (z0) :   Rm+1 →  Rm é sobre- jetora. Pela forma local das submersões existe um difeomorfismo

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    26   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    α ∈ C k de um aberto V 0 ×W  ⊂ Rm×Rn sobre uma vizinhança dez0  tal que  πf α(x, y) = x. Isto significa que  f α(x, y) = (x, λ(x, y))

    onde  λ :  V 0 × W  → R p é de classe  C k.Afirmação:   ∂ 2λ ≡ 0. Realmente, para cada ponto (x, y) ∈ V 0 × W tem-se

    (f  ◦ α) : (h, k) → (h, ∂ 1λ · h + ∂ 2λ · k), h ∈ Rm, k ∈ Rn.Segue-se que   π ◦ (f α) : (h, k)  →   h. Se denotarmos por   E xy   aimagem da aplicação linear (f α)(x, y), levando em conta que

    dim E xy  = m  concluiremos que  π  leva isomorficamente  E xy   sobreRm, para cada (x, y) ∈  V 0 × W . Se em algum ponto (x, y) a de-

    rivada  ∂ 2λ   fosse não-nula, isto é,  ∂ 2λ · k = 0 para algum  k ∈  Rn,então (f α)(0, k) = (0, ∂ 2λ · k) = 0. Por conseguinte, π  levaria umvetor não-nulo de  E xy  no zero, o que contradiz a condição de iso-

    morfismo. Podemos supor que W   é conexo. Pelo Lema 1 resulta

    que λ(x, y) não depende de  y.

    Seja  α(x0, y0) = z0 . Consideremos a injeção  i :  V 0 →

     V 0×

    W ,

    dada por   i(x) = (x, y0). Então  f α(x, y) =  f αi(x) = (x, λ(x, y0))

    para todo (x, y) ∈  V 0 × W . Como  f αi  tem derivada injetora emx0 , podemos aplicar a forma local das imersões: existe um difeo-

    morfismo   β  ∈   C k, de uma vizinhança de   f (z0) sobre um abertoem   Rm × R p tal que   βfαi :  x →   (x, 0),   x ∈  V  ⊂  V 0 . (V   é umavizinhança de  x0 , possivelmente menor que  V 0).

    Finalmente,   β 

     ◦f 

     ◦α(x, y) =  β 

     ◦f 

     ◦α

    ◦i(x) = (x, 0), o que

    conclui a demonstração.

    Proposição.   Sejam  U  ⊂  Rm um aberto e  f :  U  →  Rn de classe C 1. Para cada  r = 0, 1, . . . , p (  p = min{m, n}), seja  Ar  o interior do conjunto dos pontos   x ∈   U   nos quais   f   tem posto   r. Ent˜ aoA =  A0 ∪ · · · ∪ A p   é  (aberto e )  denso em  U .Demonstração: Seja  V  um subconjunto aberto não vazio de  U .

    Queremos mostrar que V 

     ∩A

    = ϕ. Consideremos um ponto x

    ∈V 

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    [SEC. 10: O TEOREMA DO POSTO   27

    onde o posto de   f   assume seu valor máximo   r0   em   V . Como a

    aplicação  x

     ∈ U 

     → ρ(f (x)) é semi-cont́ınua inferiormente, existe

    uma vizinhança W  ⊂ U  de x  na qual o posto de  f   é ≥ r0 . Então oposto de f   é exatamente igual a r0  em todos os pontos de  W  ∩ V .Ou seja, ϕ = W  ∩ V  ⊂ Ar0  . Logo  V  ∩ A = ϕ.Corolário 1.   Dada  f :  U  →  Rn de classe  C 1, existe um subcon-

     junto aberto denso   A ⊂   U   tal que o posto de   f   é constante em cada componente conexa de  A.

    A0

    A1A2

    A1

    Figura 1.11.

    Corolário 2.   Seja  U  ⊂ Rm aberto. Se uma aplica瘠ao f : U  → Rnde classe  C 1 é  1 − 1, ent˜ ao  m ≤ n  e o conjunto dos pontos  x ∈ U tais que  f (x) :  Rm → Rn é injetora é aberto e denso em  U .Demonstração: Seja A  =  A0 ∪ · · ·∪A p, p  = min{m, n}, como naproposição. Pelo teorema do posto, f  não pode ser injetora em Ar,

    a menos que  r  = m = p. Portanto  m ≤ n  e  Ar  = ϕ  para  r = m,de modo que A  =  Am. Isto demonstra o corolário, pois o conjunto

    dos pontos x ∈ U  tais que f (x) tem posto m é claramente aberto.Corolário 3.   Seja  U  ⊂ Rm aberto. Se uma aplica瘠ao f : U  → Rnde classe  C 1 é aberta, ent  ̃ao m ≥ n  e o conjunto dos pontos  x ∈ U tais que  f (x) :  Rm → Rn é sobrejetora é aberto e denso em  U .

    A demonstração é, mutatis mutandis, como a anterior.

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    28   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    11 Campos de vetores em  Rn

    Seja  U  um subconjunto aberto em  Rn. Um  campo de vetores em   U   e simplesmente uma aplicação   v :  U  →   Rn. Se   v  ∈   C kdizemos que o campo de vetores é de classe  C k.

    Sejam   p ∈  U   e  v :  U  →  Rn um campo vetorial de classe   C k.Chama-se curva integral  do campo v, com condição inicial p, a um

    caminho diferenciável   λ :  J  →   U , definido num intervalo abertocontendo 0 ∈   R, tal que   λ(0) =   p   e   λ(t) =   v(λ(t)) para todo

    t ∈ J .Visualizamos o campo v  associando um vetor v(x) ∈ Rn a cadaponto x ∈ U . O vetor-velocidade de uma curva integral de v  numdeterminado ponto é justamente o vetor associado a este ponto

    pelo campo  v.

    xv(x)

    Figura 1.12.

    Consideraremos agora o teorema de existência e unicidade dascurvas integrais.

    Teorema.   Sejam   U   um subconjunto aberto do  Rn e   v :  U  →  Rnum campo vetorial de classe  C 1. Dado qualquer  p ∈ U , existe uma curva integral   λ : (−c, c) →   U   do campo   v   com condi瘠ao inicial λ(0) =   p. Se   µ : (−ε, ε) →   U   for outra curva integral de   v   com µ(0) = p, ent˜ ao  λ =  µ  num intervalo  (

    −δ, δ )

    ⊂(

    −c, c)

    ∩(

    −ε, ε).

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    [SEC. 11: CAMPOS DE VETORES EM  RN  29

    Demonstração: Seja  B   uma bola fechada de centro  p, na qual

    as normas

     |v

    | e

     |v

    |  são limitadas por uma constante  k >  0. Em

    particular,  x, y ∈  B   implica |v(x) − f (y)| ≤  k|x − y|. Seja   c  umnúmero real positivo tal que o produto  ck  seja menor do que 1 e

    do que o raio de  B.

    Consideremos o espaço métrico   E , formado pelos caminhos

    cont́ınuos λ : [−c, c] → B, com a métrica da convergência uniforme.Sabe-se que  E   é completo. Definamos uma aplicação  f :  E  →  E pondo, para cada λ ∈ E ,  f (λ) = µ, onde

    µ(t) = p +   t

    0v(λ(s)) ds.

    Note-se que |µ(t)− p| ≤ ck

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    30   [CAP. I: CÁLCULO DIFERENCIAL

    Logo   λ   é uma curva integral com origem em   p. Dada qualquer

    outra curva integral  µ : (

    −ε, ε)

     → U   com  µ(0) = p, podemos res-

    tringir  λ  e  µ  a um intervalo [−δ, δ ] tal que  δk

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    Caṕıtulo II

    Superf́ıcies nos EspaçosEuclidianos

    A noção de superf́ıcie de dimensão  m  num espaço euclidiano

    Rn (n ≥   m) é generalização direta dos objetos que econtramos

    na geometria diferencial clássica – as curvas em   R3 ou   R2 quepossuem vetor tangente em cada ponto e as superf́ıcies em  R3 que

    possuem plano tangente em cada ponto.

    1 Parametrizações

    Seja U 0 um subconjunto aberto de Rm. Uma imersão de classe

    C k,  ϕ :  U 0 →  Rn, diz-se um  mergulho de classe   C k de  U 0   em  Rn,quando  ϕ  é um homeomorfismo de  U 0  sobre  ϕ(U 0).

    Dizemos também que  ϕ   é uma   parametriza瘠ao  de classe  C k e

    dimensão m  do subconjunto  U  = ϕ(U 0) ⊂ Rn.Em relação à injetividade de  ϕ(x):  Rm → Rn, lembremos que

    as seguintes condições são equivalentes:

    (i)   ϕ(x) :  Rm

    →Rn é injetora.

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    32   [CAP. II: SUPERF́ICIES NOS ESPAÇOS EUCLIDIANOS

    (ii)  ∂ϕ

    ∂x j(x) =  ϕ(x) ·   e j ,   j   = 1, . . . , m   são vetores linearmente

    independentes.

    (iii) A matriz jacobiana n×m, J ϕ(x) =

    ∂ϕi

    ∂x j(x)

    , tem posto m,

    isto é, algum de seus determinates menores  m ×m é distintode zero.

    Rm

    x0 e1

    e2

    U 0

    Rn

    ∂ϕ

    ∂x2

    ϕ∂ϕ

    ∂x1

    x =  ϕ(x0)

    Figura 2.1.

    Exemplos:

    1)  Parametrizações de dimensão 1.

    Seja  J  um intervalo aberto de números reais. Um caminho de

    classe  C k,  ϕ :  J  →  Rn, é um mergulho se, e somente se,  ϕ :  J  →ϕ(J ) é um homeomorfismo e o vetor velocidade   ϕ(t) nunca seanula. Existem imersões biuńıvocas   C ∞   de um intervalo abertodos reais em  R2 que não são homeomorfismos sobre sua imagem.

    Voltaremos a tratar do assunto posteriormente. A Figura 2.2 ilus-

    tra esta situação:

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    [SEC. 1: PARAMETRIZAÇ ÕES   33

    R

    ϕ

    R2

    R

    ψ

    Figura 2.2.

    2)   Parametrizações de dimensão 2 em  R3.

    Seja U 0 um subconjunto aberto em R2 e ϕ : U 0 → U  = ϕ(U 0) ⊂R

    3,  ϕ(u, v) = (ϕ1(u, v), ϕ2(u, v), ϕ3(u, v)) uma parametrização de

    classe  C k.

    O conjunto   U   =   ϕ(U 0) é chamado uma   superf́ıcie local . A

    independência linear dos vetores

    ∂ϕ

    ∂u  =

    ∂ϕ1

    ∂u ,

     ∂ϕ2

    ∂u ,

     ∂ϕ3

    ∂u   e

      ∂ϕ

    ∂v  =

    ∂ϕ1

    ∂v  ,

     ∂ϕ2

    ∂v  ,

     ∂ ϕ3

    ∂v é equivalente a ser não-nulo o produto vetorial   n   =   n(u, v) =∂ϕ

    ∂u ×  ∂ϕ

    ∂v  , chamado  vetor normal   a  U  no ponto  ϕ(u, v).

    R3

    U 0

    n(u, v)

    ∂ϕ∂u

    ∂ϕ∂v

    ϕ(u, v)

    R2

    ϕ

    Figura 2.3.

  • 8/20/2019 Variedades Diferenciáveis Elon Lages Lima

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    34   [CAP. II: SUPERF́ICIES NOS ESPAÇOS EUCLIDIANOS

    2 A noção de superf́ıcie

    R

    n

    ϕ

    U 0

    Rm

     p

    Figura 2.4.

    Definição:   Uma superf́ıcie  m-dimensional do  Rn (de classe   C k) é

    um subconjunto não vazio

    M  = M m ⊂ Rn

    no qual todo ponto  p  possui uma vizinhança aberta  U  dotada de

    uma parametrização de classe  C k e dimensão  m.

    O conjunto  M   tem a topologia induzida de  Rn. Assim a vizi-

    nhança U   é a interseção de  M  com um conjunto aberto em  Rn.

    O número n − m  é chamado a co-dimens˜ ao  de M   em  Rn.Uma superf́ıcie de dimensão   n   no   Rn+1 é denominada uma

    hiperf́ıcie .

    Uma superf́ıcie zero-dimensional em Rn é um conjunto de pon-

    tos isolados. Uma superf́ıcie de dimensão  n  em  Rn é um subcon-

     junto aberto de  Rn. Vemos assim que os casos extremos não têm

    maior importância. Mais interessante é o exemplo abaixo.

  • 8/20/2019 Variedades Diferenciáveis Elon Lages Lima

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    [SEC. 2: A NOÇÃO DE SUPERF́ICIE   35

    y

    S 2 ⊂ R3

    x

    z

    Figura 2.5.

    A  esfera unit´ aria de dimens˜ ao   n  é o conjunto

    S n = {y ∈ Rn+1; y, y = 1}.

    S n é uma hiperf́ıcie compacta de classe  C ∞  em  Rn+1. Vamosmostrar que 2(n + 1) parametrizações são suficientes para cobrir

    a esfera.

    Para cada i = 1, 2, . . . , n + 1, ponhamos:

    H +i   = {y ∈ Rn+1; yi > 0}  e  H −i   = {y ∈ Rn+1; yi 0}  e  U −i   =H −i ∩S n = {y ∈S n | yi< 0}

    são abertos em   S n en+1i=1

    (U +i   ∪  U −i   ) =   S n. Cada uma destasvizinhanças U +i   é dotada de uma parametrização de classe  C 

    ∞, asaber

    ϕ±i   :  B →

    U ±i   ;   i = 1, . . . , n + 1

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    36   [CAP. II: SUPERF́ICIES NOS ESPAÇOS EUCLIDIANOS

    x = (x1, . . . , xn) → (x1, . . . , xi−1, ± 

    1 = |x|2, xi, . . . , xn).

    Estamos indicando com  B  a bola aberta de centro 0 e raio 1 em

    Rn:   B  = {x ∈ Rn; |x| 0}  e  U −1   = {(x, y) ∈ R2; x

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    [SEC. 3: MUDANÇA DE COORDENADAS   37

    Rn

    x = (x1, . . . , xm)

    U 0

    y  = (y1, . . . , ym)

    Rm

    V 0

     p

    ψ

    ξ

    ϕ

    Figura 2.6.

    Mostremos agora que esta é a única maneira de obter novas

    parametrizações de  U .

    Se   ϕ :  U 0 →  U   e  ψ :  V 0 →  V   são parametrizações em  M   taisque U  ∩ V  = ϕ, é evidente que a aplicação

    ξ  = ψ−1 ◦ ϕ : ϕ−1(U  ∩ V ) → ψ−1(U  ∩ V )é um homeomorfismo entre abertos do  Rm.

    ψU 0   U 

      V 

    ξ = ψ−1 ◦ ϕ

    V 0

    ϕM 

    Figura 2.7.

    Mas não se pode concluir de imediato a diferenciabilidade de

    ψ−1

    ◦ϕ, visto que  ψ−1 não está definida num aberto do  Rn. Para

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    38   [CAP. II: SUPERF́ICIES NOS ESPAÇOS EUCLIDIANOS

    contornar esta dificuldade, apresentamos o seguinte resultado, que

    dá conta de uma situação um pouco mais geral.

    Proposição 1.  Sejam  V 0 um subconjunto aberto do Rm e  ψ :  V 0 →

    V   uma parametriza瘠ao de classe  C k do conjunto  V  ⊂  Rn. Dados U 0 ⊂ Rr, aberto, e  f :  U 0 → V  ⊂ Rn de classe  C k, ent˜ ao:

    (i)   a composta  ψ−1 ◦ f : U 0 → V 0 ⊂ Rm é de classe  C k

    (ii)   para  x ∈ U 0 e  z  = ψ−1◦f (x) temos  (ψ−1◦f )(x) = [ψ(z)]−1◦f (x).

    Demonstração: (i) Como ψ :  V 0 →  V   é uma imersão (injetora)C k, para cada ponto   p ∈   V   existem um aberto   Z   em   Rn queo cont́em e uma aplicação de classe   C k,   g :  Z  →   Rm, tal queg|(V  ∩ Z ) = ψ−1 (v. observação da seção 9 do Cap. I).

    Seja  p   um ponto arbitrário de   f (U 0) ⊂  V . Então  ψ−1 ◦ f   =g ◦ f : f −1((U 0) ∩ Z ) ⊂ Rr → Rm. Resulta então que ψ−1 ◦ f   é declasse  C k, pois f   e  g  o são.

    x

    U 0

    Rr

    Rn

     p

    z

    Rm

    ψ −1 ◦ f  

    V f 

    ψ

    f (U 0)

    V 0

    Figura 2.8.

    (ii) Ponha   h   =   ψ−1 ◦ f   e aplique a regra da cadeia à igualdadeψ

    ◦h =  f .

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    [SEC. 3: MUDANÇA DE COORDENADAS   39

    Corolário.  Sejam  U 0 e  V 0 subconjuntos abertos em Rm e  ϕ :  U 0 →

    V ,  ψ :  V 0

     → V   parametriza瘠oes de classe  C k do mesmo conjunto

    V  ⊂   Rn. Ent˜ ao a mudança de coordenadas   ξ   =   ψ−1 ◦ ϕ   é um difeomorfismo de classe  C k.

    O Corolário acima permite estender o conceito de aplicação

    diferenciável, até agora só definido no caso em que o domı́nio era

    um aberto do espaço euclidiano.

    Seja M m ⊂ Rn uma superf́ıcie de classe  C k. Diremos que umaaplicação  f :  M  →  Rs é  diferenci´ avel   num ponto  p ∈  M   quandoexiste uma parametrização  ϕ :  U 0 → U , de classe  C k, com  p ∈ U ,tal que   f  ◦ ϕ :  U 0 →   Rs é diferenciável no ponto   p0 ∈   U 0 , ondeϕ( p0) = p. Segue-se da Proposição 1 que f ◦ψ  = (f ◦ϕ)◦(ϕ−1 ◦ψ)é diferencíavel no ponto ϕ−1( p), seja qual for a parametrização ψ,de classe C k, de uma vizinhança de p. Esta definição não depende,

    portanto, da parametrização ϕ  escolhida.

    Vê-se facilmente como estender à aplicação   f :  M m →   Rs a

    noção de classe  C k

    . Observa-se, porém, que tal noção tem sentidoapenas quando   M   é uma superfı́cie de classe   C k. Do contrário,

    f ◦ ϕ pode ser de classe C k para uma certa parametrização ϕ semque o seja para outras.

    Se tivermos   M m ⊂   Rr e   N n ⊂   Rs superf́ıcies de classe   C k,diremos que  f :  M  →  N   é  diferenci´ avel  no ponto  p ∈ M   quando,considerada como aplicação de   M   em   Rs,   f   for diferenciável

    naquele ponto.

    Analogamente se define f : M m → N n de classe C k: para cada p ∈   M   deve existir uma parametrização   ϕ :  U 0 →   U  ⊂   M , declasse  C k, com  p ∈ U , tal que  f  ◦ ϕ :  U 0 → N  ⊂  Rs seja de classeC k. Pela Proposição 1, f  ◦ ϕ ∈ C k seja qual for a parametrizaçãoϕ :  U 0 → U , de classe  C k, com  p ∈ U .

    Observemos o seguinte: a fim de que f : M  → N  seja de classe C k é necess  ́ario e suficiente que, para todo  p

     ∈ M   existam para-

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    40   [CAP. II: SUPERF́ICIES NOS ESPAÇOS EUCLIDIANOS

    metriza瘠oes   C k,  ψ :  V 0 → V  ⊂ N   e  ϕ :  U 0 → U  ⊂  M , com  p ∈ U ,f (U )

    ⊂V  e tais que  ψ−1

    ◦f 

    ◦ϕ :  U 0

     →V 0

     ⊂Rn seja de classe  C k.

     p

    N V  

    f ( p)

    U    f 

    ψ

    ψ−1

    ◦ f   ◦ ϕ

    Rm

    U 0

    Rn

    V  0

    ϕ

    Figura 2.9.

    Demonstração: Seja   f :  M  →   N   de classe   C k. Dado   p ∈   M ,tomemos uma parametrização ψ : V 0 → V  ⊂ N  de classe  C k, comf ( p) ∈   V ,   V 0 ⊂   R

    n

    . Como   f   é cont́ınua, existe uma parame-trização   ϕ :  U 0 →  U  ⊂   M , com   p ∈   U , tal que   f (U ) ⊂   V . Pordefinição de  f  ∈  C k, vemos que  f  ◦ ϕ :  U 0 →  V  ⊂  Rs e de classeC k. Em virtude da Proposição 1, segue-se que  ψ−1 ◦ f  ◦ ϕ : U 0 →V 0 ⊂ Rn é de classe  C k. A rećıproca é deixada a cargo do leitor.

    Corolário.   Se   f :  M  →  N   e   g :  N  →  P   s˜ ao de classe   C k ent˜ aog

    ◦f :  M 

     →P   é de classe  C k.

    Por exemplo, se M m ⊂ Rr é uma superf́ıcie de classe  C k, entãoa aplicação da inclusão   i :  M m →  Rr é de classe  C k. Do mesmomodo, se  M m ⊂  W , onde  W   é um aberto em  Rr, a aplicação deinclusão   i :  M  →  W   também é de classse  C k. Se  f :  W  →  Rs forde classe  C k, então a restrição  f |M :  M  →  Rs será de classe  C k(estamos supondo   M  ∈   C k!) pois   f |M   =   i ◦ f , logo podemosaplicar o Corolário.

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    [SEC. 3: MUDANÇA DE COORDENADAS   41

    Exemplo - (O ângulo como parâmetro em S 1.)

    A   aplica瘠ao exponencial   de   R   em   R2 é o homomorfismo do

    grupo aditivo dos reais no grupo multiplicativo dos números com-

    plexos, dado por

    ξ :  R → R2, t → eit = (cos t, sen t).

    A exponencial  ξ   é uma imersão  C ∞   não-injetora, pois  ξ (t) =(− sen t, cos t) = 0 para todo t, e ξ (s) = ξ (t) se, e só se, s−t = 2kπ,k ∈

    Z. Intuitivamente, ξ  enrola a reta em torno de S 1, sem esticá-

    la, no sentido anti-horário. O número   t   é uma determinação do

    ângulo (em radianos) que  ξ (t) ∈  S 1 faz com o semi-eixo positivodos x.

    V 0

    x

    ξ(t)

    t

    t

    U 0

    R

    ϕ

    ξ 

    Figura 2.10.

    Seja   t ∈   R, arbitrário, porém fixo neste racioćınio. Seja   ϕuma parametrização   C 

    ∞  de uma vizinhança de   ξ (t)

     ∈  S 1, com

    ϕ(x) =  ξ (t) (ϕ  pode ser uma das parametrizações anteriormente

    construı́das). Como [ϕ−1 ◦ ξ ](t) = [ϕ(x)]−1 ◦ ξ (t) = 0, o teo-rema da função inversa garante que  ϕ−1 ◦ ξ   é um difeomorfismode uma vizinhança U 0  de t ∈ R sobre uma vizinhança V 0  de x ∈ R(Fig. 2.6). Conseqüentemente, ξ  = ϕ ◦ (ϕ−1 ◦ ξ ) : U 0 → ξ (U 0) é umhomeomorfismo. Em outras palavras, a exponencial   ξ :  R →   S 1é um homeomorfismo local. A conclusão é que em cada intervalo

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    42   [CAP. II: SUPERF́ICIES NOS ESPAÇOS EUCLIDIANOS

    aberto (a, b) ⊂ R  com  b − a ≤ 2π, a exponencial

    ξ : (a, b) → S 1

    é uma parametrização do ćırculo. Ela é geometricamente mais

    significativa que as parametrizações   ϕ±i   descritas anteriormente.

    0

    ϕ

    x

    t

    π

    ξ

     p = (cos t, sin t) =“x,√ 

    1 − x2”

    t   (1, 0)(−1, 0)

    ϕ−1 ◦ ξ : (0, π) →  (−1, 1)

    x   1-1 0

    →   x = cos tt

    Figura 2.11.

    4 O espaço tangente

    Uma caracteŕıstica importante das superf́ıcies diferenciáveis é

    que elas possuem, em cada ponto, uma aproximação linear, que é

    seu plano tangente.

    Sejam M  = M m ⊂ Rn uma superf́ıcie de dimensão m  e classeC k (k ≥ 1). Seja ϕ : U 0 → U  uma parametrização com p  =  ϕ(x) ∈M , x ∈ U 0 . O espaço tangente  a M  no ponto p  é o espaço vetorialde dimensão m

    T M  p  = ϕ(x)

    ·Rm.

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    [SEC. 4: O ESPAÇO TANGENTE   43

    Os vetores  ∂ϕ

    ∂xi(x) = ϕ(x) · ei ,  i = 1, . . . , m formam uma base de

    T M  p .

    Esta definição só terá utilidade se mostramos que o espaço

    tangente em   p   independe da escolha da parametrização   ϕ. Seja

    ψ :  V 0 →   V   uma outra parametrização em   p. Seja   ξ   =   ψ−1 ◦ϕ :  ϕ−1(U  ∩ V ) → ψ−1(U  ∩ V ) a mudança de coordenadas, como p  =  ϕ(x) = ψ(z). Ora, ξ   é difeomorfismo, logo  ξ (x) · Rm =  Rm.Finalmente, pela regra da cadeia, temos

    ϕ(x) · Rm = ψ (z) · ξ (x) · Rm = ψ (z) · Rm.

    U  ∩ V 

    ϕ−1(U  ∩ V )   ψ−1(U  ∩ V )ξ

    ϕ   ψ

    Rn

    Rm

    Rm

    ξ(x)

    ϕ(x)   ψ

    (z)

    A proposição abaixo dá uma caracterização para   T M  p  que é

    bastante significativa por seu conteúdo geométrico:

    Proposição 2.   Os elementos de   T M  p   s˜ ao os vetores-velocidade 

    em  p  dos caminhos diferenci´ aveis contidos em  M  que passam por 

     p. Mais precisamente ,

    T M  p=

    {v =λ(0); λ : (

    −ε, ε)

    →M 

    ⊂Rn diferenci´ avel,  λ(0)= p

    }.

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    44   [CAP. II: SUPERF́ICIES NOS ESPAÇOS EUCLIDIANOS

    Demonstração: Seja v ∈ T M  p . Por definição do espaço tangenteT M  p  , existe uma parametrização  ϕ :  U 0

     → U   com  ϕ(x) =  ϕ   tal

    que

    v = ϕ(x) · u = limt→0

    ϕ(x + tu) − ϕ(x)t

      , u ∈ Rm.Escolhendo ε > 0 suficientemente pequeno, a imagem do caminho

    t ∈  (−ε, ε) →  x + tu ∈  Rm está toda contida em  U 0 . Assim  v   éo vetor velocidade em  t = 0 do caminho em  M ,  λ(t) = ϕ(x + tu),

    λ(0) = p.

    Por outro lado, seja λ : (−

    ε, ε)→

    M  um caminho diferenciável

    com   λ(0) =   p. Consideremos uma qualquer parametrização

    ϕ :  U 0 →   U   tal que   p ∈   U . Podemos supor, sem perda de ge-neralidade, que  λ(t) ∈ U   para todo   t ∈ (−ε, ε). Então, pela Pro-posição 1, o caminho ϕ−1◦λ : (−ε, ε) → U 0 ⊂ Rm é diferencíavel e,escrevendo u  = (ϕ−1 ◦λ)(0), temos u  = [ϕ(x)]−1 ·λ(0). Portantoλ(0) = ϕ(x) · u, como queŕıamos demonstrar.

    O espaço vetorial tangente T M  p é um subespaço vetorial de Rm

    e, por conseguinte, passa pela origem. Nas ilustrações geométricas,

    porém, sempre desenhamos a variedade afim tangente  p+T M  p que

    e paralela a T M  p  e passa por  p.

     p

     p + TM p

    Figura 2.12.

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    [SEC. 4: O ESPAÇO TANGENTE   45

    O espaço tangente em um ponto de uma superf́ıcie de dimensão

    zero consiste apenas do vetor zero. O espaço tangente T U  p  a uma

    superf́ıcie de dimensão n,  U  ⊂ Rn, é igual a todo o  Rn.O espaço tangente (T S n) p   à esfera unitária   S 

    n consiste em

    todos os vetores  v ∈ Rn+1 que são perpendiculares a  p. De fato,

     p⊥  = {v ∈ Rn+1; v, p = 0}

    é um subespaço vetorial de dimensão   n   do   Rn+1. Além disso,

    se   v

     ∈  (T S n) p , então   v   =   λ(0), onde   λ : (

    −ε, ε)

     →  S n é um

    caminho diferenciável com  λ(0) =  p. Diferenciando a identidadeλ(t), λ(t) = 1, obtemos

    2λ(t), λ(t) = 0,

    e, pondo   t  = 0, vem v, p  = 0. Portanto (T S n) p ⊂  p⊥. Como oespaço tangente a S n em p  tem dimensão n, resulta que

    (T S n) p  = p⊥.

    Terminamos esta seção definindo o referencial móvel associado

    a uma parametrização.

    Sejam M  = M m uma superf́ıcie de classe C k em Rn, e ϕ :  U 0 →U  ⊂   M   uma parametrização em   M . Denominamos referencialmóvel associado a  ϕ  no ponto p =  ϕ(x) ao conjunto

    Bϕ(x) = ∂ϕ∂x1

    (x), . . . ,   ∂ϕ∂xm

    (x)base do espaço tangente a   M   no ponto   p. Um vetor tangente

    v ∈  T M  p   se escreve da forma  v   = 

    αi∂ϕ

    ∂xi(x). Consideremos o

    problema de determinar as coordenadas de  v  com respeito a uma

    nova base Bψ(y), originada de outra parametrização   ψ :  V 0 →  V tal que  ψ(y) = p.

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    46   [CAP. II: SUPERF́ICIES NOS ESPAÇOS EUCLIDIANOS

    Seja  ξ  a mudança de coordenadas, isto é,

    ϕ[ϕ−1(U  ∩ V )] = ψ ◦ ξ.Então

    ϕ(x) = ψ (y) · ξ (x) (regra da cadeia) e

    ∂ϕ

    ∂x j(x) = ϕ(x) · e j  = ψ (y) · (ξ (x) · e j)

    = ψ (y) ·i∂ξ i

    ∂x j (x) · ei

    =i

    ∂ξ  j

    ∂x j(x) · ψ(y) · ei

    =i

    ∂ξ i

    ∂x j(x) ·   ∂ψ

    ∂yi(x).

    A relação acima mostra que a matriz de passagem da base

     Bψ(x)

    para a base Bψ(y) de T M  p   é a matriz jacobiana de  ξ  no ponto  x.Podemos resumir tudo isto nas equações

    v =

    αi∂ϕ

    ∂xi(x) =

     β i

    ∂ψ

    ∂yi(y)

    β i = j

    ∂ξ i

    ∂x j(x) · α j .

    5 Como obter superf́ıcies

    Seja   M   um subconjunto de   Rn. Se queremos mostrar que

    M   é uma superf́ıcie, é necessário obtermos parametrizações de

    vizinhanças de todos os pontos de  M ; esta tarefa, requerida pela

    definição, pode vir a ser trabalhosa. Nesta seção apresentamos

    outras maneiras de se obterem superf́ıcies.

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    [SEC. 5: COMO OBTER SUPERF́ICIES   47

    5.1 O gráfico de uma aplicação  C k.

    Sejam  U 

     ⊂ Rm aberto e  f :  U 

     → Rn uma aplicação de classe

    C k. Então o gráfico de  f ,

    G(f ) = {(x, f (x)); x ∈ U }

    é uma superf́ıcie de dimensão m  e classe  C k no  Rm+n.

    Realmente,   ϕ :  U  →   G(f ),   ϕ(x) = (x, f (x)), é uma parame-trização de todo o conjunto  G(f ).

    ´E claro que nem toda superf́ıcie é um gráfico: a esfera S 

    n

    , porexemplo, não o é. Generalizando, nenhuma superf́ıcie compacta

    pode ser, globalmente, um gráfico.

    Localmente, toda superf́ıcie de classe   C k é o gráfico de uma

    aplicação da mesma classe. Provemos isto.

    Proposição 3.   Seja   M m ⊂   Rn uma superf́ıcie de classe   C k.Ent˜ ao todo ponto  p ∈ M  possui uma vizinhança  V , parametrizada por uma aplica瘠ao de classe   C 

    k

    ψ :  V 0 →   V , da forma   ψ(y) =(y, f (y)),  y ∈ V 0 ⊂ Rm.Demonstração: Seja   ϕ :  U 0  ⊂   Rm →   U  ⊂   M   uma parame-trização de uma vizinhança   U   de   p   =   ϕ(x). Escolhamos uma

    decomposição   Rn =   Rm ⊕  Rn−m de tal modo que a primeiraprojeção π :  Rn → Rm leve T M  p  isomorficamente sobre Rm (Lema2, seção 10 do Cap. I). Seja   η   =   π ◦  ϕ :   U 0  ⊂   Rm →   Rm.Então   η(x) =   π ◦  ϕ(x) :  R

    m

    →   Rm

    é um isomorfismo. Peloteorema da função inversa,  η   é um difeomorfismo  C k de uma vi-

    zinhança menor,  U 1   x, sobre uma vizinhança  V 0   π( p). Indi-quemos com   ξ   =   η−1 :  V 0 →   U 1   o difeomorfismo inverso. Entãoψ   =   ϕ ◦ ξ :  V 0 ⊂   Rm →   V   =   ψ(v0) ⊂   Rn é uma nova parame-trização de uma vizinhança de  p. Da relação

    π

    ◦ψ = π

    ◦(ϕ

    ◦ξ ) = (π

    ◦ϕ)

    ◦ξ  = η

    ◦ξ  = idV 0

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    48   [CAP. II: SUPERF́ICIES NOS ESPAÇOS EUCLIDIANOS

    segue-se que a primeira coordenada de   ψ(y), relativa à decom-

    posição   Rn =   Rm

    ⊕Rn−m, é   y. Chamemos   f (y) a segunda co-

    ordenada. Então   ψ(y) = (y, f (y)),   y ∈   V 0 . Nota-se que   ψ   =(π|V )−1 : V 0 → V , isto é, a parametrização que faz de V  um gráifcoé simplesmente a inversa local da projeção  π :  Rm ⊕ Rn−m →  Rmque leva T M  p  sobre  R

    m isomorficamente.

    η

     p

    U 0   V 0

    U 1

    π

    ϕ

    x

    ξ 

    T  M   p 

    Figura 2.13.

    5.2 Superf́ıcies definidas implicitamente.

    Seja   f :  R3

    →  R   dada por   f (x,y,z) =   x2 + y2 + z 2. Então

    f  ∈  C ∞, e a esfera unitária  S 2 fica definida implicitamente pelaequação f (x,y,z) = 1. Se g(x,y ,z) = x2 + y2 − z2, então g−1(c) éuma superf́ıcie de classe  C ∞  para cada  c = 0 (um hiperbolóide deuma folha para c > 0, um hiperbolóide de duas folhas para c

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    [SEC. 5: COMO OBTER SUPERF́ICIES   49

    g−1(0) é homeomorfa a um aberto do  R2. Logo g−1(0) não é umasuperf́ıcie.

    O teorema abaixo dá condições suficientes para que a equação

    f (x) = c  defina uma superf́ıcie.

    Proposição 4.   Sejam   U  ⊂   Rm+n aberto e   f :  U  →   Rn uma aplica瘠ao de classe  C k. Seja  c ∈ Rn. Consideremos o conjunto

    M  = { p ∈ U.f ( p) = c  e  f ( p) :  Rm+n → Rn é sobrejetora }

    Ent˜ ao

    (i)   M   é aberto em  f −1(c).

    (ii)  Supondo que  M   é n  ̃ao vazio,  M   é superf́ıcie de dimens  ̃ao me classe  Ck  do  Rm+n, e 

    (iii) (T M ) p  = Ker f ( p)  para todo  p ∈ M .

    Demonstração: (i) imediato. (ii) Seja p ∈ M .Pelo teorema as funções impĺıcitas (seção 8 do Cap. I), existem

    uma decomposição Rm+n = Rm⊕Rn com p = (x0, y0), vizinhanças p ∈  Z  ⊂  Rm+n,   x0 ∈  V  ⊂  Rm, e uma aplicação  ξ :  V  →  Rn, declasse  C k, tal que  G(ξ ) = Z  ∩ f −1(c). Assim  ϕ :  V  → Z  ∩ f −1(c),dada por  ϕ(x) = (x, ξ (x)) é uma parametrização de classe  C k de

    uma vizinhança aberta de  p ∈  f −1(c). Pela Observação 2, seção8 do Cap. I, vem  Z  ∩ f −1(c) ⊂ M , o que conclui a demonstraçãode (ii).

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    50   [CAP. II: SUPERF́ICIES NOS ESPAÇOS EUCLIDIANOS

    Rm

    ϕ

    M    f 

    Rn

    c p

    Rn

    Figura 2.14.

    (iii) Seja  v ∈  T M  p . Consideremos um caminho  λ : (−ε, ε) →  M tal que  λ(0) =  p  e  λ(0) =  v. Então  f ( p) · v  =  f (λ(0)), λ(0) =(f ◦λ)(0) = 0, pois f ◦λ é constante (=  c). Portanto v ∈ Ker f ( p).Como  T M  p  e Ker f 

    ( p) são subespaços  m-dimensionais do  Rm+n

    e  T M  p ⊂ Ker f ( p) segue-se que  T M  p  = Ker f ( p).Observações:

    1) Sejam  U  ⊂  Rm aberto e  f :  U Rn uma aplicação diferenciável.Um ponto  c ∈ Rn chama-se  valor regular   de f  quando, para cadax ∈   U   tal que   f (x) =   c, a derivada   f (x) :  Rm →   Rn é umatransformação linear sobrejetiva.

    Se não existe x ∈ U  tal que f (x) = c  então c  é trivialmente umvalor regular de f . Quando n = 1, o funcional linear  f 

    (x) :  Rm

    →R   ou é zero ou é sobrejetiva. Neste caso o número real  c   é valorregular de  f  se, e somente se,  f (x) = 0 para todo x ∈ f −1(c).

    Por exemplo, seja f :  R3 → R dada por f (x,y ,z) = x2 +y2−z2.Representando por (dx,dy,dz) a base canônica de (R3)∗, entãof (x,y,z) = 2x dx + 2y dy − 2z dz. Segue-se que   f (x,y,z) = 0somente para   x   =   y   =   z   = 0; como   f (0, 0, 0) = 0, vemos que

    0

    ∈R  é o único valor não-regular de  f .

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    [SEC. 5: COMO OBTER SUPERF́ICIES   51

    O teorema que acabamos de provar se reescreve da seguinte

    maneira, tendo em vista a definição de valor regular:

    Teorema 1.   Sejam  U  ⊂ Rn aberto e  f :  U  → Rn−m de classe  C k,k ≥  1. Se   c ∈   Rn−m é um valor regular de   f , ou bem   f −1(c)   é vazio ou bem é uma superf́ıcie  m-dimensional de classe  C k em  Rn.

    Além disso, para cada  p ∈ f −1(c), o espaço tangente  T [f −1(c)] p   é o n´ ucleo de  f ( p) :  Rn → Rn−m.

    Observações:

    2) A imagem inversa   f −1(c) pode ser uma superf́ıcie sem que   cseja um valor regular. Por exemplo, seja   f :  R2 →   R   dada porf (x, y) = y2. 0 ∈ R  não é valor regular de  f   mas f −1(0) = eixodos x  é uma superf́ıcie  C ∞  de dimensão 1 em  R2.

    3) Mesmo quando   c ∈   Rn não é valor regular de   f :  U  →   Rn,o primeiro enunciado do teorema garante que   M   =   f −1(c) ∩

    { p

     ∈ U ; f ( p) é sobrejetiva

    }  é uma superf́ıcie. Convém notar que

    M   não é necessariamente denso em   f −1(c). Por exemplo, sejaf :  R2 →   R   dada por   f (x, y) =   x2y. Como   f (x, y) = 2xy dx +x2 dy,   f ( p) = 0 se, e só se, p  está no eixo dos  y.

    Neste exemplo a imagem inversa de 0 ∈ R  é a união dos eixoscoordenados x e y  (não é superf́ıcie), enquanto que M  consiste no

    eixo dos x  menos a origem.

    Localmente, qualquer superf́ıcie   M m